História de um Herói
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ROSALVO GODOY LEITE AUTOR DO VIDEO: Cagadas no
poder judiciário.
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BIOGRAFIA DE UM HERÓI
ANDALÉCIO MARTINS LEITE. É O NOME DELE
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OBRAS DO AUTOR
COLEIRA NO PATRÃO
CAIXA PRETA? OU CAIXA PODRE?
BIOGRAFIA DE UM HERÓI
4
TODAS AS OBRAS DO AUTOR
ESTÃO GRATUITAMENTE NO
GOOGLE.
DIGITE: Cagadas no poder judiciário.
COMESA COM UM VIDEO DE SETENTA
SEGUNDOS.
AUTOR: Rosalvo Godoy Leite
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Biografia de Andalécio
Martins Leite
Andalécio Martins Leite, filho de
Marcionilio Martins Leite Sobrinho, e de
Casturina Rodrigue Leite, ambos natural do Rio
Grande do Sul.
Andalécio, nascido dia, 22 de maio de 1928
na cidade de Caracol, que hoje pertence a Mato
Grosso do Sul, veio de uma família simples,
composta de nove irmãos, sendo apenas uma
mulher, ele foi o quinto filho, e aos quatorze
anos de idade já havia perdido o irmão mais
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velho e seu Pai. Como ele dizia teve que sair
cedo de casa, na luta pelo pucheiro. Ia de carreta
de Caracol a Porto Murtinho, buscar trigo. Na
época não havia ponte no Rio Perdido, às vezes,
ficava até oito dias esperando o rio baixar para
poder cruzar. Na viagem quando ia com um dos
patrões, só comiam tatú e jacu com farinha.
Quando trabalhou com outro patão
segundo ele, saia um arroz carreteiro muito
gostoso que era feito pelo patrão, porém o
patrão só comia quatro ou cinco colheradas e já
se levantava meu pai muito vergonhoso
levantava junto, e era jogado fora um mundo de
comida e ele viajava sempre com fome.
Serviu o Exercito Brasileiro na cavalaria, em Bela
Vista, MS. Quando recebeu a baixa. Partiu para
trabalhar em comitiva, transportando bois de
Mato Grosso, na época, para São Paulo. Na
primeira viagem que fez, segundo ele, era o peão
incomparavelmente, mais pobre da comitiva,
sentia vergonha, por não ter nada de conforto,
nem mesmo aquilo que era indispensável.
Na terceira viagem, já era conhecido como
peão folgado, além de ter de tudo, o alforje
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vinha cheio, de cigarro, isqueiro, laminas, balas,
pasta de dente, sabonete cachaça etc.
Não bebia e não fumava, porém, já sabia,
que peão quando saía da cidade, deixava todo o
dinheiro que tinha, com as prostitutas da zona.
Normalmente não compravam nem
mesmo o sabonete.
No primeiro dia de viagem, já ouvia as
reclamações: Esqueci-me de comprar sabonete!
Outro já dizia: Não comprei cigarro, e assim por
diante.
Ele já encostava, e dizia:- Eu tenho aí. Se o
condutor se responsabilizar, eu posso te vender
fiado.
Na hora já vendia cigarro isqueiro, salame,
bolachinha, pois além das prostitutas tirarem
todo o dinheiro que tinham ainda os soltava com
fome.
Durante a noite quando iam para o banho,
puxava uma garrafa de cachaça, levava o bico da
garrafa na boca se fazia que bebia e já dizia:- O
cachaça gossstosa! Já vinha um e dizia:- Dá um
trago.
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Ele repetia:- Dá um trago! Isso é pra vender
rapaz, e complementava:- É tanto o gole. O
companheiro já gritava o condutor, o senhor
garante? O condutor, por sua vez, dizia:-
garanto.
Meu pai, segurando na parte de baixo da
garrafa, dizia:- É um gole normal hem, ficava
pronto, pra tirar a garrafa caso o cliente
exagerasse no gole.
Trabalhou em Itapetininga SP. Sem ir à
cidade. Trabalhava de dia cuidando e
alimentando porcos, a noite domava burros, em
noites de lua clara. Segundo ele, era muito bem
pago, para domar os animais.
Ganhou muito dinheiro, até que um dia,
caiu enfermo, ficou muito doente, acreditava
que não chegaria vivo em casa.
Queria mostrar aquela impressionante
quantidade de dinheiro para a mãe, queria
deixar com ela caso morresse. Foi aí que atinou
de comprar passagem aérea.
Comprou e fez uma promessa, um
pedido. Como dizia ele:- Peguei-me com todos os
santos que conhecia e pedi para aqueles que eu
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não conhecia também, para que não morresse
antes de chegar à casa da mãe.
Dizia-me que quando o avião levantou
voo à doença ficou ali. Ele sarou naquele
instante.
Visitou sua mãe, agora com dinheiro na
guaiaca. Passou a trabalhar por conta própria. Lá
em Aquidauana, ou Campo Grande, aqui mesmo
no estado, comprava tecido, corte de vestido,
roupas íntimas, vitrola, em fim, levava de tudo.
Chegava a Bela Vista, ou caracol, e fazia a festa.
Muitas vezes, com uma peça que vendia, dava
pra comprar oito.
Segundo ele, teve uma vida invejável, era
o rapaz, que na cidade, mais sabia ganhar
dinheiro, e quem mais tinha cartaz com as
meninas. O homem transbordava felicidade,
segundo ele, até que um dia, começou namorar
Guilhermina Godoy Leite e casou-se com ela, a
partir daí sua vida nunca mais foi a mesma.
Futuramente, nasceram sete filhos, sendo um de
cada vez e eu sou um deles.
As picuinhas se acentuaram no noivado,
quando as partes da poderosa noiva, tirando
uma casquinha do noivo aparentemente pobre.
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Nos preparativos para festa de
casamento perguntaram:- O noivo não vai
colaborar com nada? O noivo, que tinha
vergonha na cara, por sua vez disse: deixa que
pago a cerveja e mandou buscar, um caminhão
de cerveja.
Pois na época nas festas era servido
apenas carne com mandioca, o caro era a
cerveja.
No dia seguinte, quando acabou a festa e
os noivos iam partir. A noiva não tinha sela.
Pronto, era a gota d'agua, que precisava. Meu
Pai já disse:- Vá em pelo. Como que pode uma
filha de fazendeiro, não ter uma sela, isso é uma
vergonha.
Repetiu:- Vá em pelo. Com isso, uma das
irmãs dela emprestou uma sela.
Ele disse-me, naquela época o único meio
de transporte era o cavalo, como que uma filha
de fazendeiro poderia não ter sela!
Como todo mundo sabe essas picuinhas
não acabam por aí, quanto menos evoluídas as
pessoas mais tempo duram. O casal foi começar
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a nova vida, agora a dois. Foram morar na
fazenda, num ranchinho de bacuri.
Segundo meu Pai certa vez, o sogro lhe havia
presenteado com um potro. Após certo tempo
quando voltaram a se encontrar, o sogro lhe
perguntou, e o potro que te dei? Que fim levou?
Meu Pai respondeu, eu vendi aquela porcaria
aquilo não e potro que se dá pra HOMEM do
meu tipo.
Disse-me:- No meio de mais de oitenta potros, o
homem escolher o pior deles pra me dar.
Complementou:- esse é o tipo de presente que
se dá pra porcaria, não pra HOMEM do meu tipo.
Como diz o ditado, o que aqui se planta, é
aqui que se colhe. Essa colheita, meu Pai fez.
No demais acho que meu pai foi feliz, pois
o que mais queria era que suas filhas casassem
bem, e acho que apesar de tudo, ele sempre
teve convicção que aconteceu.
Ele sempre me contava, de um senhor
que morava em Caracol, MS e que as pessoas
mal intencionadas sempre o prejudicavam. Dizia
ele: - As pessoas que o prejudicavam, morreram
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todos na merda, e ele, pelo menos, conseguiu
casar bem as filhas.
Por essas e outras, cheguei à conclusão
que a prioridade absoluta do meu Pai, era ver
minhas irmãs, bem casadas.
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NOSSAS MORADAS
Bodoquena antes ou após o incidente sofrido
pelo Miro Guasca? Na verdade lembro-me
vagamente dessa época, quando morávamos no
Campão hoje Bodoquena, eu tinha entre três e
quatro anos de idade. Um dia meu pai e eu vindo
do rio Betione meu pai puxando um cavalo por
nome de Bitão que acabava de beber naquele
rio, eu atrás do cavalo, quando o mesmo parou
para urinar, após uma longa urinada, quando
começou caminhar novamente, meu pai disse-
me não vai pisar na urina! Ele já falou tarde eu já
havia pisado bem no centro do liquido.
Pouco tempo depois eu estava com o pé tão
inchado que parecia um pastelão. Por um lado
foi bom, meu remédio na época, era leite de
cabra, que meu pai comprava da vizinha que
morava do outro lado da sanga.
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Mais dois episódios ficaram marcados na minha
lembrança daquela época primeiro, quando meu
pai conseguiu matar uma gralha, para se
alimentar e alimentar a esposa e seus três filhos,
porém uma filha que no momento estava
varrendo o rancho, ficou sem comer e chorou,
também pudera uma gralha tem
aproximadamente 80 gramas para dividir para
cinco pessoas. Meu Pai tinha patrimônio, mas
naquela época não sei por que as coisas
pareceram-me estar meio desajustadas.
O outro fato que me lembro, é quando pegou
fogo na nossa roça, um charravascal violento que
era chamado de canavial. Foi um fuzuê para
defender nosso ranchinho que era coberto com
folha de bacuri.
Lembro que alguém subiu no minúsculo rancho,
para jogar água de cima para baixo, nós
corríamos com vasilha de agua para defender
nosso ranchinho.
Um dia depois da total devastação, meu pai
desolado, caminhando de um lado para o outro,
encontrou uma cana raquítica bem fininha e com
má formação física. Pegou aquela minúscula
planta e com ternura me convidou para chupa-la,
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foi descascando com muito jeito já que era
extremamente fina e toda torta, para sobrar
alguma coisa que pudéssemos comer teria que
tirar a casca bem fininha.
Fazenda Santa Luzia
Começando pelo ferimento à bala, sofrido pelo
seu grande amigo, conhecido como Miro Guasca,
o mesmo foi conduzido num carro de boi pelo
meu pai e outro.
Meu pai disse-me que toda vez que percebia que
o amigo estava morrendo, chamava-o pelo nome
com voz alta, e ele voltava a viver novamente.
Até que meu pai precisou seguir há frente, para
conseguir carro movido a motor e com isso
chegar mais rápido no recurso médico. Quando
chegou de volta para encontrar o amigo, o
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mesmo já havia falecido, apesar do meu pai ter
pedido para chama-lo pelo nome em vós alto.
Ele foi vitima de homicídio, praticado por um
pecuarista.
O pecuarista por sua vez sabendo que haveria
vingança, tratou de se mandar, com a mudança,
gado e tudo.
Segundo meu pai, a participação dele na
vingança foi apenas avisar da saída do gado, para
saber para onde iria à mudança.
Disse ele não fui eu que o matei, porém eu
precisava fazer alguma coisa, poxa o finado Miro
era meu amigo, portanto eu tinha que fazer
alguma coisa.
Quando foi assassinado o pecuarista, a sua
digníssima esposa disse que reconheceu meu pai
quando retirava a orelha do mesmo.
Meu pai sempre negou a participação. Porém, o
sobrinho do pecuarista. Um matador implacável,
respeitado pelas autoridades e temido pelos
pistoleiros jurou vingança, contra ele e começou
a perseguição.
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Pelo que meu Pai dizia na escala da vingança ele
era o nº 01, portanto era pra morrer primeiro.
A seguir era pra morrer o nº 02. Após quase
trinta anos perseguindo meu Pai, decidiu então a
matar o primeiro que desse no jeito. Não
importava mais se fosse primeiro o numero um
ou o numero dois.
Com isso o nº 02 que morava mais próximo dele,
portanto um alvo fácil não perdeu tempo e deu
um jeito de mandar mata-lo. Não sei quem foi o
autor já que ninguém tinha coragem de mata-lo
nem mesmo de traição. Só sei que meu Pai
contribuiu com trinta bois, que entregou ao nº
02. Que também já e falecido atualmente.
Isso reforça que meu Pai não participou
efetivamente do homicídio. Portanto a digna
senhora deve ter se enganado.
Como todos podem ver, meu Pai me punha a par
de tudo que ele fazia. Tanto e que não tinha
necessidade de me dizer que contribuiu com o
pagamento da pistolagem.
Na época eu não trabalhava mais com ele, eu
nunca ficaria sabendo se ele mesmo não tivesse
me contado.
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Meu Pai não comentava sobre essas coisas com
minhas irmãs e muito menos com minha mãe,
apesar de minha Mãe ser extremamente
reservada, economizar palavras até naquilo que
precisava ser dito, ele não sabia o dia de
amanhã, portanto não comentava com ninguém,
somente comigo.
Minha atual esposa ficava impressionada de me
ver contando as coisas mais corriqueiras para
minha mãe, que por sua vez, nada sabia. Coisas
essas que com certeza meu pai comentava só
que ela sem nenhum interesse, deixava entrar
por um ouvido e sair pelo outro, acho que minha
mãe foi à única pessoa que não conseguiu
aprender nada com o sábio marido que teve.
O nº 02 contava tudo para a esposa, meu Pai
disse a ele certa vez, existem coisas na vida da
gente que a mulher não pode saber. Ele
respondeu dizendo eu conto porque confio na
minha mulher. Décadas após o comentário, ouve
um rolo e uma separação, a mulher foi à
Delegacia e disse tudo que sabia, ele sumiu no
mundo, a esposa pegou um carro e foi a Porto
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Murtinho, dizer para meu Pai ficar tranquilo, pois
o nome dele não seria envolvido.
Realmente ela é uma grande mulher, porem
numa briga de vida ou morte, usa-se a arma que
estiver ao alcance da mão, Isso é normal.
Talvez ele me contasse por saber que isso me
causava certa preocupação, e também por ter
certeza que eu não contava nem mesmo pra ele,
o que não era de contar.
FAZENDA NOVA ESPERANÇA
Como certa vez que tive que ficar um final de
semana com um empregado dele na Fazenda, e o
dito funcionário resolveu ir a um retiro, para
passear e disse-me que só voltaria no dia
seguinte.
Fiquei um pouquinho por ali e como a solidão
bateu, e era de tardezinha resolvi então a me
recolher e dormir. Acordei com alguém
chamando.
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Apavorei-me quando percebi que esse alguém
sabia tudo sobre meu Pai, eu dentro do quarto
ele do lado de fora, fazendo perguntas e mais
perguntas uma atrás da outra sem me dar tempo
para raciocinar.
Não disse em palavras, porém deixava claro que
veio para pegar meu Pai na emboscada quando o
chegasse de madrugada.
Ele chegou com tanta audácia que disse que a
partir daquele momento quem mandava ali era
ele, e já foi mexer nas panelas.
Existem situações em que o homem que é
homem, precisa morrer junto quando não tem
jeito de salvar alguém que ama. Vi que minha
vida tinha chegado ao fim.
Não podia deixar meu Pai morrer, sem nada
fazer, eu sempre fui muito vergonhoso, e não
podia sair do quarto com o revólver na mão, eu
havia aprendido que revolver só deve ser sacado
na hora de atirar e apesar de tudo, ele não havia
verbalizado que ia matá-lo, portanto, eu mesmo
sabendo que ia morrer, não podia assim
proceder, minha chance que já era pouca, com
isso se tornavam ainda menor, realmente tinha
chegado o meu fim, não tinha esperança de sair
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vivo dali, porém, precisava morrer com
dignidade, para deixar impressão que pelo
menos havia morrido, tentando salvar meu Pai.
Para não ficar escondido dentro do quarto
enquanto ele fosse assassinado sei lá como.
Rapidamente, vesti minha calça, a camisa, pois o
revólver precisava ser colocado na cintura. Parei
em pé próximo da porta, quando ouvi sua voz
que ainda vinha da cozinha, mesmo tendo
certeza que o companheiro dele estava que nem
piscava, com a arma apontada na direção da
única porta que eu tinha para sair.
Abri a porta que já havia destrancado, sem fazer
qualquer ruído e saltando para o lado de fora,
consegui olhar aos dois lados, triscando o pé no
chão e instantaneamente, mudando de direção,
saltando um corredor que dividia a casa nova da
outra, em direção à última voz que havia
escutado. O corredor era um pouco baixo,
portanto eu precisava salta-lo meio de cabeça
baixa, meio me abaixando. Isso era tudo que eu
havia previamente programado.
Agora só me lembro de estar com o cano do
trinta e oito, empurrando o queixo dele de baixo
para cima, e também já estava reconhecendo
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meu companheiro e amigo Isidoro Cristaldo, que
desesperado na ponta dos pés tentava acalmar-
me, porém eu tremendo e com vontade de
completar o serviço, fiquei mais uns três
segundos, para decidir oque fazer.
“Para quem nunca passou por apuro eminente,
nessas horas o cérebro abre a pagina da sua vida
fazendo com que três segundos nessa situação, é
um tempo suficiente, para vermos em detalhes
tudo que aconteceu em nossa vida toda”. Com
certa tranquilidade, da para revisar umas três
vezes, nesse tempo.
Felizmente o gatilho não chegou até o fim, meu
amigo sobreviveu, e deve ter aprendido que não
se assusta quem tem o coro encomendado, como
dizia meu Pai.
Isso eu nunca comentei ao meu Pai, porém com
certeza ele ficou sabendo, pois o patrão sempre
sabe tudo que acontece na propriedade.
Agora digitando esta parte, tive certeza que ele
ficou sabendo, tanto é que ele me pediu para que
eu não mais dormisse no quartinho da cidade
que eu sempre dormia nos finais de semana,
quando trabalhava com ele.
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Eu jovem na época com aproximadamente
dezessete anos, querendo minha independência,
portanto, meu quartinho proporcionava-me a
liberdade que eu necessitava, devo ter relutado
um pouquinho.
Quando meu Pai disse-me:- Você sabe que tenho
inimigos, esse quartinho por ficar fora do corpo
da nossa casa, te deixa muito vulnerável, se você
continuar dormindo aí, pode uma hora dessas,
chegar alguém e pegar você. Imagine, eles te
torturando você gritando. É claro que vou sair
meu filho, só que vai ser só para morrer, disse
ele.
Eu como sempre respeitei muito meu pai a partir
daquele dia passei a dormir no corpo da casa.
Agora vou contar a você, a forma que meu Pai
usava, para acordar-me nas segundas feiras de
madrugada, para irmos à fazenda. Parece-me
que só andava estressado, entrava no meu
quarto e dizia:- Rosalvo! Num tom de voz
extremamente, alto, eu diria que o equivalente a
voz de comando que um sargento dá para um
pelotão de soldados, nessas alturas, quando me
acordava o carro dele já estava funcionando, eu
dormia pronto, saltava no vácuo do grito, e
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passava ao lado de uma pia, com a mão enchia a
boca d’agua e aproveitava as mãos molhadas
para retirar as remelas, pois os dentes e rosto
não dava tempo de ser lavado.
Meu Pai me contava de dois episódios
interessantes que ocorreram com ele, e foi
presenciado por familiares do pecuarista, e
consequentemente parente do temido,
sobrinho.
QUANDO ISTO OCORREU, EU AINDA ERA BEM
CRIANÇA NÃO ME LEMBRO DE NADA
Meu pai estava conversando com eles, quando
minha mãe, gritou chamando os, pois havia uma
cobra muito rápida, ali nas imediações. Os
mesmos foram na direção mostrada, porém,
estavam com muito medo, pois o local era de
difícil visibilidade.
Quando de repente, avistaram a mesma, e
ambos saltando para traz e sacando a arma, meu
pai puxou do revólver, porém sem puxar o
gatilho intencionalmente, disse não tem perigo e
o tiro saiu, quebrou a cobra quatro dedos atrás
da cabeça.
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Com isso todos ficaram impressionados com a
rapidez e precisão de tiro. Isso ocorreu bem
antes, do episódio sofrido pelo Miro Guasca.
Meu Pai não disse a eles que o tiro saiu sem ele
puxar o gatilho.
Pouco tempo depois, os mesmos estavam
deitados em redes, quando arrebentou a corda
da rede que meu pai estava deitado, e o mesmo
saiu em pé e ainda viu a rede cair no chão
segundo meu pai isso também foi sem querer, e
causou bastante espanto e admiração.
Ele sempre me dizia:- Não tive intenção de fazer
essas coisas. Foi Deus juntamente com o finado
meu Pai que prepararam isso, porém, o que mais
me impressiona é que isso aconteceu muito
antes de ocorrer o homicídio. Deus prepara as
coisas com muita antecedência, Dizia ele.
Sei que após a informação da viúva, acusando
meu pai, o popular e temido sobrinho, saiu à
caça do meu pai, que por sua vez, sabia andar.
Provavelmente pelas coincidências ocorridas, ele
queria pegar meu Pai bem de jeito, não queria
encontra-lo de frente. Apesar de que andava
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montando uma mula manca, nunca voltava pelo
mesmo caminho que ia e não andava com os pés
atolados no estribo. Quando os parentes e
amigos comentavam sobre a alta periculosidade
do inimigo e aconselhava-o a montar um bom
cavalo em vez da aquela mula manca ele se
irritava e dizia que andava naquela mula pra não
correr do inimigo.
Dizia que evitava, porém se um dia se
encontrassem poderia chover bala do jeito que
fosse que ele não daria um passo pra traz.
Na época morávamos próximo ao rio perdido, só
nos banhávamos nesse rio, relativamente
próximo de nossa casa, porém, nunca no mesmo
lugar. Num determinado dia meu pai cismou de
que não deveria mais se banhar naquelas
imediações. Começamos então a tomar nosso
banho à uns dois quilômetros de distância de
nossa casa, íamos á cavalo, só andávamos a
galope e nunca parávamos no mesmo lugar.
Íamos mais para cima ou para baixo, vezes de um
lado do rio vezes do outro.
Num dia aquela época, fomos à casa de um
vizinho, que morava do outro lado do rio,
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aproximadamente três km. Não sei ao certo se
morava para cima ou para baixo. Só sei que o
mesmo disse ao meu pai:- Faz oito dias que um
homem entrou nesse mato e costeou o rio, em
direção a sua casa só saiu hoje, e complementou,
saiu barbudo daí.
Meu pai fez as contas e concluiu que havia
trocado de local de banho, justamente no dia
que o dito homem chegou.
TAPA DE LUVA
Certa vez as ovelhas de um vizinho, entraram na
propriedade na qual ele era arrendatário. Disse
ter ficado extremamente irritado, já que na
época a pastagem estava pouca. Atiçou os
cachorros nos carneiros saiu gritando com os
bichos até a beira da divisa que ficava bem
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próximo da casa dos proprietários dos carneiros.
Dali mesmo fomos campeirar.
Quando voltamos, ele preparado para revidar
qualquer repressão da parte dos donos dos
carneiros. Ficou arrasado, com a surpreendente
atitude dos mesmos. Pois avistou uma meia
banda de carneiro pendurada na varanda de
nossa casa, carneiro este que foi presenteado,
pelo vizinho ofendido.
Chamou esse nobre e surpreendente gesto de
tapa de luva, trinta anos após o episódio ainda
sentia vergonha da atitude insana que assim o
classificou.
Após essa tapa de luva, na tentativa de reparar o
indelicado gesto, oque ele fazia era cuidar das
ovelhas do nobre vizinho.
Minha vó Castorina, mãe do meu Pai, suicidou-
se. Meu Pai não se fez presente, no dia da
partilha e dos poucos bens que ela havia
deixado.
Quando de repente, chega a casa dele, um irmão
com umas cabeças de gado, e mais algumas
coisas.
31
Segundo ele, o irmão disse assim:- Esse é o que
tocou pra você, e continuou dizendo:- Se você
quiser é esse, se não quiser é esse também.
Não sei o que ele respondeu, mas pra mim disse
o seguinte:- Nunca fui e nunca nem se quer
pensei em traia de defunto, portanto, pra mim
foi bom, eu não ia atrás de nada mesmo.
Certa vez um pecuarista parece-me que era
chamado Crispim Borges, deu um gado para ser
criado em parceria com meu pai, esse dito gado
foi juntado no campo, e lá mesmo separado,
contado e feito o documento manuscrito.
Apesar de ter entregado uma quantia x, quase
só gado erado, inclusive touros e poucos animais
de ano. No contrato, foi colocada a quantia
certa, porém, dizia que: Era de ano a cima. E
quando fosse devolvido teriam que ser nas
mesmas condições.
A maioria das pessoas que ficavam sabendo do
negócio comentava com meu pai, você ficou rico,
troca esses touros e mais algumas vacas por
novilhas de ano e entrega pra ele, você não está
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sendo desonesto, ele que fez o documento, ele
te deu. Sempre a conversa era a mesma.
Meu pai sempre dizia, o documento saiu errado,
mas o homem me entregou o gado na boa fé, e
na boa fé, vou entregar. Nessa altura, já havia
classificado o gado, anotado e guardado a
anotação com o contrato. Posterior mente
entregou o gado nas mesmas condições que
recebeu, na pratica.
Isso que relatei agora, com relação ao gado
arrendado eu não me lembro, como não lembro
também quando meu pai atrelava minhas pernas
para que eu o ajudasse sem cair do cavalo, nessa
época eu era muito novo, sei que mamei até os
quatro anos, porém fiquei surpreso quando há
pouco tempo minha irmã disse-me que quando
eu apeava do cavalo, minha mãezinha já tratava
de se escorar num esteio da casa, para me
alimentar. Detalhe eu mamava em pé.
Sei que a fama do meu Pai através dos homens
honestos viajava, longe.
Dizia ele, Não existe bom sem defeito e nem
ruim sem proveito. Esta filosofia eu acho que ele
levava muito a serio, pois quando chegava
andarilho na fazenda, ele dava de comer o dia
33
todo durante três dias, eles comiam dormiam e
defecavam normalmente no quarto dia já eram
pessoas relativamente normais.
Já conversavam normais e começavam a
trabalhar. Alguns ficaram amigos mesmo, assim
como um gaúcho baixinho e bigodudo que
trabalhava durante tempo, de vez em quando ia
embora e depois de algum tempo voltava
novamente.
Certa vez meu Pai e eu estávamos numa espécie
de varanda com um portão baixinho o gaúcho do
lado de fora estava cortando fazendo alguma
coisa com a faca na mão, de repente vem um
cara em nossa direção andando ligeiro trazendo
uma faca a mostra na cintura daqueles que
querem intimidar a gente.
Meu Pai disfarçadamente fechou o portãozinho
antes dele chegar se afastou um pouquinho, o
cara chegou e permaneceu ali por alguns
segundos e foi embora.
Meu Pai disse, que cara louco esse como que
chega dessa forma na casa dos outros. O gaúcho
que não tirava o olho dele, disse nem precisava
fechar o portão, pois se ele levasse a mão na faca
eu ia carnear ele por baixo, aqui mesmo.
34
Meu Pai como que ia fazer isso gaúcho, eu ia ter
que apartar vocês, o gaúcho será que depois de
estar tramado no ferro branco, alguém mais
aparta.
Fazei o bem, mas olhe a quem.
Dizia ele servir e bom, mas não servir e melhor
ainda.
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MUDANÇA PARA O BURACÃO
Eu com aproximadamente seis anos de
idade, lembro-me da viagem a mudança em dois
carros de bois, nós a pé repontando os carneiros
próximo da carreta, os condutores do gado,
também viajavam relativamente próximo, pois
dormíamos sempre no mesmo local. Lembro-me
que meu pai comprou um radio, em uma das
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pousadas, parece-me que deu um touro e três
bezerro, a troco do radio de mesa marca Semp.
Falando na fazenda BURACÃO, lembro-
me de pouca coisa importante, lembro-me, por
exemplo, que minhas irmãs e eu tínhamos medo
de onça, pois tinha muitas delas naquele lugar,
portanto quando minhas irmãs e eu saiamos no
piquete para buscar as leiteiras, preocupávamos
em voltar ainda de dia claro.
La, nessa fazenda eu tinha por volta de seis
anos foi quando meu pai ensinou-me a manear
touro. Minha mãe e ele, pela primeira vez
laçaram um touro na minha presença. Minha
mãe, subida na cerca, de um lado, do mangueiro
e meu pai do outro.
O touro, como todo animal, conhece mais o ser
humano, do que nós próprios, portanto ele só
corria pelo costado da cerca que minha mãe se
encontrava, tanto é que ela foi quem laçou
primeiro. Só depois que meu pai conseguiu por o
laço dele, a seguir derrubou e me mostrou na
pratica oque já havia me ensinado na teoria.
Foi lá que meu pai ensinou-me a tirar vinho de
jatobá.
37
Foi lá também que pela primeira vez, que me
lembro de que eu quis falar uma coisa e acabei
dizendo outra.
Foi quando meu pai saiu e deixou um potro no
palanque, aos cuidados de minha mãe, de tempo
em tempo o potro corcoveava, sentando na
tentativa de arrebentar as amarras.
Minha mãe se preocupava toda vez que o cavalo
relutava, pois poderia se machucar, disse em
certo momento, o potro, desgraçado, essa é uma
palavra que estava sempre presente no
vocabulário dela, quando se irritava.
Eu querendo ser solidário com minha mãe,
diante do desespero dela. Abri a boca sem
pensar e disse, tomara que morra. Como em
casa tudo era motivo para tortura, já começou a
tortura psicológica, a éé, você está jogando
praga no cavalo do seu pai, pois quando ele
chegar eu vou contar tudo pra ele, ah se esse
cavalo chega a morrer. Seu pai vai te matar a
pau, e assim por diante.
Agora tive uma pequena confusão na minha
cabeça, já não me lembro de ao certo se a
mudança que me referi anteriormente, foi da
fazenda santa Luzia para o buracão ou se foi do
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buracão para a fazenda São Bento, acho que em
nenhuma das duas fazendas chegamos há ficar
um ano.
Uma passagem que meu Pai sempre lembrava
era quando ele tinha gado no campo dos Índios,
e morávamos três ou quatro dias de distância
viajando a cavalo.
Meu Pai quando ia pra lá já alertava os
companheiros antes de sair, pois ele viajava sem
dormir durante dois ou três dias e noites.
O Manuelão sabia e topou o desafio, conhecido
do meu Pai desde criança, porém como dizia
meu Pai os dois com o coro encomendado,
nenhum deles dava a costa pro outro.
Após duas noites e um dia de viagem, quando
cedinho avistaram a sede de uma Fazenda, se
depararam com um bando de galinhas da angola,
que saíram voando e gritando.
Manuelão disse vou matar uma e levou a mão
no revolver, meu Pai por sua vez, bateu a mão no
trinta e disse, mata uma que eu mato outra.
39
Outro ocorrido com o mesmo Manuelão, isso
quando meu Pai ainda era adolescente, meu Pai
dizia-me, que estavam indo a um determinado
lugar e no caminho se depararam com alguma
coisa que fez movimento nas folhas secas, caídas
no chão, eles saltaram para traz, achando que
era cobra, quando visualizaram o ser. Viram que
não se tratava de serpente, e sim de um ser
desconhecido, pois eles estavam
aproximadamente dois metros de distância, e
percebiam que toda vez que o Ser, dava um
pulinho pra frente, eles dava um passinho pra
traz, e o Ser aumentava de tamanho, mais um
pulinho pra frente, eles davam um passinho pra
traz, o Ser, aumentava de tamanho.
Não conseguiam um pedaço de pau pra da uma
paulada no bicho, naquela época a cultura era
matar, o Ser que quando tomou forma tinha por
volta de cinco centímetros, já estava com quase
meio metro de altura, como não tinham arma de
fogo e não tinham encontrado pau para mata-lo,
meu Pai disse vamos atropelar de faca, o
Manuelão que já era homem mais experiente
disse então, você e bobo, louquinho, pois
chamava meu Pai de louquinho, continuou
40
dizendo, você não esta vendo que isso não e
bicho.
Conclusão, o Pai dele já havia morrido e meu Pai
sempre acreditou que aquilo poderia ser algo
que o Pai dele havia colocado no caminho para
livra-lo de algum mal.
Tanto é que após esse inesperado encontro eles
mudaram de direção e foram por outro lugar,
pois já estava escuro e ficaram com medo de
cobra.
41
SÃO BENTO
As fazendas do seu Alfredo, antes do meu pai
chegar, estavam passando por uma fase, tipo
fazenda da mãe Joana, onde todo mundo
pegava, davam uma de amigos ou compadre,
mas também, demostravam ameaças, era um
42
pedido meio ameaçador, quando pediam!!! Que
muitas vezes simplesmente pegavam.
Foi quando seu Alfredo teve a iniciativa, de
trazer alguém que fosse de fora das imediações e
convívio, e que também fosse um homem pulso
firme, através de informações chegou ao meu
pai.
Ali, lembro-me que meu pai foi escalado para
entregar um lote de gado para o sr. Bito
Martins, meu Pai era cismado com ele pois além
de grosso ja tinha encrencado com meus tios. O
patrão ordenou que “não entregue se o mesmo
não tivesse trazido o contrato”. Como em todo
lugar que ia, meu pai me levava desta vez não foi
diferente.
A entrega não seria na nossa residência e sim em
outro retiro. Meu pai sempre foi do tipo que
adiantava um dia, mas não atrasava uma hora.
Chegamos próximo do retiro, e ficamos quietos
de antena ligada para perceber a hora que a
comitiva ia chegar com o sinuelo, não vimos só
ouvimos o barulho, nesta altura meu pai já me
havia instruído.
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Havia ordenado você fica aqui deste lado do
córrego não passa do outro lado, se você escutar
tiros, você vai embora pra casa a galope até
chegar, não precisa fechar as porteiras abra
passe e vá embora a galope disse ele.
Não precisei correr, não saiu os tiros, não
demorou muito meu pai estava de volta. Minha
idade nessa época, sete anos.
Quando chegamos ao retiro São Bento, logo após
o incidente, com o sr. Bito Martins. Meu pai
como gerente geral das fazendas, o proprietário
filhos vizinhos e empregados, nessa eu não fui,
Foram parar rodeio no retiro cavadhu raw, para
entregar a responsabilidade para meu pai.
Na época naquela região pantaneira não era
como é agora, em outras regiões que o gado
todo é contado e controlado, Lá não tinha como
juntar todo o gado, os campos eram muito
grandes sem divisórias. Era tudo na base de
estimativa, tipo assim, aqui neste rodeio tem
aproximadamente 1.200 cabeças, naquele outro
deve ter 1.300 com mais umas 500 que não
vimos, deve ter aproximadamente 3.000 ou
3.500.
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Meu pai analisando o gado percebeu que na
maioria deles era boi e touros. Foi aí que
perguntou a o patrão se ele havia apartado a
vacada do gado. O patrão choramingando disse,
esses filhos das putas, tão roubando tudo minhas
vacas seu pitito. Meu pai ouviu aquilo sem nada
saber e sem ter oque falar.
Terminou o serviço naquele retiro, e voltaram
todos para o retiro São Bento onde estávamos
morando.
Lá chegando, depois de uma semana ou mais,
que estavam fora. Minha mãe estava brava com
meu Pai, pois achava que eles é que tinham
comparecido no retiro, e levado até as vacas do
nosso mangueiro, e nem se quer chegaram a
nossa casa para ver se estava tudo bem.
Meu pai surpreso diante daquela alegação de
minha mãe. Foi perguntar ao patrão se era gente
da fazenda que havia vindo ali retirar o gado.
Diante da negativa meu pai já ordenou, vamos
agora recorrer o aramado. Perguntou-nos a
direção que o gado tinha ido, lá era fácil saber a
direção, pois o campo era tão limpo e plano que
dava pra ver quilômetros de distancia.
Mandaram-se na direção indicada.
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Recorreram o aramado daquela direção e já
encontraram o estardalhaço, a pouca vergonha e
o destemor dos ladrões, sem o mínimo de
preocupação com os vestígios. Comunicou o
patrão e o mesmo disse deixa seu pitito. Eles
sempre me roubaram.
Meu pai por sua vez disse-lhe, vim aqui para
cuidar do seu gado, se fosse para deixar roubar,
eu não teria vindo, portanto, vou trazer de volta,
onde quer que estejam independentes de quem
tenha roubado. Se tiver homem, aqui pra me
acompanhar eu aceito.
Na hora apareceram dois grandes homens, o
Agenor Loubet, filho do dono, rapaz novo com
aproximadamente 21 anos de idade. E o SR.
Oliveira de Oliveira. Que na época era gerente,
da parte de pecuária, da Florestal Brasileira,
grande Indústria na região de Porto Murtinho.
Ninguém chega a gerencia de uma grande
empresa por acaso. Seguiram o rasto do gado, e
descobriram que o gado se encontrava na
fazenda Caeté.
Florestal Brasileira, grande empresa, que
naquela época já tinha até telefone nas
fazendas. Seu Oliveira teve a ideia e telefonaram
46
para seu Amadeu, que na época, era
respeitadíssimo, uma autorização dele, era quase
inquestionável pelas autoridades do local.
Ordenou ele, Podem revistar a fazenda Caeté, e
retirar o gado roubado, Imediatamente, os três
se deslocaram, para o destino.
Lá chegando, se depararam, com uma bandada,
de Paraguaios, e mesmo assim, indagaram.
Quem é o gerente? É ele responderam
apontando na direção do mesmo! Então
perguntaram, e quem é o proprietário? Um
deles, com um gesto de cabeça, apontou.
Disseram, eles. Temos ordem do seu Amadeus,
para revistar sua fazenda, e queremos rodeio,
agora.
Sem nenhum sinal de resistência,
Imediatamente, concordaram, e juntos saíram,
juntar o gado. Logo nos primeiros lotes, já se
depararam, com gado adulto, marcado, e
divisado a poucos dias, com uma divisa, no
mínimo incomum, era cortada da seguinte
forma, tirado uma solapa, da parte debaixo, do
começo, ao final, e da mesma forma era feito na
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parte de cima, com isso além de afinar a orelha,
deixava mais curta, portanto, com ela poderia
sumir com qualquer outra divisa, a mesma foi
batizada como ponta de lança.
Havia vários formatos de marcas, sendo uma
marca deles para cada lote de gado, porém, com
a mesma divisa.
Uma das marcas é que chamou a atenção, era
no formato de uma argola, com alguns detalhes
que ajudavam a confundir, as demais. Após
juntar todo o gado, que foi relativamente rápido.
Pois o Caeté era um campo muito limpo e fácil
de campeirar, encerraram o gado na mangueira,
e começaram a apartar. De vez enquanto, meu
pai perguntava, num ato meio irônico, de quem
é esta? Apontando em direção a uma res
especifica, E um dos paraguaios, gritava bem
alto, é do fulaaano, mencionando o nome do
gerente!
Eles resolveram levar somente o gado cuja
marca deles era bem visível em baixo da outra,
normalmente, aparecia bem a cabecinha da
marca quinze na parte de cima ou a volta do
cinco na parte de baixo.
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A marca FB, da FLORESTAL BRASILEIRA, era mais
fácil de ser identificada. Nessa diligencia
perigosa, eu não fui, também nem poderia, eu
com sete anos de idade.
Gado do meu Pai levaram apenas uma, por sinal
uma vaca velha e muito magra, esta eles
apartaram na beira do arame, e deixaram no
campo do seu Alfredo, ou seja, não retiraram da
nossa invernada, não quiseram leva-la.
Tanto é que, no primeiro dia que foram recorrer
o aramado, lá estava a vaca sozinha.
Depois desse grande gesto, Sr. Oliveira e meu
pai ficaram amigos e até compadre. Sem contar
o Agenor, que meu pai tinha muita consideração
por ele e ele pelo meu Pai. O Agenor casou-se
com a filha do SR. Oliveira de Oliveira Que se
chamava Oleneva, irmã do Arione, do Audes,
Neuza, Lurdes e outros.
Com isso e outras mais meu pai conquistou
respeito de mais algumas pessoas honestas de
Porto Murtinho, assim como Sr. Amadeus,
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diretor respeitadíssimo da poderosa, Florestal
Brasileira, ficaram amigos de verdade, tanto é
que quando recebia as demais pessoas,
conversava o estritamente necessário, e passava
a mão, num gesto de despedida.
As pessoas ficavam impressionadas, com o
tratamento que dava ao meu pai, como vocês,
podem ver meu pai um homem rude,
semianalfabeto, Sr. Amadeus um homem
provavelmente, com varias faculdades, diretor
de uma grande empresa, ele respeitado no Brasil
e no exterior, porém, era com meu pai que
gostava de conversar, quando meu pai
demorava, para visita-lo, mandava chama-lo, e
dava um jeito de segurar meu Pai o máximo que
podia.
Contava tudo sobre a vida dele para meu
Pai, muitas vezes pedia conselho.
.
50
FAZENDA CARANDÁ DE GALHO.
Eu me lembro das mudanças que fizemos
anteriormente, porém desta, que já estava com
quase oito anos, não me lembro. Provavelmente
nessa época eu já fazia parte da comitiva, e o
transporte de gado já fazia parte de uma tarefa
rotineira, sem novidades para mim.
51
Recordo-me, nós no campo da Carandá
de galho, uma vazante limpa que passava em
toda a extensão da área.
Lembro-me também da primeira grande
enchente, que passamos na Carandá de Galho.
Quando acordamos de madrugada, a agua já
corria por dentro de casa, estávamos ilhados,
não tinha como sair da fazenda, Nós éramos da
região serrana, e não sabíamos desse fenômeno
que acontecia no pantanal, achávamos que era o
diluvio, e que a morte estava há poucos dias.
Primeiro meu pai pegou um cavalo, e saiu
a procura de lugar seco, e bem próximo de casa,
a menos de dois quilômetros já o encontrou,
meu pai sabia que se a agua subisse, cinquenta
centímetros, também chegaria ali, porém no
momento precisava retirar a família de dentro
d'agua.
Quando voltou já estávamos com os bois e a
carreta pronta, enchemos de telha de carandá.
Pra quem não sebe, a telha de carandá, é feita
do caule da palmeira, sem o miolo, pois este é
retirado com machado. Mede por volta de três
metros de comprimento.
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Saímos a pé tipo Mazarópe, levando galinhas,
gato, porcos, carneiro cabritos etc. Lá chegando
meu pai, já cortou um pé de carandá, que serviu
como viga, colocou uma das pontas, na forquilha
de um pé de santa fé e a outra, na forquilha de
outro. Já colocamos as telhas, no sistema beira
chão, onde a casa só tem uma viga à outra ponta
da telha é apoiada no chão.
Lá ficamos por vários dias, todos os dias
matando cobras de vários tipos. Porém, oque
mais preocupava meu pai, eram as brigas de
touros, que eram frequentes, pois o gado dormia
ali em volta de nosso rancho. Os únicos animais
que não ficavam próximo do rancho quando
chovia eram os cabritos.
Pois esses ficavam dentro de casa e ninguém
conseguia tira-los.
Quando a água baixou, voltamos para
casa sem maiores prejuízos, não se teve noticia
de perda de gado, devido à enchente.
53
Voltando ao assunto anterior.
É impressionante, como essas pessoas do Caité
não tinham vergonha, não tinham um pingo
sequer de pudor.
Eles tinham duas fazendas a Caité de um lado da
nossa e também a fazenda Biguá na beira do Rio
Paraguai, ocorre que para ir de uma a outra
necessariamente teriam que passar por dentro
da nossa.
Normalmente faziam esse trajeto sempre
conduzindo bastante gado, meu Pai
acompanhava o gado deles e ia retirando gado
de nossa propriedade do começo ao final.
Imaginem quando eles tinham a sorte de meu
Pai não vê-los passar.
Certa vez que iam da Caité para a fazenda Biguá,
meu pai acompanhou o gado até a fazenda Prato
quebrado, retirando gado nosso como sempre
fazia, nesse dia era tanto gado nosso que
chegando ao Prato Quebrado, meu Pai
54
determinou que encerrasse o gado no
mangueiro para apartar o restante.
Meu Pai os peitava sozinhos eles eram tão
curtidos que obedeciam, porém levavam em
brincadeira.
Diante a essa estratégia dissimulada de
indiferença meu Pai nada podia fazer, e com
certeza se sentia totalmente impotente.
55
VESTIMENTOS
Dessa época de Carandá de Galho, lembro-me,
de como vivíamos e achávamos perfeitamente
normal. Vestíamos roupas que minha mãe as
confeccionavam, os tecidos que eram usados na
confecção, normalmente eram os que vinham
em forma de sacos, que vinham acondicionando
arroz, trigo e açúcar. As roupas de praticamente
todo mundo, naquela época eram tão velhas e
acabadas, que só se conseguia saber, de que
tecido teriam sido feitas, se observassem, a parte
de cima de onde ficam as cases, ou na parte de
baixo, da gola. O restante da roupa era remendo,
muitas vezes era remendo, remendando,
remendo.
56
SERVIÇOS DOMESTICOS
O pantanal era assim, época de enchente,
teríamos que nos cuidar, para não morrermos
afogado. Já na época de seca, acontecia muito,
das pessoas morrerem de cede. Eu
particularmente nunca vi ninguém morrer nessas
condições, porem eu vi muitas cruzes, em
diferentes locais que as pessoas, diziam, ter
morrido, de cede.
Como vocês podem ver na época de enchente
minha mãe, poderia lavar roupas na beira de
casa.
Quando a água ficava um pouco mais escassa,
teriam que junto com minhas irmãs, caminhar
por volta de um quilometro. Para poder fazer o
serviço, e só mais uns duzentos metros a frente é
que pegávamos água para bebermos, lá era um
pouco melhor. Porém, quando a seca era, ainda
maior, Minha Mãe com minhas irmãs, teriam
57
que ir a cavalo, pois só existia água, a uns nove
quilômetros, mais ou menos.
Trazíamos água para beber, da mesma distância,
só que de lá, trazíamos de carro de boi, sempre
eu vinha a cavalo na frente dos bois. Pra mim e
acho que pra todo mundo, andar na frente de
carro de bois não e nada bom.
Nessa época, meu Pai não deixava minha mãe
ligar o radio de dia, de jeito nenhum. Alegava
que poderia precisar gritar, para que alguém
abrisse uma porteira, ou para que fechasse a
outra. Isso poderia ocorrer quando estava
chegando do campo. Caso estivesse com o radio
ligado não escutariam.
Lembro-me muito bem dessa época, tanto eu
como minhas irmãs, brincava com ossos de gado,
pois era o único brinquedo que tínhamos, para
brincar.
Nessa época, eu vivia numa tensão tão grande,
tinha tanto medo do meu pai que quase não
conseguia brincar, começava a brinca, pulava e
saia correndo para ver se meu pai não estava me
gritando. A cada momento, a impressão que
tinha era que ele estava me gritando e sempre
saia em disparada, olhava em todas as direções,
58
quando nada era constatado voltava a brincar.
Isso ocorria provavelmente, de cinco em cinco
minutos, talvez menos, mesmo assim só me dava
o luxo de brincar, quando meu pai viajava, e não
me levava.
Eu por sinal acho que fui o único, que ganhou
um brinquedo do meu pai, quando criança foi
uma caixinha de cigarro, que quando terminou o
cigarro de alguém, o mesmo jogou e meu pai
juntou para presentear-me.
Não pense que estou reclamando disso, ao
contrario. Estou feliz e orgulhoso, com isso.
As coisas na época eram tão difíceis, e meu pai
tão enérgico, que a noite quando, catávamos
feijão, ou seja, quando retirávamos as pedras e
impurezas do feijão para cozinha-lo no outro dia.
Se caísse um grão no chão, abaixávamos, com a
lamparina para encontra-lo.
Era comum nas fazendas a pessoa levantarem
varias vezes a noite, para atiçar o fogo, e com
isso economizar, fosforo. No entanto, uma vez
achei que a vontade de economizar estava sendo
um pouco exagerada.
59
Meu Pai havia viajado, com nosso único
empregado, e tinha determinado que, a esposa
do funcionário, minha irmã com
aproximadamente dez anos, eu por volta dos
oito. Teríamos que tirar o leite.
Não sei por que, minha mãe se livrou daquela.
Ocorreu que: Minha irmã e eu chegamos à
mangueira como de costume, antes de clarear o
dia.
A mulher do empregado estava atrasada, mas
isso não importava, começamos a tirar o leite,
provavelmente, eu, bem mais devagar que
minha irmã, pois ela tinha muito mais força que
eu naquela época. Enquanto tirávamos o leite o
dia clareou, e minha irmã se preocupava com a
companheira que não chegava, já de dia claro o
sol saindo, entre a ordenha de uma vaca e outra,
olhávamos na direção do ranchinho, a procura
de algum sinal, que pudesse indicar que ela
estava viva.
Víamos apenas, um vulto, em frente o
ranchinho, continuamos tirando leite e nada da
mulher, quando estávamos quase acabando, a
ordenha. Minha irmã separou o leite que caberia
60
a empregada, e mandou-me, que a ela
entregasse, e trouxesse noticias.
Pois, acreditem o sol já estava alto, quando fui
chegando perto, já vi que o vulto que víamos, era
a mulher na posição de quatro pés, assoprando
um tição de fogo.
Sempre me lembro desta cena. Eu devo ter
levado à mão a cabeça. Sei que eu disse dona, lá
em casa tem fósforo, ela tranquilamente, virou
somente a cabeça e disse-me, eu também tenho
meu filho, só não quero gastar.
Lembro-me que com seis anos de idade já ouvia
meu Pai dizer que homem quando falava uma
coisa tinha que sustentar a qualquer custo.
Dizia ele o Homem não é obrigado falar, porem
quando fala é obrigado a cumprir, perdendo ou
ganhando, rindo ou chorando, tem que cumprir,
dizia ele, a gente não pode ser porcaria.
Certa vez eu com sete anos de idade, juntamente
com os outros homens, pois eu me sentia um
deles.
Fizemos uma forma para pegar os cavalos, nessa
forma tinha um cavalo por nome de seriema,
61
que por ser redomão, não parava quieto, um dos
homens que lá estava e certamente, me
conhecia muito bem, indagou-me, você tem
coragem de montar esse cavalo, aqui mesmo na
forma? Rosalvo.
Tudo que eu queria, era montar naquele potro,
porém, por medo de ser repreendido pelo meu
Pai, acabei dizendo não.
Infelizmente disse o contrario dogue gostaria de
dizer.
Meu pai imediatamente disse você vai montar é
agora guri! Já me juntando pelo braço e me
jogando no lombo do potro o bicho começou
corcovear na forma ele me puxou de volta.
Confesso que chorei, não por medo de ter
montado no potro, pois isso era o que eu queria,
chorei de vergonha por ter descumprido minha
palavra, eu havia aprendido que Homem e
aquele que sustenta o que fala a qualquer custo.
Outra passagem, para demonstrar o respeito que
eu tinha para com meu Pai, ou o pavor que tinha
de ser repreendido, ou se era medo, não sei ao
certo.
62
Foi quando chegamos a uma frutaria na cidade
de Porto Murtinho.
Meu Pai perguntou se eu queria comer algumas
frutas, e sem pensar eu disse que não, naquele
dia ele insistiu muito para que eu aceitasse
porem eu não podia mais aceitar, eu já havia
falado que não queria, e havia aprendido que o
homem depois que falasse não podia voltar
atrás. Na época eu tinha por volta de oito ou
nove anos, ficamos nessa frutaria provavelmente
mais de uma hora, esperando alguém ou alguma
coisa, não me lembro o que era.
Imaginem aquelas frutas lindas, maravilhosas,
geladinha nos balcões refrigerados, meu Pai e o
comerciante insistindo, para que comesse eu
uma criança que vivia no pantanal, sem nunca
ter provado uma maçã uma pera, uva, etc.
Além dessas vou contar apenas mais uma, foi
quando somente meu Pai e eu estávamos no
campo, eu com uma cólica terrível, daquelas que
quando vem da impressão que sua barriga esta
sendo perfurada de dentro para fora, nem
mesmo aquela dor insuportável me dava
coragem para interromper a caminhada do meu
Pai, ainda que fosse por um instante.
63
Aguentei o máximo de tempo possível, até que
não resistindo mais a preção e a dor. Explodi em
merda, nessa época minha mãe e nos ainda
morávamos na Carandá de Galho quando
cheguei a casa, minha mãe mandou que eu
colocasse a calça numa bacia com agua, foi oque
fiz.
Quando foi a noite minha mãe indagou ao meu
pai, o que aconteceu com esse guri? Disse ela,
ele cagou tanto que sujou tudo até o cós da
calça. Meu Pai me perguntou, foi repentina essa
diarreia, meu filho? Eu disse foi de repente pai, e
pensei comigo só eu sei quantas horas de
sofrimento, quanta dor eu senti quanta vergonha
passei esse é o verdadeiro sofrimento.
Uma das coisas mais difíceis para uma criança
que pude constatar em minha infância, é quando
viajava a Pôrto Murtinho com meu Pai, saiamos
sempre por volta da meia noite, a cavalo
chegávamos a casa da tia Juvencina e tínhamos
que esperar clarear o dia para acorda-la.
Saía com meu Pai o dia todo para fazer as
compras, e demais diligencias a noite após um
cochilo, nos por volta da meia noite, saíamos de
volta para a Carandá de Galho. Imaginem uma
64
criança de oito ou nove anos, no lombo de um
cavalo durante duas noites praticamente sem
dormir deitado, essa deve ser a pior de todas as
torturas, a qual fui submetida muitas vezes. Pior
que isso acho que é apenas, ir ao campo de dia
após duas noites sem dormir, acordar toda hora
com espinheiro rasgando sua pele.
Sinto-me na obrigação de defender meu Pai, ele
sempre foi um bom Pai. O problema não estava
nele estava em mim, que não chorava e não
reclamava eu era o problemático, tinha muita
vergonha de incomoda-lo com certeza ele não
conseguiu perceber isso, acredito que essa falha
ocorre com quase todos os educadores, em
diferentes situações.
Aqui vai uma reflexão. “A educação que serve
para um filho, pode ser prejudicial a o outro.”
Analise isso, observe seus filhos e de para cada
filho um ensinamento diferente, muitas vezes
precisamos corrigi-los individualmente.
65
Voltando ao assunto anterior.
Meu pai quando mudou para a Carandá de Galho
por precaução contratou o cunhado do seu
Alfredo, pra não ter o que falarem, atendia pelo
nome de Mendes Alves, caboclo trabalhador
incansável e integro nos negócios, em todo
tempo que lá esteve, manteve um
relacionamento estreito, com o filho mais
dedicado do seu Alfredo, filho este que me refiro
era do primeiro casamento. O Agenor Loubet.
Depois de certo tempo, meu pai só ficou
tomando conta da Carandá de Galho, o Agenor
ficou comandando o cavadhu raw. Seu Alfredo
na fazenda Campo Novo, e havia ainda outras
Fazendas, administrada por outros filhos do
patrão.
Com essa atitude firme, eu diria até dura demais,
porém necessária. Meu Pai não entregava nada
sem ordem por escrito, do seu Alfredo, não
adiantava ser, irmão, filho, amigo ou compadre.
66
Recorria à fazenda com intenção clara de matar,
caso encontrasse alguém roubando. Pois
naquela região, de fronteira nas fazendas todo
mundo só andava armado até os dentes, com
mosquetão e tudo mais, e ele não se comportava
diferente, recorria a fazenda de dia e muitas
vezes a noite.
Meu pai apesar de ter feito bastantes amigos,
também fez muitos desafetos.
Os amigos da época da Carandá de Galho, foram
eles, Amadeus, Mendes, Agenor Loubet, seu
Oliveira, seu Honório loubet, pai do José algacir.
Bernardo Loubet, pai do deputado Vander, e da
elizabet.
Anacleto de Cena, pai da Fatima, Ana,
Bernadeth, Eliza, Vera.
Alfredo Loubet, conhecido como Chedo. Este
sobrinho do patrão. Pai da Edir, Eloina, Admir,
Décio.
Zacarias Meaurio.
Havia um Senhor Por apelido Chocho
Cavalheiro, e Sr. Edson ambos gerente da Prato
Quebrado.
67
Por falar em Prato Quebrado, lembro-me certa
vez eu com onze ou doze anos de idade, minha
Mãe já morava na cidade. Eu fiquei morando na
fazenda Carandá de Galho juntamente com um
empregado que atendia pelo nome de Benicio,
certa vez ele e eu chegamos do campo por volta
das quinze ou dezesseis horas e deparamos com
um viajante que havia chegado à fazenda.
Chegamos tudo bem, o Benicio conversando com
ele na maior alegria, foi quando o viajante
convidou meu companheiro com uma garrafa de
cachaça, meu companheiro tomou uns tragos, já
mudou o comportamento, determinou que o
viajante banhasse o cavalo dele. O viajante
pacificamente levou o cavalo banhou e trouxe de
volta, o bêbado determinou que o soltasse na
prasoleta, foi só soltar e o cavalo, já se rolou no
chão, o bêbado por sua vez mandou que o
pegasse e novamente o banhasse, novamente o
viajante obedeceu.
O bêbado continuou a beber, nós três sentados
eu e o bêbado num banco e o viajante sentado
em frente, quando de repente o bêbado, me faz
um sinal, eu entendi que ele queria uma arma,
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porem me fiz de desentendido, novamente o
sinal, eu continuei sentado, quando ele se
levantou adentrou a casa e já saiu manobrando
um mosquetão e gritando para o viajante sair
dali e ficar de costas no final do terreiro, dava
uns dez metros de distancia, isso a noite.
Gritou comigo, mandando que eu fosse pegar
cavalo para ir ao Prato Quebrado para avisar que
ele havia prendido um marginal. Diante da minha
recusa ele já deu um tiro por cima da minha
cabeça, com aquilo não me restou outra coisa a
não ser obedecer ao bêbado bravo.
Com muito custo consegui pegar um cavalo, pois
todos estavam arredios com medo daquele
monstruoso tiro que fora dado.
Cheguei ao Prato Quebrado tarde da noite, o
capataz com a família levantaram para me
atender, contei o incidente, quando ia voltar,
não me lembro se foi o Chocho ou se foi o Edson,
disse não, você não vai voltar, já desarreando
meu cavalo e dizendo você vai posar aqui, oque
que você vai fazer com bêbado armado? Deixa-
os que se viram por lá. Eu com medo do meu
companheiro, argumentei, e se ele vier atrás de
mim, disse ele nós o amarraremos, se ele vier
69
vamos deixa-lo posar amarrado nesse palanque
aí apontando em direção a um palanque de
palanquear potro.
Não demorou muito tempo o preso chegou
também, quando foi indagado oque havia feito
para escapar, disse que o bêbado havia dormido
e ele aproveitou para ir embora. No dia seguinte
quando voltei com o vizinho para ver como é que
estava por lá, e pegar o cavalo e os pertences do
viajante, o meu companheiro tinha sarado e
disse nem se lembrar de nada.
PRESTANDO CONTA
Se meu pai deixou fazenda, casas, chácara e
gado entre outros isso se deve boa parte ao
Sr.Chadigue.
Na época Chadigue, era empregado do meu pai,
e foi emprestado para seu Alfredo, para
bagualear, quando lá estava para bagualear no
Retiro Paraguai, mais precisamente na invernada
conhecida como criminosa.
70
Certo dia Chadigue arrumou uma desculpa para
voltar para a Carandá de Galho, onde
morávamos.
Chegou à Fazenda na boca da noite, chamou
meu pai de lado, eu fui junto só andava colado
mesmo. Sr. Chadigue começou a falar, seu pitito
eles vão lhe matar. Quem? Perguntou meu pai,
respondeu o Horacio e o Poto e continuou
dizendo. Seu alfredo descobriu o plano, gritava e
chorava, dizia vocês vão fazer injustiça, vocês vão
fazer injustiça. Não façam isso pelo amor de
Deus.
Eu escutei e vi bem de perto, disse ele, se
prepara para brigar ou vá embora.
Sei do risco que corro em lhe contar, mais não
posso deixar um homem bom como o senhor,
morrer desprevenido.
Disse também, acerte minha conta, que vou
embora agora.
Poucos dias depois, chega outra noticia,
dizendo que seu Poto havia morrido, morreu
deque? Perguntou meu pai, respondeu, morreu
do coração, meu pai como assim? Respondeu o
71
mensageiro, ele laçou uma vaca, maneou e
morreu.
Vão velar onde? Perguntou meu pai, respondeu
em Porto Murtinho na casa do seu Alfredo. Meu
pai deve ter respirado, aliviado, pois o finado era
irmão do patrão, portanto precisava comparecer
no velório apesar de tudo. Chegando ao velório,
seu Alfredo foi encontra-lo e disse chorando ao
meu pai, foi Deus que tirou ele seu Pitito, foi
Deus, eles iam fazer injustiça.
Com essa confirmação, do amigo, meu pai
percebeu que se continuasse morando na
Carandá, ia morrer em breve, era evidente que o
cerco estava se fechando, ele sabia que os
desafetos se organizavam. O poder dele já não
era mais o mesmo, apesar das pessoas que o
admiravam, na hora H ele estava sempre
sozinho.
Eu era apenas uma criança de 12 ou 13 anos,
mesmo se fosse adulto, naquela situação quase
insustentável, nada poderia fazer, a não ser agir
exatamente como fez o Sábio Andalécio M. Leite.
72
TOMANDO DECISÃO
Pensou ele, se me matarem vão roubar todo
meu gado, e com isso deixar minha família,
passando necessidade.
Pensou e chegou à conclusão que deveria
investir naquilo que ladrões têm mais dificuldade
para roubar, caso fosse morto.
Decidiu, rapidamente, e foi o que fez, comprou
uma fazenda, em 1972, 1.200 hectares no valor
equivalente a 240 bois, dividido em quatro
parcelas.
Foi saindo de mansinho retirando o máximo de
gado nosso, sem se importar muito com o gado
que ficava mesmo sabendo que praticamente
todo oque ficasse, seria perdido, como
aconteceu mesmo.
Nessa época, já haviam encaminhado, o já
referido sobrinho do finado que queria mata-lo,
73
o mesmo chegou à sede da Fazenda Carandá de
Galho, a procura do meu pai, que por sua vez
não se encontrava no momento.
Meu pai havia ido prestar socorro para meu tio
Servino Martins Leite, que acabara de chegar,
deixou a esposa a minha querida tia Amélia. E se
foram buscar algo que haviam deixado na
estrada, Assim que chegou de volta a tia Amélia
que conhecia o dito fulano contou que ele com
outro companheiro lá haviam chegado.
Imediatamente meu Pai e o tio Servino, ao
saberem da noticia bateram atrás, mas não
conseguiram alcançar.
Disseram que meu tio viera, para ajudar no
serviço de campo, Porém, o meu tio Servino,
apesar de ser radicalmente religioso,
extremamente educado, fala mansa e baixa.
Era amigo fiel dos amigos e parentes e, além
disso, era ligeiro no gatilho, o trinta e oito,
sempre ao alcance da mão.
De acordo com o costume da família Leite,
Adiantava um dia nos compromissos para não
74
atrasar um minuto, porem aquele não levava
desaforo pra casa.
Posteriormente meu pai ficou sabendo que ele o
inimigo havia ido pela cidade de Pôrto Murtinho
e subiu o rio Paraguai de lancha até a fazenda
Tarumã, levado pelo proprietário da fazenda,
que também lhes emprestou os cavalos para
ambos. Nessas alturas a família e eu já
estávamos morando na cidade, para estudar.
Nessa época alguns parentes que gastavam do
meu pai parece-me que cheiravam alguma coisa,
pois estavam sempre por lá, assim como tio
Servino, Pedrinho Galeano, Jair leite que apesar
de ter um metro e cinquenta de altura e um
grande homem, Amigo incomparável, agora com
falta de uma perna, porem confiável do mesmo
jeito, já que oque faz o grande homem é a
atitude e a dignidade.
Por falar no GRANDE HOMEM, vou contar aqui
uma passagem, foi quando Jair e eu estávamos
no curralão tentando laçar uma novilha de sobre
ano, meu Pai a pé do lado de fora do curral,
descontroladamente gritando, nos xingando,
pois não conseguíamos laçar aquela novilha, já
estávamos com o braço cansado de tanto errar
75
lassadas, até que de repente, aconteceu o que já
era esperado. A novilha atropelou o arame e foi
embora. Com isso meu Pai que já estava
desequilibrado ficou ainda pior, aos berros que
ninguém entendia nada. Abrimos a cimbra que
saia para a mesma invernada que ela foi.
Deveria ter uns oitenta metros de campina antes
de entrar no mato. Nos dois envergonhados com
vontade de morrer naquela hora. Arrancamos
nossos cavalos na direção dela que ainda se
encontrava na campina. Largamos a boca dos
cavalos e chegamos o cassete. Entramos mato
adentro na mesma velocidade que viemos no
limpo, uns quinze metros mato adentro uma
sanga de comprido a novilha por dentro eu por
um lado Jair pelo outro, nós os três nos
encontramos numa tesura na barranca da sanga.
Sem combinar previamente, saltamos juntos dos
nossos cavalos em cima da novilha. O Jair a
maneou com a ponta do cabresto, que saiu com
ele na mão sem desabotoar do bussal.
Imediatamente saltamos em nossos cavalos e
voltamos, acredito que toda essa operação não
demorou trinta segundos até que
aparecêssemos de volta na campina. Meu Pai
76
ainda descontrolado achando que a novilha tinha
ido embora.
Quando o informamos que havíamos pegado,
mesmo assim não deu nenhum sinal de
conformidade ou alegria. Isso que acabo de
relatar já aconteceu na fazenda nova esperança,
a fazenda que ele havia comprado.
Meu Pai quando se irritava virava bicho gritava
xingando a gente em qualquer lugar.
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VOLTANDO AO SENHOR CHADIGUE
Certo tempo após esses episódios o Chadigue
foi assassinado.
Nunca procurei a família dele para ver se estava
precisando de alguma coisa, uma falha grave da
minha parte. Que só agora percebi.
Não sei se meu pai fez alguma coisa por eles,
acredito que sim, porém, acho que mesmo que
tenha feito isso não me isenta da
responsabilidade.
Quando somos jovens temos certa fome
insaciável de sexo, só pensamos nisso ou num
jeito de conseguir isso. Felizmente após os
cinquenta, já conseguimos pensar em outras
coisas, que não seja relacionada a sexo. Só aí
conseguimos pensar em retribuir o bem que nos
foram feito, e que ainda não foi retribuído a
contento.
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VOLTO A FALAR SOBRE A FAZENDA CARANDÁ DE
GALHO
Era notório que no final, até as pessoas que mais
confiávamos, tinham um forte interesse, em
deixar nosso gado, bagual, para que não
pudéssemos pegar.
O campo era muito grande e estava muito sujo,
até as vazantes estavam sujando, só a Carandá,
parece-me que tinha 3.600 hectares, numa única
invernada sem divisórias, e estavam arrendando
a Sanga Soró que tinha mil hectares,
extremamente suja, e em comum, com a
carandá, ou seja, não tinha divisória entre elas. O
gado já estava arisco.
Meu Pai comprou uma Fazenda, precisávamos
pegar o gado para ir embora.
Vou contar uma passagem, para que vocês
entenda oque vem a seguir.
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Eu com 14 anos de idade, Juntando nosso gado
já para, irmos embora estávamos trazendo um
pouquinho de gado, ali mesmo na Sanga Soró.
O local extremamente sujo, íamos entre uns seis
homens mais ou menos, tinha aproximadamente
oito cabeças de gado, a ordem era pegar de
qualquer jeito, e para peões, laçar ou deixar ir
embora é como se fosse um jogo de copa do
mundo, para os atletas.
Para quem não sabe. Quando se corre um gado
a regra e voltar a se encontrar, no local de
partida. De repente o gado saiu em disparada,
nós todos saímos atrás, não demorei 10 minutos,
já cheguei de volta, eles já estavam todos me
esperando, ninguém havia pegado nada.
Meu Pai indagou, foi tudo embora filho? Eu
respondi tudo não, eu peguei um. Ninguém
acreditou até mesmo meu pai que me conhecia
muito bem, achou que ali a tarefa era impossível.
Disse-me, meio irritado, toca na frente vamos lá.
Lá chegando se depararam com o único touro
que tinha no gado, pois era ele que estava
maneado. Alguém sussurrou surpreso, foi ele
mesmo que fez isso! Pois esse é o touro que
íamos levando.
80
Voltando ao assunto que interessa.
Motivo que me levou a conclusão, que todos
queriam deixar nosso gado bagual.
No dia seguinte ao episodio que acabo de
relatar, chegou um primo de minha mãe, o
Pedrinho Galeano.
Não me lembro se chegou a cavalo ou de outro
jeito, sei que por causa da chegada dele meu Pai
precisou buscar ou levar algo deixado por ele,
como já estávamos de saída para o campo, meu
pai decidiu, e disse para o Pedrinho, vá você de
pratico no campo, que eu vou nessa diligência.
Foi oque aconteceu já estávamos batendo
naquela invernada há alguns dias. Estava difícil
pegar o gado, porém, é um fenômeno que
acontece, inclusive com gado bagual, que é o
ultimo estagio de arredio, do gado.
Por mais que você não encontre o gado reunido
ou que só encontre-os separados um dos outros,
portanto muito difícil de pegar. Acontece de ter
um dia que você pode encontra-los reunido no
limpo e fácil de pegar. Nosso gado estava um
81
pouco arisco, até pelas condições que até então
vínhamos encontrando-os sempre em lugares
extremamente sujo.
Naquele dia que fomos com o Pedrinho,
aconteceu o fenômeno, e como eu já disse todo
o peão adora laçar e eu não era diferente.
Inclusive eu havia perguntado ao Pedrinho, se
íamos laçar, fiquei entusiasmado com a resposta
afirmativa.
Ocorreu que naquele dia chegando à vazante da
sanga Soró, e por sorte numa parte muito limpa,
vimos o gado deitado do outro lado da mesma,
conseguimos atravessar a vazante sem sermos
vistos, fomos de vaga rinho costeando o
espinheiral ganhamos a parte suja, estávamos
entre o espinheiral e o lote de gado, que por
sinal era um lote grande.
Ficou sobrando como única alternativa para o
gado, sair na enorme e limpa vazante da Sanga
Soró.
Que igualmente a do Caranda, atravessava de
ponta a ponta a invernada, com apenas uma
diferença a da sanga soró era bem limpa,
naquela parte e dali até a divisa.
82
Quando o gado percebeu, já estavam sitiados,
com vários cavaleiros impedindo que ganhassem
o mato, eles levantaram e sem ter oque fazer.
Permaneceram parados.
Quando num ato insano, irresponsável ou
desonesto, não sei ao certo, só sei que todos os
cavaleiros inclusive eu, arrancamos nossos
cavalos em direção ao gado, logo percebi que o
gado não queria correr, e estava fácil de domina-
los mesmo assim todos eles passaram pelo meio
do rebanho, e cada um deles saiu atrás de
apenas uma rês, deixando o restante do gado no
centro da vazante, e só eu tentando segurar o
enorme lote de gado, que eles tinham
escorraçado.
Eu fazendo costado e tentando fazer com que se
acalmassem, quando eu já estava conseguindo,
fazer o gado parar, voltou um dos que já havia
escorraçado os mesmo, atropelando e
novamente passando por entre o lote, que
estava parando e novamente apartou apenas um
animal, e se foi atrás dele.
Isso contrariando o apelo que eu fazia através
de acenos com meu chapéu, para que não mais
83
fizesse aquilo, pois o gado estava sendo
controlado, nada disso adiantou.
O gado novamente entrou em desespero, e eu
continuei, tentando acalma-los naquela vazante
maravilhosa. Quando novamente o gado começa
a diminuir a velocidade, dando sinais deque ia
parar. Surge outro peão, e repete a covardia.
Eu desesperado, porém obstinado a segurar o
gado, e agora extremamente abalado, cruzando
a estrada que ligava a Fazenda Curtinho com a
fazenda Sanga Soró sabia que o gado ia
atravessar um carandazal ralo, e ia chegar à beira
do arame, que sem duvida é um bom aliado para
ajudar a segurar os mesmos.
Nessas alturas eu já vinha desesperado em
prantos,
Agora uma grande surpresa, um lote de gado
ainda maior próximo ao arame. Na hora mudei a
direção do meu cavalo para contorna-lo e fazer
apenas um lote. Agora a ideia era segura-los
todos na beira do arame.
Quando novamente surge outro, e repete a
covardia, empurrando todo o gado e meu sonho,
para mato.
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Virei meu cavalo em direção à sede e desolado
segui sem falar com ninguém.
Agora relembrando o passado encontrei outro
indicio que reforça o que eu já sabia ficou mais
claro ainda, ou foi por má fé ou por
incompetência a qual não quiseram assumir a
grave falha, pois quando segui em direção a
sede, todos me seguiram.
Deixaram o enorme lote de gado em um capão
relativamente pequeno, que em media não
passava de cem metros de largura e, na ponta
que o gado entrou era vazante na outra ponta
era a cede do retiro, portanto limpa também, de
um lado era o aramado do outro era uma
estrada aberta com mais de vinte metros de
largura, nesse lugar havia sido cancha de corrida
de cavalo.
Portanto com todas essas facilidades para
continuar laçando, elas não foram o suficiente
para estimularem os. Eles preferiram voltar da
metade do percurso, seguiram atrás de mim
mesmo eu sendo apenas uma criança sem
nenhum poder de decisão.
Lá chegando imediatamente contei ao meu pai
na frente de todos.
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Um deles disse ele está inventando isso porque
não conseguiu pegar nada. Os demais
murmuraram em favor dele.
Tamanha cara de pau deles, pois o único que
não estava presente no dia anterior quando
lassei o touro era o Pedrinho. Meu pai deve ter
engolido seco, porém, simplesmente, não disse
nada, com certeza, sabia da intenção de alguns
deles.
Aí, eles falaram também, que havia um boi do
meu Pai, palanqueado na beira do arame, divisa
com o Retiro Paraguai, e o mesmo não tinha sido
pego pela nossa turma. Sei que meu pai não foi
naquele dia, provavelmente tinha certeza que
era uma emboscada. No dia seguinte quando
foram ver o boi, já não tinha mais nada no local.
É quase certo, que aquela foi mais uma desculpa,
para mata-lo.
Dizia meu Pai. Quem trabalha
muito não tem tempo de ganhar dinheiro.
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MUDANÇA PARA NOSSA PROPRIEDADE.
FAZENDA NOVA ESPERANÇA
A responsabilidade da fazenda foi repassada, e o
gado que já estava ligeiro, ficou bagual
rapidamente. Lá voltei, algumas vezes, sempre
que ia ajudar na bagualeada eu conseguia pegar
um lote do nosso gado. Foi indo assim até que,
após um acidente, e alguns incidentes meu pai
desistiu de tudo.
Agora, estávamos a salvo, porém a mamata de
andar a cavalo no campo, havia acabado. Lá pra
cada semana de campo, trabalhávamos em
média um dia a pé com ferramenta, talvez
menos. Aqui era o contrário. Foi aqui também
que vi e ouvi meu pai chorar, pela única vez.
Foi assim que chegamos, na Fazenda nova
esperança, nossa propriedade. Saí para recorrer
à invernada, já era de tardezinha, quando
cheguei, no fundo dela, lá chegando encontrei a
comitiva do Dr. Francisco Gomes Bezerra, nosso
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ótimo vizinho, que tinha como gerente, o SR.
Juvêncio Farias, estava trabalhando o gado deles,
e eu já cheguei ajudando-os, até quando
paramos o serviço, por não poder mais enxergar,
pois já estava escuro.
SR. Juvêncio, por sua vez, convidou-me para
dormir na fazenda Loma. Alegou que além de
estar escuro, também não tinha estrada, disse-
me vamos com nós, insistiu, você não conhece o
campo e pode se perder. Disse amanhã cedinho
agente volta, quando seu pai estiver encostando
ao rancho você também vai tá chegando. Diante
dessa teoria perfeita, resolvi então a fazer aquilo
que era mais cômodo, e conveniente para mim,
ia comer uma comida diferente sem contar a
agradável companhia dos novos companheiros.
Só que na pratica, não foi bem assim que
ocorreu. Sr. Miguel, empregado da nossa
fazenda, quando viu que já era quase meia noite,
e nada de eu chegar, deixou sua esposa, pegou a
bicicleta, e partiu para Porto Murtinho, ao
encontro do meu Pai.
Lá chegando, por volta das três horas da manhã,
meu Pai já estava em pé fez o comunicado,
colocou a bicicleta na camioneta Aeroilis, e
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voltou com meu pai. Assim que chegaram, meu
pai puxou o cavalo que estava na soga. Pois
ainda não tínhamos feito prasôleta. Jogou o
apero em cima e saiu, a me procurar.
Quando clareou o dia, estávamos chegando à
divisa, quando avistei meu pai que chegava
também. Disse-me alguma coisa, tipo você esta
vivo! Meu filho. E disse para o SR. Juvêncio
Farias, agora eu vou chorar, seu Juvêncio disse
pode chorar! Chorou como uma criança, durante
cinco minutos aproximadamente, chorava
incontrolada mente soluçava.
Na época eu fiquei com vergonha, eu havia
aprendido que homem não chorava, eu não
chorava bom, pelo menos na frente dos outros.
Hoje choro toda vez que me lembro disso, e de
muitas outras e choro, na frente de qualquer um.
Emociono-me e choro até quando assisto
noticiário ou novelas.
Aqui coitado de mim que nunca morri de amores
por ferramenta. Na nova marada, não tinha
nada além do campo totalmente virgem e sem
nada de benfeitorias.
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Teríamos que construir tudo, inclusive limpar o
lugar para fazer o rancho.
Soltamos o gado na invernada, fizemos o
ranchinho no meio do mato.
Afiamos as foices, pá e machado, e partimos
para o ataque, trabalhávamos até a exaustão.
Acabaram-se as campeiradas, acabou a alegria.
MEU PENSAMENTO VOLTANDO A FAZENDA
CARANDA DE GALHO
Saudade das poucas vezes que emparelhávamos
quatro cavaleiros e arrancávamos na mesma
direção para trompar de frente um toro erado
91
que quando saia o gado ele ficava acampado no
centro do mangueiro.
Lembro-me de uma vez que estávamos
trabalhando o gado na fazenda Curtinho, um
touro chifre ponta aguda arrancou e deu uma
chifrada na cocha de outro que saiu a ponta do
chifre lá na anca do animal.
Meu Pai imediatamente ordenou que
retirássemos os cavalos e que ficassem apenas
dois ou três cavaleiros para laçar o touro.
Surpreendentemente ninguém quis ficar do lado
de dentro para laça-lo, eu com uns dez anos de
idade nem se quer me atrevi em pedir para laçar,
pois se me atrevesse certamente tomaria no
mínimo uma puteada muito grande.
Pois meu Pai disse, se vocês não são homem
para fazer isso deixa que um faço. Saltou no
cavalo e disse abra a porteira que estou
entrando, entrou e já mandou a corda no bruto,
quando ele estava bravo não errava laçada
mesmo, só ai apareceu gente para ajuda-lo a
derrubar para cortar o chifre do baita.
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VOLTANDO A REALIDADE FAZENDA NOVA
ESPERANÇA
Meu Pai vinha à fazenda quase todos os dias
porem a noite dormia na cidade, eu só ia à
cidade aos sábados à noite e voltava nas
segundas de madrugada.
Agora aos poucos eu vinha percebendo que na
Carandá de Galho eu era feliz. Aqui na maioria
das vezes, começávamos a trabalhar no clarear
do dia, porém trabalhávamos até a exaustão.
Quase sempre, eu era quem cozinhava,
enquanto os companheiros começavam, a
trabalhar ali por perto, eu preparava o arroz
carreteiro, que era muito rápido, pois o fogo era
sempre grande e a água, que havia sobrado do
chimarrão, já estava bem quente, era só cortar o
charque, lavar, e jogar na panela, o arroz vinha
logo a seguir, pois não tínhamos tempo a perder.
Quando aprontava eu gritava aos companheiros,
comíamos e íamos para o trabalho,
normalmente esta segunda etapa, era mais
distante. O serviço mais próximo da casa, era pra
ser feito antes do tira jejum.
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Normalmente trabalhávamos nessa segunda
etapa, sempre competindo para ver quem é que
roçava mais rápido.
Só levantávamos a cabeça quando já estávamos
tontos vendo que já íamos desmaiar.
Quando era por volta de onze horas, eu ia
primeiro, para fazer o boião, sempre eu ia
tremendo, com medo de desmaiar sentindo uma
fraqueza terrível.
A comida era sempre muito simples, era feita em
apenas uma panela grande, ali era o arroz com
carne, e raríssimas vezes colocava, uns fiapos de
macarrão. Nunca tinha outro tempero, era só sal
de gado, apesar de eu gostar de feijão, lá nunca
era servido.
Quando era mais ou menos onze e quarenta e
cinco, eles também chegavam, acredito que nas
mesmas condições, ou seja, já pra desmaiar,
porem ninguém ousava admitir a fraqueza.
Passavam uma água nas mãos, quando
passavam. Do contrario iam direto pegar os
pratos.
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Após o almoço, ficavamos de vinte a trinta
minutos se abanando, espantando, lambe olho e
cara bossa, pois não tínhamos energia elétrica,
eu ligava o radio a pilha, na AM na tentativa de
ouvir pelo menos parte de uma musica, da radio
difusora de Aquidauana.
É incrível, mas nunca conseguia ouvir uma
musica inteira, normalmente fugia a vós e eu
virava o radio de um lado para o outro na
tentativa, de conseguir ouvir pelo menos um
pedacinho. Quase sempre inútil, só se ouvia
descargas.
Agora novamente de volta ao serviço. Com uma
vantagem, o por do sol era uma hora sagrada
para meu pai, portanto, deveríamos parar o
serviço braçal, antes do sol se pôr, com isso, se
nos estivesse perto de casa, poderíamos chegar
ainda de dia claro.
Isso não impedia de ficarmos até mais tarde,
juntando madeiras, troncos de arvore para jogar
na fogueira, que nessa altura alguém já havia
acendido essa era a maneira mais pratica para
fazer a limpeza, após a derrubada das arvores
junta-las e tocar fogo, isso era feito após a
entrada do sol.
95
A INJUSTIÇA
Teve uma época em que, trabalhávamos entre
três pessoas, era Everaldo Amarilha, Mendes
Alves e eu, Rosalvo Godoy leite. Trabalhamos por
longo tempo juntos, no mesmo bati dão que
anteriormente, mencionei.
Certo dia o Mendes que se achava, superior
como todo funcionário que sai de uma fazenda e
é aceito de volta, se achou no direito, de fazer o
Everaldo Amarilha pedir a conta. Decidiu que a
96
partir do dia seguinte, iriamos, começar a roçar
num local mais afastado da casa, Começou então
a levantar uma hora da manhã, tirava leite, pois
ele era o leiteiro. Acordava-nos, tomávamos
mate fazíamos a comida comíamos e saía para o
trabalho.
Lá, teríamos que esperar clarear o dia para
começar a roçar. Mais ou menos vinte dias, o
Everaldo disse-me, ele tá querendo que eu vá
embora, não fala mais comigo, não aguento essa
situação.
Falou-me, também, não é pelo serviço, esse
servicinho, eu o aguento anos a fio. Disse-me, se
assim ele quer é assim, que vai ser, disse
também vou embora, pra mim não falta serviço.
Pediu a conta, para meu Pai, e partiu.
GRANDE EVERALDO AMARILHA, hoje me sinto
envergonhado por não ter, intercedido, em seu
favor. Sei que, se você não foi o melhor, mais
trabalhador, pelo menos foi o segundo, entre as
centenas de funcionários. O primeiro foi o
Mendes que na sua época ele já não estava mais
aguentando, e para não perder o posto, resolveu
te retirar dessa forma antidesportiva.
97
Lembro-me de certa vez que Everaldo Amarilha
colocou um mourão de aproximadamente cem
quilos no ombro, passou numa marcha meia
corrida pelo meu Pai que seguia na mesma
direção, desafiando-o para correr uma carreira.
Hoje percebo, que apesar de o Mendes ser um
desumano para aguentar serviços, ele sabia que
não ia aguentar com o Everaldo, essa foi à única
razão da pressão psicológica que exerceu contra
ele, pois não tinha outro motivo para pressionar
um companheiro tão bom e trabalhador como
era o Everaldo Amarilha.
O pior de tudo, é que pra mim a maior parte
dessa trabalheira cruel e desumana que éramos
submetidos. Por nossa conta e risco, sem a
menor exigência do meu pai, era uma
brincadeira masoquista, que ficamos viciados e
competíamos entre nós.
Apesar de toda aquela trabalheira. Não foi um
bom investimento, hoje percebo que pelo menos
na parte da roçada, tudo bem que quando
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roçávamos e plantávamos o gado comia, porém,
logo estava sujo novamente.
Por mal dos pecados, com essas roçadas e
derrubadas, acabamos com a mata ciliar, e
consequentemente, com o córrego da fazenda.
Só agora após muito tempo é que o córrego
começou a dar sinal de vida.
É impressionante, como a gente cria resistência
quando desafia os próprios limites até a
exaustão. Exaustão que me refiro, não é
trabalhar um pouco a mais, é sim fazer esforço
extremo ao ponto de quando o cérebro enviar
ordem para pegar no pesado os nervos
repuxarem fazendo com que os músculos todos
tremem de forma incontrolável e assustadora, só
de receber o comando, antes mesmo de pegar
no pesado.
99
DESMAMANDO
Naquela época, final de 1979, eu tinha dezoito
bezerros, e uma novilha, sendo quatorze
bezerros que recebi de renda, das setenta vacas,
que meu Pai, havia entregado para mim,
referente, a duas vacas, que recebi quando, nasci
uma delas ganhei do meu padrinho Epaminondas
Rodrigues.
A outra ganhei de um jovem, que infelizmente
faleceu ainda muito novo, Morreu numa disputa
de bola militar, quando servia o exercito, ele
atendia pelo nome de Henrique Aristimunha.
Portanto dezenove anos após, recebi setenta
vacas. Parece muito, porém, se você pegar duas
vacas arrendada, e invés de entregar os bezerros
de renda todo ano, você não entrega-los e assim,
deixar remontando, no final vai dever, mais ou
menos essa quantidade. O calculo para
arrendamento de gado na época era 20%.
100100
Agora se você tiver campo para criar, e ficar esse
mesmo tempo sem vender, provavelmente vai
ter acumulado três ou quatro vez essa quantia.
Com relação os outros cinco animais, que
completava os dezenove, foram frutos de
trabalho, do ano anterior, quando eu tinha
hortaliças.
Resolvi então novamente, tentar a vida na
cidade. Foi quando vendi meus dezenove
animais. Comprei uma maquina sorveteira que
também fabricava picolés, e outros
equipamentos para tocar uma fabrica de picolés.
Comprei também, uma moto TT 125.
Ocorreu que a maquina sorveteira que comprei,
demorou muito para ser entregue, nesse período
de espera, acabei ficando sem dinheiro, e por
volta de meio dia, passei em frente à casa do
meu Pai na cidade, e coincidentemente, vi-o
chegando e entrando com seu carro na garagem.
Na época ele morava na fazenda.
Foi quando cheguei junto também, e pedindo
sua benção, e sendo abençoado. Disse-lhe, Pai
da pro senhor me arrumar, X. Ele disse-me,
dinheiro pra dá pra vagabundo, eu não tenho,
mas, se você estiver passando fome, e tiver
101101
coragem para trabalhar, pode ir trabalhar na
minha fazenda que te dou de comer. Eu muito
envergonhado com aquela situação disse-lhe,
obrigado Pai, desculpe-me pelo incomodo, sem
saber oque dizer a mais, pedi licença e fui saindo
como se nada tivesse acontecido.
Imaginem leitores, eu que fui educado como
adulto, desde que me senti por gente, foi assim e
com raríssimas exceções, que fizeram a me sentir
criança.
Meu relacionamento com ele continuou o
mesmo, eu sempre o ajudando em tudo que me
pedia. Porém ficou tentando me dar dinheiro ou
qualquer outra coisa, que achava que eu poderia
aceitar. Porém, eu que tive um bom mestre, e
praticamente tudo que aprendi foi com ele.
Fiquei dezenove anos sem aceitar absolutamente
nada dele. Exceto almoço quando estava
trabalhando com ele ou em dias de festas.
Fui tão radical com meu Pai, Tratando se de
aceitar ajuda que certa vez eu mesmo vendi pra
ele a já dita fabrica de picolés que eu tinha.
102102
Vendi com bastante estoque assim como papel
para picolé, palitos, sabor etc. Pois o mesmo
comprou e cedeu para uma de minhas irmãs
explorar.
Ocorre que esta irmã que me refiro. Até esta
data não conseguiu levar nada a diante, mesmo
sendo algo muito produtivo, como é a indústria
de picolé, poucos dias após o inicio, já largou
mão de tudo. O maquinário e o estoque ficaram
praticamente intactos.
Pouco tempo depois, comprei outra sorveteria,
que também era fabrica de picolés, meu Pai
sempre no meu pé, querendo que eu pegasse o
estoque que eu mesmo havia vendido. Ele queria
que eu pegasse de graça, pois se eu não
ocupasse aquilo, tudo ia se perder, como se
perdeu tudo.
Nunca peguei um papel de picolé se quer. Nunca
peguei nada, aquilo ficou muitos anos estocados.
Maquinários, carrinho para vender picolés,
formas, etc. Ficou tudo deteriorando. Eu muitas
vezes precisando, mas nunca dei o braço a
torcer.
No final da década de oitenta, ele vendeu uma
parte da fazenda. Ficou com um crédito,
103103
equivalente a oitenta bois, para receber em
compras, de um supermercado, da cidade. Disse-
me. Filho tem o equivalente a oitenta bois, para
comprar, no supermercado Tamoio, não vou
conseguir comer, praticamente nada disso.
Portanto, não quero que você, gaste nenhum
centavo em compras, completou, compre tudo
que quiser, na minha conta.
Fiquei feliz e muito agradecido, porém nunca
comprei na conta dele se quer uma caixa de
fosforo. Assim como ele mesmo havia me
ensinado, sou um homem sadio e não preciso de
ajuda. Só um esclarecimento, o dinheiro que eu
havia pedido, era o equivalente, a um prato feito
ou um PF como acostumam dizer, foi na primeira
e única vez que pedi, nunca existiu uma segunda
vez.
Não tenho um pingo, de magoa do meu Pai, ao
contrario, tenho orgulho, acho que essas
atitudes, e ensinamentos, demostra o GRANDE
Homem que foi. Oque me dói, é imaginar que
aquele GRANDE Homem, deve ter voltado a sua
fazenda, em prantos, pois sei o quanto e difícil
ser duro com um filho, porem, com alguns filhos
isso é necessário.
104104
Muitas vezes, me pego pensando que fui muito
duro para com ele, por ter ficado dezoito anos,
sem aceitar absolutamente nada, que tanto
queria oferecer-me. Porem me tranquiliza
quando me lembro de o que uma de minhas
irmãs, disse-me. Nós não temos culpa de agirmos
assim, foi ele que nos ensinou.
Após esse ensinamento, continuei sendo
convidado pôr ele, algumas vezes, a ir, fazer
batidas na fazenda após a meia noite, na
tentativa de evitar roubo de gado. Sempre íamos
apenas nós dois. Nunca deixei de ir, largava tudo
que era de meu interesse, para dedicar-me
integralmente, ao interesse dele.
Uma vez, ocorreu um episódio bizarro. Meu pai
tinha convicção que naquele dia, os ladrões
bateriam na nossa fazenda, e achava que seria
vário deles, porém de uma única quadrilha. A
mais temida da região.
Nós estávamos nos preparando para sair, meu
Pai preocupado, com a quantidade de ladrões, e
apenas ele e eu para combatê-los. Meu Pai
ordenou o fulano, se referindo ao chefe, esse
você deixa comigo. Eu é que o quero, esse é
meu disse ele.
105105
Foi aí que meu Pai teve uma ideia, perguntou-
me, será que fulano de tal, puxa o gatilho se
preciso for? Se referindo a um amigo nosso, Eu
respondi, com toda a certeza.
Convidamos, ele aceitou na hora. Por sua vez
adentrou a própria casa, para os preparativos,
Quando de repente, por volta de uma hora da
manhã o telefone tocou, ele atendeu e chamou
meu Pai dizendo, dona Maria quer falar com o
senhor. Quando meu Pai atendeu, outra
surpresa era minha mãe mesmo, preocupada.
Ela indagou. Oque que vocês vão fazer? Meu Pai
disse nada de mais, minha Mãe como nada, too
sabendo que vocês vão matar o Fulano, meu Pai
indagou, quem disse isso? Minha mãe, o
beltrano acabou de me ligar, falando que não era
pra eu me preocupar, pois vocês só iriam mata-lo
e já voltariam. Disse ainda, como posso não me
preocupar.
“O beltrano era o amigo que acabara de ser
convidado, já ligou informando”.
Com isso, Meu Pai voltou, contou-me e disse,
tudo que podemos fazer agora é ir recorrer, não
podemos fazer nada, além disso.
106106
Por sorte recorremos tudo e nada encontramos.
Naquele dia o local escolhido, por eles,
provavelmente, deve ter sido outro.
A princípio, achei que nosso amigo havia errado
em comentar. Porém agora, pensando melhor,
vejo que se tivéssemos matado aqueles
bandidos, com toda a certeza, iriam descobrir
imediatamente, veja bem, o cara era influente.
Se morresse, na nossa propriedade, roubando
nosso gado, quem seriam os autores? Estava na
cara, que seriamos nós.
Como vocês podem ver, quando era para
defender seu patrimônio, ele criava expectativa,
e as tornava tão real, que pra ele a batalha já
havia começado. Quando na verdade, o alvo dos
ladrões nem sempre, era a nossa fazenda.
Certa vez meu Pai minha Mãe e eu, estávamos
passando o domingo na fazenda deles. Eu
comentei com ele sobre as ansiedades que tinha.
Disse a ele que toque de telefone assim como,
quando batiam na porta de minha casa, isso me
apavorava. Quando isso ocorria, só faltava eu
107107
sair correndo pelado do banheiro, para atender a
porta. (na época campainha era coisa de gente
rica, nos estávamos distante desse alto luxo).
Meu Pai disse-me, filho larga mão disso, meta na
sua cabeça o que vou te dizer. Quando batem à
porta da casa da gente é só para incomodar, e
continuou, é gente querendo pedir algo
emprestado, é pra pedir dinheiro, pra pedir que
você saia de fiador, pedir seu carro emprestado,
completou larga mão de se apavorar com isso,
trate de começar a se policiar.
Disse-me você acha que se alguém encontrar
um pacote contendo dinheiro vai bater na porta
de sua casa pra perguntar se foi você que
perdeu? Isso é bem pouco provável, disse ele.
No dia seguinte, na segunda feira bem cedinho,
bateram á porta de minha casa, no vaco da
batida eu voei na porta do meu quarto, ao levar
a mão à fechadura, lembrei o conselho do meu
Pai.
Respirei fundo e mudei o rumo, agora fui ao
banheiro fazer tudo sem a menor pressa
possível, um relaxamento de aproximadamente
trinta minutos, as batidas não paravam.
108108
Quando saí do banheiro, eu casado na época,
tentando controlar a ansiedade, dei uma olhada
na esposa e resolvi dar uma, pra ajudar controlar
o stress, e mais uma, algum tempo depois, uma
trégua de uns trinta minutos nas batidas, voltei
ao chuveiro para aquela ducha sem pressa, as
batidas recomeçaram agora muito mais
violentas, ao ponto de eu achar que a porta da
velha casa não resistiria.
Eu pensando esse é um bom teste, tenho que
controlar a ansiedade é agora, esquecer que isso
esta ocorrendo. Vestir-me e fazer tudo que
tenho que fazer o mais lento possível. Foi assim
que fiz.
Aproximadamente duas horas mais ou menos,
abri a porta que balançava com as batidas.
Imaginem a minha surpresa. Era o meu
respeitadíssimo e "temido" PAI, estava sentado
na calçada, com as costas, encostada em uma
das folhas da porta.
Quando percebi que era ele, com toda certeza
entrei em pânico. Disse-lhe, me perdoa Pai, eu
pulei na primeira batida, mas lembrei do seu
conselho.
109109
Meu Pai saltou fora da calçada, com aquele baita
pedaço de pau, boleando em sua mão disse-me
gritando oque eu te falei é verdade, se aqui
estou e porque quero um carro emprestado, se
vai me emprestar você fala do contrario já vou
embora. Eu desesperado, disse claro pai, pode
pegar. Aí ele um pouquinho menos stress ado,
disse-me eu ainda estava batendo, porque achei
que você tinha morrido meu filho, já fui lá à tua
sorveteria, bati muito lá também, foi lá que achei
este pau.
Passando a mão nos dedos da outra mão disse-
me, os dedos já não davam mais, estão todos
doloridos.
Outra passagem que não me esqueço, é quando
cheguei à varanda da casa dos meus Pais, em
Porto Murtinho, onde ele e minha Mãe estavam
sentados e meu Pai disse-me, estou vendendo,
quinhentos hectares parte de nossa fazenda meu
filho. Minha Mãe por sua vez num tom agressivo,
disse com vós clara e firme, eu não assino a
escritura, não assino nada.
110110
Eu que por covardia, não sei aumentar meu tom
de vós quando necessário. Naquele momento
me surpreendi com minha atitude. Com vós
firme e superior a dela, disse-lhe, nem fala uma
coisa dessa Mãe! Repeti nem fala isso! Eu disse
a ela, o Pai é um Homem honrado, que sempre
trabalhou em prol da família, agora a senhora vai
fazer o homem passar vergonha. Ela
imediatamente, com uma vós serena disse,
então eu assino, eu assino.
Senhores leitores, meu Pai nessa época estava
praticamente quebrado.
Na fazenda só tinha umas leite rinhas, e tinha
também, uma mixaria de gado arrendado. Tinha
dois corcéis velhos, um deles servia apenas para
retirar peças, o melhor também, já estava na
ânsia da morte.
111111
DUAS GRANDES TACADAS E UMA VEZ, SALVO
PELO GONGO.
A primeira grande tacada do meu Pai, que tenho
conhecimento, foi no ano de 1972, quando,
comprou a fazenda Nova Esperança, contendo
mil e duzentos hectares, pagando o equivalente
a duzentos e quarenta garrotes.
Portanto, fez um grande negocio. Apesar de
tudo, o Horácio, Pôtô, e Xadigue, que eu havia
mencionado anteriormente, acabaram
contribuindo para tal fato. Portanto, para sermos
justos, devemos gratidão a eles.
A segunda foi no ano de 1990 quando vendeu
apenas quinhentos e dois hectares, da gleba
acima referida.
112112
Pelo valor equivalente a mil e quinhentas vacas,
contando com carro dinheiro e o valor em bois
para ser comprado no Supermercado Tamoio.
113113
SALVO PELO GONGO
Foi salvo pelo gongo, quando ficou louco por
uma fazenda na estrada da cachoeira, a qual não
me recordo o nome. Ele Estava disposto a dar
praticamente todo o gado que tinha, como sinal
de negócio.
Ficaria devendo por volta de mil vacas, as quais
ficariam arrendadas, e estas ficariam vinculadas
a escritura. Caso não fosse cumprido os prazos.
O promitente comprador perderia o direito na
fazenda assim como, o valor já acertado.
Nesta empreitada, fiquei por volta de trinta dias,
telefonando para meu Pai, em todas as
madrugadas, pois na época eu morava em
Campo Grande, e não existia celular.
114114
Todos os dias eu fazia a mesma pergunta ao meu
Pai, eu indagava, como é que o senhor vai pagar
duzentos bezerros de renda por ano? Sendo que
o senhor, vai ficar sem nenhuma vaca para parir.
Parece-me que meu Pai estava tão apaixonado
pela fazenda, que seu cérebro, categoricamente,
se recusava entender, o que estava diante dos
olhos dele.
No final, meu Pai já não queria mais me ouvir,
dizia que iria fazer o negócio, que não adiantava
mais eu ligar, porém no dia seguinte, eu
encontrava força não sei de onde, e novamente,
telefonava, e desesperado implorava ao meu Pai.
Um belo dia, quando buscava forças para
novamente ligar.
Fui surpreendido com um telefonema dele, que
me dizia obrigado, obrigado, obrigado meu filho,
você salvou nosso patrimônio. Obrigado meu
filho, obrigado. Disse eu estava louco meu filho
obrigado. Disse ele, eu já dei dezessete vacas,
porém, fico feliz em perder apenas essas. Ele
complementou dizendo, eu ia ficar sem nada.
115115
Nos meados de 1998, eu cometi um homicídio,
contra um individuo que vinha me insultando a
mais de vinte anos.
Fui à casa de meu Pai, para esperar um
advogado, e com ele me apresentar. Quando
meu Pai chegou da fazenda, já sabia do desfeche,
e me disse, ele morreu filho! Eu respondi, era pra
morrer mesmo meu Pai. Ele disse então, era eu
que queria mata ele. Só que eu queria passar o
carro por cima. Eu disse que bom que o senhor
não fez isso Pai.
Dois dias após o episódio, meu Pai entrou no
quarto onde eu me encontrava, e disse-me,
Filho, sei os motivos que te levou a matar aquele
cara e já te falei, eu é que queria mata-lo. E
como não consegui.
“Ele pensava que sabia, não contei nada a ele,
porém, os motivos eram muito mais graves que
ele pudesse imaginar.”
Aí ele implorou, disse-me, por favor, filho, me
deixe participar, quero pagar toda a despesa.
Disse já dei dinheiro para o Dr. Umberto, ele vai
contratar o melhor advogado de Campo Grande,
continuou dizendo, você só vai depor, e vai ser
levado para o melhor hotel da cidade, é lá que
116116
você vai ficar com sua mulher. Disse mais, não
quero que você pegue se quer um dia de cadeia.
Aí eu repeti, Pai, pelo que eu passei só oque me
interessa é a absolvição por sete votos a zero.
Isso é oque mereço, porém já vivi minha vida e
estou preparado para puxar dezessete anos sem
ver o sol. Repeti, estou preparado Pai, acredite
nisso.
As coisas saíram bem diferentes me apresentei e
lá fiquei aguardando o julgamento no sistema
fechado.
Poucos dias antes do meu julgamento, fui
informado que seria defendido por um advogado
muito caro. Tentei argumentar no sentido deque
advogado caro só serviria se fosse para comprar
o juiz.
Isso eu não admitia, mesmo que fosse para eu,
ficar o resto de minha vida na cadeia. Nada disso
adiantou, nessas alturas já não me pedia mais, só
determinava que eu assinasse, ainda contratou
mais um advogadinho esse da pior espécie, sem
vergonha, que o chantageava, dizia para meu
Pai, que caso eu resolvesse dispensa-lo, ele iria
interceder com o juiz, para eu apodrecer na
cadeia.
117117
A proposito, esse advogado marginal que me
refiro era genro do homem que junto com ele,
levou as dezessete vacas do meu Pai, na
promessa de negociar a fazenda. Imaginem com
quem meu Pai estava se metendo.
Eu estava mesmo, muito bem preparado, tanto é
que mesmo quando o juizinho mandou colocar-
me, como boi de piranha, junto com meus piores
inimigos.
Marginais estes que além de ter roubado gado
da nossa propriedade. Eram autores de vários
homicídios, e tentativas. Entre as vitimas,
estavam autoridades, como cabo e soldado da
policia militar, um oficial de justiça, um
pecuarista, e até um oficial do exercito
Paraguaio. Mesmo assim nem se quer mandei
avisar meu Pai.
118118
TRANSFERENCIA
Quando fui levado para Campo Grande, MS.
Cheguei num lugar chamado de corró, na
penitenciária de segurança máxima, pensei
comigo aqui é o fundo do posso.
119119
Mesmo assim, ainda senti certa paz, tive certeza
que não tinha mais onde cair.
Imaginem aproximadamente sessenta homens,
muitos deles, se drogando, alguns exibindo arma
branca outros extorquindo. O assunto que
predominava era sobre assassinato, assalto,
roubo e extorsão.
A dependência que fui amontoada, mais parecia
com deposito de lixo.
Apenas uma saída de agua da parede, e um
buraco onde acocávamos para defecar. Mesmo
assim, sempre que conseguia falar com alguém
da minha família, eu dizia aqui tá muito bom,
aqui é o paraíso. Estou feliz aqui, não se
preocupem comigo.
Senhores leitores, tudo que sei, aprendi com
meu Pai, não aprendi a reclamar, não sei se foi
pelo serviço excessivamente duro que encarei
dês de criança, se é pelo excesso de
responsabilidade que me foi imposta muito
cedo, ou simplesmente ele se esqueceu de me
ensinar a reclamar.
Vou voltar um pouco antes do referido
homicídio.
120120
Na segunda quinzena do mês de fevereiro, de mil
novecentos noventa e oito. Cheguei à fazenda do
meu Pai. Fiquei impressionado com que ele me
mostrou.
Convidou-me para juntos irmos até uma casa
desabitada, na época, mandou que eu retirasse
uma pilha de pneus velhos, que estavam em um
dos cômodos da casa.
Já era no finalzinho da tarde, o quarto escuro,
sem nenhuma iluminação, mandou-me que eu
procurasse um buraco que por ali havia. Quando
o encontrei, Determinou que eu enfiasse meu
braço buraco adentra, até encontrar um saco de
estopa. Determinou que eu tirasse o saco para
fora. Mandou que eu abrisse o mesmo, acredite,
o saco estava com dez mil reais.
Disse-me caso aconteça alguma coisa comigo,
esse dinheiro é pra você, e o Carlos, o Carlos que
se referiu é meu irmão, continuou, ainda não
falei pra ele, que é pra dividir com você, ainda
vou falar, caso não de tempo. Só de você contar
que sabia do lugar ele vai acreditar. Eu disse
muito obrigado Pai, mas deixe só para ele. Ele
repetiu, não, eu quero que você fique com a
metade. Eu por respeito me calei.
121121
Quando meu pai faleceu, nem se quer liguei
para meu irmão. Eu havia dito para meu Pai, que
não queria, portanto, não seria justo, após o
falecimento, eu mudar de ideia.
RECORDAÇÃO
Quando eu era criança, meu pai sempre me dizia
o seguinte: Sempre trabalhei muito já passei
muita vergonha, quando enchia meu arreio de
bolças e sacos e eu tinha que vim sentado lá nas
alturas a cima da carga.
Isso pra mim que na época era novo, era muito
constrangedor, dizia ele. Seguro com unhas e
dentes o máximo possível, porque quando
122122
minhas filhas crescerem, eu não quero vê-las
recebendo namorando em rancho de bacuri.
Dizia que a responsabilidade dele para com as
filhas era até o casamento de cada uma delas,
após isso a responsabilidade passaria ao marido,
das mesmas. Já com os filhos Homens ele
pensava diferente, achava que a
responsabilidade dele, para com os filhos, era a
vida toda, pois assim como achava que a
responsabilidade era dos maridos das filhas, para
com elas. Achava que no casamento dos filhos a
responsabilidade, era dos homens. Ele também
se achava na obrigação de responder, se preciso
fosse para defender uma nora.
Depois que as filhas estavam todas muito bem
casadas dizia para mim, imagine você, filho, se
eu não tivesse segurado.
Quem ia visitar minhas filhas, seria o fulano o
beltrano o sicrano, sempre mencionando os
nomes dos empregados. Normalmente daquele
mais pobrezinho.
O que meu pai mais falava, quando eu era
criança era sobre honestidade. Dizia meu filho,
nunca faça negócios com pessoas que você saiba
123123
que gosta do alheio. Agente precisa defender o
da gente, mas jamais mexer no alheio.
Falava outra coisa que não se faz, é comprar
gado, de País vizinho, dizia preste atenção,
nessas pessoas que fazem isso, o final delas é
sempre muito triste.
Ele fazia um teatrinho, que me comovia muito,
dizia o seguinte: Essas vacas que trazem do
Paraguai, normalmente vem berrando triiiiste,
querendo voltar, o condutor, vem bravo
espraguejaaando.
A maioria delas são vacas leiteiras, que foram
roubadas, e que deixaram o bezerrinho
berraaando de fome no chiqueirinho, nessas
alturas, as criancinhas também choram por falta
do alimento. No ranchinho quase caindo a vó,
que muitas vezes é uma viúva, já maldizendo e
espraguejannndo. Perguntava ele, como é que
uma pessoa que se envolve nisso, pode ser feliz?
Esse tipo de coisa é que eu ouvi, na minha
infância e juventude toda.
Ele era tão severo radical e obcecado pela
honestidade, que certa vez, emprestou um
dinheiro, para uma determinada pessoa, e o
124124
mesmo quando foi acertar, entregou uma vaca
como forma de pagamento, meu pai recebeu,
marcou e a soltou na invernada, e só depois
entrou numa que a vaca poderia ter sido fruto de
roubo. Como eu já havia dito a invernada na
Carandá era muito grande.
Acredite, meu pai bateu campo durante vários
dias, ele extremamente angustiado, até um dia
encontra-la. Matou a pobre vaca à bala, retirou a
marca dele e a deixou para os urubus comer.
Disse-me, meu filho, traia mal avida, não pode
se misturar a nossa. E muito menos servir de
alimento, para meus filhos.
Meu Pai dizia que quando estava com raiva, não
errava laçada e nem tiro. Tiro e não sei, Porem,
laçada, não me lembro de ter visto errar,
realmente ele laçava muito, quando estava
nervoso.
125125
O que contenta o homem é papo e rendi dura,
dizia ele.
Dizia ele, mulher puta e homem ladrão nunca
deixa da profissão.
Conheço rengo sentado e sego dormindo.
Algumas vezes, prefiro meus inimigos. Eles não
me dão prejuízos.
Meu Pai, quando sentia dor de dente, exigia que
arrancássemos os dentes dele, seja com
barbante ou com alicate comum, de uso do
serviço domestico, arrancávamos sem anestesia.
Dizia ele, estou pagando, os sofrenassos que
dava nos meus cavalos.
126126
Certa vez eu disse ao meu Pai, a gente só
aprende apanhando. Ele disse-me só se for você,
eu não preciso apanhar, quando vejo a barba do
vizinho pegar fogo, ponho a minha de molho.
Dois sentimentos que meu Pai levou com ele,
primeiro, com relação ao próprio pai, ele foi
incumbido de não deixa-lo sentar na cama, disse-
me que quando meu avo fazia força para
levantar, meu pai empurrava-o de volta na cama.
Disse-me que, uma das vezes que o empurrou,
meu avo, olhou firme pra ele, esse é o gesto, que
não conseguia esquecer, pois meu avo, já não
falava mais.
O segundo é com relação, a uma senhora que
cuidava de duas sobrinhas dele, a Sonia e a
Cleuza, ambas as filha do meu tio, alicio.
O pai delas, havia-as deixado, com uma jovem
senhora, que foi mulher dele, porém, não era
mãe legitima das meninas. Parece-me que
127127
quando meu tio arrumou outra mulher, pediu
para que meu pai, as trouxesse.
Meu pai foi, e mesmo constatando que a dita
mulher as amava muito, e as meninas eram
muito bem cuidadas, e não queria ir de jeito
algum, meu pai as pegou na marra, foi quando
uma delas deu uma violenta tapa no rosto dele,
mesmo assim ele as levou para meu tio.
Lembro-me, de uma das vezes que eu insistia,
para meu pai fazer determinado investimento.
Isso já na década de noventa, ele não queria, eu
insistia, ele relutava, até que em determinado
momento perguntou-me, o que vou fazer com o
dinheiro do lucro? Eu respondi, pegue o lucro e
vá fazer uma viagem, ele respondeu, cabei de
chegar de viagem, e tem mais, não gosto de
viajar, eu gosto mesmo e da minha fazenda. Eu
disse, então compre uma camionete nova, ele
respondeu, não quero caminhonete nova,
prefiro esse Gol, que tenho, ele é novo, pois com
ele não corro risco de assalto. Ninguém vai
querer rouba-lo.
Já uma caminhonete nova, lá na Fazenda, periga
atrair bandidos, não vou ter tranquilidade, para
128128
sair no campo e deixa-la sozinha na casa, disse
ele.
Eu sem argumento, diante do meu sábio e
querido Pai, disse, então, com o lucro, me de
uma camionete. Ele perguntou-me, você quer
mesmo? Eu respondi, não, de jeito nenhum. Eu
disse estou brincando, ele insistiu se você quiser
eu vou pegar o dinheiro, disse-me dinheiro pra
comprar uma caminhonete nova, tenho no cofre,
não preciso ir ao Banco. Tornou a insistir, disse
ele, sempre quis te dar uma caminhonete, você
que nunca quis. Eu disse como sempre dizia
muito obrigado Pai, prefiro eu mesmo
conquistar. Ainda vou comprar uma.
Hoje em dia, já compreendo, que aquilo que
você não consegue gastar.
O acumulo, o dinheiro que sobra além de te
levar preocupação, tem três serventias, são elas,
fazer inveja, comer prostitutas, e atrair
inescrupulosos de todos os tipos.
Eu como não gosto de nem uma delas não faço
questão nem uma de acumular patrimônio.
129129
Certa vez, passando pela cidade de Jardim,
encontrou com um homem que haviam servido o
Exercito juntos. O velho companheiro de farda
feliz e emocionado, pelo encontro após muitos
anos, disse-lhe, que prazer, encontra-lo
Andalécio, e disse, qualquer dia desses vou a
Porto Murtinho, e vou parar na sua casa! Meu
Pai por sua vez respondeu indignado, repetiu,
parar na minha casa! Nem eu, paro na minha
casa, disse ele, você vai querer parar. De jeito
nenhum.
Confesso isso eu ainda preciso aprender. Muitas
vezes não tenho coragem, de dizer oque sinto.
Meu Pai era firme, com todo mundo,
independente, do cargo que o oponente
ocupasse.
Certa vez, numa época que fazia muita seca, e
por consequência, estava difícil encontrar gado,
gordo na região, pois o digníssimo, Juiz de Direito
como eles gostam de ser chamado e o
representante do Ministério Publico, resolveram
comprar uma vaca gorda.
130130
Meu Pai era um dos poucos que tinha vaca
gorda, ali pertinho da cidade. Imagine numa
época só de vacas magras, as pessoas ver na
entrada da cidade aquelas vacas gorda, chamava
atenção de todo mundo.
Não foi diferente com as Autoridades, que
bateram na casa do meu Pai juntamente com um
respeitadíssimo senhor que por sua vez os
apresentou ao meu Pai, e a seguir disse que as
Autoridades queriam comprar uma de suas
vacas, meu Pai disse que as vacas não estavam à
venda, mas diante do apelo dele, e das
Autoridades, disse que venderia.
Foi junto, à chácara para definir qual das vacas
negociaria. Olharam e definiram a vaca e o valor,
Só aí, foram dizer que pagariam com cheque pré-
datado.
Meu Pai não vendia fiado, pra ninguém, com eles
não foi diferente. Disse que não fazia esse tipo
de negócio, que só vendia no dinheiro. O
respeitadíssimo senhor que os apresentou, disse,
como que você não vai vender pitito. Eles são
gente boa, e, além disso, é o Juiz e o Promotor
da cidade, e continuou dizendo, uma hora você
pode precisar deles. Meu Pai disse, eu não
131131
preciso dessa gente seu fulano, pra eu precisar
deles é só se alguém errar comigo, por que, eu,
não erro.
Meu Pai contava que quando era moço solteiro,
via todos fazer e vender rifa. Um dia resolveu
fazer uma também, quando chegou oferecer
para o primeiro, que por sinal era seu primo, o
mesmo disse vou comprar pra te ajudar,
comprou e marcou o prazo para o pagamento,
meu pai saiu dali incomodado, começou a pensar
e se sentiu muito humilhado com aquela frase,
questionou ele, comprar pra me ajudar! Sou um
homem sadio, Eu não sou aleijado, pra precisar
de ajuda. Rasgou o papel da rifa e nunca mais lá
voltou.
Certa vez ele disse-me, sua vó faleceu, deixou
fazenda, os irmãos da sua mãe venderam e
nunca entregaram a parte dela, não sei se ela
deu pra eles, ou se eles deram calote nela. Não
vou atrás de tralha de defunto, porém, eu queria
saber se eles deram o cano nela, disse! Sua mãe
não quer falar sobre isso!
132132
Infelizmente só muitos anos após a morte de
meu Pai eu tive a iniciativa de indagar minha
Mãe referente ao fato. Disse ela, eles nunca me
deram a parte referente à fazenda eu também
não fui atrás. Disse ela, ele é que tem obrigação
de me procurar. Não disse o nome eu também
não perguntei.
Quando me lembro da atitude do meu avo
materno Hipólito Godoy. Que após ter dividido
os bens materiais, com minha vó, quando se
separou. Descobriu que, a ganancia, a
mesquinheis de alguns de seus filhos e filhas do
primeiro casamento, não tinha limites.
Certo dia resolveu e assim o fez. Encilhou sua
mulinha, alazã, montou e disse: Estou indo
embora, se é isso que eles querem, podem ficar
com tudo, fiquem com minha fazenda, gado, e
toda a minha tropa cavalar.
Grande Homem que diante a tanta covardia de
alguns dos seus, preferiu abrir mão de tudo e ir
embora, com certeza, a vergonha o impedia de
questionar a própria família. Largou tudo e foi
trabalhar de peão. Isto, depois de ser um dos
homens mais rico da região. Para mim isso se
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chama integridade. Infelizmente só quem tem, e
que intende.
Meu pai morreu aos 71 anos de idade, sem se
aposentar, Não quis se aposentar, dizia ele, deixa
esse dinheirinho para repassarem a quem
precisa.
Meu Pai faleceu, dia 02 de outubro de 1999, aos
71 anos de idade, quando ia da fazenda dele,
para Porto Murtinho, MS. Ele estava dirigindo
um automóvel gol, de sua propriedade, quando
estava a um quilometro da cidade mais ou
menos, bateu de frente em uma caminhonete,
que trafegava na direção contraria.
Dizia meu Pai, seguro morreu de velho e
desconfiado ficou vivo.
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Dizia ele quem guarda o que não presta sempre
tem oque precisa. Tinha uma área na fazenda
que era cheia de cacareco.
Dizia ele, não tem bom sem defeito nem ruim
sem proveito dizia preste atenção, cavalo bom
fica no fundo da invernada, os ruis estão sempre
rodeando a casa, para ver se você não esta
precisando dele, precisou de cavalo o ruim está
ali pronto pra te servir.
Já dizia meu Pai “traia alheia chora o dono”.
Dizia a minha Mãe “Quando o Pai rouba o filho
come e o neto passa fome”.
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AGRADECIMENTO
Meu querido PAI eu sei que a INTELIGENCIA
UNIVESSAL é dinâmica, sei que o senhor
interfere na minha vida até hoje, sei também
que as melhores conquistas que tive após sua
mudança, tiveram sua participação direta. Muito
obrigado por nos ajudar e pelo senhor ter
acolhido e encaminhado meu sogro, tanto eu
como sua nora somos eternamente grato. Se
puder diga a ele que nós aqui nos orgulhamos
dele, e agradecemos a participação de vocês
naquele dia de aparente irresponsabilidade.
Se puderem fazê-los sem sacrifícios, por favor,
continuem, nos visitando e nos amparando aqui.
Se possível mostre nos como podemos fazer para
ampara-los aí. MUITO OBRIGADO meu PAI e meu
SOGRO. Nos vos amamos. 17/12/12
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