Historia Antiga Tema 3
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CADERNO DE ATIVIDADES - 2015/1
Como citar esse material:
CARVALHO, Rafael Virgilio de. História Antiga: Grécia: Da Formação
do Povo Grego ao Helenismo. Caderno de Atividades. Valinhos:
Anhanguera Educacional, 2015.
François Hartog (2005) descreve a História como disciplina que se
preocupa com a interpretação do presente através da construção e
apropriação das memórias do passado. Para a cultura ocidental, o estudo do
mundo grego antigo é o grande manancial de memórias na qual o homem
moderno encontra sua origem.
Foi na Antiguidade Grega que, pela primeira vez, a sociedade foi
racionalizada para criar uma organização política chamada pólis. Todavia, a
“aventura grega”, como diria Pierre Lévêque (1964), é muito mais ampla
que isso. Sua história é, na verdade, a narrativa de como o ser humano
conseguiu reinventar a si mesmo, modificando a sociedade em que vive.
Assim, você está convidado a acompanhar nas próximas linhas o
despontar da civilização Grega, bem como o seu esplendor clássico e a sua
difusão helenística. Ao final dessa empreitada você estará apto para
compreender como a história do mundo grego antigo é na atualidade
memória da transformação do ser humano e do mundo em que vive.
Grécia: Da Formação do Povo Grego ao Helenismo
Geograficamente, a Grécia
Antiga não se limitava apenas ao
território da península , ao qual está
localizada nos dias de hoje.
Estendia-se pelo litoral e ilhas dos
mares Egeu e Mediterrâneo.
Abrangia também terras do sul da
Itália (Magna Grécia) e sudeste da
França, bem como a costa da Líbia e
do mar Negro. Inclusive, na Era Helenística, o Mundo Grego foi para além
dos confins do poderoso Império Persa, alcançando às margens do rio Indo.
Todavia, tal amplitude ocorreu em diferentes períodos, durante
aproximadamente dois mil anos. Assim, podemos falar de uma civilização
Grega propriamente dita somente a partir de 1200 a 1100 a. C.. Quando um
povo de origem indo-europeia – os dórios – invadiu a Hélade e conquistou
o Peloponeso, algumas ilhas do mar Egeu e a costa ocidental da Ásia Menor
(Jônia).
Antes da chegada dos dórios, entretanto, haviam existido outras duas
grandes civilizações: a Cretense, centralizada na cidade de Cnossos na ilha
de Creta, e a Micênica, estabelecida no nordeste do Peloponeso. A cultura
helênica foi herdeira direta desses dois povos. A mais recente, Micenas,
influenciou decisivamente a espiritualidade grega no decorrer de toda a sua
história.
Regiões do Mundo Grego Antigo
O Período Creto-Micênico
Também chamado de Idade do Bronze devido ao uso intensivo que
cretenses e micênios fizeram dessa liga metálica, teve inicio em
aproximadamente 3000 a. C., quando nasceu a cultura minóica, e terminou
em 1200 a. C., quando Micenas entrou em decadência.
Sediada no Palácio de Cnossos, a política cretense (minóica) era
formada por uma monarquia cujo primórdio estava ligado ao lendário rei
Minos. Apoiada por ricos comerciantes, Creta era o centro de um domínio
marítimo comercial (talassocracia) que se estendia por todo o mar Egeu. A
influência cretense nessa região é atestada pelos artefatos de cerâmica
encontrados em diversas ilhas e regiões litorâneas (AMOURETTI; RUZÉ,
1993, p. 46).
O desenvolvimento cultural minóico se deu em conjunto com o uso da
escrita conhecida como linear A, mas que ainda não foi decifrada pelos
estudiosos (FINLEY, 1990, p. 41). No entanto, a cultura micênica passou a
predominar sobre a minóica após 1400 a. C., influenciando todos os povos
do Mar Egeu até em torno de 1200 a. C..
No prelúdio da história
micênica (2000 a. C.) estão às
primeiras incursões dos indo-
europeus – os aqueus. A partir
de 1600 a. C., posteriormente à
conquista da população nativa
da península denominada
pelasgos e sob a influência
cretense, os aqueus edificaram
algumas cidades entre as quais
Micenas se destacou.
Nessa conjuntura, mais
dois povos indo-europeus se somaram aos aqueus – os jônios e os eólios.
Absorvendo inúmeras técnicas agrícolas, navais e militares de Creta,
Micenas se lançou à atividade comercial e à pirataria. A grande força militar
micênica levou a cidade a estabelecer relações com a costa da Ásia Menor e
do Mar Negro. Foi quando, talvez, tenha entrado em conflito com Tróia, já
Localizações de Micenas e Cnossos
que há evidências de sua destruição em torno de 1200 a. C. (FINLEY, 1975,
p. 37-54).
Além de chefe militar, a economia e a política eram controladas pelo
monarca, como contam os registros palacianos da escrita linear B. Esses
registros confirmam também que o rei estava associado a uma classe
sacerdotal que controlavam os cultos, dos quais a maior parte eram
endereçadas a divindades femininas (VERNANT, 2002, p. 29-30). Mantendo
assim a crença religiosa nas grandes mães da civilização cretense.
Por volta de 1100 a. C., enquanto Micenas se expandia para a Ásia
Menor, os dórios penetraram no Peloponeso, deixando a cidade em ruínas.
Devido à violência da conquista, a população se dispersou pelo
Mediterrâneo e, principalmente, pela costa da Ásia Menor. Fato conhecido
como Primeira Diáspora Grega.
O Período Homérico
A época que se seguiu ao fim
da civilização Micênica, e que se
situa entre 1200 a.C. e 800 a.C.,
também pode ser chamada de
“Idade Obscura”. Este nome refere-
se à escassez de fontes que
atrapalha enormemente o
conhecimento do período. A
dificuldade deve-se à abrupta queda
na produção da cerâmica e ao
abandono da escrita linear B. Ambas foram consequências diretas da
decadência de Micenas.
No entanto, sua história pode ser desvelada pela leitura dos poemas
de Homero – a Ilíada e a Odisseia. O estudo arqueológico que remete à
época obscura, por mais difícil que seja, esclarece boa parte da
ambiguidade atestada pelas duas obras. Moses Finley (1988, p. 10-11)
afirma que apesar de narrarem epicamente a sociedade micênica,
descrevem uma organização social diferente da monarquia que a
Migrações dos povos gregos durante a Idade Obscura
caracterizou. Na verdade, a descrição das relações entre os guerreiros
gregos faz alusão a um já adiantado desenvolvimento do sistema gentílico.
O genos era a base social grega que durou aproximadamente
quatrocentos anos (1200-800 a. C.). Sua estrutura era composta por uma
ampla família (oikos) chefiada pelo membro mais velho. Poder que era
determinado pela tradição e baseava-se no controle da ritualidade dos
cultos aos antepassados e deuses protetores. Isso justificava o acesso à
propriedade coletiva da terra e dos instrumentos de trabalho.
A economia era agropastoril, com excepcionais necessidades voltadas
para o trabalho de artesãos e artífices. Toda a aquisição de riquezas,
incluindo os escravos, era realizada por meio de guerras, pirataria, espólios
e saques (FINLEY, 1988, p. 49-70). A diferenciação social dependia do grau
de parentesco com o chefe do genos.
O contexto econômico tratado na Ilíada e na Odisseia diz respeito ao
que despontou com a desintegração do sistema gentílico. A importância da
navegação nos dois épicos é patente, tanto na esfera militar quanto na
comercial. O que indica quão já estava próxima da expansão marítima
grega pelo Mediterrâneo iniciada no século VIII a. C..
Isso foi consequência da mudança estrutural por qual passou o genos
a partir de 900 a. C.. Quando os membros mais próximos dos chefes das
famílias começaram a se diferenciar social e economicamente do restante
do grupo. Assim, apareceu uma aristocracia guerreira e uma ampla camada
de pequenos camponeses marginalizados.
O Período Arcaico
Abrangendo os anos de 800 a 500 a. C., essa foi uma época marcada
por imensa crise socioeconômica. A miséria assolou os pequenos
camponeses por causa da infertilidade do solo. O que os levou a serem
despojados de suas propriedades e
a se escravizarem em troca do
pagamento de dívidas. Ao mesmo
tempo, o crescimento populacional
tornou escasso os alimentos e
prejudicou ainda mais a
sobrevivência da maioria.
A concentração fundiária,
agravada com a desintegração do sistema gentílico, a partir de 700 a. C.
impeliu muitas pessoas para pequenos povoados onde passaram a trabalhar
como artesãos. Dessa maneira, a fabricação de cerâmica e a metalurgia
voltaram a ser relativamente numerosas na Grécia, especialmente com o
avanço das técnicas de produção. Todavia, mesmo com o desenvolvimento
comercial que se seguiu, não houve melhoria no desequilíbrio social entre
ricos e pobres.
Pierre Cabanes (2000) diz que em resposta à grave crise agrária os
gregos começaram a buscar terras cultiváveis em outras regiões. Do século
VIII ao VI a. C., várias cidades fundaram colônias em inúmeros locais do
litoral dos mares Mediterrâneo e Negro. Momento que se costuma chamar
de Segunda Diáspora Grega. Muitas vezes os recursos para a excursão eram
fornecidos pelos próprios governos. A intensão era reduzir o número de
habitantes insatisfeitos com a situação social e econômica das cidades.
A expansão territorial helênica desse período não só beneficiou
grandes e pequenos proprietários de terra. Aumentou o cultivo da vinha e
da oliveira, e consequentemente da exportação de vinho e azeite. Os
artesãos também foram favorecidos à medida que houve maior demanda
pela cerâmica, tecelagem, metalurgia e construção naval grega. Todo esse
desenvolvimento econômico que se seguiu à crise foi facilitado pela difusão
do uso da moeda (MOSSÉ, 1995, p. 52-54).
Desde 800 a. C., nos povoados dominados pela aristocracia que se
reuniam em volta das antigas fortificações micênicas, despontaram a praça
Territórios e colônias gregas do período Arcaico.
do mercado (Ágora) e, normalmente em um elevado, o centro religioso em
que os templos eram edificados (Acrópole). Essa conformação urbana
emergiu em meio a conflitos sociais (VERNANT, 2002, p. 50-51). O que
proporcionou um espaço no qual ricos e pobres poderiam debater
publicamente seus interesses.
Segundo Jean-Pierre Vernant (2002, p. 73-79), foi na cidade arcaica
que, na virada do século VII para o VI a. C., alguns homens se destacaram
em meio aos divergentes grupos sociais e conduziram os gregos para uma
situação de eunomia. Também conhecidos como legisladores, ou sábios,
eles foram os canalizadores de uma revolução política e religiosa que
insuflou um novo espírito à moral grega. Quase todos eram membros de
setores progressistas da aristocracia e exatamente por isso conseguiram
balancear suas ações políticas entre os dois polos.
Como exemplo podemos citar Licurgo, que reorganizou o governo e
criou leis para a cidade de Esparta. Ou, Periandro, que desenvolveu o
comércio marítimo de Corinto e transformou a cidade em importante centro
cultural da Grécia. Além do poeta Sólon, que estabeleceu a isonomia em
Atenas instituindo a participação política aos artesãos e pequenos
camponeses. De modo geral, eles criaram meios através dos quais os
valores tradicionais da aristocracia, ligados ao monopólio político e religioso
dos antigos genos, puderam ser compartilhados por toda a comunidade.
Ao final do período Arcaico apareceu em diversas cidades gregas a
figura do tirano. Luciano Canfora (1995, p. 141-145) conta como,
concentrando o poder em suas mãos, eles acabaram com a dominação
aristocrática e reequilibraram a situação social. Os tiranos representavam
os novos proprietários de terra e comerciantes que haviam prosperado com
o desenvolvimento econômico. Como foi o caso de Pisistrato em Atenas, que
de 546-527 a. C. ampliou as reformas de Sólon perdoando dívidas e
melhorando a distribuição fundiária.
Porém, o poder irrestrito que gozavam significava constante ameaça
política. Isso levou à constituição das mais diferentes formas de governo
pelo mundo grego: como a diarquia oligárquica de Esparta e a democracia
de Atenas. Mesmo com essas diferenciações políticas, ao final do século VI
a. C., houve em cada cidade um movimento geral que fundiu toda
população em uma só unidade política chamada pólis.
Período Clássico
A pólis foi o espaço público
que caracterizou o período Clássico
(séculos V e IV a. C.). Nela todos os
seus membros compartilhavam uma
mesma identidade – a cidadania.
Todos os mitos e ritos eram
propriedade do corpo cívico
(demos). A cidadania estava
vinculada à esfera cultural, e não
propriamente ao território. A
bagagem cultural era o elo que ligava os indivíduos à ancestralidade do
demos. Para ser cidadão não bastava nascer dentro das fronteiras da
cidade, mas ser filho de pais que já detinham cidadania.
Oswyn Murray (1995, p. 269-278) fala que a religião da pólis
confiscou os antigos sacerdócios aristocráticos e os adaptou às
necessidades da comunidade. Assim, o fortalecimento da identidade política
acontecia durante as festividades religiosas. Mulheres, escravos e
estrangeiros, mesmo não tendo cidadania, podiam participar da vida pública
através de alguns ritos. As divindades protegiam, portanto, toda a
sociedade e os seus cultos converteram-se em dever cívico. O exercício da
cidadania ocorria tanto nos templos, onde se fazia oferenda aos deuses,
quanto na Ágora, na qual os debates políticos se sucediam.
O poder também era partilhado à medida que as leis exigiam
prestação de contas entre os cidadãos. A justiça se tornou objeto de
manipulação e de discussão técnica. Desse modo, a palavra se transformou
em instrumento político e a escrita em seu meio de efetivação. O caráter
ordenador da natureza (physis) ganhou relevo e passou a ser sinônimo de
lei (nomos). O que significava que a pólis era o âmbito em que o homem
poderia realizar sua capacidade ordenadora através do uso da palavra.
Os demoi de Atenas e do Pireu na península Ática.
Essa capacidade imanente à razão erigiu o cosmo da pólis. Nessa
direção, a importância da produção artesanal, do comércio e da oratória,
criou um ambiente de valorização da técnica (MOSSÉ, 1995, p. 50). Era por
meio dela que todo cidadão desempenhava uma função política. A pólis se
caracterizava, portanto, como um organismo vivo, no qual os cidadãos
ocupavam seus respectivos papeis no quadro geral da sociedade.
As duas pólis mais conhecidas eram
Esparta e Atenas. Na primeira, toda
a organização política servia à
manutenção do poder oligárquico
fundado numa rígida aristocracia
militar. Já na segunda, pautado em
uma organização territorial
igualitária, a participação nas
instituições políticas democráticas
era aberta a todos os cidadãos sem nenhuma restrição econômica ou social.
Em Esparta, por exemplo, haviam três camadas sociais: os
esparciatas, que eram os únicos que gozavam de direitos políticos e
recebiam ríspida educação militar; os periecos, que apesar de terem boas
condições materiais e a proteção das leis, não tinham participação política;
e os hilotas, que eram escravos e compunham a imensa maioria da
população, vivendo em condições miseráveis e sem o amparo das leis. Os
esparciatas, no entanto, somente desfrutavam de sua cidadania após o
término da educação militar, na qual os homens permaneciam dos sete aos
trinta anos da idade.
O regime político oligárquico era composto por uma diarquia, cujos
reis eram respectivamente os chefes militar e religioso da cidade. A Gerúsia
exercia o poder legislativo que, durante o período Clássico, acabou
monopolizando o poder supremo. Ela era composta por vinte e oito gerontes
vitalícios, escolhidos entre os cidadãos com mais de sessenta anos. Todos
os cidadãos participavam da Ápela, ou seja, da assembleia responsável por
rejeitar ou aprovar as leis. O poder executivo ficava a cargo dos éforos que,
com mandatos de um ano, tinham a função de fiscalizar o andamento
político de Esparta.
Território de esparta (Lacônia).
A península Ática, onde ficava Atenas, era dividida em dez demos que
abrigavam cidadãos do litoral, da cidade e do interior. Cada demos tinha
representantes dessas três regiões de modo que a identidade familiar fosse
suplantada pela do corpo cívico. Assim, as únicas diferenciações sociais que
se mantiveram foram entre os cidadãos (polites) e os estrangeiros
(metecos) e escravos (doulos). A democracia ateniense, portanto, era
composta por instituições preenchidas pelos dez demos, que perfaziam os
três poderes da pólis.
O poder legislativo era confiada a Bulé, conselho onde cinquenta
membros de cada demos governavam por um mês, e a Eclésia, assembleia
que se reunia uma vez por mês para votar os projetos da Bulé. Existiam
doze tribunais chamados Heliae, onde 600 homens ministravam a justiça
em cada um deles. A justiça maior ficava a cargo do Areópago, tribunal
composto pelos antigos arcontes da cidade. O Arconcado era o poder
executivo confiado a dez arcontes que eram eleitos pela Bulé com
mandatos de um ano, os quais poderiam ser reeleitos.
Jean-Pierre Vernant (2002, p. 53 e 143) acredita que a pólis clássica
foi o ápice da criatividade grega. Seu universo cultural, principalmente na
democrática Atenas, trouxe ao mundo um novo espírito que permitiu ao
homem conhecer a si mesmo. A revolução moral orientada por
preocupações políticas criou um peculiar gênio humano – o filósofo.
Transformada em técnica de si (FOUCAULT, 2006), a filosofia concretizou a
razão grega, refletida e metódica, permitindo ao homem não apenas agir
sobre si mesmo ou sobre outros, mas se realizar totalmente explorando sua
própria natureza. Entretanto, até fins do século IV a. C. esse espírito ficaria
ainda restrito aos limites da pólis, sendo marcado pelas Guerras Médicas e
Guerra do Peloponeso.
As Guerras Médicas
No inicio do século V a. C., a
Grécia sofreu investidas do Império
Persa. As cidades gregas do litoral
da Ásia Menor foram forçadas a
pagar impostos ao rei Dario I. Este
Guerras Médicas. Fonte: Wikimedia Commons (http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerras_M
%C3%A9dicas#mediaviewer/File:Map_Greco-Persian_Wars-pt.svg).
já ocupava territórios da Líbia, do Egito, da Trácia e da Macedônia. Dessa
forma, controlava o fornecimento de trigo e dificultava o abastecimento das
cidades helênicas (SOUZA, 1988, p. 49-52).
Em 492 a. C., os persas atravessaram o mar Egeu com um
contingente de 50 mil soldados. No entanto, em 490 a. C., foram derrotados
por 10 mil atenienses na planície de Maratona. Xerxes, filho de Dario I, em
480 a. C. atacou então o norte da Grécia sendo atraído ao desfiladeiro das
Termópilas. O rei espartano, Leônidas, reuniu 300 de seus homens para
resistir o maior tempo possível ao avanço do inimigo. Enquanto isso, a
esquadra ateniense saia vitoriosa da batalha de Salamina.
Em 479 a. C., um enorme exército persa marchou sobre a planície de
Platéia. Atenas, então, se aliara a Esparta, Corinto e Mégara, para conseguir
fazer frente às forças do rei Xerxes. A vitória que parecia improvável, veio
quando 43 mil soldados, dos mais de 300 mil que saíram da Pérsia,
sucumbiram sob as armas gregas. Ainda no mesmo ano, após outro triunfo
na batalha de Micale, os gregos libertaram as cidades do litoral da Ásia
Menor e os estreitos de Bósforo e Dardanelos.
Para garantir a proteção das cidades gregas do mar Egeu e da Ásia
Menor, em 477 a. C., Atenas organizou uma confederação de poleis sob sua
liderança. Denominada Liga de Delos, suas cidades tinham que contribuir
com soldados, navios e dinheiro, que seriam administrados pelo famoso
templo da ilha de Delos. Assim, após libertar definitivamente as cidades que
haviam sucumbido ao Império Persa, em 448 a. C., foi assinado o Tratado de
Susa que pôs fim ao conflito (ARRUDA, 1991, p. 155-158).
Entretanto, mesmo com a vitória helênica, os atenienses continuaram
exercendo poder sobre a confederação. Não permitiam que qualquer cidade
abandonasse a liga. O símbolo dessa dominação foi a transferência da sede
do tesouro para Atenas, em 454 a.C.. Aproveitando-se dos recursos
extorquidos, a cidade desfrutou de seu período de maior esplendor
realizando obras públicas, melhorias sociais e alcançando fantástico
desenvolvimento cultural.
A Guerra do Peloponeso
A hegemonia ateniense no
mar Egeu aguçou a rivalidade com
Esparta. As relações atenienses com
as colônias de outras cidades
provocaram uma insatisfação geral
na Hélade (SOUZA, 1988, p.63-67).
A intervenção de Atenas em Córcira,
colônia de Corinto, foi a motivação
que seus inimigos precisavam para
invadir a Ática.
Esparta se aliou a Corinto, Tebas e Mégara, e em 431 a. C. derrotou
Plateia, membro da Liga de Delos. Inicialmente, o estadista Péricles
convenceu os atenienses a se refugiar dentro das muralhas da cidade. O
que evitaria o confronto por terra e obrigaria Esparta a lutar pelo mar. Tal
estratégia dava vantagem a Atenas já que sua frota era bem maior que a
espartana. Todavia, em 430 a. C., uma epidemia matou cerca de um terço
da população que estava sitiada em Atenas. Este episódio acabou, inclusive,
vitimando Péricles que, até ali, havia conduzido a tática militar ateniense.
Após anos de conflito, em 422 a. C., as duas principais cidades saíram
muito desgastadas da batalha de Anfípólis. Por isso, no ano seguinte, ambas
assinaram o Tratado de Nícias que garantiria paz durante cinquenta anos.
Porém, em 412 a. C., Atenas tentou tomar Siracusa, aliada de Corinto.
Antecedendo ao ataque ateniense Esparta conseguiu proteger a cidade
siciliana. Apesar dessa derrota, os atenienses conseguiram importantes
vitórias, principalmente em 406 a. C. na batalha de Arginusas.
No ano seguinte, contudo, apoiados pelos persas, os espartanos
venceram definitivamente os atenienses em Egospótamos. Depois de
destruir os longos muros que protegiam Atenas, Esparta apoiou a instalação
de um regime oligárquico que enfraqueceu ainda mais a política ateniense.
Tal governo ficou conhecido como a “Tirania dos Trinta” (ARRUDA, 1991, p.
159-162).
O Período Helenístico
Império Ateniense em 431 a. C.. Fonte: Wikimedia Commons (http://pt.wikipedia.org/wiki/Atenas_Antiga#
mediaviewer/File:Map_athenian_empire_431_BC-pt.svg).
Os anos que se seguiram à Guerra do Peloponeso, de 403 a 362 a. C.,
foram marcados pela hegemonia de Esparta e pela posterior supremacia de
Tebas. O longo período de guerras enfraqueceu todas as cidades gregas.
Felipe II, rei da Macedônia, em 338 a. C., pôde então conquistar a Grécia na
batalha de Queronéia. Tal feito lhe rendeu o título de líder máximo dos
helenos (MOSSÉ, 2004, p. 24).
Em 336 a. C., Felipe foi assassinado e sucedido por seu filho
Alexandre, que logo teve que se impor a uma revolta chefiada por Atenas.
Nesse episódio, coligadas aos atenienses, Esparta e Tebas foram
completamente arrasadas. Assim, Alexandre mostrava-se preparado para ir
em direção ao Oriente e avançar sobre o território persa.
O rei macedônio, e líder dos
gregos, estava munido com um
poderoso exército composto por
homens muito bem treinados e
divididos em cavalaria e infantaria,
além de arqueiros com flechas de
longo alcance (SOUZA, 1988, p. 72-
76). Tal poderio garantiu a
Alexandre, em 334 a. C., a vitória na
Batalha de Grânico, no noroeste da Ásia Menor. Nos três anos que se
seguiram, o exército alexandrino venceu a Batalha de Isso, conquistou o
Egito e Tiro, e, por fim, derrotou definitivamente Dario III na Batalha de
Gaugamela.
Quanto a conquista do Egito, Alexandre, já cognominado “o Grande”,
foi coroado como filho do deus Amon. Claude Mossé (2004, p. 79-89) fala
que a partir disso, tornou-se claro a intensão alexandrina de dar caráter
universalista ao império que então formava. O direito divino de seu poder
foi facilmente aceito pelos persas e egípcios, mas visto com renitência por
gregos e macedônios. Para compensar a insatisfação dos compatriotas, ao
mesmo tempo que incorporava costumes orientais, Alexandre passou a
nomear apenas gregos e macedônios para governar as cidades e províncias
que conquistara.
O Império Alexandrino. Fonte: Wikimedia Commons (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre,_o_Grande#mediaviewer/File:Mapa_de_Alejandr%C3%ADas-pt.svg).
Em clara tentativa de integrar culturalmente seu vasto império,
Alexandre fundou 33 cidades sob o modelo grego. Com ágoras, acrópoles,
ginásios e assembleias, as cidades do Oriente se transformaram em centros
de difusão da cultura grega. Ainda que esse ambiente fosse peculiar à elite
política, majoritariamente grega e macedônica, muitos jovens persas
começaram a ser educados “à moda helênica” (ARRUDA, 1991, p. 184).
Assim, o grande imperador macedônico abriu as fronteiras culturais
do mundo grego. Alexandria, Antióquia e Pérgamo, tornaram-se os grandes
polos irradiadores da nova civilização. A paideia helenística não só ditava
um modo de ser grego, mas absorvia incontáveis elementos religiosos,
políticos e filosóficos do mundo persa, egípcio e mesopotâmico.
O eixo econômico grego também foi deslocado do mar Egeu para o
Oriente Próximo. Enquanto os atenienses experimentavam grande
empobrecimento, o Império Alexandrino gozava de intensa atividade
comercial estimulada pelas novas rotas abertas pelas conquistas de
Alexandre. Contudo, Atenas ainda produzia sábios como Epicuro e Zenão de
Cítio, cujos pensamentos foram rapidamente disseminados por todo mundo
helenístico (MOSSÉ, 2004, p. 150-158).
A civilização helenística, que resultou da fusão da cultura grega com
a cultura oriental, tinha sua sede em Alexandria, principalmente com a
construção da Grande Biblioteca. Com uma vigorosa vida intelectual, a
filosofia, a matemática, a astronomia e a medicina conheceram excepcional
desenvolvimento na cidade. No plano religioso, o que se observou foi uma
verdadeira efervescência. Associados aos deuses do panteão grego,
divindades egípcias, persas e mesopotâmicas, tornaram-se populares e
ganharam cultos fora e dentro da Grécia (MOSSÉ, 2004, p. 161-168).
Com a morte de Alexandre, em
323 a. C., o seu gigantesco
império foi dividido entre os seus
generais mais próximos. O reino
da Macedônia e as poleis gregas
foram dominados por Antígono,
fundador da dinastia Antigônida.
O Egito passou a ser governado Reinos Helenísticos. Fonte: Wikimedia Commons
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_helen
%C3%ADstico#mediaviewer/File:Diadochi_PT.svg).
por Ptolomeu, que iniciou a dinastia Légida. Selêuco ficou com toda a Ásia e
foi o primeiro rei do Império Selêucida.
Mesmo com a fragmentação política, e até depois das conquistas
romanas, o helenismo se manteve forte sob a égide de seu universalismo
cultural. O grego, mais uma vez, reinventava o ser humano e recriava seu
mundo. O homem helenístico, diferentemente daquele do período clássico,
não estava mais restrito “aos muros” da pólis. A espiritualidade herdada de
Atenas agora pairava em Alexandria, capital cosmopolita na qual o próprio
egípcio se sentia estrangeiro em sua pátria.
Glossário:
Amon: deus egípcio cultuado no templo de Karnak, representava a força
criadora da vida e, por isso, exercia o papel de rei dos deuses.
Concentração fundiária: acúmulo de propriedades de terra nas mãos de
uma minoria de indivíduos, normalmente da aristocracia.
Diáspora: grande fluxo migratório cuja motivação é política, religiosa ou
econômica.
Eunomia: princípio que estabelece a obediência de todos perante a lei. Em
Atenas, as reformas de Sólon (594 a. C.) estabeleceram os direitos e os
deveres de todos perante a comunidade, mesmo que não de modo
igualitário. A sociedade passou a ser dividida pela participação política:
pentacosiomedimnos, cuja riqueza alcançava 500 medimnos por ano;
hipeis, cuja riqueza ultrapassava 300 medimnos por ano; zeugitas, cuja
riqueza era maior que 200 medimnos por ano; e thetas, cuja riqueza era
inferior a 200 medimnos por ano.
Hélade: nome pelo qual os antigos gregos chamavam a Grécia, sendo eles
próprios denominados helenos.
Homero: poeta épico que deve ter vivido durante a Idade Obscura da
Grécia Antiga. Atribui-se a ele a composição das obras Ilíada e Odisseia.
Contudo, sua existência histórica não pode ser comprovada.
Indo-europeus: povos originários das estepes da Ásia central, também
denominados arianos, que por volta de 3000 a. C. migraram para o ocidente
europeu, península balcânica, sul e sudeste do mar Cáspio e península da
Índia.
Isonomia: princípio que estabelece a igualdade de todos perante a lei.
Entre 508-507 a. C., o estadista Clístenes universalizou os direitos políticos a
todos os cidadãos. A partir de então, todos aqueles cujos pais eram
atenienses teriam participação direta nas na Assembleia e poderia, através
de sorteio, ocupar algum cargo político.
Oratória: técnica de falar em público de modo estruturado e deliberado,
visando a persuasão dos ouvintes. Após o desenvolvimento da pólis, a
oratória passou a ser extremamente valorizada, tendo originado o estudo da
linguagem (retórica). Ao final do século IV a. C., a oratória, além de
disciplina básica da educação grega tornou-se o gênero literário mais
difundido durante o período helenístico.
Oriente Próximo: região geográfica do globo que abrange o sudoeste
asiático, entre o mar Mediterrâneo e o atual Irã, incluindo as proximidades
da porção sul do mar Cáspio.
Paideia: termo grego que faz referência aos costumes educacionais e a
formação cultural no mundo grego antigo. A educação formal do homem
grego englobava áreas como a ginástica, a gramática, a retórica, a música,
a matemática, a geografia, a história e a filosofia.
Talassocracia: termo derivado do grego thálassa, cujo significado é “mar”,
e kratía, que significa “poder”, que faz referência a um governo fundado no
poderio militar ou comercial marítimo.
Macedônios: povo cuja origem está ligada aos últimos bandos indo-
europeus que chegaram à península balcânica. Em torno do século VII a. C.
uma dinastia vinda de Argos parece ter conquistado a região e centralizado
o poder em uma monarquia. A helenização desse povo, que vivia na
fronteira norte do mundo grego antigo, ocorreu no começo do século V a.
C., quando mantiveram estreitos laços comerciais com Atenas e passaram a
participar dos jogos olímpicos. A identificação dos macedônios com os
gregos era tão intensa que Felipe II chamou o filósofo Aristóteles para ser
tutor de seu filho, Alexandre (MOSSÉ, 2004, p. 18-19).
“Portal – Graecia Antiqua”, de autoria de Wilson Alves Ribeiro Junior.
Site que reúne extenso material para os alunos que desejam iniciar seus
estudos sobre o mundo grego antigo. Traz quatro seções principais que
redirecionam o visitante para o acervo material, para uma área com
referências de fontes e bibliografias, e para conteúdos e imagens de
publicação atual.
Link: < http://greciantiga.org/>. Acesso em 23 set. 2014.
“Jean-Pierre Vernant e o diálogo com as ciências sociais: o homem grego e
seu espírito livre”, de autoria de Renata Cardoso Beleboni.
Entrevista com o célebre historiador da Grécia Antiga, Jean-Pierre
Vernant, onde em rápido diálogo ele fala sobre o homem grego e sua
mentalidade. Ótimo e didático texto que apresenta aos alunos o mais
influente estudioso do mundo grego antigo.
Link: <http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/rhs/article/view/482/388>. Acesso em 23
set. 2014.
“Literatura e Mitologia Grega – Diálogo sem Fronteira”, de autoria de Flávio
Ribeiro de Oliveira.
Entrevista conduzida pelo historiador Pedro Paulo Funari, do Centro de
Estudos Avançados da Unicamp. Nela Flávio Ribeiro de Oliveira fala
sobre o âmbito da mitologia e suas relações com a tragédia e comédia
grega.
Link: < https://www.youtube.com/watch?v=4vxgPMM-d2M>. Acesso em 23 set. 2014.
Tempo: 16:44
“Construindo um Império: Grécia” – documentário produzido pela History
Channel.
Excelente documentário que traz à discussão o desenvolvimento técnico
e cultural dos gregos desde o período Arcaico até o Clássico. Além de
explicar as obras da engenharia grega, o documentário mostra como a
explosão cultural e criativa por qual a Grécia passou, sucumbiu aos anos
de conflitos entre as poleis.
Link: < https://www.youtube.com/watch?v=ZNU-VbaOIzI>. Acesso em 24 set. 2014.
Tempo: 43:55
“Construindo um Império: Grécia, a Era de Alexandre” – documentário
produzido pela History Channel.
Documentário que proporciona aos alunos aprofundarem seus
conhecimentos a respeito da máquina de guerra Alexandrina. A
tecnologia que a Grécia dispunha, no século IV a. C., fora aprimorada
pela organização militar macedônica. O que pode ser visto, portanto, é
como que o exército alexandrino foi instrumento imprescindível para a
conquista da Pérsia.
Link: < https://www.youtube.com/watch?v=hFpaR1DV2hU>. Acesso em 24 set. 2014.
Tempo: 44:00
Instruções:
Questão 1:
Leia o trecho de História da Guerra do Peloponeso, do Historiador Grego
Tucídides.
“A constituição que nos rege não nos deixa invejar a de outros povos.
Também não é cópia de nenhum outro lugar. Ao contrário, serve-lhes de
modelo. O nome que damos a ela é democracia. Porque não está a mercê
de uma minoria, mas beneficia o maior número dos cidadãos. Seu princípio
fundamental é a igualdade. […]. A participação na vida pública não se
ganha pelo nascimento ou pela fortuna, mas unicamente pelo mérito. Não
são as distinções sociais, mas a competência e o talento que abrem o
caminho das honrarias na pólis. Em Atenas, todos são aptos a participarem
da política e se preocupam com ela. Pois, o cidadão que se mantém
afastado dos negócios públicos é um ser inútil. Na assembleia, os cidadãos
conseguem julgar e propor os melhores desígnios para a cidade, porque
acreditam que a palavra traz a luz por meio da discussão".
O discurso acima transcrito por Tucídides é atribuído a Péricles, que explica
o que era a democracia para os atenienses. Todavia, tal conceito pode
referir-se também à atualidade no que tange aos Estados democráticos
contemporâneos. Assim, lembrando do que você leu no tópico “Período
Clássico”, relacione a fala de Péricles com o que você conhece sobre a
prática democrática em seu país, levando em consideração o exercício da
sua cidadania e as instituições políticas da República Brasileira.
Questão 2:
Leia o trecho extraído da Elegias de Sólon, poeta já mencionado no tópico
“Período Arcaico”.
“Entre os pobres, muitos se dirigem a terras estranhas, vendidos e cobertos
de correntes […]. Quantos dos que tinham sido vendidos, uns injustamente,
outros com justiça, fiz voltar para Atenas, sua pátria, fundada pelos deuses
[…]. Dei liberdade a outros que, aqui mesmo [em Atenas], sofriam servidão
indigna e tremiam diante do humor dos patrões. Eis o que realizei, graças à
soberania da lei, fazendo com que a força e a justiça agissem corretamente”
(SÓLON, Elegias apud HOLANDA, S. Buarque de. História da Civilização. São
Paulo: Nacional, 1979. p. 58.).
Com base no texto acima e em sua reflexão, podemos dizer que:
a) quando um homem lê os discursos de Sólon nos dias de hoje, ele não vê
semelhança alguma entre passado e presente já que são momentos
históricos diferentes e tão distantes no tempo;
b) o leitor contemporâneo pode se identificar com a mensagem do poeta na
medida em que situações como “pobreza”, “servidão” e “soberania da lei”,
são assuntos corriqueiros na atualidade;
c) somente o leitor especializado na linguagem utilizada por Sólon torna-se
capaz de compreender seu discurso, já que está limitada ao período em que
viveu o poeta;
d) é impossível haver identificação entre o cotidiano do leitor
contemporâneo com o discurso de Sólon, pois quando fala de “justiça”,
“força” e “lei”, ele faz referência a conceitos específicos de sua época;
e) a identificação entre passado e presente depende da abstração do leitor
de hoje, ou seja, de sua capacidade de se imaginar no contexto em que o
poeta proferiu seu discurso.
Questão 3:
Leia o trecho extraído da Oração Fúnebre de Péricles, estadista já
mencionado no tópico “Guerra do Peloponeso”.
“Vivemos sob uma forma de governo que não se baseia nas instituições de
nossos vizinhos; ao contrário, servimos de modelo a alguns ao invés de
imitar outros. Seu nome, como tudo depende não de poucos, mas da
maioria, é democracia. Nela […] não é o fato de pertencer a um grupo, mas
o mérito, que dá acesso aos postos mais honrosos” (TUCÍDIDES. História da
Guerra do Peloponeso. Trad. de Mário da Gama Kury. Brasília: UNB, 1987. p.
98).
O discurso de Péricles faz referência a qual princípio político?
a) À anomia, ou seja, à diferenciação política baseada no pertencimento a
determinado grupo. Como, por exemplo, a que existia no começo do
período Arcaico entre a aristocracia e os pequenos camponeses.
b) À eunomia política alcançada no período Arcaico, cujo princípio
estabelecia que todos os diferentes grupos deveriam obedecer às leis da
cidade. Mesmo que estas tratassem os cidadãos com diferenciações, isto é,
de acordo com o nível social de cada grupo.
c) À isonomia política, isto é, à possibilidade dada a todos os cidadãos de
participarem equitativamente do governo da pólis.
d) À anomalia política, causada pelos conflitos sociais que marcaram o
período clássico da Grécia.
e) À possibilidade de todos os cidadãos de participarem do exército durante
o período que vigorou a Liga de Delos.
Questão 4:
Leia o texto.
“Atenas era uma cidade extraordinariamente cosmopolita. Um ateniense
poderia observar milhares de imigrantes temporários e permanentes de
outras cidades gregas ou de terras não gregas trabalhando a sua volta,
muitas vezes fazendo exatamente o mesmo trabalho que ele, sem, contudo,
compartilhar de nenhum de seus direitos de cidadão. A característica mais
marcante da cidadania ateniense é que, quando viajava para além dos
limites de sua própria pólis, era imediatamente privado de seus direitos
políticos” (JONES, Peter V.. O mundo de Atenas: uma introdução à cultura
clássica ateniense. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 156).
Segundo o historiador Peter Jones “a característica mais marcante da
cidadania ateniense é que, quando viajava para além dos limites de sua
própria pólis, era imediatamente privado de seus direitos políticos”. A que
fato se deve tal característica? Responda relacionando o questionamento ao
que você já estudou na seção “Por dentro do tema”.
Questão 5:
Felipe II, rei da Macedônia, conquistou as poleis gregas em 338 a. C.. Seu
filho, Alexandre, o Grande, consolidou as conquistas do pai e expandiu seus
domínios em direção a Ásia, construindo um vasto império. Sob uma
perspectiva cultural, as conquistas de Alexandre trouxeram transformações
importantes à civilização Grega Antiga. A partir do que foi visto nos tópicos
“Período Clássico” e “Período Helenístico”, explique como ocorreu a
modificação cultural entre o universo da pólis e o universalismo helenístico.
Finalizando:
Encerramos, assim, nossa empreitada pelo mundo grego antigo.
Acompanhamos a “aventura do homem grego”, desde o seu primórdio
creto-micênico até seu universalismo helenístico.
Iniciamos estudando o desenvolvimento e decadência das civilizações
Cretense (Minóica) e Micênica. Passando pelo período Homérico, cujas
fontes se pautam nos épicos Ilíada e Odisseia, que presenciou a formação
do sistema gentílico e sua desagregação. Quando se estabeleceu uma
aristocracia que monopolizou o poder religioso e a propriedade das terras
mais produtivas.
Dessa maneira, coube aos sábios e aos tiranos da época Arcaica
mediar os conflitos que se seguiram à concentração fundiária e à miséria
que se alastrou entre os pequenos camponeses. Foi aí que, em finais do
século VI a. C., houve uma ampliação dos direitos políticos a todo o corpo de
cidadãos. Os quais, agora, tinham acesso aos costumes ancestrais da
comunidade e podiam gozar de um ambiente público onde se identificavam
com os seus compatriotas e exerciam sua natureza racional humana.
Nesse contexto, foi que a pólis clássica chegou ao seu auge em
Esparta e Atenas. Após as Guerras Médicas, quando em um breve momento
de unidade militar, os gregos expulsaram os persas da bacia do mar Egeu. A
posição hegemônica alcançada por Atenas, através da Liga de Delos, levou
toda a Grécia a um longo período de lutas fratricidas conhecido como
Guerra do Peloponeso.
O enfraquecimento das poleis, devido ao desgastante conflito,
permitiu a conquista das cidades helênicas pelo reino da Macedônia em 338
a. C.. Alexandre, o Grande, assumindo o trono dois anos mais tarde, liderou
os exércitos macedônico e grego na invasão e conquista do poderoso
Império Persa. Entretanto, a fusão cultural que se seguiu às conquistas
alexandrinas, mudou profundamente as fundações culturais do mundo
grego antigo.
A cultura grega, antes orgulhosa de seu isolamento do mundo
"bárbaro", então se tornava imbuído pela cultura oriental persa, egípcia e
mesopotâmica. Mesmo havendo proeminência do aspecto grego em
detrimento do oriental, a cultura helenística foi alçada a um patamar nunca
antes imaginado – o universalismo humano.
Portanto, o grande legado da Antiguidade Grega para o homem
contemporâneo, é a memória de sua peculiar capacidade de reinventar
constantemente sua própria humanidade, organizando o mundo a sua volta
por meio de sua própria natureza.
REFERÊNCIAS
AMOURETTI, Marie-Claire e RUZÉ Françoise. O mundo grego antigo: dos
palácios de Creta à conquista romana. Lisboa: Dom Quixote, 1993.
ARRUDA, José J. de. História Antiga e Medieval. São Paulo: Ática, 1991.
CABANES, Pierre. Introdução à História da Antiguidade. Petrópolis: Vozes,
2009.
CABANES, Pierre. La colonisation grecque en Méditerranée. Clio, Paris, oct.
2000. Disponível em: < http://www.clio.fr/BIBLIOTHEQUE/la_colonisation
_grecque_en_mediterranee.asp#biblio>. Acesso em: 24 set. 2014.
FINLEY, Moses I.. Aspectos de la Antiguedad: descubrimientos y disputas.
Barcelona: Ariel, 1975.
FINLEY, Moses I.. Grécia primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica. São
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FINLEY, Moses I.. O Mundo de Ulisses. Trad. de Armando Cerqueira. Lisboa:
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FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito: Curso dado no College de
France (1981-1982). São Paulo: Martins Fontes, 2006.
HARTOG, François. Tempo e Patrimônio. Varia Historia, Belo Horizonte, v.
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HOLANDA, S. Buarque de. História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1979.
JONES, Peter V.. O mundo de Atenas: uma introdução à cultura clássica
ateniense. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
LÉVÊQUE, Pierre. A aventura grega. Lisboa: Ed. Cosmos, 1964.
MASARACHIA, Agostino. La prosa greca del V e del IV secolo a.C.. In: ANNA,
Giovanni D. (org.). Storia della letteratura greca. Roma: Tascabile Economici
Newton, 1995.
MOSSÉ, Claude. Alexandre, o Grande. Trad. Anamaria Skinner. São Paulo:
Estação Liberdade, 2004.
SOUZA, Marcos Alvito Pereira de. A Guerra na Grécia Antiga. São Paulo:
Ática, 1988.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Trad. de Mário da Gama Kury.
Brasília: UNB, 1987.
VERNANT, Jean-Pierre (org.); BORGEAUD, Ph.; CAMBIANO, G.; CANFORA, L.;
GARLAN, Y.; MOSSÉ, C.; MURRAY, O.; REDFIELD, J.; SEGAL, Ch.; VEGETTI, M..
El hombre griego. Madrid: Alianza Editorial, 1995.
VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro:
Difel, 2002.
VERNANT, Jean-Pierre. Problèmes de la guerre en Grèce Ancienne. Paris: La
Haye, 1969.
GABARITO-
Aula 3:
Tema 3: Grécia: Da Formação do Povo Grego ao Helenismo
Questão 1:
Resposta: Como foi dito no tópico “Período Clássico”, a identidade ateniense
era fundamentada na participação direta dos cidadãos nas instituições
políticas como na Ágora, na Bulé e Eclésia, como também na Heliae.
Péricles faz referência a assídua e obrigatória participação de todos os
cidadãos nestas instituições, tanto como indivíduo capaz de deliberar sobre
os assuntos de interesse público (da pólis), quanto como representante da
esfera privada de Atenas (a família). O próprio Péricles afirma que o critério
dessa democracia é o mérito, e não o nascimento ou a fortuna. O que faz
menção ao passado político onde a participação política era privilégio de
determinada classe social, marcada pela riqueza. O objetivo da questão,
portanto, é estimular o aluno a refletir sobre a democracia atual a partir de
seu conhecimento sobre o passado, aplicando parte do que foi lido ao longo
do caderno. Nessa direção, o que se espera do aluno é que ele estabeleça a
relação de proximidade entre a participação política atual baseada na
valorização do indivíduo pela competência e a escolha dos governantes,
através do sufrágio universal, o que reflete a atualidade do texto de
Péricles.
Questão 2:
Resposta: alternativa B.
Partindo da premissa da primeira questão, todo ato de leitura, seja de um
texto antigo ou contemporâneo, é um esforço humano para entender o
contexto em que vive. Logo, quando os assuntos lidos possuem alguma
referência com a realidade do leitor, a identificação ocorre de maneira
imediata. Sólon, em seu discurso, relaciona termos como “pobreza”,
“servidão” e “soberania da lei”, assuntos que ainda são relacionados no
cotidiano atual e, deste modo, de fácil identificação.
Questão 3:
Resposta: alternativa C.
Na medida em que se fala: “como tudo depende não de poucos, mas da
maioria”, e, “não é o fato de pertencer a um grupo, mas o mérito, que dá
acesso aos postos mais honrosos”; há a referência direta ao princípio que
estabelece a igualdade de todos perante a lei, isto é, a isonomia.
Questão 4:
Resposta: O cosmopolitismo ateniense contribuiu para diversos avanços
intelectuais e econômicos de Atenas, mas não interferiu na constituição de
um sistema político democrático que realmente incluísse os estrangeiros na
cidadania. Isso devia-se ao fato da cidadania ser derivada da formação
cultural do indivíduo cuja origem estava ligada à ancestralidade do corpo
cívico (o demos). Assim, quando o indivíduo portador da cidadania se
afastava do seus compatriotas, estando em meio a outros culturalmente
distintos dele, os vínculos ancestrais que o ligavam à comunidade eram
desfeitos. No entanto, o elo com a sua comunidade (cultural) era mantida
mesmo ele estando em território estrangeiro. Portanto, um grego de Atenas
era considerado estrangeiro em uma cidade vizinha como a de Plateia, já
que todo o mundo grego antigo era divido em pólis, ou seja, em unidades
políticas autônomas umas das outras.
Questão 5:
Resposta: A diferenciação cultural entre o período clássico e o helenístico
está ligada a fusão com elementos orientais na cultura helênica. Uma vez
que o Império Macedônico se expandiu por várias regiões da Ásia,
englobando várias outras culturas (a persa, a egípcia, a mesopotâmica e a
indiana), restringiu o regionalismo grego que em alguns casos beirava a
xenofobia (como em Esparta). Podemos citar também a ampliação do uso
da escrita na esfera política a partir da influência de modelos burocráticos
mesopotâmicos e egípcios, diferenciando-se da oralidade presente na
democracia de Atenas.