História de Uma Família de Imigrantes Alemães

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História de uma família de Imigrantes Alemães PREFÁCIO CHEGADA AO BRASIL AVÓS EMMA E FREDERICO RAITER DESCENDENTES DE FREDERICO E EMMA FAMILIA RAITER RIESINGER ASTOR IRMGARD HILDEGARD BRUNHILDA PERFIL DE FRIEDA RELATOS DA MAMÃE FRIEDA PARENTES NA AUSTRIA PALAVRAS FINAIS Autora:Frieda Raiter Riesinger Relatora Brunhilda Riesinger de Faria Corrêa Composição gráfica: Cléber Bidegain Pereira

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A história da nossa família, de origem alemã, que imigrou para o Brasil em 1889, será contada por mim, Brunhilda Faria Correa, filha de Frieda Raiter Riesinger, a qual deixou um manuscrito de onde colhi a parte principal deste relato. O maior sonho de minha mãe Frieda, que me pediu diversas vezes, era que eu traduzisse seus escritos em alemão, transcrevendo a história de nossa família para o conhecimento das futuras gerações, a fim de saberem como seus antecessores chegaram ao Brasil e como aqui venceram as dificuldades disseminando o exemplo de inquebrantável perseverança. Este relato é mais do que a história de nossa família. É na realidade, parte da história desta gloriosa imigração de alemães, que enriqueceu a força da brasilidade.

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História de uma família de Imigrantes Alemães

PREFÁCIO CHEGADA AO BRASIL AVÓS EMMA E FREDERICO RAITER DESCENDENTES DE FREDERICO E EMMA FAMILIA RAITER RIESINGER ASTOR IRMGARD HILDEGARD BRUNHILDA PERFIL DE FRIEDA RELATOS DA MAMÃE FRIEDA PARENTES NA AUSTRIA PALAVRAS FINAIS

Autora:Frieda Raiter Riesinger Relatora Brunhilda Riesinger de Faria Corrêa Composição gráfica: Cléber Bidegain Pereira

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PREFÁCIO

A história da nossa família, de origem alemã, que imigrou para o Brasil em 1889, será contada por mim, Brunhilda Faria Correa, filha de Frieda Raiter Riesinger, a qual deixou um manuscrito de onde colhi a parte principal deste relato.

O maior sonho de minha mãe Frieda, que me pediu diversas

vezes, era que eu traduzisse seus escritos em alemão, transcrevendo a história de nossa família para o conhecimento das futuras gerações, a fim de saberem como seus antecessores chegaram ao Brasil e como aqui venceram as dificuldades disseminando o exemplo de inquebrantável perseverança

Este relato é mais do que a história de nossa família. É na

realidade, parte da história desta gloriosa imigração de alemães, que enriqueceu a força da brasilidade.

É necessário considerar que, no final do século dezenove, sem a

facilidade das comunicações de hoje, as diferenças culturais da Europa e do Brasil eram sobejamente mais marcantes do que nos dias de hoje. Basta comentar que em 1490, época do descobrimento da América, as cidades na Alemanha já tinham a arquitetura que hoje nos deslumbram.

Os primeiros imigrantes alemães entre eles os avós de minha

mãe, vieram de um mundo organizado bem diferente do que aqui encontraram, onde tudo ainda estava por fazer e não havia nada do conforto e da cultura de onde vinham. O início foi difícil, como se verá na narrativa a seguir.

Perante as dificuldades de adaptação, se impuseram as suas

próprias forças, para se adaptarem às condições precárias a que foram submetidos, quando chegaram ao Brasil. Nunca haviam visto matas virgens, povoadas por animais ferozes, cobras venenosas e índios bravios. Estes que se consideravam donos das

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terras, aproveitavam quando os imigrantes iam à igreja, para invadirem as casas e roubar alimentos, porcos e galinhas.

As propagandas, as promessas que circulavam na Europa,

contando de um país cheio de riquezas inexploradas, motivaram-nos a vir para o Brasil, porém quando aqui chegaram a realidade era bem outra. As famílias, de origem alemã, polonesa e outros, que vieram da Europa para o Brasil em vapor, foram alojadas em grandes barracas de chão batido, fogo de chão e colchões de palha. Esperaram durante meses para que o governo lhes desse a devida atenção com o material prometido, para o trabalho na roça: duas vacas, alguns porcos, galinhas e manutenção enquanto esperavam a primeira colheita. Mas nada disto aconteceu. A salvação, para vencer o difícil impulso inicial, foi o auxilio solidário de poloneses, que estavam radicados no Brasil há mais tempo e já haviam trabalhado a terra que ficava ao seu redor, verdadeiramente abundante e fértil. Foram grandes as dificuldades que passaram, carentes de tudo que tinham na Europa: alimentos, alojamento, conforto, segurança e atendimento à saúde.

A seguir passo a transcrever o que traduzi dos referidos

manuscritos da minha mãe Frieda, tal como estão nas suas anotações. Tive a tentação e até a presunção de que poderia melhor ordenar a sequência dos acontecimentos, mas finalmente cheguei à conclusão que igual que toda a história, redigido em segmentos, não ordenados e escrita por narrador sem o talento dos grandes autores, deve ser assim: uma historia fragmentada composta de retalhos, sem um seguimento rigoroso de datas subsequentes e sem a beleza da literatura artística.

Este escrito é fruto do que ocorria na memória da Frieda,

roubando tempo de seu descanso. Trabalhava, desde o raiar do dia até a noite, como dentista, além de mãe de quatro filhos e “dona de casa”. A narrativa lhe vinha aos borbotões, conforme as lembranças do momento, pois era a noite que aproveitava para escrever, após terminar as tarefas do dia.

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O mérito deste escrito, o qual foi traduzido do alemão para o português, se deve a insistência do meu sobrinho, Dr. Ricardo Tramunt e sua esposa Rose Feiden, que muito me incentivaram nesta difícil tarefa. Também fui auxiliada na parte de digitação pelos meus netos Rodrigo G. de Faria Corrêa e Stefani Lana Faria Corrêa.

Este texto foi revisado pelo Professor de Língua Portuguesa,

Luiz Machado Stabile, meu grande amigo e colega de escola. Brunhilda Riesinger de Faria Corrêa

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CHEGADA DOS NOSSOS ANTEPASSADOS AO BRASIL

No ano de 1889, após dois meses de viagem, aportou em Santos, procedente da Europa, um vapor trazendo imigrantes alemães, poloneses e outros, os quais vinham tentar a sorte em terras brasileiras, conforme a enorme propaganda que faziam na Europa, das riquezas que havia no Brasil.

E assim nestas terras distantes e muito diferentes do que conheciam, chegaram aqui meu bisavô Gustav Hollstein e sua esposa, Caroline Yanke, com seus seis filhos menores. Vovó Emma, nascida em quatro de abril de 1876, tinha nesta época 13 anos.

Os irmãos da vovó Emma eram: Elizabeth com 1ano e oito meses; Rosália e Delfina com seis anos e eram gêmeas; Martim com 15

anos e Guilherme com 19 anos. Alguns poloneses que haviam imigrado um ano antes, os ensinaram

muitas coisas, inclusive a derrubar as árvores para fazer as casas com paus roliços e também emprestaram armas para defenderem-se dos animais e caçar.

Nesses três meses de espera o bisavô Gustav e sua família passaram muitas necessidades e, para alimentar a família, até macacos eram abatidos para fazer sopa, pois a carne era muito dura. Todos os dias Gustav tinha de atravessar o mato, para comprar leite para as crianças, com grande medo dos animais e dos índios. Por isso, ele resolveu granjear a amizade dos bugres, como os chamavam cozinhando no mato grandes panelas de batata doce e as deixava lá, para os índios pegarem, o que sempre acontecia e assim eles não os atacavam em suas propriedades. Muitas vezes recebiam dos indios frutas do mato, colocadas em cima de folhas de bananeiras. Quando não havia batata doce, o bisavô Gustav levava para os índios grandes pães e mel, e até um porquinho. Esta técnica ajudou a amansar os índios, pois os outros vizinhos também começaram a fazer o mesmo, a fim de terem paz com os indígenas.

Havia um capitão da Marinha que se chamava Miranda de sobrenome, que se apaixonou pelo bebê Elizabeth e como a sua esposa não lhe dava filhos e o casal era amigo da família e também falava alemão, pediu para a Carolina para adotar a menina, que ainda tomava mamadeira. O capitão Miranda redigiu um documento, onde tomava o

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compromisso de educar a Elizabeth como se fosse sua filha, dando-lhe o ensino tanto de alemão como de português. Eles ficaram morando perto por alguns anos, quando então o capitão foi transferido para o porto de Itajaí. Elizabeth deu sorte para o casal. Logo a esposa de Miranda engravidou e tiveram cinco filhos. Ela cresceu achando serem aqueles seus pais e irmãos. Por um acidente perdeu uma vista o que não a impediu de aprender corte, costura e bordado, cuja profissão exerceu. A única diferença na família é que Elizabeth estudou a língua alemã, vantagem que os outros irmãos não tiveram. O capitão Miranda justificava que Elizabeth o ajudava no escritório e por isso ela falava as duas línguas.

Aconteceu um dia que um vizinho foi caçar no mato com um filho de cinco anos, em um dado momento em que o pai se afastou um pouco do menino, ele havia desaparecido. Era um menino loiro e de olhos azuis. Os vizinhos ajudaram a procurá-lo, porém não o acharam e concluíram que os índios o tivessem raptado. Passaram-se os anos e aos 13 anos, o cacique resolveu casá-lo com uma índia, sua filha. Só então o menino teve a liberdade de ir com a noiva tomar banho e nadar no rio. Num certo dia, em que estavam no rio, o menino disse para a sua noiva que iria buscar frutas no mato e sorrateiramente fugiu, aproveitando o momento em que não estava sendo vigiado. Correu muito todo o dia e a noite, dormia em cima de uma árvore para se proteger dos animais selvagens. Assim passaram-se três dias, quando de repente ele viu uma árvore com frutas que ele reconheceu que ficava próxima da casa dos seus pais. Percorreu o lugar e achou uma casa, mas ele não entrou logo, ficou escondido observando as pessoas, até que a fome o fez entrar... e viu sua mãe. Ele só sabia falar na língua indígena, mas lembrou de MAMA, MAMA. Então a mãe olhou para aquele menino “índio”, loiro e de olhos azuis e reconheceu o filho que estava perdido por tantos anos.

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AVÓS EMMA E FREDERICO RAITER

Para dar início à vida da vovó e vovô Raiter é preciso voltar no

tempo. O bisavô Gustav era exímio violinista e na Alemanha tocava nas tavernas à noite e também tomava os seus traguinhos, por causa do frio intenso, das noites de inverno. Mas aqui no Brasil tudo mudou. A retirada dos imigrantes para a região de Santa Catarina foi muito difícil, foram usados cavalos, mulas e carroças para transportar as pessoas e suas mudanças. Aguardaram a chegada do cargueiro que os transportou do porto de Paranaguá até Itajaí.

Assim viajaram subindo e descendo morros e algumas famílias foram ficando em Brusque, outras em Blumenau, outras em Timbó, Warnov, etc. Tudo era mato virgem onde descarregaram seus pertences.

Não havia casa para se alojarem. Nem tábuas nem pregos ou zinco. Só a força de vontade para derrubar árvores e construírem abrigos e casas.

Cada família podia escolher um talhão de terra conforme pudesse trabalhá-la, assim foi dito pelo encarregado do governo brasileiro. Passados dez anos, os imigrantes iniciariam o pagamento das terras que escolheram para explorar. Foram prevenidos para que não entrassem num determinado morro, pois lá viviam os índios mais hostis. Há duas horas a cavalo, seguindo à direita moravam os poloneses que haviam chegado há um ano e já tinham plantações que forneciam alimento para eles e vendiam para os imigrantes recém-chegados.

Bisavó Caroline lamentava constantemente terem vindo para esta terra ainda tão incivilizada, onde tinham que desbravar o mato, com todos os perigos de serem atacados por animais ferozes e índios selvagens. Faltava assistência médica e apoio do governo brasileiro às suas necessidades, para se estabelecerem, sem casa para morar e poucos mantimentos. Eles chegaram a pensar em regressar para a Alemanha, porém o dinheiro não era o suficiente para comprar passagens no vapor para todos. Gustav , exímio violinista, poderia entreter os passageiros com a sua alegre música e Caroline trabalharia como camareira... E o resto dos filhos? Assim eles conjeturavam... Porém foi mais forte a determinação daquela família.

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Afinal já tinham filhos moços e fortes, que iriam derrubar o mato com seus braços musculosos, construírem uma moradia e plantar uma roça de onde tirariam o seu sustento. Então Gustav resolveu visitar o vizinho mais próximo e pedir orientação, para a construção de sua casa.

Estes vizinhos eram a família Raiter, que também estava construindo a sua moradia. Prontamente os vizinhos Guilherme, Frederico e Martim responderam que em dois dias ficaria pronta a casa deles e que no dia seguinte as cinco horas da manhã estariam lá para iniciarem a casa do bisavô Gustav.

Emma, agora com quinze anos, cozinhava em fogo de chão para toda a turma, inclusive para os vizinhos Raiter, que vieram ensinar e ajudar a construir a casa, no estilo da Baviera. A casa foi construída com troncos roliços que eles chamavam de “Block Haus” ou seja casa feita de toras. Como não tinham telhas, usaram folhas de palmeiras para o telhado. As camas feitas de troncos mais finos, atados nas extremidades com cipós muito

resistentes e os colchões eram sacos cheios de palha seca e grama. Frederico Raiter se encantou com a Emma, que sabia cozinhar

muito bem e que colocava armadilhas no mato, para pegar coelhos e outros roedores que serviam de proteína para as refeições. Frederico sempre procurava sentar à mesa, ao lado da Emma e elogiava os dotes culinários dela e assim foram se conhecendo enquanto construíam a casa. Ele sempre contava que a sua irmã de sete anos, fazia o café da manhã numa chaleira, onde colocava o pó de café e em seguida acrescentava uma brasa dentro para fazer o pó ir para o fundo, então o coava. Brincando disse que esse café tinha o gosto de cinza... Este sistema de fazer o café foi ensinado por uma polonesa.

Como o clima era muito quente, o leite sem refrigeração talhava diariamente, então era aproveitado como coalhada junto com batata doce.

Não era lá muito gostoso, mas servia para matar a fome, nesta terra tão elogiada no exterior, para atrair imigrantes colonizadores.

Ao terminarem a casa, Frederico convidou toda a família Hollstein para no domingo pela manhã visitá-los e assistirem a um culto religioso na casa dos seus pais e parentes a fim de lerem a Bíblia e louvarem ao SENHOR.Gustav aceitou o convite e prometeu levar o almoço para

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todos, o que muito agradou ao Guilherme, irmão do Frederico. Mais tarde Gustav comentou com Caroline: Esses moços são verdadeiramente boas pessoas, o que achas de incentivarmos a Emma para dar mais atenção a Frederico? Ao que Caroline respondeu: Mas ela só tem dezesseis anos...

No domingo marcado, toda a família foi para o culto matutino na casa dos Raiter. Depois do almoço sentaram-se na sala para conversar de tudo um pouco. Então Frederico declarou que gostava muito da Emma e se ela gostasse também dele poderiam logo casar. Ele esclareceu: Nós temos uma Bíblia e Guilherme pode ler um salmo referente ao casamento, então Emma e eu faremos o Juramento. Nós estaremos trabalhando juntos, minhas irmãs seriam supervisionadas por Emma e boa e saudável a comida. Assim ficou o pedido para mais tarde ser dada à resposta.

Passaram-se alguns dias e uma árvore muito grossa e alta estava sendo cortada, para aumentar a área para a plantação. A sua copa estava tomada de cipós, que também estavam enredados em outras copas, o que ocasionou que na hora de cair, ela girasse e tombasse num lugar que não estava previsto, justamente onde Gustav se encontrava. Felizmente, Caroline que se encontrava ali perto previu o perigo e o puxou com grande violência, que o fez cair, porém só alguns galhos caíram sobre sua cabeça e manchas roxas surgiram em suas pernas, onde galhos mais pesados bateram. O susto foi muito grande para todos e Emma se deu conta de que só ela poderia tirá-los desta situação, casando com Frederico e libertando-os para poderem voltar à Alemanha.

Caroline logo providenciou o enxoval com as roupas de cama e mesa, que havia trazido da Alemanha, também a louça de porcelana e para completar comprou um fogão à lenha, para que a querida filha Emma não cozinhasse mais em fogo de chão.

Algumas semanas se passaram e a festa modesta e intima do casamento foi preparada para os noivos, assim como haviam imaginado; depois providenciariam a legalização da cerimônia, já que por àquelas bandas não havia nem Pastor nem Juiz de Paz. O principal é que havia a linda música do violino de Gustav, muita comida e muita alegria.

Passou-se um mês e os bisavós Gustav e Caroline retornaram para a Alemanha.

Os outros filhos também formaram as suas famílias. Guilherme, irmão da Emma, casou com uma moça polonesa e tiveram seis filhos.

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Uma de suas filhas chamada Ida morou mais tarde em São Paulo. Martin, de profissão ferreiro, foi delegado de polícia, em Warnov e teve sete filhos. Uma de suas filhas chamada Herta, casou com um Hofsses em Warnov. Eles tiveram uma tecelagem muito próspera em Indaial, Santa Catarina, próximo a Blumenau. A Herta teve duas filhas, uma delas era professora em Indaial e tinha um filho. A outra irmã morava do lado da casa de Herta e ambas perderam seus maridos vitimados por um câncer.

A irmã Rosália (gêmea) teve dezenove filhos, e morava em Joinville, Santa Catarina. Quase toda família trabalhava em uma fábrica de meias. A Delfina, sua gêmea, teve sete filhos e todos foram para Paranaguá e de lá se espalharam pelo estado do Paraná, por isso se perdeu o contato com eles. Diante disto, vimos que nossos parentes se espalharam por Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e São Paulo. Terminada esta apresentação dos outros irmãos da Emma, vamos continuar falando sobre a vida dos Raiter, isto é, Frederico e Emma.

A casa em que moravam era de alvenaria, muito grande, para abrigar seus oito filhos. De sobrado com janelas grandes e altas, com cortinas e tapetes de veludo no chão. Na frente da casa, havia uma boa varanda, com cadeiras estofadas e forradas com pele de onça ou de jaguatirica.

Frederico tinha o seu negócio, muito próspero, pois, na colônia era costume que uma loja tivesse tudo o que uma dona de casa precisasse: desde gêneros alimentícios, medicamentos, tecidos, roupas feitas, sapatos e até cachaça... Enfim era um negócio bastante diversificado e rentável.

Infelizmente, Frederico sofria de asma, e não podia trabalhar na roça, por isso, ele ficava no atendimento da sua loja e Emma trabalhava na roça, auxiliada por três moças e três rapazes, que Frederico empregava. Ele também criava algumas cabeças de gado e touros que importava da Alemanha. Era um homem inteligente e muito estudioso das coisas que queria realizar, por isso, viajava até Itajaí, falava com o Capitão do navio seu amigo alemão, a fim de trazer na próxima viagem três vacas e um touro de raça. Imaginem que temeridade...Mas quando os animais desembarcaram no Porto de Itajaí, foi aquela alegria ao ver a beleza dos animais europeus. Logo foram transportados, por terra. Assim começou a criação, e após dois anos importou mais um touro e a criação foi aumentando. As teorias dos livros eram postas em prática, assim como dava, pela precariedade das condições, mas o capricho no cuidado era largamente recompensado. Novamente ele viajava até Itajaí

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e no porto procurava o capitão do navio, para encomendar mais 2 touros, que na próxima viagem o capitão traria. Também havia trezentas colméias de abelhas que ele muito cuidava e amava. Plantava árvores frutíferas e um maravilhoso jardim. Na horta, de um hectare, havia um hortelão que plantava e colhia as verduras, para à noite serem transportadas de carroça, para Blumenau, a fim de serem vendidas. Viajava à noite devido ao grande calor.

Frederico era muito organizado e ordeiro, diversificando em sua casa de comércio: manteiga fresquinha, requeijão, queijo e etc. Orientava os empregados na preparação da linguiça cujo conhecimento ele adquiriu, através dos livros que mandava trazer da Alemanha. A morcela feita pelo vovô era tão gostosa que ainda no dia seguinte a gente lambia os dedos com o gostinho delicioso dos temperos... Também defumava o toucinho, a linguiça, as costelinhas e queijo de porco, que eram muito procurados pelas pessoas de Blumenau.

A irmã da vovó, a tia Rosália, era especialista em colocar pepinos e repolhos em conserva (sauerkraut). Os temperos e as especiarias eram trazidos pelo comandante do navio e vovô Frederico levava presentes para agradá-lo como agradecimento além do pagamento.

Aos domingos vinham carros de Blumenau, para comprar na loja e as tias Delfina e Rosália preparavam muitas bolachinhas e cucas de todos os tipos, no estilo alemão, com cobertura de frutas.

Vovó Emma teve doze filhos, em dezenove anos de casada, porém quatro faleceram ainda bebês, dois de difteria e outros dois de desarranjo intestinal. Os outros filhos se chamavam: Martin, Gustavo, Emilia, Marichen, Leopoldo, Bruno, Frida e Ferdinando. Alguns se radicaram em Santo Ângelo das Missões, outros foram para Buriti, Santa Rosa, Guarani e isto aconteceu logo depois de se casarem e comprarem uma colônia para cultivarem. Também criavam porcos, galinhas e semanalmente traziam para Santo Ângelo, em carroças, muitas verduras, mandioca, ovos, geléias e frutas que vendiam na feira. E assim cada um ia fazendo sua propriedade crescer e viviam bem e com fartura.

Como já foi dito, vovó Emma trabalhava muito, tanto na roça como nos seus afazeres da casa. Mas ela tinha uma grande tristeza e preocupação com as mulheres que morriam de parto(febre puerperal).Acontecia por falta de conhecimento das parteiras que não cuidavam da assepsia, as infecções e hemorragias eram freqüentemente a causa das mortes

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Um dia Emma disse para Frederico: Estou com 33 anos e voltarei para a Alemanha para fazer um curso de Parteira Instrumental a fim de ajudar essas pobres mulheres em suas doenças e seus partos. Tenho uma boa memória, fiz uma boa escola e estou preparada para fazer um curso técnico de médica. Tu assumes tudo aqui e Marichen, que já tem 14 anos cuidará das crianças, pois ainda temos um bebê de um ano e oito meses. Frederico no princípio não concordou e a discussão ficou estrondosa, com relâmpagos e trovões, mas a vovó Emma venceu com seus argumentos e viajou para a Alemanha.

Chegando lá teve a desagradável surpresa de que a Escola Superior de Medicina não a aceitou: Primeiro, porque já tinha 33 anos, era muito queimada e dava a impressão de ser morena, apesar de seus lindos olhos azuis. Tinha as costas encurvadas pela má postura diária na roça e um problema na coluna. O segundo motivo era que o Curso durava 5 anos e ela não poderia dispor de tanto tempo, longe da família. Então a Emma resolveu viajar para Praga, na Tchecoslováquia, pois soube que lá aceitavam alunas até a idade de 34 anos. Como uma boa Pomerana, região onde nasceu, na Alemanha, se apresentou para o diretor do hospital.

Novamente perguntavam-lhe se poderiam ficar cinco anos longe de sua família, ao que ela respondeu: Se os senhores me permitirem morar no hospital, estudando e atendendo os pacientes que entrarem na emergência, então eu procurarei tirar o meu diploma na metade deste tempo.

Na mesma hora, os cincos médicos caíram numa gargalhada... E um deles falou: determinação e vontade a senhora tem, mas trabalhar a noite e estudar de dia, isto é simplesmente impossível. Ninguém aguenta senhora Emma, não podemos permitir. E Emma argumentou: Senhor professor, por favor! Deixe-me aos menos tentar, porque no Brasil nós precisamos de pessoas capazes, que estudaram como fazer os partos e impedir que as pobres mulheres deixem seus filhos órfãos pela incapacidade das parteiras, que desconhecem os perigos que vem da falta de assepsia. Eu quero ajudá-las, impedindo as mortes que poderão ser evitadas. Tenho energia, força e fé de que vou conseguir e um grande amor pelos meus filhos, que deixei em casa com o meu marido. Deixe-me experimentar, ao menos durante quinze dias. Enfim, os médicos aceitaram. Sentenciando que daí há quinze dias ela teria seu primeiro exame e em trinta dias faria seu primeiro parto assistido por um médico.

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Assim, Emma praticava, sempre junto com os médicos, recebendo pacientes na emergência fosse o caso que se apresentasse, mas principalmente as parturientes.

Também aprendeu a preparar alguns medicamentos com o conhecimento de cristais e pós que eram manipulados com uma balança de precisão, pois naquela época havia falta de remédios prontos.

Muitas saudades ela sentia e precisava vencer o sono e o cansaço, que a invadia quando estava estudando. Como ela previra, em dois anos e meio, ela completou o curso que levaria cinco anos. No seu coração de mãe, uma suave musica ressoava no dia da sua formatura, pois finalmente voltaria para seus filhos e esposo. Durante a viagem de regresso, no navio, pôde descansar e dormir para refazer a sua forças quase exauridas.

Finalmente em casa, foi grande a emoção do reencontro. A sua pele queimada pelo sol agora estava branca como o grande avental branco, que usava para atender as suas pacientes.

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Os homens em geral são muito dependentes da mulher. Frederico não era diferente, trabalhava muito procurando manter seu negócio e sentia a necessidade de ter uma mulher em seu redor, na ausência, por dois anos e meio da Emma, em Praga, Foi apresentado a uma senhora chamada Maria Filipina Klein e daí teve inicio um relacionamento que originou dois filhos, José Felipe Klein e João Klein. José Felipe se formou em engenharia civil e trabalhava no Banco do Brasil, em Curitiba, no Departamento de Engenharia, casou com Ruth Ribeiro e tiveram três filhos: Alexandre, Felipe e Alberto. José Felipe, parece que puxou pelo avô Gustav, pois também estudou violino. Alexandre, seu filho mais moço aprendeu com perfeição a tocar oboé o que o levou a vencer um concurso em Genebra, a nível mundial, como o melhor oboísta, sendo premiado com o 1º lugar.

João Klein ( carinhosamente chamado de Joãozinho ) inclinou-se para a agricultura montando uma grande representação de máquinas agrícolas, inclusive com atendimento mecânico, em Goiânia. Casou com Idalma Andrade e criaram uma “filha do coração” chamada Rita de Cássia, médica oftalmologista casada com o Dr, Eduardo Itikawa, também oftalmo, os quais têm duas filhas, Beatriz e Maria Luiza.

Atualmente moram em Araçatuba, SP, onde o Joãozinho, que é cardíaco, está sob os cuidados de sua filha Rita de Cássia. Vovó Idalma e João são muito faceiros com suas netinhas.

Um dia, cinco moços, num sábado de folga, foram tomar banho no rio. Um deles se jogou de uma barranqueira e caiu na água entre pedras, as quais além de arrancar parte do couro cabeludo fizeram-no perder os sentidos. Quando os seus amigos o retiraram da água, o couro cabeludo pendia lateralmente dos dois lados. Assim eles o levaram para a “doutora Emma. O musgo cobria os cabelos, a cabeça coberta de sangue e a palidez do rosto formavam um tétrico quadro. Emma logo começou a sua tarefa para socorrer aquele moço desacordado. Deitaram-no na mesa do consultório, impecavelmente limpo, dando inicio à limpeza do ferimento, desinfetando e juntando o couro cabeludo com pontos.

Quando terminou, tirou a roupa molhada do rapaz e o cobriu com um lençol e cobertor. Após três dias, ao anoitecer, chegaram os seus familiares que o encontraram com a cabeça envolta em panos e com febre alta. Também veio junto o Dr. Zappel, de Blumenau, que examinou tudo que foi feito e cumprimentou a Doutora Emma pelo

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bom trabalho realizado, mas acrescentou que o caso era perdido, nada mais havendo para fazer.

O moço de dezoito anos, durante seis semanas de cuidados e tratamento com kenin (“quinino”) e compressas de água fria, do poço, conseguiu fazer com que sua febre passasse e que ele se restabelecesse. Como era costume, foram dadas graças a Deus num culto em família. Emma tinha muito trabalho tanto que pouco dormia. Ela tinha muita paciência e cuidado com a higiene no tratamento de suas parturientes e poucos eram os casos perdidos.

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DESCENDENTES DE FREDERICO

E EMMA RAITER Esta história sobre os irmãos da Frieda e os seus sobrinhos,

também foi escrita por ela, mas alguns detalhes foram acrescentados por mim, (Brunhilda) segundo pesquisas e lembranças da minha infância

Antigamente os pais eram bastante rígidos, quanto às regras de comportamento moral e social e eram sem delongas, obedecidos pelos seus filhos. Quando Marichen, irmã mais velha da Frieda, foi pedida em casamento pelo Richard, seu namorado, Frederico não o permitiu, enquanto ela não se

formasse em Dentista, na Alemanha. Este Curso tinha a duração de dois anos e meio. Frederico e vovó Emma então, resolveram a situação realizando o casamento de Marichen e Richard. Assim o casal acompanhado pela Emma, embarcou para a Alemanha. Desembarcaram em Hamburgo, lugar onde estudaram. Todos ficaram num internato, que pertencia a um médico e sua esposa era a governanta. Mais tarde Frieda e os irmãos aprenderam o oficio com a irmã Marichen e exerceram sua profissão,com muito esmero e segurança.

Ao finalizarem o curso, Marichen e Richard regressaram para o Brasil e foram residir em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Em seguida começaram a clinicar e Richard fez mais um curso de protético e portanto os dois iniciaram sua vida profissional. Foram muito bem aceitos na comunidade, o consultório estava sempre cheio de clientes. A fama de bons profissionais logo se espalhou e assim a vida transcorria trabalhosa, mas felizes e com fartura.

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Os consultórios odontológicos passaram a ser mais sofisticados, com equipamentos que ofereciam maiores recursos para o profissional. Marichen acompanhava este progresso e mandou vir da Alemanha um Raio X, que lhe ajudava no diagnóstico, como até então nem se imaginava.

Da união de Marichen e Richard nasceram quatro filhos: Marcos, Bruno, Herbert e Waldemar. E estes dois últimos eram gêmeos idênticos. Eles eram tão parecidos, que nem as namoradas os diferenciavam. Eles sempre usavam gravatas, então pela cor da gravata, elas os distinguiam. Eram muito brincalhões e às vezes trocavam as gravatas e nesta troca elas se confundiam. Que danados... Herbert montou uma fábrica de móveis lindos, em Santo Ângelo, estilo Chipandelle. Comprei o meu quarto, na sua Loja, em 1953. Esta fábrica alguns anos depois incendiou. Sua esposa, Alzira dos Santos tinha um sorriso muito meigo, era bonita e faceira. Viveram muitos anos felizes. Tiveram dois filhos: Roberto que é cirurgião dentista, em Santo Ângelo, RS. Depois veio uma menina, a Denise. Ela casou com Luiz Gay Pinheiro e tiveram dois filhos: Eduardo e Tatiana Hoccheim Pinheiro.

Denise se formou pela Faculdade Imaculada Conceição, em Santa

Maria, exercendo a Cátedra da língua portuguesa. Herbert faleceu em decorrência de um câncer e Alzira também já

não está mais entre nós, lamentavelmente.

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Waldemar Hochheim (Waldi para os mais íntimos), resolveu ser Representante Comercial, cuja atividade exerce até hoje, apesar da sua limitação visual por causa de um glaucoma, por erro médico, não detectado. Em compensação Waldi tem memória invejável, ainda hoje, aos noventa e quatro anos.

Waldi casou com Lori Amodeo Hochheim, uma jovem de olhos verdes lindos, de porte elegante e inteligência brilhante, prendada nas artes da costura e bordado, ótima na cozinha desde o trivial até tortas decoradas com maestria, além de companheira dedicada e amorosa. Lori é muito benquista por suas amigas da Casa da Amizade do Rotary Club, por seus sobrinhos e primas. Tem um irmão, o Sérgio, em Santo Ângelo casado com a Ieda. Tiveram uma filha de nome Mônica que é casada e reside em São Paulo e a Leda que é filha do Coração.

Havia outra irmã da Lori, mais velha, que se chamava Isabela e era casada com o Alvino. Certo dia o casal viajava para Gramado, quando foram atropelados por um caminhão carregado de madeiras. O casal não resistiu aos ferimentos e o filhinho mais ou menos de doze anos, o José que estava no banco traseiro, saiu ileso. Havia mais uma filha, a Rosane e ambos foram estudar em Porto Alegre, tendo a Lori e o Waldi,

como responsáveis. Nas férias voltavam para Santo Ângelo e a vovó Lili tomava conta

deles. Atualmente José está casado com Maria Lucia e o casal tem dois filhos.

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Rosane casou com o Adolfo e desta união nasceram: Bruna, Candice, Adolfo e Tiago. Rosane já é avó de quatro netos. Adolfo é Farmacêutico e casou com a Fernanda que tem a mesma profissão. Eles têm a alegria de ter a Manoela de 10 meses. Tiago casou com a Fabiana que já era mãe do Bernardo e desta nova união nasceram Maria Clara e Maria Luisa. Candice casada com Daniel Mutti tem uma linda menina

de três anos chamada Izabela. Bruna e Daniel ainda não têm filhos. Concluindo: Lori e Waldi mesmo sem filhos biológicos, tem uma bela e muito querida família, o que comprova esta foto. Evidenciando que família se faz com amor, mesmo sem laços de sangue direto. Lori e Waldi rodeados de amor são os patriarcas deste maravilhoso grupo. Waldi está com sua “bisneta” no colo transbordando carinho.

Continuando a descrição dos filhos do casal Richard e Marichen, ainda havia o Bruno e o Marcos, os quais cursaram a Faculdade de Odontologia. Bruno casou com a Erica de La Rue e tiveram os filhos: Roaldo que é Odontólogo, atualmente com 70 anos, recentemente enviuvou. O Delmar é Desembargador e tem mais a Lúcia, que fez o curso de bibliotecária. Marcos não casou. Escreveu um livro polêmico e era um filósofo. Também atendia em sua clínica em Porto Alegre. Bruno e Marcos também já faleceram, de ataque cardíaco.

Tia Marichen e tio Ricardo moravam na rua Zamenhoff, em Porto Alegre. Marichen além do consultório tinha o “hobby” de criar abelhas, cujas caixas ela espalhava pelos arredores de Porto

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Alegre. Naquele tempo há oitenta anos atrás, as abelhas não eram africanizadas e ela era a VOVÓ DAS ABELHAS, como saiu numa reportagem no Correio do Povo. Na foto, Marichen estava com um favo cheio de abelhas, sem nenhuma proteção e ainda de mangas curtas! Que notável... Atualmente para se trabalhar com as abelhas, é preciso vestir um bom macacão, colocar botas de borracha, luvas e capacete. Mesmo com tudo isso, as abelhas ferroam através da roupa. É PRECISO TER CORAGEM... E gostar de ver o capricho destas trabalhadoras incansáveis. Mas tem um premio para todo este esforço...Um mel delicioso!

Tio Ferdinando Raiter e tia Jandira Soares da Silva Raiter, eram companheiros no trabalho. Tio Nandi no consultório era auxiliado pela tia Jandira, como enfermeira assistente. Sim, os dois formavam um bonito par, vestidos de avental branco.Também tiveram muito êxito no desempenho de sua profissão e eram muito felizes. Tia

Jandira era filha de militar e nasceu no Rio de Janeiro. Por transferência, a família foi residir em Santo Ângelo onde eles se conheceram Jandira era de uma simpatia encantadora, sempre que algum parente chegasse a Porto Alegre, era no apartamento dos tios, que eram hospedados. Nunca encontrei a tia desarrumada, sempre impecavelmente vestida, embora não tivesse empregada. O cabelo bem penteado, pó de arroz, “blush” e batom nos lábios. Pela manhã ao levantar, ela não saía do quarto antes de estar com tudo isso e mais brincos e colarzinho de pérolas, no pescoço. Eu a admirava e amava muito. Tenho muita saudade dela e do tio Nandi, Que pessoas admiráveis! Tio Ferdinando gostava de viajar e tia Jandira, mesmo com os filhos pequenos, não se intimidava em acompanhá-lo. Lembro-me de uma viagem, que fizeram para o Chile, num pequeno Opell. O tio pesava mais ou menos 90 quilos, e a tia 50, duas crianças, mais a bagagem era um “espetáculo”. O pequeno autinho, movido a gasogênio, quando o tio sentava na direção, notava-se como baixavam as molas e diminuía sensivelmente a altura do chão. Que notável!... E o tio dava aquela

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risada, pois era uma pessoa muito simpática e feliz. A viagem foi maravilhosa até perto da Cordilheira dos Andes chegaram, segundo os “slides” que documentaram toda a viagem. Isto aconteceu na época da segunda guerra e havia contenção de combustível, no Brasil. As crianças foram nascendo: primeiro a Margarida, em 25/ 11/ de1935, depois a Walkiria, em1940, a Heloisa em1945 e por último, o Luis Fernando em 1949.

Margarida e Walkiria fizeram a Faculdade de Odontologia. Margarida Soares da Silva Raiter casou-se com o também Odontólogo Eugenio Lenz em 27/12/1957. Desta união nasceram seis filhos: Mirtes Maria Lenz Pilau, formada em Direito, casada com Silvio Pilau Junior Neto, mãe de dois filhos: Silvio Pilau Junior, Publicitário e Daiane Lenz Pilau que fez a Faculdade de Administração com ênfase em Mercado Exterior. Todos moram em Porto Alegre. Outra filha, a Maira Raiter Lenz Esber, Publicitária, casada com Eugênio Carlos Borges Esber, jornalista. Eles têm dois filhos: Conrado Lenz Esber, cursou a Faculdade de Jornalismo e Eduardo Lenz Esber cursando Administração com ênfase em Marketing. Também moram em P.Alegre. Nilton Ricardo Lenz representante comercial, mora em Rosário do Sul com a esposa Vera Pinheiro Lenz, que é professora. Têm uma filha, Lidiane que se formou na Faculdade de Engenharias Renováveis, em Bagé. . Atualmente trabalha na empresa Oleoplanen, em Porto Alegre. Gerson Raiter Lenz representante Comercial é solteiro.

Leandro Raiter Lenz, representante Comercial, casado com Eliane Palmeiro Lenz é pai de dois filhos: Lorenzo e Pedro Palmeiro Lenz. Residem em Santo Ângelo. Michele Raiter Lenz atualmente trabalhando como promotora e organizadora de eventos em Porto Alegre onde reside.

Margarida iniciou a sua Clinica em Santo Ângelo, junto

ao consultório do pai Ferdinando. Quando casou em 1957, com o Eugênio Lenz, transferiu seu consultório para outro local onde trabalhou por muitos anos. Esta linda mulher, que foi para os seus filhos um exemplo de dedicação, amor e entrega, faleceu de enfisema

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pulmonar, em 1996, aos 61 anos de idade. A sua imagem permanecerá em nossos corações para sempre e ficou imortalizada através dos seus lindos filhos e netos, bonitos como ela. Pessoas idôneas e respeitadas em suas comunidades. No mesmo ano de 1996 faleceu também Eugênio.

Margarida com Eugênio tiveram seis (6) filhos três homens e três mulheres: Gerson, Mirtis Maria, Michelle, Leandro, Nilton e Maira

Da esquerda para a direita: Gerson Raiter Lenz, Mirtis Maria Lenz Pilau, Michelle Raiter Lenz, Leandro Raiter Lenz, Nilton Ricardo Lenz e Maira Lenz Esber

Netos Lorenzo e Pedro Palmeiro Lenz (filhos do Leandro e Eliane Palmeikro Lenz.

A segunda filha da tia Jandira foi a Walkiria de profissão dentista. Casou com Seomar Mainardi, que era produtor em Sobradinho RS. A Doutora Walkiria abriu o seu consultório nessa cidade, onde residiram por muitos anos e nasceram três filhos: Márcia, Maísa e Marcelo. Maísa casou com

Jarbas Dornelles Jr. e tem dois filhos: O Eduardo e o Guilherme. Presentemente as famílias da Maísa e do Marcelo, que casou com a Ana Paula Stedile e tem um filho chamado Vito, residem na praia dos Ingleses, na ilha de Santa Catarina. A outra filha chamava-se Heloisa a qual não fez Faculdade, mas tinha uma alegria de viver, que fazia todas as pessoas ao seu redor, rirem do seu bom humor. Parecia que ela estava vivendo intensamente, porque antevia que o seu tempo com seus pais e filhas seria curto, assim como aconteceu... Dormindo teve uma

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embolia e não acordou mais. Ela era casada com o Sergio Costa e deixou duas lindas filhas ainda pequenas, Melissa e Milena as quais, após o falecimento da Heloisa, com apenas32 anos, em junho de 1977, foram residir em Recife, com o pai.

Milena no centro, com seus três filhos. Milena é muito parecida com a Heloisa, sua mãe. Reside, atualmente em Recife na praia de Boa Viagem.

O quarto filho da Jandira, o Luiz Fernando, era um visionário, pois

quando criança queria ser capitão de navio, ou comandante de avião, para percorrer o mundo do qual tinha muita curiosidade. Quando jovem viajou para a Europa, como “caroneiro” e quando faltava dinheiro pedia um reforço para o pai. Ferdinando, que também gostava de viajar, entendia esta inquietude do filho. Ele também, preparava o seu carro, colocava toda a família dentro e saía rumo à Argentina, ou para o Chile, também diversas vezes, levava toda a turma para países da Europa. Luiz Fernando chegou a ser comandante da Varig, pois tinha conhecimento de diversas línguas, as quais falava fluentemente: o alemão, inglês, italiano e espanhol. Porém os vôos dentro do Brasil, não o satisfaziam, queria mesmo viajar para o exterior. Então se desligou da Varig.

Luiz Fernando casou com Clélia Pfeifer, uma linda moça competente Arquiteta e Urbanista. Tiveram três filhos: Angel que cursou a Faculdade de Design Industrial, Yang se inclinou para Gastronomia-Hotelaria, e atualmente está trabalhando no restaurante “João de Barro, em Florianópolis. Luana e o esposo Pedro Bonatto se dedicaram ao Teatro e Artes Cinematográficas.

Luiz Fernando e Clélia se radicaram em Blumenau onde ele se empregou numa fábrica de máquinas têxteis. Como ele era muito hábil manualmente, logo aprendeu a montagem das máquinas. Certa ocasião algumas máquinas foram exportadas para os Estados Unidos, mas ao

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serem montadas, não entravam em funcionamento. Assim solicitaram a presença de um técnico, a fim de verificar o que havia acontecido. A fábrica logo enviou o técnico Luiz Fernando, para dar a assistência. Ao lá chegar desmontou e montou novamente as máquinas, ligou e todas entraram em funcionamento perfeito. Algo não havia sido bem ajustado. Foi um sucesso! Então os americanos lhe propuseram ficar trabalhando na firma, o que ele aceitou. Mas se passaram alguns meses e a sua família, a esposa e os filhos pequenos não conseguiam, no Consulado Americano, o visto de entrada no país. No fim de dois anos, sem a família, Luiz retornou ao Brasil. Novamente na fábrica foi convidado para ser o representante comercial da firma, na Itália com toda a sua família. O sonho de conhecer o mundo estava se realizando... Mais tarde devido a sua boa atuação, a fábrica estendeu a representação para a Europa, China e Japão etc. Ele foi uma pessoa muito inteligente, simpática e alegre. Lutou pelo seu ideal de conhecer o mundo e venceu.

Na fotografia, Luiz Fernando e sua família, em rápida visita a Hildegard, Cléber e família, no Hotel Plaza Itapema, em SC, onde estes estavam hospedados.

O Bruno, outro irmão da Frieda, era o filho mais moço da Emma. Ao iniciar a sua profissão de Dentista, veio morar e trabalhar, em

Uruguaiana, no mesmo consultório da sua irmã. A sala dos consultórios era muito grande, onde folgadamente cabiam os dois equipamentos dentários. Nesta época, mamãe já estava separada do papai e contratou uma senhora descendente de alemães, para cuidar dos seus quatro filhos. Ela se chamava Amanda Post e era muito carinhosa conosco, ainda crianças. Era caprichosa com a casa e sabia fazer bons quitutes. Pois bem, uma grande amizade surgiu entre o tio Bruno e a Amanda, que resultou em casamento. Então a Sra. Amanda Post Raiter e o tio Bruno se mudaram para uma casa espaçosa, onde deu lugar para o consultório. Com o tempo vieram três filhos: Frederico, Edelweis e Bruno. Frederico era muito bonito, alto, loiro e robusto e logo uma baiana também, alta, robusta e muito bonita, chamada Dejanira, roubou o coração dele. Casaram e foram morar em Brasília, onde a Dejanira montou uma loja de móveis de nome “SALAS.”

Como os negócios progrediram bastante, construíram uma linda mansão, com piscina e pátio ajardinado. Bruninho também foi morar

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em Brasília e como tinha gosto pela marcenaria, ficou encarregado do conserto dos móveis da loja. Assim, foram prosperando e resolveram comprar uma pequena chácara, onde o Frederico gostava de plantar flores e verdura, para a família e lá passavam os fins de semana. Tiveram três filhos: Débora, Frederico e Felipe. Débora e Frederico montaram uma loja

especializada em colchões. Felipe produz a melhor “pizza” de Brasília, no sistema de tele-entrega. Com tudo isto eles tiram o bom sustento de suas famílias.

Edelweis fez um Curso de Manicure e Cabelereira de onde consegue o numerário necessário para manter a sua família, desde que se separou do seu marido Helvio Scrimim. Desta união nasceram quatro filhos: Marciomar, Miriam, Volner e Bruno. Marciomar escolheu a profissão de caminhoneiro internacional e viaja para a Argentina, Chile, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Atualmente está com quarenta e quatro anos, casado com Silvia Cristina Leite e tem uma filha que já completou quinze anos, que se chama Amanda.

A outra filha da Edelweis, chama-se Miriam que fez a Faculdade de Farmácia, mora em Brasília e casou com Ricardo Martins da Costa Guerra, que é Veterinário. Ambos trabalham, Miriam numa Farmácia e Ricardo abriu uma casa de produtos e atendimento veterinário. Desta união resultou o nascimento de um belo menino de nome Daniel Raiter Scrimim Guerra.

Volner era um exímio marceneiro amador, ele tinha grande facilidade de realizar aumentos na casa ou forrar peças com madeira. Aquilo que ele se propunha fazer, era criado por ele de uma maneira muito original que encantava a todos. Por uma fatalidade, um dia saiu de moto com um amigo, quando uma preferencial foi invadida por um caminhão, que atropelou os dois, irremediavelmente. Foi terrível o choque da notícia, para a família. Edelweis e os irmãos do Volner estavam inconformáveis. Não há nada mais triste e desolador do que esta angústia, da perda de uma pessoa tão amada, tão jovem.

Outro filho da Edelweis, o Bruno Cezar Raiter Scrimim ao prestar o serviço militar no exercito, em Uruguaiana, permaneceu no quartel durante sete anos, onde aprendeu o serviço de Marcenaria, com perfeição. Atualmente é um dos profissionais mais procurados na cidade. Ele está casado com Ane Graciela Costa Scrimim e tem a Isadora, uma linda menina.

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Outro irmão da Frieda, Leopoldo Raiter era Dentista em Porto Alegre, na rua Marechal Floriano Peixoto, local onde sempre esteve a sua Clínica.

Leopoldo casou com Elina Pereira Ingebourg, de origem paraguaia, pois ele trabalhou dez anos nesse país. Tiveram uma única filha de nome Emma. Ele além de ser um ótimo profissional, tinha como “hobby”, nos fins de semana, ir para a chácara em Sapucaia do Sul, onde plantava árvores frutíferas e criava abelhas, muitas caixas de abelhas.

Emma era uma linda menina com os seus cabelos castanhos de um crespo solto, e suas faces sempre rosadas. Ela era muito magrinha, assim como eu também. Como éramos da mesma idade tínhamos muitas afinidades, sempre fomos muito unidas. Quando a mamãe viajava para Porto Alegre, me levava junto, para eu visitar a Emma. Ela era muito inteligente e ativa e desde muito jovem ajudava na oficina de prótese do pai Leopoldo. Aos quinze anos se apaixonou pelo Cardoso, com o qual mais tarde casou. Desta união nasceram :Solange e Sérgio

Solange Cardoso de Oliveira formou-se no Magistério e fez especialização em Matemática. É casada com Jorge de Oliveira. Conheceram-se em 1976 e noivaram no Natal de 1978. Nesta época, Jorge era mecânico da Varig, onde trabalhou durante dezessete anos. No ano de 78 quando casaram, a Varig presenteou o jovem casal, com uma viagem para onde desejassem. Escolheram conhecer o nosso Brasil, cheio de maravilhas! Logo os filhos começaram a chegar: primeiro a Roberta, depois o Felipe, depois o Jorge e quando residiam em Miami, nasceu a Jackelyn em 20/07/94. Emma Raiter Cardoso viajou para Miami, para conhecer a neta e lá permaneceu durante onze meses. Então, voltou sozinha ao Brasil.

Jorge e a família regressaram para o Brasil em 1997 e foram residir em São Bernardo do Campo, SP. Jorge se empregou na VASP, porém a saudade da Emma, agora já com sessenta e cinco anos, os levou, em 1998, a voltar para Sapucaia e foram morar com ela.

Atualmente Emma está bem de saúde apesar de ter tido um forte AVC , que a deixou com limitação para caminhar, em dois mil e nove. Com oitenta e um anos, vive feliz com sua filha, genro e netos.

Outra irmã da Frieda, a Emilia era também Dentista.Casou com Dinarte Lampert e moravam em São Luis Gonzaga. Poucas vezes eu tive contato com esses tios, mas com as suas filhas Edith, Elaine e Olívia, mantive uma boa amizade, pois elas moravam em Porto Alegre.Elaine e Olívia viajaram para São Paulo a fim de fazerem um

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Curso de Cabeleireira e Manicure e montaram um Instituto de Beleza, situado à rua Cristóvão Colombo.Edith morava em Guarani e trabalhou no Correio até que um infarto a levou desta vida.Era uma pessoa muito bonita e simpática. Muitas vezes, nos visitou em Uruguaiana.

O tio Gustavo tinha uma colônia próxima de Santo Ângelo, para onde levava suas mercadorias: verduras, geléias, queijos, mandioca, cebolas, alho, etc Infelizmente não tive muito contato com estes familiares, pois era pequena nesta época, quando a mamãe visitava os seus irmãos.

Tio Martim Raiter era casado com a tia Frida, que nós crianças, adorávamos visitar, porque ela era muito meiga e nos recebia com muita alegria. Quando lá chegávamos, a tia Frida corria no galinheiro e pegava uma galinha bem gorda e lhe torcia o pescoço. Nós ficávamos com muita pena! Mas logo ela a limpava e já a estava colocando no forno, com bastante tempero e aquilo ficava muito gostoso!Para acompanhar havia mandioca fresquinha e quase se desmanchando... Tudo era uma delícia na casa da tia Frida e do tio Martim. A tia era ágil no serviço, tanto na colônia como na casa, a qual era de uma limpeza impecável e nós, recomendadas pela mamãe, só entrávamos na casa, quando chamados pela tia.Sempre havia aquelas bolachinhas gostosas, que ela nos oferecia...O tio Martim tinha um olhar tão meigo, que nos fazia lembrar da vovó Emma, com os mesmos olhos azuis dela. Por um acidente tio Martim teve que colocar uma perna mecânica, mas isto não impedia de trabalhar na roça, estoicamente, vivendo com alegria e fartura. O casal teve a bênção de nascerem quatro filhos lindos e sadios. Alfredo, Irmgard, Hildegard e Alberto.

Alfredo Raiter resolveu tentar a sorte em Mato Grosso, onde com a coragem e a perseverança, herdada de nossos ancestrais, teve muitas dificuldades, as quais venceu e conseguiu prosperar muito. Seus filhos Alcides, Mario, Ademar e Lea. Os três primeiros filhos já faleceram e a Lea vive em Florianópolis.

Mario Raiter era casado com Renice e o casal teve três filhos: Cristiano, Patrícia e Walkiria. A Patrícia tem uma filhinha de três anos, de nome Valentina, que é a alegria da vovó Renice. Walquiria ainda solteira fez o curso de Contabilidade e Faculdade de Direito.

Cristiano Raiter reside em Sorriso, Mato Grosso, casado com Mariza Pelozzo, tem uma tabacaria, venda de celulares e complementos.

As filhas de Martin e Frida estão distantes uma da outra. A Imgard reside a 70 Km de Cuiabá, na Chapada dos Guimarães. E a Hildegard

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em uma cidade satélite de Brasília, onde compraram um campo e criam gado. Atualmente Hildegard está viúva e os filhos já moços e formados. Um é veterinária e outro agrônomo e arrendam campos em Minas Gerais. Lamento não ter mais dados desta querida família.

Frieda tinha ainda dois meios irmãos, filhos de Frederico e Maria Filipina Klein. Um deles, que se chama João Klein,carinhosamente chamado de Joãozinho. Pela primeira vez ele esteve em Uruguaiana, para visitar Frieda e seus sobrinhos, em redor do ano de 1948, quando muito jovem, conquistou a todos pela sua personalidade alegre e cativante.

A família do Joãozinho. Da direita para a esquerda a esposa Idalma, professora Catedrática da Faculdade Federal de São Paulo, hoje aposentada. Logo a seguir vem o João e Rita de Cassia ainda solteira.

José Felipe e Ruth Ribeiro, no dia do seu casamento. Frieda visitou várias vezes este seu irmão, mesmo depois que já estava velhinha.

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Este grupo havia acabado de almoçar em uma churrascaria em Curitiba. Da esquerda para a direita temos Frieda, Ruth, José Felipe, eu e Felipe filho. No colo uma neta do Felipe e Ruth.

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FAMÍLIA RAITER RIESINGER

Emma Raiter regressava da Alemanha, em sua segunda viagem a Europa, acompanhando seus filhos Marichen, Richard e Frieda. Os dois primeiros haviam completado o curso de dentista em Hamburgo e Frieda, que na época tinha 16 anos, havia aperfeiçoado o conhecimento da gramática da língua alemã.

Neste mesmo vapor viajava Francisco Riesinger, austríaco, nascido em Salzburg, região do Atta See. Durante a primeira guerra mundial, de 1914 a 1918, muito jovem, lutou como soldado, no exército alemão. As duas fotografias que seguem são nas trincheiras alemãs, em um momento de tranquilidade.

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Em uma batalha perdida foi feito prisioneiro pelos russos e levado

para trabalhos forçados, na Sibéria. Lá permaneceu durante três anos e como ele era muito comunicativo, tornou-se amigo do carcereiro. A esposa deste russo era muito gorda e Francisco prescreveu um regime alimentar balanceado para ela, pois ele lia muito e sabia muitas coisas. Pois não é que a mulher emagreceu bastante, deixando o marido bem contente com isso, o russo tornou-se amigo e sempre que podia, vinha conversar com o Francisco. Assim ele aprendeu a falar russo fluentemente, o que mais adiante muito lhe serviu.

Ao terminar a guerra todos foram libertados, porém não tinham dinheiro para comprar a passagem para regressarem as suas casas. Como falava e escrevia o russo, resolveu se empregar numa propriedade rural, tendo o cuidado de não revelar que era natural da Áustria, com receio de que o assassinassem. Quando ali chegou deu graças a Deus por não ter morrido de fraqueza, como muitos dos seus companheiros. Na granja, a comida era boa e farta, recuperando logo as suas forças. Lá trabalhou durante um ano, findo o qual, tinha conseguido o dinheiro que necessitava. Então despediu-se e viajou para a sua Pátria.

Ao chegar em casa, grande foi a surpresa dos seus familiares que, após quatro anos, sem notícias dele o consideravam morto em combate. Os pais haviam falecido e a propriedade foi dividida entre os irmãos.

Francisco não tinha mais nada para receber, então os irmãos lhe deram algum dinheiro, para ele tentar a sorte no Brasil, cujas imensas riquezas, eram propagadas por toda a Europa, a fim de entusiasmar

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imigrantes para virem desbravar as suas terras. Junto com ele viajou seu irmão Carlos, que era perito em construção de barcos de regata (corrida), profissão que exerceu em Porto Alegre com muito sucesso e por muitos anos.

Durante a viagem, relatada no início desta narrativa, Frieda e Francisco se conheceram e se encantaram um com o outro.

Passado dois anos, eles casaram e Frieda, que havia aprendido a profissão de dentista com sua irmã Marichen e Richard, ensinou para Francisco a prótese dentária. Assim iniciaram a sua profissão de Dentistas Práticos Licenciados. Inicialmente trabalharam na região das Missões. Como eram dentistas itinerantes, viajando por muitos povoados, os filhos foram nascendo um em cada cidade por onde trabalharam. É bom lembrar que a região das

Missões estendia-se no Brasil, Argentina e Paraguai.

O Astor foi o primogênito que nasceu em Não Me Toque, depois nasceu a Irmgard em Nonoai. Dalí partiram para o Paraguai e Frieda atendeu muitos índios semi-nus e armados de arco e flecha. Então ela soltava os seus cabelos longos, que chegavam até a altura dos joelhos e os índios se amedrontavam com aquela figura de mulher branca e com paz e respeito, deixavam suas lanças na entrada, do lado de fora do consultório e nunca houve qualquer momento de susto. Quando os clientes ficavam escassos, Francisco desmontava o consultório,

colocava no auto e viajavam para outro lugar.

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Naquele tempo havia poucos dentistas, principalmente em pequenos povoados. Quando estavam no Paraguai, nasceu a Hildegard, em Obligado. Depois entraram na Argentina e se estabeleceram em Oberá, província de Missiones, onde nasceu a Brunhilda. Nessas viagens, eles conheceram muitos lugares e pessoas interessantes.

Em Oberá não encontravam uma casa para alugar, só havia uma

casa grande desocupada, com um enorme sótão e as pessoas comentavam que era mal-assombrada e por isso ninguém a queria alugar.

Frieda sempre enfrentou tudo com muita coragem e não seria agora que ela iria se acovardar. Mudaram-se para aquela casa pois ela não acreditava em assombração, devia haver alguma causa... Passaram-se alguns dias e nada aconteceu...até que numa noite eles ouviram um UHH... Depois outro UHH...mas não sabiam de onde vinha aquele som gemido, e passava alguns minutos e novamente se ouvia aquele som tão triste. Até que silenciou.Daí mais alguns dias, aconteceu novamente e foi mais uma noite sem dormir... Então noutra noite Frieda resolveu investigar de onde vinha aquele gemido.Procurou em todas as peças, mas o som de um lamento continuava.Então subiu a escada que dava para o sótão, pois era de lá que vinha o som. Para sua surpresa,

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encontrou um enorme, grandíssimo corujão de orelha... que emitia o som e era respondido pela fêmea que se encontrava do lado de fora, no telhado do vizinho. Quem já ouviu o som que emite um corujão sabe o quanto é triste, e ainda no meio da noite é assustador... A janela do sótão, cujo vidro não existia, permitiu entrada da ave para se abrigar do frio, principalmente de dia, pois as corujas dormem durante o dia e à noite saem para caçar. Noutra ocasião, em outra cidade, a casa em que moravam tinha uma horta muito grande, que ficava atrás da cozinha.Numa noite em que ela estava cozinhando o jantar, ouviu um ruído muito estranho como se fosse um sopro prolongado...e mais uma vez um alto e prolongado sopro...Ela ficou assustada e resolveu abrir a porta, mas antes pegou um tição aceso do fogão, para se defender. Ao abrir a porta, com receio do que iria encontrar, lá estava uma vaca dentro da horta, comendo vorazmente, um canteiro inteiro de cabeças de repolho e resfolegava de tão saciada e faceira.

Depois de Oberá viajaram para Uruguaiana, onde se radicaram, para dar escola para as crianças. Aqui mamãe foi a primeira dentista mulher, na cidade e como tal todas as mulheres queriam ser atendidas pela Dra. Dentista. Assim, ela se tornou uma rival para os colegas dentistas. Não demorou muito e planejaram uma armadilha para mamãe.

Mandaram uma paciente que havia feito uma extração com outro colega, para retirar um pedaço da raiz do dente que havia ficado e estava doendo. Mamãe, sem esforço, tirou o pedaço e a paciente foi embora. Então os dentistas acusaram a Frieda de ter quebrado o maxilar da cliente, durante a extração do pedaço da raiz, mas na verdade isto aconteceu com o dentista que fez a extração incompleta. Houve um processo contra a dentista Frieda, mas o advogado Dr.Cachapuz de Medeiros, verificando as evidências fez a sua defesa e ficou comprovado que tudo aquilo havia sido forjado para desacreditá-la perante a sociedade.

Mamãe era protestante e temente a Deus, porém não frequentava a igreja. Sempre que podia ajudava a quem precisava. Por isso, vendo que os menos favorecidos economicamente, tinham dificuldade de procurar um dentista, resolveu anunciar que aos sábados, todo o dia, ela daria atendimento grátis, para quem precisasse A aceitação foi imediata e Frieda quase não dava conta, de tanta gente para atender. Nesta época mamãe se desquitou judicialmente do papai Francisco, aos trinta e seis anos.

Então estourou a segunda guerra mundial, em 1939. Mamãe sendo descendente de alemães e ainda desquitada, era olhada diferentemente

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por algumas pessoas preconceituosas A alemoa! Como os ignorantes a chamavam. Um dia, veio o radialista Mario Pinto, nosso amigo, dizendo: Dona Frieda a polícia vem aí confiscar o seu rádio! Acham que a senhora fala com os alemães, que é uma espiã! Eu vou levá-lo e depois trago de volta. E assim aconteceu... A polícia revirou cada peça, procurando o rádio, que eles afirmavam ser um radio-transmissor de mensagens, para a Alemanha. Quanta injustiça!

Passaram-se uns dias e apareceu uma turba de pessoas que resolveu apedrejar a nossa casa gritando: A alemoa tem que morrer...! Todos os vidros da frente da casa foram quebrados e nós que tínhamos 7, 10 12 e 15 anos estávamos muito assustados com toda aquela quebração e pedradas enormes.

Naquele tempo ainda não havia asfalto nas ruas da cidade e existiam muitas pedras no chão. Portanto, a chuva de pedras não parava. O medo foi grande, mas felizmente não fomos agredidos fisicamente. A partir deste momento, mamãe ficou receosa que fossemos agredidos na rua quando íamos para a escola.

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Mamãe achou a solução mandando-nos internas para o Colégio Centenário, em Santa Maria. Astor foi para o internato do Colégio Rosário em Porto Alegre. A partir do episódio do apedrejamento, mamãe nunca mais trabalhou de graça, aos sábados, porque aquele povo não merecia.

Nós morávamos na rua Sete de Setembro, entre Bento Martins e a rua Tiradentes e ao lado de casa havia um terreno baldio cheio de plantas rasteiras, cipós e arbustos de pequeno porte. Logo a seguir tinha uma casa bonita onde morava o Cônsul da Alemanha e sua esposa. Imaginem que a polícia ou o Juiz decretou prisão domiciliar para o Cônsul e um soldado fazia a guarda na frente da casa, não permitindo a ninguém chegar ou sair dela. Preocupada com a sobrevivência da família, mamãe enchia um cesto com diversos mantimentos e na calada da noite o Astor pulava o muro e batia na porta dos fundos da casa para entregar e saber o que mais eles precisavam de alimento. Felizmente, o Cônsul conseguiu permissão para viajar de volta para a Alemanha. Esta foi uma época de muito medo para nós, descendentes de alemães. Havia muito ódio no coração de algumas pessoas, que se deixavam influenciar pelas notícias do rádio.

Ao terminar a guerra, um casal jovem da Romênia, bateu lá em casa pedindo ajuda e se possível hospedagem, até conseguirem passar a fronteira para a Argentina. Queriam se radicar em Buenos Aires. A esposa estava grávida de seis meses e eles queriam que o nenê nascesse na Argentina, a fim de adquirirem a cidadania argentina. Mas como passar a fronteira, sem documentos? Todos perdidos durante a guerra. Somente a mamãe, para dar solução para o problema. Quando as dores do parto começaram, mamãe colocou a Dona Olga no banco traseiro do auto, sentou ao seu lado, contratou um chofer e se dirigiu para a fronteira. Ao chegar lá, mamãe Frieda, fez a cena parecer mais dramática do que na realidade era. Aflita, afirmou para o guarda da fronteira, que era urgente chegarem ao hospital, pois o nenê, já estava praticamente nascendo. Explicou que a mãe estava necessitando de cuidados médicos... Os guardas liberaram a cruzada imediatamente e dona Olga teve o nascimento de uma linda menina argentina, o que garantiu a entrada do casal na Republica. Eles se radicaram em Buenos Aires e viveram muito bem, por longos anos. O marido

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que era marinheiro, logo se engajou num navio, garantindo o sustento da família. A menina de nome Verônica, ativa e muito inteligente, ainda vive na capital, está casada e tem um filho chamado Juan Manuel. Mamãe foi a madrinha.

Agora vamos falar sobre os descendentes da Frieda e do Francisco, os quais foram nascendo e crescendo ao longo da trajetória itinerante de trabalho que os dois realizaram.

Astor, o primogênito, e depois Irmgard, nasceram no Brasil, Hildegard no Paraguai e Brunhilda na Argentina.

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ASTOR RAITER RIESINGER

Astor formou-se em Odontologia em Curitiba, onde conheceu e casou com Maria May Ribeiro de Campos. Deu inicio a sua profissão, montando um consultório na mesma sala ampla do consultório da mamãe em Uruguaiana e logo foi aceito pela comunidade, como um ótimo profissional.

Astor e May tiveram dois filhos: Astor

Sérgio, nascido em 24 de maio de 1949 que se formou em Medicina e Lilian que abraçou a profissão de dentista.

Astor com seus dois filhos: Astor Sérgio e Lilian.

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Cléber, Astor e Astor Sergio, em 1971, na Missão Tototobi, em plena selva amazônica, avaliando os dentes dos índios Yanomamis. Observaram grande desgaste nas cúspides dos dentes, por motivo de sua alimentação com uma dieta dura. Informações completas em livro, disponível gratuitamene, na internet: http://www.cleber.com.br/yanomamis/livroyan.doc

Festa de 80 anos do Astor, ladeado por Hildegard e Brunhilda,

suas irmãs.

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Ainda nos 80 anos do Astor, com Lourdes Lisboa, sua esposa em segundas núpcias.

Astor Sérgio, filho primogênito de Astor e Maria May, é médico endocrinologista, casou com Lúcia Brusque e tiveram três filhos: Daniela, (26/11/1976) Davi, (20/05/1979) e Sheila, (13/07/1984). Atualmente, tem clínica em Florianópolis, residindo na praia de Jurerê.

Casamento de Lucia Brusque e Astor Sérgio. Ao lado da noiva Astor e sua filha Lilian Mei. Ao lado do noivo sua mãe May.

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Astor Sérgio e Lúcia com seus lindos filhos.

Gaúcho será sempre gaúcho... No meio do camarão e lagosta está fazendo um assado de chuleta.

Casamento de David com Alice, linda e competente apresentadora do programa de Esporte da Globo, orgulhosamente mostram suas alianças no dia de seu casamento.

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Lilian Mei casou com Miguel Angel Siderman, natural de Buenos Aires, ambos dentistas muito bem conceituados profissionalmente. Na foto, o pai Astor leva, orgulhosamente sua filha Lilian para o altar.

Ainda no casamento, de Lilian e Miguel, May e Astor com Norma (Chela) mãe do Miguel. O casal Lílian e Miguel tem dois filhos, Gabriel e Anelise. Gabriel trabalha como Coordenador de Gerentes do Banco Itaú e Anelise se dedicou à arte cinematográfica.

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Festa das Bodas de Prata do casal Lilian e Miguel. Na fotografia o casal Lilian Miguel, Astor Sérgio e Maria Lúcia (Lu) rodeados por seus queridos.

Ainda nas Bodas de Prata, o casal feliz, Lilian e Miguel.

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Miguel e seu filho Gabriel, nos 25 anos de casados do casal Miguel

Lilian Mei. Nesta ocasião Gabriel escreveu para seus pais: “Tenho uma família que eu amo e que me ama, pessoas que algumas vezes parecem distantes, mas estão sempre ali, pertinho de mim, dentro do meu coração e de meus pensamentos. Parabéns por terem construído o que o ser humano pode ter de mais precioso: uma família. Parabéns pela data!!!”.

Gabriel e Anelise

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Lilian Mei e Miguel com seus dois filhos e o Astor.

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IRMGARD E PEPITO

Irmgard a segunda filha da Frieda e Francisco, nasceu em 15 de novembro de 1927 em Não Me Toque, zona da Missões, no Brasil. Cursou o Magistério, mas não exerceu.

Casou-se com José Tramunt Garriga (Pepito), espanhol, o qual na época era gerente da maior casa comercial de Uruguaiana, a Casa Jacques.

Lucila e Edalmiro Jacques, padrinhos de casamento, estão ao fundo desta fotografia.

O casal Irmgard e Pepito tiveram três filhos e uma filha:

José Magno, nascido em 12/11/1947, médico cirurgião plástico; José Ricardo, médico pediatra, José Édison, dentista e Maria Cristina.

Casal Imganrd e Pepito

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O vo Francisco com José Magno no colo.

Pepito e Irmgard com seus filhos, José Ricardo, José Edison e Maria Cristina . O primogênito José Magno tirou a fotografia. Ao fundo sua esplendorosa casa construída por eles.

Na fotografia, o casal Irmgard Pepito, com seu filho José Magno e casal Brunhilda, Maneco e May, esposa de Astor.

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O primogênito, José Magno Tramunt, médico especialista em cirurgia plástica, casou com Elizabeth Kraft e tiveram dois filhos: Grace 14/02/76 e Raul 13/04/80.

José Magno e sua esposa Elizabeth (Beth ).

Casal José Magno e Bety com seus filhos Grace e Raul.

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Irmgard e Pepito com seu filho José Magno e Elizabeth.

Bodas de Prata de Irmgard e Pepito, sendo abençoados pelo amigo da família, o padre Daniel, Carmelita.

Grace é médica especialista em psiquiatria bem como o seu esposo, Dr. Lucas Lovato com seu filho, João Pedro.

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Os avós Beth e Magno orgulhosos com o neto João Pedro e a filha Grace.

Raul, advogado com sua noiva Fernanda Freitag, médica especialista em dermatologia.

Casal José Edison e Sandra. Pedro, seu filho primogênito e Marília. No centro, Layna filha da Sandra.

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Os três irmãos, Jose Magno, Jose Ricardo e José Edison junto com seu primo Astor Sergio. Três médicos e um dentista.

José Ricardo é medico pediatra tem três filhos: Gustavo advogado, Conrado médico radiologista e Maria da Glória que está concluindo a Faculdade de Farmácia. Hoje José Ricardo é casado com Rose Feiden e vivem em Uruguaiana.

José Ricardo e sua esposa Rose e a tia Brunhilda, na festa dos seus oitenta anos.

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Maria Cistina, casada com Lauro Fitipaldi e seus dois filhos, João Eduardo e João Antônio.

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HILDEGARD E CLÉBER

Hildegard a terceira filha de Frieda e Francisco, nasceu em Obligado, Paraguai, no dia 27 de julho de 1929. Frieda e Francisco trabalhavam na zona das Missões, como dentistas itinerantes. Em Uruguaiana estabeleceram-se para que os filhos tivessem continuidade na escola. Cursou o primário, o ginasial e o Científico no Colégio União, onde conheceu Cléber Bidegain Pereira, e nasceu um amor recíproco arrebatador. Iniciaram namoro em meados de 1947, em 1948 noivaram. Quando planejaram fazer a faculdade de odontologia, Frieda anunciou que se Cleber fosse estudar em Pelotas, ela mandaria Hilde para Porto Alegre e vice versa, pois os dois juntos não daria certo... Foi quando os pais de Cléber, muito contemporizadores, visitaram Frieda e lhe convenceram de que o melhor era casar os dois, pois separados não poderiam ficar, o amor era grande demais, o que deixou o casal muito feliz. Assim no dia 12 de dezembro de 1949,Hilde e Cleber casaram na Igreja do Carmo. Ainda em “Lua de

Mel”, fizeram o vestibular para a Odontologia, em Pelotas, formando-se em 1952. Este casal muito jovem, únicos alunos da turma que eram casados, chamava a atenção, dos professores e colegas, pelo companheirismo e carinho entre os dois e ganharam a simpatia de todos. Mamãe Frieda e o pai de Cléber, Sr. Naor Lopes Pereira, mandavam uma quantia mensalmente que ajudava ao casal se manter.

Além disto Cléber, desde muito jovem trabalhava como protético, com grande

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habilidade e tinha mais algum dinheiro. Em Pelotas alugaram um apartamento e Hilde se desdobrava entre aluna, dona de casa, boa cozinheira e amorosa esposa, fazendo tudo, com excelência.

Após a formatura voltaram para Uruguaiana onde montaram uma clínica com dois consultórios. Cléber atendia os adultos e Hilde especializou-se em odontopediatria. Depois de trabalharem dois anos foram para os EUA estudar e lá ficaram até que, dois anos após, foi gerada sua filha Ana Lucia e voltaram para que ela nascesse aqui, cercada do carinho e proteção da família.

Na fotografia o batismo de Ana Lúcia (1956), tendo como madrinha a maravilhosa Sarita, casada com Elder irmão de Cléber.

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Hildegard e Cléber tiveram três filhas: A primeira, Ana Lúcia, 10/07/1956. A segunda filha do casal foi Laura Maria, 9/11/1960, ambas dentistas. A terceira filha, Maria Cristina, 15/05/1962, é médica, psiquiátrica em Florianópolis.

Debut da primeira filha Ana Lúcia, em 1971, em que esta ela, os pais Hilde e Cleber e Terezinha a avó paterna.

Debut da Ana Lúcia. No Centro Ana Lúcia e Eliete, sua prima também debutante. Da esquerda da fotografia, o casal Helio e Mirza, pais de Eliete e Ascendino, dentista, irtmão de Naor que está na direita da foto com Terezinha, sua esposa, pais de Cleber, Hilde e as filha Juliana e Maria Luisa

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Debut da Lúcia.

Casamento de Ana Lucia com Paulo Eurico Brandi, zootecnista e pecuarista

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Casamento de Ana Lúcia e Pulico. Ao lado de Pulico, Hilde e Cleber. Ao lado de Lúcia, suas irmãs Cristina e Laura.

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Hilde e Cléber entrando na Igreja no casamento da Lucia Pulico. Logo atrás pode-se Identificar os pais de Pulico.

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Casamento Laura e Luiz Alberto Moraes, engenheiro mecânico 12/02/1984. Laura é odontóloga com curso de especialização em Ortodontia.

Formatura da Laura, com seus pais Hilde e Cléber, sua irmã Cristina e Sergio Riesenger Faria Correa, seu primo irmão. 16/12/1984

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Hilde e Cléber em magníficas férias em Bariloche, em 1989, com a

família, Lucia, Paulo Eurico Brandi, Maria Fernanda, Laura, Luiz Alberto e Juliana. Luiza ainda não havia nascido. Cristina que estava programada para viajar junto, não pode ir por compromissos de última hora.

Casal Hilde e Cleber, em Bariloche com sua neta Maria Fernanda, filha de Lúcia e Pulico.

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Posse de Cléber, como sócio fundador da Academia Gaúcha de Odontologia – 1990.

Viagem do casal Hilde e Cléber com suas três netas para Miami e um cruzeiro marítimo pelo Caribe. 1993.

No Corvac, Saint Moritz, em 1981.

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Lançamento do livro Introdução à Cefalometria Radiográfica,

versão em espanhol, Editorial Mundi, 75º Congresso Odontológico Mundial da FDI, outubro 1987. Além das filhas está Samuel Leyt, tradutor do livro, amigo do casal no tempo em que estavam na Universidade de Ann Arbor 1954-1955.

Hilde e Cléber no Canadá, fazendo uma pesquisa sobre crescimento crânio facial, na Universidade de Toronto, 1982.

Laura, Juliana e Luiza

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Laura e Negro com

as duas filhas, Juliana e Maria Luiza.

Laura e Negro com as duas filhas, Juliana a Maria Luiza, em Bariloche.

Debut da Maria Fernanda com avó Hilde, sua mãe Ana Lúcia e as duas irmãs Juliana e Luiza.

Maria Cristina e seu filho Gabriel e Gil um bom e velho amigo.

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Noivado de Maria Fernanda com Pedro Gustavo Carchedi. Ao seu lado os avós Hilde, sempre maravilhosa, e Cléber.

Hilde e Cléber no casamento de sua neta Maria Fernanda com Pedro Gustava Carchedi.

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Casamento de Maria Fernanda com Pedro Carchedi (Deco).

Filhos do casal Fernanda Deco: João Vicente Brandi Carchedi nascido em 23/01/2011 e Antônio Pedro em 11/02/2013

Saída do casamento Fernanda e Deco.

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Juliana formou-se em advogacia e casou com Paulo Fett, médico.

Casamento em: 15/09/2013. .

Bodas de prata, 25 anos de casados, em 1970, quando fizeram votos de mais 25 anos... O que cumpriram com muito amor. Nas bodas de ouro em 1999, fizeram votos de mais 50 anos, que não foram cumpridos... Hilde faleceu em 2007 de insuficiência cardíaca.

Uma das últimas fotos de nossa amada Hilde. Debut da neta Luiza.

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Hilde e Cléber, quando este recebeu a Medalha de Honra e Mérito do

Conselho Regional de Odontologia do RS. A maior honraria deste Conselho. Está foi à última aparição de Hilde em cerimônia oficial, em 2006.

Homenagem a Hilde

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Cléber com suas três filhas. Cléber, atualmente com oitenta e cinco anos (em 2013) editou vários

livros e escreveu muitos trabalhos científicos publicados no Brasil e no exterior. Presidiu vários Congressos e fez parte da direção de outros. Foi um dos pioneiros da aplicação da informática na Odontologia. Recebeu muitas comendas, é membro titular da Academia Gaúcha de Odontologia e da Academia Brasileira de Odontologia, onde é Editor Chefe da Revista desta entidade, o que demonstra sua dedicação ao progresso da Odontologia e sua projeção profissional, no Brasil e exterior.

Na visão de Cléber a saga da família descendente de Gustav Hollstein

e sua esposa Caroline Yanke, que chegaram ao Brasil com seis filhos menores é uma epopéia que atesta a força e valentia desta gente.

Sem desmerecer o papel dos homens, nesta jornada, destaca-se sobremaneira a grandeza das mulheres, muito especialmente de Emma que voltou para a Europa a fim de fazer curso de parteira, carência na região onde moravam, deixou seus filhos por dois anos e meio, movida pela ânsia de um sentido ainda mais forte para sua vida e para sua gente. E Frieda, que acompanhou Francisco em sua peregrinação de cidade em cidade, trabalhando como dentista, deixando um rastro de realizações e ganhando os quatro filhos nas cidades por onde passaram... Brasil,

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Argentina e Paraguai. Até que chegados em Uruguaiana, Frieda percebendo que os filhos careciam da continuidade escolar, tomou a decisão: daqui não saio... E ficou sozinha criando os filhos e dando-lhes o melhor em educação e escolaridade.

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BRUNHILDA E MANECO

Brunhilda,a quarta filha de Frieda e Francisco nasceu em Oberá, na zona das Missões, Argentina em 17/04/1932. Frieda e Francisco trabalharam nessa zona durante dois anos, antes de chegar à Uruguaiana, onde Brunhilda cursou o primário, o secundário e a Escola Normal no Colégio União, desde 1939 e em 1951 formou-se Professora, profissão que exerceu durante 30 anos.

Em 1953 Brunhilda casou com Manoel Joaquim Faria Corrêa, (Maneco) que também estudou no Colégio União formando-se em Contabilidade.

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Maneco trabalhou no escritório da Sociedade de Carnes durante nove anos como Contador, sendo depois encarregado de visitar as estâncias para comprar gado para ser abatido. Aprendeu a reconhecer o gado gordo e só de olhar a rês podia mais ou menos avaliar o seu peso. Naquele tempo, o Sr. Molina era o encarregado de fiscalizar o abate, para que a carne fosse distribuída na cidade. Foi nessa época quando já estava perito no seu novo ofício, que se tornou sócio da firma. Mais tarde

em 1962 houve a dissolução da Sociedade de Carnes, que se compunha dos Srs. Nemésio Fabrício, Ney Faria Corrêa (irmão do Maneco), Betinho Gonçalves e Derly Prato (vulgo Canjica ) e Maneco. Quando os bens foram repartidos entre os sócios, na dissolução da firma, coube a Manoel três quadras de sesmaria – o campo que era o depósito dos animais comprados para serem abatidos. A cidade era abastecida de carnes através de doze açougues.

Conforme diz o Cléber: ”Maneco deixou o escritório para trabalhar no campo comprando gado. Ele foi um exemplo de talento, determinação e confiabilidade, comprava o boi gordo para empresários – de outras cidades - que tinham total confiança nele, adiantando-lhe grandes somas de dinheiro para que fizesse pagamentos à vista e assim conseguindo melhor preço. Muitos

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negócios eram feitos no meio do campo, apenas pela palavra ou “fio do bigode”. Infelizmente Maneco foi acometido por um câncer no estômago. Apesar de ter sido operado e realizado a quimioterapia em 01/07/1978 veio a falecer aos 58 anos de idade.

Maneco ampliou a proprie-dade e ai construiu uma bela sede que ainda hoje serve a família. Atualmente Nilson Manoel e sua esposa Judith, com os filhos, aproveitam a tranquilidade da estância que só é quebrada com o canto dos passarinhos.

Hilde e Cléber fizeram uma viagem para Buenos Aires, com sua turma de Faculdade, Brunhilda, que então era namorada do Maneco, aproveitou a oportunidade e foi junto. Dois dias depois de chegarem a Buenos Aires apareceu, de surpresa, o Maneco. Bateu a saudades e ele aportou. Foi muito bom, Hilde e Cléber tiveram oportunidade de conhecer Maneco, uma pessoa maravilhosa, excelente companheiro. A fotografia da ocasião, no parque de Palermo, em Buenos Aires.

Brunhilda ficou viúva com 46 anos e teve que assumir as responsabilidades da estância que o Maneco em 16 anos de trabalho intenso, quadruplicou. Ela foi assessorada pelo veterinário, Dr. Alarico Moraes o qual lhe ensinou todo o manejo e dentro de um ano ela conseguiu levar adiante a criação, com muita dedicação e trabalho. Pela manhã, diariamente, trabalhava na estância e à tarde às 13h30 min. estava no Jardim de Infância, atendendo seus alunos. E neste ritmo de vida se passaram cinco anos. Neste meio tempo Nilson se formou em agronomia e passou a trabalhar comigo na estância São Lucas.

Nilce se formou em Administração de Empresas e casou com Wilson César da Costa, formado em Administrador de Empresas, pecuarista e foi Diretor da Cooperativa de Carnes. O casal teve três filhos:Diogo, Andre e Diana.

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Nilce e os seus três filhos. Diogo Faria Corrêa da Costa, Psicólogo, concluiu o curso de Mestrado e pretende fazer doutorado. Hoje 34 anos, trabalha na Coordenadoria Estadual da Saúde e leciona na Faculdade particular SISMA. André se formou em Administração de Empresas. Diana se formou em Arquitetura e Urbanismo

Brunhilda na formatura de seus netos. Eu estava muito feliz.

Wilson e Nilce com seus filhos Diogo, André e Diana, na festa da sua formatura.

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Nilson se formou em Agronomia e passou a trabalhar na estância São Lucas tanto na pecuária como na lavoura, a partir de 1979. Após estes cinco anos de trabalho duro, Brunhilda foi passando as rédeas da propriedade, para o Nilson. Presentemente, a Estância São Lucas evoluiu bastante e nos voltamos para a raça Braford. Desde 1979, introduzimos a inseminação artificial, para a melhoria da genética e tendo ventres com características

específicas da raça Braford, partimos para a produção de touros. Nossos terneiros tendo 3/8 de sangue Nelore e 5/8 de Hereford são classificados através de um veterinário. A lavoura de arroz, consorciada com a pecuária, viabilizou a possibilidade de melhorar as áreas de campo, fazendo pastagens. Procurando estar atualizado, Nilson é um excelente administrador, caprichoso e eficiente. Nilson casou com Judith Del Cueto Gonçalvese tiveram dois filhos: Ricardo e Rodrigo.

Casamento do Nilson e Judith. Na foto os casais May e Astor, Hilde e Cléber e Brunhilda.

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Ainda o casamento de Judith e Nilson em que aparecem: Frieda, Brunhilda, Sergio e o casal Nilce e Wilson

Atualmente, Ricardo se formou em Engenharia de Produção no dia 04/02/2012 na UFRGS. Rodrigo está na faculdade de Agronomia em Santa Maria na UFSM.

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Momento de grande satisfação e alegria do pai Nilson abraçando seu filho Ricardo formado em Engenharia de Produção.

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A esquerda se encontra Luiza, namorada do Ricardo durante a janta de formatura.

Sergio Riesinger Faria Corrêa cursou a Faculdade de Engenharia Química, fazendo estágio no Polo Petroquímico de Camaçari, Salvador, Bahia. Veio para Uruguaiana dando assistência técnica para o Frigorífico da Fronteira-Oeste. Também atendia sua estância Silencio onde engordava bois, no sistema “voisin”. Faleceu subitamente, em 2007, Com 46 anos de idade.

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Sérgio teve dois casamentos, o primeiro constituído com Irineida Goulart do qual nasceu Mariana na data de 2/05/1989. E do segundo casamento com Joelma Silveira nasceu Stefani Lana na data de 18/08/1992.

Brunhilda e seus três filhos, Nilse, Nilson e Sérgio.

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Brunhilda com suas duas netas, Mariana que estuda Farmácia em Santa Maria na UNIFRA e Stefani que está na faculdade de Bio-medicina também na UNIFRA.

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PERFIL DA FRIEDA

Algumas considerações a respeito de Frieda Raiter Riesinger:

Frieda Nasceu dia 9 de agosto de 1906, em Blumenau em SC. Filha de Emma e Frederico Raiter, ambos nascidos na Alemanha.

Até sua adolescência viveu em Blumenau onde havia quase total população de alemães ou seus descendentes, tanto assim que um grupo de pais, trazia professores da Alemanha para as escolas em Blumenau, onde só se falava alemão.Assim Frieda foi escolarizada nos moldes europeus. Aprimorou-

se na língua alemã, quando foi para a Alemanha com 16 anos, junto com irmãos e a mãe Emma.

Falava e escrevia primorosamente o alemão como sua primeira língua.Tinha algumas dificuldades com o português que era sua segunda língua.

Foi uma mulher inteligente, corajosa e determinada. Com grande energia interior, dedicou sua vida à família e profissão. Tinha uma mentalidade que não era comum para sua época, em decorrência de ter estudado na Alemanha durante sua juventude.

Chegou em Uruguaiana em 1935 e quando iniciou a clinicar, causou muita admiração por ser a única e primeira mulher dentista.

Durante muitos anos, depois que separou de Francisco, que lhe fazia a prótese dentária, ela mesma passou a fazer dentaduras, coroas de ouro, pontes e pivots.

Com auxilio do maçarico, derretia moedas de ouro e fazia incrustações ( bloco de ouro, trabalho excelente que durava dezenas de anos nos pacientes. Só mais tarde o ouro foi substituído, com grande desvantagem, pelo acolite e outros materiais com cobre e prata ) quando pronta a incrustação colocava em ácido sulfúrico, expelindo forte cheiro característico deste ácido. Também aquecia e laminava moedas de ouro (libra esterlina ), com aparelho específico, e através de uma técnica muito refinada construía coroas de ouro. Os trabalhos de prótese eram muitos e ela trabalhava neles noite adentro, até terminar. Naquele tempo era muito usado demonstrar “bastança” através de um dente de ouro, o qual inclusive era colocado em chapas totais.

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Sua grande paixão era contar histórias para crianças, primeiro para os filhos e depois para seus netos. Sua imaginação era muito fértil. Suas cucas e seus sonhos gigantes fritos e recheados com fatias de goiabada, eram uma delícia e ninguém conseguia fazer igual. Tinha grande carinho pelos seus irmãos e irmãs e estava sempre à disposição para ajudá-los, fosse no que fosse. Seus filhos e familiares eram a coisa mais importante e sempre afirmava: “a união da família é uma joia preciosa que nos dá felicidades”. Construiu um edifício de 2 andares, com quatro apartamentos, os quais doou um para cada filho. Lutando contra todas às suas dificuldades conquistou espaço profissional e através do seu pensamento elevado, conseguia realizar tudo o que se propunha. Em um mundo onde é necessário competir e ter êxito, Frieda foi uma mulher de vanguarda no exercício de sua profissão.Com carisma e competência trabalhou até 1960. Aos 54 anos, resolveu se dedicar a seus familiares, netos e bisnetos, e aos seus maravilhosos crochês, que fez até o final de sua vida.Além de tudo isto, mamãe tinha uma característica que a diferenciava, seu longo e lindo cabelo trançado.

Na sua passagem dDeixou quatro filhos, doze netos e 23 bisnetos que seguiram seus passos como exemplo. Todos os seus descendentes estudaram com tenacidade e conquistaram também o respeito em suas profissões.

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Netos: Astor Sergio Campos Riesinger – médico endocrinologista. Lilian Mei Riesinger Siderman – odontóloga José Magno Riesinger Tramunt – Medico, cirurgião plástico. José Ricardo Riesinger Tramunt – médico pediatra.

José Edison Riesinger Tramunt – odontólogo. Maria Cristina Tramunt Fitipaldi – Administração agropecuária. Ana Lúcia Pereira Brandi - odontóloga. Laura Maria Pereira Moraes - odontóloga. Maria Cristina Riesinger Pereira – médica psiquiatra. Nilce Eugênia Faria Correa da Costa - Administração de Empresas. Nilson Manoel Riesinger de Faria Corrêa – Engenheiro agrônomo. Sergio Riesinger Faria Correa – Engenheiro químico. Só uma coisa esta grande MULHER nunca aprendeu: ficar inativa. Até seus últimos dias, com 84 anos, trabalhava crochetando, para não perder o costume de produzir coisas bonitas..

Faleceu aos 84 anos, no dia 22 de setembro de 1990.

No ano de 2002 no Centro Cultural de Uruguaiana, a comunidade prestou uma homenagem póstuma para Frieda, em reconhecimento a sua contribuição com grande produtividade e desvelo na saúde dentária da cidade, que ela adotou como sua, sendo a primeira mulher dentista de Uruguaiana.

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HISTÓRIAS QUE MAMÃE FRIEDA CONTAVA... Meus irmãos e eu, Frieda, nos criamos praticamente dentro

do mato, em Guarani (perto de Santa Rosa/RS). Papai me chamava, a menina bugre, pois eu era muito queimada pelo sol e sabia subir nas árvores, rápido como um macaco. Conhecia todas as frutas silvestres que a gente podia comer. Quando nós tínhamos sede, cortávamos o cipó de água e bebíamos, mas tínhamos o cuidado de emendar novamente o cipó, para que ele continuasse a guardar água. Meu irmão Leopoldo gostava de caçar passarinhos e eu, com seis anos, os fritava dentro de uma lata com banha num fogo de chão. Era muito gostoso... Nunca fomos atacados por animais ou cobras. Às vezes, víamos crianças índias, elas nos conheciam, porém, não chegavam perto. Nós pescávamos num riacho, no meio das pedras e um dia uma traira me pegou no dedo, mas nós a comemos frita... Sempre tínhamos sal no bolso... Que vida saudável e boa. Eu gostaria de ter novamente seis anos... No mato sempre tem muitos espinhos, mas eu de pés descalços, não tinha problema, estes vieram quando eu tive que usar sapatos para ir à escola. Ah! Tomávamos banho no rio, tanto no inverno como no verão, sem sabão, nem toalha, vivíamos como os índios.

Em outra ocasião, uma onça farejou a carneada de um porco de 80 kg e foi se aproximando do pátio para abocanhar a carne. Os vizinhos vieram ajudar a tocar embora o animal, mas ele rapidamente, sem que os colonos vissem, subiu numa árvore e ali ficou a espreita. Todos procuravam no mato... mas nada... Chegou a noite e cansados da procura foram para as suas casas, mas um rapaz jovem e valente, se prontificou para ficar de guarda e como o perigo se encontrava em baixo, subiu numa árvore e sentou-se numa forquilha, onde bem apoiado, resolveu comer dois ovos cozidos, com sal e pimenta, que sempre trazia no bolso. Com os ovos descascados numa mão e na outra o sal e a pimenta, qual a sua surpresa quando uma enorme pata bateu violentamente no braço que segurava os ovos. A arma despencou para o chão e agora? Como o moço tinha na mão o sal e a pimenta, jogou nos

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olhos da onça e. com um grito apavorado, escorregou para baixo. Alguns vizinhos vieram correndo, ao escutar aquele grito horrível... que se misturou aos urros de dor da onça em cima da mesma árvore. Alguém atirou umas balas certeiras, imobilizando o animal, que após alguns segundos, caiu morto. Portanto meus leitores (mamãe contando) pimenta e sal, no momento certo, podem também causar a morte, ou salvar uma vida...

Novamente, em outra ocasião desapareceu um touro do vovô Frederico o qual foi muito procurado, mas não achado. No terceiro dia, vieram os vizinhos ajudar na procura. Eles se embrenharam mais na mata virgem, mesmo com medo dos índios e das feras. Não demorou muito para encontrar o touro de grandes aspas, que estava com os chifres presos no grosso tronco de uma árvore. E que surpresa! Entre os seus chifres, apertada, se encontrava uma enorme onça e cada vez que o touro se mexia, a onça escorregava um pouco. Por isso, o touro não podia se mexer, para não soltá-la. Teria permanecido assim, até cair de inanição, se o seu dono não o tivesse achado. Naturalmente, a onça foi morta e o seu belo couro ornamentou, como tapete, a nossa sala por muito tempo.

Depois que os meus parentes se estabeleceram em Santa Catarina, em um lugar próximo de Blumenau, começaram a produzir alimentos nas plantações de suas colônias. A terra era virgem e muito produtiva. Tudo corria perfeito, porém, nem tudo são rosas e apareceu a primeira praga. Nuvens de gafanhotos invadiram as plantações comendo vorazmente tudo que era verde. Além das verduras, os ramos das árvores ficaram apinhados dos enormes gafanhotos de cor marrom claro, suas mandíbulas não paravam de mastigar as folhas dos galhos que quebravam com o seu peso.Tudo ficou arrasado embora as pessoas os enxotassem com vassouras, batiam tambores ou latas, faziam fogo e os atiravam nas chamas e não havia como espantá-los. De repente como se obedecessem a um comando foram levantando vôo, para procurar outra colônia para devastar. Foi uma situação muito triste e tudo teve que ser limpo e novamente plantado.

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RIESINGERS NA AUSTRIA

Na primeira viagem de Hildegard e Cléber à Europa em 1973 estiveram em Viena e lá visitaram a tia Marichen, que era irmã de meu pai Francisco, única irmã do pai, que alcançamos a conhecer e

amar. Marichen era casada com o simpático Johan Fischer, aposentado do Correio. Nesta primeira viagem à Europa e na 2ª, em que Hilde e Cleber levaram suas 3 filhas, ainda solteiras, visitaram os parentes, na casa e terras da Família Riesinger. Na fotografia, Hilde linda ladeada por Marichen e Johan.

Esta é a casa da família Riesinger, onde nasceu meu pai, localizada nos arredores de Salzburg na região de Atasee. Quando Francisco veio para o Brasil a prima Anne casada com Theobaldo Zesch, ficou com esta propriedade e a conservou produtiva até os dias de hoje. Esta casa com paredes grossas e estrutura forte, vem do tempo do Império austríaco. É uma casa

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grande a qual foi reformada várias vezes, através dos anos. Atualmente ai vivem as três gerações, cada família com suas dependências.

No inverno tudo fica coberto de neve e a sinuosidade da estrada dificulta a subida, necessitando colocar correntes nas rodas do auto para subir. Na foto as 3 filhas de Hilde e Cléber quando subiam, para visitar Anne e Theo, com sua família, em 1973.

Na viagem seguinte Hilde sentada, no meio de sua prima irmã Anne e seu esposo Theobaldo Zesch. Atrás parados, Ana Lúcia e o Theobaldo II, filho do casal Riesinger Zesch, o qual está com sua esposa, Gherthie, que leva o filho no colo. Quando Anne e Zesch assumiram a propriedade Riesinger – Zesch tinham 3

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empregados, na pequena propriedade muito produtiva. Com o passar do tempo os filhos do casal cresceram, o salário dos empregados aumentaram e estes foram sendo substituídos pelos filhos. Mudou o funcionamento da economia da propriedade e assim está nas últimas décadas.

Atualmente as três famílias descendentes de Anne e Theo entre eles mesmos realizam todo o trabalho, sendo que o casal já velhinho cuida mais das flores do que da fazenda.

Eles têm 33 vacas que ficam confinadas em um galpão e todos os dias, feriados ou não, Natal ou Ano Novo, as vacas precisam ser ordenhadas e o leite colocado em grandes recipientes que ficam a espera de uma empresa encarregada de transportar para a beneficiadora.

Durante o verão plantam o mais que podem para ter forragem no inverno e alimentar os animais. Também tem plantação de batatas e outros para a subsistência da família. Hortaliças e legumes, para consumo da família, são todas plantadas nas terras em redor casa.

No inverno tudo fica coberto de neve por 3 meses e eles e os animais comem o que produzem no verão. Apenas o que não podem produzir compram no supermercado e outros. Nesta ocasião, além da inadiável ordenha diária, são feitos os serviços

internos. Os homens reformam as máquinas, apenas os serviços mais elaborados são feitos por mecânicos especializados. As mulheres preparam conservas e tudo que podem fazer e guardar. Resumindo, no verão dedicam-se aos serviços externos produzindo reservas para o inverno, quando dedicam seu tempo maior para serviços internos. Theo filho e Gherthie no dia do seu casamento em novembro de 1980. Ela com o vestido típico do Tirol. Foram morar com Anne e Theo, pois la na casa cada um tem sua função na leiteria da família.

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Gerthi levanta às 4,30 h. da madrugada, para fazer a ordenha, seja inverno ou verão, através de ordenhadeiras mecânicas, que levam o leite para os recipientes resfriadores, aguardando o caminhão que o transportará para o local de beneficiamento. Enquanto Gerthi faz a ordenha, Theo, pai e filho, vão para o campo, com o trator e o reboque a fim de cortar a forragem, que levarão para o galpão, onde em todas as épocas as vacas ficam confinadas.

Há na propriedade uma área com frondosos pinheiros centenários, que eles cortam alguns para fazerem compras maiores como nova máquina ou outros investimentos. Para cortar uma árvore precisam pedir licença para o órgão competente, com a obrigação de plantaram 4 outras.

Hilde com seu aguçado instinto materno não resistiu a tentação de pegar no seu colo a bela criança na 3ª viagem à Europa, visitando os parentes. Era o ano de 1961 e Lucia estava grávida.

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Nesta minha viagem, em 1987, tivemos a alegria de conhecer tia Marichen, irmã do meu pai Francisco e seu marido Johan. Nesta data ela estava com 92 anos. Foi um momento histórico este encontro, pois, papai não teve longevidade, faleceu aos 58 anos.

Theobaldo (Theo) e Anne, moram no alto de um morro, onde se descortina belíssima vista para as montanhas, que se cobrem de neve, no inverno. Nesta fotografia estamos no verão e este banco foi colocado ai para Theo sentar com os netos, Julia e Theo III e lhes falar da beleza de suas terras. Atrás deste banco fica sua pequena horta, que abastece a família com hortaliças da época, colhidas no momento da necessidade.

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Quando estivemos em Salzburg com meu filho Nilson e nora Judith, em um momento de alegria e de confraternização com os primos. Estamos na esquerda da foto. A casa com sua decoração típica era bonita e acolhedora, com paredes forradas de madeira. para melhor conservar a temperatura ambiente. Brindamos a alegria do encontro.

Mensalmente um veterinário do governo vem examinar o leite e as vacas, dando instruções de incluir na ração os elementos que estão faltando.

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Meu filho Nilson, a nora Judith e eu, almoçamos com Georg casado com Vicky, filha de uma irmã de Anne, num restaurante típico do Tirol, onde comemos o prato Kässpatzen, que corresponde ao nosso arroz diário, pois é uma massa preparada de diversas maneiras. Vicky veio nos visitar no Brasil, em 1979, e ficou encantada de ver um pé de laranjeira, carregada de frutos. Depois Vicky viajou sozinha para conhecer o norte e nordeste do Brasil.

Nesta foto Anne e Theo I e seus filho Theo II e eu, em 1987. Encontrei Anne, minha prima, e Theo com meia idade, porém os dois muito ativos na sua propriedade. Theo filho será o continuador da propriedade Riesinger – Zesch.

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Nesta fotolgrafia em 2013, quando Lúcia e Pulico, meus sobrinhos, estiveram visitando os parentes, constataram como após 26, anos, quando lá estivemos, mudolu a aparência dos nosss queridos, como se pode observar comparando com a foto anterior.

Batizado do filho do Theo (terceiro ) 2012. Pais e parentes do batizado.

Lucia aponta a indicação da propriedade da família Riesinter Zersch, na placa da rodovia.

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PALAVRAS FINAIS

Bem-aventurados os que trilham os caminhos retos e andam na lei do Senhor. Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos e O buscam de todo o coração. Salmo 119. Agradeço ao nosso bondoso DEUS, pela saúde e disposição, de enfrentar este grande desafio, de traduzir as memórias da minha mamãe Frieda. Sempre achei, não ter esta capacidade, mas após 23 anos passados do seu falecimento, eu amadureci neste desejo dela. Com o incentivo dos meus sobrinhos e netos, decidi me aventurar, por amor e respeito à pessoa maravilhosa que foi a minha mãe. Muitas vezes, talvez, mamãe me ouviu dizer:- Desculpa, mas eu não tenho vocação para escritora. Porém hoje me dei conta, de que a história da nossa família, tem passagens de exemplos de amor ao próximo, de uma determinação quase heróica, cujos feitos nos mostram a necessidade de passar para a posteridade a coragem dos nossos antecedentes. Vovó Emma foi uma pioneira no enfrentamento de desafios. Ela serviu de exemplo para sua filha Frieda encarar a vida de esposa, mãe desquitada e profissional eximia, em sua vocação. Hoje, finalizando a história mal ou bem contada, devido aos anos que se passaram e, a falta de dados de algumas famílias, me levam a pedir desculpas, por não terem sido mencionadas.

Desejo agradecer o trabalho caprichado, que o Dr Cleber Bidegain

Pereira, meu cunhado, realizou, colocando as fotos da família de acordo com os textos, enriquecendo muito o relato deste pequeno folheto da nossa família. Também desejo manifestar a minha gratidão ao meu filho Nilson,

pelas muitas vezes que o chamei para me auxiliar, no manejo do computador, pois aos oitenta e um anos já é muito difícil, memorizar tantas informações. Aos nossos queridos parentes, que já partiram para as “as moradas do Senhor” rogamos, que estejam na Paz de DEUS. Que assim seja! Um abraço para todos. Brunhilda Riesinger de Faria Corrêa