História de um Herói

70
1 ROSALVO GODOY LEITE AUTOR DO VIDEO: Cagadas no poder judiciário. 2 BIOGRAFIA DE UM HERÓI ANDALÉCIO MARTINS LEITE. É O NOME DELE

description

Aprendendo com um grande homem

Transcript of História de um Herói

Page 1: História de um Herói

1

ROSALVO GODOY LEITE AUTOR DO VIDEO: Cagadas no

poder judiciário.

2

BIOGRAFIA DE UM HERÓI

ANDALÉCIO MARTINS LEITE. É O NOME DELE

Page 2: História de um Herói

3

OBRAS DO AUTOR

COLEIRA NO PATRÃO

CAIXA PRETA? OU CAIXA PODRE?

BIOGRAFIA DE UM HERÓI

4

TODAS AS OBRAS DO AUTOR

ESTÃO GRATUITAMENTE NO

GOOGLE.

DIGITE: Cagadas no poder judiciário.

COMESA COM UM VIDEO DE SETENTA

SEGUNDOS.

Page 3: História de um Herói

AUTOR: Rosalvo Godoy Leite

5

6

Page 4: História de um Herói

7

Biografia de Andalécio

Martins Leite

Andalécio Martins Leite, filho de

Marcionilio Martins Leite Sobrinho, e de

Casturina Rodrigue Leite, ambos natural do Rio

Grande do Sul.

Andalécio, nascido dia, 22 de maio de 1928

na cidade de Caracol, que hoje pertence a Mato

Grosso do Sul, veio de uma família simples,

composta de nove irmãos, sendo apenas uma

mulher, ele foi o quinto filho, e aos quatorze

anos de idade já havia perdido o irmão mais

8

velho e seu Pai. Como ele dizia teve que sair

cedo de casa, na luta pelo pucheiro. Ia de carreta

de Caracol a Porto Murtinho, buscar trigo. Na

época não havia ponte no Rio Perdido, às vezes,

ficava até oito dias esperando o rio baixar para

poder cruzar. Na viagem quando ia com um dos

patrões, só comiam tatú e jacu com farinha.

Quando trabalhou com outro patão

segundo ele, saia um arroz carreteiro muito

gostoso que era feito pelo patrão, porém o

patrão só comia quatro ou cinco colheradas e já

se levantava meu pai muito vergonhoso

levantava junto, e era jogado fora um mundo de

comida e ele viajava sempre com fome.

Serviu o Exercito Brasileiro na cavalaria, em Bela

Vista, MS. Quando recebeu a baixa. Partiu para

trabalhar em comitiva, transportando bois de

Mato Grosso, na época, para São Paulo. Na

primeira viagem que fez, segundo ele, era o peão

incomparavelmente, mais pobre da comitiva,

sentia vergonha, por não ter nada de conforto,

nem mesmo aquilo que era indispensável.

Na terceira viagem, já era conhecido como

peão folgado, além de ter de tudo, o alforje

Page 5: História de um Herói

9

vinha cheio, de cigarro, isqueiro, laminas, balas,

pasta de dente, sabonete cachaça etc.

Não bebia e não fumava, porém, já sabia,

que peão quando saía da cidade, deixava todo o

dinheiro que tinha, com as prostitutas da zona.

Normalmente não compravam nem

mesmo o sabonete.

No primeiro dia de viagem, já ouvia as

reclamações: Esqueci-me de comprar sabonete!

Outro já dizia: Não comprei cigarro, e assim por

diante.

Ele já encostava, e dizia:- Eu tenho aí. Se o

condutor se responsabilizar, eu posso te vender

fiado.

Na hora já vendia cigarro isqueiro, salame,

bolachinha, pois além das prostitutas tirarem

todo o dinheiro que tinham ainda os soltava com

fome.

Durante a noite quando iam para o banho,

puxava uma garrafa de cachaça, levava o bico da

garrafa na boca se fazia que bebia e já dizia:- O

cachaça gossstosa! Já vinha um e dizia:- Dá um

trago.

10

Ele repetia:- Dá um trago! Isso é pra vender

rapaz, e complementava:- É tanto o gole. O

companheiro já gritava o condutor, o senhor

garante? O condutor, por sua vez, dizia:-

garanto.

Meu pai, segurando na parte de baixo da

garrafa, dizia:- É um gole normal hem, ficava

pronto, pra tirar a garrafa caso o cliente

exagerasse no gole.

Trabalhou em Itapetininga SP. Sem ir à

cidade. Trabalhava de dia cuidando e

alimentando porcos, a noite domava burros, em

noites de lua clara. Segundo ele, era muito bem

pago, para domar os animais.

Ganhou muito dinheiro, até que um dia,

caiu enfermo, ficou muito doente, acreditava

que não chegaria vivo em casa.

Queria mostrar aquela impressionante

quantidade de dinheiro para a mãe, queria

deixar com ela caso morresse. Foi aí que atinou

de comprar passagem aérea.

Comprou e fez uma promessa, um

pedido. Como dizia ele:- Peguei-me com todos os

santos que conhecia e pedi para aqueles que eu

Page 6: História de um Herói

11

não conhecia também, para que não morresse

antes de chegar à casa da mãe.

Dizia-me que quando o avião levantou

voo à doença ficou ali. Ele sarou naquele

instante.

Visitou sua mãe, agora com dinheiro na

guaiaca. Passou a trabalhar por conta própria. Lá

em Aquidauana, ou Campo Grande, aqui mesmo

no estado, comprava tecido, corte de vestido,

roupas íntimas, vitrola, em fim, levava de tudo.

Chegava a Bela Vista, ou caracol, e fazia a festa.

Muitas vezes, com uma peça que vendia, dava

pra comprar oito.

Segundo ele, teve uma vida invejável, era

o rapaz, que na cidade, mais sabia ganhar

dinheiro, e quem mais tinha cartaz com as

meninas. O homem transbordava felicidade,

segundo ele, até que um dia, começou namorar

Guilhermina Godoy Leite e casou-se com ela, a

partir daí sua vida nunca mais foi a mesma.

Futuramente, nasceram sete filhos, sendo um de

cada vez e eu sou um deles.

As picuinhas se acentuaram no noivado,

quando as partes da poderosa noiva, tirando

uma casquinha do noivo aparentemente pobre.

12

Nos preparativos para festa de

casamento perguntaram:- O noivo não vai

colaborar com nada? O noivo, que tinha

vergonha na cara, por sua vez disse: deixa que

pago a cerveja e mandou buscar, um caminhão

de cerveja.

Pois na época nas festas era servido

apenas carne com mandioca, o caro era a

cerveja.

No dia seguinte, quando acabou a festa e

os noivos iam partir. A noiva não tinha sela.

Pronto, era a gota d'agua, que precisava. Meu

Pai já disse:- Vá em pelo. Como que pode uma

filha de fazendeiro, não ter uma sela, isso é uma

vergonha.

Repetiu:- Vá em pelo. Com isso, uma das

irmãs dela emprestou uma sela.

Ele disse-me, naquela época o único meio

de transporte era o cavalo, como que uma filha

de fazendeiro poderia não ter sela!

Como todo mundo sabe essas picuinhas

não acabam por aí, quanto menos evoluídas as

pessoas mais tempo duram. O casal foi começar

Page 7: História de um Herói

13

a nova vida, agora a dois. Foram morar na

fazenda, num ranchinho de bacuri.

Segundo meu Pai certa vez, o sogro lhe havia

presenteado com um potro. Após certo tempo

quando voltaram a se encontrar, o sogro lhe

perguntou, e o potro que te dei? Que fim levou?

Meu Pai respondeu, eu vendi aquela porcaria

aquilo não e potro que se dá pra HOMEM do

meu tipo.

Disse-me:- No meio de mais de oitenta potros, o

homem escolher o pior deles pra me dar.

Complementou:- esse é o tipo de presente que

se dá pra porcaria, não pra HOMEM do meu tipo.

Como diz o ditado, o que aqui se planta, é

aqui que se colhe. Essa colheita, meu Pai fez.

No demais acho que meu pai foi feliz, pois

o que mais queria era que suas filhas casassem

bem, e acho que apesar de tudo, ele sempre

teve convicção que aconteceu.

Ele sempre me contava, de um senhor

que morava em Caracol, MS e que as pessoas

mal intencionadas sempre o prejudicavam. Dizia

ele: - As pessoas que o prejudicavam, morreram

14

todos na merda, e ele, pelo menos, conseguiu

casar bem as filhas.

Por essas e outras, cheguei à conclusão

que a prioridade absoluta do meu Pai, era ver

minhas irmãs, bem casadas.

Page 8: História de um Herói

15

NOSSAS MORADAS

Bodoquena antes ou após o incidente sofrido

pelo Miro Guasca? Na verdade lembro-me

vagamente dessa época, quando morávamos no

Campão hoje Bodoquena, eu tinha entre três e

quatro anos de idade. Um dia meu pai e eu vindo

do rio Betione meu pai puxando um cavalo por

nome de Bitão que acabava de beber naquele

rio, eu atrás do cavalo, quando o mesmo parou

para urinar, após uma longa urinada, quando

começou caminhar novamente, meu pai disse-

me não vai pisar na urina! Ele já falou tarde eu já

havia pisado bem no centro do liquido.

Pouco tempo depois eu estava com o pé tão

inchado que parecia um pastelão. Por um lado

foi bom, meu remédio na época, era leite de

cabra, que meu pai comprava da vizinha que

morava do outro lado da sanga.

16

Mais dois episódios ficaram marcados na minha

lembrança daquela época primeiro, quando meu

pai conseguiu matar uma gralha, para se

alimentar e alimentar a esposa e seus três filhos,

porém uma filha que no momento estava

varrendo o rancho, ficou sem comer e chorou,

também pudera uma gralha tem

aproximadamente 80 gramas para dividir para

cinco pessoas. Meu Pai tinha patrimônio, mas

naquela época não sei por que as coisas

pareceram-me estar meio desajustadas.

O outro fato que me lembro, é quando pegou

fogo na nossa roça, um charravascal violento que

era chamado de canavial. Foi um fuzuê para

defender nosso ranchinho que era coberto com

folha de bacuri.

Lembro que alguém subiu no minúsculo rancho,

para jogar água de cima para baixo, nós

corríamos com vasilha de agua para defender

nosso ranchinho.

Um dia depois da total devastação, meu pai

desolado, caminhando de um lado para o outro,

encontrou uma cana raquítica bem fininha e com

má formação física. Pegou aquela minúscula

planta e com ternura me convidou para chupa-la,

Page 9: História de um Herói

17

foi descascando com muito jeito já que era

extremamente fina e toda torta, para sobrar

alguma coisa que pudéssemos comer teria que

tirar a casca bem fininha.

Fazenda Santa Luzia

Começando pelo ferimento à bala, sofrido pelo

seu grande amigo, conhecido como Miro Guasca,

o mesmo foi conduzido num carro de boi pelo

meu pai e outro.

Meu pai disse-me que toda vez que percebia que

o amigo estava morrendo, chamava-o pelo nome

com voz alta, e ele voltava a viver novamente.

Até que meu pai precisou seguir há frente, para

conseguir carro movido a motor e com isso

chegar mais rápido no recurso médico. Quando

chegou de volta para encontrar o amigo, o

18

mesmo já havia falecido, apesar do meu pai ter

pedido para chama-lo pelo nome em vós alto.

Ele foi vitima de homicídio, praticado por um

pecuarista.

O pecuarista por sua vez sabendo que haveria

vingança, tratou de se mandar, com a mudança,

gado e tudo.

Segundo meu pai, a participação dele na

vingança foi apenas avisar da saída do gado, para

saber para onde iria à mudança.

Disse ele não fui eu que o matei, porém eu

precisava fazer alguma coisa, poxa o finado Miro

era meu amigo, portanto eu tinha que fazer

alguma coisa.

Quando foi assassinado o pecuarista, a sua

digníssima esposa disse que reconheceu meu pai

quando retirava a orelha do mesmo.

Meu pai sempre negou a participação. Porém, o

sobrinho do pecuarista. Um matador implacável,

respeitado pelas autoridades e temido pelos

pistoleiros jurou vingança, contra ele e começou

a perseguição.

Page 10: História de um Herói

19

Pelo que meu Pai dizia na escala da vingança ele

era o nº 01, portanto era pra morrer primeiro.

A seguir era pra morrer o nº 02. Após quase

trinta anos perseguindo meu Pai, decidiu então a

matar o primeiro que desse no jeito. Não

importava mais se fosse primeiro o numero um

ou o numero dois.

Com isso o nº 02 que morava mais próximo dele,

portanto um alvo fácil não perdeu tempo e deu

um jeito de mandar mata-lo. Não sei quem foi o

autor já que ninguém tinha coragem de mata-lo

nem mesmo de traição. Só sei que meu Pai

contribuiu com trinta bois, que entregou ao nº

02. Que também já e falecido atualmente.

Isso reforça que meu Pai não participou

efetivamente do homicídio. Portanto a digna

senhora deve ter se enganado.

Como todos podem ver, meu Pai me punha a par

de tudo que ele fazia. Tanto e que não tinha

necessidade de me dizer que contribuiu com o

pagamento da pistolagem.

Na época eu não trabalhava mais com ele, eu

nunca ficaria sabendo se ele mesmo não tivesse

me contado.

20

Meu Pai não comentava sobre essas coisas com

minhas irmãs e muito menos com minha mãe,

apesar de minha Mãe ser extremamente

reservada, economizar palavras até naquilo que

precisava ser dito, ele não sabia o dia de

amanhã, portanto não comentava com ninguém,

somente comigo.

Minha atual esposa ficava impressionada de me

ver contando as coisas mais corriqueiras para

minha mãe, que por sua vez, nada sabia. Coisas

essas que com certeza meu pai comentava só

que ela sem nenhum interesse, deixava entrar

por um ouvido e sair pelo outro, acho que minha

mãe foi à única pessoa que não conseguiu

aprender nada com o sábio marido que teve.

O nº 02 contava tudo para a esposa, meu Pai

disse a ele certa vez, existem coisas na vida da

gente que a mulher não pode saber. Ele

respondeu dizendo eu conto porque confio na

minha mulher. Décadas após o comentário, ouve

um rolo e uma separação, a mulher foi à

Delegacia e disse tudo que sabia, ele sumiu no

mundo, a esposa pegou um carro e foi a Porto

Page 11: História de um Herói

21

Murtinho, dizer para meu Pai ficar tranquilo, pois

o nome dele não seria envolvido.

Realmente ela é uma grande mulher, porem

numa briga de vida ou morte, usa-se a arma que

estiver ao alcance da mão, Isso é normal.

Talvez ele me contasse por saber que isso me

causava certa preocupação, e também por ter

certeza que eu não contava nem mesmo pra ele,

o que não era de contar.

FAZENDA NOVA ESPERANÇA

Como certa vez que tive que ficar um final de

semana com um empregado dele na Fazenda, e o

dito funcionário resolveu ir a um retiro, para

passear e disse-me que só voltaria no dia

seguinte.

Fiquei um pouquinho por ali e como a solidão

bateu, e era de tardezinha resolvi então a me

recolher e dormir. Acordei com alguém

chamando.

22

Apavorei-me quando percebi que esse alguém

sabia tudo sobre meu Pai, eu dentro do quarto

ele do lado de fora, fazendo perguntas e mais

perguntas uma atrás da outra sem me dar tempo

para raciocinar.

Não disse em palavras, porém deixava claro que

veio para pegar meu Pai na emboscada quando o

chegasse de madrugada.

Ele chegou com tanta audácia que disse que a

partir daquele momento quem mandava ali era

ele, e já foi mexer nas panelas.

Existem situações em que o homem que é

homem, precisa morrer junto quando não tem

jeito de salvar alguém que ama. Vi que minha

vida tinha chegado ao fim.

Não podia deixar meu Pai morrer, sem nada

fazer, eu sempre fui muito vergonhoso, e não

podia sair do quarto com o revólver na mão, eu

havia aprendido que revolver só deve ser sacado

na hora de atirar e apesar de tudo, ele não havia

verbalizado que ia matá-lo, portanto, eu mesmo

sabendo que ia morrer, não podia assim

proceder, minha chance que já era pouca, com

isso se tornavam ainda menor, realmente tinha

chegado o meu fim, não tinha esperança de sair

Page 12: História de um Herói

23

vivo dali, porém, precisava morrer com

dignidade, para deixar impressão que pelo

menos havia morrido, tentando salvar meu Pai.

Para não ficar escondido dentro do quarto

enquanto ele fosse assassinado sei lá como.

Rapidamente, vesti minha calça, a camisa, pois o

revólver precisava ser colocado na cintura. Parei

em pé próximo da porta, quando ouvi sua voz

que ainda vinha da cozinha, mesmo tendo

certeza que o companheiro dele estava que nem

piscava, com a arma apontada na direção da

única porta que eu tinha para sair.

Abri a porta que já havia destrancado, sem fazer

qualquer ruído e saltando para o lado de fora,

consegui olhar aos dois lados, triscando o pé no

chão e instantaneamente, mudando de direção,

saltando um corredor que dividia a casa nova da

outra, em direção à última voz que havia

escutado. O corredor era um pouco baixo,

portanto eu precisava salta-lo meio de cabeça

baixa, meio me abaixando. Isso era tudo que eu

havia previamente programado.

Agora só me lembro de estar com o cano do

trinta e oito, empurrando o queixo dele de baixo

para cima, e também já estava reconhecendo

24

meu companheiro e amigo Isidoro Cristaldo, que

desesperado na ponta dos pés tentava acalmar-

me, porém eu tremendo e com vontade de

completar o serviço, fiquei mais uns três

segundos, para decidir oque fazer.

“Para quem nunca passou por apuro eminente,

nessas horas o cérebro abre a pagina da sua vida

fazendo com que três segundos nessa situação, é

um tempo suficiente, para vermos em detalhes

tudo que aconteceu em nossa vida toda”. Com

certa tranquilidade, da para revisar umas três

vezes, nesse tempo.

Felizmente o gatilho não chegou até o fim, meu

amigo sobreviveu, e deve ter aprendido que não

se assusta quem tem o coro encomendado, como

dizia meu Pai.

Isso eu nunca comentei ao meu Pai, porém com

certeza ele ficou sabendo, pois o patrão sempre

sabe tudo que acontece na propriedade.

Agora digitando esta parte, tive certeza que ele

ficou sabendo, tanto é que ele me pediu para que

eu não mais dormisse no quartinho da cidade

que eu sempre dormia nos finais de semana,

quando trabalhava com ele.

Page 13: História de um Herói

25

Eu jovem na época com aproximadamente

dezessete anos, querendo minha independência,

portanto, meu quartinho proporcionava-me a

liberdade que eu necessitava, devo ter relutado

um pouquinho.

Quando meu Pai disse-me:- Você sabe que tenho

inimigos, esse quartinho por ficar fora do corpo

da nossa casa, te deixa muito vulnerável, se você

continuar dormindo aí, pode uma hora dessas,

chegar alguém e pegar você. Imagine, eles te

torturando você gritando. É claro que vou sair

meu filho, só que vai ser só para morrer, disse

ele.

Eu como sempre respeitei muito meu pai a partir

daquele dia passei a dormir no corpo da casa.

Agora vou contar a você, a forma que meu Pai

usava, para acordar-me nas segundas feiras de

madrugada, para irmos à fazenda. Parece-me

que só andava estressado, entrava no meu

quarto e dizia:- Rosalvo! Num tom de voz

extremamente, alto, eu diria que o equivalente a

voz de comando que um sargento dá para um

pelotão de soldados, nessas alturas, quando me

acordava o carro dele já estava funcionando, eu

dormia pronto, saltava no vácuo do grito, e

26

passava ao lado de uma pia, com a mão enchia a

boca d’agua e aproveitava as mãos molhadas

para retirar as remelas, pois os dentes e rosto

não dava tempo de ser lavado.

Meu Pai me contava de dois episódios

interessantes que ocorreram com ele, e foi

presenciado por familiares do pecuarista, e

consequentemente parente do temido,

sobrinho.

QUANDO ISTO OCORREU, EU AINDA ERA BEM

CRIANÇA NÃO ME LEMBRO DE NADA

Meu pai estava conversando com eles, quando

minha mãe, gritou chamando os, pois havia uma

cobra muito rápida, ali nas imediações. Os

mesmos foram na direção mostrada, porém,

estavam com muito medo, pois o local era de

difícil visibilidade.

Quando de repente, avistaram a mesma, e

ambos saltando para traz e sacando a arma, meu

pai puxou do revólver, porém sem puxar o

gatilho intencionalmente, disse não tem perigo e

o tiro saiu, quebrou a cobra quatro dedos atrás

da cabeça.

Page 14: História de um Herói

27

Com isso todos ficaram impressionados com a

rapidez e precisão de tiro. Isso ocorreu bem

antes, do episódio sofrido pelo Miro Guasca.

Meu Pai não disse a eles que o tiro saiu sem ele

puxar o gatilho.

Pouco tempo depois, os mesmos estavam

deitados em redes, quando arrebentou a corda

da rede que meu pai estava deitado, e o mesmo

saiu em pé e ainda viu a rede cair no chão

segundo meu pai isso também foi sem querer, e

causou bastante espanto e admiração.

Ele sempre me dizia:- Não tive intenção de fazer

essas coisas. Foi Deus juntamente com o finado

meu Pai que prepararam isso, porém, o que mais

me impressiona é que isso aconteceu muito

antes de ocorrer o homicídio. Deus prepara as

coisas com muita antecedência, Dizia ele.

Sei que após a informação da viúva, acusando

meu pai, o popular e temido sobrinho, saiu à

caça do meu pai, que por sua vez, sabia andar.

Provavelmente pelas coincidências ocorridas, ele

queria pegar meu Pai bem de jeito, não queria

encontra-lo de frente. Apesar de que andava

28

montando uma mula manca, nunca voltava pelo

mesmo caminho que ia e não andava com os pés

atolados no estribo. Quando os parentes e

amigos comentavam sobre a alta periculosidade

do inimigo e aconselhava-o a montar um bom

cavalo em vez da aquela mula manca ele se

irritava e dizia que andava naquela mula pra não

correr do inimigo.

Dizia que evitava, porém se um dia se

encontrassem poderia chover bala do jeito que

fosse que ele não daria um passo pra traz.

Na época morávamos próximo ao rio perdido, só

nos banhávamos nesse rio, relativamente

próximo de nossa casa, porém, nunca no mesmo

lugar. Num determinado dia meu pai cismou de

que não deveria mais se banhar naquelas

imediações. Começamos então a tomar nosso

banho à uns dois quilômetros de distância de

nossa casa, íamos á cavalo, só andávamos a

galope e nunca parávamos no mesmo lugar.

Íamos mais para cima ou para baixo, vezes de um

lado do rio vezes do outro.

Num dia aquela época, fomos à casa de um

vizinho, que morava do outro lado do rio,

Page 15: História de um Herói

29

aproximadamente três km. Não sei ao certo se

morava para cima ou para baixo. Só sei que o

mesmo disse ao meu pai:- Faz oito dias que um

homem entrou nesse mato e costeou o rio, em

direção a sua casa só saiu hoje, e complementou,

saiu barbudo daí.

Meu pai fez as contas e concluiu que havia

trocado de local de banho, justamente no dia

que o dito homem chegou.

TAPA DE LUVA

Certa vez as ovelhas de um vizinho, entraram na

propriedade na qual ele era arrendatário. Disse

ter ficado extremamente irritado, já que na

época a pastagem estava pouca. Atiçou os

cachorros nos carneiros saiu gritando com os

bichos até a beira da divisa que ficava bem

30

próximo da casa dos proprietários dos carneiros.

Dali mesmo fomos campeirar.

Quando voltamos, ele preparado para revidar

qualquer repressão da parte dos donos dos

carneiros. Ficou arrasado, com a surpreendente

atitude dos mesmos. Pois avistou uma meia

banda de carneiro pendurada na varanda de

nossa casa, carneiro este que foi presenteado,

pelo vizinho ofendido.

Chamou esse nobre e surpreendente gesto de

tapa de luva, trinta anos após o episódio ainda

sentia vergonha da atitude insana que assim o

classificou.

Após essa tapa de luva, na tentativa de reparar o

indelicado gesto, oque ele fazia era cuidar das

ovelhas do nobre vizinho.

Minha vó Castorina, mãe do meu Pai, suicidou-

se. Meu Pai não se fez presente, no dia da

partilha e dos poucos bens que ela havia

deixado.

Quando de repente, chega a casa dele, um irmão

com umas cabeças de gado, e mais algumas

coisas.

Page 16: História de um Herói

31

Segundo ele, o irmão disse assim:- Esse é o que

tocou pra você, e continuou dizendo:- Se você

quiser é esse, se não quiser é esse também.

Não sei o que ele respondeu, mas pra mim disse

o seguinte:- Nunca fui e nunca nem se quer

pensei em traia de defunto, portanto, pra mim

foi bom, eu não ia atrás de nada mesmo.

Certa vez um pecuarista parece-me que era

chamado Crispim Borges, deu um gado para ser

criado em parceria com meu pai, esse dito gado

foi juntado no campo, e lá mesmo separado,

contado e feito o documento manuscrito.

Apesar de ter entregado uma quantia x, quase

só gado erado, inclusive touros e poucos animais

de ano. No contrato, foi colocada a quantia

certa, porém, dizia que: Era de ano a cima. E

quando fosse devolvido teriam que ser nas

mesmas condições.

A maioria das pessoas que ficavam sabendo do

negócio comentava com meu pai, você ficou rico,

troca esses touros e mais algumas vacas por

novilhas de ano e entrega pra ele, você não está

32

sendo desonesto, ele que fez o documento, ele

te deu. Sempre a conversa era a mesma.

Meu pai sempre dizia, o documento saiu errado,

mas o homem me entregou o gado na boa fé, e

na boa fé, vou entregar. Nessa altura, já havia

classificado o gado, anotado e guardado a

anotação com o contrato. Posterior mente

entregou o gado nas mesmas condições que

recebeu, na pratica.

Isso que relatei agora, com relação ao gado

arrendado eu não me lembro, como não lembro

também quando meu pai atrelava minhas pernas

para que eu o ajudasse sem cair do cavalo, nessa

época eu era muito novo, sei que mamei até os

quatro anos, porém fiquei surpreso quando há

pouco tempo minha irmã disse-me que quando

eu apeava do cavalo, minha mãezinha já tratava

de se escorar num esteio da casa, para me

alimentar. Detalhe eu mamava em pé.

Sei que a fama do meu Pai através dos homens

honestos viajava, longe.

Dizia ele, Não existe bom sem defeito e nem

ruim sem proveito. Esta filosofia eu acho que ele

levava muito a serio, pois quando chegava

andarilho na fazenda, ele dava de comer o dia

Page 17: História de um Herói

33

todo durante três dias, eles comiam dormiam e

defecavam normalmente no quarto dia já eram

pessoas relativamente normais.

Já conversavam normais e começavam a

trabalhar. Alguns ficaram amigos mesmo, assim

como um gaúcho baixinho e bigodudo que

trabalhava durante tempo, de vez em quando ia

embora e depois de algum tempo voltava

novamente.

Certa vez meu Pai e eu estávamos numa espécie

de varanda com um portão baixinho o gaúcho do

lado de fora estava cortando fazendo alguma

coisa com a faca na mão, de repente vem um

cara em nossa direção andando ligeiro trazendo

uma faca a mostra na cintura daqueles que

querem intimidar a gente.

Meu Pai disfarçadamente fechou o portãozinho

antes dele chegar se afastou um pouquinho, o

cara chegou e permaneceu ali por alguns

segundos e foi embora.

Meu Pai disse, que cara louco esse como que

chega dessa forma na casa dos outros. O gaúcho

que não tirava o olho dele, disse nem precisava

fechar o portão, pois se ele levasse a mão na faca

eu ia carnear ele por baixo, aqui mesmo.

34

Meu Pai como que ia fazer isso gaúcho, eu ia ter

que apartar vocês, o gaúcho será que depois de

estar tramado no ferro branco, alguém mais

aparta.

Fazei o bem, mas olhe a quem.

Dizia ele servir e bom, mas não servir e melhor

ainda.

Page 18: História de um Herói

35

MUDANÇA PARA O BURACÃO

Eu com aproximadamente seis anos de

idade, lembro-me da viagem a mudança em dois

carros de bois, nós a pé repontando os carneiros

próximo da carreta, os condutores do gado,

também viajavam relativamente próximo, pois

dormíamos sempre no mesmo local. Lembro-me

que meu pai comprou um radio, em uma das

36

pousadas, parece-me que deu um touro e três

bezerro, a troco do radio de mesa marca Semp.

Falando na fazenda BURACÃO, lembro-

me de pouca coisa importante, lembro-me, por

exemplo, que minhas irmãs e eu tínhamos medo

de onça, pois tinha muitas delas naquele lugar,

portanto quando minhas irmãs e eu saiamos no

piquete para buscar as leiteiras, preocupávamos

em voltar ainda de dia claro.

La, nessa fazenda eu tinha por volta de seis

anos foi quando meu pai ensinou-me a manear

touro. Minha mãe e ele, pela primeira vez

laçaram um touro na minha presença. Minha

mãe, subida na cerca, de um lado, do mangueiro

e meu pai do outro.

O touro, como todo animal, conhece mais o ser

humano, do que nós próprios, portanto ele só

corria pelo costado da cerca que minha mãe se

encontrava, tanto é que ela foi quem laçou

primeiro. Só depois que meu pai conseguiu por o

laço dele, a seguir derrubou e me mostrou na

pratica oque já havia me ensinado na teoria.

Foi lá que meu pai ensinou-me a tirar vinho de

jatobá.

Page 19: História de um Herói

37

Foi lá também que pela primeira vez, que me

lembro de que eu quis falar uma coisa e acabei

dizendo outra.

Foi quando meu pai saiu e deixou um potro no

palanque, aos cuidados de minha mãe, de tempo

em tempo o potro corcoveava, sentando na

tentativa de arrebentar as amarras.

Minha mãe se preocupava toda vez que o cavalo

relutava, pois poderia se machucar, disse em

certo momento, o potro, desgraçado, essa é uma

palavra que estava sempre presente no

vocabulário dela, quando se irritava.

Eu querendo ser solidário com minha mãe,

diante do desespero dela. Abri a boca sem

pensar e disse, tomara que morra. Como em

casa tudo era motivo para tortura, já começou a

tortura psicológica, a éé, você está jogando

praga no cavalo do seu pai, pois quando ele

chegar eu vou contar tudo pra ele, ah se esse

cavalo chega a morrer. Seu pai vai te matar a

pau, e assim por diante.

Agora tive uma pequena confusão na minha

cabeça, já não me lembro de ao certo se a

mudança que me referi anteriormente, foi da

fazenda santa Luzia para o buracão ou se foi do

38

buracão para a fazenda São Bento, acho que em

nenhuma das duas fazendas chegamos há ficar

um ano.

Uma passagem que meu Pai sempre lembrava

era quando ele tinha gado no campo dos Índios,

e morávamos três ou quatro dias de distância

viajando a cavalo.

Meu Pai quando ia pra lá já alertava os

companheiros antes de sair, pois ele viajava sem

dormir durante dois ou três dias e noites.

O Manuelão sabia e topou o desafio, conhecido

do meu Pai desde criança, porém como dizia

meu Pai os dois com o coro encomendado,

nenhum deles dava a costa pro outro.

Após duas noites e um dia de viagem, quando

cedinho avistaram a sede de uma Fazenda, se

depararam com um bando de galinhas da angola,

que saíram voando e gritando.

Manuelão disse vou matar uma e levou a mão

no revolver, meu Pai por sua vez, bateu a mão no

trinta e disse, mata uma que eu mato outra.

Page 20: História de um Herói

39

Outro ocorrido com o mesmo Manuelão, isso

quando meu Pai ainda era adolescente, meu Pai

dizia-me, que estavam indo a um determinado

lugar e no caminho se depararam com alguma

coisa que fez movimento nas folhas secas, caídas

no chão, eles saltaram para traz, achando que

era cobra, quando visualizaram o ser. Viram que

não se tratava de serpente, e sim de um ser

desconhecido, pois eles estavam

aproximadamente dois metros de distância, e

percebiam que toda vez que o Ser, dava um

pulinho pra frente, eles dava um passinho pra

traz, e o Ser aumentava de tamanho, mais um

pulinho pra frente, eles davam um passinho pra

traz, o Ser, aumentava de tamanho.

Não conseguiam um pedaço de pau pra da uma

paulada no bicho, naquela época a cultura era

matar, o Ser que quando tomou forma tinha por

volta de cinco centímetros, já estava com quase

meio metro de altura, como não tinham arma de

fogo e não tinham encontrado pau para mata-lo,

meu Pai disse vamos atropelar de faca, o

Manuelão que já era homem mais experiente

disse então, você e bobo, louquinho, pois

chamava meu Pai de louquinho, continuou

40

dizendo, você não esta vendo que isso não e

bicho.

Conclusão, o Pai dele já havia morrido e meu Pai

sempre acreditou que aquilo poderia ser algo

que o Pai dele havia colocado no caminho para

livra-lo de algum mal.

Tanto é que após esse inesperado encontro eles

mudaram de direção e foram por outro lugar,

pois já estava escuro e ficaram com medo de

cobra.

Page 21: História de um Herói

41

SÃO BENTO

As fazendas do seu Alfredo, antes do meu pai

chegar, estavam passando por uma fase, tipo

fazenda da mãe Joana, onde todo mundo

pegava, davam uma de amigos ou compadre,

mas também, demostravam ameaças, era um

42

pedido meio ameaçador, quando pediam!!! Que

muitas vezes simplesmente pegavam.

Foi quando seu Alfredo teve a iniciativa, de

trazer alguém que fosse de fora das imediações e

convívio, e que também fosse um homem pulso

firme, através de informações chegou ao meu

pai.

Ali, lembro-me que meu pai foi escalado para

entregar um lote de gado para o sr. Bito

Martins, meu Pai era cismado com ele pois além

de grosso ja tinha encrencado com meus tios. O

patrão ordenou que “não entregue se o mesmo

não tivesse trazido o contrato”. Como em todo

lugar que ia, meu pai me levava desta vez não foi

diferente.

A entrega não seria na nossa residência e sim em

outro retiro. Meu pai sempre foi do tipo que

adiantava um dia, mas não atrasava uma hora.

Chegamos próximo do retiro, e ficamos quietos

de antena ligada para perceber a hora que a

comitiva ia chegar com o sinuelo, não vimos só

ouvimos o barulho, nesta altura meu pai já me

havia instruído.

Page 22: História de um Herói

43

Havia ordenado você fica aqui deste lado do

córrego não passa do outro lado, se você escutar

tiros, você vai embora pra casa a galope até

chegar, não precisa fechar as porteiras abra

passe e vá embora a galope disse ele.

Não precisei correr, não saiu os tiros, não

demorou muito meu pai estava de volta. Minha

idade nessa época, sete anos.

Quando chegamos ao retiro São Bento, logo após

o incidente, com o sr. Bito Martins. Meu pai

como gerente geral das fazendas, o proprietário

filhos vizinhos e empregados, nessa eu não fui,

Foram parar rodeio no retiro cavadhu raw, para

entregar a responsabilidade para meu pai.

Na época naquela região pantaneira não era

como é agora, em outras regiões que o gado

todo é contado e controlado, Lá não tinha como

juntar todo o gado, os campos eram muito

grandes sem divisórias. Era tudo na base de

estimativa, tipo assim, aqui neste rodeio tem

aproximadamente 1.200 cabeças, naquele outro

deve ter 1.300 com mais umas 500 que não

vimos, deve ter aproximadamente 3.000 ou

3.500.

44

Meu pai analisando o gado percebeu que na

maioria deles era boi e touros. Foi aí que

perguntou a o patrão se ele havia apartado a

vacada do gado. O patrão choramingando disse,

esses filhos das putas, tão roubando tudo minhas

vacas seu pitito. Meu pai ouviu aquilo sem nada

saber e sem ter oque falar.

Terminou o serviço naquele retiro, e voltaram

todos para o retiro São Bento onde estávamos

morando.

Lá chegando, depois de uma semana ou mais,

que estavam fora. Minha mãe estava brava com

meu Pai, pois achava que eles é que tinham

comparecido no retiro, e levado até as vacas do

nosso mangueiro, e nem se quer chegaram a

nossa casa para ver se estava tudo bem.

Meu pai surpreso diante daquela alegação de

minha mãe. Foi perguntar ao patrão se era gente

da fazenda que havia vindo ali retirar o gado.

Diante da negativa meu pai já ordenou, vamos

agora recorrer o aramado. Perguntou-nos a

direção que o gado tinha ido, lá era fácil saber a

direção, pois o campo era tão limpo e plano que

dava pra ver quilômetros de distancia.

Mandaram-se na direção indicada.

Page 23: História de um Herói

45

Recorreram o aramado daquela direção e já

encontraram o estardalhaço, a pouca vergonha e

o destemor dos ladrões, sem o mínimo de

preocupação com os vestígios. Comunicou o

patrão e o mesmo disse deixa seu pitito. Eles

sempre me roubaram.

Meu pai por sua vez disse-lhe, vim aqui para

cuidar do seu gado, se fosse para deixar roubar,

eu não teria vindo, portanto, vou trazer de volta,

onde quer que estejam independentes de quem

tenha roubado. Se tiver homem, aqui pra me

acompanhar eu aceito.

Na hora apareceram dois grandes homens, o

Agenor Loubet, filho do dono, rapaz novo com

aproximadamente 21 anos de idade. E o SR.

Oliveira de Oliveira. Que na época era gerente,

da parte de pecuária, da Florestal Brasileira,

grande Indústria na região de Porto Murtinho.

Ninguém chega a gerencia de uma grande

empresa por acaso. Seguiram o rasto do gado, e

descobriram que o gado se encontrava na

fazenda Caeté.

Florestal Brasileira, grande empresa, que

naquela época já tinha até telefone nas

fazendas. Seu Oliveira teve a ideia e telefonaram

46

para seu Amadeu, que na época, era

respeitadíssimo, uma autorização dele, era quase

inquestionável pelas autoridades do local.

Ordenou ele, Podem revistar a fazenda Caeté, e

retirar o gado roubado, Imediatamente, os três

se deslocaram, para o destino.

Lá chegando, se depararam, com uma bandada,

de Paraguaios, e mesmo assim, indagaram.

Quem é o gerente? É ele responderam

apontando na direção do mesmo! Então

perguntaram, e quem é o proprietário? Um

deles, com um gesto de cabeça, apontou.

Disseram, eles. Temos ordem do seu Amadeus,

para revistar sua fazenda, e queremos rodeio,

agora.

Sem nenhum sinal de resistência,

Imediatamente, concordaram, e juntos saíram,

juntar o gado. Logo nos primeiros lotes, já se

depararam, com gado adulto, marcado, e

divisado a poucos dias, com uma divisa, no

mínimo incomum, era cortada da seguinte

forma, tirado uma solapa, da parte debaixo, do

começo, ao final, e da mesma forma era feito na

Page 24: História de um Herói

47

parte de cima, com isso além de afinar a orelha,

deixava mais curta, portanto, com ela poderia

sumir com qualquer outra divisa, a mesma foi

batizada como ponta de lança.

Havia vários formatos de marcas, sendo uma

marca deles para cada lote de gado, porém, com

a mesma divisa.

Uma das marcas é que chamou a atenção, era

no formato de uma argola, com alguns detalhes

que ajudavam a confundir, as demais. Após

juntar todo o gado, que foi relativamente rápido.

Pois o Caeté era um campo muito limpo e fácil

de campeirar, encerraram o gado na mangueira,

e começaram a apartar. De vez enquanto, meu

pai perguntava, num ato meio irônico, de quem

é esta? Apontando em direção a uma res

especifica, E um dos paraguaios, gritava bem

alto, é do fulaaano, mencionando o nome do

gerente!

Eles resolveram levar somente o gado cuja

marca deles era bem visível em baixo da outra,

normalmente, aparecia bem a cabecinha da

marca quinze na parte de cima ou a volta do

cinco na parte de baixo.

48

A marca FB, da FLORESTAL BRASILEIRA, era mais

fácil de ser identificada. Nessa diligencia

perigosa, eu não fui, também nem poderia, eu

com sete anos de idade.

Gado do meu Pai levaram apenas uma, por sinal

uma vaca velha e muito magra, esta eles

apartaram na beira do arame, e deixaram no

campo do seu Alfredo, ou seja, não retiraram da

nossa invernada, não quiseram leva-la.

Tanto é que, no primeiro dia que foram recorrer

o aramado, lá estava a vaca sozinha.

Depois desse grande gesto, Sr. Oliveira e meu

pai ficaram amigos e até compadre. Sem contar

o Agenor, que meu pai tinha muita consideração

por ele e ele pelo meu Pai. O Agenor casou-se

com a filha do SR. Oliveira de Oliveira Que se

chamava Oleneva, irmã do Arione, do Audes,

Neuza, Lurdes e outros.

Com isso e outras mais meu pai conquistou

respeito de mais algumas pessoas honestas de

Porto Murtinho, assim como Sr. Amadeus,

Page 25: História de um Herói

49

diretor respeitadíssimo da poderosa, Florestal

Brasileira, ficaram amigos de verdade, tanto é

que quando recebia as demais pessoas,

conversava o estritamente necessário, e passava

a mão, num gesto de despedida.

As pessoas ficavam impressionadas, com o

tratamento que dava ao meu pai, como vocês,

podem ver meu pai um homem rude,

semianalfabeto, Sr. Amadeus um homem

provavelmente, com varias faculdades, diretor

de uma grande empresa, ele respeitado no Brasil

e no exterior, porém, era com meu pai que

gostava de conversar, quando meu pai

demorava, para visita-lo, mandava chama-lo, e

dava um jeito de segurar meu Pai o máximo que

podia.

Contava tudo sobre a vida dele para meu

Pai, muitas vezes pedia conselho.

.

50

FAZENDA CARANDÁ DE GALHO.

Eu me lembro das mudanças que fizemos

anteriormente, porém desta, que já estava com

quase oito anos, não me lembro. Provavelmente

nessa época eu já fazia parte da comitiva, e o

transporte de gado já fazia parte de uma tarefa

rotineira, sem novidades para mim.

Page 26: História de um Herói

51

Recordo-me, nós no campo da Carandá

de galho, uma vazante limpa que passava em

toda a extensão da área.

Lembro-me também da primeira grande

enchente, que passamos na Carandá de Galho.

Quando acordamos de madrugada, a agua já

corria por dentro de casa, estávamos ilhados,

não tinha como sair da fazenda, Nós éramos da

região serrana, e não sabíamos desse fenômeno

que acontecia no pantanal, achávamos que era o

diluvio, e que a morte estava há poucos dias.

Primeiro meu pai pegou um cavalo, e saiu

a procura de lugar seco, e bem próximo de casa,

a menos de dois quilômetros já o encontrou,

meu pai sabia que se a agua subisse, cinquenta

centímetros, também chegaria ali, porém no

momento precisava retirar a família de dentro

d'agua.

Quando voltou já estávamos com os bois e a

carreta pronta, enchemos de telha de carandá.

Pra quem não sebe, a telha de carandá, é feita

do caule da palmeira, sem o miolo, pois este é

retirado com machado. Mede por volta de três

metros de comprimento.

52

Saímos a pé tipo Mazarópe, levando galinhas,

gato, porcos, carneiro cabritos etc. Lá chegando

meu pai, já cortou um pé de carandá, que serviu

como viga, colocou uma das pontas, na forquilha

de um pé de santa fé e a outra, na forquilha de

outro. Já colocamos as telhas, no sistema beira

chão, onde a casa só tem uma viga à outra ponta

da telha é apoiada no chão.

Lá ficamos por vários dias, todos os dias

matando cobras de vários tipos. Porém, oque

mais preocupava meu pai, eram as brigas de

touros, que eram frequentes, pois o gado dormia

ali em volta de nosso rancho. Os únicos animais

que não ficavam próximo do rancho quando

chovia eram os cabritos.

Pois esses ficavam dentro de casa e ninguém

conseguia tira-los.

Quando a água baixou, voltamos para

casa sem maiores prejuízos, não se teve noticia

de perda de gado, devido à enchente.

Page 27: História de um Herói

53

Voltando ao assunto anterior.

É impressionante, como essas pessoas do Caité

não tinham vergonha, não tinham um pingo

sequer de pudor.

Eles tinham duas fazendas a Caité de um lado da

nossa e também a fazenda Biguá na beira do Rio

Paraguai, ocorre que para ir de uma a outra

necessariamente teriam que passar por dentro

da nossa.

Normalmente faziam esse trajeto sempre

conduzindo bastante gado, meu Pai

acompanhava o gado deles e ia retirando gado

de nossa propriedade do começo ao final.

Imaginem quando eles tinham a sorte de meu

Pai não vê-los passar.

Certa vez que iam da Caité para a fazenda Biguá,

meu pai acompanhou o gado até a fazenda Prato

quebrado, retirando gado nosso como sempre

fazia, nesse dia era tanto gado nosso que

chegando ao Prato Quebrado, meu Pai

54

determinou que encerrasse o gado no

mangueiro para apartar o restante.

Meu Pai os peitava sozinhos eles eram tão

curtidos que obedeciam, porém levavam em

brincadeira.

Diante a essa estratégia dissimulada de

indiferença meu Pai nada podia fazer, e com

certeza se sentia totalmente impotente.

Page 28: História de um Herói

55

VESTIMENTOS

Dessa época de Carandá de Galho, lembro-me,

de como vivíamos e achávamos perfeitamente

normal. Vestíamos roupas que minha mãe as

confeccionavam, os tecidos que eram usados na

confecção, normalmente eram os que vinham

em forma de sacos, que vinham acondicionando

arroz, trigo e açúcar. As roupas de praticamente

todo mundo, naquela época eram tão velhas e

acabadas, que só se conseguia saber, de que

tecido teriam sido feitas, se observassem, a parte

de cima de onde ficam as cases, ou na parte de

baixo, da gola. O restante da roupa era remendo,

muitas vezes era remendo, remendando,

remendo.

56

SERVIÇOS DOMESTICOS

O pantanal era assim, época de enchente,

teríamos que nos cuidar, para não morrermos

afogado. Já na época de seca, acontecia muito,

das pessoas morrerem de cede. Eu

particularmente nunca vi ninguém morrer nessas

condições, porem eu vi muitas cruzes, em

diferentes locais que as pessoas, diziam, ter

morrido, de cede.

Como vocês podem ver na época de enchente

minha mãe, poderia lavar roupas na beira de

casa.

Quando a água ficava um pouco mais escassa,

teriam que junto com minhas irmãs, caminhar

por volta de um quilometro. Para poder fazer o

serviço, e só mais uns duzentos metros a frente é

que pegávamos água para bebermos, lá era um

pouco melhor. Porém, quando a seca era, ainda

maior, Minha Mãe com minhas irmãs, teriam

Page 29: História de um Herói

57

que ir a cavalo, pois só existia água, a uns nove

quilômetros, mais ou menos.

Trazíamos água para beber, da mesma distância,

só que de lá, trazíamos de carro de boi, sempre

eu vinha a cavalo na frente dos bois. Pra mim e

acho que pra todo mundo, andar na frente de

carro de bois não e nada bom.

Nessa época, meu Pai não deixava minha mãe

ligar o radio de dia, de jeito nenhum. Alegava

que poderia precisar gritar, para que alguém

abrisse uma porteira, ou para que fechasse a

outra. Isso poderia ocorrer quando estava

chegando do campo. Caso estivesse com o radio

ligado não escutariam.

Lembro-me muito bem dessa época, tanto eu

como minhas irmãs, brincava com ossos de gado,

pois era o único brinquedo que tínhamos, para

brincar.

Nessa época, eu vivia numa tensão tão grande,

tinha tanto medo do meu pai que quase não

conseguia brincar, começava a brinca, pulava e

saia correndo para ver se meu pai não estava me

gritando. A cada momento, a impressão que

tinha era que ele estava me gritando e sempre

saia em disparada, olhava em todas as direções,

58

quando nada era constatado voltava a brincar.

Isso ocorria provavelmente, de cinco em cinco

minutos, talvez menos, mesmo assim só me dava

o luxo de brincar, quando meu pai viajava, e não

me levava.

Eu por sinal acho que fui o único, que ganhou

um brinquedo do meu pai, quando criança foi

uma caixinha de cigarro, que quando terminou o

cigarro de alguém, o mesmo jogou e meu pai

juntou para presentear-me.

Não pense que estou reclamando disso, ao

contrario. Estou feliz e orgulhoso, com isso.

As coisas na época eram tão difíceis, e meu pai

tão enérgico, que a noite quando, catávamos

feijão, ou seja, quando retirávamos as pedras e

impurezas do feijão para cozinha-lo no outro dia.

Se caísse um grão no chão, abaixávamos, com a

lamparina para encontra-lo.

Era comum nas fazendas a pessoa levantarem

varias vezes a noite, para atiçar o fogo, e com

isso economizar, fosforo. No entanto, uma vez

achei que a vontade de economizar estava sendo

um pouco exagerada.

Page 30: História de um Herói

59

Meu Pai havia viajado, com nosso único

empregado, e tinha determinado que, a esposa

do funcionário, minha irmã com

aproximadamente dez anos, eu por volta dos

oito. Teríamos que tirar o leite.

Não sei por que, minha mãe se livrou daquela.

Ocorreu que: Minha irmã e eu chegamos à

mangueira como de costume, antes de clarear o

dia.

A mulher do empregado estava atrasada, mas

isso não importava, começamos a tirar o leite,

provavelmente, eu, bem mais devagar que

minha irmã, pois ela tinha muito mais força que

eu naquela época. Enquanto tirávamos o leite o

dia clareou, e minha irmã se preocupava com a

companheira que não chegava, já de dia claro o

sol saindo, entre a ordenha de uma vaca e outra,

olhávamos na direção do ranchinho, a procura

de algum sinal, que pudesse indicar que ela

estava viva.

Víamos apenas, um vulto, em frente o

ranchinho, continuamos tirando leite e nada da

mulher, quando estávamos quase acabando, a

ordenha. Minha irmã separou o leite que caberia

60

a empregada, e mandou-me, que a ela

entregasse, e trouxesse noticias.

Pois, acreditem o sol já estava alto, quando fui

chegando perto, já vi que o vulto que víamos, era

a mulher na posição de quatro pés, assoprando

um tição de fogo.

Sempre me lembro desta cena. Eu devo ter

levado à mão a cabeça. Sei que eu disse dona, lá

em casa tem fósforo, ela tranquilamente, virou

somente a cabeça e disse-me, eu também tenho

meu filho, só não quero gastar.

Lembro-me que com seis anos de idade já ouvia

meu Pai dizer que homem quando falava uma

coisa tinha que sustentar a qualquer custo.

Dizia ele o Homem não é obrigado falar, porem

quando fala é obrigado a cumprir, perdendo ou

ganhando, rindo ou chorando, tem que cumprir,

dizia ele, a gente não pode ser porcaria.

Certa vez eu com sete anos de idade, juntamente

com os outros homens, pois eu me sentia um

deles.

Fizemos uma forma para pegar os cavalos, nessa

forma tinha um cavalo por nome de seriema,

Page 31: História de um Herói

61

que por ser redomão, não parava quieto, um dos

homens que lá estava e certamente, me

conhecia muito bem, indagou-me, você tem

coragem de montar esse cavalo, aqui mesmo na

forma? Rosalvo.

Tudo que eu queria, era montar naquele potro,

porém, por medo de ser repreendido pelo meu

Pai, acabei dizendo não.

Infelizmente disse o contrario dogue gostaria de

dizer.

Meu pai imediatamente disse você vai montar é

agora guri! Já me juntando pelo braço e me

jogando no lombo do potro o bicho começou

corcovear na forma ele me puxou de volta.

Confesso que chorei, não por medo de ter

montado no potro, pois isso era o que eu queria,

chorei de vergonha por ter descumprido minha

palavra, eu havia aprendido que Homem e

aquele que sustenta o que fala a qualquer custo.

Outra passagem, para demonstrar o respeito que

eu tinha para com meu Pai, ou o pavor que tinha

de ser repreendido, ou se era medo, não sei ao

certo.

62

Foi quando chegamos a uma frutaria na cidade

de Porto Murtinho.

Meu Pai perguntou se eu queria comer algumas

frutas, e sem pensar eu disse que não, naquele

dia ele insistiu muito para que eu aceitasse

porem eu não podia mais aceitar, eu já havia

falado que não queria, e havia aprendido que o

homem depois que falasse não podia voltar

atrás. Na época eu tinha por volta de oito ou

nove anos, ficamos nessa frutaria provavelmente

mais de uma hora, esperando alguém ou alguma

coisa, não me lembro o que era.

Imaginem aquelas frutas lindas, maravilhosas,

geladinha nos balcões refrigerados, meu Pai e o

comerciante insistindo, para que comesse eu

uma criança que vivia no pantanal, sem nunca

ter provado uma maçã uma pera, uva, etc.

Além dessas vou contar apenas mais uma, foi

quando somente meu Pai e eu estávamos no

campo, eu com uma cólica terrível, daquelas que

quando vem da impressão que sua barriga esta

sendo perfurada de dentro para fora, nem

mesmo aquela dor insuportável me dava

coragem para interromper a caminhada do meu

Pai, ainda que fosse por um instante.

Page 32: História de um Herói

63

Aguentei o máximo de tempo possível, até que

não resistindo mais a preção e a dor. Explodi em

merda, nessa época minha mãe e nos ainda

morávamos na Carandá de Galho quando

cheguei a casa, minha mãe mandou que eu

colocasse a calça numa bacia com agua, foi oque

fiz.

Quando foi a noite minha mãe indagou ao meu

pai, o que aconteceu com esse guri? Disse ela,

ele cagou tanto que sujou tudo até o cós da

calça. Meu Pai me perguntou, foi repentina essa

diarreia, meu filho? Eu disse foi de repente pai, e

pensei comigo só eu sei quantas horas de

sofrimento, quanta dor eu senti quanta vergonha

passei esse é o verdadeiro sofrimento.

Uma das coisas mais difíceis para uma criança

que pude constatar em minha infância, é quando

viajava a Pôrto Murtinho com meu Pai, saiamos

sempre por volta da meia noite, a cavalo

chegávamos a casa da tia Juvencina e tínhamos

que esperar clarear o dia para acorda-la.

Saía com meu Pai o dia todo para fazer as

compras, e demais diligencias a noite após um

cochilo, nos por volta da meia noite, saíamos de

volta para a Carandá de Galho. Imaginem uma

64

criança de oito ou nove anos, no lombo de um

cavalo durante duas noites praticamente sem

dormir deitado, essa deve ser a pior de todas as

torturas, a qual fui submetida muitas vezes. Pior

que isso acho que é apenas, ir ao campo de dia

após duas noites sem dormir, acordar toda hora

com espinheiro rasgando sua pele.

Sinto-me na obrigação de defender meu Pai, ele

sempre foi um bom Pai. O problema não estava

nele estava em mim, que não chorava e não

reclamava eu era o problemático, tinha muita

vergonha de incomoda-lo com certeza ele não

conseguiu perceber isso, acredito que essa falha

ocorre com quase todos os educadores, em

diferentes situações.

Aqui vai uma reflexão. “A educação que serve

para um filho, pode ser prejudicial a o outro.”

Analise isso, observe seus filhos e de para cada

filho um ensinamento diferente, muitas vezes

precisamos corrigi-los individualmente.

Page 33: História de um Herói

65

Voltando ao assunto anterior.

Meu pai quando mudou para a Carandá de Galho

por precaução contratou o cunhado do seu

Alfredo, pra não ter o que falarem, atendia pelo

nome de Mendes Alves, caboclo trabalhador

incansável e integro nos negócios, em todo

tempo que lá esteve, manteve um

relacionamento estreito, com o filho mais

dedicado do seu Alfredo, filho este que me refiro

era do primeiro casamento. O Agenor Loubet.

Depois de certo tempo, meu pai só ficou

tomando conta da Carandá de Galho, o Agenor

ficou comandando o cavadhu raw. Seu Alfredo

na fazenda Campo Novo, e havia ainda outras

Fazendas, administrada por outros filhos do

patrão.

Com essa atitude firme, eu diria até dura demais,

porém necessária. Meu Pai não entregava nada

sem ordem por escrito, do seu Alfredo, não

adiantava ser, irmão, filho, amigo ou compadre.

66

Recorria à fazenda com intenção clara de matar,

caso encontrasse alguém roubando. Pois

naquela região, de fronteira nas fazendas todo

mundo só andava armado até os dentes, com

mosquetão e tudo mais, e ele não se comportava

diferente, recorria a fazenda de dia e muitas

vezes a noite.

Meu pai apesar de ter feito bastantes amigos,

também fez muitos desafetos.

Os amigos da época da Carandá de Galho, foram

eles, Amadeus, Mendes, Agenor Loubet, seu

Oliveira, seu Honório loubet, pai do José algacir.

Bernardo Loubet, pai do deputado Vander, e da

elizabet.

Anacleto de Cena, pai da Fatima, Ana,

Bernadeth, Eliza, Vera.

Alfredo Loubet, conhecido como Chedo. Este

sobrinho do patrão. Pai da Edir, Eloina, Admir,

Décio.

Zacarias Meaurio.

Havia um Senhor Por apelido Chocho

Cavalheiro, e Sr. Edson ambos gerente da Prato

Quebrado.

Page 34: História de um Herói

67

Por falar em Prato Quebrado, lembro-me certa

vez eu com onze ou doze anos de idade, minha

Mãe já morava na cidade. Eu fiquei morando na

fazenda Carandá de Galho juntamente com um

empregado que atendia pelo nome de Benicio,

certa vez ele e eu chegamos do campo por volta

das quinze ou dezesseis horas e deparamos com

um viajante que havia chegado à fazenda.

Chegamos tudo bem, o Benicio conversando com

ele na maior alegria, foi quando o viajante

convidou meu companheiro com uma garrafa de

cachaça, meu companheiro tomou uns tragos, já

mudou o comportamento, determinou que o

viajante banhasse o cavalo dele. O viajante

pacificamente levou o cavalo banhou e trouxe de

volta, o bêbado determinou que o soltasse na

prasoleta, foi só soltar e o cavalo, já se rolou no

chão, o bêbado por sua vez mandou que o

pegasse e novamente o banhasse, novamente o

viajante obedeceu.

O bêbado continuou a beber, nós três sentados

eu e o bêbado num banco e o viajante sentado

em frente, quando de repente o bêbado, me faz

um sinal, eu entendi que ele queria uma arma,

68

porem me fiz de desentendido, novamente o

sinal, eu continuei sentado, quando ele se

levantou adentrou a casa e já saiu manobrando

um mosquetão e gritando para o viajante sair

dali e ficar de costas no final do terreiro, dava

uns dez metros de distancia, isso a noite.

Gritou comigo, mandando que eu fosse pegar

cavalo para ir ao Prato Quebrado para avisar que

ele havia prendido um marginal. Diante da minha

recusa ele já deu um tiro por cima da minha

cabeça, com aquilo não me restou outra coisa a

não ser obedecer ao bêbado bravo.

Com muito custo consegui pegar um cavalo, pois

todos estavam arredios com medo daquele

monstruoso tiro que fora dado.

Cheguei ao Prato Quebrado tarde da noite, o

capataz com a família levantaram para me

atender, contei o incidente, quando ia voltar,

não me lembro se foi o Chocho ou se foi o Edson,

disse não, você não vai voltar, já desarreando

meu cavalo e dizendo você vai posar aqui, oque

que você vai fazer com bêbado armado? Deixa-

os que se viram por lá. Eu com medo do meu

companheiro, argumentei, e se ele vier atrás de

mim, disse ele nós o amarraremos, se ele vier

Page 35: História de um Herói

69

vamos deixa-lo posar amarrado nesse palanque

aí apontando em direção a um palanque de

palanquear potro.

Não demorou muito tempo o preso chegou

também, quando foi indagado oque havia feito

para escapar, disse que o bêbado havia dormido

e ele aproveitou para ir embora. No dia seguinte

quando voltei com o vizinho para ver como é que

estava por lá, e pegar o cavalo e os pertences do

viajante, o meu companheiro tinha sarado e

disse nem se lembrar de nada.

PRESTANDO CONTA

Se meu pai deixou fazenda, casas, chácara e

gado entre outros isso se deve boa parte ao

Sr.Chadigue.

Na época Chadigue, era empregado do meu pai,

e foi emprestado para seu Alfredo, para

bagualear, quando lá estava para bagualear no

Retiro Paraguai, mais precisamente na invernada

conhecida como criminosa.

70

Certo dia Chadigue arrumou uma desculpa para

voltar para a Carandá de Galho, onde

morávamos.

Chegou à Fazenda na boca da noite, chamou

meu pai de lado, eu fui junto só andava colado

mesmo. Sr. Chadigue começou a falar, seu pitito

eles vão lhe matar. Quem? Perguntou meu pai,

respondeu o Horacio e o Poto e continuou

dizendo. Seu alfredo descobriu o plano, gritava e

chorava, dizia vocês vão fazer injustiça, vocês vão

fazer injustiça. Não façam isso pelo amor de

Deus.

Eu escutei e vi bem de perto, disse ele, se

prepara para brigar ou vá embora.

Sei do risco que corro em lhe contar, mais não

posso deixar um homem bom como o senhor,

morrer desprevenido.

Disse também, acerte minha conta, que vou

embora agora.

Poucos dias depois, chega outra noticia,

dizendo que seu Poto havia morrido, morreu

deque? Perguntou meu pai, respondeu, morreu

do coração, meu pai como assim? Respondeu o

Page 36: História de um Herói

71

mensageiro, ele laçou uma vaca, maneou e

morreu.

Vão velar onde? Perguntou meu pai, respondeu

em Porto Murtinho na casa do seu Alfredo. Meu

pai deve ter respirado, aliviado, pois o finado era

irmão do patrão, portanto precisava comparecer

no velório apesar de tudo. Chegando ao velório,

seu Alfredo foi encontra-lo e disse chorando ao

meu pai, foi Deus que tirou ele seu Pitito, foi

Deus, eles iam fazer injustiça.

Com essa confirmação, do amigo, meu pai

percebeu que se continuasse morando na

Carandá, ia morrer em breve, era evidente que o

cerco estava se fechando, ele sabia que os

desafetos se organizavam. O poder dele já não

era mais o mesmo, apesar das pessoas que o

admiravam, na hora H ele estava sempre

sozinho.

Eu era apenas uma criança de 12 ou 13 anos,

mesmo se fosse adulto, naquela situação quase

insustentável, nada poderia fazer, a não ser agir

exatamente como fez o Sábio Andalécio M. Leite.

72

TOMANDO DECISÃO

Pensou ele, se me matarem vão roubar todo

meu gado, e com isso deixar minha família,

passando necessidade.

Pensou e chegou à conclusão que deveria

investir naquilo que ladrões têm mais dificuldade

para roubar, caso fosse morto.

Decidiu, rapidamente, e foi o que fez, comprou

uma fazenda, em 1972, 1.200 hectares no valor

equivalente a 240 bois, dividido em quatro

parcelas.

Foi saindo de mansinho retirando o máximo de

gado nosso, sem se importar muito com o gado

que ficava mesmo sabendo que praticamente

todo oque ficasse, seria perdido, como

aconteceu mesmo.

Nessa época, já haviam encaminhado, o já

referido sobrinho do finado que queria mata-lo,

Page 37: História de um Herói

73

o mesmo chegou à sede da Fazenda Carandá de

Galho, a procura do meu pai, que por sua vez

não se encontrava no momento.

Meu pai havia ido prestar socorro para meu tio

Servino Martins Leite, que acabara de chegar,

deixou a esposa a minha querida tia Amélia. E se

foram buscar algo que haviam deixado na

estrada, Assim que chegou de volta a tia Amélia

que conhecia o dito fulano contou que ele com

outro companheiro lá haviam chegado.

Imediatamente meu Pai e o tio Servino, ao

saberem da noticia bateram atrás, mas não

conseguiram alcançar.

Disseram que meu tio viera, para ajudar no

serviço de campo, Porém, o meu tio Servino,

apesar de ser radicalmente religioso,

extremamente educado, fala mansa e baixa.

Era amigo fiel dos amigos e parentes e, além

disso, era ligeiro no gatilho, o trinta e oito,

sempre ao alcance da mão.

De acordo com o costume da família Leite,

Adiantava um dia nos compromissos para não

74

atrasar um minuto, porem aquele não levava

desaforo pra casa.

Posteriormente meu pai ficou sabendo que ele o

inimigo havia ido pela cidade de Pôrto Murtinho

e subiu o rio Paraguai de lancha até a fazenda

Tarumã, levado pelo proprietário da fazenda,

que também lhes emprestou os cavalos para

ambos. Nessas alturas a família e eu já

estávamos morando na cidade, para estudar.

Nessa época alguns parentes que gastavam do

meu pai parece-me que cheiravam alguma coisa,

pois estavam sempre por lá, assim como tio

Servino, Pedrinho Galeano, Jair leite que apesar

de ter um metro e cinquenta de altura e um

grande homem, Amigo incomparável, agora com

falta de uma perna, porem confiável do mesmo

jeito, já que oque faz o grande homem é a

atitude e a dignidade.

Por falar no GRANDE HOMEM, vou contar aqui

uma passagem, foi quando Jair e eu estávamos

no curralão tentando laçar uma novilha de sobre

ano, meu Pai a pé do lado de fora do curral,

descontroladamente gritando, nos xingando,

pois não conseguíamos laçar aquela novilha, já

estávamos com o braço cansado de tanto errar

Page 38: História de um Herói

75

lassadas, até que de repente, aconteceu o que já

era esperado. A novilha atropelou o arame e foi

embora. Com isso meu Pai que já estava

desequilibrado ficou ainda pior, aos berros que

ninguém entendia nada. Abrimos a cimbra que

saia para a mesma invernada que ela foi.

Deveria ter uns oitenta metros de campina antes

de entrar no mato. Nos dois envergonhados com

vontade de morrer naquela hora. Arrancamos

nossos cavalos na direção dela que ainda se

encontrava na campina. Largamos a boca dos

cavalos e chegamos o cassete. Entramos mato

adentro na mesma velocidade que viemos no

limpo, uns quinze metros mato adentro uma

sanga de comprido a novilha por dentro eu por

um lado Jair pelo outro, nós os três nos

encontramos numa tesura na barranca da sanga.

Sem combinar previamente, saltamos juntos dos

nossos cavalos em cima da novilha. O Jair a

maneou com a ponta do cabresto, que saiu com

ele na mão sem desabotoar do bussal.

Imediatamente saltamos em nossos cavalos e

voltamos, acredito que toda essa operação não

demorou trinta segundos até que

aparecêssemos de volta na campina. Meu Pai

76

ainda descontrolado achando que a novilha tinha

ido embora.

Quando o informamos que havíamos pegado,

mesmo assim não deu nenhum sinal de

conformidade ou alegria. Isso que acabo de

relatar já aconteceu na fazenda nova esperança,

a fazenda que ele havia comprado.

Meu Pai quando se irritava virava bicho gritava

xingando a gente em qualquer lugar.

Page 39: História de um Herói

77

VOLTANDO AO SENHOR CHADIGUE

Certo tempo após esses episódios o Chadigue

foi assassinado.

Nunca procurei a família dele para ver se estava

precisando de alguma coisa, uma falha grave da

minha parte. Que só agora percebi.

Não sei se meu pai fez alguma coisa por eles,

acredito que sim, porém, acho que mesmo que

tenha feito isso não me isenta da

responsabilidade.

Quando somos jovens temos certa fome

insaciável de sexo, só pensamos nisso ou num

jeito de conseguir isso. Felizmente após os

cinquenta, já conseguimos pensar em outras

coisas, que não seja relacionada a sexo. Só aí

conseguimos pensar em retribuir o bem que nos

foram feito, e que ainda não foi retribuído a

contento.

78

VOLTO A FALAR SOBRE A FAZENDA CARANDÁ DE

GALHO

Era notório que no final, até as pessoas que mais

confiávamos, tinham um forte interesse, em

deixar nosso gado, bagual, para que não

pudéssemos pegar.

O campo era muito grande e estava muito sujo,

até as vazantes estavam sujando, só a Carandá,

parece-me que tinha 3.600 hectares, numa única

invernada sem divisórias, e estavam arrendando

a Sanga Soró que tinha mil hectares,

extremamente suja, e em comum, com a

carandá, ou seja, não tinha divisória entre elas. O

gado já estava arisco.

Meu Pai comprou uma Fazenda, precisávamos

pegar o gado para ir embora.

Vou contar uma passagem, para que vocês

entenda oque vem a seguir.

Page 40: História de um Herói

79

Eu com 14 anos de idade, Juntando nosso gado

já para, irmos embora estávamos trazendo um

pouquinho de gado, ali mesmo na Sanga Soró.

O local extremamente sujo, íamos entre uns seis

homens mais ou menos, tinha aproximadamente

oito cabeças de gado, a ordem era pegar de

qualquer jeito, e para peões, laçar ou deixar ir

embora é como se fosse um jogo de copa do

mundo, para os atletas.

Para quem não sabe. Quando se corre um gado

a regra e voltar a se encontrar, no local de

partida. De repente o gado saiu em disparada,

nós todos saímos atrás, não demorei 10 minutos,

já cheguei de volta, eles já estavam todos me

esperando, ninguém havia pegado nada.

Meu Pai indagou, foi tudo embora filho? Eu

respondi tudo não, eu peguei um. Ninguém

acreditou até mesmo meu pai que me conhecia

muito bem, achou que ali a tarefa era impossível.

Disse-me, meio irritado, toca na frente vamos lá.

Lá chegando se depararam com o único touro

que tinha no gado, pois era ele que estava

maneado. Alguém sussurrou surpreso, foi ele

mesmo que fez isso! Pois esse é o touro que

íamos levando.

80

Voltando ao assunto que interessa.

Motivo que me levou a conclusão, que todos

queriam deixar nosso gado bagual.

No dia seguinte ao episodio que acabo de

relatar, chegou um primo de minha mãe, o

Pedrinho Galeano.

Não me lembro se chegou a cavalo ou de outro

jeito, sei que por causa da chegada dele meu Pai

precisou buscar ou levar algo deixado por ele,

como já estávamos de saída para o campo, meu

pai decidiu, e disse para o Pedrinho, vá você de

pratico no campo, que eu vou nessa diligência.

Foi oque aconteceu já estávamos batendo

naquela invernada há alguns dias. Estava difícil

pegar o gado, porém, é um fenômeno que

acontece, inclusive com gado bagual, que é o

ultimo estagio de arredio, do gado.

Por mais que você não encontre o gado reunido

ou que só encontre-os separados um dos outros,

portanto muito difícil de pegar. Acontece de ter

um dia que você pode encontra-los reunido no

limpo e fácil de pegar. Nosso gado estava um

Page 41: História de um Herói

81

pouco arisco, até pelas condições que até então

vínhamos encontrando-os sempre em lugares

extremamente sujo.

Naquele dia que fomos com o Pedrinho,

aconteceu o fenômeno, e como eu já disse todo

o peão adora laçar e eu não era diferente.

Inclusive eu havia perguntado ao Pedrinho, se

íamos laçar, fiquei entusiasmado com a resposta

afirmativa.

Ocorreu que naquele dia chegando à vazante da

sanga Soró, e por sorte numa parte muito limpa,

vimos o gado deitado do outro lado da mesma,

conseguimos atravessar a vazante sem sermos

vistos, fomos de vaga rinho costeando o

espinheiral ganhamos a parte suja, estávamos

entre o espinheiral e o lote de gado, que por

sinal era um lote grande.

Ficou sobrando como única alternativa para o

gado, sair na enorme e limpa vazante da Sanga

Soró.

Que igualmente a do Caranda, atravessava de

ponta a ponta a invernada, com apenas uma

diferença a da sanga soró era bem limpa,

naquela parte e dali até a divisa.

82

Quando o gado percebeu, já estavam sitiados,

com vários cavaleiros impedindo que ganhassem

o mato, eles levantaram e sem ter oque fazer.

Permaneceram parados.

Quando num ato insano, irresponsável ou

desonesto, não sei ao certo, só sei que todos os

cavaleiros inclusive eu, arrancamos nossos

cavalos em direção ao gado, logo percebi que o

gado não queria correr, e estava fácil de domina-

los mesmo assim todos eles passaram pelo meio

do rebanho, e cada um deles saiu atrás de

apenas uma rês, deixando o restante do gado no

centro da vazante, e só eu tentando segurar o

enorme lote de gado, que eles tinham

escorraçado.

Eu fazendo costado e tentando fazer com que se

acalmassem, quando eu já estava conseguindo,

fazer o gado parar, voltou um dos que já havia

escorraçado os mesmo, atropelando e

novamente passando por entre o lote, que

estava parando e novamente apartou apenas um

animal, e se foi atrás dele.

Isso contrariando o apelo que eu fazia através

de acenos com meu chapéu, para que não mais

Page 42: História de um Herói

83

fizesse aquilo, pois o gado estava sendo

controlado, nada disso adiantou.

O gado novamente entrou em desespero, e eu

continuei, tentando acalma-los naquela vazante

maravilhosa. Quando novamente o gado começa

a diminuir a velocidade, dando sinais deque ia

parar. Surge outro peão, e repete a covardia.

Eu desesperado, porém obstinado a segurar o

gado, e agora extremamente abalado, cruzando

a estrada que ligava a Fazenda Curtinho com a

fazenda Sanga Soró sabia que o gado ia

atravessar um carandazal ralo, e ia chegar à beira

do arame, que sem duvida é um bom aliado para

ajudar a segurar os mesmos.

Nessas alturas eu já vinha desesperado em

prantos,

Agora uma grande surpresa, um lote de gado

ainda maior próximo ao arame. Na hora mudei a

direção do meu cavalo para contorna-lo e fazer

apenas um lote. Agora a ideia era segura-los

todos na beira do arame.

Quando novamente surge outro, e repete a

covardia, empurrando todo o gado e meu sonho,

para mato.

84

Virei meu cavalo em direção à sede e desolado

segui sem falar com ninguém.

Agora relembrando o passado encontrei outro

indicio que reforça o que eu já sabia ficou mais

claro ainda, ou foi por má fé ou por

incompetência a qual não quiseram assumir a

grave falha, pois quando segui em direção a

sede, todos me seguiram.

Deixaram o enorme lote de gado em um capão

relativamente pequeno, que em media não

passava de cem metros de largura e, na ponta

que o gado entrou era vazante na outra ponta

era a cede do retiro, portanto limpa também, de

um lado era o aramado do outro era uma

estrada aberta com mais de vinte metros de

largura, nesse lugar havia sido cancha de corrida

de cavalo.

Portanto com todas essas facilidades para

continuar laçando, elas não foram o suficiente

para estimularem os. Eles preferiram voltar da

metade do percurso, seguiram atrás de mim

mesmo eu sendo apenas uma criança sem

nenhum poder de decisão.

Lá chegando imediatamente contei ao meu pai

na frente de todos.

Page 43: História de um Herói

85

Um deles disse ele está inventando isso porque

não conseguiu pegar nada. Os demais

murmuraram em favor dele.

Tamanha cara de pau deles, pois o único que

não estava presente no dia anterior quando

lassei o touro era o Pedrinho. Meu pai deve ter

engolido seco, porém, simplesmente, não disse

nada, com certeza, sabia da intenção de alguns

deles.

Aí, eles falaram também, que havia um boi do

meu Pai, palanqueado na beira do arame, divisa

com o Retiro Paraguai, e o mesmo não tinha sido

pego pela nossa turma. Sei que meu pai não foi

naquele dia, provavelmente tinha certeza que

era uma emboscada. No dia seguinte quando

foram ver o boi, já não tinha mais nada no local.

É quase certo, que aquela foi mais uma desculpa,

para mata-lo.

Dizia meu Pai. Quem trabalha

muito não tem tempo de ganhar dinheiro.

86

Page 44: História de um Herói

87

MUDANÇA PARA NOSSA PROPRIEDADE.

FAZENDA NOVA ESPERANÇA

A responsabilidade da fazenda foi repassada, e o

gado que já estava ligeiro, ficou bagual

rapidamente. Lá voltei, algumas vezes, sempre

que ia ajudar na bagualeada eu conseguia pegar

um lote do nosso gado. Foi indo assim até que,

após um acidente, e alguns incidentes meu pai

desistiu de tudo.

Agora, estávamos a salvo, porém a mamata de

andar a cavalo no campo, havia acabado. Lá pra

cada semana de campo, trabalhávamos em

média um dia a pé com ferramenta, talvez

menos. Aqui era o contrário. Foi aqui também

que vi e ouvi meu pai chorar, pela única vez.

Foi assim que chegamos, na Fazenda nova

esperança, nossa propriedade. Saí para recorrer

à invernada, já era de tardezinha, quando

cheguei, no fundo dela, lá chegando encontrei a

comitiva do Dr. Francisco Gomes Bezerra, nosso

88

ótimo vizinho, que tinha como gerente, o SR.

Juvêncio Farias, estava trabalhando o gado deles,

e eu já cheguei ajudando-os, até quando

paramos o serviço, por não poder mais enxergar,

pois já estava escuro.

SR. Juvêncio, por sua vez, convidou-me para

dormir na fazenda Loma. Alegou que além de

estar escuro, também não tinha estrada, disse-

me vamos com nós, insistiu, você não conhece o

campo e pode se perder. Disse amanhã cedinho

agente volta, quando seu pai estiver encostando

ao rancho você também vai tá chegando. Diante

dessa teoria perfeita, resolvi então a fazer aquilo

que era mais cômodo, e conveniente para mim,

ia comer uma comida diferente sem contar a

agradável companhia dos novos companheiros.

Só que na pratica, não foi bem assim que

ocorreu. Sr. Miguel, empregado da nossa

fazenda, quando viu que já era quase meia noite,

e nada de eu chegar, deixou sua esposa, pegou a

bicicleta, e partiu para Porto Murtinho, ao

encontro do meu Pai.

Lá chegando, por volta das três horas da manhã,

meu Pai já estava em pé fez o comunicado,

colocou a bicicleta na camioneta Aeroilis, e

Page 45: História de um Herói

89

voltou com meu pai. Assim que chegaram, meu

pai puxou o cavalo que estava na soga. Pois

ainda não tínhamos feito prasôleta. Jogou o

apero em cima e saiu, a me procurar.

Quando clareou o dia, estávamos chegando à

divisa, quando avistei meu pai que chegava

também. Disse-me alguma coisa, tipo você esta

vivo! Meu filho. E disse para o SR. Juvêncio

Farias, agora eu vou chorar, seu Juvêncio disse

pode chorar! Chorou como uma criança, durante

cinco minutos aproximadamente, chorava

incontrolada mente soluçava.

Na época eu fiquei com vergonha, eu havia

aprendido que homem não chorava, eu não

chorava bom, pelo menos na frente dos outros.

Hoje choro toda vez que me lembro disso, e de

muitas outras e choro, na frente de qualquer um.

Emociono-me e choro até quando assisto

noticiário ou novelas.

Aqui coitado de mim que nunca morri de amores

por ferramenta. Na nova marada, não tinha

nada além do campo totalmente virgem e sem

nada de benfeitorias.

90

Teríamos que construir tudo, inclusive limpar o

lugar para fazer o rancho.

Soltamos o gado na invernada, fizemos o

ranchinho no meio do mato.

Afiamos as foices, pá e machado, e partimos

para o ataque, trabalhávamos até a exaustão.

Acabaram-se as campeiradas, acabou a alegria.

MEU PENSAMENTO VOLTANDO A FAZENDA

CARANDA DE GALHO

Saudade das poucas vezes que emparelhávamos

quatro cavaleiros e arrancávamos na mesma

direção para trompar de frente um toro erado

Page 46: História de um Herói

91

que quando saia o gado ele ficava acampado no

centro do mangueiro.

Lembro-me de uma vez que estávamos

trabalhando o gado na fazenda Curtinho, um

touro chifre ponta aguda arrancou e deu uma

chifrada na cocha de outro que saiu a ponta do

chifre lá na anca do animal.

Meu Pai imediatamente ordenou que

retirássemos os cavalos e que ficassem apenas

dois ou três cavaleiros para laçar o touro.

Surpreendentemente ninguém quis ficar do lado

de dentro para laça-lo, eu com uns dez anos de

idade nem se quer me atrevi em pedir para laçar,

pois se me atrevesse certamente tomaria no

mínimo uma puteada muito grande.

Pois meu Pai disse, se vocês não são homem

para fazer isso deixa que um faço. Saltou no

cavalo e disse abra a porteira que estou

entrando, entrou e já mandou a corda no bruto,

quando ele estava bravo não errava laçada

mesmo, só ai apareceu gente para ajuda-lo a

derrubar para cortar o chifre do baita.

92

VOLTANDO A REALIDADE FAZENDA NOVA

ESPERANÇA

Meu Pai vinha à fazenda quase todos os dias

porem a noite dormia na cidade, eu só ia à

cidade aos sábados à noite e voltava nas

segundas de madrugada.

Agora aos poucos eu vinha percebendo que na

Carandá de Galho eu era feliz. Aqui na maioria

das vezes, começávamos a trabalhar no clarear

do dia, porém trabalhávamos até a exaustão.

Quase sempre, eu era quem cozinhava,

enquanto os companheiros começavam, a

trabalhar ali por perto, eu preparava o arroz

carreteiro, que era muito rápido, pois o fogo era

sempre grande e a água, que havia sobrado do

chimarrão, já estava bem quente, era só cortar o

charque, lavar, e jogar na panela, o arroz vinha

logo a seguir, pois não tínhamos tempo a perder.

Quando aprontava eu gritava aos companheiros,

comíamos e íamos para o trabalho,

normalmente esta segunda etapa, era mais

distante. O serviço mais próximo da casa, era pra

ser feito antes do tira jejum.

Page 47: História de um Herói

93

Normalmente trabalhávamos nessa segunda

etapa, sempre competindo para ver quem é que

roçava mais rápido.

Só levantávamos a cabeça quando já estávamos

tontos vendo que já íamos desmaiar.

Quando era por volta de onze horas, eu ia

primeiro, para fazer o boião, sempre eu ia

tremendo, com medo de desmaiar sentindo uma

fraqueza terrível.

A comida era sempre muito simples, era feita em

apenas uma panela grande, ali era o arroz com

carne, e raríssimas vezes colocava, uns fiapos de

macarrão. Nunca tinha outro tempero, era só sal

de gado, apesar de eu gostar de feijão, lá nunca

era servido.

Quando era mais ou menos onze e quarenta e

cinco, eles também chegavam, acredito que nas

mesmas condições, ou seja, já pra desmaiar,

porem ninguém ousava admitir a fraqueza.

Passavam uma água nas mãos, quando

passavam. Do contrario iam direto pegar os

pratos.

94

Após o almoço, ficavamos de vinte a trinta

minutos se abanando, espantando, lambe olho e

cara bossa, pois não tínhamos energia elétrica,

eu ligava o radio a pilha, na AM na tentativa de

ouvir pelo menos parte de uma musica, da radio

difusora de Aquidauana.

É incrível, mas nunca conseguia ouvir uma

musica inteira, normalmente fugia a vós e eu

virava o radio de um lado para o outro na

tentativa, de conseguir ouvir pelo menos um

pedacinho. Quase sempre inútil, só se ouvia

descargas.

Agora novamente de volta ao serviço. Com uma

vantagem, o por do sol era uma hora sagrada

para meu pai, portanto, deveríamos parar o

serviço braçal, antes do sol se pôr, com isso, se

nos estivesse perto de casa, poderíamos chegar

ainda de dia claro.

Isso não impedia de ficarmos até mais tarde,

juntando madeiras, troncos de arvore para jogar

na fogueira, que nessa altura alguém já havia

acendido essa era a maneira mais pratica para

fazer a limpeza, após a derrubada das arvores

junta-las e tocar fogo, isso era feito após a

entrada do sol.

Page 48: História de um Herói

95

A INJUSTIÇA

Teve uma época em que, trabalhávamos entre

três pessoas, era Everaldo Amarilha, Mendes

Alves e eu, Rosalvo Godoy leite. Trabalhamos por

longo tempo juntos, no mesmo bati dão que

anteriormente, mencionei.

Certo dia o Mendes que se achava, superior

como todo funcionário que sai de uma fazenda e

é aceito de volta, se achou no direito, de fazer o

Everaldo Amarilha pedir a conta. Decidiu que a

96

partir do dia seguinte, iriamos, começar a roçar

num local mais afastado da casa, Começou então

a levantar uma hora da manhã, tirava leite, pois

ele era o leiteiro. Acordava-nos, tomávamos

mate fazíamos a comida comíamos e saía para o

trabalho.

Lá, teríamos que esperar clarear o dia para

começar a roçar. Mais ou menos vinte dias, o

Everaldo disse-me, ele tá querendo que eu vá

embora, não fala mais comigo, não aguento essa

situação.

Falou-me, também, não é pelo serviço, esse

servicinho, eu o aguento anos a fio. Disse-me, se

assim ele quer é assim, que vai ser, disse

também vou embora, pra mim não falta serviço.

Pediu a conta, para meu Pai, e partiu.

GRANDE EVERALDO AMARILHA, hoje me sinto

envergonhado por não ter, intercedido, em seu

favor. Sei que, se você não foi o melhor, mais

trabalhador, pelo menos foi o segundo, entre as

centenas de funcionários. O primeiro foi o

Mendes que na sua época ele já não estava mais

aguentando, e para não perder o posto, resolveu

te retirar dessa forma antidesportiva.

Page 49: História de um Herói

97

Lembro-me de certa vez que Everaldo Amarilha

colocou um mourão de aproximadamente cem

quilos no ombro, passou numa marcha meia

corrida pelo meu Pai que seguia na mesma

direção, desafiando-o para correr uma carreira.

Hoje percebo, que apesar de o Mendes ser um

desumano para aguentar serviços, ele sabia que

não ia aguentar com o Everaldo, essa foi à única

razão da pressão psicológica que exerceu contra

ele, pois não tinha outro motivo para pressionar

um companheiro tão bom e trabalhador como

era o Everaldo Amarilha.

O pior de tudo, é que pra mim a maior parte

dessa trabalheira cruel e desumana que éramos

submetidos. Por nossa conta e risco, sem a

menor exigência do meu pai, era uma

brincadeira masoquista, que ficamos viciados e

competíamos entre nós.

Apesar de toda aquela trabalheira. Não foi um

bom investimento, hoje percebo que pelo menos

na parte da roçada, tudo bem que quando

98

roçávamos e plantávamos o gado comia, porém,

logo estava sujo novamente.

Por mal dos pecados, com essas roçadas e

derrubadas, acabamos com a mata ciliar, e

consequentemente, com o córrego da fazenda.

Só agora após muito tempo é que o córrego

começou a dar sinal de vida.

É impressionante, como a gente cria resistência

quando desafia os próprios limites até a

exaustão. Exaustão que me refiro, não é

trabalhar um pouco a mais, é sim fazer esforço

extremo ao ponto de quando o cérebro enviar

ordem para pegar no pesado os nervos

repuxarem fazendo com que os músculos todos

tremem de forma incontrolável e assustadora, só

de receber o comando, antes mesmo de pegar

no pesado.

Page 50: História de um Herói

99

DESMAMANDO

Naquela época, final de 1979, eu tinha dezoito

bezerros, e uma novilha, sendo quatorze

bezerros que recebi de renda, das setenta vacas,

que meu Pai, havia entregado para mim,

referente, a duas vacas, que recebi quando, nasci

uma delas ganhei do meu padrinho Epaminondas

Rodrigues.

A outra ganhei de um jovem, que infelizmente

faleceu ainda muito novo, Morreu numa disputa

de bola militar, quando servia o exercito, ele

atendia pelo nome de Henrique Aristimunha.

Portanto dezenove anos após, recebi setenta

vacas. Parece muito, porém, se você pegar duas

vacas arrendada, e invés de entregar os bezerros

de renda todo ano, você não entrega-los e assim,

deixar remontando, no final vai dever, mais ou

menos essa quantidade. O calculo para

arrendamento de gado na época era 20%.

100100

Agora se você tiver campo para criar, e ficar esse

mesmo tempo sem vender, provavelmente vai

ter acumulado três ou quatro vez essa quantia.

Com relação os outros cinco animais, que

completava os dezenove, foram frutos de

trabalho, do ano anterior, quando eu tinha

hortaliças.

Resolvi então novamente, tentar a vida na

cidade. Foi quando vendi meus dezenove

animais. Comprei uma maquina sorveteira que

também fabricava picolés, e outros

equipamentos para tocar uma fabrica de picolés.

Comprei também, uma moto TT 125.

Ocorreu que a maquina sorveteira que comprei,

demorou muito para ser entregue, nesse período

de espera, acabei ficando sem dinheiro, e por

volta de meio dia, passei em frente à casa do

meu Pai na cidade, e coincidentemente, vi-o

chegando e entrando com seu carro na garagem.

Na época ele morava na fazenda.

Foi quando cheguei junto também, e pedindo

sua benção, e sendo abençoado. Disse-lhe, Pai

da pro senhor me arrumar, X. Ele disse-me,

dinheiro pra dá pra vagabundo, eu não tenho,

mas, se você estiver passando fome, e tiver

Page 51: História de um Herói

101101

coragem para trabalhar, pode ir trabalhar na

minha fazenda que te dou de comer. Eu muito

envergonhado com aquela situação disse-lhe,

obrigado Pai, desculpe-me pelo incomodo, sem

saber oque dizer a mais, pedi licença e fui saindo

como se nada tivesse acontecido.

Imaginem leitores, eu que fui educado como

adulto, desde que me senti por gente, foi assim e

com raríssimas exceções, que fizeram a me sentir

criança.

Meu relacionamento com ele continuou o

mesmo, eu sempre o ajudando em tudo que me

pedia. Porém ficou tentando me dar dinheiro ou

qualquer outra coisa, que achava que eu poderia

aceitar. Porém, eu que tive um bom mestre, e

praticamente tudo que aprendi foi com ele.

Fiquei dezenove anos sem aceitar absolutamente

nada dele. Exceto almoço quando estava

trabalhando com ele ou em dias de festas.

Fui tão radical com meu Pai, Tratando se de

aceitar ajuda que certa vez eu mesmo vendi pra

ele a já dita fabrica de picolés que eu tinha.

102102

Vendi com bastante estoque assim como papel

para picolé, palitos, sabor etc. Pois o mesmo

comprou e cedeu para uma de minhas irmãs

explorar.

Ocorre que esta irmã que me refiro. Até esta

data não conseguiu levar nada a diante, mesmo

sendo algo muito produtivo, como é a indústria

de picolé, poucos dias após o inicio, já largou

mão de tudo. O maquinário e o estoque ficaram

praticamente intactos.

Pouco tempo depois, comprei outra sorveteria,

que também era fabrica de picolés, meu Pai

sempre no meu pé, querendo que eu pegasse o

estoque que eu mesmo havia vendido. Ele queria

que eu pegasse de graça, pois se eu não

ocupasse aquilo, tudo ia se perder, como se

perdeu tudo.

Nunca peguei um papel de picolé se quer. Nunca

peguei nada, aquilo ficou muitos anos estocados.

Maquinários, carrinho para vender picolés,

formas, etc. Ficou tudo deteriorando. Eu muitas

vezes precisando, mas nunca dei o braço a

torcer.

No final da década de oitenta, ele vendeu uma

parte da fazenda. Ficou com um crédito,

Page 52: História de um Herói

103103

equivalente a oitenta bois, para receber em

compras, de um supermercado, da cidade. Disse-

me. Filho tem o equivalente a oitenta bois, para

comprar, no supermercado Tamoio, não vou

conseguir comer, praticamente nada disso.

Portanto, não quero que você, gaste nenhum

centavo em compras, completou, compre tudo

que quiser, na minha conta.

Fiquei feliz e muito agradecido, porém nunca

comprei na conta dele se quer uma caixa de

fosforo. Assim como ele mesmo havia me

ensinado, sou um homem sadio e não preciso de

ajuda. Só um esclarecimento, o dinheiro que eu

havia pedido, era o equivalente, a um prato feito

ou um PF como acostumam dizer, foi na primeira

e única vez que pedi, nunca existiu uma segunda

vez.

Não tenho um pingo, de magoa do meu Pai, ao

contrario, tenho orgulho, acho que essas

atitudes, e ensinamentos, demostra o GRANDE

Homem que foi. Oque me dói, é imaginar que

aquele GRANDE Homem, deve ter voltado a sua

fazenda, em prantos, pois sei o quanto e difícil

ser duro com um filho, porem, com alguns filhos

isso é necessário.

104104

Muitas vezes, me pego pensando que fui muito

duro para com ele, por ter ficado dezoito anos,

sem aceitar absolutamente nada, que tanto

queria oferecer-me. Porem me tranquiliza

quando me lembro de o que uma de minhas

irmãs, disse-me. Nós não temos culpa de agirmos

assim, foi ele que nos ensinou.

Após esse ensinamento, continuei sendo

convidado pôr ele, algumas vezes, a ir, fazer

batidas na fazenda após a meia noite, na

tentativa de evitar roubo de gado. Sempre íamos

apenas nós dois. Nunca deixei de ir, largava tudo

que era de meu interesse, para dedicar-me

integralmente, ao interesse dele.

Uma vez, ocorreu um episódio bizarro. Meu pai

tinha convicção que naquele dia, os ladrões

bateriam na nossa fazenda, e achava que seria

vário deles, porém de uma única quadrilha. A

mais temida da região.

Nós estávamos nos preparando para sair, meu

Pai preocupado, com a quantidade de ladrões, e

apenas ele e eu para combatê-los. Meu Pai

ordenou o fulano, se referindo ao chefe, esse

você deixa comigo. Eu é que o quero, esse é

meu disse ele.

Page 53: História de um Herói

105105

Foi aí que meu Pai teve uma ideia, perguntou-

me, será que fulano de tal, puxa o gatilho se

preciso for? Se referindo a um amigo nosso, Eu

respondi, com toda a certeza.

Convidamos, ele aceitou na hora. Por sua vez

adentrou a própria casa, para os preparativos,

Quando de repente, por volta de uma hora da

manhã o telefone tocou, ele atendeu e chamou

meu Pai dizendo, dona Maria quer falar com o

senhor. Quando meu Pai atendeu, outra

surpresa era minha mãe mesmo, preocupada.

Ela indagou. Oque que vocês vão fazer? Meu Pai

disse nada de mais, minha Mãe como nada, too

sabendo que vocês vão matar o Fulano, meu Pai

indagou, quem disse isso? Minha mãe, o

beltrano acabou de me ligar, falando que não era

pra eu me preocupar, pois vocês só iriam mata-lo

e já voltariam. Disse ainda, como posso não me

preocupar.

“O beltrano era o amigo que acabara de ser

convidado, já ligou informando”.

Com isso, Meu Pai voltou, contou-me e disse,

tudo que podemos fazer agora é ir recorrer, não

podemos fazer nada, além disso.

106106

Por sorte recorremos tudo e nada encontramos.

Naquele dia o local escolhido, por eles,

provavelmente, deve ter sido outro.

A princípio, achei que nosso amigo havia errado

em comentar. Porém agora, pensando melhor,

vejo que se tivéssemos matado aqueles

bandidos, com toda a certeza, iriam descobrir

imediatamente, veja bem, o cara era influente.

Se morresse, na nossa propriedade, roubando

nosso gado, quem seriam os autores? Estava na

cara, que seriamos nós.

Como vocês podem ver, quando era para

defender seu patrimônio, ele criava expectativa,

e as tornava tão real, que pra ele a batalha já

havia começado. Quando na verdade, o alvo dos

ladrões nem sempre, era a nossa fazenda.

Certa vez meu Pai minha Mãe e eu, estávamos

passando o domingo na fazenda deles. Eu

comentei com ele sobre as ansiedades que tinha.

Disse a ele que toque de telefone assim como,

quando batiam na porta de minha casa, isso me

apavorava. Quando isso ocorria, só faltava eu

Page 54: História de um Herói

107107

sair correndo pelado do banheiro, para atender a

porta. (na época campainha era coisa de gente

rica, nos estávamos distante desse alto luxo).

Meu Pai disse-me, filho larga mão disso, meta na

sua cabeça o que vou te dizer. Quando batem à

porta da casa da gente é só para incomodar, e

continuou, é gente querendo pedir algo

emprestado, é pra pedir dinheiro, pra pedir que

você saia de fiador, pedir seu carro emprestado,

completou larga mão de se apavorar com isso,

trate de começar a se policiar.

Disse-me você acha que se alguém encontrar

um pacote contendo dinheiro vai bater na porta

de sua casa pra perguntar se foi você que

perdeu? Isso é bem pouco provável, disse ele.

No dia seguinte, na segunda feira bem cedinho,

bateram á porta de minha casa, no vaco da

batida eu voei na porta do meu quarto, ao levar

a mão à fechadura, lembrei o conselho do meu

Pai.

Respirei fundo e mudei o rumo, agora fui ao

banheiro fazer tudo sem a menor pressa

possível, um relaxamento de aproximadamente

trinta minutos, as batidas não paravam.

108108

Quando saí do banheiro, eu casado na época,

tentando controlar a ansiedade, dei uma olhada

na esposa e resolvi dar uma, pra ajudar controlar

o stress, e mais uma, algum tempo depois, uma

trégua de uns trinta minutos nas batidas, voltei

ao chuveiro para aquela ducha sem pressa, as

batidas recomeçaram agora muito mais

violentas, ao ponto de eu achar que a porta da

velha casa não resistiria.

Eu pensando esse é um bom teste, tenho que

controlar a ansiedade é agora, esquecer que isso

esta ocorrendo. Vestir-me e fazer tudo que

tenho que fazer o mais lento possível. Foi assim

que fiz.

Aproximadamente duas horas mais ou menos,

abri a porta que balançava com as batidas.

Imaginem a minha surpresa. Era o meu

respeitadíssimo e "temido" PAI, estava sentado

na calçada, com as costas, encostada em uma

das folhas da porta.

Quando percebi que era ele, com toda certeza

entrei em pânico. Disse-lhe, me perdoa Pai, eu

pulei na primeira batida, mas lembrei do seu

conselho.

Page 55: História de um Herói

109109

Meu Pai saltou fora da calçada, com aquele baita

pedaço de pau, boleando em sua mão disse-me

gritando oque eu te falei é verdade, se aqui

estou e porque quero um carro emprestado, se

vai me emprestar você fala do contrario já vou

embora. Eu desesperado, disse claro pai, pode

pegar. Aí ele um pouquinho menos stress ado,

disse-me eu ainda estava batendo, porque achei

que você tinha morrido meu filho, já fui lá à tua

sorveteria, bati muito lá também, foi lá que achei

este pau.

Passando a mão nos dedos da outra mão disse-

me, os dedos já não davam mais, estão todos

doloridos.

Outra passagem que não me esqueço, é quando

cheguei à varanda da casa dos meus Pais, em

Porto Murtinho, onde ele e minha Mãe estavam

sentados e meu Pai disse-me, estou vendendo,

quinhentos hectares parte de nossa fazenda meu

filho. Minha Mãe por sua vez num tom agressivo,

disse com vós clara e firme, eu não assino a

escritura, não assino nada.

110110

Eu que por covardia, não sei aumentar meu tom

de vós quando necessário. Naquele momento

me surpreendi com minha atitude. Com vós

firme e superior a dela, disse-lhe, nem fala uma

coisa dessa Mãe! Repeti nem fala isso! Eu disse

a ela, o Pai é um Homem honrado, que sempre

trabalhou em prol da família, agora a senhora vai

fazer o homem passar vergonha. Ela

imediatamente, com uma vós serena disse,

então eu assino, eu assino.

Senhores leitores, meu Pai nessa época estava

praticamente quebrado.

Na fazenda só tinha umas leite rinhas, e tinha

também, uma mixaria de gado arrendado. Tinha

dois corcéis velhos, um deles servia apenas para

retirar peças, o melhor também, já estava na

ânsia da morte.

Page 56: História de um Herói

111111

DUAS GRANDES TACADAS E UMA VEZ, SALVO

PELO GONGO.

A primeira grande tacada do meu Pai, que tenho

conhecimento, foi no ano de 1972, quando,

comprou a fazenda Nova Esperança, contendo

mil e duzentos hectares, pagando o equivalente

a duzentos e quarenta garrotes.

Portanto, fez um grande negocio. Apesar de

tudo, o Horácio, Pôtô, e Xadigue, que eu havia

mencionado anteriormente, acabaram

contribuindo para tal fato. Portanto, para sermos

justos, devemos gratidão a eles.

A segunda foi no ano de 1990 quando vendeu

apenas quinhentos e dois hectares, da gleba

acima referida.

112112

Pelo valor equivalente a mil e quinhentas vacas,

contando com carro dinheiro e o valor em bois

para ser comprado no Supermercado Tamoio.

Page 57: História de um Herói

113113

SALVO PELO GONGO

Foi salvo pelo gongo, quando ficou louco por

uma fazenda na estrada da cachoeira, a qual não

me recordo o nome. Ele Estava disposto a dar

praticamente todo o gado que tinha, como sinal

de negócio.

Ficaria devendo por volta de mil vacas, as quais

ficariam arrendadas, e estas ficariam vinculadas

a escritura. Caso não fosse cumprido os prazos.

O promitente comprador perderia o direito na

fazenda assim como, o valor já acertado.

Nesta empreitada, fiquei por volta de trinta dias,

telefonando para meu Pai, em todas as

madrugadas, pois na época eu morava em

Campo Grande, e não existia celular.

114114

Todos os dias eu fazia a mesma pergunta ao meu

Pai, eu indagava, como é que o senhor vai pagar

duzentos bezerros de renda por ano? Sendo que

o senhor, vai ficar sem nenhuma vaca para parir.

Parece-me que meu Pai estava tão apaixonado

pela fazenda, que seu cérebro, categoricamente,

se recusava entender, o que estava diante dos

olhos dele.

No final, meu Pai já não queria mais me ouvir,

dizia que iria fazer o negócio, que não adiantava

mais eu ligar, porém no dia seguinte, eu

encontrava força não sei de onde, e novamente,

telefonava, e desesperado implorava ao meu Pai.

Um belo dia, quando buscava forças para

novamente ligar.

Fui surpreendido com um telefonema dele, que

me dizia obrigado, obrigado, obrigado meu filho,

você salvou nosso patrimônio. Obrigado meu

filho, obrigado. Disse eu estava louco meu filho

obrigado. Disse ele, eu já dei dezessete vacas,

porém, fico feliz em perder apenas essas. Ele

complementou dizendo, eu ia ficar sem nada.

Page 58: História de um Herói

115115

Nos meados de 1998, eu cometi um homicídio,

contra um individuo que vinha me insultando a

mais de vinte anos.

Fui à casa de meu Pai, para esperar um

advogado, e com ele me apresentar. Quando

meu Pai chegou da fazenda, já sabia do desfeche,

e me disse, ele morreu filho! Eu respondi, era pra

morrer mesmo meu Pai. Ele disse então, era eu

que queria mata ele. Só que eu queria passar o

carro por cima. Eu disse que bom que o senhor

não fez isso Pai.

Dois dias após o episódio, meu Pai entrou no

quarto onde eu me encontrava, e disse-me,

Filho, sei os motivos que te levou a matar aquele

cara e já te falei, eu é que queria mata-lo. E

como não consegui.

“Ele pensava que sabia, não contei nada a ele,

porém, os motivos eram muito mais graves que

ele pudesse imaginar.”

Aí ele implorou, disse-me, por favor, filho, me

deixe participar, quero pagar toda a despesa.

Disse já dei dinheiro para o Dr. Umberto, ele vai

contratar o melhor advogado de Campo Grande,

continuou dizendo, você só vai depor, e vai ser

levado para o melhor hotel da cidade, é lá que

116116

você vai ficar com sua mulher. Disse mais, não

quero que você pegue se quer um dia de cadeia.

Aí eu repeti, Pai, pelo que eu passei só oque me

interessa é a absolvição por sete votos a zero.

Isso é oque mereço, porém já vivi minha vida e

estou preparado para puxar dezessete anos sem

ver o sol. Repeti, estou preparado Pai, acredite

nisso.

As coisas saíram bem diferentes me apresentei e

lá fiquei aguardando o julgamento no sistema

fechado.

Poucos dias antes do meu julgamento, fui

informado que seria defendido por um advogado

muito caro. Tentei argumentar no sentido deque

advogado caro só serviria se fosse para comprar

o juiz.

Isso eu não admitia, mesmo que fosse para eu,

ficar o resto de minha vida na cadeia. Nada disso

adiantou, nessas alturas já não me pedia mais, só

determinava que eu assinasse, ainda contratou

mais um advogadinho esse da pior espécie, sem

vergonha, que o chantageava, dizia para meu

Pai, que caso eu resolvesse dispensa-lo, ele iria

interceder com o juiz, para eu apodrecer na

cadeia.

Page 59: História de um Herói

117117

A proposito, esse advogado marginal que me

refiro era genro do homem que junto com ele,

levou as dezessete vacas do meu Pai, na

promessa de negociar a fazenda. Imaginem com

quem meu Pai estava se metendo.

Eu estava mesmo, muito bem preparado, tanto é

que mesmo quando o juizinho mandou colocar-

me, como boi de piranha, junto com meus piores

inimigos.

Marginais estes que além de ter roubado gado

da nossa propriedade. Eram autores de vários

homicídios, e tentativas. Entre as vitimas,

estavam autoridades, como cabo e soldado da

policia militar, um oficial de justiça, um

pecuarista, e até um oficial do exercito

Paraguaio. Mesmo assim nem se quer mandei

avisar meu Pai.

118118

TRANSFERENCIA

Quando fui levado para Campo Grande, MS.

Cheguei num lugar chamado de corró, na

penitenciária de segurança máxima, pensei

comigo aqui é o fundo do posso.

Page 60: História de um Herói

119119

Mesmo assim, ainda senti certa paz, tive certeza

que não tinha mais onde cair.

Imaginem aproximadamente sessenta homens,

muitos deles, se drogando, alguns exibindo arma

branca outros extorquindo. O assunto que

predominava era sobre assassinato, assalto,

roubo e extorsão.

A dependência que fui amontoada, mais parecia

com deposito de lixo.

Apenas uma saída de agua da parede, e um

buraco onde acocávamos para defecar. Mesmo

assim, sempre que conseguia falar com alguém

da minha família, eu dizia aqui tá muito bom,

aqui é o paraíso. Estou feliz aqui, não se

preocupem comigo.

Senhores leitores, tudo que sei, aprendi com

meu Pai, não aprendi a reclamar, não sei se foi

pelo serviço excessivamente duro que encarei

dês de criança, se é pelo excesso de

responsabilidade que me foi imposta muito

cedo, ou simplesmente ele se esqueceu de me

ensinar a reclamar.

Vou voltar um pouco antes do referido

homicídio.

120120

Na segunda quinzena do mês de fevereiro, de mil

novecentos noventa e oito. Cheguei à fazenda do

meu Pai. Fiquei impressionado com que ele me

mostrou.

Convidou-me para juntos irmos até uma casa

desabitada, na época, mandou que eu retirasse

uma pilha de pneus velhos, que estavam em um

dos cômodos da casa.

Já era no finalzinho da tarde, o quarto escuro,

sem nenhuma iluminação, mandou-me que eu

procurasse um buraco que por ali havia. Quando

o encontrei, Determinou que eu enfiasse meu

braço buraco adentra, até encontrar um saco de

estopa. Determinou que eu tirasse o saco para

fora. Mandou que eu abrisse o mesmo, acredite,

o saco estava com dez mil reais.

Disse-me caso aconteça alguma coisa comigo,

esse dinheiro é pra você, e o Carlos, o Carlos que

se referiu é meu irmão, continuou, ainda não

falei pra ele, que é pra dividir com você, ainda

vou falar, caso não de tempo. Só de você contar

que sabia do lugar ele vai acreditar. Eu disse

muito obrigado Pai, mas deixe só para ele. Ele

repetiu, não, eu quero que você fique com a

metade. Eu por respeito me calei.

Page 61: História de um Herói

121121

Quando meu pai faleceu, nem se quer liguei

para meu irmão. Eu havia dito para meu Pai, que

não queria, portanto, não seria justo, após o

falecimento, eu mudar de ideia.

RECORDAÇÃO

Quando eu era criança, meu pai sempre me dizia

o seguinte: Sempre trabalhei muito já passei

muita vergonha, quando enchia meu arreio de

bolças e sacos e eu tinha que vim sentado lá nas

alturas a cima da carga.

Isso pra mim que na época era novo, era muito

constrangedor, dizia ele. Seguro com unhas e

dentes o máximo possível, porque quando

122122

minhas filhas crescerem, eu não quero vê-las

recebendo namorando em rancho de bacuri.

Dizia que a responsabilidade dele para com as

filhas era até o casamento de cada uma delas,

após isso a responsabilidade passaria ao marido,

das mesmas. Já com os filhos Homens ele

pensava diferente, achava que a

responsabilidade dele, para com os filhos, era a

vida toda, pois assim como achava que a

responsabilidade era dos maridos das filhas, para

com elas. Achava que no casamento dos filhos a

responsabilidade, era dos homens. Ele também

se achava na obrigação de responder, se preciso

fosse para defender uma nora.

Depois que as filhas estavam todas muito bem

casadas dizia para mim, imagine você, filho, se

eu não tivesse segurado.

Quem ia visitar minhas filhas, seria o fulano o

beltrano o sicrano, sempre mencionando os

nomes dos empregados. Normalmente daquele

mais pobrezinho.

O que meu pai mais falava, quando eu era

criança era sobre honestidade. Dizia meu filho,

nunca faça negócios com pessoas que você saiba

Page 62: História de um Herói

123123

que gosta do alheio. Agente precisa defender o

da gente, mas jamais mexer no alheio.

Falava outra coisa que não se faz, é comprar

gado, de País vizinho, dizia preste atenção,

nessas pessoas que fazem isso, o final delas é

sempre muito triste.

Ele fazia um teatrinho, que me comovia muito,

dizia o seguinte: Essas vacas que trazem do

Paraguai, normalmente vem berrando triiiiste,

querendo voltar, o condutor, vem bravo

espraguejaaando.

A maioria delas são vacas leiteiras, que foram

roubadas, e que deixaram o bezerrinho

berraaando de fome no chiqueirinho, nessas

alturas, as criancinhas também choram por falta

do alimento. No ranchinho quase caindo a vó,

que muitas vezes é uma viúva, já maldizendo e

espraguejannndo. Perguntava ele, como é que

uma pessoa que se envolve nisso, pode ser feliz?

Esse tipo de coisa é que eu ouvi, na minha

infância e juventude toda.

Ele era tão severo radical e obcecado pela

honestidade, que certa vez, emprestou um

dinheiro, para uma determinada pessoa, e o

124124

mesmo quando foi acertar, entregou uma vaca

como forma de pagamento, meu pai recebeu,

marcou e a soltou na invernada, e só depois

entrou numa que a vaca poderia ter sido fruto de

roubo. Como eu já havia dito a invernada na

Carandá era muito grande.

Acredite, meu pai bateu campo durante vários

dias, ele extremamente angustiado, até um dia

encontra-la. Matou a pobre vaca à bala, retirou a

marca dele e a deixou para os urubus comer.

Disse-me, meu filho, traia mal avida, não pode

se misturar a nossa. E muito menos servir de

alimento, para meus filhos.

Meu Pai dizia que quando estava com raiva, não

errava laçada e nem tiro. Tiro e não sei, Porem,

laçada, não me lembro de ter visto errar,

realmente ele laçava muito, quando estava

nervoso.

Page 63: História de um Herói

125125

O que contenta o homem é papo e rendi dura,

dizia ele.

Dizia ele, mulher puta e homem ladrão nunca

deixa da profissão.

Conheço rengo sentado e sego dormindo.

Algumas vezes, prefiro meus inimigos. Eles não

me dão prejuízos.

Meu Pai, quando sentia dor de dente, exigia que

arrancássemos os dentes dele, seja com

barbante ou com alicate comum, de uso do

serviço domestico, arrancávamos sem anestesia.

Dizia ele, estou pagando, os sofrenassos que

dava nos meus cavalos.

126126

Certa vez eu disse ao meu Pai, a gente só

aprende apanhando. Ele disse-me só se for você,

eu não preciso apanhar, quando vejo a barba do

vizinho pegar fogo, ponho a minha de molho.

Dois sentimentos que meu Pai levou com ele,

primeiro, com relação ao próprio pai, ele foi

incumbido de não deixa-lo sentar na cama, disse-

me que quando meu avo fazia força para

levantar, meu pai empurrava-o de volta na cama.

Disse-me que, uma das vezes que o empurrou,

meu avo, olhou firme pra ele, esse é o gesto, que

não conseguia esquecer, pois meu avo, já não

falava mais.

O segundo é com relação, a uma senhora que

cuidava de duas sobrinhas dele, a Sonia e a

Cleuza, ambas as filha do meu tio, alicio.

O pai delas, havia-as deixado, com uma jovem

senhora, que foi mulher dele, porém, não era

mãe legitima das meninas. Parece-me que

Page 64: História de um Herói

127127

quando meu tio arrumou outra mulher, pediu

para que meu pai, as trouxesse.

Meu pai foi, e mesmo constatando que a dita

mulher as amava muito, e as meninas eram

muito bem cuidadas, e não queria ir de jeito

algum, meu pai as pegou na marra, foi quando

uma delas deu uma violenta tapa no rosto dele,

mesmo assim ele as levou para meu tio.

Lembro-me, de uma das vezes que eu insistia,

para meu pai fazer determinado investimento.

Isso já na década de noventa, ele não queria, eu

insistia, ele relutava, até que em determinado

momento perguntou-me, o que vou fazer com o

dinheiro do lucro? Eu respondi, pegue o lucro e

vá fazer uma viagem, ele respondeu, cabei de

chegar de viagem, e tem mais, não gosto de

viajar, eu gosto mesmo e da minha fazenda. Eu

disse, então compre uma camionete nova, ele

respondeu, não quero caminhonete nova,

prefiro esse Gol, que tenho, ele é novo, pois com

ele não corro risco de assalto. Ninguém vai

querer rouba-lo.

Já uma caminhonete nova, lá na Fazenda, periga

atrair bandidos, não vou ter tranquilidade, para

128128

sair no campo e deixa-la sozinha na casa, disse

ele.

Eu sem argumento, diante do meu sábio e

querido Pai, disse, então, com o lucro, me de

uma camionete. Ele perguntou-me, você quer

mesmo? Eu respondi, não, de jeito nenhum. Eu

disse estou brincando, ele insistiu se você quiser

eu vou pegar o dinheiro, disse-me dinheiro pra

comprar uma caminhonete nova, tenho no cofre,

não preciso ir ao Banco. Tornou a insistir, disse

ele, sempre quis te dar uma caminhonete, você

que nunca quis. Eu disse como sempre dizia

muito obrigado Pai, prefiro eu mesmo

conquistar. Ainda vou comprar uma.

Hoje em dia, já compreendo, que aquilo que

você não consegue gastar.

O acumulo, o dinheiro que sobra além de te

levar preocupação, tem três serventias, são elas,

fazer inveja, comer prostitutas, e atrair

inescrupulosos de todos os tipos.

Eu como não gosto de nem uma delas não faço

questão nem uma de acumular patrimônio.

Page 65: História de um Herói

129129

Certa vez, passando pela cidade de Jardim,

encontrou com um homem que haviam servido o

Exercito juntos. O velho companheiro de farda

feliz e emocionado, pelo encontro após muitos

anos, disse-lhe, que prazer, encontra-lo

Andalécio, e disse, qualquer dia desses vou a

Porto Murtinho, e vou parar na sua casa! Meu

Pai por sua vez respondeu indignado, repetiu,

parar na minha casa! Nem eu, paro na minha

casa, disse ele, você vai querer parar. De jeito

nenhum.

Confesso isso eu ainda preciso aprender. Muitas

vezes não tenho coragem, de dizer oque sinto.

Meu Pai era firme, com todo mundo,

independente, do cargo que o oponente

ocupasse.

Certa vez, numa época que fazia muita seca, e

por consequência, estava difícil encontrar gado,

gordo na região, pois o digníssimo, Juiz de Direito

como eles gostam de ser chamado e o

representante do Ministério Publico, resolveram

comprar uma vaca gorda.

130130

Meu Pai era um dos poucos que tinha vaca

gorda, ali pertinho da cidade. Imagine numa

época só de vacas magras, as pessoas ver na

entrada da cidade aquelas vacas gorda, chamava

atenção de todo mundo.

Não foi diferente com as Autoridades, que

bateram na casa do meu Pai juntamente com um

respeitadíssimo senhor que por sua vez os

apresentou ao meu Pai, e a seguir disse que as

Autoridades queriam comprar uma de suas

vacas, meu Pai disse que as vacas não estavam à

venda, mas diante do apelo dele, e das

Autoridades, disse que venderia.

Foi junto, à chácara para definir qual das vacas

negociaria. Olharam e definiram a vaca e o valor,

Só aí, foram dizer que pagariam com cheque pré-

datado.

Meu Pai não vendia fiado, pra ninguém, com eles

não foi diferente. Disse que não fazia esse tipo

de negócio, que só vendia no dinheiro. O

respeitadíssimo senhor que os apresentou, disse,

como que você não vai vender pitito. Eles são

gente boa, e, além disso, é o Juiz e o Promotor

da cidade, e continuou dizendo, uma hora você

pode precisar deles. Meu Pai disse, eu não

Page 66: História de um Herói

131131

preciso dessa gente seu fulano, pra eu precisar

deles é só se alguém errar comigo, por que, eu,

não erro.

Meu Pai contava que quando era moço solteiro,

via todos fazer e vender rifa. Um dia resolveu

fazer uma também, quando chegou oferecer

para o primeiro, que por sinal era seu primo, o

mesmo disse vou comprar pra te ajudar,

comprou e marcou o prazo para o pagamento,

meu pai saiu dali incomodado, começou a pensar

e se sentiu muito humilhado com aquela frase,

questionou ele, comprar pra me ajudar! Sou um

homem sadio, Eu não sou aleijado, pra precisar

de ajuda. Rasgou o papel da rifa e nunca mais lá

voltou.

Certa vez ele disse-me, sua vó faleceu, deixou

fazenda, os irmãos da sua mãe venderam e

nunca entregaram a parte dela, não sei se ela

deu pra eles, ou se eles deram calote nela. Não

vou atrás de tralha de defunto, porém, eu queria

saber se eles deram o cano nela, disse! Sua mãe

não quer falar sobre isso!

132132

Infelizmente só muitos anos após a morte de

meu Pai eu tive a iniciativa de indagar minha

Mãe referente ao fato. Disse ela, eles nunca me

deram a parte referente à fazenda eu também

não fui atrás. Disse ela, ele é que tem obrigação

de me procurar. Não disse o nome eu também

não perguntei.

Quando me lembro da atitude do meu avo

materno Hipólito Godoy. Que após ter dividido

os bens materiais, com minha vó, quando se

separou. Descobriu que, a ganancia, a

mesquinheis de alguns de seus filhos e filhas do

primeiro casamento, não tinha limites.

Certo dia resolveu e assim o fez. Encilhou sua

mulinha, alazã, montou e disse: Estou indo

embora, se é isso que eles querem, podem ficar

com tudo, fiquem com minha fazenda, gado, e

toda a minha tropa cavalar.

Grande Homem que diante a tanta covardia de

alguns dos seus, preferiu abrir mão de tudo e ir

embora, com certeza, a vergonha o impedia de

questionar a própria família. Largou tudo e foi

trabalhar de peão. Isto, depois de ser um dos

homens mais rico da região. Para mim isso se

Page 67: História de um Herói

133133

chama integridade. Infelizmente só quem tem, e

que intende.

Meu pai morreu aos 71 anos de idade, sem se

aposentar, Não quis se aposentar, dizia ele, deixa

esse dinheirinho para repassarem a quem

precisa.

Meu Pai faleceu, dia 02 de outubro de 1999, aos

71 anos de idade, quando ia da fazenda dele,

para Porto Murtinho, MS. Ele estava dirigindo

um automóvel gol, de sua propriedade, quando

estava a um quilometro da cidade mais ou

menos, bateu de frente em uma caminhonete,

que trafegava na direção contraria.

Dizia meu Pai, seguro morreu de velho e

desconfiado ficou vivo.

134134

Dizia ele quem guarda o que não presta sempre

tem oque precisa. Tinha uma área na fazenda

que era cheia de cacareco.

Dizia ele, não tem bom sem defeito nem ruim

sem proveito dizia preste atenção, cavalo bom

fica no fundo da invernada, os ruis estão sempre

rodeando a casa, para ver se você não esta

precisando dele, precisou de cavalo o ruim está

ali pronto pra te servir.

Já dizia meu Pai “traia alheia chora o dono”.

Dizia a minha Mãe “Quando o Pai rouba o filho

come e o neto passa fome”.

Page 68: História de um Herói

135135

AGRADECIMENTO

Meu querido PAI eu sei que a INTELIGENCIA

UNIVESSAL é dinâmica, sei que o senhor

interfere na minha vida até hoje, sei também

que as melhores conquistas que tive após sua

mudança, tiveram sua participação direta. Muito

obrigado por nos ajudar e pelo senhor ter

acolhido e encaminhado meu sogro, tanto eu

como sua nora somos eternamente grato. Se

puder diga a ele que nós aqui nos orgulhamos

dele, e agradecemos a participação de vocês

naquele dia de aparente irresponsabilidade.

Se puderem fazê-los sem sacrifícios, por favor,

continuem, nos visitando e nos amparando aqui.

Se possível mostre nos como podemos fazer para

ampara-los aí. MUITO OBRIGADO meu PAI e meu

SOGRO. Nos vos amamos. 17/12/12

136

Page 69: História de um Herói

137

138

Page 70: História de um Herói

139

140