Hist Barcacoes

11
Ponto importante para iniciarmos este estudo é ir buscar as origens do antigo arraial de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova (que foi o nome primitivo de Resende), e que deu os seus sinais de vida lá pelos anos de 1747 e passou a se chamar Vila de Resende [2]. As primeiras mudas de café trazidas pelo padre Couto[3] da fazenda do holandês Hoppman no Rio de Janeiro, foram plantadas como experiência na região de São Vicente Ferrer (atual vila da Fumaça), mais precisamente na Fazenda Monte Alegre, depois de confinar os índios Puris na aldeia de São Luiz Beltrão, próximo do mesmo lugar que começaram a plantar os cafezais. Os motivos que explicam o fato de ser Resende o centro irradiador do café pelo Vale do Paraíba podem ser muitos e, até hoje foram pouco estudados. Dentre esses estímulos prováveis, podemos citar: a) os aspectos geográficos da região do "Campo Alegre" (Resende), que apresentava uma boa baixada, um solo propício e um clima favorável; b) a proximidade do Rio de Janeiro, que funcionaria como porto para a exportação; c) a atuação estimulante do Marquês do Lavradio, representante do governo de D. João VI que, a partir de 1772, dispensou do serviço militar os habitantes da região que

description

geral

Transcript of Hist Barcacoes

Ponto importante para iniciarmos este estudo ir buscar as origens do antigo arraial de Nossa Senhora da Conceio do Campo Alegre da Paraba Nova (que foi o nome primitivo de Resende), e que deu os seus sinais de vida l pelos anos de 1747 e passou a se chamar Vila de Resende[2].As primeiras mudas de caf trazidas pelo padre Couto[3]da fazenda do holands Hoppman no Rio de Janeiro, foram plantadas como experincia na regio de So Vicente Ferrer (atual vila da Fumaa), mais precisamente na Fazenda Monte Alegre, depois de confinar os ndios Puris na aldeia de So Luiz Beltro, prximo do mesmo lugar que comearam a plantar os cafezais.Os motivos que explicam o fato de ser Resende o centro irradiador do caf pelo Vale do Paraba podem ser muitos e, at hoje foram pouco estudados. Dentre esses estmulos provveis, podemos citar: a) os aspectos geogrficos da regio do "Campo Alegre" (Resende), que apresentava uma boa baixada, um solo propcio e um clima favorvel; b) a proximidade do Rio de Janeiro, que funcionaria como porto para a exportao; c) a atuao estimulante do Marqus do Lavradio, representante do governo de D. Joo VI que, a partir de 1772, dispensou do servio militar os habitantes da regio que plantassem caf. Portanto, todos esses elementos uniram-se para criar as condies necessrias chegada do caf por essas paragens.Em 1802, Resende j era exportadora de caf e, a partir da, a regio sofreria uma grande mudana. O incio do reinado do caf comeou mudando, aos poucos, toda a economia da regio. Se at antes da chegada do caf, os poucos habitantes do arraial e redondezas do "Campo Alegre" plantavam e beneficiavam de cana-de-acar, cuidavam de plantaes de anil, criavam algum gado (vendendo carne para Minas e Rio), tudo, a partir do sculo XIX, estaria sujeito novidade cafeeira. Antigas fazendas de gado, engenhos de acar e cachaa, plantaes de anil, passavam a plantar. Outras plantaes como as de milho, feijo, arroz e mandioca passaram a alimentar as fazendas de caf e as sedes dos ncleos urbanos dentro de um sistema de apoio e subsistncia. Entretanto o caf j impunha o seu poder quase absoluto como cultura comercial destinada exportao.Quando a Vila de Resende passa a ser considerada como cidade em 1848[4], a regio resendense j se destacava como um dos maiores centros cafeicultores da provncia. J estvamos no Segundo Imprio e o reinado de D. Pedro II esteve marcado pela expanso do caf pelo Vale, salvando, progressiva e lentamente, o Imprio da falncia financeira econmica que estava sujeito aps a Independncia. Ao falarmos em Imprio devemos sempre nos lembrar do caf, em um outro aspecto fundamental, ter garantido para Imprio seu sustento poltico atravs das elites agrrias e na escravido negra como fora motriz da economia agroexportadora. Confirmada pela Constituio de 1824,garantindo o trfico at 1850 e possibilitando a compra macia de mais braos para lavoura do caf.No entanto, apesar de toda essa euforia cafeicultora, a regio de Resende nunca ocupar o lugar de maior produtora de caf da Provncia do Rio de Janeiro. Resende foi grande centro produtor, mas no o maior. Mesmo que no incio do sculo XIX, seja a Vila de Resende o centro irradiador do caf, espalhando-o por todo o Vale do Paraba, ser Vassouras, Valena, Paraba do Sul, Barra Mansa e Pira que possuiro as maiores fazendas e tambm a maior produo. Uma das maneiras de compreender este fato comparar o volume de pequenos e mdios produtores face aos de outras regies do vale.

Fomos ento buscar visualizar o que foi descrito por Maia no trecho citado acima e em nossas pesquisas iconogrficas chegamos imagem que apresentaremos abaixo. Segundo o que pesquisamos o barco de fundo raso do D`ouro denominado barco Rabelo um barco de espadela[7] - ramo que governa o barco e est sujeito a um eixo tornel. Possui, ainda, dois remos de cada lado e fundo chato - o sagro - constitudo por um nmero mpar de tbuas. Tem forma lenticular. H autores que defende uma origem Sueva, outros Visigtico ou at Viking[8]. Transportava vinho, lenha, madeira, carvo, fruta, palha, batata e outras mercadorias; ou seja, tradicionalmente um barco de transporte de mercadorias de vias fluviais.

Fig. 1 Imagem de Barcos Rabelo s margens do Rio DOuro, Portugal

Joo Maia relata ainda que em uma publicao do Astro Resendense de 15 de agosto de 1868 foi publicado um artigo assinado pelo Dr. Joaquim dos Remdios Monteiro elogiando o ato venturoso de Jos de Souza. Em outro trecho de sua obra ele nos diz que em Resende um espanhol de nome Joo Vasques foi o primeiro que construiu e ps a navegar no rio um barco. Estes barco segundo Joo Maia podiam transportar de 700 at 1000 arrobas e que chegaram a mais de 60 o nmero de embarcaes que faziam o transporte pelo rio Paraba desde Resende at como ele diz Barra do Pirahy.

Fig.2 Pintura ilustrando transporte por barcas,Partida de uma mono - Almeida Jnior. Batelo no sculo XIX. A ilustrao nos traz logo a lembrana das ribeiras do velho Paraba do Sul.

Assim ao pesquisarmos os registros sobre a navegao no Rio Paraba partindo da praa cafeeira de Resende, chegamos ao registro do nome de Joo Vasques como proprietrio de Barcos no Rio Paraba, tal referncia consta do Almanack Laemmert do ano se 1863, onde apresenta mais 15 outros nomes como proprietrios de embarcaes. Dentre esses chamou-nos a ateno a vinculao da propriedade de embarcaes com casa de commisso de caf e Productos de Minas cujos proprietrios citados so: Antonio Jos da Costa, Francisco Gomes Leal, Alferes Francisco da Rocha Bernardes e o tambm Alferes Joaquim Rodrigues Antunes. Um outro aspecto que devemos observar que esse tipo de meio de transporte veio baixar os custos da economia de abastecimento entre nossas cidades do Vale do Paraba dando tambm velocidade no suprimento de gneros e no abastecimento da regio e da corte com produtos vindo das minas.Segundo ainda Joo Maia, at o ano 1873, quando chega a Resende a Estrada de Ferro D. Pedro II, todo o transporte de carregamento era feito por via fluvial atravs dos j famosos barcos do Rio Paraba. Ele nos brinda ainda com a seguinte comparao do ponto de vista econmico:

...o preo do frete, que para os portos de Jurumerim e Arir importava 2$ por arroba, alm de 5 a 6 dias de demora na viagem das tropas, ao passo que pelo rio o trajecto se fazia at Pirahy em 24 horas, e o frete no excedia de 400 rs por arroba. [9]

Entretanto, sabemos que ningum para ou parou o progresso e em 9 de agosto de 1864 chega a Barra do Pira a primeira composio com passageiros. Eram os ecos do progresso chegando ao porto das barcas de caf. Ento, pelos idos de 1869 um proprietrio de terras e barcos, o Alferes Joaquim Rodrigues Antunes, resolveu bancar em suas terras uma terraplanagem que poderia servir bem para um traado de passagem de uma linha ferroviria. Cedeu ele ainda outra parte de suas propriedades para construo de uma estao e um ptio de manobras. E assim segundo o Cel. Alfredo Sodr: o certo que em fevereiro de 1873, a primeira locomotiva a Princesa Imperial alcanava, silvando estrepitosamente, a estao de Resende, em Campos Elseos.[10] Fato que acabou por constituir uma lenta e certa paralisao da atividade do transporte fluvial do rio Paraba do Sul. Em nossas pesquisas vimos que nos primeiros anos da dcada de 60 do sculo XIX que se constituiu o perodo ureo deste tipo de atividade econmica que apoiava a produo cafeeira. O que apresentamos atravs do grfico abaixo construdo a partir de nosso levantamento.

Grfico 1- fonte: Almanaque Laemmert 1862 at 1866A importncia da navegao fica patente e reforada a partir de um dos documentos da Cmara Municipal registrado em ata do dia 27 de novembro de 1861 onde apresenta a importncia deste meio de transporte para economia cafeeira de Resende bem como ainda a inteno de melhorias no desenvolvimento de tal meio. Assim apresentamos abaixo a transcrio de um trecho da ata.

[...] com a falta do nosso primeiro ramo de exportao o caf faltando este falta o dinheiro:no h neste municpio industria alguma ,ou fbricas dignas de meno. Quanto as medidas para nosso desenvolvimento,entende a Comisso ,que a primeira e a mais vital necessidade deste municpio o melhoramento de nossa navegao fluvial: o rio Parahiba ,pois onde ella feita, tem algumas cachoeiras e passos difficeis e perigosos,que demando promptos servios para facilitar a navegao;no obstante este incaminhamentos ,j a exportao e importao vai sendo quase toda feita pelo Parahiba , por meio de barcas,o que he de incontestvel vantagem. Com qualquer melhoramento no Parahiba quebrando-se algumas pedras, recuando outras e limpando-se huma das margens no s ser mais fcil e rpida a navegao, como ainda menos despendiosa e sobretudo menos perigosa.[...][i]

Outro elemento que corrobora quo foi importante a navegao, achamos no editorial do jornal Astro Rezendense[ii] dizendo que era uma realidade a chegada da ferrovia, mesmo porque j se tinha a autorizao para se implementar um brao da Dom Pedro II a Estrada de Ferro de Rezende a Areas. Mas alertava o editorial que a atividade de navegao fluvial empregava trezentos brao e alimentava mil e quinhentos indivduos e a partir do aparecimento das ferrovias tal atividade estava desaparecendo o que causou um grande golpe nos trabalhadores que o editor chamou de populao fluctuante. Em outro aspecto o editorial vai mais longe dizendo que Resende era um centro de parada e transito das pessoas que iam e viam da corte para interior e vice versa e que ao findar esta atividade que era complementar na estrutura de transportes fez cessar completamente tal atividade gerando um golpe que o autor classifica como mortal para economia da regio, gerando do ponto de vista imobilirio queda de aluguel e desvalorizao dos imveis.Conclumos dizendo que j em 1872 o Astro Rezendense dava os prenncios do final da atividade de navegao e fazia um severa crtica mostrando que a ferrovia no havia trazido o barateamento dos fretes como era o esperado para economia local, muito pelo contrario, talvez pela rapidez passou a cobrar valores no to vantajosos e ainda desmobilizou muitos setores que viviam da integrao do transporte terrestre com o fluvial.