Heráclito e o dilema da insegurança alimentar

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AGRO PECUÁRIO ESTADO DE MINAS S E G U N D A - F E I R A , 1 8 D E A G O S T O D E 2 0 0 8 2 AGRO PECUÁRIO ESTADO DE MINAS S E G U N D A - F E I R A , 1 8 D E A G O S T O D E 2 0 0 8 11 O primeiro guia de campo sobre sapos, rãs e pererecas do Pantanal tve pré-lançamento durante a 8ª Conferência Internacio- nal sobre Áreas Úmidas (In- tecol), realizado em Cuiabá (MT). Numa linguagem atualizada e de fácil acesso, o Guia de campo dos anu- ros do Pantanal e planaltos de entorno descreve o am- biente físico do Pantanal e seu entorno, introduz o te- ma da biologia reprodutiva dos anuros e faz recomen- dações sobre a conservação das espécies. São mais de 50 espécies descritas em in- glês e português, seguindo as últimas modificações re- levantes da literatura cien- tífica. Para cada espécie há um texto descritivo e uma foto auxiliando o leitor nas identificações. No final do guia há um glossário que auxilia os não-especialistas a entender termos técnicos relevantes. Assinam a pu- blicação Zilca Campos, pes- quisadora da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), e Domingos de Jesus Rodri- gues, professor da Univer- sidade Federal do Mato Grosso (UFMT), o professor Masao Uetanabaro, do De- partamento de Biologia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), e os biólogos Cyn- thia Prado, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Marcelo Gordo, da Univer- sidade Federal do Amazo- nas (Ufam). * O livro está à venda pela editora da UFMT. Telefone: (65) 615-8324 ou e-mails [email protected] e [email protected] BIBLIOTECA DO CAMPO Sapos do pantanal ARTIGO SOLUÇÃO SIMPLES AGRO OPORTUNIDADES BALANÇAS GADO SEMENTES MATRIZ ALIMENTAÇÃO P/ ANIMAL MUDAS PAULA HANNA VALDUJO/DIVULGAÇÃO - 7/4/08 Heráclito e o dilema da insegurança alimentar O Brasil ainda não dispõe de uma marca capaz de conduzir um consumidor de qualquer parte do mundo a dizer: “Quero made in Brazil”. Não somos sinônimos de nada, exceto a pecha de destruidores da Floresta Amazônica RODRIGO CRAVEIRO/CB/D.A PRESS - 16/12/05 MARA LUÍZA GONÇALVES FREITAS* A navegação pelas águas da História remete necessariamente à revisitação da civilização gre- ga e em especial, o pensamento de alguns impor- tantes filósofos, como Aristóteles, Platão, Sócra- tes e até mesmo Heráclito. Este, conhecido como pai da dialética jônica, desafia o homem e a mu- lher contemporânea a refletirem sobre a essen- cialidade e a acidentalidade dos elementos que compõem o ciclo da vida. O rio, sempre será o rio, essa é a essência, contudo, o movimento ao lon- go do percurso, o acidental, somente está lá, por- que favorece a mudança, que desnuda o futuro. Não assumindo aqui as vezes de filósofa, esse tão contemporâneo raciocínio importa, quando se pondera sobre um elemento fundamental para a preservação da vida humana que é a saciedade do corpo por meio do alimento. Como transcender a desigualdade alimen- tar que afeta mais de 850 milhões de seres hu- manos em todo o planeta, se talvez estamos diante de um cataclisma acelerado, que é o aquecimento global? Será que a natureza é realmente a madrasta da tragédia ou é a pró- pria mão do homem que coordena as regras do capitalismo? Recentemente, comecei a ponde- rar sobre isso, principalmente quando observo a construção histórica da mais relevante roda- da de negociação que envolve a agricultura, a famosa Rodada Doha, que este ano completa seu sétimo aniversário. Atualmente, a rodada assumiu o posto de essencial, quando na verdade, deveria ser tra- tada como uma acidentalidade no curso do rio chamado “Agronegócio Brasileiro”. O mar, cha- mado mercado, está logo mais ali à frente, mas alguns desfiladeiros precisam ser enfrentados com requintes de elegância e supremacia em- presarial. Atualmente, garimpamos o represa- mento como alternativa de acordo diplomáti- co, envolvendo a tentativa de criação de pon- tes entre países emergentes e países desenvol- vidos, na expectativa de alocarmos mais euros e dólares para o mercado nacional, por meio da quebra dos subsídios agrícolas. “Quebrem os subsídios agrícolas, que quebramos o protecio- nismo à indústria nacional”: essa é a barganha em processo de design, que não é boa, em ter- mos de acordo. Johan Galtung (professor e fun- dador do Instituto de Pesquisas da Paz, em Os- lo)expõem muito bem que acordo é estratégia de pobre, que não tem capacidade de ver além do conflito nem tampouco o transcende. Enquanto o Brasil não transcende essa arena, insistindo em conferir valores acidentais à roda- da, esquece-se do essencial investimento em inte- ligência comercial e na construção de uma mar- ca internacional que conferirão a longevidade co- mercial anseada pelos milhões de membros que compõem o agronegócio nacional, os europeus transcendem liberando 1 bilhão de euros para in- vestimentos no futuro grande concorrente bra- sileiro na área agrícola, o continente africano. E por que as cartas estão lançadas dessa maneira? Porque a segurança alimentar é essencial para eles. É uma essencialidade historicamente cons- truída. A acidentalidade na seleção da origem pa- ra a aquisição de produtos de base alimentar não importa. Essencial é a disponibilidade da oferta para sustentar a dieta e uma política de preços compatíveis com a realidade deles. Em suma: o rio de lá chegará ao mar de qualquer forma. Com ou sem aquisição de produtos brasileiros. Não há temeridade em relação à África, quan- to vislumbrante possível futuro celeiro de ali- mentos do mundo. A maioria dos famintos do planeta estão lá e uma agricultura pujante seria uma mudança magnífica em termos de restau- ração da dignidade humana daquelas pessoas de- vassadas pela pobreza absoluta, infernal. Contu- do, é preciso olhar a agricultura nacional com os olhos do marketing e a dinâmica da estratégia, de forma puramente empresarial, em nível de go- verno brasileiro. O Brasil ainda não dispõe de uma marca capaz de conduzir um consumidor de qualquer parte do mundo a dizer: ‘quero ma- de in Brazil”. Não somos sinônimos de nada, exce- to à pecha de destruidores da Floresta Amazôni- ca. Pessoalmente, acredito única e exclusivamen- te nesse diferencial competitivo frente às vanta- gens comparativas dos outros. O marketing de marca, conjugado com toda a excelência até en- tão construída dentro da fronteira agrícola brasi- leira é o elemento de sedução que nos falta. Em suma, a conquista do consumidor es- trangeiro, que, no final das contas remunera o esforço do produtor nacional, com dólares, eu- ros, yens, yuans, é o único caminho. Os desa- fios, inclusive orçamentários, são muitos, mas o mar está logo mais ali à frente. *Gerente de negócios da CBM Agroenergia [email protected] Dia de campo comemora mais uma fase no Jequitinhonha Projeto barraginhas mantém expansão Luciano Cordoval acredita até em surgimento de novas nascentes Minas Novas, no Vale do Je- quitinhonha, faz as contas e co- memora a expansão do projeto barraginhas em diferentes co- munidades rurais. Quinta-feira passada, a equipe do projeto, lide- rada pelo engenheiro agrônomo Luciano Cordoval de Barros, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete La- goas-MG), esteve na comunidade de Cansanção, onde um dia de campo comemorou o encerra- mento de uma fase do trabalho com as barraginhas. É o que Lu- ciano costuma chamar de fase de mobilização, seguido da constru- ção efetiva de 50 barraginhas. Simples e de fácil construção, as barraginhas são mini-açudes pa- ra captação de água de chuva. Segundo o engenheiro, as 70 primeiras barraginhas permiti- ram a recuperação de várias nas- centes d'água. “Agora, com mais 50 intercaladas, esperamos que os minadouros se fortaleçam mais ainda, cremos até no apare- cimento de novas nascentes”, aposta. Em outra comunidade rural, chamada Quilombola de Macuco, o dia de campo foi sex- ta-feira. Lá, o trabalho está numa fase mais inicial. “Começaremos as atividades de mobilização e implantação das primeiras bar- raginhas; serão construídas em torno de 25 em cada uma das três comunidades quilombolas que existem lá”, conta Luciano, acrescentando que outra comu- nidade, Pinheiros, também rece- berá cerca de 25 barraginhas. NEWTON FRANÇA/ESP. EM/D.A PRESS - 6/10/04

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Artigo publicado no jornal O Estado de Minas em 18 de agosto de 2008.

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A G R O P E C U Á R I O

E S T A D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 1 8 D E A G O S T O D E 2 0 0 8

2 A G R O P E C U Á R I O

E S T A D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 1 8 D E A G O S T O D E 2 0 0 8

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O primeiro guia decampo sobre sapos, rãs epererecas do Pantanal tvepré-lançamento durante a8ª Conferência Internacio-nalsobreÁreasÚmidas(In-tecol), realizado em Cuiabá(MT). Numa linguagematualizada e de fácil acesso,o Guia de campo dos anu-ros do Pantanal e planaltosde entorno descreve o am-biente físico do Pantanal eseu entorno, introduz o te-madabiologiareprodutivados anuros e faz recomen-daçõessobreaconservaçãodasespécies.Sãomaisde50espécies descritas em in-glês e português, seguindoasúltimasmodificaçõesre-levantes da literatura cien-tífica. Para cada espécie háum texto descritivo e umafotoauxiliandooleitornasidentificações. No final doguia há um glossário queauxiliaosnão-especialistasaentendertermostécnicosrelevantes. Assinam a pu-blicaçãoZilcaCampos,pes-quisadora da EmbrapaPantanal (Corumbá-MS), eDomingos de Jesus Rodri-gues, professor da Univer-sidade Federal do MatoGrosso(UFMT),oprofessorMasao Uetanabaro, do De-partamento de Biologia daUniversidade Federal doMato Grosso do Sul(UFMS), e os biólogos Cyn-thiaPrado,daUniversidadeEstadual Paulista (Unesp) eMarcelo Gordo, da Univer-sidade Federal do Amazo-nas (Ufam).

* O livro está à venda pela editora da

UFMT. Telefone: (65) 615-8324 oue-mails [email protected] [email protected]

BIBLIOTECADO CAMPO

Sapos dopantanal

AARRTTIIGGOO SSOOLLUUÇÇÃÃOO SSIIMMPPLLEESS

A G R O O P O R T U N I D A D E S

BALANÇAS GADO

SEMENTES

MATRIZ

ALIMENTAÇÃO P/ ANIMAL

MUDAS

PAULA HANNA VALDUJO/DIVULGAÇÃO - 7/4/08

Heráclito e o dilemada insegurança alimentar

O Brasil ainda não dispõe deuma marca capaz de conduzirum consumidor de qualquer

parte do mundo a dizer: “Queromade in Brazil”. Não somossinônimos de nada, exceto a

pecha de destruidores daFloresta Amazônica

RODRIGO CRAVEIRO/CB/D.A PRESS - 16/12/05

MARA LUÍZA GONÇALVES FREITAS*

A navegação pelas águas da História remetenecessariamente à revisitação da civilização gre-gaeemespecial,opensamentodealgunsimpor-tantes filósofos, como Aristóteles, Platão, Sócra-teseatémesmoHeráclito.Este,conhecidocomopai da dialética jônica, desafia o homem e a mu-lher contemporânea a refletirem sobre a essen-cialidade e a acidentalidade dos elementos quecompõemociclodavida.Orio,sempreseráorio,essa é a essência, contudo, o movimento ao lon-go do percurso, o acidental, somente está lá, por-que favorece a mudança, que desnuda o futuro.Nãoassumindoaquiasvezesdefilósofa,essetãocontemporâneo raciocínio importa, quando sepondera sobre um elemento fundamental paraa preservação da vida humana que é a saciedadedo corpo por meio do alimento.

Como transcender a desigualdade alimen-tar que afeta mais de 850 milhões de seres hu-manos em todo o planeta, se talvez estamosdiante de um cataclisma acelerado, que é oaquecimento global? Será que a natureza érealmente a madrasta da tragédia ou é a pró-pria mão do homem que coordena as regras docapitalismo? Recentemente, comecei a ponde-rar sobre isso, principalmente quando observoa construção histórica da mais relevante roda-da de negociação que envolve a agricultura, afamosa Rodada Doha, que este ano completaseu sétimo aniversário.

Atualmente, a rodada assumiu o posto deessencial, quando na verdade, deveria ser tra-tada como uma acidentalidade no curso do riochamado “Agronegócio Brasileiro”. O mar, cha-mado mercado, está logo mais ali à frente, masalguns desfiladeiros precisam ser enfrentadoscom requintes de elegância e supremacia em-presarial. Atualmente, garimpamos o represa-mento como alternativa de acordo diplomáti-co, envolvendo a tentativa de criação de pon-tes entre países emergentes e países desenvol-vidos, na expectativa de alocarmos mais eurose dólares para o mercado nacional, por meio daquebra dos subsídios agrícolas. “Quebrem ossubsídios agrícolas, que quebramos o protecio-nismo à indústria nacional”: essa é a barganhaem processo de design, que não é boa, em ter-mos de acordo. Johan Galtung (professor e fun-dador do Instituto de Pesquisas da Paz, em Os-lo)expõem muito bem que acordo é estratégia

de pobre, que não tem capacidade de ver alémdo conflito nem tampouco o transcende.

Enquanto o Brasil não transcende essa arena,insistindo em conferir valores acidentais à roda-da,esquece-sedoessencialinvestimentoeminte-ligência comercial e na construção de uma mar-cainternacionalqueconferirãoalongevidadeco-mercial anseada pelos milhões de membros quecompõem o agronegócio nacional, os europeustranscendemliberando1bilhãodeeurosparain-vestimentos no futuro grande concorrente bra-sileiro na área agrícola, o continente africano. Epor que as cartas estão lançadas dessa maneira?Porque a segurança alimentar é essencial paraeles. É uma essencialidade historicamente cons-truída.Aacidentalidadenaseleçãodaorigempa-raaaquisiçãodeprodutosdebasealimentarnãoimporta. Essencial é a disponibilidade da ofertapara sustentar a dieta e uma política de preçoscompatíveis com a realidade deles. Em suma: oriodeláchegaráaomardequalquerforma.Comou sem aquisição de produtos brasileiros.

NãohátemeridadeemrelaçãoàÁfrica,quan-to vislumbrante possível futuro celeiro de ali-mentos do mundo. A maioria dos famintos doplaneta estão lá e uma agricultura pujante seriauma mudança magnífica em termos de restau-raçãodadignidadehumanadaquelaspessoasde-vassadas pela pobreza absoluta, infernal. Contu-do, é preciso olhar a agricultura nacional com osolhosdomarketingeadinâmicadaestratégia,deforma puramente empresarial, em nível de go-verno brasileiro. O Brasil ainda não dispõe deuma marca capaz de conduzir um consumidorde qualquer parte do mundo a dizer: ‘quero ma-deinBrazil”.Nãosomossinônimosdenada,exce-to à pecha de destruidores da Floresta Amazôni-ca.Pessoalmente,acreditoúnicaeexclusivamen-te nesse diferencial competitivo frente às vanta-gens comparativas dos outros. O marketing demarca, conjugado com toda a excelência até en-tão construída dentro da fronteira agrícola brasi-leira é o elemento de sedução que nos falta.

Em suma, a conquista do consumidor es-trangeiro, que, no final das contas remunera oesforço do produtor nacional, com dólares, eu-ros, yens, yuans, é o único caminho. Os desa-fios, inclusive orçamentários, são muitos, maso mar está logo mais ali à frente.

*Gerente de negócios da CBM Agroenergia

[email protected]

Dia de campo comemora mais uma fase no Jequitinhonha

Projeto barraginhasmantém expansão Luciano

Cordovalacredita atéem surgimentode novasnascentes

Minas Novas, no Vale do Je-quitinhonha, faz as contas e co-memora a expansão do projetobarraginhas em diferentes co-munidades rurais. Quinta-feirapassada, a equipe do projeto, lide-rada pelo engenheiro agrônomoLuciano Cordoval de Barros, daEmbrapa Milho e Sorgo (Sete La-goas-MG), esteve na comunidadede Cansanção, onde um dia decampo comemorou o encerra-mento de uma fase do trabalho

com as barraginhas. É o que Lu-ciano costuma chamar de fase demobilização, seguido da constru-ção efetiva de 50 barraginhas.Simples e de fácil construção, asbarraginhas são mini-açudes pa-ra captação de água de chuva.

Segundo o engenheiro, as 70primeiras barraginhas permiti-ram a recuperação de várias nas-centes d'água. “Agora, com mais50 intercaladas, esperamos queos minadouros se fortaleçam

mais ainda, cremos até no apare-cimento de novas nascentes”,aposta. Em outra comunidaderural, chamada Quilombola deMacuco, o dia de campo foi sex-ta-feira. Lá, o trabalho está numafase mais inicial. “Começaremosas atividades de mobilização e

implantação das primeiras bar-raginhas; serão construídas emtorno de 25 em cada uma dastrês comunidades quilombolasque existem lá”, conta Luciano,acrescentando que outra comu-nidade, Pinheiros, também rece-berá cerca de 25 barraginhas.

NEWTON FRANÇA/ESP. EM/D.A PRESS - 6/10/04