Hermeneutica - Material Didatico

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Hermenêutica

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Hermenêutica

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Elaboração:

- Rita Estefânia Luz dos Passos Matos

- Rogério de Moraes Silva

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Apresentação............................................................................................................................

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa .......................................................................

Organização da Disciplina .........................................................................................................

Introdução ................................................................................................................................

Unidade I – Aspectos Introdutórios........................................................................................

Capítulo 1 – Introdução à Hermenêutica Bíblica.......................................................................

Capítulo 2 – História da Interpretação.....................................................................................

Unidade II – Análises.............................................................................................................

Capítulo 3 – Análise Histórico-Cultural e Contextual................................................................

Capítulo 4 – Análise Léxico-Sintática.......................................................................................

Capítulo 5 – Análise Teológica...............................................................................................

Unidade III – Métodos e Princípios........................................................................................

Capítulo 6 – Métodos Literários Especiais...............................................................................

Capítulo 7 – Princípios de Interpretação................................................................................

Referências ................................................................................................................................

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Caro aluno,

Bem-vindo ao estudo da disciplina Hermenêutica.

Este é o nosso Caderno de Estudos e Pesquisa, material elaborado com o objetivo de

contribuir para a realização e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a

ampliação de seus conhecimentos.

Para que você se informe sobre o conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, conheça os

objetivos da disciplina, a organização dos temas e o número aproximado de horas de estudo

que devem ser dedicadas a cada unidade.

A carga horária desta disciplina é de 40 (quarenta) horas, cabendo a você administrar o tempo

conforme a sua disponibilidade. Mas, lembre-se, há uma data-limite para a conclusão da

disciplina, incluindo a apresentação ao seu tutor das atividades avaliativas indicadas.

Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos de forma

didática, objetiva e coerente.

Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, que farão parte

das atividades avaliativas da disciplina; serão indicadas também fontes de consulta para

aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados nesta disciplina. Lembre-

se de que, apesar de distantes, podemos estar muito próximos.

A Coordenação

Apresentação

C

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Apresentação: Mensagem da Coordenação.

Organização da Disciplina: Apresentação dos objetivos e da carga horária das unidades.

Introdução: Contextualização do estudo a ser desenvolvido por você na disciplina, indicando a

importância desta para sua formação acadêmica.

Ícones utilizados no material didático

Provocação: Pensamentos inseridos no material didático para provocar a reflexão sobre sua

prática e seus sentimentos ao desenvolver os estudos em cada disciplina.

Para refletir: Questões inseridas durante o estudo da disciplina, para estimulá-lo a pensar a

respeito do assunto proposto. Registre sua visão, sem se preocupar com o conteúdo do texto.

O importante é verificar seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É

fundamental que você reflita sobre as questões propostas. Elas são o ponto de partida de

nosso trabalho.

Textos para leitura complementar: Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos de

dicionários, exemplos e sugestões, para lhe apresentar novas visões sobre o tema abordado no

texto básico.

Sintetizando e enriquecendo nossas informações: Espaço para você fazer uma síntese dos

textos e enriquecê-los com sua contribuição pessoal.

Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas: Aprofundamento das discussões.

Praticando: Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de

fortalecer o processo de aprendizagem.

Para (não) finalizar: Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir com

a reflexão.

Referências: Bibliografia consultada na elaboração da disciplina.

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Organização da Disciplina

Ementa

Introdução à Hermenêutica Bíblica. História da Interpretação Bíblica. Análise Histórico-Cultural e Contextual. Análise Léxico-Sintática. Análise Teológica. Métodos Literários Especiais e Princípios de Interpretação

Objetivos

• Definir e distinguir os termos hermenêutica e exegese.

• Descrever os vários campos de estudo bíblicos (estudo do cânon, crítica textual, crítica histórica, exegese, teologia bíblica e teologia sistemática).

• Apresentar a necessidade e a base bíblica da hermenêutica.

• Levantar aspectos da história da interpretação bíblica.

• Considerar o ambiente histórico-cultural do autor, a fim de entender suas alusões, referências e propósitos.

• Relacionar uma passagem com o escrito completo do autor, conhecendo melhor seu pensamento geral e melhorando a compreensão da passagem.

• Analisar melhor a definição das palavras (lexicologia) e sua relação umas com as outras (sintaxe) objetivando melhor compreender o sentido original do texto.

• Considerar o nível de compreensão teológica na época da revelação, levando em conta os textos correlatos, a fim de prover uma melhor compreensão do significado do texto para os seus primitivos destinatários.

• Diferenciar: Símiles, Metáforas, Provérbios, Parábolas, Alegorias, Tipos e Profecias.

• Identificar os Princípios Gerais de Interpretação, Princípios Gramaticais de Interpretação, Princípios Históricos e Culturais de Interpretação e Princípios Teológicos de Interpretação.

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Unidade I – Aspectos Introdutórios

Carga horária: 10 horas

Conteúdo Capítulo

Introdução a Hermenêutica Bíblica 1

História da Interpretação Bíblica 2

Unidade II – Análises

Carga horária: 15 horas

Conteúdo Capítulo

Análise Histórico-Cultural e Contextual 3

Análise Léxico-Sintática 4

Análise Teológica 5

Unidade III – Métodos e Princípios

Carga horária: 15 horas

Conteúdo Capítulo

Métodos Literários Especiais 6

Princípios de Interpretação 7

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Introdução

Como cristãos e integrantes do povo de Deus, devemos buscar o entendimento dos

ensinamentos bíblicos de acordo com seus significados.

Devemos aprender a discernir esses significados na variedade de contextos novos ou

diferentes dos nossos próprios dias, que é a tarefa da HERMENÊUTICA.

Os assuntos relevantes de nossa disciplina serão: a história da hermenêutica, as formas

de análise, os métodos e os princípios de interpretação bíblica.

Portanto, nosso material didático tratará da disciplina Hermenêutica, que é a síntese dos

resultados da exegese, tornando-a relevante para todo leitor da Palavra de Deus.

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UNIDADE I – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Capítulo 1 – Introdução a Hermenêutica Bíblica

1. DEFINIÇÕES

a) Do nome HERMES, deus grego que servia de mensageiro dos deuses, transmitindo e

interpretado suas comunicações.

b) Do grego HEMENEUO: Interpretar.

c) Ciência e Arte de Interpretar

Ciência: porque tem normas, ou regras, e essas podem ser classificadas num sistema

ordenado.

Arte: porque a comunicação é flexível. Uma aplicação mecânica e rígida das regras, às

vezes distorcerá o verdadeiro sentido de uma comunicação.

d) Hermenêutica Bíblica, é o estudo metódico dos princípios e regras de interpretação

das Sagradas Escrituras.

Diferença entre Interpretar e Aplicar

• Interpretar: explicar, traduzir exegeticamente; buscar o espírito do que

está escrito.

Aplicar: por em prática, adaptar, adequar.

2. A EXEGESE

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Nossa tarefa é dupla: Primeiro, descobrir o que o texto significava originalmente, esta

tarefa é chamada exegese.

Para nós, exegese é ler e explicar os textos em empatia (e simpatia) com os escritores

bíblicos. O exegeta é primeiramente um historiador que analisa os documentos.

Todavia, ele tem de ir além da análise impessoal: é necessário assumir a fé que o

escritor possuía para entender seus escritos. A exegese é um trabalho literário-espiritual.

. Exegese é uma palavra que vem da língua grega, sendo composta da preposição EK

(de) e da forma substantiva do verbo HEGEOMAI (ir, guiar, conduzir) e significa

"conduzir para fora" o sentido original de um texto. Na exegese procuramos entrar no

texto (EIS), e ficar nele (EN), para então sairmos dele (EK) tirando lições para nós.

A primeira tarefa do intérprete chama-se exegese. A exegese é o estudo cuidadoso e

sistemático da Escritura para descobrir o significado original que foi pretendido. A

exegese é basicamente uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme

os destinatários originais devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das

palavras da Bíblia. Esta é a tarefa que frequentemente exige a ajuda do "perito," aquela

pessoa cujo treinamento a ajudou a conhecer bem o idioma e as circunstâncias dos

textos no seu âmbito original. Não é necessário, no entanto, ser um perito para fazer boa

exegese.

Na realidade, todos são exegetas dalgum tipo. A única questão real é se você vai ser um

bom exegeta. Quantas vezes, por exemplo, você ouviu ou disse: "O que Jesus queria

dizer com aquilo foi..." "Lá naqueles tempos, tinham o costume de .. ."? São expressões

exegéticas. São empregadas mais frequentemente para explicar as diferenças entre

"eles" e "nós" — por que não edificamos parapeitos em redor das nossas casas, por

exemplo, ou para dar uma razão do nosso uso de um texto de uma maneira nova ou

diferente — por que o aperto da mão frequentemente tomou o lugar do "ósculo santo."

Até mesmo quando tais ideias não são articuladas, são, na realidade, praticadas o tempo

todo de um modo que segue o bom-senso.

O problema com boa parte disto, no entanto, é (1) que tal exegese frequentemente é

seletiva demais, e (2) que frequentemente as fontes consultadas não são escritas por

"peritos verdadeiros," ou seja: são fontes secundárias que também empregam outras

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fontes secundárias, ao invés das fontes primárias. São necessárias umas poucas palavras

acerca de cada um destes problemas:

1. Embora todos empreguem exegese nalgumas ocasiões, e embora muito

frequentemente semelhante exegese seja bem feita, mesmo assim, tende a ser

empregada somente quando há um problema óbvio entre os textos bíblicos e a cultura

moderna. Posto que realmente deve ser empregada para tais textos, insistimos que é o

primeiro passo ao ler TODO texto. De início, isto não será fácil de fazer, mas aprender a

pensar exegeticamente pagará ricos dividendos no entendimento, e tornará a leitura, sem

mencionar o estudo da Bíblia, uma experiência muito mais emocionante. Note bem, no

entanto: Aprender a pensar exegeticamente não é a única tarefa; é simplesmente a

primeira tarefa.

O problema real com a exegese "seletiva" é que a pessoa frequentemente atribuirá suas

próprias ideias, completamente estranhas, a um texto e, assim, fará da Palavra de Deus

algo diferente daquilo que Deus realmente disse. Por exemplo, um dos autores deste

livro recentemente recebeu uma carta de um evangélico bem conhecido, que

argumentou que o autor não deveria comparecer a uma conferência juntamente com

outra pessoa bem conhecida, cuja ortodoxia era algo suspeita. A razão bíblica dada para

evitar a conferência foi 1 Tessalonicenses 5.22: "Abstende-vos de toda forma do mal".

Se, porém, nosso irmão tivesse aprendido a ler a Bíblia exegeticamente, não teria usado

o texto dessa maneira. Ora, 1 Ts. 5:22 foi a palavra final de Paulo num parágrafo aos

tessalonicenses a respeito das expressões carismáticas na comunidade. "Não tratem as

profecias com desprezo", diz Paulo. "Pelo contrário, testem tudo, e apeguem-se ao que é

bom, mas evitem todas as formas malignas." "Evitar o mal" tem a ver com "profecias,"

que, ao serem testadas, revelam-se não serem do Espírito. Fazer este texto significar

alguma coisa que Deus não pretendeu é abusar do texto, não usá-lo. Para evitar erros

deste tipo, devemos, aprender a pensar exegeticamente, ou seja: começar no passado, lá

e então, e fazer assim com todos os textos.

2. Conforme logo notaremos, não se começa consultando os "peritos." Mas quando for

necessário fazê-lo, devemos procurar usar as melhores fontes. Por exemplo, em Marcos

10.23 (Mt. 19.23; Lc 18.24), no término da história do jovem rico, Jesus diz: "Quão

dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!" Passa a acrescentar: "É

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mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino

de Deus." Frequentemente se diz que havia uma porta em Jerusalém chamada o "Fundo

da Agulha," pela qual os camelos somente poderiam atravessar de joelhos, e com grande

dificuldade. A lição desta "interpretação" é que um camelo poderia realmente passar

pelo "Fundo da Agulha." O problema desta "exegese," no entanto, é que simplesmente

não é verdadeira. Nunca houve semelhante porta em Jerusalém, em qualquer período da

sua história. A primeira "evidência" que se conhece em prol de tal ideia é achada no

século XI d.C. (!), num comentário de um eclesiástico grego chamado Teofilacto, que

tinha a mesma dificuldade com o texto que nós temos. Afinal das contas, é impossível

para um camelo passar pelo fundo de uma agulha, e era exatamente o que Jesus queria

ensinar. É impossível para alguém que confia nas riquezas entrar no Reino. É necessário

um milagre para uma pessoa rica receber a salvação, o que é certamente a lição das

palavras que se seguem: "Para Deus tudo é possível."

Devemos aprender a discernir esse mesmo significado na variedade de contextos novos

ou diferentes dos nossos próprios dias, esta é a tarefa da HERMENÊUTICA. Em

definições clássicas a hermenêutica abrange ambas as tarefas, mas em tratados recentes

a tendência tem sido separar as duas.

Hermenêutica é a síntese dos resultados da exegese, tornando-a relevante para o leitor,

ou auditório.

• Descrever os vários campos de estudo bíblicos (estudo do cânon, crítica textual,

crítica histórica, exegese, teologia bíblica e teologia sistemática). Apresentar a

necessidade e a base bíblica da hermenêutica.

3. ESTUDO DA CANONICIDADE

Perceberemos neste campo que se estuda a diferenciação entre os livros que não trazem

o selo da inspiração divina e os que o trazem. Este foi um processo histórico no qual o

Espírito Santo guiou a Igreja neste reconhecimento.

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CRÍTICA TEXTUAL

Observamos que o estudo aqui é focado na análise do fraseado primitivo de um

texto(conhecido também com BAIXA CRÍTICA), isto por não possuirmos os originais,

sim apenas cópias e estas variando muito entre si. F.F.Bruce diz que:

“As variantes leituras acerca das quais permanece alguma dúvida entre os críticos

textuais do NT, não afetam nenhuma questão essencial do fato histórico ou da fé e

práticas cristãs.”

É importante considerar que na prática, não devemos nos esquecer que as dúvidas são

suscitadas no campo acadêmico, e as divergências devem permanecer nele.

CRÍTICA HISTÓRICA

Neste campo os pressupostos de partida são liberais, por isso também é conhecida como

LIBERALISMO. No campo histórico, ou ALTA CRITICA, como é também conhecido,

o foco de estudos são a autoria de um livro, a data de sua composição, as circunstâncias

históricas que cercam sua composição, a autenticidade de seu conteúdo e sua unidade

literária..

EXEGESE

Quando focamos a Exegese levamos em conta que o passo seguinte aos anteriores é

aplicar os princípios da hermenêutica para chegar-se a um entendimento correto do

texto. O prefixo. Ex: “fora de”, “para fora”, refere-se á ideia de que o interprete está

tentando derivar seu entendimento do Texto, em vez de ler seu significado no “para

dentro” texto- eisegese. Temos assim uma definição de Hermenêutica Contemporânea,

contrária da praticada na Igreja Primitiva.

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4. TEOLOGIA BÍBLICA E TEOLOGIA SISTEMATICA

Teologia Bíblica é o estudo da Revelação divina no Antigo e Novo Testamentos. Ela

procura saber como A revelação contribuiu para o conhecimento e tenta mostrar como o

conhecimento teológico se desenvolveu através dos tempos do AT e NT.

A Teologia Sistemática por sua vez, organiza os dados bíblicos de uma maneira lógica

antes que histórica. Como exemplo podemos citar: A Natureza de Deus, Cristologia,

Bibliologia, Eclesiologia, o mistério dos Anjos, etc.. Estas teologias são

complementares.

O Diagrama de Virkler resume a discussão de modo claro e didático:

1-Estudo doCanon---2-CríticaTextual---3-CríticaHistórica---

4-Hermenêutica(Exegese) 4.1Teol.Bíblica e 4.2 Teologia Sistemática

5. A NECESSIDADE E A BASE BÍBLICA DA HERMENÊUTICA.

É fundamental consideramos que o alvo de uma boa interpretação não tão é simples:

chegar ao "sentido claro do texto." E o ingrediente mais importante que a pessoa traz a

essa tarefa é o bom-senso aguçado. Uma boa interpretação dependerá do conhecimento

do verdadeiro sentido do texto. Portanto a interpretação correta, traz alívio à mente bem

como uma sacudida no coração.

Todavia, se o significado claro é aquilo sobre o que a interpretação diz respeito,

pergunta-se: então para que interpretar? Simplesmente não bastaria ler? O significado

simples não vem pela mera leitura? Consideremos que em parte sim. Porém num

sentido mais verdadeiro, semelhante argumento é tanto superficial tanto quanto

irrealista por causa de dois fatores: Não podemos desconsiderar a natureza do leitor e a

natureza da Escritura.

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a- O Leitor Como Intérprete – 1ª Parte

A primeira razão por que precisamos aprender como interpretar é que, quer deseje, quer

não, todo leitor é ao mesmo tempo um intérprete. ou seja a maioria de nós toma por

certo que, enquanto lemos, também entendemos o que lemos. Tendemos, também, a

pensar que nosso entendimento é a mesma coisa que a intenção do Espírito Santo ou do

autor humano. Apesar disso, invariavelmente levamos para o texto tudo quanto somos,

com toda nossa experiência, cultura e entendimento prévio de palavras e ideias. Às

vezes, aquilo que levamos para o texto, sem o fazer deliberadamente, nos desencaminha

ou nos leva a atribuir ao texto ideias que lhe são estranhas.

Desta maneira, quando uma pessoa em nossa cultura ouve a palavra "cruz", séculos de

arte e simbolismo cristãos levam a maioria das pessoas a pensar automaticamente numa

cruz romana (T) embora haja pouca probabilidade de que aquele era o formato da Cruz

de Jesus, que provavelmente tinha a forma de um "T". A maioria dos protestantes, e dos

católicos também, quando lê textos acerca da igreja em adoração, automaticamente

forma um quadro de pessoas sentadas numa construção com bancos, muito semelhante

às deles. Quando Paulo diz: “Nada disponhais para a carne, no tocante às suas

concupiscências” (Rm 13.14), as pessoas nas culturas de idiomas europeus tendem a

pensar que "a carne" significa “o corpo" e, portanto, que Paulo está falando nos

"apetites físicos." Mas a palavra "carne," conforme Paulo a emprega, raras vezes se

refere ao corpo — e neste texto quase certamente não tem esse sentido — mas, sim, a

uma enfermidade espiritual, uma doença de existência espiritual às vezes chamada "a

natureza pecaminosa." O leitor, portanto, sem o fazer deliberadamente, está

interpretando o que lê, e, infelizmente, por demais frequentemente interpreta

incorretamente.

Isto nos leva a notar ainda mais arte o leitor de uma Bíblia em idioma latino já está

envolvido na interpretação. A tradução, pois, é em si mesma uma forma (necessária) de

interpretação. Sua Bíblia, seja qual for a tradução que você empregar, que para você é o

ponto de partida, é, na realidade, o resultado final de muito trabalho erudito. Os

tradutores são regularmente conclamados a fazer escolhas quanto aos significados, e as

escolhas deles irão afetar como você entende.

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Os bons tradutores, portanto, levam em consideração as diferenças entre nossos

idiomas. Esta, porém, não é uma tarefa fácil. Em Romanos 13.14, por exemplo,

devemos traduzir "carne" porque esta é a palavra que Paulo empregou, e depois deixar o

intérprete contar-nos que "carne" aqui não significa "corpo"? Ou devemos "ajudar" o

leitor e traduzir "natureza pecaminosa" porque é isto que Paulo realmente quer dizer?

Retomaremos este assunto com maiores detalhes no capítulo seguinte. Por enquanto,

basta indicar que o próprio fato da tradução já envolveu a pessoa na tarefa da

interpretação.

b. O Leitor Como Intérprete – 2ª Parte

A necessidade de interpretar também é achada por meio de notar aquilo que acontece

em nosso redor o tempo todo. Uma simples olhada para a igreja contemporânea, por

exemplo, torna abundantemente claro que nem todos os "significados claros" são

igualmente claros para todos. É de interesse mais do que passageiro que a maioria

daqueles na igreja de hoje que argumentam que as mulheres devem guardar silêncio na

igreja, com base em 1 Coríntios 14.34-35, negam, ao mesmo tempo, a validez do falar

em línguas e da profecia, o próprio contexto em que a passagem do "silêncio" ocorre. E

aqueles que afirmam que as mulheres, e não somente os homens, devem orar e

profetizar, com base em 1 Coríntios 11.2-16, frequentemente negam que devem fazê-lo

com a cabeça coberta. Para alguns, a Bíblia "ensina claramente" o batismo dos crentes

mediante a imersão; outros acreditam que podem defender o batismo de crianças por

meio da Bíblia. Tanto a "segurança eterna" quanto a possibilidade de "perder a

salvação" são pregadas na igreja, mas nunca pela mesma pessoa! As duas posições, no

entanto, são afirmados como sendo o significado claro dos textos bíblicos. Até mesmo

os dois autores deste livro têm certos desacordos entre si quanto ao significado "claro"

de certos textos. Mesmo assim, todos nós estamos lendo a mesma Bíblia e todos

estamos procurando ser obedientes àquilo que o texto "claramente" significa.

Além destas diferenças reconhecíveis entre "crentes bíblicos," há, também, todos os

tipos de coisas estranhas em andamento. Usualmente podemos reconhecer as seitas, por

exemplo, porque têm uma autoridade além da Bíblia. Mas nem todas elas a têm; em

todos os casos, porém, torcem a verdade pelo meio que selecionam textos da própria

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Bíblia. Toda heresia ou prática que se possa imaginar, desde o arianismo (a negação da

divindade de Cristo), das Testemunhas de Jeová e de "O Caminho", até o batismo em

prol dos mortos entre os mórmons, até o manipular de serpentes entre as seitas

apalacianas, alega ser "apoiada" por algum texto.

Até mesmo entre pessoas mais teologicamente ortodoxas, no entanto, muitas ideias

estranhas conseguem ganhar aceitação em vários círculos. Por exemplo, uma das modas

atuais entre os protestantes norte-americanos, especialmente os carismáticos, é o assim-

chamado Evangelho da riqueza e da saúde. As "boas novas" são que a vontade de Deus

para você é a prosperidade financeira e material! Um dos defensores deste "evangelho"

começa seu livro ao argumentar em prol do "sentido claro" da Escritura e ao alegar que

coloca a Palavra de Deus em posição de absoluta primazia no decurso do seu estudo.

Diz que não conta aquilo que pensamos que ela diz, mas, sim, o que ela realmente diz.

O "significado claro" é o que ele quer. Começamos, porém, a ter nossas dúvidas acerca

de qual é realmente o "significado claro" quando a prosperidade financeira é

argumentada como sendo a vontade de Deus a partir de um texto tal como 3 João 2:

"Amados, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim, como é

próspera a tua alma" — texto este que realmente não tem nada a ver com a prosperidade

financeira. Outro exemplo toma o significado claro do jovem rico (Marcos 10.17-22)

como sendo exatamente o oposto daquilo "que realmente diz," e atribui a

"interpretação" ao Espírito Santo. Podemos talvez questionar com razão se o significado

claro realmente está sendo procurado; talvez o significado claro seja simplesmente

aquilo que semelhante escritor quer que o texto signifique a fim de apoiar suas idéias

prediletas.

Dada toda esta diversidade, tanto dentro quanto fora da igreja, e todas as diferenças até

mesmo entre os estudiosos, que alegadamente conhecem "as regras," não é de se

maravilhar que alguns argumentam em prol de nenhuma interpretação, em prol da

simples leitura. Esta, porém, é uma opção falsa, conforme vimos. O antídoto à má

interpretação não é simplesmente nenhuma interpretação, mas, sim, a boa interpretação,

baseada nas diretrizes do bom senso.

Os autores deste livro não sofrem de ilusões de que, ao ler e seguir nossas diretrizes,

todos finalmente concordarão quanto ao "significado claro", nosso significado! O que

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esperamos realizar é aumentar a sensibilidade do leitor a problemas específicos

inerentes em cada gênero, informá-lo por que existem opções diferentes e como fazer

julgamentos de bom-senso, e especialmente ter a capacidade de discernir entre

interpretações boas e as não tão boas — e de saber o que as faz assim.

6. A NATUREZA DA ESCRITURA

(Parte 1 – O Lado Divino)

Uma razão mais significante para a necessidade de interpretação acha-se na natureza da

própria Escritura. Historicamente a igreja tem compreendido a natureza da Escritura de

maneira muito semelhante à sua compreensão da Pessoa de Cristo — a Bíblia é, ao

mesmo tempo, humana e divina. Conforme o Professor George Ladd certa vez

expressou o fato: "A Bíblia é a Palavra de Deus dada nas palavras de (pessoas) na

história." É esta natureza dupla da Bíblia que exige da nossa parte a tarefa da

interpretação.

Porque a Bíblia é a Palavra de Deus, tem relevância eterna; fala para toda a humanidade

em todas as eras e em todas as culturas. Porque é a Palavra de Deus, devemos escutar e

obedecer. Mas porque Deus escolheu falar Sua Palavra através das palavras humanas na

história, todo livro na Bíblia também tem particularidade histórica; cada documento é

condicionado pela linguagem, pela sua época, e pela cultura em que originalmente foi

escrito (e nalguns casos também pela história oral que teve antes de ser escrito). A

interpretação da Bíblia é exigida pela "tensão" que existe entre sua relevância eterna e

sua particularidade histórica.

Há alguns, naturalmente, que acreditam que a Bíblia é meramente um livro humano, e

que contém somente palavras das pessoas na história. Para estas pessoas, a tarefa de

interpretar é limitada à pesquisa histórica. Seu interesse, como no caso de Cícero ou

Milton, é com as ideias religiosas dos judeus, de Jesus, ou da igreja primitiva. A tarefa

para eles, no entanto, é puramente histórica. O que estas palavras significavam para as

pessoas que as escreveram? O que pensavam acerca de Deus? Como se compreendiam a

si mesmos?

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Há, do outro lado, aqueles que pensam na Bíblia somente em termos da sua relevância

eterna. Porque é a Palavra de Deus, tendem a pensar nela como sendo apenas uma

coletânea de proposições a serem cridas e de imperativos a serem obedecidos —

embora, invariavelmente, haja grande medida de selecionamento e escolha a ser feita

entre as proposições e imperativos. Há, por exemplo, cristãos que baseados em

Deuteronômio 22.5 ("A mulher não usará roupa de homem"), argumentam literalmente

que a mulher não deve usar calça comprida nem short. As mesmas pessoas, porém, raras

vezes tomam literalmente os demais imperativos naquela lista, que incluem a construção

de um parapeito no telhado da casa (v. 8), a não plantação de dois tipos de sementes

numa vinha (v. 9), e fazer borlas nos quatro cantos do manto (v. 12).

A Bíblia, no entanto, não é uma série de proposições e imperativos; não é simplesmente

uma coletânea de "Ditados da parte do Presidente Deus," como se Ele olhasse para nós

aqui em baixo, estando Ele no céu, e dissesse: "Ei, vocês aí em baixo, aprendam estas

verdades. Número 1: Não há Deus senão Um só, e Eu o sou. Número 2: Eu sou o

criador de todas as coisas, inclusive a humanidade" — e assim por diante, chegando até

a proposição número 7.777 e ao imperativo número 777.

Estas proposições, naturalmente, são verdadeiras; e acham-se na Bíblia (embora não

nessa forma exata). Realmente, semelhante livro poderia ter tornado muitas coisas mais

fáceis para nós. Mas, felizmente, não foi assim que Deus escolheu falar conosco. Pelo

contrário, escolheu falar Suas verdades eternas dentro das circunstâncias e eventos

específicos da história humana. É isto também que nos dá esperança. Exatamente

porque Deus escolheu falar no contexto da história humana, real, podemos ter certeza

que estas mesmas palavras falarão novamente em nossa própria história "real",

conforme têm feito no decorrer da História da igreja.

7. A NATUREZA DA ESCRITURA

(Parte 2 – O Lado Humano)

O fato de que a Bíblia tem um lado humano é nosso encorajamento; também é o nosso

desafio, e é a razão porque precisamos interpretar. Duas coisas precisam ser notados

quanto a isto.

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1. Ao falar através de pessoas reais, numa variedade de circunstâncias, por um período

de 1500 anos, a Palavra de Deus foi expressada no vocabulário e nos padrões de

pensamento daquelas pessoas, e condicionada pela cultura daqueles tempos e

circunstâncias. Ou seja: a Palavra de Deus para nós foi primeiramente a Sua Palavra a

elas. Se iriam ouvi-la, somente poderia ser através de eventos e linguagem que elas

poderiam ter entendido. Nosso problema é que estamos muito longe delas no tempo, e

às vezes no pensamento. Esta é a razão principal porque precisamos aprender a

interpretar a Bíblia. Se a Palavra de Deus acerca das mulheres usando roupas de

homens, ou das pessoas que devem ter parapeitos ao redor das casas pode falar conosco,

precisamos saber primeiro o que dizia aos seus ouvintes originais — e por que.

Logo, a tarefa de interpretar envolve o estudante/leitor em dois níveis. Primeiramente, é

necessário escutar a Palavra que eles ouviram; devem procurar compreender o que foi

dito a eles lá e então. Em segundo lugar, devemos aprender a ouvir essa mesma Palavra

no aqui e agora. Diremos mais acerca destas duas tarefas, abaixo.

2. Um dos aspectos mais importantes do lado humano da Bíblia é que Deus, para

comunicar Sua Palavra para todas as condições humanas, escolheu fazer uso de quase

todo tipo de comunicações disponível: a história em narrativa, as genealogias, as

crônicas, leis de todos os tipos, poesia de todos os tipos, provérbios, oráculos proféticos,

enigmas, drama, esboços biográficos, parábolas, cartas, sermões e apocalipses.

Para interpretar corretamente o "lá e então" dos textos bíblicos, não somente se deve

saber algumas regras gerais que se aplicam a todas as palavras da Bíblia, como também

se deve aprender as regras especiais que se aplicam a cada uma destas formas literárias

(gêneros). E a maneira de Deus comunicar-nos Sua Palavra no "aqui e agora"

frequentemente diferirá de uma forma para outra. Por exemplo, precisamos saber como

um salmo, uma forma que frequentemente era dirigida a Deus, funciona como a Palavra

de Deus para nós, e como os Salmos diferem das "leis," que frequentemente eram

dirigidas a pessoas em situações culturais que já não existem mais. Como tais "leis" nos

falam, e como diferem das "leis" morais, que sempre são válidas em todas as

circunstâncias? Tais são as perguntas que a natureza dupla da Bíblia nos impõe.

8. Importância / Necessidade

Page 21: Hermeneutica - Material Didatico

21

a) Evita distorções – II Pe3.16 (seitas se originam, geralmente de distorções de textos

sagrados).( texto fora do contexto é pretexto)

b) A Bíblia é a arma do Cristão – desconhecê-la ou não saber usa-la é fatal.

c) Circunstâncias variadas que fizeram a produção da Bíblia – isso requer do

expositor das escrituras, estudos de acordo com os princípios hermenêuticos.

c.1- Escritores diversos: sacerdotes, poetas, profetas, guerreiros, pastores sábios.

Destes, uns fizeram leis, outros narraram histórias, biografias, escreveram cartas;

tudo isso requer respeito no estudo das Escrituras.

c.2- Tempos variados: variadas são as épocas entre os escritores sagrados.

Moisés, por exemplo, viveu 300 anos antes de aparecerem os sábios da Grécia e Ásia

como Pitágoras, Confúcio e outros; já o último escritor bíblico, João, viveu cerca de

1500 anos depois de Moisés.

c.3- Lugares diferentes: os pontos onde foram escritos também variam entre si.

Vão desde os desertos da Judéia, escolas de profetas, palácios da Babilônia, margens do

Rio Quedar aos cárceres e civilização ocidental.

Tais observações tornam ainda mais patente a importante necessidade do conhecimento

de sadia interpretação para o estudo proveitoso da Palavra de Deus.

Page 22: Hermeneutica - Material Didatico

22

Essencialmente, Hermenêutica serve de codificação para ajudar-nos a entender o

significado de uma comunicação. Pois até chegarmos a uma compreensão espontânea

das Escrituras, há diversos abismos para transpor:

1) Abismo Histórico _ O fato de estarmos largamente separados no tempo

dos escritores e primitivos leitores da Bíblia.

2) Abismo Cultural – Grande diferença cultural separa-nos dos tempos

Bíblicos

3) Abismo Lingüístico _ As línguas em que a Bíblia foi escrita, varia da

nossa tanto em estrutura como em expressões idiomáticas: Hebraico,

aramaico e grego.

4) Abismo Filosófico - É a lacuna das opiniões acerca da vida, das

circunstâncias e da natureza que variam se acordo com a cultura de quem

escreveu e de quem lê.

Se estes abismos não forem saltados sabiamente, a compreensão espontânea e extra das

Escrituras será obstruída. A Hermenêutica é, portanto, a ponte certa para passarmos de

cabeça erguida sobre esses abismos.

O estudo da Hermenêutica torna-se ainda mais importante, especialmente para o

ministro do Evangelho pelos Benefícios que certamente trará:

1) Material sadio para a construção de sua Teologia;

2) Consistência nos sermões, o que é de grande necessidade nos nossos dias;

3) Auxílio para as explicações improvisadas das Escrituras, por ocasião de

interrogações inesperadas;

4) Ajuda a defender a Verdade contra os assaltos dos críticos.

Page 23: Hermeneutica - Material Didatico

23

As Escrituras, pois, tratando de temas tão variados como céu, terra, tempo, eternidade,

visível e o invisível, material e espiritual, e escrita por pessoas distintas em modo de

vida e tempo, necessitam, para uma reta compreensão, do auxílio e conselho que a

Hermenêutica pode oferecer.

9 - Requisitos Espirituais e Intelectuais Necessários

a) Opinião correta acerca da Inspiração do Texto Sagrado – A opinião que o

estudioso da Bíblia tem sobre a Inspiração é de suma importância para os trabalhos

hermenêuticos:

b) Mente Humilde e Piedosa – hábito de atenção sincera e reverente a tudo que a

Escritura revela. Desejar o Ensino do Espírito Santo à nossa alma.

c) Dependência de Deus Para aprender – Ensinado por Deus é que o homem pode

aprender as Verdades que são reveladas somente aos que as sentem (Ef 4. 18; 1. 17; Jo

7. 17; Tg1. 5).

d) Consciência de que não haverá Nova Revelação – Por mais dócil, obediente e

piedoso que seja o cristão, o Espírito Santo não comunicará qualquer ensinamento que

já não esteja contido na própria Escritura. O estudo da Bíblia ,faz os homens sábios até

ao que está escrito, mas não além disso, (Is 8.20).

e) Novo Nascimento – Este acontecimento torna o homem sensível às coisas

concernentes ao Reino de Deus (I Co. 2. 14; I Jo. 2. 20; II Co. 4. 6).

Page 24: Hermeneutica - Material Didatico

24

4- Problemas Controversos na Hermenêutica Contemporânea

a) Autenticidade do Significado – É possível obter o verdadeiro significado do texto

bíblico? O relativismo contemporâneo diz que, o sentido de um texto é aquilo que ele

significa pra mim. No entanto, o trabalho do exegeta é determinar, o quanto lhe for

possível, o que Deus queria dizer em determinada passagem.

b) Harmonia entre autoria humana e divina – O ponto de vista ortodoxo diz que os

autores humanos e divinos trabalharam juntos na produção do texto inspirado. Pergunta-

se: “Que significado o autor humano tinha em mente?” Qual o significado pretendido

pelo autor divino? Para resolver, ou, apaziguar esta situação deva - se observar o

seguinte critério: “Quando uma passagem parecer ter um significado mais completo do

que o abrangido pelo autor humano, só deve ser assim interpretado quando Deus, por

meio de revelação posterior, tiver declarado tal significado. Ex: Is. 1. 1 – 3 ; Lc. 4.

17 – 21”.

c)Interpretação de linguagem Bíblica: Literal, Figurativa e Simbólica – Este é um

problema que só o contexto e a sintaxe pode resolver. É preciso entender que, uma

mesma palavra pode ser usada com várias conotações; uma análise do todo nos levara

ao sentido que ela tem naquela situação. Ex: “Se você não vier agora, vou virar uma

leoa”. “A leoa comeu o seu filhote”.No primeiro caso, temos uma figura de linguagem,

enquanto que no segundo, estamos falando, literalmente, de uma leoa. Já pensou se

invertêssemos a ordem dos respectivos sentidos de leoa, na nossa interpretação? Ex:

Disse Jesus: Eu sou a porta.

d) Fator Espiritual – o compromisso espiritual, ou sua ausência, influencia a

capacidade de perceber a verdade espiritual (Rm. 1. 18- 22; Ef. 4. 17- 24). Onde se

encaixa o fator espiritual, se, hermenêuticamente, o significado das Escrituras deve ser

Page 25: Hermeneutica - Material Didatico

25

encontrado pelo estudo cuidadoso das palavras, da cultura e da história? É só lembrar

que a Bíblia trata de verdades que não ficam apenas no nível do intelecto, necessitam da

iluminação que o Espírito Santo concede, aos que vivem na luz do conhecimento de

Deus.

e) Inerrância da Bíblia – Este é o mais controverso dos assuntos referentes à

hermenêutica: Tem ou não tem erro na Bíblia?

1) Posição de Jesus para com a Bíblia

- Respeitou igualmente, todas as narrativas históricas do Velho

Testamento com fontes de confiança.

- Usou as histórias que os críticos rejeitam como base nos seus discursos:

Mt. 24 37-39 o dilúvio de Noé; Mt 10-15 -Sodoma e Gomorra; Mt. 12.

39- 41 Jonas.

- As Escrituras foi sua arma de defesa e ataque quando tentado por

Satanás. Nem mesmo Satanás contestou o texto Sagrado (Mt. 4. 4-11).

2) Objeções quanto a Inerrância

- Jesus usou as histórias do Antigo Testamento apenas como fontes

ilustrativas e não literais.

- A Inerrância deveria ser reivindicada para os evangelhos mais não para a

Bíblia toda.

- Importante é ter um Cristo que salva, e não apegar-se a uma Escritura

inerrante.

Page 26: Hermeneutica - Material Didatico

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Para se trabalhar com interpretação é preciso atentar para alguns critérios:

- Números por vezes, são dados aproximadamente.

- Discursos e citações podem vir parafraseados em vez de reproduzidos

literalmente.

- Os discursos feitos por homens ou Satanás estão registrados com

exatidão,mas não significa que eles estejam corretos: Conversa de

Satanás e Eva; Mentira de Abraão (mentir nunca foi correto, está

registrado como prova de falha humana).

10.A BÍBLIA

A Bíblia é formada por 66 livros. A Bíblia é a mensagem de Deus para o seu povo,

contendo relatos históricos, profecias e orientações para uma vida dedicada e

consagrada. Notamos que desde Moisés ao apóstolo Paulo, Deus escolheu e inspirou

homens para registrar suas palavras a fim de transmiti-las a outras pessoas. É

instrumento para orientação da vontade de Deus para nossas vidas. A Bíblia é uma

revelação especial de Deus. Com certeza se buscamos o livro mais lido no mundo,

encontraremos a Bíblia e não só mais lido como o mais traduzido. Encontraremos nele

acerca da obra da salvação, providência divina para a humanidade, em Cristo Jesus.

A revelação de quem Deus é, a obra que Cristo fez pela humanidade e como devemos

viver para testemunhar sua maravilhosa obra em nós, encontraremos na Bíblia.

ANTIGO TESTAMENTO

O Antigo Testamento escrito originalmente em hebraico e é formado por 39 livros, é

composto de um relato histórico da obra de Deus na terra antes do nascimento de Jesus.

Vários escritores dentre eles: Moisés, Isaías, Daniel e Davi que durante milhares de

anos escreveram o AT, que se divide em 3 partes principais: Livros Históricos, Poéticos

Page 27: Hermeneutica - Material Didatico

27

e Proféticos.

OS LIVROS HISTÓRICOS

Começando com os 5 livros escritos por Moisés, compondo o Pentateuco. Encontramos

no Pentateuco a história da criação do universo, Adão e Eva no Jardim do Édem, o

grande Dilúvio, o êxodo dos israelitas da escravidão no Egito. O Pentateuco contém

ainda as leis de Deus para seu povo. Deus passou à Moisés (Êxodo 20:1-17) nos Dez

Mandamentos e Moisés deveria ensinar os israelitas a honrarem a Deus em tudo que

fizessem.

Deus prometera a Abrão que faria dele uma grande Nação, e os israelitas se tornaram

essa poderoso nação, depois que tomaram posse da terra Prometida por Deus. Iniciando

com Saul sendo escolhido como primeiro rei de Israel, os livros históricos contam os

feitos do rei Davi, seu filho Salomão e os que os sucederam. Vários reis deram

continuidade assim, como Asa, seguiram as leis de Deus e foram abençoados. Outros,

como Acabe, que foram desobedientes e adoraram ídolos. Por causa disso, Deus disse

que destruiria o reino de Israel, que seria conquistado e escravizado pelos impérios da

Assíria e da Babilônia.

OS LIVROS POÉTICOS

Encontramos ainda no AT 5 livros poéticos escritos brilhantemente pelos reis Davi e

Salomão. Compostos com canções de louvor a Deus, princípios de sabedoria e um

maravilhoso poema de amor entre uma noiva e um noivo. Os Salmos, Provérbios e

Eclesiastes e Cantares da Salomão respectivamente. Neles encontramos maravilhosas

meditações sobre o amor de Deus por nós, seu poder sobre toda a criação e seu desejo

do nosso respeito e temor.

OS LIVROS PROFÉTICOS

Page 28: Hermeneutica - Material Didatico

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Logo depois, com dezesseis diferentes autores encontramos os chamados Livros

Proféticos. Profeta Isaías, profeta Jeremias e profeta Daniel, que escreveram livros mais

longos, são conhecidos como os profetas maiores.

Profeta Ageu, profeta Zacarias e profeta Malaquias estão entre os chamados profetas

menores, cujos livros são mais curtos. Registra-se nesses livros de como Deus ficou

desapontado porque Israel o desobedeceu e não cumpriu suas ordens, e ainda desperta

ao povo quanto o amor incondicional de Deus por ele, além de profetizarem a vinda do

Cristo Messias que salvaria Israel para sempre.

O NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento com seus 27 livros, foram escritos em grego e aproximadamente

em 50 anos. Certamente a sua mensagem principal se refere à JESUS, a sua Encarnação,

ministério e a sua obra redentora. Identificamos ainda a igreja Cristã primitiva, mas

também oferece preciosos mandamentos sobre a vida com Deus. Pode ser dividido em 3

partes: Evangelhos, as Epístolas e Profecia.

OS EVANGELHOS

Os Evangelhos Sinóticos: Mateus, Lucas e Marcos, e João são os quatro primeiros

livros do Novo Testamento, que contam a história do nascimento, vida, morte e

ressurreição de Jesus. Encontramos ainda os ensinamentos de Jesus Cristo, orientações

para seus discípulos, como deveriam segui-lo e a responsabilidade de continuar sua obra

quando Ele retornasse ao céu. Em seguida, vem o livro de Atos dos Apóstolos onde

estão registrados os primeiros passos da igreja e a obra dos discípulos de Jesus

cumprindo o que fora predito por Jesus que eles fariam: milagres e pregação do

Evangelho de Deus.

Page 29: Hermeneutica - Material Didatico

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AS EPÍSTOLAS

Depois de Atos dos Apóstolos vêm às epístolas ou cartas que Paulo e outros escreveram

para encorajar os primeiros cristãos na sua caminhada com Jesus. As cartas nos

apresentam muitas e ricas orientações sobre os desejos de Deus para a nossa conduta

diária.

O LIVRO PROFÉTICO

Apocalipse é o último livro do Novo Testamento, um livro com a mensagem profética

que apresenta detalhadamente a próxima vinda de Cristo à terra.

A VERDADE E AUTORIDADE DA BÍBLIA

A Bíblia é a "revelação especial" de Deus. Ela nos relembra nossa natureza pecadora e

nossa responsabilidade diária para com Deus e seus mandamentos. Com a sua leitura

aprendemos que Deus é todo-poderoso e tem autoridade ilimitada sobre todas as

pessoas. Quando rejeitamos seus ensinamentos, estamos rejeitando a Deus e negando a

autoridade que Ele tem sobre toda a Criação. Rejeitar a Deus não é fato novo. Os

israelitas vagaram no deserto porque não creram que Deus os protegeria. O Rei Acabe

erigiu ídolos a falsos deuses. Jonas se negou a ir para Nínive apesar da ordem de Deus.

Quando ignoramos as promessas de bênçãos de Deus sobre nós, estamos

deliberadamente desobedecendo a Sua pessoa e seguindo nossos próprios desejos e

vontades. A Bíblia nos alerta da autoridade eterna de Deus sobre todas as pessoas.

Muitas dessas mesmas pessoas que negam a autoridade de Deus também dizem que a

Bíblia não é verdadeira porque homens - propensos a erros - a escreveram. É certo que

se os escritores bíblicos não eram pessoas perfeitas, a Bíblia é clara em afirmar que foi

Page 30: Hermeneutica - Material Didatico

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um trabalho inspirado por Deus e, portanto, perfeito. O apóstolo Paulo escreve que toda

Escritura é "inspirada por Deus (II Timóteo 3:16) e Pedro explica que "nunca jamais

qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens falaram da parte de

Deus movidos pelo Espírito Santo" (II Pedro 1:21). Isto inclui o Velho e o Novo

Testamento

OS ORIGINAIS

Grego, hebraico e aramaico foram os idiomas utilizados para escrever os originais das

Escrituras Sagradas. O Antigo Testamento foi escrito em hebraico. Apenas alguns

poucos textos foram escritos em aramaico. O Novo Testamento foi escrito

originalmente em grego, que era a língua mais utilizada na época.

Os originais da Bíblia são a base para a elaboração de uma tradução confiável das

Escrituras. Porém, não existe nenhuma versão original de manuscrito da Bíblia, mas sim

cópias de cópias de cópias. Todos os autógrafos, isto é, os livros originais, como foram

escritos pelos seus autores, se perderam. As edições do Antigo Testamento hebraico e

do Novo Testamento grego se baseiam nas melhores e mais antigas cópias que existem

e que foram encontradas graças às descobertas arqueológicas.

Para a tradução do Antigo Testamento, a Comissão de Tradução da SBB usa a Bíblia

Stuttgartensia, publicada pela Sociedade Bíblica Alemã. Já para o Novo Testamento é

utilizado The Greek New Testament, editado pelas Sociedades Bíblicas Unidas. Essas

são as melhores edições dos textos hebraicos e gregos que existem hoje, disponíveis

para tradutores.

O ANTIGO TESTAMENTO EM HEBRAICO

Muitos séculos antes de Cristo, escribas, sacerdotes, profetas, reis e poetas do povo

hebreu mantiveram registros de sua história e de seu relacionamento com Deus. Estes

registros tinham grande significado e importância em suas vidas e, por isso, foram

copiados muitas e muitas vezes e passados de geração em geração.

Page 31: Hermeneutica - Material Didatico

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Com o passar do tempo, esses relatos sagrados foram reunidos em coleções conhecidas

por A Lei, Os Profetas e As Escrituras. Esses três grandes conjuntos de livros, em

especial o terceiro, não foram finalizados antes do Concílio Judaico de Jamnia, que

ocorreu por volta de 95 d.C. A Lei continha os primeiros cinco livros da nossa Bíblia. Já

Os Profetas, incluíam Isaías, Jeremias, Ezequiel, os Doze Profetas Menores, Josué,

Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis. E As Escrituras reuniam o grande livro de poesia, os

Salmos, além de Provérbios, Jó, Ester, Cantares de Salomão, Rute, Lamentações,

Eclesiastes, Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.

Os livros do Antigo Testamento foram escritos em longos pergaminhos confeccionados

em pele de cabra e copiados cuidadosamente pelos escribas. Geralmente, cada um

desses livros era escrito em um pergaminho separado, embora A Lei freqüentemente

fosse copiada em dois grandes pergaminhos. O texto era escrito em hebraico - da direita

para a esquerda - e, apenas alguns capítulos, em dialeto aramaico.

Hoje se tem conhecimento de que o pergaminho de Isaías é o mais remoto trecho do

Antigo Testamento em hebraico. Estima-se que foi escrito durante o Século II a.C. e se

assemelha muito ao pergaminho utilizado por Jesus na Sinagoga, em Nazaré. Foi

descoberto em 1947, juntamente com outros documentos em uma caverna próxima ao

Mar Morto.

O NOVO TESTAMENTO EM GREGO

Os primeiros manuscritos do Novo Testamento que chegaram até nós são algumas das

cartas do Apóstolo Paulo destinadas a pequenos grupos de pessoas de diversos

povoados que acreditavam no Evangelho por ele pregado.

A formação desses grupos marca o início da igreja cristã. As cartas de Paulo eram

recebidas e preservadas com todo o cuidado. Não tardou para que esses manuscritos

fossem solicitados por outras pessoas. Dessa forma, começaram a ser largamente

copiados e as cartas de Paulo passaram a ter grande circulação.

A necessidade de ensinar novos convertidos e o desejo de relatar o testemunho dos

Page 32: Hermeneutica - Material Didatico

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primeiros discípulos em relação à vida e aos ensinamentos de Cristo resultaram na

escrita dos Evangelhos que, na medida em que as igrejas cresciam e se espalhavam,

passaram a ser muito solicitados. Outras cartas, exortações, sermões e manuscritos

cristãos similares também começaram a circular.

O mais antigo fragmento do Novo Testamento hoje conhecido é um pequeno pedaço de

papiro escrito no início do Século II d.C. Nele estão contidas algumas palavras de João

18.31-33, além de outras referentes aos versículos 37 e 38. Nos últimos cem anos

descobriu-se uma quantidade considerável de papiros contendo o Novo Testamento e o

texto em grego do Antigo Testamento.

OUTROS MANUSCRITOS

Além dos livros que compõem o nosso atual Novo Testamento, havia outros que

circularam nos primeiros séculos da era cristã, como as Cartas de Clemente, o

Evangelho de Pedro, o Pastor de Hermas, e o Didache (ou Ensinamento dos Doze

Apóstolos). Durante muitos anos, embora os evangelhos e as cartas de Paulo fossem

aceitos de forma geral, não foi feita nenhuma tentativa de determinar quais dos muitos

manuscritos eram realmente autorizados. Entretanto, gradualmente, o julgamento das

igrejas, orientado pelo Espírito de Deus, reuniu a coleção das Escrituras que constituíam

um relato mais fiel sobre a vida e ensinamentos de Jesus. No Século IV d.C. foi

estabelecido entre os concílios das igrejas um acordo comum e o Novo Testamento foi

constituído.

Os dois manuscritos mais antigos da Bíblia em grego podem ter sido escritos naquela

ocasião - o grande Codex Sinaiticus e o Codex Vaticanus. Estes dois inestimáveis

manuscritos contêm quase a totalidade da Bíblia em grego. Ao todo temos

aproximadamente vinte manuscritos do Novo Testamento escritos nos primeiros cinco

séculos.

Quando Teodósio proclamou e impôs o cristianismo como única religião oficial no

Império Romano no final do Século IV, surgiu uma demanda nova e mais ampla por

boas cópias de livros do Novo Testamento. É possível que o grande historiador Eusébio

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de Cesaréia (263 - 340) tenha conseguido demonstrar ao imperador o quanto os livros

dos cristãos já estavam danificados e usados, porque o imperador encomendou 50

cópias para as igrejas de Constantinopla. Provavelmente, esta tenha sido a primeira vez

que o Antigo e o Novo Testamentos foram apresentados em um único volume, agora

denominado Bíblia.

11. HISTÓRIA DAS TRADUÇÕES

A Bíblia - o livro mais lido, traduzido e distribuído do mundo -, desde as suas origens,

foi considerada sagrada e de grande importância. E, como tal, deveria ser conhecida e

compreendida por toda a humanidade. A necessidade de difundir seus ensinamentos

através dos tempos e entre os mais variados povos, resultou em inúmeras traduções para

os mais variados idiomas e dialetos. Hoje é possível encontrar a Bíblia, completa ou em

porções, em mais de 2.000 línguas diferentes.

A PRIMEIRA TRADUÇÃO

Estima-se que a primeira tradução foi elaborada entre 200 a 300 anos antes de Cristo.

Como os judeus que viviam no Egito não compreendiam a língua hebraica, o Antigo

Testamento foi traduzido para o grego. Porém, não eram apenas os judeus que viviam

no estrangeiro que tinham dificuldade de ler o original em hebraico: com o cativeiro da

Babilônia, os judeus da Palestina também já não falavam mais o hebraico.

Denominada Septuaginta (ou Tradução dos Setenta), esta primeira tradução foi

realizada por 70 sábios e contém sete livros que não fazem parte da coleção hebraica;

pois não estavam incluídos quando o cânon (ou lista oficial) do Antigo Testamento foi

estabelecido por exegetas israelitas no final do Século I d.C. A igreja primitiva

geralmente incluía tais livros em sua Bíblia. Eles são chamados apócrifos ou

deuterocanônicos e encontram-se presentes nas Bíblias de algumas igrejas.

Esta tradução do Antigo Testamento foi utilizada em sinagogas de todas as regiões do

Mediterrâneo e representou um instrumento fundamental nos esforços empreendidos

pelos primeiros discípulos de Jesus na propagação dos ensinamentos de Deus.

Page 34: Hermeneutica - Material Didatico

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OUTRAS TRADUÇÕES

Outras traduções começaram a ser realizadas por cristãos novos nas línguas copta

(Egito), etíope (Etiópia), siríaca (norte da Palestina) e em latim - a mais importante de

todas as línguas pela sua ampla utilização no Ocidente.

Por haver tantas versões parciais e insatisfatórias em latim, no ano 382 d.C, o bispo de

Roma nomeou o grande exegeta Jerônimo para fazer uma tradução oficial das

Escrituras.

Com o objetivo de realizar uma tradução de qualidade e fiel aos originais, Jerônimo foi

à Palestina, onde viveu durante 20 anos. Estudou hebraico com rabinos famosos e

examinou todos os manuscritos que conseguiu localizar. Sua tradução tornou-se

conhecida como "Vulgata", ou seja, escrita na língua de pessoas comuns ("vulgus").

Embora não tenha sido imediatamente aceita, tornou-se o texto oficial do cristianismo

ocidental. Neste formato, a Bíblia difundiu-se por todas as regiões do Mediterrâneo,

alcançando até o Norte da Europa.

Na Europa, os cristãos entraram em conflito com os invasores godos e hunos, que

destruíram uma grande parte da civilização romana. Em mosteiros, nos quais alguns

homens se refugiaram da turbulência causada por guerras constantes, o texto bíblico foi

preservado por muitos séculos, especialmente a Bíblia em latim na versão de Jerônimo.

Não se sabe quando e como a Bíblia chegou até as Ilhas Britânicas. Missionários

levaram o evangelho para Irlanda, Escócia e Inglaterra, e não há dúvida de que havia

cristãos nos exércitos romanos que lá estiveram no segundo e terceiro séculos.

Provavelmente a tradução mais antiga na língua do povo desta região é a do Venerável

Bede. Relata-se que, no momento de sua morte, em 735, ele estava ditando uma

tradução do Evangelho de João; entretanto, nenhuma de suas traduções chegou até nós.

Aos poucos as traduções de passagens e de livros inteiros foram surgindo.

12. AS PRIMEIRAS ESCRITURAS IMPRESSAS

Page 35: Hermeneutica - Material Didatico

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Na Alemanha, em meados do Século 15, um ourives chamado Johannes Gutemberg

desenvolveu a arte de fundir tipos metálicos móveis. O primeiro livro de grande porte

produzido por sua prensa foi a Bíblia em latim. Cópias impressas decoradas a mão

passaram a competir com os mais belos manuscritos. Esta nova arte foi utilizada para

imprimir Bíblias em seis línguas antes de 1500 - alemão, italiano, francês, tcheco,

holandês e catalão; e em outras seis línguas até meados do século 16 - espanhol,

dinamarquês, inglês, sueco, húngaro, islandês, polonês e finlandês.

Finalmente as Escrituras realmente podiam ser lidas na língua destes povos. Mas essas

traduções ainda estavam vinculadas ao texto em latim. No início do século 16,

manuscritos de textos em grego e hebraico, preservados nas igrejas orientais,

começaram a chegar à Europa ocidental. Havia pessoas eruditas que podiam auxiliar os

sacerdotes ocidentais a ler e apreciar tais manuscritos.

Uma pessoa de grande destaque durante este novo período de estudo e aprendizado foi

Erasmo de Roterdã. Ele passou alguns anos atuando como professor na Universidade de

Cambridge, Inglaterra. Em 1516, sua edição do Novo Testamento em grego foi

publicada com seu próprio paralelo da tradução em latim. Assim, pela primeira vez

estudiosos da Europa ocidental puderam ter acesso ao Novo Testamento na língua

original, embora, infelizmente, os manuscritos fornecidos a Erasmo fossem de origem

relativamente recente e, portanto, não eram completamente confiáveis.

13. DESCOBERTAS ARQUEOLÓGICAS

Várias foram as descobertas arqueológicas que proporcionaram o melhor entendimento

das Escrituras Sagradas. Os manuscritos mais antigos que existem de trechos do Antigo

Testamento datam de 850 d.C. Existem, porém, partes menores bem mais antigas como

o Papiro Nash do segundo século da era cristã. Mas sem dúvida a maior descoberta

ocorreu em 1947, quando um pastor beduíno, que buscava uma cabra perdida de seu

rebanho, encontrou por acaso os Manuscritos do Mar Morto, na região de Jericó.

Durante nove anos vários documentos foram encontrados nas cavernas de Qumrân, no

Mar Morto, constituindo-se nos mais antigos fragmentos da Bíblia hebraica que se têm

notícias. Escondidos ali pela tribo judaica dos essênios no Século I, nos 800

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pergaminhos, escritos entre 250 a.C. a 100 d.C., aparecem comentários teológicos e

descrições da vida religiosa deste povo, revelando aspectos até então considerados

exclusivos do cristianismo.

Estes documentos tiveram grande impacto na visão da Bíblia, pois fornecem espantosa

confirmação da fidelidade dos textos massoréticos aos originais. O estudo da cerâmica

dos jarros e a datação por carbono 14 estabelecem que os documentos foram produzidos

entre 168 a.C. e 233 d.C. Destaca-se, entre estes documentos, uma cópia quase completa

do livro de Isaías, feita cerca de cem anos antes do nascimento de Cristo. Especialistas

compararam o texto dessa cópia com o texto-padrão do Antigo Testamento hebraico (o

manuscrito chamado Codex Leningradense, de 1008 d.C.) e descobriram que as

diferenças entre ambos eram mínimas.

Outros manuscritos também foram encontrados neste mesmo local, como o do profeta

Isaías, fragmentos de um texto do profeta Samuel, textos de profetas menores, parte do

livro de Levítico e um targum (paráfrase) de Jó.

As descobertas arqueológicas, como a dos manuscritos do Mar Morto e outras mais

recentes, continuam a fornecer novos dados aos tradutores da Bíblia. Elas têm ajudado a

resolver várias questões a respeito de palavras e termos hebraicos e gregos, cujo sentido

não era absolutamente claro. Antes disso, os tradutores se baseavam em manuscritos

mais "novos", ou seja, em cópias produzidas em datas mais distantes da origem dos

textos bíblicos.

Capítulo 2 – História da Interpretação Bíblica

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Desde o início da igreja desenvolveram-se duas heranças:

(1) uma que sustenta que o significado das Escrituras se encontra apenas em seu sentido

primário, histórico e (2) outra que entende que o significado definitivo das Escrituras

está em seu sentido pleno ou completo. Dessa distinção desenvolveram-se alguns

modelos e combinações de paradigmas para a interpretação da Bíblia na igreja

primitiva.

A IGREJA PRIMITIVA

Os pais da Igreja no século II conheceram o pensamento dos apóstolos. Provando a

unidade das Escrituras e a essência da sua mensagem, estudiosos como Ireneu (c. 140-

202 d.C.) e Tertuliano (c. 155-225 d.C.) desenvolveram estruturas teológicas. Que

serviram como diretrizes de fé na Igreja Primitiva e que chegaram até os nossos dias.

Conservando a ênfase cristológica do primeiro século, a regra de fé esboçava as crenças

teológicas que encontravam seu centro no Senhor encarnado. A interpretação bíblica

alcançou novos níveis com o surgimento da escola de Alexandria no século III, com o

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desenvolvimento da interpretação alegórica.

Quando a igreja entrou no século V, desenvolveu-se uma abordagem eclética e

multifacetada de interpretação, que às vezes destacava o literal e histórico, e às vezes, o

alegórico, mas sempre o teológico. Agostinho (354-430 d.C.) e Jerônimo (c. 341-420

d.C.) definiram os rumos desse período.

A IDADE MÉDIA E A REFORMA

Da época de Agostinho, a igreja, seguindo a liderança de João Cassiano (que morreu em

cerca de 433), abraçou a teoria do sentido quádruplo das Escrituras:

a) O sentido literal era o que nutria as virtudes da fé, esperança e amor.

b) O sentido alegórico indicava à igreja e à sua fé, àquilo em que ela devia crer.

c) O sentido moral ou tropológico apresentava aos indivíduos e ao que eles deviam

fazer, correspondendo ao amor.

d) O sentido anagógico ou relativo indicava a expectativa da igreja, correspondendo à

esperança.

Martinho Lutero: pai da Reforma Protestante na Alemanha, o grande reformador,

iniciou empregando o método alegórico, ele mesmo afirmou tê-lo abandonado depois.

Erasmo (1466-1536), mais que Lutero, quem redescobriu a primazia do sentido literal.

João Calvino (1509-1564), o intérprete mais coerente da Reforma, desenvolveu a

ênfase no método histórico-gramatical a partir da Bíblia, como base para o

desenvolvimento da mensagem espiritual.

A ERA ATUAL

A “Nova Hermenêutica” desenvolveu-se da abordagem existencial. Eles consideravam a

interpretação como a criação de um “evento lingüístico” em que a linguagem autêntica

da Bíblia confronta leitores contemporâneos, desafiando-os à decisão e à fé.

Page 39: Hermeneutica - Material Didatico

39

Além da hermenêutica existencial, entre os interesses recentes estão as abordagens

lingüística, literária, estruturalista e sociológica. Essas abordagens tendem a destacar o

contexto histórico de um texto e a vida em seu ambiente original.

A hermenêutica canônica deve estar atenta para não reduzir as ênfases distintas dentro

do cânon em favor de harmonizações superficiais.

HISTÓRIA DAS VERSÕES DA BÍBLIA EM INGLÊS

Todas as traduções em inglês foram motivadas por necessidades práticas.

As versões anglo-saxônicas

As primeiras Bíblias em inglês não eram inglesas de maneira alguma, e a rigor nem

eram traduções. As verdadeiras traduções anglo-saxônicas começaram com a versão de

Salmos feita por Aldhelm em cerca de 700 d.C.

Na Idade Média

A Bíblia em inglês fez poucos avanços durante os primeiros anos dos normandos, após

1066. O reformador John Wycliffe, destacando a função das Escrituras, teve a visão de

traduzir toda a Bíblia para uso mais amplo.

Na Reforma

Tyndale. A Bíblia de Wycliffe foi um passo importante, mas uma oposição feroz, o

trabalho pesado, o alto custo de produção e as rápidas mudanças lingüísticas reduziram

seu impacto. William Tyndale foi o pioneiro, o incentivador e buscou patrocínio oficial

publicar a edição aperfeiçoada de 1534.

The Great Bible (A Grande Bíblia). Coverdale, protegido pelo arcebispo Cranmer, fez

então uma tradução rápida de toda a Bíblia a partir de fontes secundárias (1535); para

tanto obteve autorização real.

As Bíblias de Genebra, do Bispo e de Rheims. Um Antigo Testamento revisado

Page 40: Hermeneutica - Material Didatico

40

completou a Bíblia de Genebra em 1560. A versão incluía os apócrifos, mas negava

especificamente sua autoridade canônica.

Authorized Version (AV, KJV). John Reynolds produziu uma versão da Bíblia revisada.

Essa versão passou a ser chamada King James Version (KJV, Versão do Rei Tiago) ou

Authorized Version (AV, Versão Autorizada).

NO PERÍODO MODERNO

No período pós-Reforma. Trabalhos complementares na Bíblia em inglês tomaram três

rumos diferentes: paráfrase, pesquisa acadêmica e modernização estilística. As

paráfrases na realidade ten¬tam interpretar o texto de maneira popular para o leitor.

No século XIX. No século XIX, estudos bíblicos avançados e a utilização cada vez

maior logo geraram uma demanda de revisões que refletissem as conclusões acadêmicas

e o desenvolvimento lingüístico.

A revisão americana obteve mais sucesso. Essa versão não só divergiu da RV em

detalhes, como alcançou maior qualidade literária que conquistou o apreço de muitos

leitores.

NO SÉCULO XX

O século XIX concentrou-se principalmente no campo acadêmico, e o XX mostrou

interesse especial na modernização.

O final do século XX gerou novas tentativas de versões populares.

Nenhuma versão é perfeita, e é preciso realizar novos trabalhos quando surgem novos

dados e a língua muda. A Bíblia não é um livro comum. É a Palavra escrita de Deus e

carrega o testemunho autorizado da Palavra encarnada.

HISTÓRIA DAS VERSÕES DA BÍBLIA EM PORTUGUÊS

Page 41: Hermeneutica - Material Didatico

41

O início das traduções da Bíblia para o português remonta à Idade Média. O rei D. Diniz

(1279-1325) é considerado o precursor dessa tão nobre tarefa.

Foi o protestante português João Ferreira de Almeida, nascido em 1628, próximo a

Lisboa, quem marcou a história como o primeiro tradutor a trabalhar a partir das línguas

originais.

No início do século XX, em 1917, foi publicada no Brasil uma tradução bastante literal

e erudita que teve a colaboração de Rui Barbosa. Ficou conhecida como a Tradução

Brasileira e não é mais publicada atualmente.

No cenário evangélico, merece destaque a Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH,

Sociedade Bíblica do Brasil — 1988), feita intencionalmente em linguagem popular,

sob uma filosofia de tradução mais flexível, mas baseada em exegese erudita e

respeitada.

Mais recentemente foi lançada a Nova Versão Internacional (NVI), publicada em março

de 2001 (Novo Testamento em 1994); trata-se de versão fiel ao sentido do original e em

linguagem contemporânea.

AS DIFERENÇAS NOS MANUSCRITOS DA BÍBLIA

Antes da invenção da imprensa por volta de 1450, todos os livros eram escritos e

copiados à mão. Uma obra escrita à mão é chamada manuscrito. As diferenças entre as

cópias dos livros do Antigo ou do Novo Testamento são chamadas leituras variantes.

Não é de admirar que haja diferenças nos manuscritos antigos. O processo laborioso de

cópia à mão levava inevitavelmente a erros acidentais. Além dos erros acidentais,

parece que alguns escribas desviavam-se deliberadamente do texto que estavam

copiando, com a intenção de corrigir erros anteriores.

A quantidade de variações nos manuscritos hebraicos do Antigo Testamento é

Page 42: Hermeneutica - Material Didatico

42

relativamente pequena. A maior parte dos manuscritos, porém, é medieval — afastada

dos originais em mais de mil anos. Exceções notáveis são os manuscritos de trechos

relativamente pequenos do Antigo Testamento encontrados em Qumran e escritos por

volta do início da era cristã, ou seja, alguns dos Manuscritos do Mar Morto.

Por causa do grande número de leituras variantes nos manuscritos bíblicos antigos, não

é “simples” traduzir do hebraico ou grego para alguma língua moderna. Além de

manuscritos hebraicos e gregos, os estudiosos também empregam as versões antigas

(traduções) na tentativa de restaurar o texto original.

Um tipo de texto é um grupo de manuscritos, versões e citações antigos em grego que

têm muito em comum. Em geral, o tipo considerado mais confiável é o alexandrino.

Outro tipo reconhecido pela maioria dos estudiosos, mas nem todos, é o ocidental. Seus

membros não têm tanto em comum entre si como os do tipo alexandrino e bizantino,

mas remontam a meados do século II.

Retirado do livro:

Manual Bíblico Vida Nova - Excelente Leitura

Qualificações do

livro sagrado

1. É a auto revelação de Deus (II Tm 3:16; II Pe 1:20-21). As Escrituras emanam de

Deus; são uma inspiração divina, fato que acarreta a sua confiabilidade histórica. Deus

ama sua Palavra e está moralmente comprometido a falar através dela!

2. A Bíblia é um livro igualmente humano e divino. Os cristãos não procuram ocultar

sua natureza humana. Sabemos que ela foi escrita por homens e que não desceu do Céu

numa bandeja de ouro. Todavia, também cremos que os homens que a escreveram

estavam sob a inspiração de Deus, conduzidos pelo Espírito Santo. A Palavra de Deus

nos é dada nas palavras desses autores humanos e por meio delas. Se o Espírito Santo

supervisionou a entrega e o registro da revelação, Ele, sendo Deus onipresente,

onisciente e onipotente, garantiu que isto seria feito sem erros — a Bíblia é inerrante.

Page 43: Hermeneutica - Material Didatico

43

3. Sua preservação é um milagre.

4. A Bíblia é tanto histórica quanto contemporânea. É um livro arraigado nas culturas,

nas línguas e nas tradições da Antiguidade. Mesmo assim é também um livro poderoso

para tocar a vida dos leitores de hoje (Mt 24:35).

5. É completo (Ap 22:18-19).

6. A Bíblia é singular em sua universalidade cósmica (reflete a glória de Deus sobre

todo o universo) e em sua universalidade social (dirige-se a todos os membros da

sociedade humana, a povos de todas as raças). É singular no impacto histórico, quanto à

iniciativa de Deus, ao poder de Deus e à vitória de Deus na história: é o único livro que

descreve uma história mundial com início e conclusão definidos no ato divino de

revelação. A história é a estrada que vai do primeiro jardim do Éden à gloriosa cidade

chamada Nova Jerusalém. É singular na comunicação: compreendida pela fé e

compreendida pela iluminação. E nos confronta com a vontade de Deus para nossa vida.

Temos de decidir favoravelmente ou contra a mensagem que recebemos.

7. Sua preeminência na literatura, em línguas e dialetos (Is 56:7; At 2:8; Ap 7:9).

8. A Bíblia é tanto um livro simples quanto complexo. As crianças podem desde cedo

começar a estudá-la e a amá-la, e milhões de crianças o fazem. Mas alguns dos mais

capacitados estudiosos em todo o mundo gastam a vida inteira estudando a Bíblia e

mesmo assim confessam ter somente um conhecimento superficial desse livro

maravilhoso. A Bíblia é o livro mais estudado em todo o mundo, assim como também o

mais publicado, e quase certamente o livro mais apreciado do mundo.

9. É uno em coesão de pensamentos (Is 7:14; Mq 5:2; Mt 1:23; 2:6).

10. Sua adaptabilidade alcança a todos (Lc 4:17-18; At 4:13; 8:27-28).

11. A mensagem singular da Bíblia e seu poder transformador. Sua eficácia, efeitos

reais e eternos (At 17:11-12; II Rs 22:13; 23:4-25).

12. O cumprimento das profecias. A Bíblia também demonstra sua origem divina pela

precisão com que suas profecias são cumpridas.

Page 44: Hermeneutica - Material Didatico

44

13. Juiz supremo. A partir do instante em que aceitamos a autoridade da Bíblia, somos

chamados pela força da Palavra a nos submeter à autoridade de Deus. Se Ele, o Criador,

de fato se revelou aos homens através de palavras, tal revelação tem a força de lei para

Suas criaturas. Como soberano do universo, Deus tem o direito de exigir plena

obediência às Suas ordens e fazer valer Sua autoridade através de justo julgamento.

Deus, sendo onisciente e eterno, faz da Sua Palavra autoridade para todas as áreas da

vida humana, sejam elas espirituais, morais, intelectuais ou físicas.

Quando um homem nasce de novo, o Espírito de Deus implanta nele novo princípio de

vida, que é chamado um novo coração, uma nova natureza, uma nova criação. O homem

torna-se “participante da natureza divina”, e dali em diante tem dentro de si a vida de

Deus — “Porei as minhas leis no seu entendimento, e em seus corações as escreverei”

(Hb 10:16) — é o que Deus opera pela regeneração. E com as leis escritas no coração, o

crente tem o desejo de obedecer à vontade de Deus e recebe também o poder de fazê-lo.

A Bíblia é um livro de pesquisa ímpar e indispensável para o cristão e para a igreja. É

luz para o nosso caminho (Sl 119:105). Ler suas palavras em voz alta é como saborear o

mel (Sl 119:103). É uma arma na luta por uma fé mais robusta (Ef 6:17). A vida do

cristão é moldada pela Bíblia, e ela é lida, ensinada, pregada, cantada, crida e amada na

igreja. A Bíblia concede aos cristãos uma visão de mundo. Fornece-lhes um conjunto de

valores morais. Propicia-lhes experiências com Deus. Transmite-lhes o sentido da vida.

Todo cristão pode afirmar como o salmista: “Quanto amo a tua lei! É a minha

meditação, todo o dia” (Sl 119:97).

Que retrato a Bíblia traça de si mesma?

É necessário considerar sobre as metáforas que a Escritura utiliza de si mesma para que

se crie um compromisso mais forte com o estudo da mensagem que Deus inspirou e os

autores bíblicos escreveram. Estas figuras literárias parecem as mais apropriadas para

descrever a Palavra em sua vitalidade e poder. Grandes lições são colhidas quando se

permite que Deus use essas metáforas para convencer seus servos da importância do

estudo e da exposição bíblica.

Page 45: Hermeneutica - Material Didatico

45

Espelho. A Bíblia é como um espelho no sentido de refletir com precisão nossa

aparência espiritual (ICo13:12; Tg 1:23, 25).

Espada. A Bíblia é como uma espada no sentido de poder ser utilizada como arma de

defesa e de ataque contra o inimigo (Hb 4:12; Ef 6:12, 17).

Luz e Lâmpada. A Bíblia é como luz no sentido de nos capacitar a enxergar na

escuridão da vida, manter-nos no caminho certo e evitar os perigos. A frase “Lâmpada

para os meus pés é a tua palavra” (Sl 119:105) deve ser entendida como o ganho da

perspectiva de Deus nas decisões que uma pessoa tome.

Água. A Bíblia é como água no sentido de saciar nossa sede e nos purificar as

impurezas espirituais (Jo 15:3; 13:10; IJo 1:9; Ef 5:25-27).

Alimento. A Bíblia é como alimento no sentido de satisfazer nossa fome espiritual e

fazer-nos crescer espiritualmente (leite, IPe 2:2; semelhante ao mel, Sl 119:103; carne,

Hb 5:12).

Semente (IPe 1:23-25; Tg 1:18). A palavra de Deus tem vitalidade quando ela é

aplicada pelo Espírito divino.

Martelo e Fogo. O “martelo que esmiúça a penha” (Jr 23:29) sugere que eventos,

completamente inesperados, ocorram quando Deus decide comandar transformações

pela sua Palavra. A “palha”, isto é, mensagens sem qualquer respaldo na revelação

divina, será queimada.

Arma (IICo 10:3-5). As armas “poderosas em Deus” referem-se à verdade revelada,

escrita e canonizada, à clara e inabalável Palavra de Deus explicada e sabiamente

aplicada, a única arma segura para explodir os “sofismas” e “fortalezas” men-tais,

desvios doutrinários que dão brechas para o usurpador.

Chicote ou açoite. IITm 3:16-17.

Poder. Rm 1:16; Is 55:11

Hóspede – Dono. Cl 3:16; Ef 5:18; Jo 5:38-39.

Page 46: Hermeneutica - Material Didatico

46

UNIDADE II – ANÁLISES

Capítulo 3 – Análise Histórico-Cultural e Contextual

• ANÁLISE HISTÓRICO-CULTURAL E CONTEXTUAL: Saber considerar o

ambiente histórico-cultural do autor, a fim de entender suas alusões, referências

e propósitos. Saber, também, relacionar uma passagem com o escrito completo

do autor, conhecendo melhor seu pensamento geral e melhorando a

compreensão da passagem.

Análise histórico-cultural que considera o ambiente histórico-cultural do autor, a fim de

entender suas alusões, referências e propósito. A análise contextual considera a relação

de uma passagem com o corpo todo do escrito de um autor, para melhores resultados de

compreensão provenientes de um conhecimento do pensamento geral.

CONTEXTO

O que quer dizer contexto? O contexto se refere ao que vem antes e ao que vem depois

de algo. Todas as principais seitas são formadas a partir da violação do princípio do

contexto: textos são arrancados do seu contexto e apresentados de maneira que o

significado original seja totalmente distorcido.

Há vários tipos de contexto. Cada um expressa um ponto de vista diferente sobre a

passagem que se está considerando.

Contexto literário – O contexto literário de qualquer versículo é o parágrafo do qual

faz parte, a seção da qual o parágrafo é parte, e o livro do qual a seção é parte. E devido

à unidade das Escrituras, o contexto definitivo de qualquer livro é a Bíblia toda.

Page 47: Hermeneutica - Material Didatico

47

Contexto histórico – Quando o fato está acontecendo? Onde na história a passagem se

encaixa? O que está acontecendo no mundo na mesma época? Quais são as influências

sociais, políticas e tecnológicas sobre o autor e sobre aqueles para quem escreve?

Contexto cultural – A cultura tem poderosa influência sobre todas as formas de

comunicação, e as culturas nos tempos bíblicos tiveram efeito na criação da Bíblia.

Assim, quanto mais você souber sobre culturas antigas, mais visão terá do texto.

Contexto geográfico – A investigação do contexto geográfico (geografia das terras

bíblicas) responde perguntas como: Como era o terreno? Que características

topográficas faziam a região especial? Como era o clima? Qual a distância entre essa

cidade e os lugares mencionados no texto? Quais eram as rotas de transporte para o

povo? Qual o tamanho da cidade? Como era a planta da cidade? Por que tipo de coisa o

local era conhecido?

Contexto teológico – A questão aqui é: O que este autor sabia sobre Deus? Qual o

relacionamento de seus leitores com Deus? Como o povo adorava a Deus na época? A

que partes das Escrituras o escritor e sua audiência têm acesso? Que outras religiões e

visões de mundo competem com influência?

O problema central aqui é: Onde a passagem se encaixa na expansão das Escrituras?

Você sabe, a Bíblia não caiu do céu como obra completa. Cerca de 1.600 anos foram

necessários

para formá-la. Durante esse tempo, Deus revelou progressivamente Sua mensagem aos

autores. Por isso, é importante localizar a passagem no fluxo das Escrituras.

Exemplo: Se você estiver estudando Noé, em Gênesis, estará antes dos Dez

Mandamentos, antes do Sermão da Montanha e antes de João 3:16. Na verdade, Noé

não tinha nenhum fragmento de texto bíblico para consultar. O que isso lhe diz quando

lê que “Noé achou graça diante do Senhor” (Gn 6:8).

A importância do contexto

1. Ajuda a não torcer a Palavra de Deus.

Page 48: Hermeneutica - Material Didatico

48

2. O sentido correto da Bíblia vem do contexto (cuidado com as associações de certos

textos com outros que nunca foram escritos para serem ligados com eles; as associações

só devem ser feitas quando o texto indica e justifica claramente a ligação, sempre em

harmonia com os contextos).

3. O sentido correto das palavras vem do contexto.

4. O contexto é a garantia da verdade na Escritura.

5. Passagens difíceis são aquelas em que o contexto original é desconhecido para nós ou

difícil de precisar.

A. Berkeley Mickelsen destaca a importância do contexto: “O contexto é importante

porque os pensamentos geralmente se expressam em uma série de ideias relacionadas.

Às vezes a pessoa faz uma pausa ou se afasta radicalmente do fluxo de pensamentos que

porventura se desenvolveu. Às vezes os pensamentos são reunidos de forma solta, em

um tema geral. Entretanto, sejam as ideias unidas assim, por lógica, sejam as

proposições principais desenvolvidas pela repetição, o significado de qualquer elemento

particular é quase sempre controlado por aquilo que o precede e o segue.”

ANTECEDENTES HISTÓRICO-CULTURAIS

Há interação entre a cultura e a história e não podemos considerar uma sem levar em

conta a outra – a história e a cultura se sobrepõem. Alguns dos fatores histórico-

culturais de um povo são: nacionalidade, política /governo, religião, idioma, literatura,

costumes, vida sócio-econô-mica, objetivos, aspirações, ambiente físico, localização

geográfica e relacionamento com as nações vizinhas (circunstâncias gerais nas quais

Page 49: Hermeneutica - Material Didatico

49

viveram e os diversos problemas que enfrentaram).

Circunstâncias histórico-culturais deixaram sua marca nos diferentes livros da Bíblia.

James Braga considera: “A Bíblia é pródiga em aspectos de importância cultural.

Estamos, porém, tão distantes das pessoas dos tempos bíblicos que é difícil para a atual

geração compreender as maneiras ou mesmo os padrões de pensamento e crença

daquela época. Entretanto, se quisermos entender corretamente a Bíblia, é necessário

aprendermos o máximo sobre a cultura dos diversos grupos raciais, religiosos e sociais

registrados na Bíblia. É impossível conhecer todas as peculiaridades, crenças, tradições

e outros aspectos das civilizações antigas. Entretanto, quanto mais soubermos acerca

dessas civilizações, tanto maior será a nossa capacidade de compreender as Escrituras,

pois estas foram originalmente escritas para eles e sobre eles.”

A interpretação de uma passagem deve harmonizar-se com a situação histórica e

cultural do livro. Você deve observar a passagem contra o fundo certo, com a luz certa

acesa sobre ela, para captar seu significado. Prestar atenção no contexto cultural e

histórico – nos fatores que levaram à escrita da passagem, as influências que tiveram

sobre o texto e o que acontece como resultado da mensagem. Certifique-se em verificar

o pano de fundo, recrie a cultura e o texto passará a ter vida hoje.

Walter C. Kaiser Jr. considera que algumas referências à cultura são neutras e

descritivas. Outros fatos culturais são veículos da revelação divina e a verdade prescrita

neles não pode ser reduzida arbitrariamente a “um mero relato de uma situação hoje

extinta”. O estudante não pode se atrapalhar com a natureza histórica ou culturalmente

condicionada de algumas exigências éticas ou ensinos gerais da Bíblia. Em outras

palavras, a história e a cultura submetem-se às Escrituras. Pelo fato de ser a Palavra de

nosso Criador soberano, a Bíblia interpreta a história e a cultura, não vice-versa.

O estudante da Bíblia deve procurar familiarizar-se com a história bíblica do Velho

Testamento e do Novo, conhecendo a cronologia dos principais eventos. Todo

conhecimento histórico sobre o período transforma-se em ferramenta de interpretação.

Só podemos entender o livro de Juízes se antes lermos Josué, que, por sua vez, tem suas

raízes no Pentateuco. Muitos dos oráculos dos profetas só podem ser entendidos se os

lermos à luz dos acontecimentos históricos descritos nos livros de I e II Reis e I e II

Crônicas, quando se conhece as condições políticas, militares, religiosas e sociais do

Page 50: Hermeneutica - Material Didatico

50

povo de Israel e dos povos vizinhos. É em Atos que lemos sobre as

condições da época em que as epístolas de Paulo foram escritas, ou

sobre o que aconteceu na fundação das igrejas. O estudante que

fizer uso inteligente de dados culturais e históricos enriquecerá sua

compreensão da passagem.

Exemplos:

1. Importância dos antecedentes históricos e culturais no estudo de Rute:

a) Não podemos entender o livro de Rute sem compreender o direito e a

responsabilidade que um parente próximo tinha de resgatar a terra do parente morto

e proporcionar um filho à viúva.

b) No primeiro verso encontram-se as palavras: “Nos dias em que julgavam os juízes,

houve fome na terra.” Essa informação nos remete a Juízes, livro anterior ao de Rute.

Deste modo, para obtermos uma visão exata da época em que viveram os personagens

do livro de Rute, necessitamos conhecer as condições da terra de Israel descritas em

Juízes. Ao lermos esse livro, especialmente os capítulos 17 a 21, concluímos que o país

era um caos, pois cada pessoa fazia “o que achava mais reto”. Entretanto, no meio de

tais lamentáveis circunstâncias, vemos no livro de Rute a mão de Deus a mover-se

silenciosa e discretamente a fim de cumprir o seu propósito em duas pessoas piedosas:

Boaz e Rute. Assim, o contexto histórico de Rute revela Deus no controle de tudo o que

acontece aos seus, e que, apesar das condições adversas, Ele é o todo-poderoso para

executar os seus desígnios naqueles que lhe pertencem.

2. Não é suficiente apenas ter consciência dos fatos históricos e dos costumes de

determinada cultura; o intérprete da Bíblia deve ter também consciência do impacto que

a mensagem teria sobre o público original. Uma plateia atual não se surpreende, por

exemplo, diante da ideia de um “bom samaritano”. Nos dias de Jesus, porém, havia

uma animosidade tão grande por parte dos judeus para com os samaritanos, que tal

alusão seria tão inconcebível quanto uma referência hoje a um terrorista bom. (O

problema histórico dos samaritanos e dos judeus já vinha desde a época de Esdras.)

Page 51: Hermeneutica - Material Didatico

51

3. Saber que César enviou um destacamento especial de 300 soldados com suas

famílias, para “romanizar” a cidade de Filipos, é algo que dá vida ao estudo da Epístola

aos Filipenses. Você pode imaginar as ordens dadas àquelas tropas de ocupação:

“Insistam para que o povo de Filipos fale a mesma língua de Roma. Exijam que adorem

o imperador. Matem-nos se eles não proclamarem religiosamente: ‘César é senhor’.

Àquele minúsculo grupo de crentes em Filipos, Paulo escreve: “Vivei, acima de tudo,

por modo digno do evangelho de Cristo” (1:27). O verbo “vivei” tem origem na palavra

grega politeuomai e significa agir como um cidadão. Aqueles poucos cristãos eram

membros de um reino maior que o de Roma. Eles tinham um Senhor maior do que

César. Sim, eles deviam ser bons cidadãos dos dois reinos, mas Cristo receberia

prioridade. Mesmo que isto significasse prisão ou morte, eles colocariam Jesus Cristo

acima do imperador. Nos dias de hoje, os cristãos verdadeiros constituem uma minoria.

Constantemente eles são tentados a assumir compromisso com o secularismo. Quando

insistem em falar sobre moralidade e ética cristã nos negócios ou na política, quase

sempre são ridicularizados e marginalizados.

Como encontrar os fatos e dados históricos e culturais rela-tivos ao texto em estudo? Há

dois recursos:

a. Recurso de natureza interior, relacionado com o espírito do estudante: trata-se de uma

disposição disciplinada de ler – o espírito de preguiça milita contra a leitura. Mas o bom

estudante bíblico irá cultivar o bom hábito de leituras amplas.

b. Suprimento mínimo de livros técnicos sobre a Bíblia (ver mais detalhes a seguir).

CONSULTA A FONTES SECUNDÁRIAS

Page 52: Hermeneutica - Material Didatico

52

No estudo do cenário histórico-cultural retiramos informações não somente da própria

Bíblia, mas também de fontes seculares dignas de confiança. Recursos secundários

podem trazer luz ao texto.

As escavações de arqueólogos e as pesquisas de muitos eruditos têm contribuído para

um maior conhecimento das antigas civilizações do Egito, da Grécia, de Roma e do

Oriente Próximo. Descobertas recentes de cavernas e túmulos em terras bíblicas, bem

como a interpretação de documentos cuneiformes e hieroglíficos de grandes bibliotecas

antigas aumentam constantemente o acervo de informações sobre a história e a cultura

desses povos. Grande parte dessas informações tem sido reunida em manuais bíblicos,

dicionários e enciclopédias, bem como em obras arqueológicas e em introduções ao

Antigo e ao Novo Testamento. Essas fontes contêm o resultado do trabalho de

arqueólogos, linguistas, historiadores, geógrafos e muitos outros. Com tanto material à

disposição, é possível a qualquer estudante da Bíblia obter conhecimento razoável dos

fundos histórico-culturais.

Você pode avançar consultando fontes secundárias, ou seja, usando a contribuição de

estudiosos da Bíblia que trilharam o mesmo caminho antes de nós e nos deixaram

ajudas valiosas.

“Não é assim com livros e o Livro?” pergunta Russell Shedd. E explica: “Deus revelou

Sua perfeita vontade por meio de culturas pecaminosas e costumes falhos humanos,

relatadas na Bíblia inspirada e perfeita. Livros cristãos, mesmo sendo falhos, como são

seus autores, podem refletir em parte a glória da revelação escriturísticas (cf. I Co

13:12). Paulo não limitou seu pedido a Timóteo à Bíblia. Quis os “livros” e os

“pergaminhos” (II Tm 4:13). Por meio deles também receberia ajuda e inspiração na

prisão úmida, fria e solitária de Roma”.1

Mas uma palavra de cautela: quando puser essas ferramentas para funcionar, cuidado

para não confiar demais nas informações secundárias. O uso de recursos extra bíblicos

nunca deve ser um substituto do estudo pessoal da Bíblia, mas um estímulo a ele. A

ordem é sempre a mesma: primeiro a Palavra de Deus; depois as fontes secundárias. Ir

1 Russell P. Shedd. A Bíblia e os livros. Abec, 1993, p. 18.

Page 53: Hermeneutica - Material Didatico

53

para as fontes secundárias sem nem mesmo consultar o texto deixa pouco espaço para a

Palavra de Deus. É por isso que a primeira coisa que você precisa, antes de obter

qualquer recurso mencionado no quadro abaixo, é de uma boa Bíblia de estudo. Comece

por ela. Depois, enquanto for prosseguindo, poderá acrescentar mais livros à sua

biblioteca.

Há algumas ferramentas especialmente úteis que servirão para o início da construção de

uma valiosa caixa de ferramentas para você usar no trabalho de interpretação.

TIPO DE

RECURSO

DESCRIÇÃO USE-O PARA

SUPERAR...

Atlas Coleção de mapas que mostram lugares mencionados no

texto, e talvez descrição de sua história e significado.

Contém mapas e outras informações para quem quer

investigar o contexto geográfico bíblico.

Barreiras

geográficas

Dicionários

de palavras

bíblicas

Explicam origem, significado e uso de palavras e termos

chaves no texto.

Barreiras

linguísticas

Manuais bíblicos Apresentam informação útil sobre assuntos do texto.

Um manual bíblico é um tipo de enciclopédia; menciona livro

por livro de toda a Bíblia, provendo todos os tipos de material

de pano de fundo.

Barreiras culturais

Comentários

bíblicos

Apresentam o estudo de um erudito bíblico.

Um comentário oferece a você opiniões de um erudito que

passou sua vida inteira investigando o texto bíblico. As

opiniões do comentário também podem ajudar você a avaliar

seu próprio estudo pessoal. Entretanto, você não pode ficar

dependente dos comentários, ao invés de se familiarizar com

Barreiras

linguísticas,

culturais e

literárias

Page 54: Hermeneutica - Material Didatico

54

o texto bíblico.

Textos

interlineares

Traduções com o texto grego ou hebraico posicionado entre

as linhas para comparação.

Barreiras

linguísticas

Concordâncias

(Chave bíblica)

Depois da Bíblia de estudo, esta é a ferramenta mais essencial

ao estudo bíblico. Uma concordância é como um índice da

Bíblia. Ela alista todas as palavras do texto alfabeticamente,

com as referências de onde aparecem, e algumas palavras ao

redor delas para prover um pouco do contexto.

É útil para o

estudo de palavras

e para localizar

uma passagem

quando não se

lembra da

referência.

Recursos

adicionais

Sugestões: História de Israel no Antigo Testamento, de Eugene H. Merrill

(CPAD); Introdução ao Antigo Testamento, de William Lasor (Edições Vida

Nova);

Introdução ao Novo Testamento, de D. A. Carson (Edições Vida Nova)

A Vida Diária nos Tempos de Jesus, de Henri Daniel-Rops (Edições Vida Nova).

O manuseio honesto do texto no contexto é a maior ajuda que alguém pode dar a si

mesmo, no sentido de compreender a mensagem da Bíblia. Quando estudar um

versículo, parágrafo, seção, ou até um livro inteiro – consulte sempre os vizinhos

daquele versículo, parágrafo, seção ou livro. Quando se perder, suba numa árvore

contextual e ganhe visão.

Determinar o Contexto Geral Histórico-Cultural

Page 55: Hermeneutica - Material Didatico

55

Específico e a Finalidade de um Livro. O segundo passo, mais específico, é determinar

a finalidade (ou finalidades) explícita de um livro. Algumas perguntas secundárias são

guias úteis:

1. Quem foi o autor? Qual era seu ambiente e sua experiência espirituais?

2. Para quem estava ele escrevendo (e.g., crentes, incrédulos, apóstatas, crentes que

corriam o perigo de tornarem-se apóstatas)?

3. Qual foi a finalidade (intenção) do autor ao escrever este livro especial?

Geralmente é possível descobrir o autor e seus destinatários por via dos dados internos

(textuais) ou dos externos (históricos). Em alguns casos a prova parece razoavelmente

conclusiva; em outros, o melhor que se pode conseguir é uma hipótese culta.

Depois que o estudo nos revelar o contexto específico histórico-cultural em que o livro

foi escrito, devemos determinar a finalidade dele. São três as formas fundamentais de

fazê-los:

Em primeiro lugar, observar a declaração explicita do autor ou a repetição de certas

frases. Por exemplo, Lucas 1:1-4 e Atos 1:1 dizem-nos que o propósito de Lucas era

apresentar uma narração coordenada do começo da era cristã. João diz-nos (20:31) que

tinha em mira apresentar um registro do ministério de Jesus para que os homens

cressem. A primeira carta de Pedro é uma exortação a que os crentes permanecessem

firmes em meio à perseguição (5:12).

Em segundo lugar, observar a parte parenética (hortativa) de seu escrito. Uma vez que

as exortações fluem do propósito, elas propiciam importante pista das intenções do

autor. A carta aos Hebreus, por exemplo, está entremeada de exortações e advertências;

por isso pouca dúvida existe de que o objetivo do autor era persuadir os crentes judeus

que passavam por perseguições (10:32-35) a não voltar ao judaísmo, mas manter-se

fieis à sua nova profissão de fé (10:19-23; 12:1-

Em terceiro lugar, observar os pontos omitidos ou os problemas enfocados.

Por exemplo, o escritor de 1 e 2 Crônicas não nos dá uma história completa de todos os

acontecimentos nacionais durante o reinado de Salomão e da divisão do reino.

Page 56: Hermeneutica - Material Didatico

56

Ele seleciona fatos que mostram que Israel só pode resistir enquanto permanecer fiel aos

mandamentos de Deus e à sua aliança.

Desenvolver uma Compreensão do Contexto Imediato .Algumas perguntas secundárias

ajudam a entender um texto em seu contexto imediato.

Primeira, quais os principais blocos de material e de que forma se encaixam no todo?

Alternativamente, qual é o esboço do livro?

Segunda, como passagem que estamos considerando contribui para a

corrente de argumentação do autor? Alternativamente, qual a ligação entre a 4

passagem que estamos estudando e os blocos de material que vêm imediatamente

antes e depois?

Terceira, qual era a perspectiva do autor?

Como exemplo da importância deste princípio, consideremos a questão do

dilúvio: foi universal ou local? Por via do contexto é difícil determinar se a linguagem

dos capítulos 6-9 do Gênesis pretendia ser entendida numenologicamente (da

perspectiva divina) ou fenomenologicamente (da perspectiva humana). Se as frases

“Pareceu toda carne” e “cobriram todos os altos montes” são entendidas

numenologicamente, subentende-se um dilúvio universal. Se essas mesmas frases

são entendidas fenomenologicamente, elas poderiam significar “pereceram todos os

animais que pude observar”, e “todos os montes que pude observar ficaram

cobertos”.

Page 57: Hermeneutica - Material Didatico

57

Do ponto de vista hermenêutico, o princípio importante é que os escritores

bíblicos às vezes tencionaram escrever de uma perspectiva numenológica e às

vezes de uma fenomenológica. A interpretação que dermos ao que ele pretendiam

dizer erra se deixamos de estabelecer esta distinção.

Quarta, está à passagem declarando verdade descritiva ou prescritiva? As

pessoas descritivas relatam o que foi dito ou o que aconteceu em determinado

tempo. As passagens prescritivas da Escritura são tidas como articuladoras de

princípios normativos. As epístolas são antes de tudo prescritivas. A análise

contextual é a mais válida forma de diferençar entre passagens descritivas e

prescritivas.

Quinta, o que constitui o núcleo de ensino da passagem e o que representa

apenas detalhe incidental? Os pelagianos do começo do quinto século fizeram algo

semelhante com a história do filho pródigo. Na sua maneira de argumentar, uma vez

que o filho pródigo se arrependeu e voltou para o pai sem o auxilio de mediador,

segue-se que não necessitamos de mediador.

O debate em torno de 1 Coríntios 3:16: “Sois santuário de Deus” ou “sois o templo de

Deus”, dependendo da versão usada. O ponto central de Paulo nesse versículo é a

santidade do corpo de Cristo, a igreja. Concentrando-se num detalhe incidental (a

estrutura do templo do Antigo Testamento) esse educador concluiu que uma vez que o

templo tinha três partes (um pátio exterior, um pátio interior e um santo dos santos), e

uma vez que os cristãos são chamados de santuário, conclui-se, portanto, que o homem

possui três partes – corpo, alma e espírito!

Finalmente, a quem se destina a passagem? É bem conhecida a historieta humorística do

jovem que procurava freneticamente a vontade de Deus para a sua vida e resolveu

Page 58: Hermeneutica - Material Didatico

58

seguir a orientação bíblica, fosse ela qual fosse; a primeira passagem sobre a qual seus

olhos caíram foi Mateus 27:5 (“Então Judas... retirou-se e foi enforcar-se”); a segunda

passagem foi Lucas 10:37 (“Vai, e procede tudo de igual modo”); e a terceira, João

13:27 (“O que pretendes fazer, faze-o depressa”).

Resumo

Os passos seguintes estão envolvidos na análise histórico-cultural e contextual:

1. Determinar o ambiente geral histórico e cultural do escritor e de sua audiência.

a) Determinar as circunstâncias históricas gerais.

b) Estar atento às circunstâncias e normas culturais que adicionam significado a

determinadas ações.

c) Discernir o nível de compromisso espiritual da audiência.

2. Determinar o propósito (ou propósitos) do autor ao escrever um livro.

a) Observar as declarações explícitas ou frases repetidas.

b) Observar as seções parenéticas.

c) Observar os problemas omitidos ou os enfocados.

3. Entender de que forma a passagem se enquadra no contexto imediato.

a) Localizar os principais blocos de material no livro e mostrar como se encaixam num

todo coerente.

b) Mostrar como a passagem se ajusta à corrente de argumento do autor.

c) Determinar a perspectiva que o autor tenciona comunicar – numenológica (a

realidade das coisas) ou fenomenológica (a aparência das coisas).

d) Distinguir entre verdade descritiva e verdade prescritiva. Distinguir entre detalhes

incidentais e ponto central do ensino de uma passagem.

e) Localizar a pessoa ou categoria de pessoas às quais a passagem é dirigida

Page 59: Hermeneutica - Material Didatico

59

Capítulo 4 – Análise Léxico-Sintática

.

Definição e Pressuposições

Análise léxico-sintática é o estudo do significado de palavras tomadas isoladamente

(lexicologia) e o modo como essas palavras se combinam (sintaxe), a fim de determinar

com maior precisão o significa que o autor pretendia lhes dar.

A análise léxico-sintática fundamenta-se na premissa de que embora as palavras possam

assumir uma variedade de significados em contextos diferentes, elas têm apenas um

significado intencional em qualquer contexto dado. Assim, se eu dissesse “Ele é ou está

verde”, essas palavras poderiam significar que (1) ele é inexperiente, ou (2) ele está

doente, ou (3) ele está assustado. Conquanto minhas palavras pudessem significar

qualquer uma dessas três coisas, o contexto geralmente indicará qual dessas ideias eu

desejo comunicar. A análise léxico-sintática ajuda o intérprete a determinar a variedade

de significados de uma palavra

ou de um grupo de palavras, e então declarar que o significado X é mais provável do

que o significado Y ou Z de ser a intenção do autor nessa passagem.

Procedimento de sete passos:

1. Apontar a forma literária geral. A forma literária que um autor usa (prosa, poesia,

etc.) influencia o modo como ele pretende que suas palavras sejam entendidas.

2. Investigar o desenvolvimento do tema do autor e mostrar como a passagem em

consideração se encaixa no contexto. Este passo, já iniciado como parte da análise

Page 60: Hermeneutica - Material Didatico

60

contextual, dá uma perspectiva necessária para determinar o significado das palavras e

da sintaxe.

3. Apontar as divisões naturais do texto. As principais unidades conceptuais e as

declarações transicionais revelam o processo de pensamento do autor e, portanto,

tornam mais claro o significado que ele quis dar.

4. Identificar os conectivos dentro dos parágrafos e sentenças. Os conectivos

(conjunções, preposições, pronomes relativos) mostram a relação que existe entre dois

ou mais pensamentos.

5. Determinar o significado isolado das palavras. Qualquer palavra que sobrevive por

muito tempo numa língua começa a assumir uma variedade de significados. Por isso é

necessário procurar os diversos possíveis significados de palavras antigas, e então

determinar qual desses possíveis significados é o que o autor tencionava transmitir num

contexto específico.

6. Analisar a sintaxe. A relação das palavras entre si expressa-se por meio de suas

formas e disposição gramaticais.

7. Colocar os resultados de sua análise léxico-sintática em palavras que não tenham

conteúdo técnico, fáceis de ser entendidas, que transmitam claramente o significado

que o autor tinha em mente.

Page 61: Hermeneutica - Material Didatico

61

Forma Literária Geral

Para fins de análise é suficiente, a esta altura, falar de três formas literárias gerais –

prosa, poesia e literatura apocalíptica. Os escritos apocalípticos contêm palavras

empregadas com sentido simbólico. A prosa e a poesia empregam palavras com

sentidos literal e figurativo; na prosa predomina o uso literal; na poesia, usa-se com

maior frequência a linguagem figurativa.

Desenvolvimento do Tema

Este passo, já iniciado como parte da análise contextual, é importante por dois motivos.

Primeiro, o contexto é a melhor fonte de dados para a determinação de qual dos diversos

possíveis significados de uma palavra é o que o autor tinha em mente.

Segundo, a não ser que uma passagem seja colocada na perspectiva de seu contexto, há

sempre o perigo de ela se envolver tanto nas tecnicidades de uma análise gramatical

que o intérprete perca a visão da ideia (ou ideias) básica que as palavras realmente

comunicam.

Divisões Naturais do Texto

As divisões em versículos e capítulos que hoje constituem parte de nosso modo de

pensar não existiam nas primitivas Escrituras. Essas divisões foram acrescentadas

muitos séculos depois que a Bíblia foi escrita, como auxílio na localização de

passagens. Embora as divisões em versículos atendam bem a esta finalidade, a divisão

do texto versículo por versículo tem a nítida desvantagem de dividir os pensamentos de

modo antinatural.

Conectivos Dentro de Parágrafos e Sentenças

Os conectivos, incluindo conjunções, preposições, pronomes relativos, etc., muitas

vezes auxiliam no acompanhar a progressão do pensamento.

À guisa de ilustração, examinemos Gálatas 5:1 que diz: “Permanecei, pois, firmes e não

vos submetais de novo a jugo de escravidão”. Tomado isoladamente, o versículo

poderia ter qualquer de diversos significados: poderia referir-se à escravidão humana, à

escravidão política, à escravidão ao pecado, e assim por diante. O “pois” indica,

contudo, que este versículo é a aplicação de um ponto que Paulo apresentou no capítulo

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anterior. Uma leitura dos argumentos de Paulo (Gálatas 3:1 – 4:30) e de sua conclusão

(4:31) esclarece o significado do outrora ambíguo 5:1. Paulo está incentivando os

Gálatas a não se escravizar de novo ao

jugo do legalismo (i.e., esforçar-se por ganhar a salvação pelas boas obras).

Significado da Palavra

Em sua maioria, as palavras que sobrevivem por longo tempo numa língua adquirem

muitas denotações (significados específicos) e conotações (implicações

complementares). Ao lado de seus significados específicos, muitas vezes as palavras

têm uma variedade de denotações vulgares, isto é, usos encontradiços na conversação

comum.

As palavras ou frases podem ter denotações vulgares e também técnicas. Por exemplo, a

frase “Há uma onda de coqueluche na cidade” tem um sentido quando empregada como

termo médico, mas o sentido muda por completo quando se diz que “a coqueluche da

cidade é andar com calças ‘jeans’ “ desbotadas”, onde a linguagem é vulgar.

As denotações literais podem, finalmente, conduzir a denotações metafóricas.

Usada literalmente, a palavra verde designa uma cor; empregada com sentido

metafórico, pode estender-se desde a cor de uma laranja que ainda não amadureceu até à

ideia de uma pessoa imatura, ou inexperiente.

Método para Descobrir as Denotações de Palavras Antigas

Há três métodos geralmente adotados para se descobrir a variedade de significados que

uma palavra possa ter:

O primeiro é estudar os modos como ela foi empregada em outra literatura antiga.

O segundo método é estudar os sinônimos, procurando pontos de comparação bem

como de contraste.

Page 63: Hermeneutica - Material Didatico

63

O terceiro método para a determinação dos significados de uma palavra é a etimologia

– o estudo do significado das raízes históricas da palavra.

Há disponíveis vários tipos de instrumentos léxicos que capacitam o atual estudioso das

Escrituras a averiguar os diversos possíveis significados de palavras antigas. Os mais

importantes tipos de instrumentos léxicos estão descritos a seguir.

Concordâncias. Uma concordância, ou chave bíblica, contém uma lista de todas as

vezes que determinada palavra é usada na Escritura. Para examinar os vários modos em

que determinada palavra hebraica ou grega foi empregada, consulte-se uma

concordância hebraica ou grega, que arrola todas as passagens em que aparece a

palavra.

Léxicos. Léxico é um dicionário de vocábulos hebraico ou gregos. Como um dicionário

da língua portuguesa, ele registra as várias denotações de cada palavra nele encontrada.

Muitos léxicos oferecem uma síntese do uso das palavras, tanto na literatura secular

como na bíblica, citando exemplos específicos. Muitas vezes as palavras hebraica e

gregos estão registradas em ordem alfabética, de modo que é útil conhecer os alfabetos

hebraico e grego a fim de usar esses instrumentos.

Sintaxe

A sintaxe trata do modo como os pensamentos são expressos por meio de formas

gramaticais. Cada língua tem sua própria estrutura, e um dos problemas que tanto

dificultam a aprendizagem de outra língua é que o estudante deve dominar não só as

definições e pronúncias das palavras da nova língua, mas também novos modos de

dispor e demonstrar a relação de uma palavra com outra.

A língua portuguesa é analítica: a ordem das palavras é um guia para o significado. O

hebraico é, também, uma língua analítica. O grego, pelo contrário, é uma língua

sintética: o significado é entendido apenas parcialmente pela ordem das palavras e

muito mais pelas terminações da palavra ou pelas terminações de casos.

Page 64: Hermeneutica - Material Didatico

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Bíblias Interlineares. Estas bíblias contêm o texto hebraico ou grego com a tradução

impressa entre as linhas (daí o nome interlinear). Justapondo-se os dois conjuntos de

palavras, elas capacitam o estudante a indicar facilmente a palavra (ou palavras)

hebraica ou grega que ele deseja estudar.

Léxicos. Muitas vezes a palavra que encontramos no texto é uma variação da forma

radical da palavra. Por exemplo, em português poderíamos encontrar várias formas do

verbo Entregar:

entregou

entregado

entregue

entregaremos

Gramáticas hebraicas ou gregas. Se desconhecemos o significado da expressão

“acusativo singular” que descreve a forma de uma palavra, será valioso ter um terceiro

conjunto de auxílios gramaticais. As gramáticas hebraicas e gregas explicam as várias

formas que as palavras podem tomar em suas respectivas línguas, e o significado das

palavras quando aparecem numa dessas formas.

Confirmando o Que Foi Dito

Ponha os resultados de sua análise léxico-sintática em palavra não técnicas, de fácil

compreensão, que comuniquem com clareza o significado que o autor tinha em mente.

Sempre existe o perigo de a análise léxico-sintática envolve-se de tal maneira com os

detalhes técnicos (e.g., os nomes técnicos ou nomes de casos gramaticais, de

Bullinger), que perdemos de vista a finalidade da análise, a saber, comunicar o

significado do autor com a maior clareza possível. Há, também, a tentação de

impressionar os ouvintes com nossa erudição e profundas capacidades exegéticas. As

pessoas precisam ser alimentadas, não impressionadas. O estudo

Page 65: Hermeneutica - Material Didatico

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técnico deve ser feito como parte de qualquer exegese, mas é preciso que seja parte da

preparação para a exposição. A maioria dele não precisa aparecer no produto

(exceto no caso de documentos teológicos acadêmicos ou técnicos).

RESUMO

Os sete passos seguintes foram recomendados para a elaboração de uma

análise léxico-sintática:

1. Apontar a forma literária geral.

2. Investigar o desenvolvimento do tema e mostrar como a passagem sob

consideração se enquadra no contexto.

3. Apontar as divisões naturais (parágrafos e sentenças) do texto.

4. Indicar os conectivos dos parágrafos e sentenças e mostrar como auxiliam na

compreensão da progressão do pensamento.

5. Determinar o que significam as palavras tomadas individualmente.

a) Apontar os múltiplos significados que uma palavra possuía no seu tempo e cultura.

b) Determinar o significado único que o autor tinha em mente em dado contexto.

6. Analisar a sintaxe para mostrar de que modo ela contribui para a compreensão de

uma passagem.

7. Colocar os resultados de sua análise em palavras não técnicas, de fácil compreensão,

que comuniquem com clareza o significado que o autor tinha em mente.

Page 66: Hermeneutica - Material Didatico

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Capítulo 5 – Análise Teológica

Duas Perguntas Básicas

A pergunta fundamental feita na análise teológica é: “Como esta passagem se

enquadra no padrão total da revelação de Deus?

” De imediato se evidencia que primeiro devemos responder a outra pergunta, a saber:

“O que é o padrão da revelação de Deus?”

Sistemas Teoréticos Representativos

Os teólogos liberais, tipicamente veem a Bíblia como um produto do desenvolvimento

evolutivo da religião de Israel. Quando a consciência religiosa de Israel se tornou mais

sofisticada, aconteceu o mesmo com a sua teologia. Como consequência, os teólogos

liberais veem na Bíblia uma variedade de teologias – escritos que refletem diferentes

níveis de sofisticação teológica, às vezes conflitantes entre si. Em vez de verem a Bíblia

como a verdade divina que Deus revelou ao homem, creem que as Escrituras são

pensamentos do homem acerca de Deus. Visto que os pensamentos dos homens acerca

de Deus. Visto que os pensamentos dos homens mudaram com o correr do tempo,

creem eles que a Bíblia revela diversas ideias e movimentos de desenvolvimento

teológico em vez de uma teologia única, unificada.

TEORIA LUTERANA

Lutero acreditava que para uma adequada compreensão da Bíblia devemos distinguir

com cuidado entre duas verdades bíblicas paralelas e sempre presentes: a Lei e o

Evangelho. Conforme foi mencionado no capítulo 2, a Lei refere-se a Deus em seu ódio

ao pecado, seu juízo, e sua ira. O Evangelho refere-se a Deus em sua graça, seu amor, e

sua salvação.

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A análise teológica pergunta: “De que modo esta passagem se encaixa no padrão total

da revelação de Deus?” Antes de respondermos a essa pergunta, devemos ter uma

compreensão do padrão da história da revelação.

Várias opiniões são apresentadas – desde as que acentuam grandes descontinuidades

dentro da história bíblica até as que acentuam continuidade quase total. Cinco dessas

teorias foram apontadas e discutidas com relação ao continuo, continuidade e

descontinuidade.

Também foram debatidos quatro conceitos bíblicos principais – graça, lei, salvação e o

ministério do Espírito Santo – termos do problema continuidade descontinuidade, e

esperamos que o leitor gaste algum tempo neste ponto tirando

suas próprias conclusões acerca da natureza da história da salvação. Este processo

forma a base para a análise teológica.

Os passos dessa análise são:

1. Determinar seu próprio ponto de vista da natureza do relacionamento de

Deus com o homem. A coleta de provas, a estruturação das perguntas, e a compreensão

de determinados textos são, sem dúvida alguma, tendenciosos pelas

concepções que o autor possui de uma visão bíblica da história da salvação. A

conclusão deste passo é por demais importante para adotar a de outrem sem que o

próprio leitor considere cuidadosamente e em espírito de oração a evidencia.

2. Descobrir as implicações deste ponto de vista para a passagem que está sendo

estudada. Por exemplo, uma posição sobre a natureza da relação de Deus

com o homem, basicamente descontínua, verá o Antigo Testamento como menos

pertinente aos nossos contemporâneos do que o Novo Testamento.

3. Avaliar a extensão do conhecimento teológico disponível às pessoas daquele tempo.

Que conhecimento prévio haviam elas recebido? (Nos livros que tratam de

hermenêutica, às vezes este conhecimento prévio é mencionado como “analogia da

Escritura”). Bons textos de teologia bíblica podem revelar-se muito úteis a este respeito.

Page 68: Hermeneutica - Material Didatico

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4. Determinar o significado que a passagem possuía para seus primitivos destinatários à

luz do conhecimento que tinham.

5. Descobrir o conhecimento complementar acerca deste ponto que hoje temos

disponível em virtude de revelação posterior. (Nos livros de hermenêutica, às vezes este

ponto é mencionado como a “analogia da fé”).

UNIDADE III – MÉTODOS E PRINCÍPIOS

Capítulo 6 – Métodos Literários Especiais

São Métodos Literários Especiais:

Símiles, Metáforas, Provérbios, Parábolas, e Alegorias Símiles é uma comparação

expressa: é típico o emprego das palavras semelhante ou como “O reino dos céus é

semelhante....”). O sujeito e a coisa com a qual ele está sendo comparado são mantidos

separados (isto é, não “o reino dos céus é...”, e, sim, “o reino dos céus é semelhante...”).

Metáforas é uma comparação não expressa: ela não usa as palavras semelhante ou

como. O sujeito e a coisa com a qual ele é comparado estão entrelaçados. Jesus usou

metáforas quando disse: “Eu sou o pão da vida”, e “Vós sois a luz do mundo”.

Podemos entender a parábolas como um símile ampliado. A comparação vem expressa,

e o sujeito e a coisa comparada, explicados mais plenamente, mantêm-se separados. Por

semelhante modo pode-se entender a alegorias como uma metáfora ampliada: a

comparação não vem expressa, e o sujeito e a coisa comparada acham-se entrelaçados.

Damos a seguir exemplos de uma parábola e de uma alegoria para esclarecer esta

distinção:

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Parábola

(Isaías 5:1-7)

Agora, cantarei ao meu amado,

O cântico do meu amado

A respeito da sua vinha.

O meu amado teve uma vinha

Num outeiro fertilíssimo.

Sachou-a, limpou-a das pedras e a plantou de vides escolhidas;

Edificou no meio dela uma torre, e também abriu um lagar.

Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas.

Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá,

Julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha.

Que mais se podia fazer ainda à minha vinha,

que eu lhe não tenha feito?

e como, esperando eu que desse uvas boas

veio a produzir uvas bravas?

Agora, pois, vos farei saber

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70

o que pretendo fazer à minha vinha:

Tirarei a sua sebe,

para que a vinha sirva de pasto;

derribarei o seu muro,

para que seja pisada;

torná-la-ei em deserto.

Não será podada, nem sachada,

mas crescerão nela espinheiros e abrolhos;

às nuvens darei ordem

que não derramem chuva sobre ela.

Porque a vinha do Senhor dos Exércitos

é a casa de Israel, e os homens de Judá

são a planta dileta do Senhor;

este desejou que exercessem juízo,

e eis aí quebrantamento da lei;

justiça, e eis aí clamor.16

Alegoria (Salmo 80:8-16)

Trouxeste uma videira do Egito;

Expulsaste fora as nações, e a plantaste.

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Dispuseste-lhe o terreno,

Ela deitou profundas raízes e encheu a terra.

Com a sombra dela os montes se cobriram,

e com os seus sarmentos os cedros de Deus.

Estendeu ela a sua ramagem até o mar,

e os seus rebentos até ao rio.

Por que lhe derrubaste as cercas,

de sorte que a vindimam todos os

que passam pelo caminho?

o javali da selva a devasta,

e nela se repastam os animais que pululam no campo.

Ó Deus dos Exércitos, volta-te, nós te rogamos,

Olha do céu, e vê e visita esta vinha;

Protege o que a tua mão direita plantou, o sarmento que para ti fortaleceste.

Está queimada pelo fogo, está decepada. Perecem pela repreensão do teu rosto.

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Na parábola, a história se encontra nos versículos de um a seis e a aplicação no

versículo sete. Na alegoria, a história e sua aplicação se acham entre mescladas e

prosseguem juntas.

Pode-se conceber o provérbio como uma parábola ou uma alegoria comprimida, às

vezes possuindo as características de ambas. Em esquema, apresentamos abaixo a

relação entre esses cinco dispositivos literários: ampliado Símile , Parábola

comprimido, Provérbio ampliada comprimida Metáfora e Alegoria

Resumindo: Nos símiles e nas parábolas as comparações se acham expressas e

separadas, enquanto nas metáforas e nas alegorias não se acham expressas, mas entre

mescladas. Numa parábola há separação consciente da história e sua aplicação, ao

passo que na alegoria há entre mescla das duas. Os provérbios podem ser considerados

ou como parábolas condensadas ou como alegorias condensadas. As seções que vêm

em seguida estudarão a natureza e interpretação de provérbios, parábolas e alegorias em

maior extensão.

Provérbios

Um dos maiores problemas da religião é a falta de interação prática entre nossas

convicções teológicas e nosso comportamento diário. É possível separar a vida religiosa

das decisões práticas do dia-a-dia. Os provérbios podem proporcionar um importante

antídoto, pois demonstram a verdadeira religião em termos específicos práticos e

significativos.

Sabedoria, na Escritura, não é sinônimo de conhecimento. Ela começa com “o temor do

Senhor”. O temor do Senhor não é o medo normal, ou mesmo aquele tipo mais

profundo conhecido como “reverência Luminosa”, mas é basicamente uma postura, uma

atitude do coração que reconhece nosso relacionamento legítimo com o Deus-Criador.

A vida de sabedoria e prudência procede desta postura conveniente, deste

reconhecimento de nosso lugar legítimo diante de Deus. Dentro deste contexto, os

provérbios já não permanecem como motos piedosos para serem pendurados na parede,

mas se tornam meios intensamente práticos, significativos, de inspirar um anda íntimo

com o Senhor.

Parábolas

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73

A palavra parábolas provém do grego, paraballo, que significa “lançar ou colocar ao

lado de”. Assim, parábola é algo que se coloca ao lado de outra coisa para efeito de

comparação. A parábola típica utiliza-se de um evento comum da vida natural para

acentuar ou esclarecer uma importante verdade espiritual. Jesus, o Mestre dos mestres,

usou parábolas regularmente enquanto ensinava. A palavra grega “parábola” ocorre

perto de cinquenta vezes nos Evangelhos Sinópticos em conexão com seu ministério,

dando a entender que as parábolas eram um de seus prediletos esquemas de ensino.

é uma história baseada em fatos do cotidiano com o objetivo de ilustrar ou

aclarar uma verdade.

As parábolas de Jesus aprendiam a atenção por falarem de aspectos comuns do

cotidiano: comercio, agriculturas, pecuária religião, casa, etc...

A Compreensão de Tipos e Símbolos

Tipos – semelhança, similaridade ou correspondência profunda com o

antítipo, que é a realização do tipo – o Tabernáculo ( Hb 8. 4-5)

Símbolos – objeto representativo. Tipo e símbolo não são a mesma

coisa. Enquanto o tipo representa um elemento futuro, o símbolo não se

prende a ideia de tempo. Ex: O Tabernáculo no deserto era um tipo de

Cristo. Por outro lado, quando se diz que Cristo é como um leão,

qualquer leão pode servir para retratar determinada característica do

Senhor.

Alguns Princípios Para a Interpretação das Parábolas

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74

1. Atentar para o significado natural da história;

2. Identificar o problema, a pergunta ou a situação que originou a parábola;

3. Identificar a principal verdade ilustrada pela parábola;

4. Confirmar o tema principal da parábola por meio de um ensinamento bíblico

explícito;

5. Reparar na reação implícita ou explícita dos ouvintes.

5) Profecias

A profecia deve ser interpretada literalmente, a menos que o contexto ou alguma

referência posterior na Escritura indique outra coisa. Um exemplo de um ponto na

Escritura em que uma referência posterior na Escritura indica que não pode ser tomada

literalmente é a profecia de Malaquias a respeito do precursor de Cristo: “Eis que eu vos

enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; ele

converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu

não venha e fira a terra com maldição” (Malaquias 4. 5-6)

Diz Malaquias que Deus enviará “o profeta Elias” quando aparecer João Batista como o

precursor de Jesus Cristo, gerou-se muita confusão o que mostra que o povo daquele

tempo esperava que a profecia iria cumpri-se literalmente. Contudo, Jesus disse que essa

profecia deveria ter cumprimento figurado, e não literal . ( Mt 11. 13- 14; 17. 10-13).

Essa ilustração constitui a exceção, e não a regra, na interpretação de profecias. Na

maior parte, as profecias podem e devem ser interpretadas literalmente.

Muitas vezes uma profecia se cumpre parcialmente numa geração com o restante

cumprindo-se noutra época – Joel 2. 28- 32 = At 2. 15- 21 / Is 61. 1-2 = Lc 4. 17- 21.

APLICAÇÃO DA MENSAGEM BÍBLICA

Page 75: Hermeneutica - Material Didatico

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Levanta-se a seguinte pergunta: “Quais as implicações desse significado para nós em

época e cultura diferentes?”

Indicamos pelos menos duas as principais categorias de passagens bíblicas às quais a

pergunta acima deve ser endereçada. A primeira é constituída de porções narrativas.

Como podemos tornar essas porções bíblicas úteis para o ensino, para a repreensão, para

a correção, e para a educação na justiça de um modo hermeneuticamente válido?

Segunda, como podemos aplicar os mandamentos normativos da Escritura?

Transferimo-los por atacado para nosso tempo e cultura, sem levar em conta quão

arcaicos ou peculiares nos pudessem parecer? Ou devemos transformá-los? Que

diretrizes adotamos para responder a essas perguntas?

O texto propõe um modelo para traduzir mandamentos bíblicos de uma cultura para

outra.

Diferente da alegorização, que dá a uma história novo significado, atribuindo aos seus

detalhes significação simbólica que o autor não tencionava dar, a dedução de princípios

busca derivar seus ensinos de uma cuidadosa compreensão da própria história. Diferente

da desmitologização, a dedução de princípios reconhece a validade tanto dos detalhes

históricos de uma narrativa como dos princípios que esses detalhes tentam ensinar.

Metodologicamente, o sistema é o mesmo da exegese de qualquer passagem bíblica.

Observam-se cuidadosamente as circunstâncias históricas e os costumes culturais que

iluminam o significado de várias ações e mandamentos. Estuda-se a finalidade do livro

em que a narrativa ocorre, bem como o contexto mais estreito das passagens

imediatamente precedentes e seguintes à seção em exame. Também se examinam o

estado do conhecimento teológico e o compromisso.

Depois de realizado tudo isso, o intérprete está, pois, em posição de entender o

significado da narrativa em seu ambiente de origem. Por fim, com base neste

entendimento e usando um processo de dedução, o intérprete procura articular o

princípio ou princípios exemplificados na história, princípios que continuam a possuir

aplicabilidade ao crente hodierno. Examinaremos duas narrativas para esclarecer este

processo de deduzir princípios.

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Exemplo Nº. 1: O “Fogo Estranho” de Nadabe e Abiú (Levítico 10:1-11)

A história de Nadabe e Abiú é interessante não só por causa de sua brevidade, mas

também pela severidade e singularidade do juízo que trouxe sobre eles. Ela desperta

curiosidade porque não se vê de imediato o que era o “fogo estranho”, nem por que

trouxe reação tão rápida e poderosa da parte de Deus.

Ações da Narrativa

Arão e seus filhos acabavam de ser consagrados ao sacerdócio (Levítico 8). Depois de

ordenar que o fogo ardesse continuamente sobre o altar (6:13), Deus confirmou a oferta

sacrificial de Arão por si e pelo povo, acendendo o fogo miraculosamente (9:24).

Nadabe e Abiú, os dois filhos mais velhos de Arão, tomaram “fogo estranho” e fizeram

uma oferta de incenso ao Senhor. De imediato o fogo do Senhor os feriu de morte.

Moisés profetizou, e a seguir deu ordens aos parentes de Arão que tirassem do

acampamento os corpos de Nadabe e de Abiú. Arão e seus filhos restantes, que também

eram sacerdotes, receberam ordens para não demonstrar as tradicionais expressões de

luto (desgrenhar os cabelos e rasgar as vestes), embora os parentes tivessem permissão

de fazê-lo.

Então o Senhor deu a Arão três ordens (Levítico 10:8-10): (1) nem ele nem outro

qualquer de seus descendentes sacerdotais deviam tomar bebidas fermentadas antes de

entrar para o exercício de seus deveres sagrados; (2) deviam diferençar entre o santo e o

profano, entre o imundo e o limpo; e (3) deviam ensinar ao povo todos os estatutos do

Senhor. Significado ou Sentido das Ações Análise histórico-cultural Israel acabara de

sair da adoração idólatra, mas continuava rodeado de cultuadores idólatras. Havia um

constante perigo de sincretismo, isto é, de associar o culto ao verdadeiro Deus com as

práticas do culto pagão.

Análise contextual. Este era o dia de investidura de Arão e de seus filhos como

iniciadores do sacerdócio Levítico. Suas ações seriam, se a menor dúvida, consideradas

como precedentes para os que viessem depois. De igual modo, a aceitação ou rejeição

dessas ações por parte de Deus influiria sobre os futuros desenvolvimentos do próprio

sacerdócio e das atividades sacerdotais.

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Análise léxico-sintática e teológica. Quase todas as religiões antigas, incluindo o

judaísmo, consideravam o fogo como símbolo divino. Explica-se o fogo profano ou

“estranho” que Nadabe e Abiú ofereceram como fogo que Deus não lhes havia

ordenado oferecer (v.1). Uma expressão semelhante encontra-se em Êxodo 30:9, onde o

incenso que não fora preparado segundo as instruções do Senhor é chamado de “incenso

estranho”.

Uma análise mais completa da seqüência de tempo dos capítulos 9 e 10 mostra que

Nadabe e Abiú fizeram a oferta de incenso entre a oferta sacrificial (holocausto) (9:24) e

a oferta de manjares que a devia ter seguido (10:12-20), isto é, numa hora que não a

designada para a oferta de incenso. Keil e Delitzsch dizem que não é improvável que:

Nadabe e Abiú tencionavam associar-se aos gritos do povo como uma oferta de incenso

para o louvor e glória de Deus, e apresentaram a oferta de incenso não só numa hora

imprópria, mas não preparada do fogo do altar, e comentaram tal pecado com esta

adoração de iniciativa própria, que foram mortos pelo fogo que saiu de diante de Jeová.

... O fogo do Deus santo (Êxodo 14:18), que acabara de santificar o serviço de Arão

como agradável a Deus, trouxe destruição a seus filhos mais velhos, porque não haviam

santificado a Jeová em seus corações, mas haviam eles próprios assumido a

responsabilidade de um serviço rebelde.

Esta interpretação é ademais confirmada pela profecia de Deus a Arão, por intermédio

de Moisés, imediatamente depois de o fogo haver consumido a Nadabe e Abiú. “Isto é o

que o Senhor disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim, e

serei glorificado diante de todo o povo” (v. 3).

Logo depois disto, Deus falou diretamente a Arão, dizendo:

“Vinho nem bebida forte tu e teus filhos não bebereis, quando

entrardes na tenda da congregação, para que não morrais;

estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações; para

fazerdes diferença entre o santo e o profano e entre o imundo

e o limpo” (vv. 9-10)

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Alguns comentaristas têm inferido desses versículos que Nadabe e Abiú estavam sob a

influência de bebidas embriagantes quando ofereceram o fogo estranho. O texto não

nos permite afirmar tal coisa, com absoluta certeza, embora seja provável que Deus

estivesse dando mandamentos relacionados com a infração que trouxera juízo de morte

sobre Nadabe e Abiú.

A principal lição das três ordens é clara: Deus fora cuidadoso em mostrar o modo pelo

qual os israelitas podiam receber expiação por seus pecados e manter com ele um

relacionamento reto. Deus havia demonstrado claramente a Arão e seus filhos as

diferenças entre santo e profano, limpo e impuro, os quais haviam sido instruídos a

ensinar essas coisas ao povo. Nadabe e Abiú, num gesto de obstinação, haviam adotado

sua própria forma de adoração, obscurecendo a diferença entre o santo (os

mandamentos de Deus), e o profano (os gestos religiosos de iniciativa própria do

homem). Esses gestos, se não fossem prontamente reprovados, podiam facilmente

conduzir à assimilação de todos os tipos de práticas pagãs pessoais no culto a Deus.

A segunda lição reside no fato de que a reconciliação com Deus depende da graça

divina, e não de práticas obstinadas do homem e de sua própria iniciativa. Deus havia

dado os meios de reconciliação e de expiação. Nadabe e Abiú tentaram acrescentar algo

aos meios divinos de reconciliação. Como tal, eles continuam como exemplo a todos os

povos e religiões que colocam suas próprias ações no lugar da graça de Deus como

meio de reconciliação e salvação.

Aplicação

Deus é o iniciador de sua misericórdia e graça na relação divino-humana; cabe-nos a

responsabilidade de aceitar essa graça. Os crentes, especialmente os que se acham em

postos de liderança dentro da comunidade cristã, têm uma responsabilidade oriunda de

Deus de ensinar, com todo o cuidado, que a salvação vem pela graça de Deus, e não por

via de obras do homem, e a diferençar entre o santo e o profano (v. 10). Crer e atuar

como se fôssemos os iniciadores e não os respondentes em nosso relacionamento com

Deus, especialmente se ocupamos postos com probabilidade de servir de modelo para o

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comportamento de outras pessoas, como no caso de Nadabe e Abiú, é trazer sobre nós

mesmos a desaprovação divina.

Diretrizes para a Dedução de Princípios

1. Essa dedução focaliza os princípios implícitos num relato, aplicáveis através dos

tempos e das culturas. Os detalhes podem variar, mas os princípios permanecem os

mesmos.

2. Ao derivar o significado de uma narrativa como base para deduzir princípios, o

significado deve sempre desenvolver-se a partir de uma cuidadosa análise histórica e

léxica: o significado deve ser aquele que o autor tinha em mente.

3. De uma perspectiva teológica, o significado e os princípios derivados do relato

devem estar em consonância com todos os demais ensinos da Escritura. Um princípio

dedutivo extraído de uma narrativa que contradiz o ensino de outra passagem bíblica

não é válido.

4. Os princípios derivados por este método podem ser normativos ou não normativos.

5. Os textos têm somente um significado, mas podem ter muitas aplicações. A dedução

de princípios é um método de aplicar o significado que o autor tinha em mente, mas as

aplicações desse significado podem referir-se a situações que o autor, num tempo e

cultura diferentes, nunca imaginou.

Alguns Passos Propostos na Tradução de Mandamentos Bíblicos de uma Cultura

e Tempo para Outra Cultura e Tempo

1. Discernir tão precisamente quanto possível o princípio por trás do mandamento

comportamental dado. Por exemplo, os cristãos devem julgar o pecado individual em

sua comunidade local cometido pro crentes, porque se não for corrigido, o mal exercera

efeito sobre toda a comunidade (1 Coríntios 5:1-13, especialmente o v. 6).

2. Discernir se o princípio é permanente ou limitado a uma época (transcultural ou

cultural). Na última seção apresentamos algumas sugestões para se fazer isto. Uma vez

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que a maior parte dos princípios bíblicos está arraigada na natureza imutável de Deus,

parece deduzir-se que o princípios deve ser considerado transcultural, a menos que haja

evidencia contrária.

3. Se um princípio é transcultural, estude a natureza da aplicação comportamental em

nossa cultura. A aplicação comportamental dada então será apropriada para nossos dias,

ou será ela uma esquisitice anacrônica?

É muito grande o perigo de conformar a mensagem bíblica ao nosso molde cultural. Há

ocasiões em que a expressão de um princípio dado por Deus levará os cristãos a

comportar-se de um modo diferente dos não-cristãos (Romanos 12:2),

mas não desnecessariamente, não por amor à diferença em si. O critério para discernir

se um mandamento comportamental deve aplicar-se à nossa cultura não há de ser se ele

se conforma ou não às práticas culturais modernas, mas se ele expressa ou não,

adequada e precisamente, o princípio intencional de Deus.

4. Se a expressão comportamental de um princípio deve ser mudada, proponha um

equivalente cultural que expresse adequadamente o princípio de origem divina que está

por trás do mandamento primitivo. Por exemplo, J. B. Phillips acha que “Saudai-vos uns

aos outros com cordial aperto de mão” pode ser um bom equivalente cultural para o

Ocidente de “Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo”.

Se não houver equivalente cultural, talvez valesse a pena considerar a criação de um

novo comportamento cultural que expresse de modo significativo os princípios

envolvidos. (De um modo semelhante, mas não estritamente análogo, algumas das mais

recentes cerimônias de casamento expressam os mesmos 25 princípios que os mais

tradicionais, porém em novas fórmulas muito criativas e significativas).

5. Se depois de cuidadoso estudo a natureza do princípio bíblico e o mandamento que

o acompanha continuam em dúvida, aplique o preceito bíblico da humildade. Por de

haver ocasiões em que, mesmo depois de cuidadoso estudo de determinado princípio e

de sua expressão comportamental, ainda continuamos em dúvida se devemos

considerá-lo transcultural ou cultural. Se temos de decidir sobre tratar o mandamento de

um modo ou de outro, mas não temos meios conclusivos para tomar a decisão, pode ser

proveitoso o princípio da humildade. Afinal de contas, seria melhor tratar um princípio

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como transcultural e levar a culpa de ser excessivamente escrupuloso em nosso desejo

de obedecer a Deus? Ou seria melhor tratar um princípio transcultural como sujeito á

cultura e ser culpado de quebrar uma exigência transcendente de Deus? A resposta

deveria ser óbvia. Se este princípio de humildade estiver isolado das demais diretrizes

mencionadas acima, com facilidade ele poderia ser mal interpretado como base para

conservadorismo desnecessário. O princípio só deve ser aplicado depois de havermos

cuidadosamente tentado determinar se ele é transcultural ou cultural, e a despeito de

nossos melhores esforços, o problema ainda continua em dúvida. Esta é uma diretriz de

último recurso e seria destrutiva se usada como primeiro.

Capítulo 7 – Princípios de Interpretação

Walter A. Henrichsen, no livro “Princípios de Interpretação da Bíblia”, relaciona 24

leis ou regras de interpretação, agrupadas em quatro categorias:2

Princípios Gerais de Interpretação – são os que tratam da matéria global da

interpretação. São princípios universais em sua natureza, não se limitando a

considerações específicas, incluídas estas nas outras três seções.

1. Estude partindo do pressuposto de que a Bíblia é a autoridade suprema em questões

de religião(CRISTÂ), fé e doutrina.

2. A Bíblia é a melhor intérprete de si mesma; portanto, compare Escritura com

Escritura.

2 Todos os princípios de Interpretação são vistos com profundidade na disciplina denominada Hermenêutica Bíblica, que é o estudo do significado da linguagem da Bíblia.

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3. Dependa da fé salvadora e do Espírito Santo para compreender e interpretar bem as

Escrituras.

4. Interprete a experiência pessoal à luz das Escrituras, e não as Escrituras à luz da

experiência pessoal.

5. Os exemplos bíblicos só têm autoridade prática quando amparados por uma ordem

que os faça mandamento universal.

6. O propósito primário da Bíblia é mudar as nossas vidas, e não aumentar nossos

conhecimentos.

7. Cada cristão tem o direito e a responsabilidade de investigar e interpretar

pessoalmente a Palavra de Deus, seguindo princípios universalmente aceitos pela

ortodoxia bíblica.

8. A História da Igreja é importante, mas não é decisiva na interpretação da Escritura.

9. As promessas divinas, exaradas na Bíblia, estão disponíveis ao Espírito Santo para

aplicá-las a favor dos crentes de todas as gerações.

Princípios Gramaticais de Interpretação – são os que tratam do texto propriamente

dito. Estabelecem as regras básicas para o entendimento das palavras e sentenças da

passagem em estudo. As Escrituras devem ser interpretadas em consonância com as

regras básicas da gramática, incluindo questões como sintaxe e estilo.

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10. A Escritura tem somente um sentido, e deve ser tomada literalmente.

11. Interprete as palavras do texto bíblico no sentido que tinham no tempo do autor.

12. Interprete as palavras em relação à sua sentença e ao seu contexto.

13. Interprete a passagem em harmonia com o seu contexto.

14. Quando um objeto inanimado é usado para descrever um ser vivo, a proposição

pode ser considerada figurada.

15. Quando uma expressão não caracteriza a coisa descrita, a proposição pode ser

considerada figurada.

16. As principais partes e figuras de uma parábola representam certas realidades.

Considere somente essas principais partes e figuras quando estiver tirando conclusões.

17. Interprete as palavras dos profetas no seu sentido comum, literal e histórico, a não

ser que o contexto ou a maneira como se cumpriram indiquem claramente que têm

sentido simbólico. O cumprimento delas pode ser por etapas, cada cumprimento sendo

uma garantia daquilo que há de seguir-se.

Princípios Históricos e Culturais de Interpretação – são os que tratam do substrato

ou contexto em que os livros da Bíblia foram escritos. As situações políticas,

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econômicas e culturais são importantes na consideração do aspecto histórico do seu

estudo da Palavra de Deus.

18. Uma vez que as Escrituras se originaram de modo histórico, elas devem ser

interpretadas à luz da história. (Como revelação sobrenatural de Deus, ela contém

elementos que transcendem os limites do contexto histórico.)

19. Embora a revelação de Deus nas Escrituras seja progressiva, tanto o Antigo

Testamento como o Novo são partes essenciais desta revelação e formam uma unidade

harmônica.

20. Os fatos ou acontecimentos históricos se tornam símbolos de verdades espirituais,

somente se as Escrituras assim os designaram.

Princípios Teológicos de Interpretação – são os que tratam da formação da doutrina

cristã; desempenham papel de profunda relevância na obra de dar forma àquele corpo de

crenças a que você chama suas convicções. São, por necessidade, regras “amplas”, pois

a doutrina tem de levar em consideração tudo que a Bíblia diz sobre dado assunto.

21. Você precisa compreender gramaticalmente a Bíblia, antes de compreendê-la

teologicamente.

22. Uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a não ser que resuma e inclua tudo o

que as Escrituras dizem sobre ela.

23. Quando parecer que duas doutrinas ensinadas na Bíblia são contraditórias, aceite

ambas como escriturísticas, crendo confiantemente que elas se explicarão dentro de uma

unidade mais elevada.

24. Um ensinamento simplesmente implícito nas Escrituras pode ser considerado

bíblico quando uma comparação de passagens correlatas o apoia.

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PARA (NÃO) FINALIZAR:

Que Deus encontre em cada um de nós um espírito submisso, apto para aprender d’Ele,

por meio da Revelação Escrita, capaz de transmitir com fidelidade o que recebemos.

Experimente ser fiel no seu trabalho de Interpretação e conhecerá os insondáveis

mistérios de Deus. “Quem não crê, não experimenta ; quem não experimenta não pode

Saber”(Anselmo).

“Aquele que se contentar com o uso destes meios e puser de parte os preconceitos...

em que muitos envolvem todas as questões adquirirá decerto a compreensão da

Sagrada Escritura; se não for em tudo, será na maior parte, e, se não for

imediatamente, com certeza será depois.”

( Whitaker)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CHEN, Christian. Os números na Bíblia – Ed. Betânia

E. LUND / P. C. Nelson Hermenêutica. Tradução: Etuvino Adiers. São Paulo . Editora Vida,1986

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FERREIRA, Julia – Conheça Sua Bíblia – Ed. Luz para o Caminho

FRIBERG, Bárbara – O NT Grego Analítico – Ed. vida Nova

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VIRKLER, Henry A. – Hermenêutica - Princípios E Processos De Interpretação - Ed Vida.

ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia / tradutor: