Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Ana Paula dos Santos Cerdeiro HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES E GATOS - REVISÃO CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Ana Paula dos Santos Cerdeiro

HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES E GATOS - REVISÃO

CURITIBA

2011

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HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES E GATOS - REVISÃO

CURITIBA

2011

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Ana Paula dos Santos Cerdeiro

HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES E GATOS- REVISÃO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professora orientadora: Prof. MSc. Marúcia de Andrade Cruz Orientadores profissionais: MSc. Rodrigo Gonzalez e Prof. Dr. Fabiano Montiani Ferreira

CURITIBA

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

Ana Paula dos Santos Cerdeiro

HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES E GATOS- REVISÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção de título de Médico Veterinário por uma banca examinadora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, xx de dezembro de 2011

__________________________________

Medicina Veterinária Universidade Tuiuti do Paraná

__________________________________ Orientador: Prof. MSc. Marúcia de Andrade Cruz

Universidade Tuiuti do Paraná.

__________________________________ Prof. Dra. Ana Laura Angeli

Universidade Tuiuti do Paraná.

__________________________________ Prof. MSc. Taís Marchand Rocha Moreira

Universidade Tuiuti do Paraná.

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A toda a minha família que sempre me estimulou a seguir meu sonho e principalmente a todos os animais que por mim passaram e me fizeram ter a certeza que minha vida seria trabalhar em virtude da saúde e bem-estar deles.

DEDICO

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família, que me estimula desde pequena a

seguir meu sonho de ser médica veterinária e nunca mediu esforços para me ajudar

durante minha jornada de estudos. Em especial, à minha mãe e meu pai que se

prontificaram a acordar cedo e ir dormir tarde nesses cinco anos inteiros, que

deixaram de se preocupar consigo mesmos para que eu tivesse melhor

aproveitamento acadêmico. Obrigada.

Agradeço imensamente a professora Taís Marchand Rocha Moreira, por

todo aprendizado, amizade, atenção e paciência. Sem dúvida, foi pelo seu exemplo

que escolhi seguir esta área e um dia desejo ser tão profissional quanto você.

À professora Marúcia de Andrade Cruz, pela orientação, aprendizado e

amizade, sempre apoiando todas as minhas decisões e me estimulando nas que eu

ainda tinha dúvida, me acolhendo com carinho sempre que apresentei problemas e

sempre tentando me fazer sorrir. Aproveito para agradecer da mesma forma a

equipe Mania de Gato, que fez me apaixonar ainda mais pelos queridos felinos.

Às professoras Ana Luisa Palhano e Silvana Krychak, que sempre me

ajudaram durante toda a graduação e torceram pelo meu sucesso. Sou

imensamente grata.

A todos os residentes por quem passei, em especial a Raquel Cantarella,

Rhéa Cassuli, Mayara Bansho, Carolina Lacowicz, Marília de Medeiros e Diogo

Motta, que tiveram toda a paciência do mundo em me ensinar a colocar em prática

toda a teoria aprendida em sala de aula e pela grande amizade gerada nesse

período. Da mesma forma, agradeço a toda a equipe da Clínica Escola de Medicina

Veterinária da Universidade Tuiuti, pelo carinho e amizade.

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7

Aos demais professores pelos ensinamentos, demais profissionais por quem

passei e também aos colegas de turma.

Ao Gabriel Marcondes de Oliveira, que me acompanhou nesta caminhada

desde o início e com quem eu ri, chorei e desabafei por todo o nervosismo e

ansiedade na minha tentativa de ser uma profissional melhor. Te amo.

Aos amigos, que compreenderam minha distância e ausência durante esse

período.

Por fim, aos inúmeros animais que por mim passaram e que me

possibilitaram crescer profissionalmente e também como pessoa, por meio de gestos

de gratidão. São eles a razão do meu esforço e dedicação.

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"A compaixão para com os animais é

das mais nobres virtudes da natureza

humana".

Charles Darwin

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo descrever as

atividades realizadas durante o estágio obrigatório realizado no Hospital Veterinário

da Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo-SP e no Hospital Veterinário da

Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, durante o segundo semestre de 2011.

Além disso, haverá revisão bibliográfica referente ao hipoadrenocorticismo em cães

e gatos.

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LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E SIGLAS

α: alfa

> : maior que

< menor que

ACTH: Adrenocorticotropic hormone (hormônio adrenocorticotrópico)

ALT: alanina aminotransferase

CRH: Corticotropin-releasing hormone (hormônio liberador de corticotropina)

DAPE: dermatite alérgica à picada de ectoparasitas

DDIV: doença de disco intervertebral

DRC: doença renal crônica

DUA: dermatite úmida aguda

dL: decilitro

DMVM: degeneração mixomatosa de válvula mitral

ECG: eletrocardiograma

FA: fosfatase alcalina

FeLV: feline leukemia virus (vírus da leucemia felina)

FIV: feline immunodeficiency virus (vírus da imunodeficiência felina)

HVAM: Hospital Veterinário Anhembi Morumbi

HVUFPR: Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná

Kg: quilogramas

L: litro

mEq: miliequivalentes

mg: miligramas.

mm: milímetros.

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mmol: milimol

nmol: nanomol

pmol: picomol

UFPR: Universidade Federal do Paraná

μg: micrograma

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - FACHADA DO HOSPITAL VETERINÁRIO ANHEMBI

MORUMBI, SP ...............................................................................

17

FIGURA 2 - CONSULTÓRIO DE CARDIOLOGIA – HVAM, SP ....................... 18

FIGURA 3 - ÁREA DE INTERNAMENTO – HVAM, SP .................................... 19

FIGURA 4 - FACHADA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UFPR, CURITIBA,

PR ..................................................................................................

27

FIGURA 5 - CONSULTÓRIO PARA ATENDIMENTOS GERAIS DO

HVUFPR, CURITIBA, PR ..............................................................

28

FIGURA 6 - REGIÕES DA ADRENAL E SEUS RESPECTIVOS PRODUTOS 37

FIGURA 7

- DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DO EIXO HIPOTÁLAMO-

HIPÓFISE-ADRENAL DESCREVENDO A REGULAÇÃO DO

FEEDBACK NEGATIVO (-) DO CORTISOL ................................

38

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - DISTRIBUIÇÃO ENTRE OS MACHOS E FÊMEAS DOS 97

CASOS ACOMPANHADOS NO HVAM, SP, NO PERÍODO

DE 01 A 31 DE AGOSTO DE 2011 .......................................

24

GRÁFICO 2 - DISTRIBUIÇÃO ENTRE AS ESPÉCIES CANINA E FELINA

DOS 97 CASOS ACOMPANHADOS NO HVAM, SP, NO

PERÍODO DE 01 A 31 DE AGOSTO DE 2011 .....................

24

GRÁFICO 3 - DISTRIBUIÇÃO POR AFECÇÕES DOS 97 CASOS

ACOMPANHADOS NO HVAM, SP, NO PERÍODO DE 01 A

31 DE AGOSTO DE 2011 .....................................................

25

GRÁFICO 4 - RAÇAS DE CANINOS E FELINOS ENTRE OS 97 CASOS

ACOMPANHADOS NO HAMV, SP, NO PERÍODO DE 01 A

31 DE AGOSTO DE 2011 .....................................................

25

GRÁFICO 5 - IDADE DOS PACIENTES CANINOS E FELINOS ENTRE

OS 97 CASOS ACOMPANHADOS NO HVAM NO

PARÍODO DE 01 A 31 DE AGOSTO DE 2011 .....................

26

GRÁFICO 6 - DISTRIBUIÇÃO ENTRE OS MACHOS E FÊMEAS DOS 92

CASOS ACOMPANHADOS NO HVUFPR NO PERÍODO

DE 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE 2011 ........

32

GRÁFICO 7 - DISTRIBUIÇÃO ENTRE AS ESPÉCIES CANINA E FELINA

DOS 92 CASOS ACOMPANHADOS NO HVUFPR NO

PERÍODO DE 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE

2011 .......................................................................................

33

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14

GRÁFICO 8 - – DISTRIBUIÇÃO POR AFECÇÕES DOS 92 CASOS

ACOMPANHADOS NO HVUFPR, NO PERÍODO DE 04 DE

OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE 2011 .........................

33

GRÁFICO 9 - RAÇAS DE CANINOS E FELINOS ENTRE OS 92 CASOS

ACOMPANHADOS NO HVUFPR, NO PERÍODO DE 04 DE

OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE 2011 .........................

34

GRÁFICO 10 - IDADE DOS PACIENTES CANINOS E FELINOS ENTRE

OS 92 CASOS ACOMPANHADOS NO HVUFPR NO

PARÍODO DE 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE

2011 .......................................................................................

34

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - CASUÍSTICA DE ACORDO COM OS 97 CASOS

ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO –

HVAM – 01 DE AGOSTO A 31 DE AGOSTO ..........................

21

TABELA 2 - CASUÍSTICA DE ACORDO COM OS 92 CASOS

ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO –

HVUFPR – 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE

2011 .........................................................................................

30

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 17

2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO .............................................. 18

2.1 HOSPITAL VETERINÁRIO ANHEMBI MORUMBI .............................. 18

2.1.1 INSTALAÇÕES E FUNCIONAMENTO ............................................ 18

2.1.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS..................................................... 21

2.1.3 CASUÍSTICA ................................................................................... 22

2.2 HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

PARANÁ ....................................................................................................

27

2.2.1 INSTALAÇÕES E FUNCIONAMENTO ............................................ 27

2.2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .................................................... 30

2.2.3 CASUÍSTICA ................................................................................... 31

3. HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES E GATOS – REVISÃO ......... 36

3.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 37

3.2 PATOGÊNESE .................................................................................... 40

3.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO ............................... 42

3.4 TRATAMENTO E PROGNÓSTICO ..................................................... 45

3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 47

4. CONCLUSÃO ........................................................................................ 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 49

ANEXO ...................................................................................................... 54

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1. INTRODUÇÃO

O estágio curricular obrigatório foi realizado em duas etapas, com

supervisão integral da Profª. MSc. Marúcia de Andrade Cruz, totalizando 391 horas.

A primeira etapa foi realizada no Hospital Veterinário da Universidade

Anhembi Morumbi, São Paulo capital, na área de Clínica Médica de Pequenos

Animais, no período de 01 de agosto de 2011 a 31 de agosto de 2011, sob a

orientação do Médico veterinário MSc. Rodrigo Gonzalez, totalizando 219 horas.

A segunda etapa foi realizada no Hospital Veterinário da Universidade

Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, também realizado na área de Clínica Médica

de Pequenos Animais, no período de 04 de outubro de 2011 a 04 de novembro de

2011, sob a orientação do Prof. Dr. Fabiano Montiani Ferreira, totalizando 172 horas.

Haverá ainda descrição dos locais de estágio, das atividades desenvolvidas

e da casuística acompanhada. Ao final, haverá uma revisão sobre

Hipoadrenocorticismo em cães e gatos.

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2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

2.1 HOSPITAL VETERINÁRIO ANHEMBI MORUMBI

2.1.1 Instalações e funcionamento

O Hospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi, localizado na rua

Conselheiro Lafaiette, 64, Bairro Brás, São Paulo capital, foi inaugurado em

setembro de 2002. Foi projetado e estruturado para oferecer atendimento

especializado a todas as espécies animais.

FIGURA 1 – ENTRADA DO HOSPITAL VETERINÁRIO ANHEMBI

MORUMBI, SP FONTE: SILVA, 2010.

O setor de Clínica Médica de Pequenos Animais funciona de segunda-feira a

sábado. Nas segundas, terças e quartas-feiras, o horário de atendimento é das 8 às

20 horas. Nas quintas e sextas-feiras, o atendimento inicia às 8 horas e encerra às

18 horas. Nos sábados, o horário de funcionamento é das 8 às 14 horas e são

atendidos somente pacientes que necessitam de fluidoterapia ou medicação

específica por via parenteral. Não há plantão e, sendo assim, os pacientes que

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necessitam de internamento no período noturno são encaminhados para clínicas e

hospitais particulares.

O hospital conta com serviço especializado de dermatologia, cardiologia,

oftalmologia, endocrinologia, neurologia, ortopedia, ultrassonografia, radiologia e

fisioterapia. Possui seis consultórios, sendo que quatro deles são para atendimento

geral, um é para atendimentos cardiológicos e outro para atendimentos

dermatológicos. O hospital conta ainda com um consultório e internamento de

felinos, radiografia, ultrassonografia, internamento para doenças infecciosas,

laboratório de patologia clínica, sala de transfusão sanguínea e doação de sangue,

farmácia, ambulatório, área de espera de caninos, área de espera de felinos,

recepção, cozinha e lavanderia. Há ainda o bloco cirúrgico, de grandes animais e de

fisioterapia veterinária.

FIGURA 2 – CONSULTÓRIO DE CARDIOLOGIA – HVAM, SP

Os pacientes caninos que necessitam de fluidoterapia são encaminhados

para macas que ficam localizadas em um corredor amplo, dentro do hospital. É

necessário que a pessoa responsável pelo paciente permaneça com o mesmo

Page 20: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

20

durante todo o período de internamento. A área de emergências também se

encontra neste corredor, e é composta de duas macas com acesso às fontes de

oxigênio.

FIGURA 3 – ÁREA DE INTERNAMENTO – HVAM, SP

Os atendimentos são realizados pelos médicos veterinários contratados,

professores e também pelos residentes. Os profissionais no primeiro ano de

residência (R1) trabalham em sistema de rodízios mensais, intercalando a clínica

médica com as áreas de patologia clínica e diagnóstico por imagem.

Os pacientes que chegam ao hospital veterinário passam pela triagem,

realizada pelo médico veterinário contratado, enquanto estão na área de espera.

Após, o responsável pelo paciente é encaminhado para a recepção, a fim de abrir

ficha de consulta. Os atendimentos ocorrem por ordem de chegada, porém os

retornos e emergências têm prioridade.

Page 21: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

21

2.1.2 Atividades desenvolvidas

Os estagiários iniciavam as consultas, realizando anamnese completa e

exame físico de novos casos ou retornos. Em seguida, o estagiário entrava em

contato com o médico veterinário responsável pelo caso, que conduzia o restante da

consulta encaminhando o paciente para realizar exames complementares, se

necessário. Os estagiários acompanhavam o paciente até o fim de todos os

procedimentos, sendo assim, auxiliavam também em radiografias, ultrassonografias

e colheita de material biológico para exames. Se o paciente precisasse de

internamento e medicações parenterais, o estagiário poderia preparar os frascos de

fluidoterapia, fazer o acesso venoso e aplicar as medicações, sempre orientado pelo

médico veterinário responsável.

Nas consultas de dermatologia veterinária, eram utilizados carimbos com as

imagens de um canino e um felino nas fichas de consulta geral, a fim de identificar e

descrever as lesões cutâneas. O estagiário poderia realizar raspado cutâneo,

observação com lâmpada de Wood e colheita de material para citologia, cultura e

antibiograma. No caso do raspado e da citologia, o estagiário poderia buscar

identificar os ácaros, fungos ou bactérias no microscópio, seguido de confirmação do

resultado do exame pelo médico veterinário responsável.

Nas consultas de cardiologia, o estagiário acompanhava o professor

responsável, realizando eletrocardiogramas, além de colheita de sangue. O ECG era

interpretado juntamente com o professor e residentes.

Foi possível acompanhar testes de schirmer e de fluoresceína nas consultas

de oftalmologia, bem como testes neurológicos e ortopédicos nas consultas de

neurologia e ortopedia, realizados junto aos professores.

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22

Ao final de cada consulta, o estagiário auxiliava a redigir receitas, sempre

sob orientação, carimbo e assinatura de veterinário responsável.

Durante os casos de emergência, os estagiários ajudavam, quando

requeridos, na fluidoterapia, oxigenoterapia, coleta de material para exame ou

qualquer outra atividade determinada pelo veterinário responsável. Após

estabilização do paciente, o estagiário deveria realizar anamnese junto ao

proprietário, bem como monitorar o paciente constantemente e repassar as

informações ao veterinário.

Demais atividades dos estagiários envolviam colheita de material biológico,

como sangue ou urina, toracocentese, abdominocentese, aferição de pressão

arterial, acompanhamento em quimioterapias, ajuda na contenção de pacientes e

realização de requisição de cada exame solicitado.

2.1.3 Casuística

Durante o período de estágio, foram acompanhados 97 casos, sendo que a maioria

deles foram oncológicos, seguido pelas afecções cutâneas. Todos os casos

acompanhados estão listados abaixo conforme o sistema afetado, de acordo com o

diagnóstico presuntivo ou definitivo. A proporção entre as espécies canina e felina,

entre o sexo feminino e masculino, raças atendidas entre caninos e felinos, bem

como a idade dos pacientes atendidos estão listados nos gráficos a seguir.

TABELA 1 – CASUÍSTICA DE ACORDO COM OS 97 CASOS ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO – HVAM – 01 DE AGOSTO À 31 DE AGOSTO

AFECÇÕES Nº DE CASOS

Cutâneas

DAPE

Demodiciose

Dermatite atópica

2

1

6

Page 23: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

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Dermatite úmida aguda

Escabiose

Esporotricose

Granuloma eosinofílico

Otohematoma

Otite bacteriana

1

1

1

1

2

1

Genitourinárias

Consulta eletiva para castração

Controle gestacional

Doença renal crônica

DTUIF

Hidronefrose iatrogênica

Piometra de coto

1

1

4

1

1

1

Endócrinas

Controle de obesidade

Diabetes mellitus

Hiperadrenocorticismo

Hipoadrenocorticismo

Hipotireoidismo

2

2

1

1

1

Cardiovasculares Cardiomiopatia dilatada

DMVM

1

2

Infecto-contagiosas

Cinomose

Erlichiose

Leishmaniose

4

2

1

Neurológicas Neuropatia a esclarecer

Vestibulopatia

1

1

Neoplásicas

Adenocarcinoma pancreático

Carcinoma de células escamosas

Carcinoma de células transicionais

Carcinoma mamário

Carcinoma pancreático

Fibrossarcoma

Linfoma*

Mastocitoma

Melanoma

1

1

1

1

1

1

5

4

2

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24

Metástase pulmonar

Neoformação maxilar a esclarecer

Neoplasia esplênica a esclarecer

Neoplasia hepática a esclarecer

Neoplasia mamária a esclarecer

Neoplasia mandibular a esclarecer

Sarcoma pós-vacinal

Sarcoma sinovial

1

1

1

1

1

1

1

1

Digestórias

Corpo estranho linear

Estomatite

Gastroenterite hemorrágica

Gastroenterite medicamentosa

1

1

3

2

Hepáticas Cirrose

Shunt porto-sistêmico

1

1

Respiratórias Broncopneumonia

Rinite crônica

1

1

Imunomediadas

Anemia hemolítica imunomediada

Fístula perianal

Lúpus eritematoso

1

1

1

Oculares

Catarata

Ceratite ulcerativa

Ceratoconjuntivite seca

Descolamento de retina

Glaucoma

2

1

1

1

1

Ortopédicas

DDIV

Fratura de íleo

Luxação vertebral

2

1

1

Outras Check-up

Síncope a esclarecer

2

1

Total 97

* Incluídos nesse grupo o linfoma mediastinal, intestinal e multicêntrico.

Page 25: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

25

51

46

43

44

45

46

47

48

49

50

51

52

Fêmeas Machos

Fêmeas

Machos

83

14

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Cães Gatos

Cães

Gatos

GRÁFICO 1 – DISTRIBUIÇÃO ENTRE OS MACHOS E FÊMEAS DOS 97 CASOS ACOMPANHADOS NO HVAM, SP, NO PERÍODO DE 01 A 31 DE AGOSTO DE 2011

GRÁFICO 2 – DISTRIBUIÇÃO ENTRE AS ESPÉCIES CANINA E FELINA DOS 97 CASOS ACOMPANHADOS NO HVAM, SP, NO PERÍODO DE 01 A 31 DE AGOSTO DE 2011

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26

2 2 1 1

5 6

1 2

5

2 2 2 3 2

6

15

1 1 1 3

31

1 1 1

0

5

10

15

20

25

30

35

Bea

gle

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shir

e

GRÁFICO 3 – DISTRIBUIÇÃO POR AFECÇÕES DOS 97 CASOS ACOMPANHADOS NO HVAM, SP, NO PERÍODO DE 01 A 31 DE AGOSTO DE 2011

GRÁFICO 4 – RAÇAS DE CANINOS E FELINOS ENTRE OS 97 CASOS ACOMPANHADOS NO HAMV, SP, NO PERÍODO DE 01 A 31 DE AGOSTO DE 2011

22%

9%

5%

10%

6% 10%

7% 1%

4%

2% 1%

2%

21%

Cutâneas 22%

Genitourinárias 9%

Endócrinas 5%

Cardiovasculares 10%

Infecto-contagiosas 6%

Neoplásicas 10%

Digestórias 7%

Hepáticas 1%

Respiratórias 4%

Imunomediadas 2%

Oculares 1%

Ortopédicas 2%

Outras 21%

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27

43

33

18

3

0 10 20 30 40 50

Idosos (a partir de 9 anos)

Meia-idade (5 anos - 8 anos)

Jovens (a partir de 1 ano - 4 anos)

Filhotes (até 1 ano)

Idade

GRÁFICO 5 – IDADE DOS PACIENTES CANINOS E FELINOS ENTRE OS 97 CASOS ACOMPANHADOS NO HVAM NO PARÍODO DE 01 A 31 DE AGOSTO DE 2011

2.2 HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

2.2.1 Instalações e funcionamento

O Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná fica localizado na

Rua dos Funcionários, 1540, Bairro Juvevê, Curitiba - PR. Foi inaugurado em 1972,

projetado para atender pequenos animais, grandes animais e animais selvagens.

Possui atendimento especializado principalmente nas áreas de oftalmologia

veterinária, cardiologia, odontologia, oncologia, ultrassonografia, radiologia e animais

selvagens. Atende de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas. Possui

internamento, sendo que há escalas diárias de plantões distribuídas entre os

residentes. Nas quartas-feiras pela manhã há realização de exames

ecocardiográficos realizados pela residente de clínica médica de pequenos animais.

Page 28: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

28

FIGURA 4 – FACHADA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UFPR, CURITIBA, PR

É composto de sete consultórios, dentre eles cinco para atendimentos

gerais, um para atendimentos oftalmológicos e um para animais silvestres. Possui

também recepção, corredor de espera, laboratório de análises clínicas, laboratório

de anatomia patológica, sala de ultrassonografia, sala de preparação para a

ultrassonografia e ecocardiograma, sala de cardiologia, sala de radiologia,

internamento geral, internamento cirúrgico, internamento de felinos, internamento de

animais selvagens, sala de emergências, sala de procedimentos odontológicos,

farmácia, sala dos residentes, auditório e lavanderia. Além disso, o hospital ainda

conta com bloco cirúrgico e área de grandes animais.

Page 29: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

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FIGURA 5 – CONSULTÓRIO PARA ATENDIMENTOS GERAIS DO HVUFPR, CURITIBA, PR

As consultas são pré-agendadas, mas por vezes ocorrem encaixes em

casos de emergência. Assim que o paciente chega, uma ficha com seus dados e os

dados do seu responsável é cadastrada. Para realizar consulta com especialistas, é

necessário que anteriormente o paciente tenha passado pelo clínico geral.

O Hospital conta com vinte residentes, sendo dois para clínica médica de

pequenos animais, três para clínica cirúrgica de pequenos animais, dois para clínica

médica e cirúrgica de grandes animais, dois para clínica médica e cirúrgica de

animais selvagens, um para diagnóstico por imagem, três para anestesiologia

veterinária, dois para patologia clínica veterinária, um para patologia veterinária, um

para oftalmologia veterinária e um para odontologia veterinária. Possui também duas

veterinárias contratadas para atuar na clínica médica de pequenos animais, sendo

que uma permanece no período da manhã e outra no período da tarde. Além disso,

os professores também atuam em algumas consultas, dependendo da especialidade

solicitada ou da gravidade do caso.

Page 30: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

30

2.2.2 Atividades desenvolvidas

A primeira atividade no dia dirigida aos estagiários era tratar dos pacientes

internados. Se necessário, o estagiário deveria organizar as gaiolas de

internamento, administrar medicações, alimentar, aferir as funções vitais dos

pacientes e fazer as anotações nas respectivas fichas de internamento. As consultas

no HVUFPR eram semelhantes às desenvolvidas no HVAM. Cabia ao estagiário

iniciar as consultas, realizar anamnese detalhada e exame físico e em seguida

relatar o caso ao médico veterinário responsável, o qual dava continuidade à

consulta. O estagiário também auxiliava na colheita de material biológico, redigia as

requisições de exames complementares e fazia as prescrições, sempre

supervisionado por veterinário responsável.

Nas quartas-feiras pela manhã os estagiários também poderiam

acompanhar os exames ecocardiográficos, além de ajudar na contenção dos

pacientes. Nos outros dias da semana, também eram solicitados para auxiliar em

eletrocardiogramas.

Durante as emergências, os estagiários auxiliavam quando solicitados na

contenção do paciente, colheita de material biológico e oxigenoterapia. Em casos

menos críticos, os estagiários podiam realizar acesso venoso nos pacientes,

preparar os frascos de fluidoterapia e realizar administração de medicações.

Nas sextas-feiras pela manhã havia reuniões com discussão de casos

clínicos. Demais atividades envolviam ajudar na contenção de pacientes durante

radiografia e ultrassonografia, colheita de material biológico e preparação das

lâminas de citologia auricular ou cutânea, seguida de análise do material em

laboratório.

Page 31: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

31

2.2.3 Casuística

Durante o período de estágio foram acompanhados 92 casos, sendo que a

maior parte dos casos acompanhados estão relacionados com enfermidades do

sistema tegumentar, seguido de imunoprofilaxias e doenças cardiovasculares. Todos

os casos acompanhados estão listados na tabela a seguir, com base no diagnóstico

presuntivo ou definitivo. A proporção entre as espécies felina e canina, machos e

fêmeas, raças atendidas entre caninos e felinos, bem como a idade dos pacientes

atendidos estão listados nos gráficos abaixo.

TABELA 2 – CASUÍSTICA DE ACORDO COM OS 92 CASOS ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO – HVUFPR – 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE 2011

AFECÇÕES Nº DE CASOS

Cutâneas

DAPE

Demodiciose

Dermatite acral

Dermatite actínica

Dermatite atópica

Dermatofitose

Farmacodermia

Otite bacteriana

Otite fúngica

Otohematoma

3

1

1

1

8

1

1

2

1

1

Genitourinárias

Atonia cística

Doença renal crônica

DTUIF

Obstrução uretral

1

4

1

1

Page 32: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

32

Piometra 1

Endócrinas Hiperadrenocorticismo 4

Cardiovasculares

Cardiomiopatia dilatada

Cardiomiopatia hipertrófica

DMVM

1

1

7

Infecto-contagiosas

Erlichiose

FIV/FeLV

Giardíase

3

1

1

Neoplásicas

Linfoma*

Mastocitoma

Neoplasia hepática a esclarecer

Neoplasia mamária a esclarecer

Osteossarcoma

3

2

1

2

1

Digestórias

Colite a esclarecer

Dilatação gástrica

Doença periodontal

Gastrite a esclarecer

Gastroenterite hemorrágica

Hérnia inguinal

1

1

1

1

1

1

Hepáticas Lipidose 1

Pancreáticas Pancreatite 3

Respiratórias

Broncopneumonia

Colapso de traquéia

Rinotraqueíte

1

1

2

Imunomediadas Lúpus eritematoso 1

Page 33: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

33

38

54

0

10

20

30

40

50

60

Fêmeas Machos

Fêmeas

Machos

Pênfigo foliáceo 1

Oculares Ceratoconjuntivite seca 1

Ortopédicas DDIV

Ruptura de ligamento cruzado cranial

1

1

Outros

Ferimento cutâneo por acidente

automobilístico

Imunoprofilaxia

Miíase

2

16

1

TOTAL 92

* Incluídos nesse grupo o linfoma mediastinal, intestinal e multicêntrico.

GRÁFICO 6 – DISTRIBUIÇÃO ENTRE OS MACHOS E FÊMEAS DOS 92 CASOS ACOMPANHADOS NO HVUFPR NO PERÍODO DE 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE 2011

Page 34: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

34

73

19

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Cães Gatos

Cães

Gatos

GRÁFICO 7 – DISTRIBUIÇÃO ENTRE AS ESPÉCIES CANINA E FELINA DOS 92 CASOS ACOMPANHADOS NO HVUFPR NO PERÍODO DE 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE 2011

GRÁFICO 8 – DISTRIBUIÇÃO POR AFECÇÕES DOS 92 CASOS ACOMPANHADOS NO HVUFPR, NO PERÍODO DE 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE 2011

22%

9%

5%

10%

6% 10%

7% 1%

4%

2% 1%

2%

21%

Cutâneas 22%

Genitourinárias 9%

Endócrinas 5%

Cardiovasculares 10%

Infecto-contagiosas 6%

Neoplásicas 10%

Digestórias 7%

Hepáticas 1%

Respiratórias 4%

Imunomediadas 2%

Oculares 1%

Ortopédicas 2%

Outras 21%

Page 35: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

35

1 1 2 1 1 1

5 2 1 1 1 1

4 1 1 2

5

1

15

1 3

1 1

34

1 1 3

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Aki

ta

Bas

set

ho

un

d

Bea

gle

Bu

ll Te

rrie

r

Ch

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Ch

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Co

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da

Bir

mân

ia

Siam

ês

SRD

Wei

mar

aner

Wes

t H

igh

lan

d

York

shir

e

39

27

20

6

0 10 20 30 40 50

Idosos (a partir de 9 anos)

Meia-idade (5 anos - 8 anos)

Jovens (a partir de 1 ano - 4 anos)

Filhotes (até 1 ano)

Idade

Idosos (a partir de 9 anos)

Meia-idade (5 anos - 8 anos)

Jovens (a partir de 1 ano - 4 anos)

Filhotes (até 1 ano)

GRÁFICO 9 – RAÇAS DE CANINOS E FELINOS ENTRE OS 92 CASOS ACOMPANHADOS NO HVUFPR, NO PERÍODO DE 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE 2011

GRÁFICO 10 – IDADE DOS PACIENTES CANINOS E FELINOS ENTRE OS 92 CASOS ACOMPANHADOS NO HVUFPR NO PARÍODO DE 04 DE OUTUBRO A 04 DE NOVEMBRO DE 2011

Page 36: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

36

3. HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES E GATOS - REVISÃO

HYPOADRENOCORTICISM IN DOGS AND CATS - REVIEW

HIPOADRENOCORTICISMO EN PERROS Y GATOS - REVISIÓN

Resumo: O hipoadrenocorticismo é uma endocrinopatia incomum em cães e rara em gatos, pouco comum na prática clínica. Porém, sua ocorrência diagnóstica tem aumentado ao longo dos anos. Possui duas formas clínicas, sendo uma por insuficiência adrenocortical primária, também chamada de doença de Addison, e a outra secundária. Sua etiologia ainda é pouco conhecida. Acredita-se em fatores imunomediados que resultam em destruição da glândula adrenal. O teste de eleição para confirmação diagnóstica é o de estimulação pelo ACTH. Seu tratamento consiste na administração de glicocorticóides e mineralocorticóides exógenos no caso de insuficiência adrenocortical primária e na administração de glicocorticóides na insuficiência adrenocortical secundária. O objetivo deste trabalho foi revisar o hipoadrenocorticismo em cães e gatos por ser uma doença em ascensão. Unitermos: Cães, Gatos, Endocrinologia, Doença de Addison, Insuficiência

adrenocortical Abstract: The hypoadrenocorticism is an uncommon endocrinopathy in dogs and rare in cats, uncommon in the clinical practice too. However the diagnosis occurrence has increased over the years. It has two clinical forms, one of them is caused by primary adrenocortical insufficiency, or Addison‟s disease, and the other is caused by secondary insufficiency. The etiology is low recognized. Factors that result in immune-mediated destruction of the adrenal gland are believed. The test of choice to diagnostic confirmation is the ACTH stimulation. The treatment consists of exogenous glucocorticoids and mineralocorticoids administration in the case of primary adrenocortical insufficiency and administration of glucocorticoids only in the secondary adrenocortical insufficiency. The goal of this paper was to review hypoadrenocorticism in dogs and cats because it‟s a disease in ascension. Keywords: Dogs, Cats, Endocrinology, Addison‟s Disease, Adrenocortical

insufficiency Resumen: El hipoadrenocorticismo es una endocrinopatía poco común en perros y en gatos es raro. Pero, su ocurrencia diagnóstica se ha incrementado en los últimos años. Tiene dos formas clínicas, siendo la insuficiencia suprarrenal primaria, o enfermedad de Addison, y la secundaria. Su etiología es aún desconocida. Se cree que factores inmunomediados son la causa de la destrucción de la glándula suprarrenal. La prueba de elección para la confirmación del diagnóstico es la estimulación de ACTH. Su tratamiento es la administración de glucocorticoides y mineralocorticoides exógenos en el caso de insuficiencia suprarrenal primaria y la administración de glucocorticoides en la insuficiencia suprarrenal secundaria. El objetivo de este trabajo fue revisar el hipoadrenocorticismo en perros y gatos porque es una enfermedad en ascensión. Palabras clave: Perros, Gatos, Endocrinología, Enfermedad de Addison,

Insuficiencia suprarrenal

Page 37: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

37

3.1 Introdução

O hipoadrenocorticismo é uma endocrinopatia resultante da falha de

secreção de corticosteróides pelas glândulas adrenais em função de insuficiência

adrenocortical primária (doença típica, também chamada de Doença de Addison) ou

secundária (doença atípica)1. Para que os sinais clínicos sejam manifestados, é

necessário que pelo menos 85-90% dos córtices das glândulas adrenais estejam

destruídas bilateralmente1,2. No entanto, os sinais também podem se manifestar em

cães na fase inicial da doença em situações de estresse, por ativação do sistema

hipófise-adrenal3. É uma doença incomum em cães e rara em gatos1,4 cujos sinais

clínicos não são patognomônicos e incluem, na maioria dos casos, perda de apetite

e anorexia, letargia e sinais gastrointestinais intermitentes, como emese e diarréia5-7.

As glândulas adrenais são órgãos endócrinos localizados no tecido

retroperitoneal ao longo dos pólos craniais dos rins8. A superfície ventral das

glândulas mostra sulcos, que são ocasionados pelo tronco comum da veia

abdominal cranial com a veia frênica caudal. Possuem grande vascularização,

mediada pelas artérias das adrenais, que recebem ramos da aorta abdominal e das

artérias renal, abdominal cranial e frênica caudal. Dela emergem capilares que

penetram na medula, onde o fluxo sanguíneo é controlado através de constrições

venosas. As veias dirigem-se para uma veia central, que leva o sangue venoso

contendo hormônios até a veia cava caudal9.

Cada glândula é dividida em duas áreas separadas, o córtex e a medula,

que produzem diferentes tipos de hormônios. Ambas possuem origem embriológica

distinta, sendo que a medula surgiu do neuroectoderma e produz catecolaminas

como a noradrenalina e adrenalina, e o córtex surgiu do epitélio celômico

Page 38: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

38

mesodérmico e produz hormônios esteróides, como cortisol, corticosterona,

aldosterona e esteróides sexuais10.

O córtex da adrenal é composto por três zonas: glomerular, fasciculada e

reticular. A zona glomerular é a camada externa da glândula adrenal, a única capaz

de secretar aldosterona e outros mineralocorticóides em função da enzima

aldosterona sintase. Ambas as zonas fasciculada e reticular sintetizam andrógenos e

cortisol1, e ficam localizadas na camada central e interna das glândulas adrenais,

respectivamente (FIGURA 6)10.

FIGURA 6 – REGIÕES DA ADRENAL E SEUS RESPECTIVOS PRODUTOS.

O cortisol é um glicocorticóide cuja síntese e secreção pelas glândulas

adrenais são reguladas pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Os neurônios

secretores do hormônio liberador de corticotropina (CRH) no hipotálamo possuem

axônios que terminam na adenohipófise. O CRH estimula a secreção do hormônio

adrenocorticotrófico (ACTH), que por sua vez é liberado no sangue e se liga aos

receptores do córtex da adrenal, estimulando a síntese e secreção de cortisol.

Quando o cortisol plasmático aumenta, há inibição da liberação do CRH e do ACTH

pelo hipotálamo e hipófise por feedback negativo de alça longa e curta (FIGURA 7).

O aumento da concentração de ACTH também inibe a liberação de CRH pelo

Page 39: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

39

hipotálamo. Fatores que podem estimular a liberação de CRH incluem hipoglicemia,

estresse e exercícios físicos1.

A regulação de secreção de mineralocorticóides é controlada pelos próprios

rins, por meio da enzima renina, produzida por células do aparelho justaglomerular

renal, que responde em casos de baixa de pressão arterial. Ela, por sua vez, atua no

angiotensinogênio, uma globulina α2 produzida pelo fígado e presente na circulação,

o que resulta na produção de angiotensina I. A angiotensina I então é hidrolizada em

angiotensina II pela enzima conversora de angiotensina. A angiotensina II estimula a

zona glomerulosa a produzir mineralocorticóides, além de aumentar a resistência

periférica do sistema vascular arterial, ocasionando vasoconstrição do músculo liso

dos vasos sanguíneos10.

FIGURA 7 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DO EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-ADRENAL DESCREVENDO A REGULAÇÃO DO FEEDBACK NEGATIVO (-) DO CORTISOL

Page 40: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

40

Os mineralocorticóides aumentam a absorção de sódio e excreção de

potássio nos rins, glândulas sudoríparas, células epiteliais intestinais e glândulas

salivares11. A aldosterona é fundamental para conservar o sal do corpo, além de

também causar secreção de íons hidrogênio em troca de sódio nas células dos

túbulos corticais. Assim, a deficiência de aldosterona pode causar acidose

metabólica leve1.

Os glicocorticóides tem uma variedade de efeitos que os tornam importantes

para a homeostase normal. Eles estimulam a gliconeogênese e glicogênese

hepática e aumentam o catabolismo de proteína e gordura. Além disso, possuem

ação em muitas reações metabólicas como a lipólise e calorigênese, sendo

importantes também na manutenção da reatividade vascular às catecolaminas. Os

glicocorticóides ainda são importantes na manutenção da pressão sanguínea e

diminuição dos efeitos do estresse1.

3.2 Patogênese

As causas do hipoadrenocorticismo ainda não estão totalmente elucidadas.

A maioria dos cães que possuem hipoadrenocorticismo espontâneo tem sua doença

classificada como idiopática, por não haver uma causa subjacente1, 12,13. Em virtude

da adrenalite que já foi descrita em cães com hipoadrenocorticismo primário

espontâneo e pelos anticorpos antiadrenais já relatados em outros dois cães1,

acredita-se que a causa imunomediada seja a etiologia mais provável em caninos e

felinos com hipoadrenocorticismo primário1,4,14. A destruição da glândula adrenal

também pode ocorrer concomitantemente com outras desordens endócrinas

imunomediadas, como hipotireoidismo, hipoparatireoidismo e Diabetes mellitus15.

Outras causas menos comuns de hipoadrenocorticismo primário incluem destruição

Page 41: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

41

granulomatosa, ocasionada por blastomicose ou histoplasmose, infarto hemorrágico

da glândula adrenal, amiloidose, neoplasia metastática e necrose. Embora a

glândula adrenal seja um local comum de metástase, somente o linfoma foi relatado

como causador de falência de glândulas adrenais em cães e gatos13.

A ocorrência natural de hipoadrenocorticismo secundário pode ser causada

por deficiência de ACTH idiopática ou por lesões destrutivas no hipotálamo ou na

hipófise devido à neoplasia, trauma ou inflamação. A hipofisectomia para tratamento

de hiperadrenocorticismo pituitário-dependente geralmente resulta em

hipoadrenocorticismo secundário permanente1.

O hipoadrenocorticismo pode ser gerado também iatrogenicamente. Drogas

como o mitotano, trilostano e cetoconazol podem gerar falência adrenal primária.

Supressão adrenal causada pelo trilostano ou cetoconazol são normalmente

reversíveis, mas falência adrenal causada pelo mitotano é frequentemente

permanente. Administração de fármacos glicocorticóides (tópicas, orais ou injetáveis)

pode causar falência adrenal secundária por meio de supressão da produção de

ACTH na hipófise, o que resulta em atrofia das adrenais. A supressão varia de

acordo com a potência e meia-vida do glicocorticóide1,13.

A predisposição genética à doença é um fator que deve ser levado em

consideração. Estudos cães da raça Cão d‟água Português forneceram evidências

de que a Doença de Addison é um distúrbio hereditário nessa raça, determinado

através de um locus autossômico recessivo16.

Em felinos, não há relatos de ocorrência natural de hipoadrenocorticismo

secundário, porém, foram descritos casos de hipoadrenocorticismo secundário

iatrogênico após administração de glicocorticóides ou progestágenos4.

Page 42: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

42

3.3 Manifestações clínicas e diagnóstico

A doença é mais comumente encontrada em fêmeas, sendo

aproximadamente 70% dos casos5,17. Acomete principalmente cães jovens e de

meia idade, com idade média entre quatro e cinco anos. Porém, há variação de um

mês até dezesseis anos5,6. Algumas raças predispostas são Great Dane, Rottweiler,

Cão d‟água Português, Poodle Standard, West Highland High Terrier, Wheaton

Terrier, Nova Scotia Duck Tolling Retrievers e Bearded Collies3,6. Em felinos não há

predileção sexual ou racial para a doença e a maioria dos acometidos são gatos

domésticos jovens a adultos18.

Os cães com doença típica possuem histórico agudo ou crônico. A forma

aguda tem início repentino de depressão mental, fraqueza muscular, emese,

eventualmente síncope19 ou até mesmo oligúria e choque hipovolêmico6,19. Os

efeitos cardiovasculares são ocasionados por diminuição do volume intravascular e

consequente diminuição do débito cardíaco associado à baixa frequência cardíaca14.

Ao exame físico, os achados podem incluir pulso fraco, bradicardia e desidratação5,6.

A forma crônica possui sinais mais brandos, como letargia periódica,

diminuição do apetite, perda de peso e ocasionalmente episódios e sinais

gastrointestinais. No exame físico encontra-se escore corporal baixo e mucosas

pálidas. O cão com doença atípica apresenta os mesmos sinais do paciente com

doença crônica, além de poder haver diarréia, fraqueza, tremores, poliúria,

polidipsia, dor abdominal, melena e hematemese1,5,7. Em felinos, os sinais clínicos

são semelhantes, porém não há ocorrência de diarréia4.

Os achados laboratoriais da doença primária podem incluir hipercalemia,

hiponatremia e hipocloremia. A relação sódio:potássio, que normalmente varia de

27:1 a 40:1 encontra-se reduzida2,5. Nos pacientes acometidos, as concentrações de

Page 43: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

43

sódio sérico variam de normais a menores que 105 mEq/L2 e as concentrações de

potássio variam de normais a menores que 10 mEq/L2 nos cães e 5,7 a 7,6 mEq/L

nos gatos. O valor de referência de sódio em cães é de 141 a 153,2 mEq/L e o de

potássio 3,9 a 5,65 mEq/L. Em gatos, o valor normal de sódio é de 145 a 157 mEq/L

e o de potássio é de 3,8 a 4,51 mEq/L20.

Além dessas anormalidades eletrolíticas, outros achados frequentemente

observados são acidose metabólica, anemia normocítica normocrômica,

hipoalbuminemia, hipocolesterolemia, hipoglicemia, aumento de enzimas hepáticas

e azotemia em consequência da má perfusão renal1,6,7, gerando aumento

compensatório na densidade urinária >1.030. A doença atípica não apresenta

desbalanços eletrolíticos7.

Infecções por Trichuris vulpis são relatadas como causa de uma pseudo

doença de Addison, em virtude desse parasita causar desbalanços eletrolíticos

semelhantes ao da doença, como hipercalemia e hiponatremia, além de sinais

clínicos que envolvem emese, diarréia, perda de peso e fraqueza21.

Em pacientes com sinais de regurgitação recorrente, deve-se investigar

megaesôfago, uma vez que o hipoadrenocorticismo é apontado como uma das

causas primárias desta doença22. Acredita-se que a ligação entre as duas esteja na

debilidade muscular em virtude da deficiência de glicocorticóides1,23.

Os exames de imagem podem auxiliar o diagnóstico. A maioria dos cães

com hipoadrenocorticismo apresenta uma ou mais anormalidades radiográficas, tais

como: microcardia, hipoperfusão da artéria do lobo pulmonar cranial e hipoperfusão

da veia cava caudal. Estes sinais são associados à baixa volemia e aparecem em

um terço à metade dos cães acometidos pela doença1,6. No exame ultrassonográfico

Page 44: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

44

é possível visualizar atrofia bilateral das glândulas adrenais, com estas medindo

menos que 3 mm e diminuição do fígado24.

O eletrocardiograma é uma ferramenta útil para a detecção de várias

anormalidades de condução que são associadas com a hipercalemia14. Em uma

situação de hipercalemia leve (> 5,5 mEq/L) há um pico da onda T. Quando o

potássio aumenta mais (> 6,5 mEq/L) há ampliação do complexo QRS, diminuição

da sua amplitude, aumento da duração da onda P e aumento do intervalo P-R. Se a

concentração de potássio aumentar acima de 8 a 8,5 mEq/L, haverá uma completa

perda das ondas P e fibrilação atrial ou assístole1.

A mensuração da concentração do cortisol basal e as proporções urinárias

cortisol/creatinina são utilizados, mas não são confiáveis para estabelecer o

diagnóstico de hipoadrenocorticismo2.

Para confirmação diagnóstica, o teste realizado é o de estimulação com o

ACTH. Sendo o histórico, exame físico, achados laboratoriais e o eletrocardiograma

bastante sugestivos de hipoadrenocorticismo, esse teste deve ser realizado.

Primeiramente, uma colheita de sangue deve ser realizada, a fim de avaliar o

hemograma, bioquímica sérica (potássio, sódio, cloro, cálcio, fosfato, glicose,

albumina, colesterol, uréia, creatinina, ALT e FA) e determinações basais de cortisol.

Após, deve-se iniciar fluidoterapia intravenosa e administrar 0,25 mg de α 1-24

cosyntropin (ACTH sintético) por via intramuscular ou intravenosa em cães e 0,125

mg em gatos, pelas mesmas vias. Após 45-60 minutos deve-se realizar uma nova

colheita de sangue para determinação de cortisol plasmático1,25. A concentração

plasmática de cortisol após estimulação pelo ACTH < 2 μg/dL confirmam

insuficiência adrenal. Valores > 5 μg/dL são normais e entre 2 e 5 μg/dL são

inconcludentes2.

Page 45: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

45

O teste de concentração de ACTH endógeno é utilizado em pacientes que

possuem mensuração normal de eletrólitos, para distinguir o hipoadrenocorticismo

primário do secundário. Concentrações de ACTH acima dos valores de referência,

que variam de 2,2 a 20 pmol/L, confirmam o diagnóstico de hipoadrenocorticismo

primário, enquanto que concentrações abaixo da referência caracterizam

hipoadrenocorticismo secundário1,4. Outro teste para diferenciação da insuficiência

adrenal primária e secundária é o da aldosterona plasmática. As concentrações de

aldosterona normais indicam hipoadrenocorticismo secundário enquanto que as

concentrações abaixo do normal indicam primário4. A relação renina-aldosterona e

cortisol-ACTH também é outro teste que pode ser utilizado para auxílio diagnóstico.

Em pacientes com hipoadrenocorticismo primário, as concentrações de ACTH

estarão aumentadas em resposta à hipocortisolemia e a atividade da renina

plasmática deve ser maior em situações de hipoaldosteronismo. Este é um teste que

pode potencialmente ser usado no lugar do teste de estimulação de ACTH1.

3.4 Tratamento e prognóstico

Nos pacientes em crise addisoniana, ou seja, que possuem deficiência de

mineralocorticóides e glicocorticóides, o tratamento inicial é direcionado ao controle

da hipovolemia, hipotensão, desequilíbrio eletrolítico e acidose metabólica1,2. A

primeira e mais importante prioridade terapêutica é corrigir a hipovolemia por meio

de fluidoterapia com solução salina fisiológica, que também ajuda na correção da

hiponatremia e hipocloremia. Em consequência, há redução da hipercalemia pela

melhora da perfusão renal. Se houver hipoglicemia, ela deve ser corrigida

adicionando-se dextrose a 50% ao fluido intravenoso, produzindo assim dextrose a

5%. Para evitar flebite, uma veia central deve ser acessada2.

Page 46: Hipoadrenocorticismo em-caes-e-gatos-revisao

46

O tratamento com glicocorticóides e mineralocorticóides também é indicado

na fase inicial da crise addisoniana. Um glicocorticóide de rápida ação e

hidrossolúvel, como por exemplo o hemissuccinato de hidrocortisona ou fostato de

hidrocortisona, 2 a 4 mg/kg intravenoso, deve ser utilizado. Em seguida, deve-se

iniciar o tratamento com suplementos mineralocorticóides, sendo que os atualmente

disponíveis são o pivalato de desoxicorticosterona e o acetato de fludrocortisona. A

dose é de 2,2 mg/kg intramuscular a cada vinte e cinco dias inicialmente2,6.

O tratamento de manutenção do hipoadrenocorticismo primário só deve ser

iniciado quando o cão ou gato apresentar condição estável em resposta à

medicação parenteral. A suplementação mineralocorticóide de eleição é o pivalato

de desoxicorticosterona (DOCP), pois libera o hormônio lentamente na proporção de

1 mg/dia/25 mg de suspensão. A dose inicial é de 2,2 mg/kg por via subcutânea ou

intramuscular1. Os ajustes da medicação são feitos com base nas concentrações

séricas de eletrólitos que são mensurados 12 e 25 dias após as três doses iniciais2.

O acetato de fludrocortisona é outro mineralocorticóide bastante utilizado.

Sua dose inicial é de 0,02 mg/kg/dia, por via oral. A dose deve ser aumentada

durante os seis a dezoito meses de tratamento, até atingir a estabilidade. Pode

haver ineficácia da medicação, que deve ser avaliada pela de mensuração de sódio

e potássio1,2.

A suplementação com glicocorticóides também deve ser realizada. A

prednisona deve ser administrada na dose inicial de 0,22 mg/kg a cada doze horas.

Nos dois meses seguintes, a dose de prednisona deve ser gradualmente reduzida

para a menor quantidade possível6.

O tratamento da insuficiência adrenal secundária consiste no uso de

glicocorticóides conforme a maneira descrita anteriormente. Em caso de insuficiência

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adrenal secundária ocasionada pela administração excessiva de glicocorticóides ou

acetato de megestrol, deve-se reduzir a dose das medicações até interrupção do

uso. A mensuração de eletrólitos periodicamente é recomendada, uma vez que a

doença pode evoluir para uma insuficiência adrenal primária6.

Para animais com pseudo doença de Addison ocasionada pelo nematódeo

Trichuris vulpis, um antiparasitário deve ser administrado. A milbemicina oxima é

eficaz contra o parasito e deve ser utilizada na dose de 0,7 mg/kg, via oral, dose

única21.

No geral, o prognóstico para cães e gatos com hipoarenocorticismo

controlado é bom. O tempo médio de sobrevida em cães é de aproximadamente

cinco anos, que não são afetados de acordo com o tipo de mineralocorticóide

administrado, a causa, idade, sexo ou raça do paciente4,6.

3.5 Considerações finais

O hipoadrenocorticismo é uma doença pouco comum na rotina clínica, mas

que merece atenção uma vez que está sendo melhor diagnosticada atualmente, em

virtude do fácil acesso aos testes por todos os profissionais.

A falta de tratamento adequado ao paciente com a doença de Addison pode

levá-lo à morte em virtude de choque hipovolêmico. Por isso, é preciso que os

clínicos estejam cientes dos sinais clínicos, por mais inespecíficos que eles sejam, e

saibam diagnosticar e tratar o paciente devidamente.

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48

4. CONCLUSÃO

O estágio curricular obrigatório permite que o aluno possa ampliar

conhecimentos, avaliando outras maneiras de atuação no meio profissional, que não

as da própria instituição de ensino à que pertence. Da mesma maneira, o trabalho

de conclusão de curso permite maior aprofundamento na área científica,

possibilitando assim maior experiência e crescimento profissional.

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