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Hibridismo Cultural no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos Congonhas MG Pâmela Mota Bastos 1 Segundo consta na Biblioteca do IBGE, os primeiros habitantes de Congonhas foram os mesmos portugueses que povoaram Vila Real de Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), seguindo o desbravamento exploratório, sob a bandeira de Bartolomeu Bueno, na região de Paraopeba. Fixaram-se naquele lugar que era uma área localizada na região das Congonhas que fazia limite com Campo Alegre dos Carijós, aldeamento indígena situado em Queluz. Congonhas é o nome do arbusto de chá que havia abundantemente naquela região. (Biblioteca do IBGE - Congonhas) Entre esses exploradores de minérios que vieram, estava o português Feliciano Mendes, fundador Igreja do Bom Jesus de Matosinhos e responsável ela difusão da fé no Bom Jesus pela região. A igreja que deu origem ao Santuário do Bom Jesus de Matosinhos começou a ser construída em 1757, como retribuição a um milagre que lhe foi concebido ao explorador, pelo Bom Jesus de Matosinhos. Após anos trabalhando como minerador, Feliciano adquiriu uma grave doença, fez então uma promessa ao Senhor do Bom Jesus de Matosinhos para que se curasse de tal enfermidade, se tal graça fosse alcançada, passaria a vida a dedicar-se ao Santo. Curou-se da doença e, a partir daí, passou o restante de sua vida empenhado na construção da capela. Oito anos após o início de sua construção, a igreja estava levantada, com três altares abertos aos cultos. (FALCÃO, 1962) A igreja era uma construção simples no estilo tradicional dos primeiros edifícios religiosos construídos em Minas Gerais. Contudo após a morte de seu fundador, Feliciano Mendes, em 1765 ganhou um suntuoso interior com ornamentação Rococó, transformando sua aparência original. Em julho de 1957, o Papa Pio XII elevou a Igreja 1 Mestranda no PPGAV/EBA- UFRJ Bolsista CAPe (CNPq)

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Hibridismo Cultural no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos – Congonhas –

MG

Pâmela Mota Bastos1

Segundo consta na Biblioteca do IBGE, os primeiros habitantes de Congonhas

foram os mesmos portugueses que povoaram Vila Real de Queluz (atual Conselheiro

Lafaiete), seguindo o desbravamento exploratório, sob a bandeira de Bartolomeu

Bueno, na região de Paraopeba. Fixaram-se naquele lugar que era uma área localizada

na região das Congonhas que fazia limite com Campo Alegre dos Carijós, aldeamento

indígena situado em Queluz. Congonhas é o nome do arbusto de chá que havia

abundantemente naquela região. (Biblioteca do IBGE - Congonhas)

Entre esses exploradores de minérios que vieram, estava o português Feliciano

Mendes, fundador Igreja do Bom Jesus de Matosinhos e responsável ela difusão da fé

no Bom Jesus pela região.

A igreja que deu origem ao Santuário do Bom Jesus de Matosinhos começou a

ser construída em 1757, como retribuição a um milagre que lhe foi concebido ao

explorador, pelo Bom Jesus de Matosinhos. Após anos trabalhando como minerador,

Feliciano adquiriu uma grave doença, fez então uma promessa ao Senhor do Bom Jesus

de Matosinhos para que se curasse de tal enfermidade, se tal graça fosse alcançada,

passaria a vida a dedicar-se ao Santo. Curou-se da doença e, a partir daí, passou o

restante de sua vida empenhado na construção da capela. Oito anos após o início de sua

construção, a igreja estava levantada, com três altares abertos aos cultos. (FALCÃO,

1962)

A igreja era uma construção simples no estilo tradicional dos primeiros edifícios

religiosos construídos em Minas Gerais. Contudo após a morte de seu fundador,

Feliciano Mendes, em 1765 ganhou um suntuoso interior com ornamentação Rococó,

transformando sua aparência original. Em julho de 1957, o Papa Pio XII elevou a Igreja

1 Mestranda no PPGAV/EBA- UFRJ – Bolsista CAPe (CNPq)

principal à categoria de Basílica Menor, devido à importância artística, histórica e

religiosa do Conjunto. (FALCÃO, 1962)

A execução do adro dos Profetas levou em torno de treze anos para ser executada

e consumiu uma enorme quantidade de pedra para ser erigido. Essas estátuas são

consideradas o maior conjunto estatuário barroco do mundo. Também são consideradas

a maior obra-prima de Aleijadinho, que quando as esculpiu, em conjunto com alguns

ajudantes, já passava dos sessenta anos e estava extremamente debilitado pela doença

que lhe causara perda de dedos, dentes e desfiguração facial. (IPHAN)

Localizadas no adro, que constitui um lugar mediador por excelência, coloca-se

exatamente no limiar entre o espaço externo e interno, entre o privado e o público, entre

o sagrado e o profano. Por serem, essas estátuas, portadoras de valor sagrado, o que se

entende por ato de depredação ou vandalismo talvez esteja muito mais próximo à

prática dos ex-votos, ligada às tradições religiosas locais.

Fé e Religiosidade

Segundo conta a lenda, a fé no Bom Jesus de Matosinhos originou-se em Portugal

a partir de uma imagem encontrada a beira mar, na Praia de Matosinhos, distrito do

Porto. Essa fé foi posteriormente trazida para Congonhas pelos exploradores

portugueses, que para lá foram em busca de ouro.

Em Congonhas, além das comemorações da Semana Santa, há também o Jubileu

do Bom Jesus de Matosinhos, realizado há mais de duzentos e cinquenta anos

(aproximadamente desde 1757). Depois da instituição oficial do Jubileu, em março de

1779, pelo Papa Pio VI, o Jubileu do Bom Senhor Jesus de Matosinhos tornou-se o

maior evento religioso de Minas Gerais, atraindo mais de duzentos mil visitantes anuais.

Durante o evento, acontece uma extensa feira no entorno do Santuário onde

diversos tipos de produtos são vendidos. Desse comércio, muitas famílias ainda tiram

seu sustento do ano inteiro. (Diário Eletrônico Oficial de Congonhas, p.1)

Durante o Jubileu boa parte dos fiéis se dirigem à Sala dos Milagres, na lateral do

Santuário, para deixar seus ex-votos. Há aproximadamente 30 anos a entrada principal

da igreja tem permanecido fechada durante o evento, assim como o acesso ao adro dos

profetas. Somente é possível acessar o seu interior através de uma entrada lateral, onde

desde as primeiras horas da madrugada, forma-se a fila para o encontro com a imagem

do Bom Jesus, situada em sua nave. Segundo os responsáveis pelo Santuário, o acesso

ao adro permanece fechado somente durante o Jubileu, para que seja mantida a

integridade física das estátuas e do parapeito – ambos em pedra sabão – devido ao

grande número de visitantes e à relativa fragilidade do material. É por lá também que os

padres passam para realizar as missas, que durante o evento, são celebradas do lado de

fora da Basílica.

Peregrinação e tradições locais

Traçando, uma correlação entre o Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos e a Festa

do Divino Espírito Santo, estudada por Gonçalves (2009:19), com relação ao

significado da festa em homenagem ao santo:

Na ideologia dos devotos, a festa é realizada para agradar o Divino Espírito

Santo, a partir do momento em que se faz alguma “promessa” ou quando se

pretende retribuir alguma “graça” recebida. Essas são as noções nativas por

meio das quais se expressa de modo sensível a relação de troca entre os de-

votos e o Divino Espírito Santo.

Esse deslocamento não é somente físico como também espiritual. Trata-se de uma

jornada que terminará no contato com o sagrado, como bem esclarecido por Wilson

Trajano Filho (2009: 59), quando trata do cortejo das tabancas (festejo popular realizado

nas ilhas cabo-verdianas de Santiago e Maio). A conduta por parte dos peregrinos, que

não só organiza como dá sentido à experiência, cria regras próprias que, uma vez

assimiladas, passam a fazer parte dessa tradição, sendo incorporadas às já existentes ou

criando novas regras.

A jornada afasta os peregrinos das situações ordinárias, ligadas ao pecado, às

transgressões morais e oferece recompensas não materiais para seu sacrifício.

É importante frisar que a prática desobrigadora da promessa ou voto, que

agrega como elemento material o objeto ofertado, compõe-se, na realidade,

de uma vivência que abrange diversos estágios: o momento de vicissitude

que originou o voto; a manifestação do sobrenatural; a resolução do impasse;

os preparativos para o cumprimento da promessa (encomenda ou execução

do objeto pelo miraculado, confecção de vestimenta apropriada para o

desempenho ritual, etc); a peregrinação ao centro religioso sob a invocação

do orago; e finalmente, o momento em que o crente concretiza a sua

promessa, no espaço sagrado do templo. (MAGALHÃES, 1981: 22)

Essa peregrinação pode ser dividida em dois momentos importantes: primeiro, a

partida, que se refere ao deslocamento em direção ao local sagrado, cheia de

penitências, sacrifícios e de preparações para a chegada ao Santuário. No caso de alguns

grupos, além da longa caminhada de três dias, de chinelo, enfrentando adversidades e

contando com a caridade dos donos das propriedades que atravessavam para poder se

alimentar, alguns grupos carregavam cruzes de madeira de aproximadamente três

metros, para reforçar o sacrifício empregado pelos peregrinos em sua jornada sagrada.

Essa cruz é assinada por cada um dos integrantes da romaria e deixada na Sala dos

Milagres. A chegada desses grupos ao Santuário é marcada por muita comoção por

parte de todos os participantes da festa, inclusive dos moradores e religiosos.

Além dos perigos naturais decorrentes do deslocamento por espaços físicos

desconhecidos, muitas vezes inóspitos, e de doenças de toda ordem, os

peregrinos se defrontam com perigos sociais e sobrenaturais decorrentes do

fato de sua trilha cortar fronteiras sociais, políticas e culturais em vários

níveis (local, regional e internacional), conduzindo-os por espaços tão ou

mais perigosos do que as terras dos outros. (FILHO, 2009: 59)

O segundo momento importante dessa jornada é a volta, quando o devoto quer

retornar renovado e o mais rapidamente possível ao seu ponto de origem.

Marcel Mauss, em seu livro “Sobre o Sacrifício” (2013: 17), desenvolve o

pensamento a respeito do sacrifício como sendo um ato de consagração de um

determinado objeto: “em todo sacrifício, um objeto passa do domínio comum ao

domínio religioso – ele é consagrado”. Há a esperança de que seu sacrifício seja

recompensado pela sua divindade, de que seu sofrimento seja aliviado, que seus pecados

sejam perdoados e de que as mazelas do corpo sejam curadas.

É o fechamento de um ciclo, quando finalmente cumpre-se a promessa feita. A

cada ano o ciclo se renova e uma parte do grupo repete o ritual anualmente.

Segundo Brandão (1985: 137):

As ocasiões de coletivização urbanizada da prática religiosa sempre foram

um momento de uso privilegiado de recursos rituais para o saldo de

compromissos (voto, promessa) assumidos com a divindade, ou com algum

santo padroeiro ou protetor de pessoas com problemas pessoais específicos.

No caso do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos foi a história do seu

idealizador, Feliciano Mendes e a sua cura milagrosa atribuída ao Bom Jesus de

Matosinhos. Esses testemunhos de milagres aproximam o devoto de seu orago através

não só da oração, mas da aproximação com o lugar sagrado como um todo.

As relações com o sagrado, afirma Wilson Trajano Filho (2009: 60), são

orientadas por uma ética pautada nas relações de troca. Os santuários são lugares para

transações entre os homens e o sagrado. Os peregrinos oferecem o sacrifício de seu

corpo e mais uma série de bens tangíveis como os ex-votos, ou intangíveis como seu

tempo, esperando em troca, favores materiais e espirituais.

Essa tradição profética foi trazida para o Novo Mundo desde que os primeiros

missionários portugueses vieram ao Brasil para evangelizar os “selvagens”. De início o

“profeta” apareceu como uma construção negociada e a linguagem religiosa foi o campo

de mediação em que as culturas buscaram o sentido da diversidade da outra. (POMPA,

2001:.177).

Em grego prophetes em seu sentido original significava adivinho, especialista em

adivinhação, ligada a previsão de desastres e calamidades. Num segundo momento, com

o colapso de Judá, o termo passa a proclamar com os chamados profetas posteriores

(Isaias, Ezequiel, etc), uma nova ordem, um Novo Reino.

Hibridismo cultural

Entre os anos de 1547 e 1555, o alemão Hans Staden esteve no Brasil por duas

vezes. Em sua segunda viagem, a bordo de um navio espanhol, sofreu um naufrágio a

caminho de São Vicente. Conseguiu chegar em terra e lá viveu por aproximadamente

dois anos na companhia de portugueses, os quais já haviam estabelecido relações

amigáveis com índios Tupiniquins que habitavam a região (Itanhaém, também no litoral

paulista).

Certo dia quando estava procurando seu escravo que saiu atrás de caça para sua

alimentação, foi surpreendido e cercado pelos Tupinambás, que eram inimigos dos

Tupiniquins, e levado com eles. Como estava entre os portugueses aliados de seus

inimigos, foi levado para sua tribo e lá seria morto e comido em um ritual. Conseguiu a

muito custo sobreviver, convencendo-os de que não era português como os demais e

que, por tanto, não se tratava de um inimigo. Sobreviveu para contar o que presenciou e

descreveu em seu livro, com detalhes, esses rituais que envolviam o consumo de carne

humana inimiga, entre os Tupinambás.

Seu livro foi traduzido para muitos idiomas em muitas edições, o que tornou

muito conhecido o conceito de canibalismo pelo mundo inteiro.

Já havia, desde a antiguidade, a ideia estereotipada de consumo de carne humana

por povos ditos “bárbaros” ou “primitivos”. Esse estereótipo de canibal serviu por

séculos aos interesses europeus de se colocarem de forma superior (civilizados) sob

esses povos (não civilizados) e de servir como justificativa para sua dominação, o que

aconteceu também aqui no Brasil.

No Brasil, durante a Semana de Arte Moderna de 1922, Oswald de Andrade

retoma esse conceito de canibalismo em seu Manifesto Antropófago e o reinterpreta,

propondo uma reflexão crítica sobre a herança colonial no Brasil.

Durante a fase inicial do modernismo brasileiro há uma forte busca por

referenciais para a construção de uma identidade nacional, para isso, Oswald propõe

então uma descolonização.

“Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A

unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a

Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem”.

(ANDRADE, 1928:14)

Oswald então incita a que a população brasileira adote uma atitude antropófaga, ou

seja, devorar a influência europeia e misturá-la às tradições locais para, a partir desta

“deglutição”, criar um produto cultural híbrido e especificamente brasileiro.

A metáfora estabelecida por Oswald, entre o canibalismo (entendido como ato de

se alimentar da carne humana) e a antropofagia (como ritual de absorção de elementos

culturais de outros, misturado há elementos próprios, tendo como produto final algo

singular) permite ampliar a utilização desse conceito (antropofagia) para um espectro

maior, ligado especialmente às interações culturais.

Essa reformulação enfatiza o aspecto hibridizador da antropofagia, revogando

dicotomias hegemônicas, possibilitando uma interação entre diferentes elementos

culturais, como é o caso do Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos e de suas tradições.

Parte dessas tradições foram parcialmente herdadas de seus exploradores

portugueses, como a própria fé no Bom Jesus de Matosinhos, e outras que foram sendo

constituídas, como a “fila do beijo”2, o s ex-votos e, mais especificamente, a tradição de

se registrar a pedra sabão com mensagens, que tem acontecido há muitas décadas, (pelo

menos desde o século XVII).

Expressões culturais e antropofagia

Por ter sido concebido como pagamento a uma promessa, após um milagre

recebido (um ex-voto), o Santuário tornou-se, ao longo do tempo, um espaço de

peregrinação de devotos, que aparecem de todos os cantos do Brasil e do mundo, com o

intuito de “pagar” por graça recebida. Muitos desses devotos dirigem-se à Sala dos

Milagres, na lateral do Santuário, para deixar seus ex-votos.

2 .A “Fila do Beijo” é a fila que os devotos e romeiros formam em frente a entrada lateral

da igreja, aguardando desde a madrugada (mais ou menos a partir das 03:30h), para ver de perto a

imagem do Bom Jesus.

A estimativa é de que o número de visitantes ultrapasse os 200 mil anuais

(FRANÇA, 2001:17), o que é impressionante, em uma cidade cuja população atual

(2016) é de 58. 348 habitantes. (IBGE)3

Quando a 8 de abril de 1757, Feliciano Mendes colocou a imagem do Senhor

Bom Jesus de Matosinhos no Nicho junto à grande cruz que plantara no Monte

do Alto do Maranhão, com muita festa, orações e sermão, lançou as raízes da

peregrinação que, mais tarde, passou a ser chamada Jubileu. (FRANÇA, 2001,

p. 17)

Victor Turner, em seu livro “Floresta de Símbolos” (2005, p. 49), esclarece o

sentido do termo ritual: “Por ‘ritual’, entendo o comportamento formal prescrito para

ocasiões não devotadas às rotinas tecnológicas, tendo como referência a crença em seres

ou poderes místicos.”. Cabe aqui esclarecer que o sentido para o termo “ritual” aqui

empregado se estenderá por pelo menos duas direções, que segundo Edmund Leach

(apud Brandão, 2010: 20), são: a primeira diz respeito ao fato de que o comportamento

festivo de seus integrantes não ter que, necessariamente, ser regido por normas solenes.

A expressão dos sentimentos e a possibilidade de o comportamento coletivo ser

somente irreverente, mas transgressivo, é o que dá caráter específico a certos rituais. A

segunda, o fato de não haver necessidade de uma relação explícita entre “o que se faz” e

o “a quem se faz”, (enquanto entidade mística).

Independentemente da época, lugar ou crença, o fenômeno das peregrinações tem

em comum traços suficientes para que possamos tentar compreender o que leva tantos

homens e mulheres a peregrinar e o que essas pessoas tiram dessa experiência. O mais

importante em uma peregrinação é que, uma vez realizada no quadro de um processo

quase sempre coletivo, efetivamente essa experiência é pessoal. Segundo Meslin (2014

p. 200-201): “Toda peregrinação é uma experiência individual porque voluntária”. Um

indivíduo se coloca em uma sociedade difusa que, através do tempo e do espaço,

marcou o caminho que ele segue por razões extremamente pessoais.

“a multiplicidade dos testemunhos arqueológicos, dos ex-votos, das inscrições,

atesta a existência de peregrinações de terapia bem antes do cristianismo e de

seus santos curadores.” (MESLIN, 2014: 210)

3 Fonte: Disponível em:

http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?codmun=311800&idtema=130 Acesso em 01/05/2017.

Mesmo atualmente, em sociedades materialmente confortáveis nas quais um

peregrino não enfrenta mais lobos, bandidos, fome, sede ou intempéries mais extremas,

como se costumava séculos atrás, o mesmo enfrenta obstáculos e provações ligadas ao

seu estado psicológico ou às novas “dificuldades contemporâneas”, como a falta de

tempo, por exemplo. A fé no poder divino que encontrarão na chegada ao local sagrado

é o que anima os peregrinos, fé que foi, talvez desde o início, esperança naquele que

pode curar um mal físico, quando a medicina humana falha e mostra-se impotente,

Conclusão

Apesar de não fazer parte das tradições oficiais do catolicismo, a prática dos ex-

votos faz-se presente nas tradições ditas populares, como um corolário dessa

peregrinação, a comprovação física da passagem do peregrino pelo Santuário, o efetivo

pagamento da promessa realizada, que somente termina quando o devoto chega ao local

sagrado, especificamente no caso de Congonhas e do Jubileu do Bom Jesus de

Matosinhos, essa culminância acontece na subida ao adro, onde não só encontra-se a

entrada da Basílica e a Sala dos Milagres, como as imagens das estátuas dos doze

Profetas de Aleijadinho. Sendo assim, o ex-voto (originalmente voto cumprido), torna-

se testemunho, daí sua grande importância dentro dos rituais religiosos locais, sendo a

pedra - o arquétipo da permanência, da durabilidade - a superfície ideal para que seja

feito o registro dessa passagem.

A história do Santuário tem mostrado que as expressões de religiosidade popular,

em especial a prática dos ex-votos, são de fundamental importância para tentarmos

compreender o ato de registrar mensagens nas áreas em pedra sabão do Santuário, como

parte de uma tradição ligada às peregrinações e romarias, que culminam com o

pagamento de promessa por graça recebida. As estátuas dos doze profetas seriam as

mediadoras entre os devotos e seus santos de devoção – nesse caso o Bom Jesus de

Matosinhos – para isso, requerem durante as celebrações, uma aproximação física, o

que não é comumente aceito em relação aos objetos considerados artísticos.

No livro “A Reconquista de Congonhas”, Lourival Gomes Machado (1960: 46,

grifo meu) afirma que tais inscrições seriam “deploráveis danos causados por

romeiros ignorantes a cada setembro e ao decorrer do ano, com a ponta do

canivete”. Essa foi até agora a única referência encontrada sobre tais registros.

Essa interpretação aproxima o ato de registrar mensagens no parapeito e estátuas

do adro, dos atos conscientes de depredação, que atualmente vincula-se ao conceito de

vandalismo. Ao mesmo tempo, aponta para uma relação direta entre o ato de registrar

apedra sabão e o Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos (que acontece em setembro entre

os dias 7 e 14).

O fato de o tombamento ter agregado um novo status ao Santuário, o de “obra de

arte”, além dos que já haviam sido construídos pelos antigos usuários (moradores,

romeiros), permite-nos refletir sobre até que ponto o conflito existente entre essas

instâncias de legitimação (IPHAN, Igreja, etc) teria culminado em uma hierarquização

de valores simbólicos, tendo o valor artístico sido sobreposto aos demais. Diante desse

quadro, o que já existia como expressão cultural local, tornou-se não só marginalizada,

como foi proibida por lei. No entanto, o que se percebe é que, mesmo com repressão, os

registros sob apedra sabão continuam sendo feitos no parapeito e estátuas do Santuário.

Ao interpretar o ato de registrar a pedra sabão dentro do contexto das interações

culturais ligadas a religiosidade local, especialmente ao Jubileu do Bom Jesus

(lembremos que o adro permanece fechado somente durante o Jubileu e em nenhum

outro momento) podemos concluir: primeiro, como resultado de uma hibridização

cultural, na qual as tradições religiosas trazidas de Portugal para Congonhas foram

misturando-se às tradições que já existiam aqui, transformando-se em algo próprio;

segundo, que o a tradição de registrar a pedra sabão pode ser lida como uma resistência

aos elementos externos a essa cultura, já que durante muitos anos, registrar a pedra era

permitido e, mesmo após sua proibição, houve - e talvez ainda haja – uma certa

permissividade com relação a isso, tendo em vista o fato de elas ainda acontecerem,

mesmo sendo proibido e estando o Santuário sob vigilância permanente.

Segundo Becker (2008:15) há uma enorme quantidade de regras que podem ser

formalmente promulgadas na forma da lei; em outros casos, tratam-se de acordos

informais. Aquele que desvia as regras, o outsider, ou melhor, desviante, tem sido

objeto de estudo científico, entretanto, sem que se questione esse rótulo. O termo

geralmente é aplicado a atos ou pessoas particulares, aceitando-se assim, os valores do

grupo que formulou o julgamento. Se o meio científico ignora o caráter variável do

processo de julgamento, os tipos de teorias e o tipo de compreensão que se pode ter dos

fatos, acabam sendo limitados.

As sociedades modernas são organizações complexas, em que grupos sociais

criam regras específicas, as quais nem todos concordam com relação ao que são ou às

suas aplicações. São diferenciadas entre linhas de classes sociais, étnicas, ocupacionais

e culturais distintas. Esses diferentes grupos dificilmente partilhas as mesmas regras,

devido aos problemas que enfrentam ao lidar com seu ambiente, a história e as tradições

que carregam, tudo conduz a diferentes conjuntos de regras. A medida que as desses

diferentes grupos se chocam e/ou se contradizem, haverá desacordo quanto ao que seria

o comportamento “adequado”, seja qual for a situação.

Para Wagner (2012: 111) o termo “contexto” deve ser ampliado e aplicado “a

qualquer punhado de elementos simbólicos que ocorram juntos de alguma maneira”,

formando uma sequência ou entidade reconhecível ou entrando em oposição, como

aspectos contrastantes de uma distinção. Cabe também salientar que para o autor, tanto

a comunicação quanto os significados são mantidos por meio de uso de elementos

simbólicos, sejam eles palavras, imagens ou gestos, e quando esses elementos são

isolados de seu contexto e visto como coisas em si, perdem significação. Esses

elementos somente têm significado, sendo associados ou opostos uns aos outros em toda

sorte de contextos. O significado seria uma função das maneiras pelas quais criamos e

experienciamos esses contextos. Sendo assim, interpretar ao registros feitos sob a pedra

sabão sem levar em conta o contexto no qual elas estão inseridas – o religioso – seria

ignorar suas possibilidades de compreensão.

Voltando ao conceito de antropofagia Oswaldiana, no qual a heterogeneidade da

cultura brasileira é exaltada, e propondo uma articulação com a reflexão sobre

hibridização cultural de Homi K. Bhabha (apud Grun, 2014: 30), podemos interpretar o

ato de registrar apedra sabão dentro desse espectro de interações culturais e de

resistência.

Segundo Bhabha no hibridismo ocorre uma inversão estratégica do processo de

dominação, em que o colonizado não se adapta totalmente a cultura do colonizador, eles

se apropriam de elementos da cultura da metrópole, transformando-a ao integrá-los em

sua própria cultura. Nesse “terceiro espaço” acontece uma renegociação de símbolos

culturais. (Bhabha, apud Grun, 2014: 30).

Ao interpretar os registros que têm sido feitos sobre as áreas em pedra sabão no

adro dos profetas de Aleijadinho, não considerando o contexto religioso em que elas

estão inseridas, e levando em consideração somente o aspecto artístico atribuído à elas,

em que qualquer interferência em suas propriedades físicas é diretamente proibido,

ignora-se toda uma relação simbólica que não condiz com qualquer tentativa de

vandalização. Levemos em conta ainda, o fato de não haver qualquer registro sobre

pichações ou até mesmo registros quaisquer escritos nas paredes do próprio adro ou do

Santuário como um todo. Percebe-se que ligação da grande maioria dos visitantes

limita-se ao sagrado ou ao valor artístico, não havendo, até o momento razões para

acreditar que registrar a passagem pelo adro carregue qualquer marca de transgressão

intencional.

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