Hiperatividade Leitura Do Aluno Tdah - Sugestões
-
Upload
jailton-lima -
Category
Documents
-
view
41 -
download
0
Transcript of Hiperatividade Leitura Do Aluno Tdah - Sugestões
FACULDADE SETE DE SETEMBRO – FASETE
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS
HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA / LÍNGUA INGLESA
Hiperatividade: o processo da leitura do aluno portador de TDAH.
Sugestões para sala de aula.
PAULO AFONSO-BA NOVEMBRO / 2009.2
CÁSSIA TEIXEIRA DA SILVA
Hiperatividade: o processo da leitura do aluno portador de TDAH. Sugestões para sala de aula.
Monografia apresentada ao curso de Licenciatura Plena em Letras, com Habilitação em Português e Inglês, da Faculdade Sete de Setembro – FASETE, como requisito para avaliação conclusiva. Sob a orientação da Profª. Esp. Rita Rejane Soares Melo.
PAULO AFONSO-BA NOVEMBRO / 2009.2
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois sem Ele, nada seria possível e não
estaríamos aqui reunidos, desfrutando, juntos, destes momentos que nos são tão
importantes.
Aos meus pais Manoel Soares e Edileuza Teixeira; pelo esforço, dedicação e
compreensão, em todos os momentos desta e de outras caminhadas.
Em especial, a minha tia Maria Lúcia que me apoiou e que me deu força por mais
uma conquista alcançada.
E às minhas irmãs e irmão por terem me acolhido durante todo o curso,
compartilharam comigo os momentos de tristezas e também de alegrias, nesta
etapa, em que, com a graça de Deus, está sendo vencida.
AGRADECIMENTO
A Deus por ter nos dado o dom da vida e pela oportunidade de fazermos este
curso de Graduação, pois sem a ajuda Dele nada conquistaríamos.
A todos aqueles que nos apoiaram e deram força para lutarmos por mais essa
conquista principalmente os nossos familiares, professores e amigos que nos
acompanharam de maneira crítica e amigável não medindo esforços e dedicação
para transformar nosso ideal em realidade.
Agradeço também aos colegas de turma: Ailza Cristina, Cristiane Lourenço, José
Cláudio e Nadson Miranda que sempre estiveram comigo na batalha da
concretização dessa graduação.
Meus agradecimentos, enfim, a todos que contribuíram para a realização desse
sonho alcançado.
A História de Philip das Mãozinhas sem Paz
“ Deixem-me ver se Philip é capaz De ser um bom rapaz
Deixem-me ver se ele vai saber Sentar-se quieto na hora de comer.”
Assim papai mandou Phil se comportar, E muito séria mamãe parecia estar Mas Phil das Mãozinhas sem Paz,
Não fica sentado quieto jamais Remexe-se, o corpo, as mãozinhas
E também dá risadinhas E então posso declarar
Para frente e para trás põe-se a balançar, Inclinando sua cadeira
Como se fosse um cavalinho de madeira “ Philip, não estou de brincadeira!”
Vejam como é levada, e não se cansa Cada vez mais selvagem essa criança
Até que a cadeira cai no chão Philip grita com toda a força do pulmão,
Segura-se na toalha, mas agora Agora mesmo é que a coisa piora.
No chão cai tudo, e como cai Copos, garfos, facas e tudo mais
Que caretas e choramingos mamãe fez Ao ver tudo aquilo cair de uma vez!
E papai fez uma cara tão feroz! Philip se encontra em maus lençóis...
(poema cômico publicado no jornal inglês Lancet, em 1904, apud Hallowell e Ratey, 1999).
RESUMO
O presente trabalho trata-se do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade
(TDAH) e tem como objetivo apresentar subsídios teóricos que possibilitem uma
atuação eficaz do professor, para tentar diminuir os efeitos negativos desse
transtorno. Assim, quanto mais conhecimentos, habilidades e atitudes sobre o TDAH
o docente tiver, mais possibilidades de promoção do progresso e do sucesso dos
alunos na sua aprendizagem. As crianças com TDAH merecem a paciência dos
professores e também criatividade para tratar com elas, pois elas não têm
consciência de seu transtorno e de seu comportamento incompatível com o padrão
normal.
Palavras-chave: TDAH, sintomas, comportamento e inclusão.
ABSTRACT
The present work it is the Disorder of Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD)
and aims to provide theoretical support to enable effective performance of the
teacher, to try to lessen the negative effects of this disorder. Thus, the knowledge,
skills and attitudes about ADHD, the teachers have more possibilities for promotion of
progress and success of students in their learning. Children with ADHD are worth the
patience of the teachers and also the creativity to deal with them because they are
unaware of their disorder and behavior inconsistent with the normal pattern.
Key words: ADHD, symptoms, behavior and inclusion.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................10 1. A HIPERATIVIDADE.........................................................................12 1.1 As Manifestações Comportamentais da Hiperatividade...................15 2. A HIPERATIVIDADE NO ASPECTO FAMILIAR...............................19 3. A ESCOLA INCLUSIVA PARA O HIPERATIVO...............................24 3.1 A Escola e a Criança Portadora de Hiperatividade..........................28 3.2 Professor X Aluno Hiperativo...........................................................33 3.3 Intervenções Escolares para o Pleno Aprendizado da Criança com
TDAH .....................................................................................................34 4. O SUCESSO ESCOLAR....................................................................42 4.1 O Processo da Leitura do Aluno com Hiperatividade.......................45 4.2 Atividades Indicadas para Trabalhar em Sala de Aula que Conduzem
ao Sucesso: tanto na leitura quanto na socialização com o grupo .......47 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................50
INTRODUÇÃO
Até o inicio dos anos 60, muitas crianças abandonavam as escolas por não
conseguirem cumprir uma etapa básica da vida escolar: aprender a ler e a escrever.
Assim, o insucesso na alfabetização reservara a elas um futuro pouco promissor e o
rótulo de “burras” e “preguiçosas”.
Atualmente, embora o quadro ainda persista em locais onde não há esclarecimento
a respeito do assunto, sabe-se que a criança que possui inteligência normal e
apesar disso não consegue aprender, não é “burra”, nem tão pouco “displicente”. Na
verdade, essa criança é portadora de Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), que é
classificado por três características básicas: desatenção, hiperatividade e/ou
impulsividade ou combinada. (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN 2000, p.12).
O Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH) foi escolhido para a
dissertação desse trabalho, por se tratar de um desvio comportamental encontrado
facilmente nas escolas. As crianças com esse transtorno vivenciam dificuldades de
aprendizado em tarefas escolares, principalmente na leitura de textos em produções
textuais. O desenvolvimento dos professores em diagnosticar estes problemas, às
vezes, acaba lhes proporcionando um sentimento de frustração, tanto quanto seus
alunos e pais. O sucesso escolar dessas crianças exige uma combinação de
intervenções médicas, cognitivas e de acompanhamento.
Um melhor entendimento ajuda a assentar a poeira e permite um esclarecimento
melhor na forma de lidar com as dificuldades especificas da criança, o que poderá
proporcionar um sucesso em classes normais.
No meu ambiente de trabalho ouço muito as opiniões de pais e professores sobre
crianças com diagnósticos de transtorno de atenção e hiperatividade e as
semelhanças são muitas. São crianças, impulsivas, ansiosas, irrequietas e mal
compreendidas. Tenho percebido que quando se trata de TDAH há pouca
informação e mínimas estratégias em lidar com essas crianças consideradas
“impossíveis”.
Frente a esse quadro que abrange a criança, o educador, ensino-aprendizagem e a
família, deu-se o ensejo a este estudo, tendo como objetivo aprofundar o
conhecimento sobre o TDAH através de pesquisa bibliográfica, para melhor entender
o comportamento em crianças portadoras da hiperatividade e quais as atividades
indicadas para serem trabalhadas em sala de aula.
Este estudo se inicia, portanto, com a manifestação da hiperatividade na criança e o
desenvolvimento do corpo docente diante dessas crianças portadoras do déficit de
atenção. Logo em seguida, discorre sobre a escola inclusiva e suas intervenções
para a plena aprendizagem da criança com TDAH.
A importância do trabalho multidisciplinar perante esse estudo, a contribuição da
ajuda familiar e o papel da escola e do educador em buscar estratégias e
intervenções para o crescimento, desenvolvimento e aprendizagem da criança com
o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, vem logo a seguir.
Assim o propósito do presente trabalho é avaliar o quanto é importante a escola e
todos os envolvidos com a criança com TDAH, buscar estratégias de remediação
para o seu pleno desenvolvimento e sucesso escolar.
1. A HIPERATIVIDADE O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um dos
transtornos mentais mais freqüentes nas crianças em idade escolar, atingindo 3 a
5% delas ( ANTUNES 2003, p.12). Contudo, o TDAH continua sendo um dos
transtornos menos conhecidos por profissionais da área da educação. Há ainda
muita desinformação. Segundo Antunes (2003, p. 20), é possível inferir-se que essa
referência para a população brasileira mostraria vítimas em nada menos que 5,5 a 8
milhões de crianças. Já se chegou a acreditar que ocorresse apenas no sexo
masculino, devido às meninas terem menos sintomas de hiperatividade -
impulsividade e mais de desatenção. Hoje se entende que a proporção é de três
meninos para uma menina. Não há exames que detectam o transtorno, o diagnóstico
é clínico. Visto que, todos nós podemos apresentar características como
impulsividade, distração ou se esquecer das coisas de vez em quando, mas no caso
de quem tem TDAH, essas características aparecem todas juntas, associadas, e em
uma intensidade e freqüência tal que comprometem a vida do paciente. Para
diferenciar o TDAH da distração ou impulsividade normais é necessário que os
sintomas estejam presentes por pelo menos seis meses e manifestem-se em pelo
menos duas situações diferentes (casa e escola, por exemplo). Se não for
diagnosticado e tratado, o transtorno pode trazer prejuízo à vida escolar, uma
adolescência conturbada e com maior risco de envolvimento com drogas e, no
futuro, problemas de ordem conjugal e profissional (BUSANI, 2006, p. 15).
Goldstein e Goldstein (1998, p. 23, 24), relatam que a hiperatividade se manifesta a
partir de quatro características de comportamento: desatenção e distração;
superexcitação e atividade excessiva; impulsividade; dificuldades com frustrações.
Coll, Palácios e Marchesi (1995, p. 162 - 3), explicam as características-chave do
distúrbio:
Déficit de atenção: para a maioria dos autores a dificuldade de atenção é um dos
sintomas que define a hiperatividade, a qual foi denominada como “distúrbio por
déficit de atenção com hiperatividade” pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos
Distúrbios Mentais (DSM III, 1980) devido à elevado problemas de atenção com
crianças que sofrem deste distúrbio. Os problemas de atenção proporcionam um
valor primário a este sintoma, frente a outros antes relacionados, como a atividade
motora excessiva, que pode caracterizar o distúrbio inicialmente, mas desaparece
com o passar do tempo.
Atividade motora excessiva: é manifestada através de atividade corporal
excessiva e desorganizada, sem um objetivo concreto, sendo esta falta de finalidade
a característica que permite diferenciá-la em certas atividades observadas no
desenvolvimento normal da criança.
Impulsividade ou falta de controle: o comportamento de toda criança é controlado
pelos adultos através da imposição de regras que acabam sendo internalizadas no
decorrer de seu desenvolvimento. Mas na criança hiperativa este processo encontra-
se alterada sendo a impulsividade um dos aspectos relevantes do distúrbio dando
uma satisfação rápida em seus desejos e pouca frustração. O autor complementa
que estas manifestações comportamentais na criança hiperativa variam com a idade
ou com seu desenvolvimento (IBID., p. 163).
Topczewski (1999, p. 41) define a hiperatividade como uma expressão de disfunção
orgânica, porque diversas áreas do cérebro estão envolvidas na determinação do
quadro. O autor explica que se considera haver desequilibro bioquímico cerebral
provocado pela produção e reaproveitamento inadequados dos neurotransmissores
(dopamina, adrenalina, serotonina) em certas regiões do cérebro responsáveis pelo
nível de atenção, controle das emoções, controle motor e estado de vigília. Essas
alterações bioquímicas modificam o comportamento neurofisiológico, pois interferem
nos mecanismos do sono e vigília, favorecem o aparecimento do comportamento
agressivo, impulsivo, depressivo e os distúrbios da atenção (IBID., p. 42, 43).
A causa determinante das alterações bioquímicas cerebrais é uma questão bastante
estudada e discutida, porém carece, ainda, de consenso. Vários autores acreditam
que certas anormalidades, sejam no período gestacional ou por ocasião do parto,
podem ser os supostos facilitadores para o desenvolvimento do quadro hiperativo,
como Topczewski (1999, p. 43) relata:
- Durante a gestação (hemorragias, eclâmpsia, toxemia, uso de álcool, nicotina e drogas ilícitas); - As contrações uterinas prolongadas, precedendo o parto; - Os partos laboriosos; - O estresse fetal; - Baixo peso ao nascer.
Topczewski acrescenta também, que às vezes, pequenos sofrimentos fetais,
aparentemente inocentes e pouco valorizados, provocam alterações no tecido
cerebral e podem causar importantes repercussões funcionais no sistema nervoso
que, no futuro, poderão ser os fatores determinantes das disfunções cerebrais.
Conforme Manning, (1999, p. 14, 15), a criança que vai sendo gerada dentro da mãe
está bem protegida pela bolsa amniótica, mas não a ponto de se livrar de qualquer
risco. Há fatores externos que podem atravessar a placenta ameaçando o bem-estar
do feto. Certas circunstâncias que a mãe vivencie podem influenciar no
desenvolvimento fetal. A hereditariedade e o ambiente são os dois fatores
importantes para o desenvolvimento da criança e, as eventuais influências negativas
desse ambiente podem atingir a criança. Muitos defeitos de nascença são causados
pela própria mãe na gravidez, alguns são: doenças maternas (rubéola, sífilis,
diabetes...); estresse; drogas usadas pela mãe, (medicamentos, álcool, fumo,
cocaína...); ou mesmo alimentação inadequada durante a gravidez. Alguns trabalhos
na literatura médica sugerem possíveis determinantes genéticos. Por exemplo, foi
observado que gêmeos monozigóticos mostraram maior incidência de TDAH que os
dizigóticos. (...). Safer realizou um estudo interessante, em 1989, observando maior
incidência de hiperatividade entre irmãos completos que em meios irmãos. (...)
Essas observações permitem inferir que mesmo havendo a possibilidade de
participação de um fator genético, é muito provável que outros fatores familiares e
ambientais intervenham na determinação do TDAH citado por Cypel, ( 2003, p. 29,
30).
Outros trabalhos publicados sugerem a existência de fatores genéticos
determinantes da hiperatividade (TOPCZEWSKI, 1999, p. 41):
- Existência de casos semelhantes nos parentes próximos, como pais, avós, tios; - Maior freqüência nos gêmeos idênticos (monozogóticos) que nos não idênticos (dizigóticos); - Prevalência maior entre os parentes biológicos que entre os parentes adotivos; - A manifestação é mais freqüente no sexo masculino; - Estudos moleculares iniciais com o DNA sugerem a existência de alterações bioquímicas na determinação da hiperatividade.
Percebe-se que há várias definições para o termo hiperatividade, uma vez, que esse
distúrbio se manifesta de várias formas. Por conta disso, estudos ainda estão sendo
realizados a fim de melhor diagnosticar este distúrbio.
1.1 AS MANIFESTAÇÕES COMPORTAMENTAIS DA HIPERATIVIDADE Muitas são as formas de manifestações da hiperatividade. Uma delas é a criança
que demora demais para realizar as tarefas escolares. Parece ser este o indicador
mais evidente para se detectar a acentuação da hiperatividade. Na opinião de
Topczewski (1999, p. 24, 25), as manifestações evidenciam-se, de modo isolado ou
associado, as seguintes características: crianças que se mantém em constante
movimento; mexem em tudo, sem motivo e sem propósito definidos; dificuldade de
se envolverem em brincadeiras; são muito impacientes e mudam de atividade com
muita freqüência; levantam-se da cadeira, quando em sala de aula, em momentos
inapropriados; não conseguem permanecer sentados para assistir a um programa de
TV, como um desenho animado; mal ficam sentadas à mesa durante a refeição;
apresentam incapacidade para focar a atenção em qualquer atividade durante um
período de tempo necessário para tal. Há certa tendência para desviar a sua
atenção para outros estímulos que são impróprios para aquele determinado
momento; fala demasiadamente; distraem-se com muita facilidade e
freqüentemente, não conseguem terminar as tarefas propostas para o período de
pré-estabelecimento.
Conforme Antunes (2003, p. 57 - 61), existe na criança um grande desejo de lazer
após suas atividades escolares habituais. Quando chega da escola ela quer fazer
algo diferente além de estudar, como por exemplo: assistir televisão, brincar, jogar
videogame e etc., cabe aos pais saber administrar esse tempo da criança. A criança
hiperativa, conforme já visto não tem paciência e falta concentração, então os pais
devem adaptar a realidade de seu filho hiperativo planejando horas de estudo mais
curtas que dos alunos ditos “comuns”. Outras dicas que o autor dá, é de estabelecer
um horário para as lições de casa fazendo com que essa seja cumprida e identificar
se a criança está compreendendo com clareza o que é para ser feito e, se for
preciso, mudar o método de trabalho caso não apareça resultados, mas sempre com
muita paciência, evitando demonstrar cansaço ou irritabilidade. Há também outras
manifestações, como a baixa capacidade de manter a atenção, que é também
chamado de distúrbio do déficit de atenção (DDA).
Segundo Topczewski (1999, p. 47), os pacientes portadores do DDA apresentam
algumas manifestações que devem ser consideradas: dificuldade para manter a
atenção nas atividades; cometem erros que não se justificam por falta de atenção;
qualquer estímulo desvia atenção das tarefas em execução devido à falta de
concentração; esquecem de fazer os deveres do dia a dia; abandonam os trabalhos
antes de findar, pois têm dificuldade em persistirem na mesma tarefa por muito
tempo; perdem objetos pessoais, e material escolar por esquecerem com grande
freqüência; parece não prestarem atenção quando se lhes estão falando; evitam ou
desistem de atividades que exijam esforço mental prolongado; são desorganizados
nas várias atividades diárias; têm dificuldades para seguir as instruções até o fim;
esquecem com facilidade as solicitações que lhes são feitas.
Pode-se notar que esses pacientes apresentam dificuldades importantes
relacionadas à organização, planejamento, desenvolvimento e execução das tarefas.
Sendo assim, Silva (2003, p. 54 - 6) também descreveu algumas dicas que podem
auxiliar no diagnóstico de uma criança DDA:
- Com freqüência mexe ou sacode pés e mãos, se remexe no assento, se levanta da carteira; - É facilmente distraída por estímulos externos; - Tem dificuldade de esperar sua vez em brincadeiras ou em situações de grupo; - Com freqüência dispara respostas para perguntas que ainda não foram completadas; - Tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou mesmo atividades lúdicas; - Freqüentemente muda de uma atividade inacabada para outra; - Tem dificuldade em brincar em silêncio ou tranqüilamente; - Às vezes fala excessivamente; - Vive perdendo itens necessários para tarefas ou atividades escolares.
Silva (2003, p. 53), afirma que o DDA tem três características próprias: distração,
impulsividade e hiperatividade.
Sendo estas três, um tanto comum na infância, é a intensidade destas principais
características que distingue o comportamento de uma criança dita “normal” do
comportamento da criança hiperativa.
Torna-se mais fácil descobrir o TDAH na escola, quando se compara o
comportamento das crianças, pois muitas delas são ativas, mas, na escola, se
comportam e participam de modo adequado. Numa sala de aula, a criança com
TDAH não consegue ficar quieta na carteira, mexe os pés, as mãos, balança, sai,
volta, sai novamente, corre, fala muito.
O TDAH afeta de 3 a 5% da população escolar infantil, comprometendo o
desempenho, dificultando as relações interpessoais e provocando baixa auto-estima.
As crianças com TDAH são freqüentemente acusadas de “não prestar atenção”, mas
na verdade elas prestam atenção em tudo. O que não são capazes de fazer é
planejar com antecedência, focalizar a atenção seletivamente e organizar respostas
rápidas. Não possuem limites e nem noção de perigo.
Conforme Borges (1997, p. 47), o comportamento, agitado da criança que antes era
tolerado pela a família passa a ser inconcebível quando ela inicia a escolarização,
por ser a escola o primeiro espaço estruturado e com regras de comportamento.
Pois, é na escola que mais se percebe o comportamento de uma criança hiperativa,
é ela que geralmente encaminha essas crianças aos consultórios médicos e
psicólogos, tentando enquadrá-las no esquema de ensino e aprendizagem, pois as
dificuldades da criança tende a se acentuar na escola.
Dessa forma, é aconselhável que os pais não se prendam demasiadamente ao
problema da hiperatividade da criança, faz-se necessário um descanso, ocupando-
se em outras atividades prazerosas a fim de amenizar o desgaste emocional que é
uma constante na vida familiar e, é importante que os pais busquem terapia para
adquirirem informação e apoio, diminuindo assim o sentimento de frustração e
isolamento que atinge à família.
2. A HIPERATIVIDADE NO ASPECTO FAMILIAR Os pais de crianças portadoras da hiperatividade travam uma batalha diária com as
dificuldades para lidar com o filho inquieto, mais desobediente do que a média e
sabem que a criança pode até ser marginalizada em seu círculo de amigos (COSTA;
KANAREK, 2006, p. 31).
É necessário enfatizar que o contexto familiar é de extrema importância nesses
casos. Evidentemente não se está atrás de encontrar culpados, mas é fundamental
que conheçamos como se deu ou está se dando a relação dessa criança com seus
pais e irmãos, para termos uma melhor compreensão do problema. Como foi
referido, é da composição dessa relação que em uma determinada criança da família
poderá estabelecer-se a alteração do comportamento. Entende-se, dessa forma, que
as alterações comportamentais da criança dependem de uma conjunção de fatores:
ambientais, familiares e da própria criança. Isto é, poderá observar-se uma família
na qual existam três irmãos e somente um deles estará apresentando quadro do tipo
TDAH. Este fato pode ser explicado quando na gestação desta criança a mãe
passou por um processo de ansiedade e insegurança. As angústias ficam
acentuadas se aconteceu alguma intercorrência pré-natal, desconforto respiratório
ou anéxia mais grave. Ou ainda, se o bebê nasceu prematuramente. A partir daí,
cria-se um ambiente doméstico tenso, talvez pela dificuldade de aferir as reais
necessidades do bebê, com cuidados excessivos. Um pouco mais crescido, já
engatinhando e andando pela casa, nada lhe pode ser negado; e, nesse ambiente, o
bebê cresce passando a “reinar” de modo absoluto. (...) E é incrível para quem está
de fora da situação observar como todos se curvam aos seus mandos (CYPEL,
2003, p. 35 - 6).
É comum defrontar-se com pais totalmente permissivos e incapazes de colocar
qualquer limite para os filhos, são excessivamente tolerantes e com isso, a criança
vai ampliando a exuberância das suas exigências. É importante deixar bem
destacado a constância desse fato: a não-colocação de limites pelos pais, ou por um
deles, tem sido uma verificação quase absoluta nesses casos. É bem comum
encontrar-se uma condição familiar, na qual, o pai trabalha, sai cedo de casa e
retorna somente à noite. E a mãe fica com as atividades domésticas e o cuidado dos
filhos, da roupa, das lições da escola e quase sempre do serviço de transporte ao
colégio, consultas médicas, esportes, etc. O pai é o profissional e a mãe é do lar.
Como a mãe não trabalha é sua responsabilidade o cuidado com a casa e com os filhos. Para as mães que trabalham esse contexto se modifica, mas nem tanto. Por uma condição cultural, ainda permanecem com elas os cuidados domésticos e familiares. Funcionando dessa maneira comumente o pai exime-se de qualquer participação na educação dos filhos (ibid., p. 37).
Por outro lado, o pai não tem consciência de sua importância no processo de
desenvolvimento do filho. Pensa que as dificuldades são na escola, pois lá é que
devem ser corrigidas. Sua presença e a participação são fundamentais para com a
mãe estabelecer limites, incentivar, motivar, valorizar e manter uma relação com o
filho que promova seu crescimento emocional. A falta desse vínculo estabelecido de
maneira sólida e harmônica favorece distorções no desenvolvimento da criança,
expondo-a a distúrbios afetivos, podendo gerar ansiedade, depressão e
comportamentos do tipo desatenção e/ ou hiperatividade (CYPEL, 2003, p. 38).
Cypel (ibid., p.39) ainda constata que na prática, em boa parte das ocasiões nas
quais se encontram crianças com TDAH, estão presentes essas distorções dos
vínculos familiares, conforme foi relatado, fazendo parte dos determinantes dessa
condição.
Topczewski (1999, p. 27), completa que a mãe, no seu convívio diário, percebe,
também, que o comportamento da criança é diferente quando comparada com
outros filhos ou com os filhos dos amigos, caso seja único. Há vezes em que o
comportamento hiperativo é confundido com a falta de limites no processo
educacional. Havendo sinais sugestivos de hiperatividade, a criança deve ser
encaminhada para uma avaliação clínica especializada com profissionais
familiarizados com o quadro, sejam neuropediatras ou psiquiatras.
Por outro lado, há, também, pais que não querem admitir que o seu filho apresente
algum comprometimento comportamental, e consideram as queixas em relação ao
seu filho como sendo uma questão pessoal de antipatia ou de intolerância. Quando
a queixa inicial é por parte da escola a primeira providência é mudar de escola. Esta
não aceitação por parte dos pais retarda o diagnóstico e, por conseqüência, o
tratamento.
Nota-se que também as causas emocionais podem ser determinantes do
comportamento hiperativo. Geralmente, os fatores ambientais familiares, tais como
os desentendimentos entre o casal, comportamentos agressivos, psicopatologias na
família, podem ser relacionados ao aparecimento da hiperatividade (TOPCZEWSKI,
1999, p. 42).
Neste caso pode-se dizer que com a experiência vivida com crianças em diversos
meios, nota-se que deve existir uma rotina para a vida da criança e que o ambiente
onde ela vive deve ser tranqüilo. È notável que toda criança que vem de um
ambiente conturbado possui dificuldades de relacionamento, comportamento e
conseqüentemente de aprendizagem.
Jones (2000, p. 64), também explica que um dos principais problemas das crianças
hiperativas é que elas tendem a desenvolver uma baixa auto-estima. Em casa elas
quase sempre são criticadas. Silva, (2003, p. 31) explica que a baixa auto-estima
que os TDAH enfrentam é pelo fato de que em geral, desde cedo eles sofrem
grandes repreensões e críticas negativas. Sem entender o porquê, com o tempo ele
se vê de maneira depreciativa e passa a ter como referência pessoas externa e não
a si próprio.
Jones (2000, p. 109) diz que alguns pais de crianças hiperativas percebem que seus
bebês são difíceis desde o início. Muitas crianças, posteriormente diagnosticadas
com TDAH, tinham cólicas, eram agitadas e insones.
Contudo, isso nem sempre acontece e alguns pais relatam que as crianças com
TDAH dormiam bem quando eram bebês, enquanto aqueles que sentiam cólicas
transformaram-se em crianças tranqüilas. À medida que o bebê cresce você pode
descobrir que ele não se acalma tanto quanto você esperava. Talvez ele durma
menos do que os outros bebês e seja muito exigente e agitado durante o dia.
Diferentemente dos outros bebês de 7-9 meses de idade que ficam felizes sentados
com diversos brinquedos à sua volta, o bebê hiperativo vai engatinhar, rolar e subir
em todos os lugares, apanhar alguma coisa só para atirá-la longe novamente alguns
minutos depois (JONES, 2000, p. 111).
Em geral é quando a criança já está andando, aos dois ou três anos de idade, que a
maioria dos pais percebe que o filho é diferente. Eles talvez tenham esperado que
seu bebê agitado começasse a se acalmar, mas descobrem que ele não ficou nem
um pouco mais fácil depois que começou a andar, a falar e a participar de atividades
para crianças em idade pré-escolar. (ibid., p. 110).
Para melhorar a convivência e estimular bons comportamentos nas crianças TDAH,
principalmente se elas forem hiperativas / impulsivo, Silva (2003, p. 64-68) escreve
algumas dicas que são de origem de pesquisas do psicólogo Sam
Goldstein e do neurologista Michael Goldstein:
• O passo inicial para todos os pais e/ou cuidadores é o conhecimento. Quanto
mais eles estudarem, se informarem e se educarem sobre o problema de
seus filhos, mais estarão preparados para lidar com ele da forma mais
apropriada.
• O passo seguinte é conseqüência do primeiro: saber diferenciar
desobediência e inabilidade. Uma vez que os pais e/ou cuidadores conheçam
suficientemente bem o problema, eles estarão aptos a distinguir quando a
criança está sendo desobediente e rebelde, ou quando simplesmente, não
está conseguindo controlar seus impulsos e fazer o que eles ou outras
pessoas responsáveis estão pedindo.
• O próximo passo é saber dar ordens positivas. Isso vai um pouco contra o
que se aprende a fazer, de forma não espontânea, levando um pouquinho de
tempo e prática até que se acostume. (...) Se, por exemplo, seu filho está num
entra-e-sai de casa, justo no momento em que o quintal está sendo lavado e
deixa um rastro molhado sempre que irrompe porta adentro, a reação mais
provável será ralhar com ele, ordenando que pare de molhar a casa ou que
pare de correr. Está sendo dada uma ordem negativa. É bem provável que a
criança TDAH obedeça por um tempo, até que se distraia e sua impulsividade
dê novamente partida para outros entra-e-sai. (...) Como ordem positiva,
poderia instruí-lo sobre secar os pés em um pano, antes de entrar, ou brincar
somente do lado de fora ou apenas do lado de dentro, de uma forma serena e
não ameaçadora.
• E o último passo é a continuidade dos anteriores e seu objetivo principal é
sempre promover o sucesso da criança. Hábitos arraigados são difíceis de
mudar, mas não impossíveis. Trata-se de abandonar o padrão antigo de
valorizar mais as atitudes negativas da criança (ela percebe perfeitamente
que chama mais atenção quando faz algo errado) e mudar para um padrão de
sempre incentivar, reforçar e promover o sucesso dela.
Como o TDAH é um modo de funcionamento diferente do cérebro, algum dia os
mistérios do TDAH e do cérebro serão descobertos. Quando essa hora chegar,
talvez possamos conquistar uma importante compreensão de muitos
comportamentos humanos, inclusive do TDAH.
Enquanto esta descoberta não chega, os portadores, pais, professores, cônjuges e
familiares em geral, deverão trabalhar juntos e de modo responsável para definir,
observar, avaliar e controlar os problemas gerados por causa do TDAH. Este
controle deve ser feito desde a infância, para que, assim, os efeitos negativos
relacionados ao TDAH possam ser reduzidos. Como o TDAH tem grande impacto
sobre a vida do indivíduo, tratar um adulto que acumulou inúmeros
comprometimentos funcionais ao longo da vida, com todas as seqüelas
interpessoais, profissionais, sociais e médicos, relacionadas a um transtorno crônico
de início precoce, é algo muito diferente de tratar uma criança recém diagnosticada.
Assim, quanto mais cedo o TDAH for indicado e tratado, melhores serão os
resultados obtidos.
Contudo, TDAH é um problema que deve ser controlado e que não tem cura. O
controle eficaz requer informações e paciência; e é essencial que o portador, os
familiares e a escola desenvolvam uma compreensão dos problemas do TDAH.
3. A ESCOLA INCLUSIVA PARA O HIPERATIVO
Para se falar em inclusão é preciso que se vá além e se fale em exclusão. Excluído
de onde, ou de quê, assim falar em inclusão, implica falar em incluir onde. Mas
porque é preciso falar de uma escola inclusiva? Porque a escola se configura em um
dos espaços mais marcantes da exclusão. Trabalhando com uma lógica de
homogeneidade, que parte do princípio que os iguais devem ser agrupados entre os
iguais, a escola tem, sistematicamente, excluído de seu espaço todos aqueles
considerados muito diferentes, principalmente aqueles que temos chamado de
pessoas com diferenças significativas, pessoas cuja diferença lhes confere um lugar
social específico: são as crianças com deficiências, as crianças com distúrbios
globais do desenvolvimento, crianças em sofrimento psíquico.
A idéia de uma sociedade inclusiva se fundamenta numa filosofia que reconhece e
valoriza a diversidade, como característica inerente à constituição de qualquer
sociedade. Partindo desse principio e tendo como horizonte o cenário ético dos
Direitos Humanos, sinaliza a necessidade de se garantir o acesso e a participação
de todos, a todas as oportunidades, independentemente das peculiaridades de cada
individuo.
Embora não seja a Escola o único lugar onde acontece a educação, na sociedade
atual a educação Escolar crescentemente se faz indispensável para a cidadania
autônoma e competente. Constitui-se a Escola em espaço especialmente
organizado para que se dê a construção de valores, conhecimentos e habilidades
necessárias, consciente e responsável exercício da democracia.
Estrutura-se a Escola através dos sujeitos que dela fazem parte e das relações que
estabelecem entre si e com o meio. Nestas relações aparece a singularidade de
cada sujeito, a sua cultura, o seu ponto de vista, a sua leitura de mundo, que
comunicados aos outros, contribuem para a construção de conhecimentos
reelaborados.
A Escola é a instituição responsável pela passagem da vida particular e familiar para
o domínio público, tendo assim função social reguladora e formativa para os alunos.
A Escola é a instituição por intermédio da qual a criança se introduz no mundo público, e daí o papel do Estado em relação a todas elas. À família cabe o dever de garantir à criança o que é típico do domínio privado do lar, e ao Estado cabe garantir o direito indispensável da criança à educação Escolar, pois é ela que faz a transição entre essas duas vidas. (MANTOAN 2006, p. 11).
Acima de tudo, a Escola tem a tarefa de ensinar os alunos a compartilhar o saber, os
sentidos diferentes das coisas, as emoções, a discutir, a trocar pontos de vista. É na
Escola que desenvolvemos o espírito crítico, a observação e o reconhecimento do
outro em todas as suas dimensões.
O paradigma da inclusão vem ao longo dos anos, buscando a não exclusão escolar
e propondo ações que garantam o acesso e permanência do aluno com deficiência
no ensino regular. No entanto, o paradigma da segregação é forte e enraizado nas
escolas e com todas as dificuldades e desafios a enfrentar, acabam por reforçar o
desejo de mantê-los em espaços especializados.
Contudo a inclusão coloca inúmeros questionamentos aos professores e técnicos
que atuam nessa área. Por isso é necessário avaliar a realidade e as controvertidas
posições e opiniões sobre o termo.
Outro aspecto a ser considerado é o papel do professor, pois é difícil repensar sobre
o que estamos habituados a fazer, além do mais a escola está estruturada para
trabalhar com a homogeneidade e nunca com a diversidade.
A tendência é focar as deficiências dos nossos sistemas educacionais no
desenvolvimento pleno da pessoa, onde se fala em fracasso escolar, no déficit de
atenção na hiperatividade e nas deficiências onde o problema fica centrado na
incompetência do aluno. Isso é cultura na escola, onde não se pensa como está se
dando esse processo ensino-aprendizagem e qual o papel do professor no referido
processo. Temos que refletir sobre a educação em geral para pensarmos em
inclusão da pessoa com deficiência.
Há também que se lembrar que todos os alunos vêm com conhecimentos de
realidade que não pode ser desconsiderado, pois faz parte de sua história de vida,
exigindo uma forma diferenciada no sistema de aprendizagem.
Segundo Bueno (1998, p. 97), tem que pensar que para que a inclusão se efetue
não basta estar garantido na legislação, mas demanda modificações profundas e
importantes no sistema de ensino. Essas mudanças deverão levar em conta o
contexto socioeconômico, além de serem gradativos, planejadas e contínuas para
garantir uma educação de ótima qualidade.
Portanto a inclusão depende de mudança de valores da sociedade e a vivência de
um novo paradigma que não se faz com simples recomendações técnicas, como se
fossem receitas de bolo, mas com reflexões dos professores, direções, pais, alunos
e comunidade.
Kunc (1992, p.53), fala sobre inclusão:
O principio fundamental da educação inclusiva é a valorização da diversidade e da comunidade humana. Quando a educação inclusiva é totalmente abraçada, nós abandonamos a idéia de que as crianças devem se tornar normais para contribuir para o mundo.
Temos que diferenciar a integração da inclusão, na qual na primeira, tudo depende
do aluno e ele tem que se adaptar buscando alternativas para integrar, ao passo
que na inclusão, o social deverá modificar-se e preparar-se para receber o aluno
com deficiência.
Jamais haverá inclusão se a sociedade se sentir no direito de escolher quais os
deficientes poderão ser incluídos. É preciso que as pessoas falem por si mesmas,
pois sabem do que precisam de suas expectativas e dificuldades como qualquer
cidadão. Mas não basta ouvi-los, é necessário propor e desenvolver ações que
venham modificar e orientar as formas de se pensar na própria inclusão.
A Declaração de Madrid (2002, p. 92), define o parâmetro conceitual para a
construção de uma sociedade inclusiva, focalizando os direitos das pessoas com
deficiências, as medidas legais, a vida independente, entre outros: o que for feito
hoje em nome da questão da deficiência terá significado para todos no mundo de
amanhã.
Segundo Diniz e Vasconcelos (2004, p. 23), o princípio fundamental da Educação
Inclusiva consiste em que todas as crianças devem aprender juntas, onde isso for
possível, não importando quais dificuldades ou diferenças elas possam ter.
Para reforçar, a Escola inclusiva adota práticas baseadas na valorização da
diversidade humana, no respeito pelas diferenças individuais, no desejo de acolher
todas as pessoas, na convivência harmoniosa, na participação ativa e central das
famílias e da comunidade local em todas as etapas do processo de aprendizagem.
E, finalmente, na crença de que, qualquer pessoa, por mais limitada que seja em sua
funcionalidade acadêmica, social ou orgânica, tem uma contribuição significativa a
dar a si mesma, às demais pessoas e à sociedade como um todo.
Para uma Escola tornar-se inclusiva, ou seja, uma instituição que, além de aberta
para trabalhar com todos os alunos, incentiva a aprendizagem e a participação ativa
de todos, faz-se necessário um investimento sistemático, efetivo, envolvendo a
comunidade Escolar como um todo. Para isso efetuar-se de maneira satisfatória, é
ainda necessário que a Escola tenha estímulo e autonomia na elaboração de seu
projeto pedagógico, que possa elaborar um currículo Escolar que reflita o meio social
e cultural onde os alunos estão inseridos; que tenha a aprendizagem como eixo
central em suas atividades Escolares e que reconheça o enriquecimento advindo da
diversidade.
3.1 A ESCOLA E A CRIANÇA PORTADORA DE HIPERATIVIDADE A escola contemporânea vem enfrentando diversos desafios característicos do
modelo de sociedade que vivenciamos. No centro dessas dificuldades, professores e
alunos vivem cotidianamente um sentimento de profunda ambigüidade, desde o qual
todas as relações se fragilizam caracterizadas ora pela sensação de imponência,
perda, fracassos.
A ambigüidade geradora dos conflitos vividos no ambiente escolar dificilmente se
supera através de expedientes pontuais. Ao contrário, tende a persistir e,
consequentemente, contribuir ainda mais para o agravamento das tensões que
vivemos no cotidiano escolar e os baixos rendimentos são uma das principais
causas desses conflitos.
No atual contexto educacional brasileiro encontramos uma série de fatores que
contribuem para um baixo rendimento escolar, como superlotação das salas de aula
e o despreparo dos docentes. Outro fator contribuinte é o modelo tradicionalmente
adotado de ensino aprendizagem, onde as diferenças individuais e as diversidades
são relegadas a segundo plano e prioriza-se a padronização do método de ensino.
São freqüentes nas escolas os pais se questionarem se o filho indomável não seria
um hiperativo. Até porque boa parte dos hiperativos também desenvolve outro
problema, o déficit de atenção que em geral, vem à tona no período escolar. Cabe à
escola o papel de identificar se as crianças são portadoras do distúrbio ou se não
tem limites. Na maioria dos casos parece que o problema está na educação delas.
Topczewski (1999, p. 15) reflete que a escola, desde o século XIX, tornou-se uma
atividade obrigatória, e, desde então, a escolaridade passou a ter um papel
fundamental para a ascensão social. A partir deste período, as dificuldades
escolares e os seus fracassos passaram a ser considerados como um problema
importante ou até mesmo uma doença. Várias são as causas determinantes do
fracasso escolar, e a hiperatividade é uma delas. Sabemos que a população de
hiperativos é grande e parte dela apresenta dificuldades para a adaptação escolar,
social e familiar.
As primeiras observações, na maior parte das vezes, são feitas pelos professores,
que notam ser o comportamento da criança muito agitado. Isto é percebido quando
comparado ao comportamento das outras crianças durante as aulas. Além disso,
notam que o desempenho da criança em relação à média do grupo está, também,
defasado (TOPCZEWSKI, 1999, p. 26).
De acordo com os autores Coll, Palácios e Marchesi (1995, p. 160), a hiperatividade
é um dos distúrbios mais freqüentes na idade pré-escolar e escolar. A hiperatividade
é caracterizada por excesso de atividade motora, déficit de atenção e falta de alto
controle, que inicialmente foi definida como um distúrbio neurológico, relacionada
com lesão cerebral mínima. Mas nos anos 60 surgiu uma nova perspectiva funcional
caracterizando-a como síndrome condutual e identificando como principal causa a
atividade motora excessiva. Diversos estudos na década de 80 definiram os
aspectos cognitivos e principalmente o déficit de atenção ou a falta de autocontrole
ou impulsividade uma das características mais relacionadas à hiperatividade.
Algumas vezes, os problemas das crianças com TDAH só ficam verdadeiramente
visíveis quando elas vão para a escola. Isso acontece porque as dificuldades podem
vir à tona em um ambiente social e quando se espera delas um trabalho mais
organizado e concentrado. Jones (2000, p. 114) relata que, com freqüência, as
crianças com TDAH acham difícil ficar tranqüilas no novo ambiente da escola. Os
problemas podem surgir em determinados momentos, por exemplo, quando elas
recebem instruções sobre o que fazer ou quando ouvem uma história no final da
tarde e espera-se que fiquem tranqüilamente sentadas.
Muitas crianças com TDAH fracassam na escola. Isso pode ter começado durante o
ensino fundamental e, quando elas estão se preparando para exames importantes,
podem estar muito atrasadas com relação aos colegas e sabem que não vão
conseguir (JONES, 2000, p. 117).
Embora os professores e orientadores pedagógicos estejam preparados, quando
surgem um ou dois hiperativos em uma classe, em geral, cria-se uma situação
problemática. Cypel (2003, p. 80) explica que essas crianças agitadas rompem com
a harmonia na sala de aula, interferem no trabalho didático e atrapalham a atividade
dos outros alunos. O mesmo autor comenta que essas crianças, às vezes, têm
dificuldade de freqüentar escolas tradicionais e salas de aula com número grande de
alunos. Esse tipo de ambiente não beneficia sua dificuldade de concentração,
ficando mais dispersiva e alheia. Melhor seria encontrar uma escola com classes
pequenas de até 15 alunos, na qual poderia receber uma atenção mais
individualizada (ibid., p. 81).
A falta de atenção assim como a inquietação, são uns dos problemas que estão
relacionados às crianças com TDAH. Fonseca (1995, p. 252) explica que:
A criança com Dificuldades de Aprendizagem (DA) caracteriza-se por uma
inteligência normal (QI > 80), uma adequada intensidade sensorial, quer auditiva,
quer visual, por um ajustamento emocional e por um perfil motor adequado. (...) As
suas principais características compreendem uma dificuldade de aprendizagem nos
processos simbólicos: fala, leitura, escrita, aritmética etc.
Nas palavras de Drouet (2000, p. 130), a criança que sofre de TDAH, não consegue
aprender por não conseguir se concentrar. Ele explica:
A hiperatividade ou hipercinesia é outra característica marcante. A criança “não tem parada” . Quando sentada, faz movimentos desnecessários com os membros superiores e inferiores ou com os dedos: move o tronco, a cabeça, pisca os olhos, faz careta, tamborila na mesa etc. Esta hiperatividade é acompanhada de murmuração constante ou canto monótono. Não consegue fixar as idéias, não concentra a atenção e sua produção intelectual, por esse motivo, é muito baixa.
Sabe-se que os problemas de aprendizagem podem ocorrer tanto no início como
durante o período escolar surgem em situações diferentes para cada aluno, o que
requer uma investigação no campo em que eles se manifestam.
Qualquer problema de aprendizagem implica amplo trabalho do professor junto à
família da criança, para analisar situações e levantar características, visando
descobrir o que está representando dificuldade ou empecilho para que o aluno
aprenda.
Em relação aos problemas de aprendizagem, José e Coelho (1999, p.17) falam que
o professor e a escola devem saber o que é normal, problemático e patológico no
comportamento de uma criança. Para que o professor avalie um problema de
aprendizagem corretamente, ele precisa conhecer o comportamento infantil em cada
faixa etária. Mielnik in Jose e Coelho (1999, p. 21 - 2), consideram que para
conceituar o normal, deve-se basear no progresso da criança comparando-a com
suas próprias habilidades e capacidades e que a situação problemática abrange um
relacionamento difícil com as pessoas. A criança tem dificuldades emocionais, fica
muito sensível, se sente rejeitada e ansiosa, com sensação de pânico às vezes.
Os autores acima citados dizem que o comportamento normal ou patológico pode ter
origem na própria criança (fator genético) ou no ambiente (fator social). Para
caracterizá-lo, afirmam que devem ser considerados os seguintes fatores: idade;
constituição física; desenvolvimento (período em que a criança se encontra);
ambiente cultural; conduta e personalidade dos pais e irmãos; tensões e traumas da
vida cotidiana aos quais, a criança fica exposta; tendências internas e defesas
psíquicas do ego infantil; influência de pressões externas e internas; meios de
adaptação a essas pressões; processos envolvidos na maturação da personalidade
infantil.
Após a verificação pelo professor de todos estes fatores, ele ainda precisa ter
certeza que a criança não esteja passando apenas por uma fase difícil que pode ser
provisória com condições de superá-la. É preciso que o professor saiba diferenciar
quando uma criança está com problemas de aprendizagem porque não consegue
prestar atenção devido à sua deficiência, ou se está apenas brincando com o
problema e causando indisciplina. Neste caso é muito importante a colaboração da
família que deve estar ciente do que está acontecendo com a criança. O papel da
escola e dos educadores é neste caso trabalhar em parceria para ajudar na
aprendizagem da criança.
José e Coelho (1999, p. 184) falam da importância da conscientização da família
pela escola e menciona:
À escola cabe alertar a família quanto à necessidade de um tratamento para essas crianças, que em geral é psicoterápico, havendo às vezes indicação de tratamento medicamentoso. (...) A agitação, inquietude ou instabilidade, quando presentes na sala de aula, podem ocupar grande parte do valioso tempo da classe. É essencial que o professor tente desenvolver um clima de harmonia para que possa trabalhar com essas crianças de uma forma que evite o desperdício de tempo, mantendo-as interessadas e realmente envolvidas no trabalho que todos estão realizando.
Por isso, é sempre importante tanto o professor quanto a escola ficarem atentos e
qualquer sinal de suspeita procurar ajuda, pois para melhorar a aprendizagem do
aluno e a convivência com seus colegas e professores, essa criança precisa que se
estabeleçam formas de se concentrar e mostrar sua capacidade de aprender e
respeitar as regras. Esta atitude do professor deve ser de maneira natural nunca
tratando a criança como diferente.
Antunes, (2003, p. 36) diz: Nunca demonstrar pena ou compaixão e em seu nome
fazer apelos para que outros o aceitem, ou fazer “vistas grossas” para suas ações
agressivas, mas intervir sempre de maneira positiva de forma a ajudar seus
eventuais amigos a observar suas qualidades, perceber suas intenções.
Acredita-se que com o auxílio de professores e familiares esta criança terá altas
chances de melhorar seu desempenho escolar e alcançar êxito nos seus
relacionamentos.
3.2 PROFESSOR X ALUNO HIPERATIVO
Rohde e Benczik (1999, p. 87) apontam que o professor tem papel fundamental no
processo de aprendizagem e na saúde mental dos seus alunos. Ao tomar
conhecimento das dificuldades que ocorrem numa família com membros portadores
de TDAH, é provável que os professores comecem a entender a atitude dos pais, da
mesma forma que os pais podem sensibilizar-se com a situação dos professores se
souberem das reais dificuldades que seus filhos encontram na escola. O objetivo
desse saber da situação do outro e fazer com que ambos – pais e professores –
compreendam que devem ser parceiros de uma mesma empreitada, e não rivais de
uma disputa. (BROMBERG. 2002, P. 27). É necessário que exista estreita
colaboração entre pais e professores.
A comunicação freqüente entre a escola e a família é fator importante a garantir,
para que professores e pais possam trocar experiências relevantes. Saber o que
está acontecendo com a criança ou adolescente durante o tempo em que ele está
no outro ambiente ajuda, a compor o quadro real da situação, e esse confiar no
outro é o que realmente estabelece a parceria. Nesse sentido, é muito útil um
instrumento de comunicação escrita que seja utilizado diariamente (RIEF. 1998 p.
83). Mas é um instrumento a ser usado com bom senso, no sentido da cooperação,
não da cobrança e da rivalidade.
Os professores são, com freqüência, aqueles que mais facilmente percebem quanto
o aluno está tendo problemas de atenção, aprendizagem, comportamento ou
emocionais / afetivos e sociais. O primeiro passo a ser dado na tentativa de
solucionar os problemas é verificar o que realmente está acontecendo (PARKER,
1996, p.11).
É razoavelmente comum professores de crianças com TDAH sentirem tanta
frustração quanto seus pais, pois também eles são seres humanos únicos, com
características especificas e estilos de ensinos próprios, e nenhum conjunto isolado
de sugestões e estratégias funciona na inter-relação de todos os professores com
todos os alunos. Algumas vezes, é preciso tentar várias intervenções antes que
algum resultado positivo apareça. Daí a necessidade de se escolher a escola e o
método de ensino mais adequado para o aluno, especialmente aquele com TDAH.
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelo aluno com TDAH e sua família é a
realização do dever de casa. Ao passar uma lição de casa, os professores devem
lembrar que o tempo que um estudante com TDAH leva para fazer essa tarefa pode
ser de três a quatro vezes maiores que seus colegas. É necessário fazer
adequações para que a quantidade de trabalho não exerça o limite da possibilidade.
Ter sempre presente que a lição de casa tem o objetivo de revisar e praticar o que
foi aprendido em sala de aula. Pois não devem fazer o papel de professores. Afirma
Rief (1993, p. 111): acima de tudo, o dever de casa não deve ser jamais um castigo
ou seqüência de mau comportamento na escola.
Dessa forma, o professor juntamente com a escola deve intervir para um ambiente
escolar atrativo e estimulante. Sendo assim, o aluno terá uma aprendizagem melhor
e mais qualificada.
3.3 INTERVENÇÕES ESCOLARES PARA O PLENO APRENDIZADO DA CRIANÇA COM TDAH
Segundo Goldestein e Goldestein (1990, p.47), cerca de 20 a 30% das crianças com
TDAH apresentam dificuldades específicas, que interferem na sua capacidade de
aprender. Do total de crianças indicadas para os serviços de educação especial e de
centros de saúde mental, 40% são portadores de TDAH.
Segundo Marcelli (1998, p. 82) quando se aborda o capítulo das inadequações entre
escola e a criança convém determinar de imediato dois procedimentos, senão
contraditórios, pelo menos opostos. Por um lado, há aqueles para quem a criança
com dificuldades na escola é uma criança desviante, portanto patológica ou doente,
que deve então ser tratada, se possível, em uma estrutura adaptada. Na outra
vertente, situam-se aqueles para quem a estrutura escolar é ela própria inadaptada
à criança e a única responsável pelo fracasso escolar.
A criança com TDAH como visto anteriormente apresenta um transtorno no qual sua
maior característica é impulsividade, desatenção e hiperatividade, o papel da escola
é de extrema importância. O comportamento do professor perante a criança com
diagnóstico de TDAH influencia certamente o sucesso do tratamento.
Sabe-se que o TDAH tem um grande impacto no desenvolvimento educacional da
criança. Conforme Rohde (2003, p. 27) estudos indicam que as crianças com TDAH
em ensino regular correm risco de fracasso duas a três vezes maiores do que
crianças sem dificuldades escolares e com inteligência equivalente. Em todos os
casos, face à inadequação escolar, devem-se levar em conta os três parceiros -
criança, sua família e a escola e tentar avaliar sua interação recíproca antes de
considerar um auxílio terapêutico.
Segundo Marcelli (1998, p. 55), deve-se distinguir entre as possibilidades de
aprender e o desejo de aprender. A avaliação das possibilidades repousa sobre o
exame cuidadoso e completo das capacidades físicas (busca de déficit sensorial
parcial) e psíquica.
A família intervém simultaneamente na dinâmica das trocas intrafamiliares e por
meio de seu grau de motivação em relação à escola. Quando a criança deixa sua
família para ir à escola, isso significa que passará uma boa parte de seu tempo fora
de casa: correlativamente, isso implica que os pais, sobretudo a mãe, aceitem esses
novos investimentos e se alegrem com isso.
A escola conforme as idéias de Marcelli (1998, p. 56) é o terceiro tríptico desse
triângulo relacional criança-família-escola e é a escola que apresenta o conceito de
integração, ou seja, a operação pela qual o indivíduo ou um grupo se incorpora a
uma coletividade, a um meio. Seu principal objetivo é, portanto, oferecer respostas
adaptadas não somente a cada tipo de deficiência, mas também à personalidade
das crianças, às diferentes etapas de sua evolução, aos seus desejos e aos de suas
famílias, respostas preparadas pelo meio da acolhida.
Segundo Fullan (2000 p. 35) o trabalho em conjunto é a forma mais poderosa de
cooperação (por exemplo, ensino por equipe, planejamento, observação, pesquisa-
ação, acompanhamento permanente de colegas e tutoramento, etc.).
O trabalho conjunto implica e cria uma interdependência mais forte, uma
responsabilidade compartilhada, um comprometimento e um aperfeiçoamento
coletivo e uma maior disposição para participar da difícil tarefa de comentar e
criticar.
Portanto pode-se perceber que as escolas quando se deparam com situações com
crianças com TDAH, exige-se um trabalho em conjunto, é necessário e a
colaboração entre os integrantes desta instituição é algo importantíssimo para que
haja mudanças nas estratégias de toda a equipe.
As manifestações do TDAH são diversas e exigem a participação simultânea de
especialistas em diversas áreas de atuação. Fundamental para o bom resultado do
tratamento é a noção de que o tratamento sempre é um trabalho em equipe, e que
dessa equipe deve invariavelmente fazer parte a própria pessoa portadora do TDAH
e seus familiares. É com esse princípio em mente que devem atuar as pessoas
envolvidas nessa empreitada, tarefa essa que pode ser para toda a vida.
Ensinar não é apenas uma coleção de habilidades técnicas, um pacote de
procedimentos, uma porção de coisas que você pode aprender. Técnicas e
habilidades são importantes, mas ensinar é muito mais que isso. Conforme as idéias
de Fullan (2000, p. 37) a natureza complexa do ato de ensinar costuma ser reduzida
a questões de técnica e de habilidades, as quais cabem em um pacote – colocadas
em cursos – e que são de fácil aprendizagem. Ensinar não é apenas uma questão
de negociação técnica.
Segundo Barkley (2002, p. 98) os professores geralmente respondem aos problemas
desafiadores exibidos pelas crianças portadoras de TDAH, passando a ser mais
controladores e autoritários com elas. Com o tempo suas frustrações com tais
crianças podem torná-los ainda mais negativos em suas interações.
Enquanto não estiverem seguros sobre o quão negativamente as relações professor
criança afetam a adaptação da criança portadora de TDAH em longo prazo, as
experiências mostram que elas certamente podem piorar suas já tão pobres
conquistas sociais e acadêmicas reduzindo sua motivação para aprender e praticar
na escola e diminuindo sua auto-estima. Isso tudo pode resultar em insucesso e
abandono da escola. Pode se perceber o quanto é importante criar uma relação
positiva entre professor-aluno, pois será essa interação que fará com que haja
sucesso nas adaptações acadêmicas e sociais.
Fullan (2000, p. 42) acredita que em primeiro lugar os professores situam-se entre
as influências mais importantes na vida e no desenvolvimento de muitas crianças
pequenas. Eles desempenham um papel essencial na criação das futuras gerações.
No segundo sentido é que o ensinar é entendido com densa moral, impossível de
ser reduzido a técnicas eficientes e a comportamentos aprendidos.
O comprometimento da visão do ensino e do trabalho do professor sugere métodos
de liderança, de administração e de desenvolvimento pessoal que respeitem,
apóiem e incrementam a capacidade que possuem os professores para formular
juízos equilibrados e informados na sala de aula, em relação àqueles estudantes
que eles conhecem melhor. (FULLAN, 2000, p.43)
Os propósitos dos professores motivam seu fazer, e freqüentemente são eles que
mais facilmente percebem quando um aluno está apresentando problemas de
atenção, aprendizagem, comportamento ou emocionais, afetivos e sociais.
Para o trabalho e rendimento em sala de aula não é fácil lidar com crianças sob o
diagnóstico de TDAH, geralmente são crianças que se dispersam muito facilmente,
não param sentadas e exigem uma atenção especial tanto do professor como dos
colegas em sala de aula.
Portanto exigem dos professores paciência e disponibilidade. É necessário
desenvolver um repertório de intervenções para atuar eficientemente no ambiente da
sala de aula com criança portadora de TDAH. Outro repertório de intervenções deve
ser desenvolvido para educar e melhorar as habilidades deficientes da criança.
Conforme as idéias de Barkley (2002, p. 101), o mais importante para o sucesso da
criança com TDAH na escola é o professor. Segundo ele, não é o nome do
programa escolar na qual a criança se encontra, nem a localização da escola, nem
mesmo se a escola é pública ou particular, nem mesmo o tamanho da classe. Antes
de tudo, está o professor, particularmente a experiência do professor sobre o TDAH
e a boa vontade para desempenhar esforços extras para entender a criança para
que ela possa ter um ano escolar feliz e repleto de sucessos.
Segundo os psiquiatras Mônica Duchesne e Ênio Roberto de Andrade (2002, p. 27)
pode-se usar métodos didáticos alternativos para melhoria do comportamento e
desenvolvimento pedagógico da criança hiperativa:
a. Trabalhar com pequenos grupos, sem isolar as crianças hiperativas;
b. Dar tarefas curtas ou intercaladas, para que elas possam concluí-las antes de se
dispersarem;
c. Elogiar sempre os resultados;
d. Usar jogos e desafios para motivá-los;
e. Valorizar a rotina, pois ela deixa a criança mais segura, mantendo sempre o
estímulo, através de novidades no material pedagógico;
f. Permitir que elas consertem os erros, pedindo desculpas quando ofender algum
colega ou animarem a bagunça da classe;
g. Repetir individualmente todo comando que for dado ao grupo e fazendo-o de
forma breve e usando sentenças claras para entenderem;
h. Pedir a elas que repitam o comando para ter certeza de que escutaram e
compreenderam o que o professor quer;
i. Dar uma função oficial às crianças, como ajudantes do professor; isso faz com que
elas melhorem e abram espaços para o relacionamento com os demais colegas;
j. Mostrar limites de forma segura e tranqüila, sem entrar em atrito;
k. Orientar os pais a procurarem um psiquiatra, um neurologista ou um psicólogo.
O sucesso em sala de aula, freqüentemente, exige uma série de intervenções.
A maioria das crianças com TDAH pode permanecer na classe normal, com
pequenos ajustes na sala, como a utilização de um auxiliar ou programas especiais
a serem usados fora da sala de aula. As crianças com problemas mais sérios
exigem salas de aula especiais. Dessa forma, em primeiro lugar o professor deve
estar preparado o suficiente para receber uma criança portadora de TDAH e
procurar conhecer melhor o quadro da disfunção, para saber como lidar com ela.
Sendo assim, a avaliação do professor deve ser freqüentemente e imediata.
Segundo Barkley (2002, p. 107) em alguns casos, pode ser necessário o
treinamento intensivo do professor do seu filho por uma escola ou profissional
especialista em psicologia clínica desses profissionais às escolas após o
treinamento podem ser necessárias para manter o professor habituado com o uso de
procedimentos.
O professor assim deve estar instruído sobre o transtorno e procurar ajuda na equipe
pedagógica, especialistas, médicos e com os pais para buscar estratégias que ajude
no desenvolvimento da criança com TDAH.
Os pesquisadores têm sugerido que, quando as crianças com problemas graves de
fala e linguagem crescem, muitas desenvolvem padrões de comportamento
desatento e hiperativo.
Segundo Goldstein (2007, p. 52) quando as crianças novas desenvolvem a
linguagem, desenvolvem também a capacidade de se controlarem. Quando
aumentam as capacidades verbais, as crianças são capazes de compreender seu
mundo e expressar suas necessidades de modo mais eficaz, e a linguagem é
anormal, o desenvolvimento do autocontrole é interrompido. É importante
compreender o elo crítico entre o desenvolvimento da linguagem e comportamento
adequado.
Portanto deve se levar em conta que pais e professores devem tomar cuidado
quando se trata de problemas de linguagem, pois se não tratado de forma adequada
só tende a piorar o comportamento da criança com TDAH.
Nota-se assim que uma sala de aula eficiente para crianças desatentas deve ser
organizada e estruturada. Depois, um programa de reforço baseado em ganhos e
perdas, deve ser parte integrante do trabalho de classe.
Conforme as idéias de Goldstein (2007, p. 54) recomenda-se ignorar pequenos
incidentes. O material didático deve ser adequado às habilidades da criança.
Estratégias cognitivas que facilitem a autocorreção, e que melhorem o
comportamento nas tarefas, devem ser ensinadas. As tarefas devem variar, mas
continuar sendo interessantes para o aluno, assim como a criatividade e habilidade
do professor mediante as tarefas. Os horários de transição (mudanças de tarefas)
das crianças devem ser supervisionados. A comunicação entre pais e professores
deve ser freqüente.
Os professores também precisam ficar atentos ao quadro negativo de seu
comportamento. As expectativas devem ser adequadas ao nível de habilidade da
criança e deve-se estar preparado para mudanças. Os professores devem ter
conhecimento do conflito incompetência X desobediência e aprender a discriminar
entre os dois tipos de problemas.
Ainda no rol de intervenções específicas que o professor pode fazer para ajudar a
criança com TDAH a se ajustar melhor à sala de aula, Goldstein (2007, p.57)
apresenta as seguintes orientações para desenvolver a atenção e linguagem na
criança com TDAH:
a. Proporcionar estrutura, organização e constância (sempre a mesma arrumação
das cadeiras, programas diários e regras claramente definidas);
b. Colocar a criança perto de colegas que não o provoquem, perto da mesa do
professor, na parte de fora do grupo;
c. Elogiar, encorajar e ser afetuoso, porque essas crianças desanimam facilmente.
d. Dar responsabilidades que elas possam cumprir, fazendo com que se sintam
necessárias e valorizadas;
e. Proporcionar um ambiente acolhedor, demonstrando calor e contato físico de
maneira equilibrada;
f. Nunca provocar constrangimento ou menosprezar o aluno;
g. Favorecer oportunidades sociais e proporcionar trabalho de aprendizagem em
grupos pequenos, pois em grupos menores as crianças conseguem melhores
resultados;
h. Comunicar-se com os pais da criança porque, geralmente, eles sabem o que tem
melhor funcionamento com seu filho;
i. Ir devagar com o trabalho e parcelar a tarefa. Doze tarefas de cinco minutos cada,
trazem melhores resultados do que duas tarefas de meia hora;
j. Adaptar suas expectativas quanto à criança, levando em consideração as
diferenças e inabilidades decorrentes do TDAH;
k. Recompensar os esforços, a persistência e o comportamento bem sucedido ou
bem planejado;
l. Proporcionar exercícios de consciência e treinamento dos hábitos sociais da
comunidade. Uma avaliação freqüente sobre o comportamento da criança consegue
mesma e com os outros, ajudará bastante;
m. Estabelecer limites claros e objetivos;
n. Facilitar o freqüente contato aluno/professor, pois auxilia em um controle extra
sobre a criança e possibilita oportunidades de reforço positivo e incentivo a um
comportamento mais adequado;
Permanecer em constante comunicação com o psicólogo ou orientador da escola.
Este é o melhor ponto de ligação entre a escola, os pais e o médico.
Segundo Rohde (2003, p. 153) a comunicação freqüente entre escola e família
também é fator importante a garantir, para que professores e pais possam trocar
experiências relevantes e ajude a criança a obter uma aprendizagem de sucesso.
4. O SUCESSO ESCOLAR
Freqüentar a escola regular favorece também o diagnóstico de problemas como o
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Os padrões normativos do
ambiente escolar são difíceis de serem acatados pela criança por exigirem maior
compartilhamento social, definições de limites e maior atenção e concentração.
Então a criança começa a ter problemas de adaptação e, por vezes, de
aprendizagem.
Crianças com TDAH correm o risco de enfrentar fracasso na escola, problemas
emocionais e de relacionamento social. No entanto, com diagnóstico precoce e
tratamento adequado, podem ter os efeitos negativos do transtorno minimizados e
vir a ter uma vida equilibrada, produtiva e feliz. (RHODE e BENZICK, 1999, p. 201).
Após diagnosticado corretamente, crianças com TDAH podem aprender a se adaptar
as suas dificuldades. Armados de conhecimento e das implicações do que ele
acarreta, bem como através de um tratamento adequado, conseguem construir uma
vida realizadora.
Para Fullan (2000, p. 59) a aprendizagem é um processo através do qual a criança
se apropria ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que seu grupo
social conhece. Para que a criança aprenda, ela precisa interagir com outros seres
humanos. Nessas interações, a criança vai gradativamente ampliando sua maneira
de lidar com o mundo e vai construindo significados para as suas ações e para as
experiências. Ou seja, o processo de aprendizagem pode ocorrer dentro e fora da
escola, sob forma de conhecimentos, ações, habilidades, procedimentos, operações,
estratégias, costumes, regras, valores, técnicas, ideais, atitudes, crenças,
sentimentos, ideias, teorias, princípios, interesses, preferências, aversões, gestos,
etc. Nas crianças sob o diagnóstico de TDAH todo esse desenvolvimento deve
ocorrer com a ajuda de todos os envolvidos no processo, tanto os especialistas,
médicos, professores, coordenadores pedagógicos e pais.
Diante de tantas questões e novas idéias, o educador precisa ter consciência crítica
do seu trabalho, buscando uma superação para propiciar as novas gerações uma
compreensão científica, filosófica e estética da realidade em que vive (FULLAN,
2000, p. 62).
Não há saída para uma pedagogia que fica fechada em si mesma, na sua
estruturação e organização lógica. Sendo assim, não dá para pensar a construção
de conhecimento sem a articulação com a concretude do sujeito e do real. (FULLAN,
2000, p. 62)
Assim para que haja sucesso escolar nas crianças com TDAH e na sua
aprendizagem há uma grande necessidade de vários tratamentos. Goldstein (2007,
p. 158), citam três tipos de intervenções, a primeira é o uso de medicamento. A
segunda e a terceira são técnicas não médicas que pais e professores devem
compreender e utilizar. Uma delas refere-se a formas de gerenciar eficazmente o
ambiente doméstico e escolar da criança para reduzir os problemas associados a
hiperatividade. Uma rotina matinal ou noturna constante seria um exemplo. Outra
técnica consiste em estratégias de desenvolvimento de habilidades que ajudem a
criança hiperativa a prestar atenção de modo mais efetivo, planejar, ficar sentada e
controlar suas emoções. Essas intervenções permitem que a criança funcione de
modo mais efetivo no mundo. Estabelecer objetivos e metas são essenciais para o
desenvolvimento da criança, mas quando em sala de aula encontra-se uma criança
com TDAH as expectativas devem ser alcançadas dentro dos limites das
possibilidades dela.
É necessário modificar vários aspectos no processo ensino-aprendizagem do aluno
com TDAH, como o meio ambiente, a estrutura da aula, as provas/avaliação, o
feedback, o reforço, o nível de apoio, o tempo despendido, o tamanho e a
quantidade das tarefas. (ROHDE, 2003, p.205).
Assim torna-se importante a programação que é realizada na sala de aula, pois
consegue guiar e orientar o processo ensino-apredizagem. Conforme as idéias de
Rohde (2003, p. 205) a meta final é o equilíbrio necessário entre dar resposta ao
grupo e a cada aluno dentro do grupo. Essa forma de programação de aula mostra-
se flexível e dinâmica, pois busca trabalhar de forma simultânea com o grupo e com
o individual, respeitando as diferenças de cada um. A organização da sala de aula
torna-se importante também para o desempenho do TDAH.
Segundo Rohde (2003, p. 207) alunos com TDAH necessitam de uma estrutura
externa bem definida, já que têm dificuldades com a organização e o planejamento.
Portanto o ambiente escolar propício a esses alunos é uma sala de aula bem
estruturada, preferencialmente com o número pequeno de alunos. È importante
achar o meio termo entre a escassa motivação visual e estímulos em excesso, que
podem ajudar a distrair a atenção.
Os professores devem auxiliar e supervisionar o aluno com TDAH em sala de aula e
proporcionar a eles que ajudem a decidir o tempo para confecção de uma atividade,
realizar intervalos entre as disciplinas e pedir para que auxiliem quando necessário.
Rohde (2003, p. 209) propõem outras estratégias como:
O professor pode proporcionar atividades e técnicas que instrumentalizem o aluno
com TDAH a manejar de maneira mais eficaz suas dificuldades dentro de uma
programação que inclua todos os alunos:
- reunir a turma para praticar estratégias de resolução de problemas, ajudando a
desenvolver habilidades na resolução de conflitos; a conscientização é a chave para
controlar a impulsividade, pois é preciso aprender a parar e pensar antes de agir;
- ensinar hábitos de cooperação em situações reais;
- usar técnicas de relaxamento e ensinar técnicas de automonitoramento;
- quando houver necessidade de mediação, utilizar a abordagem cognitiva;
- fazer os encaminhamentos adequados (fonoaudiologia, acompanhamento
psicopedagógico, psicoterapia cognitivo-comportamental) quando a situação assim o
exigir.
Em suma, a presença do professor é muito importante para o desenvolvimento
global da criança com TDAH, a disponibilidade de sistemas de apoio e
oportunidades para se engajar em atividades que conduzem ao processo da leitura
em sala de aula são essenciais para o aluno com esse diagnóstico.
4.1 O PROCESSO DA LEITURA DO ALUNO COM HIPERATIVIDADE
A leitura e a escrita formam um sistema simbólico representativo do visual e do
auditivo, e ambos são extremamente necessários no processo de ensino e
aprendizagem. A leitura envolve a utilização de signos lingüísticos, e estes permitem
que o leitor construa o significado do texto. Para que se realize uma leitura com
significado é necessária uma operação cognitiva que contenha processos
específicos como à codificação, a decodificação, a memória, a percepção e a
tradução. De acordo com Solé (1998, p.41):
[...] ler é compreender e que compreender é, sobretudo um processo de construção de significados sobre o texto que pretendemos compreender. É um processo que envolve ativamente o leitor, à medida que a compreensão se realiza não deriva da recitação do conteúdo em questão. Por isso, é imprescindível o leitor encontrar sentido no fato de efetuar o esforço cognitivo que pressupõe a leitura [...]
É preciso dar significado às letras, às palavras, às frases e ao texto. Assim é
necessário fazer uma decodificação dos signos, que são fixos e coletivos, e dão
significado às palavras, e ainda relacionar a mensagem de forma coerente dentro de
um contexto, reconhecendo os códigos, dando sentido a eles e integrando-os à
mensagem. Para que isto ocorra é necessário que vários processos cognitivos
entrem em funcionamento. [...] a linguagem considerada [...] como a capacidade
humana de articular significados coletivos e compartilhá-los, em sistemas arbitrários
de representação, que variam de acordo com as necessidades e experiências da
vida em sociedade. A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de
sentido. (PCN, 1999, p.125).
Para Martins (2003 p. 25) existem quatro as habilidades da linguagem verbal: a
leitura; a escrita; a fala; a escuta. E dentre estas, a leitura é a habilidade lingüística
mais difícil e complexa. E ainda para ele, há dois processos de leitura:
● básicos: voltados à decodificação e à compreensão de palavras;
● perceptivos: voltados à percepção visual que permite a extração de informações
sobre coisas, lugares e eventos do mundo visível.
A escrita é um processo complexo, que envolve habilidades diferentes da leitura,
mas requer a construção da mesma estrutura, a representação cognitiva. Para
Ferreiro (1993, p. 34) a fala se confunde com a escrita. Escrever é transformar o que
se ouve em formas gráficas, assim como ler também não equivale a reproduzir com
a boca o que o olho reconhece visualmente.
Para escrever a pessoa deve saber articular a letra de modo a produzir uma
mensagem dotada de significado, deve conhecer as regras de representação,
precisa diferenciar significado de significante. Caso as representações não forem
devidamente construídas, a aquisição do código ficará falha. Muitas vezes ocorrerão
casos de dificuldade de aprendizagem da leitura e da escrita, mas sempre haverá a
possibilidade de reestruturação do sistema, visando a atender os alunos que
apresentam mais dificuldade e que podem vir a fracassar.
Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade (ANDERLE, 2005, p.12).
Por isso, é importante uma metodologia diferenciada para as salas de recursos, para
que a novidade da diferença estimule a criança com dificuldade, visando à
aprendizagem desta. Pensando no sucesso da leitura, propõe-se a utilização de
várias atividades que requer concentração, atenção e motivação para auxiliar na
produção de texto e na leitura em sala de aula, com alunos hiperativos.
4.2 ATIVIDADES INDICADAS PARA TRABALHAR EM SALA DE AULA QUE CONDUZEM AO SUCESSO: TANTO NA LEITURA QUANTO NA SOCIALIZAÇÃO COM O GRUPO. Os alunos hiperativos têm dificuldade em se concentrar e dificilmente se interessam
por atividades pedagógicas tradicionais e sedentárias. Nesse caso selecionamos
algumas atividades que são divertidas e ao mesmo tempo exigem atenção e
concentração, como os jogos de competição em grupo, que são altamente
motivadores e socializadores. Sugerem também que os professores se utilizem ao
máximo de recursos de multimídia como TV, DVD e computador, pois em geral eles
se interessam muito por tudo isso, mas claro com conteúdos ingressos nos temas a
ser trabalhados, onde eles possam se desenvolver cognitivamente brincando.
QUEBRA CABEÇA O quebra-cabeça é um tipo de brinquedo que desafia a inteligência da criança. O
interesse que desperta pode estar relacionado ao grau de atração e o de dificuldade
que ele apresenta: se for fácil demais, não constituirá desafios, mas também, se for
difícil demais, provocará desistência ao invés de motivação. Quando o brinquedo
tiver um grau de dificuldade muito alto, pode-se montar em cima de uma prancha e
riscar as suas formas e numera-las para facilitar sua utilização. Essa atividade
estimula o pensamento lógico, composição e decomposição de figuras,
discriminação visual, atenção e concentração. (CUNHA, 1997, p. 45).
JOGO DA MEMÓRIA Pensamento e inteligência são sinônimos, pois o pensamento representa o uso ativo
da inteligência. A fonte da inteligência é a experiência, que provoca o funcionamento
do pensamento em seu nível mais alto. A teoria de Piaget afirma que o
desenvolvimento global da inteligência é a base sobre a qual repousa todo
aprendizado. A aprendizagem só acontece se a criança tiver mecanismos por meio
dos quais possa relacionar as informações. Todas as características da inteligência
humana vêm à tona através do processo de desenvolvimento.
Diante disso, Cunha (1997, p. 48) cita que: O jogo da memória estimula o
pensamento, memorização, identificação de figuras, estabelecimento do conceito de
igual e diferente e orientação espacial.
JOGO DE ASSOCIAÇÃO Sendo a linguagem um sistema de símbolos, ela deve ser sempre associada à
experiência direta. O vocabulário e os conceitos devem ser introduzidos sempre
através de atividades concretas, desenvolvidas pelas crianças, para que tenham real
significado. Estimula o pensamento, associação de idéias, linguagem verbal,
criatividade, atenção e concentração e percepção visual (CUNHA, 1997, p. 50).
ESPORTES Todo tipo de esportes são bons para hiperativos, principalmente os coletivos, que
não só ajudam a gastar a energia, como ensinam a obedecer a regras. Não há
necessidade de cortar atividades da agenda, pois eles funcionam bem e com
bastante adrenalina (NEVES, 2005, p. 53).
BRINQUEDOS E LIVROS Brinquedos recomendados são os que prendam a atenção e exercícios que ajudam
na coordenação motora, ajudam na memória e na hiperatividade. O tempo em frente
ao videogame deve ser limitado. Como é excitante, os hiperativos podem passar
mais tempo jogando e não se dedicando às outras atividades.
Em suma, para incentivar a leitura, tanto os professores quanto os pais devem
preferir livros com letras grandes, frases curtas, muitas figuras, histórias curtas e
interessantes, como também focalizando sua atenção através de atividades opostas
às relaxantes e calmantes. Estimulando o comportamento irrequieto da criança
encorajando-a a olhar isto ou aquilo, chamando sua atenção para o que ela está
fazendo, sem que perceba, assim estaremos ajudando-a tomar consciência e
reconhecer o que faz.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreender a etiologia e os sintomas da hiperatividade é fundamental para o
professor que lida diariamente com um grupo muito grande de alunos com
características socioculturais bem diversas, pois evita o diagnóstico precipitado e
uma rotulação do aluno.
Muitos professores se sentem impotentes e incomodados com as crianças com
TDAH, pois elas não permitem que lhes ensinem conteúdos importantes e parecem
somente querer tumultuar a sala de aula. Com certeza não é só problema do
professor, mas da família, escola, profissionais, que precisam compreender a
hiperatividade como um problema a ser enfrentado de modo multidisciplinar. Assim,
quanto ao docente, quanto mais informações sobre o TDAH, mais ele poderá
contribuir para a diminuição da dificuldade de aprendizagem.
Contudo, o presente estudo buscou aprofundar o conhecimento do Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade e as estratégias de interação e mediação
estabelecidas entre familiares, educadores e sociedade com vista a garantir a
aprendizagem e o desenvolvimento de alunos que apresentam esse diagnóstico.
A escolha do tema e do objetivo de investigação decorreu de um interesse mais
amplo de estabelecer uma maior interação entre os alunos sob o diagnostico de
TDAH e as práticas pedagógicas.
Para tanto, o estudo teve diversas referências literárias que relatam e descrevem
sobre o TDAH e o ambiente escolar e o que pode ser realizado para o melhor
desenvolvimento dessas crianças.
Assim, se considerar, que as crianças passam grande parte do seu tempo na escola
pode afirmar que o papel do professor é de extrema importância e a sua
colaboração é fundamental para o desenvolvimento dos alunos com TDAH.
REFERÊNCIAS ANDRADE, Ênio Roberto de. Indisciplinado ou Hiperativo. Nova Escola, São Paulo, nº132, maio 2002. ANTUNES, Celso. Miopia da Atenção – Problemas de atenção e Hiperatividade em Sala de Aula. 2.ed. São Paulo: Salesiana,2003. BARKLEY, Russsel A. Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade: TDAH. Trad. Luiz Sérgio Roizman – Porto Alegre: Artmed, 2002. BENCZICK, Edyleine Belini Peroni. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: atualização diagnóstica e terapêutica. São Paulo: Casa do Psicólogo. 1999. BUSANI, Érika, Bicho Carpinteiro no mundo da lua, Gazeta do Povo – Viver Bem, Curitiba, 2, jul. 2006, p. 15. COSTA, Anna e KANAREK, Deborah. Hiperativo ou mal-educado? Crescer, São Paulo, n.º 152, p. 31-33, jul. 2006. COLL, César; PALACIOS, Jesús; MARCHESI, Alvaro. Desenvolvimento Psicológico e Educação – Necessidades Educativas Especiais e Aprendizagem Escolar. Porto Alegre: Artmed, 1995. CUNHA, Nilse Helena Silva. Brincar, pensar e conhecer – brinquedos, jogos e atividades. São Paulo: Maltese, 1997. CYPEL, Saul. A criança com Déficit de Atenção e Hiperatividade. 2ª ed. São Paulo: Lemos Editorial, 2003. DINIZ, Margareth; VASCONCELOS, Renata Nunes (Orgs.). Pluralidade cultural e inclusão de professores e professoras. 1ª. ed. Belo Horizonte, MG: Formato, 2004. FULLAN, M. E HARGREVES, A. A escola como organização aprendente: buscando uma educação de qualidade. 2ºed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. GOLDSTEIN, Sam; GOLDSTEIN, Michael. Hiperatividade: como desenvolvimento ver a capacidade de atenção da criança. Campinas, SP: Papirus, 2000. GOLDSTEIN, Sam: I Conferência Internacional sobre Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Ninety Convention Residence Service Transamérica Towers – São Paulo: (14 p. – mimeo) 25, 26 e 27 de novembro de 1999. JONES, Maggie. Hiperatividade: Como Ajudar Seu Filho. São Paulo: Plexus, 2004.
MANNING, Sidney A. O Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. São Paulo: Cultrix, 1999. MANTOAN, M. T. (2006). (Org.) Caminhos pedagógicos da inclusão. São Paulo: Memnon. MARCELLI, D. Manual de psicopatologia da infância de Ajuriaguerra. 5ª ed. (Trad. P. C. Ramos.) Porto Alegre: ARTMED, 1998. MARTINS, V. As crianças disléxicas. (2003). Disponível em: http://www.diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=66356. Acessado em: 28/10/08. ROHDE, L.A.P.; BENCZIK, E.B.P. Transtorno Déficit de Atenção - O que é? Como ajudar?. Porto Alegre. RS: Artes Médicas, 1999. SILVA, A. B. B. (2003). Mentes Inquietas: entendendo melhor o mundo das pessoas distraídas, impulsivas e hiperativas. São Paulo: Editora Gente. SMITH, C. e STRICK, L. Dificuldades de Aprendizagem de A a Z: um guia completo para pais e educadores. 1ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998. TOPAZEWSKI, A. Hiperatividade: como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
Consultas em documentos eletrônicos: KAIPPERT, A.C.M.; DEPOLI, A.M.A.; MUSSEL, F.M.E. Hiperatividade. 2003. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/spdslx08.htm>. Acesso em 05 set. 2009. LANCET. A. Hiperatividade com Déficit de Atenção - Equipe ABC da Saúde. Disponível em: <htpp:// www.psicosite.com.br/tdah.htm> Acesso em: 20 ago. 2009. POSSA, M. de A.; SPANEMBERG, L; GUARDIOLA, A. Comorbidades do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em crianças escolares. 2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/anp/v63n2b/a21v632b.pdf>. Acesso em 05 ago. 2009.