História da Igreja II: Aula 4: Reforma Radical: Muntzer e os Anabatistas

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Reforma Radical Thomas Müntzer e os Anabatistas História Eclesiástica II Pr. André dos Santos Falcão Nascimento Blog: http://prfalcao.blogspot.com Email: [email protected] Seminário Teológico Shalom

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Aula ministrada no curso de História Eclesiástica II no Seminário Teológico Shalom, em 2013. A presente aula visa apresentar os grupos que buscaram uma forma mais radical de reforma na Igreja Cristã, estudando a história do movimento de Thomas Muntzer e algumas formas de movimentos anabatistas.

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Reforma RadicalThomas Müntzer e os Anabatistas

História Eclesiástica IIPr. André dos Santos Falcão Nascimento

Blog: http://prfalcao.blogspot.comEmail: [email protected]ário Teológico Shalom

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Thomas Müntzer (1490-1525)“O Reformador sem igreja”.Nascido em Stolberg, Alemanha, de

família burguesa de boas posses.Estudou em Leipzig (1506) e

Frankfurt an der Oder (1512), onde exerceu função de ministro eclesiástico e mestre-escola.

Ordenado sacerdote em 1513 ou 1514.

Conclui estudos em Frankfurt em 1516.

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Início da mudançaEm 1517, assume função de prepósito

no convento feminino de Frose/Anhalt, onde, entre 1517 e 1518, fica sabendo da controvérsia levantada por Lutero na Universidade de Wittenberg.

Torna-se luterano entre 1517 e 1520.

Por indicação de Lutero, torna-se pregador de Zwickau em 1520.

Desde 1516, estuda sobre os grandes místicos alemães, o que mexe com sua teologia, buscando uma experiência com Deus.

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Início da mudançaEm 1520, conhece Nicholas Storch,

tecelão que comandava um grupo de cristãos leigos, que tinham bom conhecimento bíblico e diziam ter experiências com o Espírito Santo. Nota-se influência do ramo taborita dos hussitas.

Com o contato, Müntzer adota a visão do grupo e passa a acreditar na fundação de uma Nova Igreja Apostólica.

Nesta igreja, a característica fundante e unificadora seria o Espírito (que dormita no indivíduo e deve ser despertado), ao contrário da Palavra de Martinho Lutero.

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O ápiceSem conseguir apoio em Zwickau para

fundar sua nova igreja, Müntzer vai para Praga. Posteriormente é chamado para ser pastor de Allstedt, onde introduz o culto em alemão em 1523 e se casa com uma ex-freira, antes de Lutero nos dois casos.

Em Allstedt, atraía multidões com suas mensagens, gerando irritação dos príncipes católicos, que impediam seus súditos de viajarem para a cidade.

Neste local, rompe com os príncipes, não reconhecendo sua autoridade caso eles não concordassem com seus ideais.

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O fimApós uma inflamada mensagem perante

dois representantes de Frederico, o Sábio, contra o clero e a Reforma, Müntzer torna-se alvo de Lutero, que publica a obra Carta aos príncipes da Saxônia a respeito do espírito da reboldosa, onde é sumariamente rechaçado.

Sem o apoio luterano para suas propostas revolucionárias e cristianismo “espiritual”, Müntzer é abandonado por seus paroquianos e é obrigado a peregrinar, sem encontrar trabalho.

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O fimEm fevereiro de 1525, segue para a cidade

de Mühlhausen, onde se torna pastor. Durante suas viagens, tem contato com o movimento camponês e passa a fomentar a luta, fazendo convocações para a “luta do Senhor” e ameaçando os príncipes estabelecidos.

Em maio de 1525, lidera os camponeses na batalha de Frankenhausen, onde levam oito pequeno canhões sem munição, por crerem que a batalha seria ganha pelo Senhor. Na batalha, morrem 5 mil camponeses e 6 soldados dos exércitos dos príncipes, e Müntzer é preso, torturado e decapitado em 27/05/1525.

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A Contribuição Teológica de MüntzerMensagem aos príncipes da Saxônia em 1525 (Daniel

2):1ª parte: A história da igreja é a história da progressiva

deterioração de uma situação ideal inicial. A ligação da igreja com o Estado, com aquela dando apoio a este, serviu apenas para ocultar dos camponeses o caráter revolucionário de Cristo.

2ª parte: O luteranismo também engana o povo ao negar que Deus não revela seus segredos divinos a seus filhos através de visões verdadeiras ou palavra audível.

3ª parte: O homem deve buscar ouvir a palavra interna no “abismo da alma”, sem o qual ninguém pode falar nada profundo de Deus.

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A Contribuição Teológica de MüntzerMensagem aos príncipes da Saxônia em 1525 (Daniel 2):

4ª parte: O núcleo da mensagem de Müntzer.Nenhuma pessoa com “apetites carnais” (riqueza,

glória, honra, poder) pode entender a Palavra de Deus.

A verdadeira finalidade da pessoa é uma vida com e em Deus.

É necessária uma mudança das condições externas (sistema político) e internas da vida.

O Espírito se derrama sobre toda carne, conforme Joel 2 e Atos 2.

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A Contribuição Teológica de MüntzerMensagem aos príncipes da Saxônia em 1525 (Daniel 2):

4ª parte: O núcleo da mensagem de Müntzer.Em Daniel 2, o pé de barro e ferro demonstra a fragilidade da

aliança igreja-estado.Os príncipes devem aceitar a liderança de um novo Daniel

(Müntzer), que marchará à frente da Reforma, e os inimigos devem ser eliminados, assim como Ezequias, Josias, Ciro, Daniel e Elias exterminaram os profetas de Baal.

O fim da velha igreja não deve ser confiado apenas à “palavra”, mas deve gerar uma nova ordem social, onde os governantes ímpios, especialmente os líderes hereges como “freis e monges” devem ser extintos.

Caso uma autoridade negue obediência ao evangelho, deve-se negar toda autoridade e liquidá-la.

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O Movimento AnabatistaOrigem CamponesaDesejo de rompimento entre Igreja e EstadoPertença à igreja pela fé, e não por nascimentoBatismo somente para adultos (não infantil), antecedido

de profissão de féRealização de novos batismosLiderança difusa e conflitantePacifismo (Sermão do Monte lido literalmente)Igualdade de gênero e classes sociais (“todos são

irmãos”)

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As fases do movimento anabatistaAnabatismo Primitivo (1522 – 1529)Anabatismo Revolucionário (1526 –

1535)Anabatismo Posterior (1535 – )

Divisão apresentada por Justo L. Gonzalez

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Anabatismo PrimitivoSurge na Zurique de Zuínglio, a partir de

alguns de seus seguidores.O primeiro nome forte é Conrad Grebel,

que inicialmente, em 1522, aparece interrompendo mensagens de monges que estimulavam a veneração aos santos.

Ainda em 1522, Simon Stumpf se nega a pagar o dízimo. O Convento de Wettingen, a quem o dízimo era devido, pede providências ao bispo de Constança, mas o Conselho se envolve, resolvendo passar da igreja.

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Anabatismo PrimitivoLideradas por Wilhelm Reublin, várias comunidades se

recusam a pagar o dízimo aos “padrecos preguiçosos” da Catedral de Zurique. Eles entendem que o dízimo, como é cobrado, não é bíblico. O Conselho o mantém, mas promete eliminar os abusos.

Conrad Grebel e Simon Stumpf criticam a decisão do Conselho, pois queriam uma reforma a partir da Palavra de Deus, e não da autoridade civil.

Entrementes, no sul da Alemanha, camponeses se agitam, solicitando eliminação do dízimo e eleição própria dos párocos.

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Anabatismo PrimitivoO movimento camponês inicia uma série de campanhas

iconoclastas, contra a vontade de Zuínglio, que queria que a autoridade civil decidisse a questão. Como o Conselho não se mexeu, os radicais se sentiram chamados à ação.

O passo seguinte foi a decisão de não se batizar mais crianças, como um ataque anticlerical. O Conselho de Zurique declara os radicais perdedores, em 15/01/1525. Dez dias depois, porém, George Blaurock é batizado por Grebel na fonte da praça principal de Zurique e em seguida batiza a este e vários outros (inicialmente por afusão, depois por imersão).

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Anabatismo PrimitivoZuínglio, neste ponto, desiste de sua noção inicial da falta

de necessidade do batismo infantil, pois isso afetaria a cidadania de muitas pessoas e afetaria seus esforços de convencer o Conselho a adotar suas ideias reformadas.

As ideias dos anabatistas foram tidas como subversivas. Como consequência, o Conselho decide, em 06/03/1526, decretar a pena de morte ao anabatismo. Um ano antes, os territórios católicos já adotavam a pena capital, e em 1528 a pena foi aprovada na Alemanha, com base numa antiga lei romana para acabar com o donatismo. A lei foi aprovada na Dieta de Spira de 1529 (a mesma do “protesto” dos príncipes protestantes).

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Anabatismo PrimitivoO número de mártires pela

perseguição aos anabatistas foi enorme. Os métodos de execução eram os mais diversos, desde decapitação e desmembramento a afogamentos, como no caso de Felix Manz, um dos líderes iniciais do movimento em Zurique.

Com a perseguição, o movimento anabatista torna-se mais e mais violento, com ânsias de justiça.

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Anabatismo Revolucionário Durante as perseguições, vários movimentos

surgem na Europa. O mais famoso é o de Melchior Hoffman, pregador da região do Báltico e de Schleswig-Holstein.

Hoffman procurava localidades em que não havia decisão nem pela velha nem pela nova fé (Rompe com Lutero por conta da Ceia).

Segue para Estrasburgo em 1529, onde se converte ao anabatismo e começa a anunciar a proximidade do dia do Senhor para 1533. Hoffman alega que será encarcerado por seis meses e então virá o fim. Também abandona o pacifismo original, conclamando os fieis às armas na batalha final.

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Anabatismo Revolucionário Hoffman é encarcerado, alimentando a chama

revolucionária do povo. É sucedido por Jan Matthys, padeiro que

declara ser Enoque e que a Nova Jerusalém seria a cidade de Münster, onde uma trégua entre católicos e protestantes permitia que os anabatistas não fossem perseguidos.

Tomando posse do Conselho, os anabatistas fundaram uma teocracia e expulsam os católicos e os protestantes que não os apoiavam. O bispo expulso cria um exército e sitia Münster, gerando fome e exageros escatológicos.

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Anabatismo Revolucionário Numa tentativa de ofensiva, Matthys morre,

sendo sucedido por Jan van Leiden, que resolve implantar a poligamia como forma de compensar pela falta de varões na cidade, escassez gerada pela guerra. Leiden se casa com 16 mulheres.

Com a ascensão de van Leiden, a cidade é transformada em reino, com van Leiden seu rei-profeta. Após algum tempo vivendo sob regime comunal de bens e com a ideia de estarem revivendo o cristianismo dos tempos apostólicos, o grupo é traído por alguns habitantes da cidade, que abrem os portões para as forças do bispo. Van Leiden e seus principais assessores são presos, exibidos em várias cidades, torturados e executados.

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Anabatismo Posterior Com a queda de Münster, o movimento se

pulverizou em várias áreas da Europa, sendo resgatado por Menno Simmons (1496-1561), ex-sacerdote católico holandês que abraçou o anabatismo em 1536 após ter contato com as ideias de Melchior Hoffman e renegar as doutrinas dos sacramentos e leitura de textos reformadores.

Hoffman também foi perseguido, porém sobreviveu pregando na Holanda e norte da Alemanha até sua morte, destacando-se ao ponto de seu grupo ser chamado de “menonitas”.

Seus seguidores fugiram pros EUA e Rússia e, posteriormente, para a América do Sul.

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Teologia de Menno Simmons A pregação de Simmons era centrada em um

afastamento da vida carnal, incluindo da sociedade em geral, com a igreja vivendo em comunidades “sem mácula” e pacifistas.

Estas comunidades deveriam ser refúgios, onde os renascidos deveriam se separar de todo ser pecaminoso do mundo, não devendo se impor à sociedade.

Por querer afastamento das comunidades da sociedade em geral, pregava que os fieis não poderiam exercer cargos públicos nem prestar juramentos.

O batismo (por afusão) e a ceia não conferem graça, mas são sinais externos do que acontece internamente entre o cristão e Deus.

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Outros expoentes anabatistas Jacob Hutter (1500-1536), fundador dos

Hutteritas, foi o organizador dos anabatistas moravianos.

Para Hutter, a comunhão de bens dos primeiros cristãos era o sinal de que a comunidade havia conseguido deixar de lado a ideia do proveito próprio, incorporando as ideias do Sermão do Monte.

Foi preso e queimado na fogueira ao viajar para o Tirol.

É uma das denominações que ainda resistem hoje.

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Outros expoentes anabatistas Jakob Ammann (1644-1712), fundador

dos Amish, era um suíço iletrado filho de um alfaiate. Foi consagrado por volta de 1693, gerando um racha entre os Irmãos Suíços, como ficaram conhecidos os anabatistas da região.

Suas crenças eram semelhante a Jakob Hutter e Menno Simmons. Até hoje, comunidades de amish e menonitas se avizinham e se confundem nos EUA, apenas não compartilhando da comunhão.

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FontesTexto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos:

uma história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.

Textos auxiliares:DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São

Leopoldo: Sinodal, 1996.GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols.

São Paulo: Vida Nova, 1983