História da Igreja II: Aula 2: A Reforma de Lutero

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Aula ministrada no curso de História Eclesiástica II no Seminário Teológico Shalom, em 2013. A presente aula visa apresentar a vida e a obra de Martinho Lutero, as causas e consequências do seu movimento reformador, sua ação frente aos desafios e detalhes de sua vida.

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  • 1. A Reforma de Lutero Histria Eclesistica II Pr. Andr dos Santos Falco Nascimento Blog: http://prfalcao.blogspot.com Email: [email protected] Seminrio Teolgico Shalom
  • 2. Quem foi Lutero? Nascido em Eisleben, Alemanha, em 1483 Pai de origem camponesa livre ganhou bons recursos nas minas, mas teve dificuldades posteriores. Infncia infeliz, devido a severidade da disciplina familiar Estudou em Eisenach at 1501, formando-se em latim
  • 3. Quem foi Lutero? Faz filosofia na Universidade de Erfurt, onde se forma Bacharel em Artes em 1502 e Mestre em Artes em 1505 Contrariando seu pai, que desejava que se tornasse advogado, Lutero entra para um mosteiro agostiniano em Erfurt, aps enfrentar uma tempestade e pedir a Santa Ana que fosse poupado, em troca de sua dedicao ao ministrio. Os rigores do lar ajudaram na deciso.
  • 4. Quem foi Lutero? ordenado em 1507, celebrando sua primeira missa. Sua viso de Deus de um juiz severo, o que impunha a necessidade da participao contnua nos sacramentos. 1508: Comea a lecionar teologia na nova universidade de Wittenberg, criada por Frederico da Saxnia. Viaja a Roma entre 1510 e 1511, ficando escandalizado com a decadncia moral do clero na cidade.
  • 5. Quem foi Lutero? Retorna a Wittenberg, tornando-se doutor em teologia ainda em 1511. At 1515, dedica-se ao monacato de corpo e alma, devido a um profundo reconhecimento de seu estado pecaminoso. Porm, compreende que seu estado de vida pecaminoso o impedia de cumprir efetivamente o sacramento da penitncia. Busca sada nos msticos, sem soluo.
  • 6. O comeo da mudana Em 1513, comea a lecionar sobre o livro de Salmos, lendo-os cristologicamente e vendo as suas aflies espelhadas em Jesus. Em 1515, inicia suas aulas sobre Romanos e descobre a justificao pela f em Romanos 1.17, encontrando uma nova viso sobre a justia divina.
  • 7. O comeo da mudana A viso da justificao pela f ia contra o sistema sacramental da penitncia e o sistema de venda de indulgncias. Para debater sobre a questo, elabora 95 teses sobre o assunto. Porm, o debate inicial s alcana o meio acadmico.
  • 8. A crise Em 1514, Alberto, arcebispo de duas provncias e prncipe da casa dos Hohenzollern, decide comprar o arcebispado de Mainz, principal da Alemanha. Para tal, resolve pegar os recursos emprestados com os ricos Fuggers, de Augsburg, pagando-os com a venda de indulgncias.
  • 9. A crise As indulgncias eram decretos papais que davam o perdo plenrio dos pecados a todos aqueles que as recebessem, suprimindo a obrigao do pagamento temporal da culpa, aqui ou no purgatrio. A sua ideia vem da noo de que o papa poderia usar o mrito excedente de Cristo e dos santos para reduzir ou anular o tempo das pessoas no purgatrio.
  • 10. A crise O acordo do papa Leo X com Alberto era que metade do que fosse arrecadado com as indulgncias poderia ser usado na compra do bispado de Mainz, enquanto a outra metade iria para a igreja, para financiar a construo da Baslica de So Pedro.
  • 11. A crise A venda de indulgncias na Alemanha foi realizada por Johann Tetzel, que utilizou-se de subterfgios para convencer as pessoas a adquirir o benefcio, como dizer que as pessoas sairiam mais limpos do que saram do batismo ou mais limpos do que Ado antes de cair, ou mesmo que a cruz do vendedor de indulgncias tinha tanto poder como a cruz de Cristo ou que to pronto a moeda casse no cofre, a alma saa do purgatrio.
  • 12. O ato de ousadia Chocado com os atos de Tetzel e do arcebispo Alberto, Lutero resolve pregar suas 95 teses na porta da igreja de Wittenberg. Seu desejo no era causar uma ruptura com a igreja, mas sim iniciar um debate pblico sobre seus abusos. Porm, os sentimentos nacionalistas e a viso de explorao por parte de Roma sobre o povo alemo levaram a uma comoo impensvel.
  • 13. O ato de ousadia As 95 teste de Lutero continham inmeras questes telogicas, porm as mais incendirias eram a sua crtica venda de indulgncias. Lutero pensava que, se o papa tinha poder de perdoar plenariamente os pecados do povo, deveria faz-lo de graa. O advento da imprensa e do uso da lngua verncula fez com que as teses rapidamente fossem difundidas na Alemanha. Lutero enviou uma cpia a Alberto, que a reenviou a Roma, pedindo a interveno papal.
  • 14. A solidificao da reforma 1518: Lutero segue a Heidelberg, onde apoiado por muitos pares agostinianos. Alguns da poca trataram o caso como uma crise entre ordens (Tetzel era dominicano). 1518: Lutero conhece Melancton, o telogo da reforma. Dieta de Augsburgo (1518): Cardeal Cajetano tenta convencer os prncipes alemes a empreender uma cruzada contra os turcos, buscando obrigar Lutero a retratar-se, ou lev-lo preso a Roma. O debate no evolui e Lutero foge no meio da noite, solicitando um conclio geral. Durante todo o perodo, apoiado pelo eleitor Frederico da Saxnia, que buscava um julgamento justo para Lutero, evitando-se o crime contra John Huss, 100 anos antes.
  • 15. A solidificao da reforma 1520: Aps um debate contra John Eck que no gera resultados, Lutero publica trs obras: Apelo nobreza germnica, atingindo a hierarquia romana, O Cativeiro Babilnico, que desafiava o sistema sacramental, e Sobre a Liberdade do Homem Cristo, que atingia a teologia catlica, ao reafirmar a salvao pela f pessoal em Cristo. Como consequncia do debate, Leo X emite uma bula excomungando Lutero e ordenando que seus livros fossem queimados. No trajeto da bula, porm, alguns lugares resolveram demonstrar seu apoio a Lutero, queimando obras que combatiam os ensinamentos luteranos.
  • 16. A ruptura Para tentar resolver a questo, Carlos V convoca uma reunio dos prncipes em Worms, para responder por suas ideias. Com o apoio de Frederico da Saxnia, Lutero chega a Worms e se recusa a se retratar se no fosse provado errado pelo testemunho das Escrituras. Sem consenso e sofrendo o risco de ser preso, Lutero sequestrado por seus amigos no retorno a Wittenberg, levando-o ao refgio no castelo de Wartburg, onde fica escondido at 1522, tempo que usa para continuar suas obras. O luteranismo, enquanto isso, condenado como heresia.
  • 17. O legado 1522: Lutero usa a verso grega de Erasmo de Roterd para traduzir o NT para o alemo. 1534: Aps mais de 10 anos de trabalho intenso na traduo do texto hebraico, Lutero completa a traduo do AT ao vernculo, incluindo os livros apcrifos. Entre vrias obras, publica uma denominada Sobre os Votos Monsticos, estimulando monges e freiras a repudiarem seus votos, deixarem a clausura e se casarem.
  • 18. As polmicas 1522: Dois profetas de Zwickau, Nicolau Storch e Markus Stubner, pregam em Wittenberg que tinham revelaes diretas de Deus e no precisavam conhecer as Escrituras. Lutero retorna a Wittenberg, mesmo sem garantias por sua vida, e prega contra o grupo, causando uma ciso no movimento. Os anabatistas, movimento surgido deste grupo, rompem com Lutero. 1524: Erasmo rejeita a ruptura com Roma e a teologia da iniciativa divina na salvao. Defende o livre arbtrio em seu livro A Liberdade da Vontade, mas recebe resposta de Lutero a seguir, negando esta viso em seu livro A Escravido da Vontade.
  • 19. As polmicas 1525: Irrompe na Alemanha uma nova Revolta dos Camponeses, que desejavam uma reforma dos abusos feudais e usavam as Escrituras como apoio a sua posio. Lutero inicialmente apoiou o movimento e solicitou reformas aos prncipes. Porm quando o movimento pegou em armas, Lutero, decidido a manter a reforma ntegra e crendo que o movimento poderia subverter a ordem poltica, autorizou os prncipes a reprimir o movimento. O resultado foi a morte de mais de cem mil camponeses e a ciso completa com este grupo. Ainda em 1525, Lutero resolve se casar com uma ex-freira evadida, Catarina de Bora, gerando comentrios com sua sbita ruptura com o passado. Com Catarina, Lutero tem seis filhos.
  • 20. A estabilizao Carlos V no se interessava pelo luteranismo e pretendia acabar com ele, porm duas crises o levaram a deixar o movimento de lado. Francisco I, rei da Frana, que se incomodava com o poder de Carlos V, alia-se ao papa Clemente VII na tentativa de derrub-lo. A paz s firmada em 1529. Tempos depois, a ameaa turca sob Suleimn leva o imperador a unificar os alemes em torno da resistncia, forando-o a no tocar no grupo.
  • 21. As decises finais 1523: Na Dieta de Nuremberg, a Cmara imperial, revelia do imperador e da igreja, declara tolerncia ao luteranismo. 1526: Devido ameaa francesa e papal, o imperador abole o edito de Worms e declara que cada estado tem liberdade de seguir a religio que bem entender. 1529: Segunda Dieta de Spira: Com o fim das ameaas externas, o imperador reforma o edito de Worms. Os prncipes luteranos publicam um protesto deciso, gerando o nome de Protestantes ao novo grupo.
  • 22. As decises finais 1530: Solicitando uma exposio completa do pensamento luterano, Carlos V recebe de Melancton a Confisso de Augsburgo, irando-se com o exposto. 1532: Sob nova ameaa externa de turcos e franceses, Carlos V assina a Paz de Nuremberg, que confere aos territrios protestantes o direito de praticarem sua f sem estend-la a outros territrios.
  • 23. O luteranismo estabelecido 1535: Criadas normas luteranas de ordenao, gerando rompimento eclesistico com Roma. 1546: Com a morte de Lutero, Melancton assume o comando da igreja. 1546-1555: Guerras do imperador contra os luteranos, s encerrada na Paz de Augsburgo, que declarou igualdade legal entre luteranismo e catolicismo. 1524: Criao de sistema de educao elementar universal para ensinar as crianas a lerem a Bblia. 1580: Disputas doutrinrias internas levam produo do Livro da Concrdia, expresso mxima da teologia da igreja. A busca por unidade leva a um movimento de ortodoxia fria e acadmica de defesa dos dogmas, em detrimento dos aspectos subjetivos do cristianismo.
  • 24. A contribuio doutrinria luterana Retorno Palavra de Deus (Sola Scriptura) Justificao pela f (Sola Fide) Jesus nico mediador entre Deus e os homens (Solus Christus) Salvao pela graa, como favor imperecido (Sola Gloria) Glria s a Deus, e no a santos, papas e outros homens (Soli Deo Gloria) O conhecimento de Deus (Teologia da glria vs Teologia da cruz) A Lei e o Evangelho como condenao e graa Sacramentos apenas se institudos por Jesus (batismo e ceia) Batismo simboliza a graa de Deus sobre o homem, pode ser infantil Ceia no se transforma no corpo e no sangue, mas no s um smbolo Teologia dos dois Reinos (governo opera sob a lei para frear o pecado)
  • 25. Fontes Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo atravs dos sculos: uma histria da igreja crist. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar Kroker. So Paulo: Vida Nova, 2008. Textos auxiliares: DREHER, Martin N. Coleo Histria da Igreja, 4 vols. 4 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1996. GONZALEZ, Justo L. Histria ilustrada do cristianismo. 10 vols. So Paulo: Vida Nova, 1983