Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

12
Alguns apontamentos sobre Heidegger e o problema da metafísica moderna. 1 Por Marina Coelho 2 Resumo: Neste trabalho tentaremos mostrar como Heidegger tenta resolver o problema da metafísica ocidental focando a sua postura crítica no problema da metafísica da subjetividade resgatando a questão fundamental, a questão do ser, através de sua analítica existencial. Tentaremos mostrar também que, com a necessidade de se fazer uma ontologia fundamental, ela será pensada por Heidegger como meio de fundar a metafísica ocidental. Depois da ontologia como analítica existencial em Ser e tempo o autor se confronta com a metafísica numa interpretação original e inédita da história da mesma como velamento do pensamento do ser e fundamentação do ser do ente em sua totalidade. Com a crise de fundamento da ontologia dogmática cristã a realidade transcendente é posta em dúvida e necessita-se de um fundamento que assegure o conhecimento. Esse conhecimento, com Descartes, é assegurado pelo sujeito. A metafísica vira problema do conhecimento e em Kant já se abandona o conteúdo do mundo como a coisa-em-si incognoscível e se discute as formas como o conhecimento pode nos ser dado. A partir de Kant todo conhecimento só pode ser dado transcendentalmente, ou seja, a partir do sujeito e das formas 1 Stein, E. Questão do método na filosofia. 1976. Ed: livraria Duas cidades. Pg 153. 2 Dubois, C. Heidegger, introdução á uma leitura. 2005 Zahar. pg 72

description

ijkj

Transcript of Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

Page 1: Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

Alguns apontamentos sobre Heidegger e o problema da metafísica moderna.1

Por Marina Coelho2

Resumo:Neste trabalho tentaremos mostrar como Heidegger tenta resolver o problema da metafísica ocidental focando a sua postura crítica no problema da metafísica da subjetividade resgatando a questão fundamental, a questão do ser, através de sua analítica existencial. Tentaremos mostrar também que, com a necessidade de se fazer uma ontologia fundamental, ela será pensada por Heidegger como meio de fundar a metafísica ocidental. Depois da ontologia como analítica existencial em Ser e tempo o autor se confronta com a metafísica numa interpretação original e inédita da história da mesma como velamento do pensamento do ser e fundamentação do ser do ente em sua totalidade.

Com a crise de fundamento da ontologia dogmática cristã a realidade transcendente é posta em dúvida e necessita-se de um fundamento que assegure o conhecimento. Esse conhecimento, com Descartes, é assegurado pelo sujeito. A metafísica vira problema do conhecimento e em Kant já se abandona o conteúdo do mundo como a coisa-em-si incognoscível e se discute as formas como o conhecimento pode nos ser dado.

A partir de Kant todo conhecimento só pode ser dado transcendentalmente, ou seja, a partir do sujeito e das formas apriorísticas da razão que o sujeito faz a experiência. É inegável que a contribuição de Kant seja uma ontologia do sujeito transcendental e que, a partir dai, a metafísica não pode mais retroceder á uma filosofia que não passe pela postura crítica que coloca o homem como centro da condição de possibilidade do conhecimento. Nesse momento a filosofia assegura a condição de possibilidade para que a realidade seja conhecida por meio dos entes intramundanos como faz, por exemplo, a ciência.

Kant é um divisor de águas na história da filosofia também no sentido em que cinde crítica moral e razão pura. Como fundamentar os conhecimento filosóficos acerca do

1 Trabalho final da disciplina de Metafísica ministrada pelo Professor Doutor Luiz Hebeche na UFSC no semestre 2015-1.2 Estudante de graduação da UFSC.

Page 2: Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

homem, de Deus, a arte, a religião, a ciência, em uma filosofia unificadora? Ou seja, como sair da formalidade do conhecimento para a coisa-em-si sem retornar á uma postura pré-crítica? O idealismo absoluto alemâo, com Hegel, fará a tentativa de conciliar sujeito e objeto como curso da história do espírito teleológico absoluto. Desta forma o sujeito do conhecimento se mostrará ativo e passivo ao mesmo tempo no fundamento do conhecimento através da história. Porém de acordo com Stein: "Na raiz da problemática trasncendental se esconde a questão da responsabilidade crítica. Esta foi esquecida pelo idealismo absoluto, que, em vez de uma progressiva conquista da posição transcendental, coloca como dogma e ponto de partida a transcendentalidade de todo o real (todo real é racional e todo racional é real)." 3O transcendentalismo, nesta época pós-hegel, possui âmbitos inquestionados que vão além da postura positivista das ciências e que permitem questionar a possibilidade da relação sujeito-objeto da metafísica, por exemplo, através da intencionalidade na fenomenologia elaborada por Husserl.

O questionamento original que fará Heidegger é possível também pela necessidade de uma ontologia que fundamente a experiência ôntica do mundo, legada ao universo científico, o problema do sujeito-objeto na filosofia transcendental. Heidegger parte de considerações inegáveis de toda tradição metafísica, seus problemas e legados a partir de Kant e o rumo da filosofia fora do âmbito da subjetividade.

É válido mencionar aqui, brevemente, a interpretação niilista da filosofia que teve Nietzsche por maior expressão para mostrar como a filosofia sentia os sintomas de uma certa debilidade e ausência de peso e demandava um fundamento nas suas considerações e experiências no mundo. Assim como vinha a tona necessidade do desgarramento ou a problematização da metafísica como um todo e não apenas no sentido formal kantiano ou a dialética teleológica hegeliana. Nietzsche, assim como Kierkegaard, são pensadores que contribuíram para a edificação da filosofia heideggeriana tanto como sua analítica existencial, tanto como no confronto com a metafísica na sua interpretação de niilismo como esquecimento do ser.

A volta ás coisas mesmas da fenomenologia Husserliana permite a Heidegger a possibilidade de pensar novamente o ser do fenômeno, ou seja, o ser daquilo que se manifesta, que se mostra, o ente, para o ente privilegiado, o ser-aí. Privilegiado pois compreende a questão do sentido do ser na sua própria existência concreta.

Heidegger coloca novamente a pergunta "que é o homem?" A pergunta essencial acerca de nós mesmos. De modo que a fenomenologia o possibilita a mostrar como é esse homem, esse ser. E essa compreensão do homem se dá existencialmente. Portanto Heidegger poderá desenvolver sua analítica existencial na tentativa de mostrar como é esse homem nos seus diversos modos de ser e desenvolver essa pergunta até

3 Stein, E. Questão do método na filosofia. 1976. Ed: livraria Duas cidades. Pg 153.

Page 3: Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

onde ela possa se mostrar mais autentica, no próprio compreender do homem de sua condição existencial finita.

O ser-aí então tem uma compreensão pré-ontológica do ser a partir de sua existência. Desta forma já fica claro que toda fenomenologia heideggeriana vai se basear numa concepção da diferença entre ôntico e ontológico tanto na analítica existencial do ser-aí, que explicitará os modos de como o ser-aí, como abertura, move-se através de um horizonte existencial, como nos questionamentos a partir da tradição metafísica que buscam mostrar que o problema do ser é a questão que sustenta e move toda tentativa de determinação de um fundamento filosófico através da história.

Nesse sentido já se mostra como Heidegger vai conceber uma ontologia fundamental que acabe com as ontologias tradicionais e que fundamente a metafísica e o sujeito transcendental em busca do fundamento de sua própria transcendentalidade através da explicitação da existência concreta do ser-aí, este ente que compreende a diferença ontológica entre ser--pois existe-- e ente. Falamos nestes termos para mostrar que Heidegger, além do embate com outros filósofos da tradição metafísica, precisou superar o sujeito transcendental da metafísica kantiana para construir sua própria ontologia “revolucionária”.

Portanto o ser-aí se dá como "ente metafísico por excelência"4 pois o fato de o ser-aí ser ontológico, se compreender em seu ser, é "a primeira e originária abertura da qual deve partir toda teoria sobre o ser"5 e os fundamentos de qualquer filosofia.Com a diferença ontológica pode-se dizer que houve uma superação da metafísica tradicional que, ao tentar fundamentar o princípio último do ente, deixava o ser impensado. O esquecimento do ser e do primado ontológico do homem aprofundam um vazio na historia do ocidente e na filosofia que pode ser chamado de niilismo. A confrontação com a tradição metafísica de Heidegger para além da analítica existencial exposta em Ser e tempo se dá através de "seguir as pistas" daquilo que permaneceu impensado na tradição.

Mas voltemos a questão do ser-aí como ente metafísico por excelência. Heidegger mostra que o ser-aí enquanto portador da experiência existencial se funda no nada. O ser-aí, enquanto ser-no-mundo, é capaz de ter a experiência de "individuação mais radical"6 pois experimenta sua abertura total e fática através da angústia.7 Importante notar que este sentimento, que integra os momentos do ser-no-mundo, não parte de uma abordagem objetiva ou conceitual, se dá na própria experiência da existência do ser-no-mundo em sua condição de estar-lançado na

4 Dubois, C. Heidegger, introdução á uma leitura. 2005 Zahar. pg 725 Stein, E. pg 1586 Heidegger, Martin. Ser e tempo. pg 787 A consideração mais apurada do fato de ser um sentimento,a angustia,que coloca o ser-aí na experiência de sua existência fática e do nada em que está imerso não será feita aqui pois implicaria numa consideração do papel importante das tonalidades afetivas como existenciais do ser-no-mundo, o qual não é o objetivo.

Page 4: Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

abertura da compreensão de suas possibilidades. Toda analítica existencial se faz num esforço de abrir os "comos" fenomenológicos dos existenciais do ser-aí sem cair num objetivismo ou numa conceitualização do homem e do mundo. Nas várias análises que mostram como o homem é chamado a compreender a sua própria existência a angústia é aquela que traz a experiência do nada em que o ser-aí está enraizado.

Na angústia o ente intramundano passa para um "segundo plano", é irrelevante, "não nos incita a nada"8 Não é determinante para nós. Na angustia se manifesta a estranheza, quebra da familiaridade com o mundo, individuação. É experiência do nada que o ser-aí está suspenso e a sua capacidade própria de transcender para o ente. A experiência do nada leva o ser-aí diante do ente enquanto tal. Portanto, o ser-aí é o ente metafísico pois vai além do ente "afim de retomá-lo como tal em sua totalidade" e

mesmo poder fixá-lo conceitualmente" A angustia abre de "maneira originária e direta o mundo como mundo" 9ela remete o ser-aí para o seu poder-ser-mais-próprio diante de suas possibilidades existenciais.

Portanto a questão do nada é fundamental para, na fenomenologia de Heidegger enquanto analítica existencial, unificar a questão da fundação de toda metafísica nesse primado ontológico do ser-aí enquanto fundando no nada. Ou seja, indeterminado, aberto, sem sentido objetivo, sem nada por detrás. A experiência do nada mostra a condição de transcender o ente e, até mesmo, fundá-lo metafisicamente em determinações ônticas conceituais.

O papel da tradição metafísica foi perceber o ente esquecendo a questão do nada, ou seja, a questão do próprio ser que pergunta e que possibilita sua manifestação. A questão do nada é a própria compreensão da condição existencial do ser-aí que compreende sua existência. A tradição deixou mal pensada a questão de "por que antes o ser e não antes o nada", e esqueceu dessa tensão fundamental, que o próprio nada é a condição de possibilidade da questão e daquele que questiona, para fundamentar o ser do ente que se manifesta. Na possibilidade do nada se deixa para trás toda segurança metafísica, toda base firme como fundamento. Heidegger se esforça por mostrar que não há dimensão exterior que fixe o homem num sentido, sua analítica existencial tenta problematizar o ser-aí em sua propriedade e originariedade, sua existência finita como possibilidade e, mais radicalmente, como possibilidade de impossibilidade no construto ser-para-morte.

A metafísica está em causa no homem porquanto no homem está sempre em jogo o seu ser. A metafísica implica na questão da essência do homem, sua existência.A questão da existência do homem, de seu ser, vai além de qualquer interpretação ou cunhagem do homem como sujeito e o mundo como seu objeto, além da interpretação do sensível e do supra-sensível. A questão do ser é, justamente, aquela que permite ao homem se dar como abertura no mundo e no seu poder-ser mais próprio diante de suas possibilidades existenciais. Heidegger trata longamente em Ser e tempo o modo como

8 Dubois, C. pg779 Heidegger, M. Ser e tempo pg 254.

Page 5: Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

o ser-aí se dá no mundo fenomenologicamente, seus modos de ser-no-mundo, como a decadência que, propriamente, o impede de se compreender mais autenticamente assim como a "realidade" legada pela tradição metafísica.

Através da história da metafísica, ocorre a tentativa de encontrar uma consistência para as coisas e para o homem e sua relação consigo mesmo, a filosofia então tenta correlacionar ser com verdade.

Para Heidgger o ser-aí é e está na verdade. Sendo essencialmente a sua abertura, abrindo e descobrindo aquilo que se mostra, “o ser-aí é essencialmente verdadeiro”.10 O ser-aí pode ser de diversos modos no mundo, também pode ser enquanto encobridor desse caráter existencial na sua decadência. O ser-aí, portanto também está na não-verdade. O ser-aí é a sua faticidade e também o seu poder ser mais próprio como abertura da verdade de sua existência. Desse modo ser e verdade coincidem porque o ser-aí é o descobridor que também pode se engajar numa verdade objetiva que põe em evidência o ente e o leva ao logos. Desta forma toda tentativa de explicitar o ser do ente é onto-lógica mesmo que funde no ente a determinação de uma verdade e deixe de lado a questão própria do ser.

Na metafísica, para Heidegger, toda verdade deve ser desvelada, arrancada, assim, de seus múltiplos encobrimentos. A história da metafísica enquanto esquecimento da questão do ser é "cunhagem determinada do ser que, a cada vez, liberam o espaço de aparição do ente, seu regime geral de visibilidade."11 Assim como na tradição metafísica há a incompreensão existencial da temporalidade assumida como a interpretação do tempo como uma sucessão de agoras. "Somente há transcendência onde não se está capturado pela imanência do presente. O tempo da sucessão de momentos, da presencialidade, somente pode ver, fazer sentido, se não estiver preso em si mesmo." 12

Com Platão o ser é dotado como ideia, visibilidade, "aquilo que torna apto para…-a saber, o ente para ser ente. O ser obtém o traço essencial do elemento possibilitador13

O ente, anteposto como ideia, atrai para si o comportamento do homem para o conhecimento da ideia. O conhecimento do homem é a ligação que ele tem com a interpretação do ser. No caso de Platão a ideia se manifesta como verdade da aparência, e portanto, do visível. " O ser é, em certa medida, pura presença e é, ao mesmo tempo, possibilitação do ente"14 A ideia portanto é a interpretação de ser como a possibilidade do ente enquanto tal.

Quando essa interpretação do ser do ente degenera com a dogmática cristã, o homem se torna o centro e possibilitador do ente como aquele que representa. A ideia

10 Heidegger, Martin. Ser e tempo. Pg 29111 Dubois, C. Página 95.12 Seibt, Cezar Luiz. Temporalidade e propriedade em Ser e tempo de Heidegger.pg 263 In__Rev.Fil. Aurora, Curitiba, V.22, n 30. pg 247-266. jan\jun 2010.13 Heidegger, Martin. Nietzsche vol II. pg 172-173.14 ibdem

Page 6: Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

se transforma na percepção do homem que coloca o ente diante de si mesmo. "a ideia se torna aquilo que o re-presentar do homem coloca diante de si e, em verdade, como aquilo que possibilita o que precisa ser re-presentado na sua representatividade."15

O ser agora é interpretado como representação do homem e todo seu conhecimento é dirigido para aquilo que pode ser percebido constantemente. O homem vira sujeito que possibilita o objeto na representação por meio de condições que o permitem se relacionar com os objetos. Por isso a problemática filosófica da teoria do conhecimento de como é possível representar o ente.

Nota-se que a ideia platônica como elemento possibilitador se transforma nas condições de que o sujeito precisa dispor (condições de sua percepção) para se relacionar com os objetos em sua visibilidade." O mais íntimo da história da metafísica moderna consiste no processo por meio do qual o ser obtém o traço essencial inconteste de ser condição de possibilidade do ente..."16Modernamento o sujeito agora e sua representação é condição de possibilidade dos objetos. O sujeito, assegurando-se a si mesmo, determina a verdade como adequação á sua representação, ou seja, sua seguridade de representação transforma a verdade como certeza. Certeza do ente na condição de possibilidade que lhe é dada a se manifestar.

Sua certeza vem da tentativa de assegurar o ente e fundamentar o ser que, na verdade, é um problema metafísico advindo desde Platão. Por isso a ontologia fenomenológica heideggeriana vai tratar do problema do ser no que diz respeito ao privilégio de sua compreensão existencial.

Aquilo que Platão concebe como verdade do ser, a ideia, já não é mais possível para a percepção do homem que condiciona seu conhecimento. A interpretação do ser do ente agora é dada como o asseguramento de suas categorias- "determinações essenciais do ente enquanto tal, (...) por esse caráter, verdade torna-se certeza”17 A representatividade, como essência da objetividade, agora é a essência do ser.

A interpretação moderna da metafísica, como apontamos no pensamento de Heidegger, abre espaço para, em vias de sua consumação, ser interpretada como termos de valores para Nietzsche. Não apenas a metafísica moderna como toda a tradição filosófica. Para Heidegger, Nietzsche define a essência do valor como o ser sendo a condição de conservação e elevação da vontade de poder. A vontade de poder, desta forma, torna-se o ser do ente na totalidade. A metafísica em termo de valor é interpretada como condição de possibilidade, mesmo em Platão com a ideia. “Condições com as quais se precisa necessariamente contar - como é que se deixaria de nomeá-las um dia valores, os valores, de computá-las como valores”18

15 Ibdem pg 17416 Ibdem17 ibdem pg 17418 ibdem pg 173

Page 7: Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

Na interpretação heideggeriana da metafísica de Nietzsche o caráter de valor significa, ao mesmo tempo, ”a-preciar e comparar”19. Avaliar é uma determinação da ligação entre coisas, relações. O avaliar, segundo Heidegger, reside na base de todo calcular. O calcular é uma avaliação essencial, o cálculo se manifesta como um “contar com base em algo”20, considerar as circunstâncias daquilo que deve advir, suas condições. Ora, essas condições agora são as que condicionam o ser do ente e asseguram a relação do homem com o ente em sua totalidade, o calcular representa as condições de possibilidade que o ente pode se manifestar. É nesse sentido que a matemática e a física, como aplicação matemática, se tornam as condições de certitude do manifestar do ente. O modo de ser dessa condição será algo marcado com o caráter de valor.

O pensamento da metafísica enquanto valor vem a tona com Nietzsche, de forma que ele afirma que todos os valores supremos estão degenerados e o homem deve se tornar senhor do ente como vontade de poder, criar e destruir esses valores no interior da metafísica e da própria realidade.

Desta forma a metafísica da subjetividade no pensamento heideggeriano chega ao seu fim quando interpretada como pensamento dos valores e submetida á uma cortante crítica dos mesmos e de toda a tradição com Nietzsche, juntamente com a filosofia de Hegel que leva a metafísica da subjetividade á sua consumação absoluta.

Na tentativa de ver a história da metafísica como história do esquecimento do ser como pensou Heidegger, tentamos mostrar apenas alguns apontamentos de conclusões e intepretações extraordinárias que o filósofo alemão pode tomar para repensar a filosofia em um momento de profunda crise.

O que Heidegger quer mostrar é, através da história da metafísica, como o homem funda sua condição ontológica de existir, sua compreensão do ser, em categorias ônticas, objetificando sua relação com o mundo e consigo mesmo em sua possibilidade mais própria como existencial, seu projeto e sua responsabilidade, imerso no nada, indeterminado.

O rumo que as interpretações de mundo dão ao homem caracterizam-se enquanto esquecimento do ser como niilismo. Como mostramos, Heidegger atinge o cerne de uma urgência histórica de se pensar a própria filosofia e os rumos fragmentários de sua problemática. A metafísica condiciona a própria realidade, e é nessa urgência do real que deve-se pensá-la como pensamento do ser, um pensamento radical, total, e corrosivo como última possibilidade para a filosofia e para o homem enquanto ser-aí em sua possibilidade de ser mais próprio.

19 ibdem 17420 ibdem

Page 8: Heidegger e o Problema Da Metafísica Para Lezudo

Bibliografia:

Heidegger, M. O que é metafísica?___________ Introdução á metafísica___________ Ser e tempo.___________ (A interpretação de ser como ideia e pensamento do valor) In__Nietzsche Vol II ____________ A frase de Nietzsche Deus morreu In__Caminos de Bosque.

Nietzsche, Friedrich. Vontade de potência.

Dubois, Christian. Heidegger, introdução á uma leitura.

Stein, Ernildo. A questão do método na filosofia.

Seibt, Cezar Luiz. Temporalidade e propriedade em Ser e tempo de Heidegger. In__Rev.Fil. Aurora, Curitiba, V.22, n 30. pg 247-266. jan\jun 2010.