HEAVY METAL E IDENTIDADE: MICROCOSMOS DO … · metal tornou-se o gênero musical mais ouvido no...

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1 Eduarda Borin TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II HEAVY METAL E IDENTIDADE: MICROCOSMOS DO GÊNERO MUSICAL A PARTIR DA REVISTA ROADIE CREW Santa Maria, RS 2015

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Eduarda Borin

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II

HEAVY METAL E IDENTIDADE: MICROCOSMOS DO GÊNERO MUSICAL A

PARTIR DA REVISTA ROADIE CREW

Santa Maria, RS

2015

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Eduarda Borin

HEAVY METAL E IDENTIDADE: MICROCOSMOS DO GÊNERO MUSICAL A

PARTIR DA REVISTA ROADIE CREW

Trabalho Final de Graduação II apresentado ao Curso de Publicidade e Propaganda, área de Ciências Sociais, do Centro Universitário Franciscano, como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda.

Orientadora: Profa. Ma. Caroline De Franceschi Brum

Santa Maria, RS

2015

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Eduarda Borin

HEAVY METAL E IDENTIDADE: MICROCOSMOS DO GÊNERO MUSICAL A

PARTIR DA REVISTA ROADIE CREW

Banca examinadora:

_________________________________________

Profª. Mª. Caroline De Franceschi Brum – Orientadora

(Centro Universitário Franciscano)

_________________________________________

Profª. Drª. Graziela Frainer Knoll

(Centro Universitário Franciscano)

_________________________________________

Prof. Dr. Leonardo Guedes Henn

(Centro Universitário Franciscano)

Aprovado em ___ de ____________ de 2015.

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AGRADECIMENTOS

Dedico esse trabalho para três pessoas. Minha mãe, mulher guerreira e maior

inspiração, que sempre me apoia em todas minhas decisões. A responsável por me

inserir no mundo do rock, através dos bolachões do Raulzito e que aguenta a

barulheira dos ensaios até hoje. Tenho orgulho de ser tua filha. Ao meu amor e

guitarrista favorito (Michael Romeo que se dane!), não tenho palavras para

descrever a paciência que teve ao escutar as inúmeras vezes que falei sobre essa

pesquisa, sempre me motivando e me acalmando. E claro, à Carol Brum,

orientadora mais compreensiva do universo (!!!), que me levou ao ponto de equilíbrio

inúmeras vezes quando pensei que tudo estava errado. Em uma palavra: gratidão!

A faculdade, além de todo o conhecimento, também trouxe uma amiga

especial, que só conheci lá pela metade do curso, Carol, te adoro guria! Obrigada

aos meus amigos, que me ouviram falar muito sobre esse trabalho, aos professores,

por todos os ensinamentos adquiridos e aos ratões de sempre, Mark, Guilherme,

Luis David e Gabriel pelas indiadas e trabalhos doidos. Como não poderia faltar,

agradeço também a equipe Gremlins pelas vitórias, derrotas e aprendizados.

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RESUMO

O heavy metal é um gênero musical que evoluiu de uma série de contribuições musicais e aos poucos se tornou uma manifestação cultural. A revista Roadie Crew, fundada em São Paulo, por Airton Diniz, Claudio Vicentin e Anselmo Teles, em 1994, objeto desta pesquisa, é uma publicação mensal especializada nesse gênero musical. Assim, esta pesquisa busca verificar de que maneira a revista Roadie Crew influenciou a construção identitária de um grupo de leitores, fãs de heavy metal. O quadro teórico da pesquisa é formado por quatro capítulos. Os procedimentos metodologicos utilizados para a consecusão dos objetivos específicos são de natureza quali-quantitativa, de caráter exploratório. A coleta de dados foi realizada em duas etapas: na primeira foi enviado um questionário filtro on-line, que obteve 36 respondentes. A partir dos resultados, foram entrevistados 20 indivíduos que se mostraram dispostos a colaborar com a pesquisa. A segunda fase consistiu na seleção de 5 desses 20 entrevistados, para a análise dos dados coletados. O número de entrevistas foi decidido pelo nível de influência dos indivíduos na cena heavy metal gaúcha, tendo como ponto decisivo o fato de ainda consumirem conteúdo da Roadie Crew, seja físico, seja digital. As análises foram realizadas a partir de cinco categorias de análise. Pode-se perceber que o heavy metal é constituído por uma rede de significados que faz com que os ouvintes desse gênero não só consumam a música, mas constituam uma identidade própria.

Palavras-chave: comunicação; estudos culturais; identidade cultural; heavy metal; revista Roadie Crew.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................7

2. CULTURA NA MÚSICA OU MÚSICA NA CULTURA?........................................11

2.1. A busca por uma identidade no mundo pós-moderno........................................14

3. MARCA, FUNÇÃO E DIMENSÕES.......................................................................15

3.1. Dimensões chave da marca................................................................................16

3.1.1. Natureza semiótica...........................................................................................17

3.1.2. Natureza relacional..........................................................................................17

3.1.2.1. Dimensão intersubjetiva................................................................................18

4. HEAVY METAL: UM BREVE HISTÓRICO...........................................................22

4.1. Comportamento musical.....................................................................................25

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................28

5.1. Objeto de Pesquisa: revista Roadie Crew..........................................................31

6. DADOS COLETADOS – ENTREVISTAS SELECIONADAS................................31

6.1 Entrevistado 2......................................................................................................32

6.2. Colaborador 1 – Entrevistado 3..........................................................................40

6.3. Entrevistado 4.....................................................................................................43

6.4. Entrevistado 6.....................................................................................................49

6.5. Entrevistado 8.....................................................................................................52

7. ANÁLISES: RELAÇÕES, IDENTIDADES E A ROADIE CREW...........................52

7.1. Necessidade de autoidentificação.......................................................................52

7.2. Roadie Crew como base de identidade e influência...........................................53

7.3. Identidades compostas.......................................................................................56

7.4. Revista Roadie Crew: de objeto a discurso enunciativo......................................58

7.5. Relação do headbanger na reemissão de conteúdo..........................................59

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................61

REFERÊNCIAS..........................................................................................................63

APÊNDICE.................................................................................................................65

ANEXOS....................................................................................................................68

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1. INTRODUÇÃO

O heavy metal é um gênero musical que evoluiu a partir do blues e do rock,

sendo os primeiros registros datados do início da década de 1970, tornando-se

popular nos anos 80. Segundo o antropólogo Dunn (2006), no ano de 1986, o heavy

metal tornou-se o gênero musical mais ouvido no mundo. O grupo Black Sabbath,

segundo Popoff (2013), é considerado a primeira banda de heavy metal. Originou-se

no ano de 1968, na cidade de Birmingham, Inglaterra, tendo como primeira formação

Anthony Frank Iommi (guitarrista), William Thomas Ward (baterista), John Michael

Osbourne (vocalista) e Terence Michael Butler (baixista), mais conhecidos como

Tony Iommi, Bill Ward, Ozzy Osbourne e Geeze Butler e transformaram o rock a

partir daquele momento (POPOFF, 2013). De acordo com o próprio guitarrista, Tony

Iommi, em seu livro biográfico, o mesmo já havia feito parte de algumas bandas de

blues. Com certa experiência, buscava um espaço para experimentar novas

sonoridades e não fazia ideia de que criaria um novo gênero musical (IOMMI, 2013).

Conforme Chris Welch (2003), nas palavras de Iommi, o Black Sabbath surgiu no

auge da Guerra do Vietnã e o movimento hippie era considerado forte. A banda

estava entre o sentimento de guerra e de paz e não concordava plenamente com o

discurso defendido pelo movimento, tendo em vista a situação social e econômica

dos integrantes. A maior parte era da classe operária da cidade, que sofria com a

desigualdade, os efeitos pós-guerra e não acreditava em um mundo de paz e amor.

Esses fatos foram refletidos nas composições musicais da banda, alterando os

padrões sonoros praticados e reproduzidos na época.

Para Dunn (2008), o heavy metal se intensificou no Brasil a partir do primeiro

Rock In Rio, no ano de 1985, com 1 milhão e 380 mil pessoas presentes durante dez

dias de festival, evento que modificou a realidade musical brasileira apresentando

novos conceitos. A ditadura no país teve seu fim em 1985 e o heavy metal veio

juntamente com a necessidade de liberdade de expressão desses jovens. A partir

desse momento, as bandas nacionais começaram a lançar seus primeiros discos do

gênero, expressando o sentimento contido, equivalendo-se às bandas inglesas.

Assim, o heavy metal surgiu no Brasil juntamente com a democratização do país,

após o período ditatorial (DUNN, 2008), unindo a rebeldia do movimento com a

necessidade dos jovens de serem escutados pela sociedade.

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Percebe-se então que, além de um gênero musical, o heavy metal contribuiu

(e ainda contribui) para a construção da identidade de diversos jovens, permitindo

um espaço para expressão de ideias, comportamentos, princípios, expectativas, um

ambiente para terem sua voz exposta. Essa manifestação cultural criou um âmbito

de produção e consumo midiático (JANOTTI, 2004).

Nesse contexto se insere o objeto empírico desta pesquisa, a revista Roadie

Crew, criada no início dos anos 1990, na cidade de São Paulo, por Airton Diniz,

Claudio Vicentin e Anselmo Teles. Caracterizada como uma publicação

especializada em música, tem o Classic Rock e o Heavy Metal como principal

enfoque. Possui tiragem aproximada de 22.000 exemplares, com periodicidade

mensal e comercialização no Brasil e em Portugal. Ao longo das suas 104 páginas,

traz reportagens, entrevistas, críticas de produções musicais e eventos, biografias,

pôsteres, curiosidades do meio musical, colunas e artigos especiais.

Conectando o heavy metal aos meios comunicacionais, o problema dessa

pesquisa recai sobre a seguinte questão: A revista Roadie Crew é uma base de

identificação e influência para os fãs de heavy metal no Brasil? Deste modo, como

objetivo geral da pesquisa, pretendeu-se verificar de que maneira a revista Roadie

Crew influencia a construção identitária de um grupo de leitores, fãs de heavy metal.

Assim, para dar conta do objetivo geral, foi necessário situar o heavy metal como

forma de expressão; compreender a relação dos leitores com o gênero musical e

descrever as dinâmicas de um grupo de leitores da revista Roadie Crew.

Para dar conta dos objetivos propostos, o presente estudo configura-se com

natureza quali-quantitativa, de método indutivo, onde é possível relacionar os

aspectos mensuráveis e descritivos da pesquisa (FACHIN, 2003). Na realização da

mesma, foi utilizado o método de análise de conteúdo, pois visa determinar o que

está sendo dito sobre determinado tema com um conjunto de técnicas. A técnica de

entrevistas em profundidade, com questões semiestruturadas, auxiliou para a

compreensão relacional do público leitor da revista como fã do heavy metal. Quanto

ao instrumento de pesquisa, foram aplicados dois questionários on-line para

conhecer e identificar o público leitor da revista, disponibilizados em grupos de

discussão da rede social Facebook. A amostra é apresentada no decorrer das

análises.

O próximo capítulo, “Cultura na música ou música na cultura?”, situa a música

nas relações culturais, visto que, segundo Medaglia (2008), a música é um

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importante elemento cultural, pois carrega um respeitável papel na história da

humanidade, na difusão de crenças, valores, contos e a necessidade das

civilizações em narrar os fatos históricos. Junto a isso são relacionados os Estudos

Culturais britânicos, descrevendo a necessidade básica humana de se sentir

pertencente a determinado grupo social no qual, segundo Hall (2014), o indivíduo

assume uma identidade para ser representado. O capítulo 3, “Marca, funções e

dimensões”, apresenta um breve histórico da função das marcas e seu contexto

sócio econômico, aprofundando o conteúdo nas dimensões e processos de

produção e recepção de sua natureza simbólica das marcas, tendo como autor

norteador Semprini (2010). No capítulo 4, “Heavy Metal: um breve histórico”, o

gênero musical estudado é apresentando, apontando as diferenças, peculiaridades e

o contexto social onde surgiu, destacando as principais contribuições musicais para

a consolidação do gênero e sua característica sonora. O capítulo 5, “Procedimentos

metodológicos”, apresenta o objeto empírico desse estudo com um conciso histórico,

que apresenta o início da revista como fanzine até a atualidade, apontando os

processos evolutivos da publicação. Os capítulos seguintes dão conta dos

procedimentos metodológicos necessários para a construção desta pesquisa, assim

como a transcrição das entrevistas realizadas, apresentadas uma a uma em sua

completude e a análise dos dados coletados, encerrando com as considerações

finais.

Com esses parâmetros, a presente pesquisa busca compreender as relações

presentes no heavy metal além do vínculo estritamente musical, mas também como

influência na construção da identidade de jovens e adolescentes. Esse tema

estimula a pesquisadora tanto no campo pessoal, quanto acadêmico, pois

compreender as relações de significação dessa manifestação cultural, que agrega

tantas pessoas de diferentes maneiras, é um desafio enquanto fã do gênero.

Participando de bandas dessa vertente musical desde a adolescência e leitora

eventual da Roadie Crew, a pesquisadora aos poucos foi percebendo o quão

significativa essa revista se tornou para ela. Através desse trabalho, obteve espaço

para estudar com mais profundidade essa relação, podendo verificar se ela

aconteceu com outras pessoas ou não.

No Brasil, as pesquisas relacionadas ao heavy metal estão em crescimento,

porém ainda são escassas. É possível encontrar diversos estudos internacionais

sobre heavy metal, porém vários ligados à área da saúde, principalmente à

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psicologia, fazendo uma ligação entre o gênero e transtornos psicológicos. O

presente estudo aproxima-se das pesquisas internacionais que relacionam o heavy

metal, a cultura e a sociologia, tendo como autores mais influentes a socióloga

Deena Weistein (2000) e o musicologista Robert Walser (1993). Nacionalmente,

temas relacionando esses elementos vêm crescendo lentamente, ainda com poucos

autores, tendo a maior concentração de publicações na região nordeste do país. Por

meio desta pesquisa, procura-se não somente sanar uma curiosidade pessoal, mas

também contribuir para o enriquecimento desse campo de estudo no país.

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2. CULTURA NA MÚSICA OU MÚSICA NA CULTURA?

Para se entender a maneira pela qual a música motiva os ouvintes a

expressar sentimentos, percepções e ideologias, precisa-se conhecer o sentido que

o som exerce para o homem. Segundo Medaglia (2008, p.9), o som acompanha o

homem desde que “se têm notícias de que o mesmo habita a Terra”.

De início, o som era usado para o ser humano se comunicar com o próximo [...]. Em seguida, o som começou a ganhar conteúdos e ser trabalhado de diversas formas, adquirindo funções no dia-a-dia. Foi usado para incentivar o trabalho, para despertar o espírito patriótico, para provocar o instinto de disputa e da luta, para induzir o homem ao sentimento religioso, ao erotismo, à guerra, e a todos os tipos de manifestação e sensações da alma. (MEDAGLIA, 2008, p. 9)

A partir do trecho acima, pode-se perceber que o som, desde o princípio, teve

grande influência para desenvolver a comunicação humana. Ainda segundo o autor,

“apesar de o som não ser essencial para a sobrevivência humana, não se tem

notícia de nenhuma raça ou povo que não cultive a música.” (MEDAGLIA, 2008, p.

9).

Segundo Medaglia (2008), a música é apreciada desde as mais antigas

civilizações. Na Antiguidade, a música era passada boca-a-boca, por não haver

notação1. A notação musical teve o início do seu desenvolvimento na Idade do

Bronze e os primeiros registros encontrados, conforme evidências arqueológicas,

foram praticadas por egípcios e mesopotâmios.

Afirma Med (1996, p. 9) que “a música, arte de combinar sons, vem sendo

cultivada desde as mais remotas eras. Os chineses, três mil anos antes de Cristo, já

desenvolviam teorias musicais complexas”. Percebe-se que, assim como o som, a

música evolui conforme as necessidades do homem.

Apesar da dificuldade para se obter documentação, a música adquire um

importante papel na história da humanidade, como o desenvolvimento intelectual, a

propagação de fatos históricos e por expressar de maneira peculiar o sentimento

1Notação: escrita musical que indica altura, duração e intensidade do som em um pentagrama. Sua existência permitiu a preservação e a passagem de obras musicais para as gerações seguintes (SADIE, 1994).

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humano, exercendo nas civilizações a difusão de valores culturais e espirituais

(MEDAGLIA, 2008).

O termo “cultura” é considerado o conjunto de valores, crenças, a moral e os

costumes que um determinado grupo sustenta. Segundo Santos (1987), cultura diz

respeito aos rituais, às lendas, comidas, à forma de se vestir e ao idioma de um

povo, sendo que cada realidade cultural tem sua característica. Conforme a

evolução humana, a cultura também foi se modificando, entre outros variados

aspectos. Para Silva (2010, p.20) “a ideia de ‘tradição’ tem caráter mítico, que

envolve o sentimento de pertencimento e identidade coletiva”. O mesmo autor ainda

afirma que os “estudos culturais dizem respeito ao lado subjetivo das relações

sociais” (SILVA, 2010, p.25), subjetividade que se dá pela falta de consciência nas

realizações das ações que dizem respeito à tradição em grupo, discernindo

identidade individual da coletiva.

2.1. A busca por uma identidade no mundo pós-moderno

A partir da necessidade de se compreender como a cultura e a política

constituem a sociedade, iniciou-se, na Inglaterra, o campo de pesquisa sobre os

Estudos Culturais, sendo que “estudos culturais não configuram uma ‘disciplina’,

mas uma área onde diferentes disciplinas interagem, visando ao estudo de aspectos

culturais da sociedade” (HALL et al., 1980 apud SILVA, 2010, p.137) e não há uma

definição exata para o mesmo. Para Silva (2010), através das experiências vividas

pelos pesquisadores do Centro de Birmingham, Inglaterra, onde muitos têm suas

raízes em famílias de operários, as privações e o desconforto dessa realidade

motivaram a análise dessa cultura, num país que desde o princípio teve a população

dividida de acordo com sua classe social. Segundo o autor, os Estudos Culturais

britânicos, no seu início, também “romperam com as concepções passivas e

indiferenciadas de público”, pois cada interpretação depende do contexto social e

intelectual que o indivíduo convive, “suas orientações sociais e políticas”, gerando

diferentes interpretações em um mesmo meio (SILVA, 2010, p. 183).

Entende-se então que cultura se trata de um agrupamento de características

de um povo, associados à vida social e emocional, e esse conjunto constrói uma

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identidade cultural. Para Bauman (2012 p. 46) ter uma identidade parece ser uma

das necessidades humanas universais. Pode-se verificar no trecho:

Por si mesma, em certo sentido, essa expressão diz tudo: corresponde a um desejo básico – o de pertencer, fazer parte de um grupo, ser recebido por outro, por outros, ser aceito, ser preservado, saber que tem apoio, aliados... Ainda mais importante que todas essas satisfações específicas, obtidas uma a uma, em separado, é aquele sentimento subjacente e profundo, sobretudo o de ter a identidade pessoal endossada, confirmada, aceita por muitos – o sentimento de que se obteve uma segunda identidade, agora uma identidade social. (MORINEAU, 1966, apud BAUMAN, 2012, p.46).

O ser humano tem a necessidade de se sentir pertencente a um grupo social

para ser aceito pela sociedade em que vive e poder agir de diferentes formas

conforme o contexto. Para Maffesoli (1998) as práticas comuns de um grupo, que

estabelecem uma identidade própria, assim como a estética visual, as práticas e

comportamentos caracterizam a ideia de tribo, que ao adotá-la e transformá-la em

estilo de vida o indivíduo se redescobre.

Segundo Hall (2014, p. 11), “o sujeito, previamente vivido como tendo uma

identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma

única, mas de várias identidades”. Esse apontamento faz refletir sobre a maneira

pela qual a cultura influencia a sociedade. O mesmo autor ainda afirma que essas

identidades “podem ser contraditórias ou não resolvidas” (HALL, 2014, p.11).

Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é

interpelado ou representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganha

ou perdida (HALL, 2014, p. 16). Observando o consumo na forma de identificação,

podemos conferir o seguinte trecho:

No final dos anos 60, a contestação ao consumo se fazia em um ambiente social fortemente politizado, e em uma situação econômica relativamente inserida dentro das fronteiras nacionais. A geração de então via o consumo como uma esfera relativamente independente e circunscrita, que era possível questionar sem maior impacto sobre o contexto socioeconômico geral (SEMPRINI, 2006, p.52).

Ainda sobre o consumo, Baudrillard (1979), citado por Semprini (2006, p. 60),

afirma que [...] nos anos 70 – 80 o consumo ajudava a afirmar o status e a posição

social dos indivíduos (o célebre standing) e assim a sua identidade, à medida que

esta última era definida total ou parcialmente pelo status. De fato, o consumo está

relacionado com a sensibilização do público pelas marcas, que, segundo Semprini

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(2010, p. 26), as marcas “nomeiam, identificam, diferenciam”, assim, substituem os

próprios produtos e acompanham a evolução do consumo.

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3. MARCA, FUNÇÃO E DIMENSÕES

Segundo Carvalho (2012), marca é aquilo que identifica uma entidade de

maneira imediata, seja de forma visual ou sonora e constitui a representação

simbólica de uma entidade. No século XX, servia como distinção dos fabricantes,

possibilitando o reconhecimento imediato (COSTA, 2011). Na segunda metade do

século XX, as marcas passam por um período de evolução, deixando de apenas

demarcar produtos. A crescente complexidade da oferta, a ampliação dos

sortimentos, a aceleração dos lançamentos de produtos, o surgimento de novas

tecnologias fazem da presença das marcas uma necessidade real (SEMPRINI,

2010, p.54).

Inicialmente há a substituição dos produtos pelas marcas. De acordo com

Semprini (2010), essa fase dura cerca de 15 anos, servindo basicamente para

nomear, identificar e se diferenciar, acompanhando a evolução das práticas de

consumo. A partir da crise petrolífera da década de 1970, os questionamentos

relacionados à sociedade de consumo se intensificam, afetando diversas marcas e

causando o desaquecimento do mercado (SEMPRINI, 2010). Em 1980, com o fim da

estagnação econômica, as marcas sofrem uma grande evolução. Segundo o autor, o

grande crescimento econômico desse período caracterizou o desenvolvimento da

comunicação publicitária que, com o crescimento do mercado, as empresas

passaram a investir mais na comunicação. Com isso, as marcas passam a atribuir

características intangíveis, valores, sentimentos, que sobrevalorizam a sua função.

As marcas falharam na sua missão, no contexto econômico pós-industrial, de

reintroduzir o sentido nas práticas de consumo, perdendo a chance de engajar de

maneira mais efetiva o consumidor, através de bens e serviços realmente inscritos

nos projetos de vida dos indivíduos (SEMPRINI, 2010, p.54). As diversas opções de

marcas fazem com que o consumidor opte por determinada, seja por seu valor

monetário ou desejo de consumo do usuário.

Paralelamente a isso se desenvolve a procura por micromarcas, quase sempre especializadas em um pequeno setor e divulgadas boca a boca ou por um site na internet. Essas marcas são distribuídas pelos circuitos paralelos ou alternativos, o que lhes permite escapar do torniquete implacável da vasta distribuição. Elas prosperam em territórios abandonados pelas grandes marcas [...]. (SEMPRINI, 2010, p.55).

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No espaço social pós-moderno, a marca se estabeleceu a partir da

intersecção de três fatores: o consumo, a economia e a comunicação. Essa

articulação das forças permitiu, inicialmente, a marca a se impor no universo do

comércio e do consumo para após se estabelecer como formadora de sentido.

(SEMPRINI, 2010).

Sendo assim, de acordo com Semprini (2010, p.96), a marca atua em uma

instância semiótica, uma maneira de segmentar e atribuir sentido de forma

ordenada, estruturada e intencional.

3.1. Dimensões chave da marca

Entende-se que a marca é uma construção simbólica compartilhada, com

atribuição de significados e estratégias objetivas e considerada um projeto

discursivo. Esse discurso busca empreender características únicas, de diversos

conteúdos e que podem ser aplicados em lugares distintos. Sendo assim, a

construção de uma marca busca produzir um sentido, ser significante, atuando

juntamente com os valores sociais em que se insere. Um objeto pode ter as mesmas

funções de outro mesmo objeto, o que os diferenciará é o discurso incorporado a

ele. Relacionando o objeto que se tornou discurso, podemos verificar o seguinte

trecho:

[...] passou por um processo de enunciação, por prática de ‘colocar em discurso’ que o modelou, organizou, inserido no âmbito de outras práticas semióticas, segundo uma estratégia enunciativa definida por um enunciador e dirigida, de maneira mais ou menos explícita e mais ou menos voluntária, aos destinatários. (SEMPRINI, 2010, p. 96).

Segundo Semprini (2010), esse discurso é sustentado pela marca, e a

recepção se relaciona aos destinatários da marca sobre ela mesma.

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3.2. Natureza semiótica

O conteúdo da semiótica não é a comunicação em si, mas o significado, o

sentido. Pela ‘natureza semiótica da marca’ entendemos a capacidade desta última

para construir e veicular significados (SEMPRINI, 2010, p.97). A natureza da marca

se constrói lenta e progressivamente através da acumulação coerente de escolhas e

de ações. Essa construção deve ter coerência com as manifestações discursivas

fundamentais da marca, caso contrário pode desaparecer sem nada construir

(SEMPRINI, 2010). Podemos verificar no seguinte trecho:

O poder semiótico da marca consiste em saber selecionar os elementos no interior do fluxo de significados que atravessam o espaço social, organizá-los em uma narração pertinente e atraente e a propô-los a seu público (SEMPRINI, 2010, p.98).

O primeiro objetivo que a marca pós-moderna deve propor, segundo Semprini

(2010), é a produção de um ‘projeto de sentido’. Esse projeto de sentido não está

somente no conteúdo de seu discurso, mas também nas relações que estabelece

por sua enunciação. Segundo Perotto (2007, p. 132), no caso da marca a

enunciação é extremamente relevante pela sua situação de articulação de diversos

vetores sociais, tanto no âmbito da produção quanto da circulação e recepção e

deve ser levado em consideração que “o poder semiótico das marcas é sempre um

poder sob duplo controle, aquele dos receptores e o das outras marcas” (SEMPRINI,

2010, p. 98). Sendo assim, uma proposta pode fracassar por mais simples, clara e

objetiva ela possa ser.

A troca entre o processo da produção e o da recepção se organiza pelo

contexto, termo que, segundo Semprini (2010, p. 102), “é muitas vezes entendido no

sentido relativamente distante e imóvel como plano de fundo que permite esclarecer

melhor um fenômeno, sem realmente interagir com ele”. O autor ressalta que o

contexto deve ter o foco principal, sendo o fator decisivo na construção do projeto de

marca e que deve se conectar de forma organizada com os polos da produção e da

recepção.

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3.2.1. Natureza relacional

Semprini (2010) afirma que no contexto pós-moderno a marca está cada vez

mais atuando como uma entidade relacional. Ainda aponta que o motivo para que

isso aconteça é através de natureza semiótica e seus mecanismos funcionais.

Assim, distinguem-se os aspectos da dimensão intersubjetiva da marca e a

dimensão contratual, que estão presentes em todo o funcionamento efetivo das

marcas.

3.2.1.1. Dimensão intersubjetiva

A dimensão intersubjetiva consiste em um processo contínuo de trocas e

negociações de quando a marca é criada, que, segundo Semprini (2010), incluem

diversos protagonistas.

O polo da produção que possui, que de acordo com Sempini (2010, p. 100), é

“um direito de enunciação fundamental sobre as manifestações da marca”. É

compreendido a partir de escolhas de um conjunto de indivíduos, ou seja, a empresa

(SEMPRINI, 2010). Algumas disposições relacionadas à marca são definidas por

equipes diferentes que, dependendo das exigências, podem ser alteradas,

modificando a hierarquia de quem decide. Ainda há aqueles que contribuem para o

desenvolvimento do projeto de marca, são eles: consultores, publicitários e vários

especialistas. “Todos esses personagens e organizações contribuem para pensar e

para realizar o projeto de marca” (SEMPRINI, 2010, p.101).

Segundo Semprini (2010), esse projeto de marca é sempre organizado a

partir de hipóteses sobre a capacidade e os conhecimentos práticos da empresa,

sobre o contexto, a concorrência, as expectativas e os desejos dos consumidores.

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4. HEAVY METAL: UM BREVE HISTÓRICO

Delimitar o heavy metal é um tanto complicado, sua origem é difusa, com

diversos elementos de outros estilos musicais e obteve característica própria ao

longo dos anos, através da sonoridade experimentada e por seus fãs.

Criado por jovens que buscavam não apenas reproduzir pensamentos, mas

conceber os seus próprios, o heavy metal tomou forma, cativando milhares que

encontraram no gênero as respostas para seus questionamentos. Tem raízes no

blues norte-americano, surgido nos anos 1920, e no rock. Segundo Dunn (2006), as

origens do heavy metal podem ser rastreadas ao blues e a música dos escravos

norte americanos (a música dos oprimidos), pois continha o apelo para as pessoas

que necessitavam de algo diferente para sentirem-se vivos.

Não há uma data precisa de seu surgimento, pois evoluiu de uma série de

contribuições musicais e práticas sonoras da década de 1960 (JANOTTI, 2004). Em

consenso, diversos autores afirmam que a essência do gênero vem de experiências

sonoras de músicos da geração psicodélica, no final da década acima citada.

Devemos ressaltar que o heavy metal, segundo Walser (1993), também possui

elementos de origem da música afro-americana, fato que é pouco valorizado.

Originalmente adotada a partir da subcultura hippie, o heavy metal, segundo o

jornalista Nader Rahman, simbolizou o ódio, a angústia e o desencanto juvenil na

década de 1970. “Não por acaso, a trajetória do heavy metal é carregada de traços

‘sombrios’: a obscuridade, o desencanto e a opressão” (JANOTTI, 2004, p.21). A

crise do petróleo de 1973 afetou grande parte das bandas inglesas. Visto que muitos

dos músicos vinham de classe operária, ameaçados pelo desemprego, essa

situação social e econômica refletiu na característica sonora das bandas dessa

região.

[...] o público dos primeiros tempos do heavy metal era formado, em sua maior parte, por jovens brancos, alienados, da classe operária, que abraçaram uma música que oferecia uma identificação e imagem de poder, intensidade, exibição e perigo. Alguns observadores sustentavam que a diferença entre um fã do Boston - Foreigner (hard rock) e um do Iron Maiden - Judas Priest (heavy metal) era que enquanto o primeiro tinha uma vida e vivia com a música, o segundo não tinha uma vida e vivia para a música. Em meados dos anos 80, o público heavy metal se expandiu, englobando pré-adolescentes, gente na faixa dos trinta anos e alguns segmentos da classe média (FRIEDLANDER, p. 380).

20

O próprio termo heavy metal era utilizado de forma pejorativa. Acredita-se que

sua primeira utilização foi realizada pelo crítico musical Lester Bangs, na revista

Rolling Stone, para descrever o som denso, de alto volume e intensidade, praticado

pela banda Led Zeppelin (JANOTTI, 2004). De acordo com Bangs, o termo teria sido

retirado da obra literária Expresso Nova, do escritor William S. Burrough, onde um

de seus personagens chamava-se “Willy Urano, o menino heavy metal” [Uranium

Willy, the heavy metal kid]. Antes disso, heavy metal era um termo militar do século

XIX, usado para referir-se ao poder de fogo de uma arma e, na química, para

designar recém-descobertos elementos de alta densidade molecular (CHRISTE,

2010, p. 23). Outra abordagem é apresentada por Christe (2010, p.22), onde o

“heavy”, na gíria hippie, era utilizado para “descrever uma disposição mais potente

de qualquer coisa”, sendo referenciado mais como um sentimento do que um gênero

musical.

[...] a faixa Born To Be Wild, do Steppenwolf, foi utilizada no filme Easy Rider, ficando famosa por cunhar a expressão heavy metal thunder. O filme é parte dos relatos da origem do universo metálico, marcando as relações do gênero com a iconografia das motocicletas. (JANOTTI, 2004, p. 22).

Uma banda do gênero tem como formação usual quatro componentes: um

vocalista, um baterista, um baixista e ao menos um guitarrista. Quanto à construção

musical, é observada a predominância do som da guitarra. Para Janotti (2004), a

principal característica sonora é o emprego da distorção no som da guitarra

amplificada, tornando-se o elemento característico desse estilo musical. No heavy

metal, de acordo com o mesmo autor, “é muito comum a utilização do riff, uma

sequência de notas que se caracteriza pela emissão de sons repetidos em

momentos chave da execução musical” (JANOTTI, 2004, p.19). Diversas músicas

são conhecidas por seus riffs marcantes, como, por exemplo, a música Back in

Black do grupo AC/DC. Destaca-se a figura do guitarrista como instrumentista

principal, sendo a guitarra solo elemento essencial para o gênero. A técnica

necessária para o guitarrista de uma banda de heavy metal é observada no seguinte

trecho:

21

A construção de formas extensivas sobre os zumbidos ou a simples progressão harmônica (em geral dois acordes alternados) ou riffs tornaram-se, claro, a base do hard rock ou ‘música heavy metal’ e encorajaram o desenvolvimento de solistas virtuosos, especialmente guitarristas. Assim, enquanto muitas das técnicas derivadas do blues [...] parecem colocar a música em oposição à linguagem musical dominante (incluindo então sons da música pop contemporânea), essas mesmas técnicas serão desenvolvidas de modo a ressaltar as virtudes individuais ou expressões pessoais, alcançadas através do domínio profissional das técnicas instrumentais; e por isso pode ser visto como estando de acordo com as tradições da arte burguesa. (MIDDLETON, 1990, apud JANOTTI, 2004 p. 29).

O virtuosismo desses instrumentistas é bastante valorizado pelos fãs e as

próprias bandas, podendo ser observado nos diversos solos instrumentais

apresentados nos shows. Outras características desse gênero sonoro são a

utilização de power chords (acordes de guitarra que utilizam normalmente intervalos

de quinta2, amplificados, de forma distorcida), para a construção de um som forte,

pesado e agressivo, incorporando a isso o alto volume de todos os instrumentos

(JANOTTI, 2004). O “peso” musical é uma constante e progressiva busca dos

músicos, possuindo uma importante relevância para a evolução do gênero, sendo

um signo de potência e transcendência. Segundo Christe (2010), os antigos

amplificadores de guitarra mal cobriam o barulho da plateia, a busca pela qualidade

musical fez com que fabricantes de amplificadores como Marshall, Orange e Sunn

fundassem uma indústria que ampliaria a tolerância das válvulas eletrônicas,

possibilitando diversas novas possibilidades sonoras.

Segundo Tony Iommi, em documentário de Dunn (2006), quando os membros

da banda Black Sabbath começaram a escrever muitos riffs, perceberam que a

sonoridade das músicas se diferenciava das demais. As poucas notas traziam uma

nova característica e o fato do som ser demoníaco apenas os atraiu, pois gostavam

da ideia dos riffs soarem maléficos. (IOMMI, 2013). Segundo a biografia do site

oficial da banda “eles ainda hoje são uma das bandas mais incompreendidas da

história do rock”. De acordo com Dunn (2006), com o Black Sabbath o som do diabo

se tornou elemento de definição do heavy metal. A temática sombria das canções

surgiu quando Geezer Butler chegou à banda com uma ideia para uma música,

2Intervalo: distância entre as notas musicais no pentagrama (pentagrama é o conjunto de cinco linhas horizontais, paralelas e equidistantes que formam, entre si, quatro espaços, onde são escritas as notas musicais em uma folha). Intervalo de quinta: distância entre uma nota musical e outra, sendo duas alturas, ex.: dó-sol (SADIE, 1994).

22

Ozzy criou a letra e foi composta a música “Black Sabbath”, que contém referências

dos filmes de terror e magia negra que Butler e Ozzy assistiam.

Foi na década de 1970 que o gênero tomou a forma que conhecemos hoje,

com bandas como Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple. Praticamente todas

as músicas possuíam solos de guitarra e percebe-se a influência de outras

referências musicais além do blues, como a música celta, erudita e folk. No entanto,

o heavy metal não deteve seu surgimento apenas na Inglaterra. Ao mesmo tempo

bandas oriundas dos EUA também misturavam sonoridades blues, psicodelismo e

distorção para criar suas expressões musicais. E foi nessa década que o rock,

devido à sua popularidade, fez com que o heavy metal se tornasse mais conhecido.

Nessa época de relativa escassez midiática, as apresentações eram a única forma de experimentar pessoalmente a música pesada [...] gostar de verdade de rock pesado significava deixar tudo de lado para ir aos shows: matar aula, tirar folga do trabalho e até dirigir o quanto fosse necessário para vivenciar em primeira mão a catarse de um evento ao vivo (CHRISTE, 2010, p. 28).

As censuras e processos judiciais de grupos religiosos acompanham o gênero

desde sua criação, alegando que as letras induziam os jovens a cometerem atos

ilícitos, bem como fazer apologia às drogas e a defesa a seres não celestiais. Alex

Webster, baixista da banda Cannibal Corpse, afirma, no documentário Metal: a

headbanger journey (2006) que: “a escala do blues tem o trítono3. Esse é o som do

diabo, antigamente não se podia tocar essa nota, mas ‘Black Sabbath’, a música-

título da banda, é toda composta em cima do trítono.” Segundo Sadie (1994) a

instabilidade do trítono levou-o a ser apelidado de Diabolus in Musica no

Renascimento4 porque, aparentemente, era o som usado para se chamar a besta.

Por ser um intervalo dissonante, as pessoas sentiam sensações diferentes em seus

corpos, acreditando que o diabo estava presente. O heavy metal tem grande

influência na música clássica, sendo que o compositor do período romântico Richard

Wagner é conhecido por tornar a orquestra mais sombria, adicionando tubas,

contrabaixos e instrumentos extremamente graves, característica essa que serviria

de referência para a criação desse então novo gênero musical.

3 Trítono: intervalo musical que possui umas das mais complexas dissonâncias (cacofonia) da música ocidental. (SADIE, 1994). 4 Renascimento: período da história da música, compreendido entre os anos de 1400 d.C. e 1600 d.C. (SADIE, 1994).

23

Segundo Dunn (2006), a música erudita é associada ao meio universitário,

que se modificou de acordo com as tecnologias disponíveis em cada época, mas

nem mesmo os grandes compositores possuíam graduação. A característica musical

grave do período romântico, juntando-se aos elementos obscuros, resultou na banda

que modificou completamente o conceito de rock.

4.1. Comportamento musical

Os apreciadores costumam balançar a cabeça fervorosamente,

acompanhando o ritmo e intensidade da música, sendo conhecido como

headbangers (termo que significa literalmente “batedores de cabeça”, em inglês).

Essa denominação é totalmente aceita pelos fãs e músicos do gênero, sendo

empregada em diversos meios de comunicação especializados. Com relação aos

movimentos repetidos nos shows podemos verificar o seguinte trecho:

Os movimentos corporais em eventos massivos como shows ou jogos, além de expressarem contentamento com o que está sendo presenciado, servem para partilhar uma sensação de pertencimento, de irmandade com os demais participantes da mesma celebração. Alguns movimentos ou gestos, vão mais além, carregando significados simbólicos que só podem ser completamente compreendidos por aqueles que partilham dos mesmos códigos, ou regras interpretativas. Alguns exemplos mais óbvios desse código gestual seriam o sinal da cruz cristão ou o aperto de mão maçônico. (FRITH, 1998 apud SILVA 2008, p.16).

Atitude avessa é tomada quanto à utilização do termo “metaleiro 5 ”,

considerado pejorativo por muitos fãs, pois para alguns ‘metaleiro é quem trabalha

em siderúrgica’. O termo foi criado em 1985, na primeira edição do Rock In Rio,

pela Rede Globo, para identificar as pessoas com apreço ao heavy metal, pois é

habitual a utilização de rebites, correntes e outros metais como assessórios da

vestimenta.

A respeito da temática das letras, os assuntos mais abordados têm

referências religiosas ou antirreligiosas, sendo uma constância elementos do

5http://oglobo.globo.com/cultura/popularizado-no-primeiro-rock-in-rio-termo-metaleiro-causa-polemica-ate-hoje-10007742acesso em 28/04/2015.

24

ocultismo defendidos pelo mago Aleister Crowley6, citado em canções de bandas

como Led Zeppelin e Black Sabbath e influência visual para grande parte de outras

bandas. O Black Sabbath teve de se defender de diversas acusações de adoração

ao demônio, enfrentando fanáticos em vários shows e inclusive confrontando

policiais e prefeitos, que barravam a entrada da banda em algumas cidades por

acreditarem que eles iriam enfeitiçar os indivíduos moradores do local. Alguns

músicos estendiam sua crença, o guitarrista Jimmy Page morava na antiga

propriedade de Aleister Crowley, já Richie Blackmore, guitarrista do Deep Purple,

tinha o hábito de usar um chapéu de bruxa preto e pontudo (CHRISTE, 2010, p.25).

Outros temas abordados nas composições versam sobre conflitos pessoais,

drogas e críticas sociais. No decorrer do desenvolvimento do estilo musical, a

temática das letras modificou-se, a New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM),

gênero que evoluiu do heavy metal tradicional, por exemplo, tem como ênfase a

mitologia e acontecimentos históricos.

O conceito estético seguiu a evolução musical. Rob Halford, vocalista da

banda inglesa Judas Priest, ao final de cada show, na execução da música “Hellbent

for leather”, costuma entrar no palco montado em uma motocicleta Harley-Davidson.

Segundo Janotti (2004, p. 22), “há uma relação direta entre poder, liberdade e

masculinidade evocados tanto pelas motos quanto pela sonoridade pesada.”

Imagem 1: Banda Judas Priest

6 Aleister Crowley: mago ocultista, criador da doutrina/filosofia Thelema. Thelema representaria um novo sistema ético e filosófico para a humanidade, caracterizando um Novo Aeon (Nova Era). Escreveu o Livro da Lei, texto central de Thelema onde constam os dois preceitos fundamentais da doutrina, “Faze o que tu queres, será o todo da Lei” e “Amor é a Lei, amor sob vontade”. O primeiro preceito pode ser encontrado em canções de Raul Seixas, compostas em parceria com escritor Paulo Coelho, que também era seguidor de Thelema. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Aleister_Crowley, acesso em 30/10/2014.

25

O heavy metal não se restringe apenas a produção musical. Segundo

Weinstein (2000), o gênero conta com um código próprio, que considera interesses

visuais e verbais, sendo compartilhada por seus apreciadores. Assim, a autora se

refere ao gênero como um fenômeno cultural com características bem definidas.

Segundo Weinstein (2000), de acordo com pesquisas realizadas pela escola dos

Estudos Culturais britânicos, sobre os movimentos juvenis entre os anos 1970 e

1980, o termo “subcultura7” é aplicado para se referir ao heavy metal com fenômeno

cultural em seu conjunto.

Rob Halford, citado por Christe (2010, p.38), diz que cada geração encontra

algo para ser sua família musical, alguém para se identificar e chamar de seu. Assim

o Judas Priest se conectava aos primeiros fãs, o fato de não haver uma cultura

metal ampla naquela época, fazia com que suas relações fossem construídas pouco

a pouco.

7 “Meio particular de vida de um grupo menor”, uma variação da cultura associada a determinado grupo, região, classe. (LAKATOS; MARCONI, 2000, p. 140).

26

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O termo heavy metal é de difícil conceituação. A maior parte do conhecimento

vem do senso comum das pessoas que fazem parte desse meio, caracterizando-o

como um elemento empírico. O presente estudo configura-se como de natureza

quali-quantitativa de método indutivo, que, segundo Fachin (2003, p.81), “é

caracterizada pelos seus atributos e relaciona aspectos não somente mensuráveis,

mas também definidos descritivamente.” Definiu-se a variável citada anteriormente

por não ser necessária a mensuração de todos os dados, sendo que o pesquisador

procura compreender os fenômenos internamente e, a partir da análise do contexto,

situar a sua interpretação. A pesquisa quali-quantitativa auxilia a obter uma melhor

compreensão sobre o tema estudado, aprofundando os aspectos essenciais da

pesquisa, sendo que o estudo quantitativo pode gerar questões para serem

aprofundadas qualitativamente e vice-versa (GIDDENS, 2012). Método indutivo é um

procedimento do raciocínio que, a partir de uma análise de dados particulares, se

encaminha para noções gerais (FACHIN, 2003, p. 30).

O método é um plano de ação, formado por um conjunto de etapas ordenadamente dispostas, destinadas a realizar e antecipar uma atividade na busca de uma realidade; enquanto a técnica está ligada ao modo de realizar a atividade de forma mais hábil, mais perfeita. Método está relacionado à estratégia, e a técnica, à tática (FACHIN, 2003, p.29).

Primeiramente, como etapa metodológica, foi utilizada a pesquisa

bibliográfica, que teve como objetivo recuperar o conhecimento científico acumulado

sobre o objeto teórico, dando suporte para as fases subsequentes da pesquisa, uma

vez que auxiliou na definição do problema, a determinação dos objetivos e

fundamentação da justificativa da escolha do tema. Juntamente foi empregado o

método de análise de conteúdo, um conjunto de técnicas que visa determinar o que

está sendo dito sobre determinado tema, que, segundo Bardin (1977, p.34), é:

um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens.

27

Esse método possui categorias pré-estabelecidas, dividido em cinco etapas,

sendo elas: organização da análise, codificação, categorização, interferência e o

tratamento informático (DUARTE; BARROS, 2005, p.288). Definiu-se a entrevista

em profundidade como escolha técnica mais adequada, pois, segundo Ribeiro

(2008, p.141), é:

A técnica mais pertinente quando o pesquisador quer obter informações a respeito do seu objeto, que permitam conhecer sobre atitudes, sentimentos e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que se pode ir além das descrições das ações, incorporando novas fontes para a interpretação dos resultados pelos próprios entrevistadores.

Como instrumento da pesquisa filtro foram utilizados dois questionários on-

line, executado via Google Forms. Um destinado a colaboradores da revista e outro

que atuou como questionário filtro, disponibilizado na rede social Facebook, em

grupos de fãs de heavy metal e leitores da revista Roadie Crew, durante o período

compreendido entre 06 de abril e 09 de maio de 2015.

Com o total de dez perguntas, sendo três abertas e sete fechadas, com o

objetivo de identificar o público leitor da revista Roadie Crew, o questionário filtro foi

respondido por 36 pessoas.

A partir das respostas obtidas, a faixa etária que aparece com mais expressão

é de 20 a 28 anos. 86,1% das pessoas que responderam são do sexo masculino.

Quando perguntado se a pessoa era leitora da Revista Roadie Crew, 57,1% afirmou

ser leitor. Este dado foi verificado nas entrevistas em profundidade, apontando que,

mesmo que os leitores não comprem atualmente a edição impressa da revista,

continuam consumindo o conteúdo da mesma através do site e redes sociais.

Quanto ao lugar onde residem, foram identificadas as cidades: Santa Maria,

RS (12) 8; Porto Alegre, RS (5); Canoas, RS (1); Frederico Westphalen, RS (1); São

Leopoldo, RS (1); São Lourenço do Sul, RS (1); Ibirubá, RS (1); Novo Hamburgo, RS

(1); Pelotas, RS (4); Caxias do Sul, RS (2); Cachoeira do Sul, RS (1); Júlio de

Castilhos, RS (1); Alegrete, RS (1); São Luís, RS (1); Descalvado, SP (1); Vitória da

Conquista, BA (1) e Los Angeles, CA (1).

A partir dos dados coletados na pesquisa filtro, foram selecionadas 20

pessoas para a realização de entrevista em profundidade, a fim de compreender a 8 O número elevado de respostas na cidade de Santa Maria justifica-se pela maior divulgação do link da pesquisa entre os amigos da pesquisadora.

28

construção da sua relação com a revista e o heavy metal. Essas entrevistas foram

realizadas via Skype, no período compreendido entre os meses de maio e julho de

2015, tendo iniciado no dia 10 de maio de 2015 e finalizado no dia 28 de julho de

2015, conforme tabela a seguir:

Quadro 1 – Datas das entrevistas

Entrevistado Data da realização

da entrevista

Entrevistado 1 10 de maio

Entrevistado 2 11 de maio

Entrevistado 3 12 de maio

Entrevistado 4 12 de maio

Entrevistado 5 14 de maio

Entrevistado 6 15 de maio

Entrevistado 7 19 de maio

Entrevistado 8 19 de maio

Entrevistado 9 23 de maio

Entrevistado 10 26 de maio

Entrevistado 11 27 de maio

Entrevistado 12 15 de junho

Entrevistado 13 17 de junho

Entrevistado 14 18 de junho

Entrevistado 15 22 de junho

Entrevistado 16 30 de junho

Entrevistado 17 08 de julho

Entrevistado 18 13 de julho

Entrevistado 19 28 de julho

Entrevistado 20 28 de julho

Fonte: Elaborado pelo autor

29

O conteúdo obtido em cada uma das entrevistas foi previamente analisado.

Assim, foram selecionadas cinco entrevistas, realizadas nos dias 11, 12, 15 e 19 de

maio, para a análise apresentada a seguir. Tendo em vista a semelhança de

algumas respostas dos participantes, o número de entrevistas foi decidido pelo nível

de influência dos entrevistados na cena heavy metal gaúcha, tendo como ponto

decisivo o fato de ainda consumirem conteúdo da Roadie Crew, seja físico ou digital.

A transcrição dessas cinco entrevistas deu-se no mês de agosto de 2015. As

entrevistas serão representadas por E2, referenciando a entrevista do dia 11 de

maio; E3, para a entrevista do dia 12 de maio; E4 para a segunda entrevista do dia

12 de maio; E6 para a entrevista do dia 15 de maio e E8 para a entrevista do dia 19

de maio. A partir dos dados coletados, apresentam-se as conexões apontadas.

5.1. Objeto de Pesquisa: revista Roadie Crew

As revistas especializadas surgiram da necessidade de maior aproximação

com o público, buscando particularidades e características específicas para a

consolidação dos padrões tradicionais do gênero. A primeira revista especializada

em heavy metal do Brasil foi a Rock Brigade, a qual surgiu em 1982, na cidade de

São Paulo. Objetivando levar mais informações para o público headbanger,

apresentando outro ponto de vista, surge a revista Roadie Crew.

No início dos anos 90, em uma de suas reuniões semanais, os amigos Airton

Diniz, Claudio Vicentin e Anselmo Teles começaram a escrever o fanzine

“RoadieCrew”, motivados pela realização do primeiro festival “Philips Monsters Of

Rock” em São Paulo – SP e pelo impulso que representava aquele evento para o

movimento da música underground no Brasil. Em 1994, foi publicada a primeira

edição do fanzine, com a característica básica, que se mantém atualmente, de ter

publicações específicas sobre o heavy metal e abordando o tema sem qualquer

constrangimento.

Os exemplares eram distribuídos na Galeria do Rock, em São Paulo, em

bancas no centro de São Paulo e por correspondência. O fanzine se manteve com

uma frequência irregular, mas com uma ótima aceitação por parte do público. Em

1997, com então seis publicações, surge a necessidade da profissionalização da

30

revista, sendo criada no final daquele ano a Roadie Crew Editora Ltda. No mesmo

ano acontece o lançamento do site próprio (www.roadiecrew.com), o qual há

atualização diária, contendo entrevistas exclusivas e resenhas de shows.

Aos poucos a equipe aumentou, passando a contar com vários

colaboradores, jornalistas, fotógrafos e, sobretudo, admiradores e apreciadores do

heavy metal. Vale ressaltar que, segundo Brandini (2004), não só no Brasil, mas em

vários outros países, a imprensa especializada em rock é em sua maioria conduzida

por fãs do gênero.

Seguindo os avanços técnicos, a edição de número 09 foi a primeira a ter

distribuição em todo o território nacional. Posteriormente, a partir da edição 11, a

Roadie Crew começou a ser vendida também em Portugal e, na edição 15 passou a

ter todas as páginas coloridas, um grande avanço para a editora.

Imagem 2: Capa da primeira edição do fanzine Roadie Crew, julho de 1994.

Imagem 3: Capa da edição 15 da revista Roadie Crew, maio de 1999.

Aos poucos, com o reconhecimento da marca no meio musical e o bom

recebimento das resenhas de shows internacionais por parte do público leitor, os

editores buscaram aprimorar esse conteúdo em específico. Muitas resenhas de

shows internacionais eram apenas traduzidas para o português e publicadas na

revista, não havendo uma conexão emocional mais forte com o público brasileiro,

leitor da revista. Nessa época, a apresentação de shows internacionais no Brasil era

bem escassa, transformando cada um deles em um grande acontecimento para o

público e para a mídia especializada.

31

Com o intuito de transmitir exatamente a emoção vivida pelos fãs, em 1997 a

revista inicia o investimento em grandes coberturas de shows internacionais, com

equipe própria, objetivando a aproximação emocional com o headbanger brasileiro.

O primeiro festival a ter cobertura internacional foi o Dynamo Open Air 1999, que

aconteceu na Holanda. A partir disso, diversos outros festivais tornaram-se

conhecidos do público brasileiro através da Roadie Crew.

No ano 2000, a frequência da revista passa a ser mensal. Em parceria com a

empresa ICS Festival Services, que organiza o maior festival de metal do mundo, o

Wacken Open Air (que acontece anualmente na Alemanha) e a aproximação dessas

marcas com a Roadie Crew LTDA, em 2005 se tornou possível o direito da revista

Roadie Crew indicar anualmente uma banda brasileira para participar do “W:O:A-

Metal Battle”, competição de bandas em que mais de 40 países participam enviando

seus representantes, os melhores tem a oportunidade de tocar no palco do Wacken.

Desde sua criação, a revista Roadie Crew acompanhou o surgimento e o

crescimento de várias bandas brasileiras, possibilitando um maior conhecimento da

cena musical underground e colaborando para o crescimento das bandas e músicos.

Hoje com mais de 200 edições publicadas e 21 anos de atividade é referência em

sua especialidade.

32

6. DADOS COLETADOS – ENTREVISTAS SELECIONADAS

A troca de conteúdos e informações é apresentada pelos entrevistados como

uma forma de suprir a necessidade dos fãs em conhecer mais bandas e subgêneros

do metal. A partir do relato de experiências próprias, o heavy metal se mostra como

influência direta na vida destes, atuando não apenas como um gênero musical, mas

como uma filosofia, que demarca momentos bem definidos na existência dos

entrevistados. Um importante aspecto apresentado é o contínuo preconceito sofrido

pelos headbangers, sendo que os estigmas sociais que muitas vezes levam a

marginalização podem ocorrer pela falta de informação de pessoas que não

conhecem verdadeiramente o gênero.

6.1. Entrevistado 2

O meu primeiro contato com o metal foi através dos meus primos, eu devia ter

uns 8 ou 9 anos. Eles escutavam Black Sabbath, Led Zeppelin, Pink Floyd, eu

comecei a gostar das músicas e a buscar mais material. Eu já tocava violão na

época, então comecei a tirar as músicas. Foi mais ou menos assim.

Eu morava numa cidade minúscula, então não tinha outras pessoas pra tocar,

eu meio que comecei a mostrar uns sons pra uns amigos e tentar ensinar a tocar

para conseguir montar uma banda. Eu tinha por volta dos 12 anos quando consegui

formar minha primeira banda, se chamava Blizzard, mas era aquela coisa, sempre

tocando em festas, no colégio. Nossas influências eram, basicamente, Iron Maiden,

Black Sabbath, Helloween, Manowar... Não temos nenhum registro musical, até

porque não tinha os recursos de gravação que temos hoje. Ainda hoje costumo

indicar muitas bandas e materiais para os amigos, isso é um fato legal do metal, o

pessoal descobre algo novo e corre mostrar pra todo mundo. Eu escrevi pra um

fanzine, há muito tempo atrás. O nome era O Barulho, fazíamos ele impresso.

A Scarpast foi criada em 2004, se não me falha a memória. Todos os

integrantes gostam de doom metal, desde os mais old school até os mais atuais. O

som que tocamos hoje reflete bem a nova formação, digamos que é mais doom. As

33

letras tem como tema a vida em si, os sentimentos que todos sentimos, sofrimento,

solidão, raiva, angústia. A maioria [dos integrantes da banda] trabalha e estuda,

raramente ganhamos algum dinheiro com a banda. Quanto ao viver da música nós

somos bem realistas nesse sentido, o mercado para a música que tocamos não

favorece esse tipo de coisa, mas tentamos sempre melhorar, estudando, investindo

em equipamentos melhores, mas muito mais pela música mesmo. Acho que posso

dizer que a banda é a válvula de escape de todos nós, uma forma de expressar os

sentimentos contidos. Essa relação profunda com a música não é entendida por

muitos, que estão fora do meio. Eu estou com quase 30 anos e ainda me perguntam

quando vou parar de escutar e tocar esse tipo de música. É ridículo, mas as pessoas

não entendem.

O metal de certa forma segrega tanto no meio familiar como no profissional.

Em pleno século XXI as pessoas têm pré-conceitos. O metal é um estilo de vida, vai

além da música propriamente dita. O jornalismo, quando trata de metal, muitas

vezes não é escrito por alguém do meio. Uma coisa interessante, falando em doom

metal e de pessoas que conheço, vários tentaram suicídio, está aí um tema para

pesquisa, na minha própria banda houve mais de um caso. O metal tem a

característica da personalidade da pessoa que leva a escutar o gênero, torna-se

uma coisa pessoal.

Acredito ser leitor da Roadie Crew desde quando a revista foi lançada.

Geralmente procuro materiais sobre bandas novas, resenhas de álbuns, resenhas

de shows. Eu gasto em torno de R$200,00 por mês com coisas relacionadas ao

metal, incluindo os gastos da banda, ensaios, encordoamentos e demais.

6.2. Colaborador 1 – Entrevistado 3

Bem, eu comecei a escutar metal desde pequeno por causa dos meus primos

que gostavam. Eles escutavam muita coisa em fita K7 e vinil, porque na época era

só o que tinha, eu acabava pegando emprestado e ouvia, mas era pouca

coisa. Dentre o que eu escutava tinha Ramones, Led Zeppelin, Sepultura, mas o

primeiro disco, o mais barulhento que eu escutei, foi o do Napalm Death, em 1989. A

partir de então comecei a escutar mais, no início eu não sabia diferenciar as

bandas, confundia o que era Ramones e o que era Napalm Death, mas não deixava

34

de escutar, até que um dia um amigo me disse: Ah, mas isso aí não é Ramones,

isso aí é Napalm Death. Na época eu não sabia, eu era pequeno. Isso foi então por

influência dos meus primos. Depois meus colegas de escola começaram a ouvir

junto, o que um descobria mostrava para o outro e começou tudo assim.

Quando eu comecei a me corresponder com gente de todo o Brasil, por carta,

a gente começou a trocar fita K7 também. Conheci bastante coisa através de trocas

pelo correio, demorava um mês pra chegar a fita e até hoje tenho os LPs e as fitas

guardados.

Meus primos pararam de ouvir, mas eu continuei.

Comecei a ler a revista Bizz também por causa dos meus primos, sempre agradeço

a eles, porque um primo meu tinha assinatura e eu pegava emprestado nessa

época. Estava começando o colégio, tinha 7 anos, aprendi a ler com a revista, só

que, claro, alguns dos termos utilizados como riff, thrash metal, speed metal eu não

entendia, mas estava aprendendo.

Logo depois eu comecei a comprar a Top Rock, Rock Brigade, Metal Head e

tinha outras revistas que não eram tão importantes. Também comprava a Planet

Metal, do Rio de Janeiro, que vinha com CD. Que eu lembre, a Bizz também chegou

a lançar uma edição especial em 1996, eu acho, do Monsters of Rock com CD

coletânea, lembro porque tenho até hoje.

A Roadie Crew conheci em 1998, com o Blind Guardian na capa. Eu lembro

que eu saí do recreio da escola pra ir comprar a Metal Head e acabei comprando a

Roadie Crew. Nesse meio tempo conheci bastante fanzine. Tinha a revista Valhalla,

também de São Paulo, de Sorocaba, eu comecei a conhecer bastante fanzines

trocando o material e então comecei a fazer fanzine também. Aconteceu tudo meio

que ao mesmo tempo, eu era bem novo, ainda bem que eu comecei novo.

Eu via nas revistas que tinha a seção de cartas e publicações de fanzines,

havia publicações de vários países, fiquei curioso para saber como funcionava isso.

Como não chegavam fanzines pra mim, só o conteúdo das revistas, eu li uma

matéria na Rock Brigade que ensinava como fazer fanzine, dando dicas, foi escrita

pelo Fernando Souza Filho, eu me interessei, só que na época não tinha

computador, não tinha nada, nem máquina de escrever. Meu primo tinha uma

máquina de escrever, eu pegava ela todo final de semana e escrevia tudo. Só que

eu nunca tinha visto um fanzine na vida, fiz meio por instinto, colocava letras de

músicas traduzidas de algumas bandas, mas não fazia nenhuma entrevista.

35

Antes da primeira edição oficial do fanzine Monsters of Rock, que eu fazia,

era só brincadeira, porque não tinha entrevista, apenas colocava discografia da

banda, biografia. Não era nada muito original, eu copiava tudo nas revistas,

recortava as capinhas do CD das revistas, as fotos da banda e colava tudo na folha

datilografada, depois tirava xerox. Foi aí que eu comecei com a brincadeira, era tudo

enviado pelo correio, o xerox naquela época era barato, eu fazia várias cópias e

enviava pelo correio.

Quando lancei a primeira edição oficial, em 1999, fiz uma entrevista com a

banda Mental Horror, aqui do Rio Grande do Sul, por carta com o baterista. A partir

daí eu comecei a ter mais contatos com bandas. A partir da segunda edição, eu fiz

uma entrevista com a banda Dorsal Atlântica, do Rio de Janeiro, e comecei a fazer

resenhas dos CDs e demos que eu recebia. Até a segunda edição era tudo

datilografado. Depois dessas edições eu comecei a fazer no computador, com um

vizinho meu que tinha uma empresa de informática, depois com os primos, até

comprar meu computador anos depois.

A divulgação era toda feita por carta e flyer, por exemplo, eu recebia uma

carta e dentro dela tinham vários flyers de outras bandas e zines, daí eu pegava

aquele flyer, que tinha o endereço, escrevia para aquela pessoa e assim a rede ia

aumentando. Podia ser demorada, mas ela era contínua. Hoje em dia eu posto um

negócio, a pessoa curte e compartilha, mas naquela época era mais físico, as

pessoas davam mais valor para o conteúdo.

Sempre que eu lançava uma edição do zine mandava para as revistas

publicarem, na seção de publicações, as pessoas liam o meu conteúdo e escreviam

para mim pedindo valor. Eu mandava o valor para a pessoa, ela retornava com

dinheiro dentro da carta e então eu enviava, era assim que funcionava.

Nesse tempo que eu estava escrevendo liguei pra Roadie Crew ou mandei

uma carta, eu não lembro, porque naquela época não tinha e-mail, isso foi em 2001.

Estava começando a ter mais acesso à internet, era meio difícil a comunicação.

Falei então com o Cláudio Vicentin, ou com o Batalha. Ele já conhecia o meu

trabalho do fanzine, porque eu mandava para lá, eles disseram para fazer uma

resenha de um show e mandar pra eles analisarem, se gostassem, seria publicado.

Então foi o que eu fiz, a primeira resenha foi de um show em São Leopoldo, em

2001. Mandei as fotos junto e foi publicado na edição de março de 2002, eu acho

que com o Gamma Ray na capa. Então eu comecei a fazer resenhas de shows para

36

a Roadie Crew, de começo fazia mais resenhas de shows, pouco depois que eu

comecei a fazer entrevistas e resenhas, depois fiz todo tipo de matéria, menos o

Background que é muito grande. Desde 2001 eu estou oficialmente na revista, na

verdade eu tive que escolher entre a Roadie Crew e a Valhalla, eu estava em

contato com as duas revistas, mas escolhi a Roadie Crew.

Por influência da Bizz eu gostei muito de ler e escrever, quando comecei a

escrever o fanzine fui tomando gosto pela coisa, em participar, divulgar as bandas,

mas principalmente o fato de escrever, que eu gosto.

Eu nunca estudei nada de jornalismo, me tornei assessor de imprensa bem

depois. Um amigo meu de São Paulo estava lançando uma demo e queria ajuda

para divulgar, eu já estava com mais contatos, isso foi em 2006. Eu já estava

escrevendo há um tempo, então ajudei a banda, fiz alguma divulgação e comecei a

ter contato com mais bandas e aos poucos foi crescendo. Mas sempre tive de levar

em paralelo com o meu trabalho em uma empresa de informática, eu nunca pude

trabalhar só com isso, como estou fazendo agora. Fazia os dois serviços ao mesmo

tempo. Começou a ter bastante banda, mas eu só trabalho com quem eu gosto do

som, já teve banda que me procurou, mas eu recusei. Se eu estou trabalhando com

a banda, tem que ser alguma coisa que eu goste, eu não gosto de divulgar um som

que eu não goste. Tem assessorias que pegam um monte de bandas e os caras

nem escutam as bandas, então, se eu vou trabalhar, tem que ser com alguma coisa

que eu goste.

Nunca tive problemas em identificar as fontes para credibilidade, tem alguns

autores que eu leio e não gosto do jeito que escrevem, porque parece meio

mecânico, tem alguns que parece que só fizeram uma cópia do release que a banda

mandou, então eu percebo que o cara está fazendo algo totalmente mecânico, não

escutou bem o CD, não procurou mais material e acabou fazendo uma cópia do

release da banda. Em alguns redatores, no geral, eu percebo isso, para mim perde

um pouco da credibilidade, porque eu poderia ler o release da banda. Eu sou fã do

Ricardo Batalha, da Roadie Crew, ele é uma das minhas principais inspirações.

Antigamente tinha também o Ricardo Franzin da Rock Brigade, que eu adorava o

jeito que ele escrevia. Fernando Souza Filho também, tu via que eles entendiam do

assunto, da banda, do estilo, escrever de uma maneira boa de ler. Acabei me

influenciando bastante neles. Tu tem que expressar o que está sentindo, deve ser

imparcial, mas não pode ser um robô. Se você vai fazer uma resenha de uma banda

37

de thrash, por exemplo, eu acabo me empolgando com o som da banda e isso se

reflete no texto.

Hoje em dia os releases não são muito relevantes para mim, porque o

pessoal baixa muita coisa. Antigamente tu se obrigava a ler as resenhas das revistas

pois era o único material para consulta. A gente se baseava pelo texto e pela foto da

capa do disco que ia junto. Mas hoje, algumas pessoas já me falaram que leram

uma resenha que eu fiz, gostaram e compraram o CD e acabaram tendo a mesma

percepção que a minha com o álbum. Hoje a gente recebe muita coisa de bandas,

mas nas resenhas acaba surgindo alguma curiosidade.

As revistas já interferiram por resenhas publicadas, na minha decisão de

compra de alguns álbuns. Antigamente tinha muito mais coisas que interessavam,

mas a gente não conseguia comprar tudo. Um deles é o ao vivo do Iced Earth, em

2001, eu acho. Eu morava no interior e tive que pegar um daqueles ônibus pinga-

pinga só para ir comprar o disco, eu morava em Parobé e fui a Novo Hamburgo.

Uma vez demorei 3 horas no ônibus lotado, com uma sacola de CDs na mão, mas

fazia parte.

Já tive experiências ruins com releases de álbuns, de ouvir o CD e ficar

indignado com o que o cara escreveu. Eu evito escrever de estilos que eu não gosto,

porque ia acabar interferindo o meu gosto pessoal no texto, mas já aconteceu de eu

ler e ficar indignado, de o som não ter nada haver com o que o cara falou.

Além da Roadie Crew, hoje, eu participo da revista on-line Hell Divine; revista

on-line Rock Meeting, essa de forma esporádica; tem uma revista do Rio de Janeiro,

Slammin’, que antigamente era Planet Metal; a Metal Warriors e a Lucifer Rising. Eu

não ganho nada das revistas, mas eu gosto de escrever.

A ideia do livro “Tá No Sangue” surgiu na década de 1990, porque li uma

reportagem na revista Top Rock sobre o metal gaúcho, o nome da matéria era

Pampa’s Metal, que trazia pequenas matérias com várias bandas do RS. Em 2007 a

Roadie Crew fez um especial sobre o ano de 1987 e nessa edição eles pegaram

vários discos importantes do Brasil lançados nesse ano, eu peguei o disco Rotten

Church, da Panic, e entrevistei quase todos os caras que gravaram o disco, outras

caras que participaram da Panic depois e mais pessoas que participaram da cena na

época, nos anos 80, então tive contato com bastante gente e com muito material

legal. Pensei que com a quantidade de conteúdo seria legal fazer um livro, isso em

38

2007. Fiz então a matéria sobre o panorama do metal gaúcho e foi publicada, fiz

outras matérias e resenhas também abordando o metal gaúcho.

Em 2009, o Luiz Augusto Aguiar entrou em contato comigo porque queria me

entrevistar, ele estava buscando pessoas da cena para entrevistar para um livro que

ele queria fazer, mas ao mesmo tempo eu também estava com essa ideia e

buscando material. Então, os dois estavam fazendo a mesma coisa, ao mesmo

tempo, só eu não conhecia ele, ele entrou em contato comigo pelo Orkut porque

queria me entrevistar. Eu disse que também estava fazendo a mesma coisa, então

nos reunimos para conversar e em 2010 começamos a fazer as entrevistas para o

livro. A primeira entrevista que a gente fez foi com o Edu K, do DeFalla, lá no

apartamento dele, em Porto Alegre. Depois a gente fez com o Marco Di Martino, da

Spartacus, com o Ivan da Astaroth, tudo isso em 2010. Ao mesmo tempo

começamos a pesquisar o material de revistas e fanzines, fotos e demais materiais.

Só que ao mesmo tempo a gente trabalhava, era difícil conciliar tudo, para a coisa

andar pra valer. Fomos fazendo conforme dava, em 2012, ou 2013, o Douglas

entrou na equipe para ajudar a escrever. A gente se reunia aqui em casa, final de

semana, feriado. Então desde 2009 a gente estava trabalhando nisso. No ano

passado a gente decidiu que precisava lançar na feira do livro de POA de 2015, só

que chegou um tempo que a gente pensou que não ia conseguir colocar tudo em um

livro só, por ser muito material, cerca de 200 entrevistas, a gente viajou para o

interior para fazer as entrevistas também. Não conseguimos fazer todas

pessoalmente, então tivemos de mandar questionário. Só que surgiu um problema,

como a gente ia transcrever todo esse material coletado, então começamos a

procurar pessoas que pudessem colaborar com a gente, só que a gente não podia

pagar. As pessoas faziam como podiam, porque é complicado escutar duas horas

de entrevista e digitar tudo, mas aos poucos foi. Conseguimos lançar a primeira

parte, dos anos 1970 e 1980 na feira do livro passada. Agora, com o Luiz fora da

equipe, que na verdade ele quer se dedicar em outros projetos, estamos eu e o

Douglas trabalhando na segunda parte do livro que é sobre os anos 1990. A ideia é

lançar na feira do livro desse ano, sempre na feira do livro, para ter mais visibilidade,

onde vende mais também. É um serviço bem trabalhoso, tem bandas que a gente

não conseguiu entrevistar ainda, o Krisium, por exemplo, nunca bateu a agenda.

Fora ainda o material que falta ser coletado, vão surgindo coisas.

39

Muita coisa vai surgindo que a gente nem imaginava que existia, no livro tem

uma parte da cena do Vale do Paranhana eu pensei, pelo que conheço, que tivesse

só umas duas bandas e olhe lá, só que comecei a falar com um cara que mora na

cidade de Igrejinha que estava fazendo um documentário sobre Rock no Vale do

Paranhana e começou a me falar das bandas, bandas que eu nunca tinha ouvido

falar, me mandou fotos raras, que ninguém sabia. Eu lembro bem, era numa

segunda-feira, nesse tempo eu já tinha largado meu emprego, sentei na frente do

computador e fiz todo um capítulo do livro de madrugada, comecei a ler o que o cara

me mandou, a juntar as informações, porque é um quebra-cabeças, que o fulano

tocou na banda X, mas também tocou na Y, então é bastante coisa.

Tem muita coisa que não foi encontrada, por algumas pessoas não terem

levado a sério, não responderam ao questionário, ou não quiseram dar entrevista.

Isso complicou bastante o trabalho. Tem bandas que foram entrevistadas, mas as

pessoas quase não falaram, mais reclamaram do que contaram suas histórias.

Outras, o Marco Di Martino, por exemplo, a gente teve que ir 3 vezes na casa dele

para fazer a entrevista, tivemos 3 horas de gravação e a gente só chegou na sexta

pergunta do questionário, e são várias perguntas. Porque vai surgindo coisas além

do que a gente colocou no questionário, histórias de shows e se a gente fosse

colocar tudo no livro daria muita coisa. Depende muito da pessoa, tem gente que

fala pouco e tem gente que fala bastante, varia bastante.

Um jeito de conseguir material das bandas era gravando em lojas de CDs,

muita coisa eu consegui por lá, uma das maneiras era alugando o CD por R$1,00 o

dia, eu pegava o CD e ia na casa da minha prima e lá ela tinha aparelho de CD e

gravava pra fita K7. Consegui muita coisa assim, eu lembro direitinho do dia que

gravei o CD do Ramones, sou muito de lembrar de cada história das fitas K7 que

tenho. A minha prima gravava, ou eu pagava pra loja gravar a fita, eu lembro que

saia da aula, ia lá e pegava. Era uma coisa de outro mundo, mesmo que gravação

não ficasse boa. Já aconteceu de pegar o vinil emprestado de um amigo meu e

gravar uma fita, como tinha muita troca de fita pelo correio, cada um fazia a sua

listinha e mandava pro amigo ver, e assim se trocavam os álbuns. Uma vez o cara

pediu essa gravação que eu tinha feito do vinil, só que eu não tinha como gravar do

vinil de novo, eu já tinha devolvido, e eu fiz a cópia da cópia e mandei pra ele. Hoje

eu dia tu vai ali, baixa o Torrent e deu. Então era muito mais complicado.

40

Sobre ter o registo, eu criei um Sound Cloud do livro, e a minha ideia é

colocar a discografia do metal gaúcho ali. Muita coisa não vai ter como colocar

porque são protegidos por direitos, mas CD que não está em gravadora eu estou

colocando, materiais raros dos anos 80 e material de agora. Uma das ideias do livro

é movimentar, fazer o pessoal conhecer as bandas antigas e novas, ir procurar mais.

Tem banda daquela época, por exemplo, a Gladiator. Surgiu nos anos 1980,

eles ensaiavam no porão da igreja, como conta no livro, e eles lançaram um vinil nos

anos 80 e depois a banda acabou. Antes do livro sair, eu já estava em contato com

os caras e ele me contaram que estavam voltando com a banda, teve muita gente

que falou que foi por causa do livro, de resgatar aquela coisa toda.

Hoje o cara da banda Pesadelo veio aqui em casa pegar o livro, a Pesadelo

foi a primeira banda extrema, pra época do RS. Na época tinha a Leviathan, que

tocava pesado e rápido, tinha a Astaroth, mas os caras me mandaram a música que

eles gravaram na época, antes da Panic gravar o Rotten Church, era a coisa mais

porrada que tinha no RS, só que depois a banda acabou, os caras entraram para a

Cascavelletes e tudo mais. Recentemente eu entrei em contato com os caras e eles

me falaram que querem regravar aquela música, daí ele me mandou a música e eu

adorei. Só que eles não conseguiram gravar ainda porque não acharam vocalista.

Aos poucos o livro pode influenciar a atualidade, eu vi bastante gente nova

comprando o livro na feira, de repente essa galera começa a ler e se interesse pelo

que já foi feito aqui, claro vai ver que teve bastante problema, mas de repente vai

ficar interessado em tocar algum instrumento ou alguma coisa.

Eu já organizei festival em 2008, eu organizei a 5ª edição do Live Jam, aqui

em POA. Teve Hibria, Motorhead cover e Distraught, são três bandas que chamam

público e que são muito boas. O público foi de 700 ou 800 pagantes, que é público

de show estrangeiro. A gente pagou todo o aluguel, as bandas, o som e ainda

sobrou um pouco pra gente, foi a quinta e última edição do festival, foi excelente. Em

2009, a gente fez mais 2 festivais, um deles eram [as bandas] Decimator, Distraught,

Horror Chamber, só que no mesmo dia tinha open bar em POA, então o público

baixou muito. A partir daí, essa nossa equipe que organizava parou de fazer, eu

continuei em locais menores, nada muito grande, porque o pessoal, como vou dizer,

ninguém é obrigado a ir, mas tem gente que reclama. Parece que tem algumas

regras no metal, do tipo, se tu não vai em show tu é poser. Se tem uma banda ruim

tocando, eu não sou obrigado a ir lá assistir, só pra dizer que sou apoiador do metal,

41

eu vou se estiver afim, se tiver dinheiro, se for uma banda que eu curto. A pessoa

não tem que se sentir obrigada a ir em uma coisa que ela não quer só para dizer que

apoia o metal nacional. Cada um tem a sua opinião, agora não é porque é uma

banda gaúcha que sou obrigado a acompanhar. Tem todo um esquema em cima

disso, é um pouco complicado.

A questão de cover é um assunto polêmico também, porque chama gente, os

bares preferem as bandas covers porque vai mais gente, consome mais e é isso que

gera lucro para o bar, acaba tirando espaço das bandas autorais, mas a gente

precisa estar atento para a realidade econômica dos lugares também. Essas bandas

de som próprio tem que fazer alguma coisa diferente que chame a atenção do

público para ouvir o som deles. Tem que ter um cuidado da banda em fazer alguma

coisa marcante, que chame a atenção. Tem bandas que conseguem e bandas que

não conseguem, essas que não conseguem acabam se apegando a essa imagem

de defesa do metal nacional.

6.3. Entrevistado 4

Eu sempre tive certo interesse pela música desde criança, pois tenho dois tios

que tocam instrumentos, uma tia pianista e um tio que tocava acordeom. Quando

adolescente, começaram aquelas modinhas de colégio, de ouvir aquelas bandas

que todo mundo conhecia. Eu comecei a ouvir também, só que logo comecei a me

interessar mais e a pesquisar mais, assim conheci outros gêneros, e foi aí que

comecei a escutar o metal.

Logo comecei a fazer aula de instrumento e a estudar música, eu tinha uns 13

anos. Nessa época o acesso à internet não era comum, como eu tinha internet

discada, a minha principal fonte de informação eram as revistas. Lembro da Rock

Brigade nessa época, só que eu nunca mais vi para vender em bancas, acompanho

só pelo site, e a Roadie Crew, que na época eu já tinha alguma coisa. Acabava

trocando muitas informações sobre bandas com meus colegas da escola, eles

mostravam o que haviam achado e a gente compartilhava esse material.

Nunca cheguei a contribuir de forma propriamente dita para um site ou blog.

Como eu tenho banda, às vezes nas entrevistas o pessoal pede uma dica de banda,

42

de música que eu esteja escutando, então tu sempre acaba dando a tua opinião e

falando, mas eu nunca colaborei no sentido de fazer uma resenha de um show, uma

resenha de um CD ou escrever uma coluna, isso nunca.

As entrevistas que eu dou são sobre o meu trabalho, então acabo falando de

outras bandas porque os jornalistas normalmente perguntam as nossas influências

musicais, o que estamos achando da cena, as perspectivas do cenário, então a

gente sempre acaba falando além.

Caxias [Caxias do Sul] tem uma cena muito forte, tem músicos muito, muito

bons. Isso faz com que sempre tenha material novo, e sempre tem várias bandas,

de diversos gêneros, trabalhando um material novo. Isso faz com que a cena nunca

pare, a gente sempre fica a espera de um lançamento, isso é muito bacana.

Outra coisa que ajuda muito, é que aqui tem aqueles financiamentos

municipais de arte, onde tu tens como lançar o teu trabalho com o financiamento da

prefeitura, na secretaria da Cultura. Então são vários benefícios que ajudam na

produção de material novo, tem esse lado que nunca para, sempre tem novas

produções, bandas lançando material, músicas, gravando álbum. No entanto, o

problema aqui é que não tem uma estrutura legal. No ano passado, que eu acho que

foi o ano mais forte do metal, vieram várias bandas de fora para tocar, além das de

Caxias. Bandas da região, aqui do Rio Grande do Sul, também de São Paulo e

Minas Gerais. Isso é bacana, o problema é que não tem uma estrutura para fazer

um show de metal, não é em qualquer bar que dá pra fazer, tem um bar aqui que

abre as portas, eu já toquei bastante nele, mas ele não comporta um público muito

grande. Tem um pessoal que está fazendo festivais um pouco menores, só que fica

ruim, o espaço é ruim, o palco é ruim, o som é ruim, daí fica naquela que quando

tem um show de metal o lugar é um lixo e parece que tudo é um lixo, daí todo

mundo fica falando mal, então todo o trabalho técnico que se realiza na banda não

se torna reconhecido nesses lugares, porque fazem teu trabalho parecer medíocre.

Fomos convidados para tocar em Santa Maria, no Obscure [Obscure Faith Festival],

só que nós não pudemos ir porque estamos gravando.

Todas as vezes que eu comprei a revista o que mais busquei foram as

entrevistas, quando eu via que tinha uma banda que eu queria conhecer um pouco

mais e tinha matéria com entrevista, era o que fazia com que eu comprasse. O

principal motivo mesmo sempre foram as entrevistas, sempre que eu encontro

alguma informação que julgo interessante vira assunto de roda, converso com meus

43

amigos, independente da fonte, seja revista, site, blog, sempre que aparece uma

matéria legal, uma banda interessante, eu acabo falando pro pessoal.

Acredito que o editor faça a diferença [nas publicações] porque quando eu

leio uma matéria eu busco neutralidade, não gosto quando a matéria é influenciada

pela opinião de quem está escrevendo, como por exemplo, quando é uma resenha,

é óbvio que é uma opinião pessoal.

Também não gosto daquelas entrevistas que já começam insinuando algo, eu

gosto de ler as entrevistas e tirar as minhas próprias conclusões. Já fiquei chateado

com a resenha que fizeram do meu CD, eles falaram tri bem, só que deram uma

nota que não foi muito boa. Eu fiquei me questionando porque falou tão bem e deu

uma nota tão baixa, mas não me chateio com isso, porque cada pessoa tem a sua

opinião.

Outro meio que eu uso pra me informar, que é muito forte, é o Facebook.

Todos os grandes blogs, grandes revistas e grande parte das bandas tem uma

página no Facebook, então eu curto as páginas e a partir delas recebo todas as

informações. Isso torna as coisas muito mais rápidas, porque eu acabo lendo o que

me interessa e compartilho muito mais rápido. É difícil eu entrar diretamente no blog,

sem ser pelo Facebook.

Eu gasto bastante com a música porque faço faculdade de música também,

então se levar isso em conta o valor sobe consideravelmente. Com o metal eu gasto

aproximadamente 200 ou 300 reais por mês, em cordas, alguma camiseta, CDs,

porque eu ainda compro CD, mas de bandas que eu tenho contato direto eu compro

direto nas barraquinhas dos shows, quando as bandas vem tocar aqui em Caxias. É

nesse tipo de situação que eu compro CDs, mas de bandas, principalmente

internacionais eu acabo baixando todas porque o valor com que os álbuns chegam

aqui no Brasil é muito alto.

A revista acaba influenciando muito mais nos downloads do que nas compras

de CD. Se eu vejo uma resenha que fiquei interessado, eu baixo o material. Já

comprei DVD depois de ter visto a resenha na revista, foi o do Dimmu Borgir e do

Big Four, depois de ter visto na Roadie Crew.

Não tenho um editor preferido na revista, mas o que eu acabo lendo mais,

pela questão regional, é o Maicon Leite. Ele mora aqui perto e outra, não tenho

contato, mas por ele ser aqui da região eu acabo lendo mais o trabalho dele, que eu

44

mais conheço porque querendo ou não ele é a fonte que acaba representando Rio

Grande do Sul, aí a gente acaba acompanhando mais.

6.4. Entrevistado 6

Comecei a ler revistas do gênero no início dos anos 1990, foi quando eu

comecei a tocar também, comecei a me envolver com leituras e ficar a par do que se

divulgava. A revista que eu lia com mais frequência era a Rock Brigade,

especialmente as seções de demos e CDs, não somente para divulgar a minha

banda, mas também para ter contato com as outras bandas. Isso é uma coisa que a

gente pode acompanhar ainda hoje, tanto que a Roadie Crew tem essas resenhas

também. Mas claro, com o processo de informatização a tendência foi começar a

procurar mais material em blogs, em sites das próprias revistas, claro que as

informações são mais restritas. Como eu nunca fui muito de ficar lendo entrevistas

muito extensas, sempre lia o básico da banda, a biografia, eventualmente de algum

outro membro de bandas que eu gosto mais, eventualmente alguma propaganda de

instrumentos, para verificar quais tinham disponíveis e também para demarcar uma

certa identidade.

Desde os 12 ou 13 anos comecei a ouvir heavy metal. O que eu sempre digo

para os meus amigos, é um modo de vida pra mim, não há um dia em que eu não

tenha um momento dedicado ao metal, seja ler alguma coisa, fazer um download,

comprar um CD, eu ainda compro e gosto de comprar CD. É uma relação

permanente, quando eu tinha 17 ou 18 anos, na escola, meus colegas falavam que

era uma moda que passaria. Passou um tempo, eu lembro que com 25 anos um

amigo me disse que isso acontecia com todo jovem, que com 20 anos estava

escutando esse tipo de música e com 30 estaria no CTG. Eu tenho contato com ele

ainda, foi meu cunhado e disse para ele, estou com 41 anos e ainda não fui para o

teu CTG. É uma relação permanente, mesmo no espaço concedido para mim na

universidade, eu sempre tenho alguma forma de identificação, mesmo no meu

trabalho, hoje de manhã dei aula com a camiseta da minha banda. Isso não deixa de

ser uma forma de demarcar uma identidade, a roupa, as tatuagens. Então é uma

45

relação permanente, eu não consigo me imaginar, na verdade nem pensei até hoje

como eu seria sem o meu vínculo com o metal.

Participo de duas bandas, a M-19 e a Human Plage. Eu sou porto-alegrense,

moro em Santa Maria desde 2011. Quando me mudei continuei tocando na M-19,

porque sou baterista e é sempre difícil encontrar baterista de metal. A M-19 é uma

banda de thrash metal, um estilo que eu gosto muito também, mas com as duas

bandas, chegou um momento, nesse ano, que a possibilidade de conciliação entre a

banda e o trabalho estava ficando mais difícil. Eu tive uma possibilidade que era

deixar de uma das bandas, como estou com a vida muito mais em Santa Maria do

que em POA, eu optei pela saída da M-19. A outra razão é que a banda aqui de

Santa Maria é de death metal e eu gosto mais de death e black metal.

Comecei a tocar com uns 15 ou 16 anos, mas de um modo bem básico e

experimental. Lá pelos 20 anos que comecei a me dedicar mais, a ter aulas de

bateria. Parei por 2 anos, foi um momento de crise, vamos dizer assim, mas não da

minha identificação com o metal, isso nunca aconteceu, mas com banda porque

achava que não era mais o momento. Esse achar que não era mais o momento

durou no máximo dois anos.

Eu vendi todos os meus equipamentos, dois anos depois adquiri tudo de

novo. O meu irmão, mais velho que eu, foi o caminho, sem dúvidas, para começar

escutar o metal, me levou para as bandas clássicas, Led Zeppelin, Black Sabbath,

Iron Maiden, Rush. Bandas que eu conheci pela primeira vez, foi ele que me

apresentou, acho que nos anos 80.

Ele tocava guitarra numa banda de heavy metal, heavy clássico, e eu

gostava, ia nos ensaios, e um instrumento que mais me chamou atenção foi a

bateria. Talvez por ela ter uma característica diferente, não sei se um tipo de

agressividade sendo canalizado para que ele instrumento, talvez conscientemente

eu não tivesse pensando nisso, mas comentei com ele e com meus pais que eu

queria ser baterista, que queria tocar bateria. Lembro até que minha mãe perguntou

se eu não queria cantar, ou alguma coisa que gastasse menos, que fizesse menos

barulho, mas eu disse não, eu quero bateria. Então, a influência com certeza foi do

meu irmão, além do estímulo para eu começar a tocar, ele me passou os telefones

na época de pessoas que ensinavam bateria eu fiz aulas, mas o que eu gostava

muito, realmente, essa parte das bandas mais pesadas, o death metal, mais brutal,

mais explosivas de ser mais rápidas e a tendência ser menos explosivas, mais pela

46

velocidade mesmo, pela constante. Eu até gosto, mas para mim esse estilo é muito

catártico, mais pela agressão mesmo, pelo momento ritual, de agredir o instrumento

e descarregar a raiva naquilo. Isso para mim é fundamental, que é uma tendência

muito forte de bandas de thrash metal, que é a minha formação como baterista.

A gente troca bastante informação [entre os amigos], tem dois momentos que

ficam bem claros, que eu posso te falar bastante informações. Um deles é o período

de antes da internet, que era via de correspondência. A gente tinha os fanzines e as

revistas impressas. A gente trocava informações, eu tinha muita correspondência,

até é bom lembrar que pelas revistas, falando certamente da Rock Brigade e da

Roadie Crew, sendo eventualmente uma outra revista, mas especialmente os

fanzines, em que traziam os endereços de bandas. Eu aleatoriamente buscava

nessas que eu tinha uma identificação maior, quando não pegava [o endereço] de

todas as bandas e enviava cartas pedindo materiais e coisas assim. Quando recebia

esse material também vinham muitas informações de outras bandas, mas tudo no

meio underground. No meio mais conhecido claro, o que aparecia nas revistas eram

bandas que eu já conhecia, então corria atrás por mais material. Em Porto Alegre

tinha duas lojas, mas especialmente uma, que estava sempre na ponta, na frente

das outras no que se vendia em termos de metal era a Megaforce.

O que acontecia, antes de ter os CDs, tinham os LPs importados, que eram

muito caros. Normalmente o dono da loja fazia gravações de fita K7, então me

mantinha atualizado por ali. Hoje, com a internet é o outro mundo, todos os dias eu

baixo pelo menos 10 ou 15 discos diferentes, de bandas variadas no metal, e

eventualmente alguma coisa de hardcore nova iorquino, mas sobretudo metal.

Sempre baixo discografias e na banda [que ele é baterista] a gente troca essas

informações, um pergunta a opinião do outro. Recentemente, o The Crown, que é

uma banda de death/thrash metal, lançou um CD e eu passei pro pessoal. Então

acontecem essas trocas, nem sempre todos concordam que as bandas sejam boas,

mas há troca.

Ainda morando em Porto Alegre eu realizei a cobertura de shows de bandas

de black metal, na verdade foi apenas um. Tenho um amigo que era do POA Show e

pediu para eu fazer a cobertura do show do Marduk e Ad Hominem, em 2009 ou

2010, se não me engano, e escrevi para o POA Show uma resenha. Agora tive uma

contribuição no livro que o Maicon Leite organizou, participei com entrevista, mas

não muito, alguns colegas meus mais, mas nessa nova edição, que pega mais o

47

meu tempo, aí sim tem uma colaboração maior da minha parte, o meu envolvimento

com a Sacrário, que foi uma das primeiras bandas de thrash metal que eu toquei e

depois com a própria M-19. Dentro do metal mesmo, não propriamente direto, mas

colaboração mesmo foi só nessas situações.

Eu leio resenhas de CDs em blogs, sites, mas elas quase nunca influenciam

na minha compra do CD. O que influencia muito as minhas compras mesmo são as

bandas que eu considero fundamentais para que eu tenha CDs, o Amon Amarth é

uma banda que eu amo muito, então eu tenho todos os CDs. Eventualmente,

bandas que eu gosto muito de um item, um quesito assim, que eu considere todas

as músicas do CD perfeitas, mas que não é um clássico, é uma banda nova, eu

compro o álbum. Tem uma banda alemã que comprei recentemente o CD, paguei 70

reais na Amazon, adorei a banda, é um black metal com mistura industrial, uma

coisa que fica inovadora.

Mas eu raramente, na verdade, leio os comentários. Às vezes o que influencia

é algum comentário negativo sobre a gravação, pode me levar a não ouvir a banda,

mas não lembro de ter uma situação que a revista, ou uma resenha, tenha me

influenciado diretamente. Porque muitas vezes [essas resenhas] são

demasiadamente subjetivas, mesmo [o material da banda] gravado, se tu for ver,

depende muito do estilo. O black metal, por exemplo, especialmente o Darkthrone,

por exemplo, eles não fazem boas gravações, Nargaroth, não faz boas gravações, e

são bandas que eu adoro, por isso eu sei que, quando vejo que é um disco de black

metal escuto um pouco e sei que a gravação é ruim, então eu só vou mudar o meu

fone, botar um de mais qualidade pra escutar melhor. Mas realmente as resenhas

não chegam a ser um fator de influência.

Eu sou colecionador de álbum, mas se for colecionador no sentido de deixar o

álbum guardado sem tocar, não, isso não existe, a coisa tem que ter uso. Eu tive em

primeiro lugar LP. Cheguei a ter duas mil unidades, aí eu vendi tudo, foi uma ação

que me arrependo profundamente, mas achava que não tinha mais o porquê ter LP,

que o futuro seria só CD, acabei vendendo tudo.

Depois que me desfiz comprei muitos CDs e mantive, vendia e comprava

outros CDs, mas não como colecionador. Hoje eu ainda compro bastante CD, tem

algumas bandas que para mim são fundamentais, que quando eu encontro eu

compro. Também tem essa situação, a dificuldade de encontrar material, mas

sempre procuro comprar. Só para dar um exemplo, recentemente tentei comprar

48

toda a discografia do Darkthrone e toda a discografia do Rotting Christ, isso só

encontro pela Amazon, em outros lugares eu não consigo.

Eventualmente eu pego promoções, bandas que eu acho legal, e compro o

material. Eu faço o download de muito disco também, mas não baixo disco de banda

independente. Esses eu sempre compro, como uma política mesmo de dar apoio às

bandas. Eu sou de banda independente, então sei o quanto é difícil ter uma banda,

eu sou muito chato quanto a isso. Amigos meus já me pediram o CD para fazer

cópia e eu não empresto.

Normalmente compro os CDs nos shows das bandas, direto na banca, ou

eventualmente por contatos que tenho no Facebook. Não compro tudo, às vezes

tem bandas que são muito ruins, ou algo superficial, sem entrar na questão da

idade, mas às vezes dá para notar que as músicas são mal executadas, ou

iniciantes, então eu não compro.

O meu gasto com a música depende muito do mês, incluindo os gastos com a

banda, certamente, juntando tudo, gasto com CD, equipamento de bateria e ensaio,

fazendo uma média do ano, de R$200,00 a R$300,00 reais por mês, no mínimo. Se

eu pudesse compraria mais CDs, mas o equipamento da bateria é muito caro. Vou

comprar dois pratos agora que custam R$2.000,00, estou pensando em comprar um

novo pedal, melhor do que o que tenho, que também não sai por menos desse valor.

Eu não posso exigir que os alunos escutem metal, eventualmente faço

brincadeiras, mas tenho que cuidar porque tem a questão do preconceito. Sempre

procuro pela ação positiva, venho dar aula com camiseta de banda, mas

dependendo do dia, quando tenho muitas atividades burocráticas, tento ser mais

formal na minha forma de vestimenta, não que isso seja obrigatório. Teve um aluno

meu que uma vez falou que achava legal [usar camiseta de banda], que os

professores às vezes são meio distantes, mesmo com música, e eu estava com uma

camiseta do Rotting Christ. O aluno disse que nunca imaginaria ver um professor

dentro de uma universidade com uma camiseta da Rotting Christ. Eu achei isso

muito legal, ele já gostava do negócio, então não sei se foi uma influência

propriamente dita.

Os alunos me procuram para falar sobre música, fora da sala de aula, em

conversas, eu passo e recebo muitas informações. O metal em geral ainda é

underground, ainda bem, se não ficaria tocando na Globo todo dia. Na história

felizmente melhorou a quantidade de alunos que curtem esse som. O

49

distanciamento é um problema na universidade, se cria uma espécie de barreira

invisível, que mesmo fora da academia sou chamado de senhor, professor. Quando

comecei a tocar na Human Plague, que foi mais ou menos formada nesse prédio, o

Marcelo Martins tocava guitarra, ele fazia historia, o André Correa era mestrando na

época e eu era professor. No primeiro ensaio que a gente fez o Marcelo foi me

mostrar um riff e disse ‘Professor o que o senhor acha’, eu disse ‘ô Marcelo, a gente

não está em sala de aula, então esquece o professor’. Hoje, pelo tempo de

convivência, isso já foi totalmente superado, mas às vezes esse formalismo

excessivo que a academia cria prejudica, eu cobro uma certa hierarquia, mas ao

mesmo tempo eu não gosto da estigmatização, porque ocorrem duas: uma delas é

pelo fato de eu ser fã de metal, ter uma banda, eu não sou um cara sério, que é um

preconceito, que eu não sou um sujeito comprometido com a universidade, o que

não é verdade. Como se alguém que é tatuado, que usa camiseta de banda e que

dá aula desse jeito fosse um cara que não é sério, ou seja, às vezes dentro do

próprio grupo existe esse estigma.

Por outro lado, a situação de manter um nível de distanciamento que não é

necessário. Se for para chegar aqui [na sala] para conversar sobre banda não há

problema, mas, claro, se for um aluno meu vai haver um momento de avaliação. Não

é por isso que vou tratar de modo distinto. Mas eu percebo que a instituição tem

muita força nisso e me chateia um pouco. Felizmente diminuiu um pouco, mas ainda

há. Na medida em que vou convivendo com as pessoas isso tende a diminuir, não

somente com o pessoal da banda, mas com outros também. Já me perguntaram por

que eu não estudo o metal, na minha área de atuação. O fato é que não quero

racionalizar esse sentimento, não quero parar pra pensar nos motivos que eu

escuto. É uma forma de expressar e reconhecimento, então prefiro não racionalizar.

Acesso muito mais o conteúdo das bandas pelo site oficial, quando há data de

shows, por questão de credibilidade, não que eu não acredite nos outros meios, mas

sempre confiro. Além de materiais que tenho dificuldade de conseguir, ou por

curiosidade, ou o layout da página eu procuro. Normalmente os videoclipes eu

acompanho mais pela divulgação dos meus amigos, mas sempre procuro.

Recentemente descobri uma banda da Índia que se chama Demonic Resurrection,

adorei a banda, procurei clipes e encontrei apenas um e uma gravação ao vivo do

Wacken [Wacken Open Air]. Às vezes é meio aleatório, mas eu gosto de ver os

videoclipes, tanto que eu tenho uma base de dados só de videoclipes no meu HD,

50

sempre gostei. DVD de shows eu compro menos, não tenho muita paciência, prefiro

ver ao vivo, mas tenho alguns, pouquíssima coisa. Mesmo o show inteiro no

YouTube eu não baixo, prefiro ficar ouvindo. Onde eu vou estou com música, no

carro, onde for.

Não tenho mais comprado revista, de nenhum tipo, sigo conferindo on-line e

quando me interesso por algum tema imprimo a matéria, faço um arquivo disso.

Cheguei a pensar em retomar a comprar, mas não tenho comprado. As assinaturas

que eu tinha, da minha área de atuação, cancelei todas, acompanho apenas on-line.

6.5. Entrevistado 8

Comecei a escutar heavy metal aí pela 5ª série, por 2004, foi quando tive o

primeiro contato. Meu pai escuta muito rock, ele tinha os CDs do John Lennon,

Beatles, Pink Floyd, Queen, eu escutava essas bandas com ele e comecei a

procurar mais bandas. Até que um dia fui na casa de um amigo e ele me mostrou

algumas músicas do Iron Maiden, a primeira música de heavy metal mesmo que

ouvi foi a The Number Of The Best, do Maiden. Foi o primeiro contato que ouvi

aquela obra prima feita pelo Iron, a partir disso comecei a procurar mais informações

sobre a banda, acabei conhecendo o Metallica e veio um leque imenso de outras

bandas. O contato com o heavy metal propriamente dito começou em 2007 através

do Iron Maiden.

A troca de informações acontecia no colégio, a gente via um outro cara, que

também estava com camiseta de banda e ia lá trocar uma ideia. Pegava o contato

pelo MSN, que a gente usava na época, e trocava material, um mandava para o

outro e até hoje é assim, o YouTube tem material de um monte de bandas e a gente

vai trocando links.

É muito bom discutir e contar a história de cada banda, de cada música, a

gente sempre teve esse hábito de discutir bastante sobre música. Inclusive tive um

programa de rádio, chamado Lado M, que tinha a proposta de comentar e

apresentar bandas de heavy metal, enfatizando as décadas de 1980 e 1990, mas às

vezes eu falava de alguma coisa que surgiu a partir de 2000, algum material novo,

ou bandas novas, principalmente no cenário do RS. Por exemplo, a Hibria, é uma

51

banda que eu sou muito fã, acompanho o trabalho deles direto, inclusive tenho os

CDs deles e tocava na rádio. Então na rádio a ênfase eram os anos 80 e 90, mas

também tocava hard rock, black metal, tinha que agradar todo mundo, eram sons

que eu curtia e muitas vezes tinham pedidos de músicas. Eu também dava as

notícias da semana, pegava nos sites, dando prioridade para as bandas brasileiras,

garimpava em vários sites para verificar a notícia. Também verificava nos sites

oficiais das bandas, inclusive quando o Megadeth anunciou o Kiko Loureiro eu entrei

no site para verificar.

Eu tenho a minha bíblia, que é o livro ‘1001 Discos para ouvir antes de

Morrer’, tenho também o livro do Kiss, do Slash, eu gosto muito de ler biografias,

mas o principal é a internet. A revista é meio menos aproveitado por mim.

Eu tinha o hábito de comprar CD, mas atualmente não tenho comprado muito.

Eu normalmente compro os discos por já conhecer o trabalho da banda, não

músicas específicas daquele álbum, mas pelas gravações anteriores. Mais por

conhecer realmente o trabalho, não por somente uma música.

Sempre troco informações com meus amigos, vou garimpando alguma coisa,

aqui em casa só não tem som quando estou falando no Skype. Eu uso muito o

Spotify, que tem a lista de bandas relacionadas ao estilo que gosto e assim vou

conhecendo músicas e bandas novas. Eu procuro bastante bandas novas,

principalmente no Brasil para ver o que está surgindo na área do heavy metal

mesmo. Tenho um arquivo que se chama ‘Brasilian Extreme’, que tem 44 bandas de

diferentes estilos do heavy metal, todas brasileiras e eu escuto direto. Se eu gostar

realmente da música, vou atrás de maiores informações sobre a banda.

Sempre que posso acompanho shows locais, shows internacionais. Eu vou no

show das bandas que eu conheço e que gostaria de ver, e da cena local a gente vai

nos lugares que tiver tocando para apoiar sempre que possível.

Eu tenho algumas coisas compradas do merchandising oficial nos shows,

sempre que dá eu procuro ajudar. Adoro camisetas, tenho de várias bandas e

sempre compro.

Não é todo mês que compro coisas relacionadas ao metal, mas uma média

de R$80,00 ou R$100,00, porque só uma camiseta hoje em dia já é um negócio

caro, gasto bastante com camisetas porque eu gosto muito.

O heavy metal para mim é uma paixão enorme, dependendo de como você

está no dia não tem outro som. Às vezes eu escuto um reggae, mas o heavy metal é

52

um troço que te agita, te acalma, tranquiliza, motiva. Comigo funciona assim, se eu

estou mal escuto um som e me acalma, motiva, então é sempre, todo dia, meu

quarto é uma barulheira, é relaxante também, faço tudo escutando heavy metal, é

difícil de explicar, mas é uma sensação muito boa, me arrepio falando, escutando,

lendo a história de uma banda. Todos os dias procuro alguma coisa relacionada,

está intrínseco.

Comecei a participar de programa de rádio através do convite de um amigo,

que tinha uma web rádio. Conversando com outro amigo, que também é louco por

música, comentamos em criar um programa musical na rádio. Eu descobri aí uma

coisa que eu gostei de fazer, que aos poucos foi se aprimorando. Hoje eu penso em

fazer por profissão, apresentar um programa, falar de música, é uma coisa que eu

não queria levar só por hobby, mas por profissão e se levar com o heavy metal junto,

melhor ainda.

É incrível pegar a letra de uma música de heavy metal. O som é pesado, mas

a letra fala de uma realidade, tem apelo emotivo para a banda ou para o músico. É

muito legal imaginar o que os caras estavam pensando na hora de compor e sair um

baita som. Eu me empolgo vendo isso, acho muito legal isso, são letras com

conteúdo, não são aleatórias como muita gente pensa. Se fala de satanismo, tem

um porquê, se fala de história, tem um porquê. Tem muito mais coisas envolvidas,

porque ainda há muito preconceito da sociedade no geral, em pensar que somos um

bando de revoltados sem propósito. Isso incomoda, eu gosto de conversar com as

pessoas para mostrar que não é bem assim que a coisa funciona. Peço para

escutarem a letra, o som, para perceberem a quantidade de elementos que tem ali.

O Iron Maiden, por exemplo, dá para dar aula de história com as letras das

músicas, pois diversas falam sobre conquistas e batalhas que aconteceram

realmente. Poderia muito bem transformar a letra em uma poesia, apresentar e

depois informar que é uma música do Iron. Isso que é f*** do heavy metal.

53

7. ANÁLISES: RELAÇÕES, IDENTIDADES E A ROADIE CREW

Além de um gênero musical, o heavy metal se estabelece como um modo de

vida, conforme o discurso dos entrevistados. Com isso, foram estabelecidas cinco

categorias de análise: A necessidade de auto identificação; A Roadie Crew como

base de identidade e influência; Identidades compostas; Revista Roadie Crew: de

objeto a discurso enunciativo e A relação do headbanger na reemissão de conteúdo.

7.1. Necessidade de auto identificação.

O primeiro indicador evidente nas respostas dos entrevistados é da

necessidade de se sentirem pertencentes a um grupo social, conceituado por

Bauman (2012), onde afirma que ter uma identidade parece ser uma das

necessidades humanas universais. Podemos verificar nos trechos a seguir:

É uma relação permanente, eu não consigo me imaginar, na verdade nem pensei, até hoje, como eu seria sem o meu vínculo com o metal (E6).

Posso dizer que a banda é a válvula de escape de todos nós, uma forma de expressar os sentimentos contidos. Essa relação profunda com a música não é entendida por muitos, que estão fora do meio. Eu estou com quase 30 anos e ainda me perguntam quando vou parar de escutar e tocar esse tipo de música. É ridículo, mas as pessoas não entendem (E2).

O metal tem a característica da personalidade da pessoa que leva a escutar o gênero, torna-se uma coisa pessoal (E2).

Tendo em mente que a necessidade de se sentir pertencente a um grupo

social é considerada um desejo básico do ser humano, é possível perceber que a

ligação entre os entrevistados e o heavy metal é tão forte que eles necessitam

expressar esse sentimento de alguma forma, externando na forma de se vestir, nas

próprias músicas que escutam e na definição dos subgêneros do metal tido como

preferidos. Não há opinião contrária que o faça mudar sua concepção a cerca do

heavy metal, sendo provavelmente impossível desfazer esse vínculo.

Segundo a teoria psicossocial de Erikson (1972), a função mais importante da

adolescência é a construção da identidade, quando os valores, crenças e metas

54

definidas tornarão o indivíduo comprometido com o que busca. É justamente nesse

período que, segundo os entrevistados, iniciaram seus principais contatos com o

gênero.

Comecei a escutar heavy metal aí pela 5ª série, por 2004, foi quando tive o primeiro contato (E8).

Comecei a escutar metal desde pequeno por causa dos meus primos que gostavam. Eles escutavam muita coisa em fita K7 e vinil, porque na época era só o que tinha, eu acabava pegando emprestado e ouvia, mas era pouca coisa. [...] Depois meus colegas de escola começaram a ouvir junto, o que um descobria mostrava para o outro e começou tudo assim (E3).

Quando adolescente, começaram aquelas modinhas de colégio, de ouvir aquelas bandas que todo mundo conhecia. Eu comecei a ouvir também, só que logo comecei a me interessar mais e a pesquisar mais, assim conheci outros gêneros, e foi aí que comecei a escutar o metal (E4).

Desde os 12 ou 13 anos comecei a ouvir heavy metal. O que eu sempre digo para os meus amigos, é um modo de vida pra mim, não há um dia em que eu não tenha um momento dedicado ao metal (E6).

A adolescência é um período onde os jovens buscam referências para

manifestar seus sentimentos e é o momento no qual o heavy metal conquista seu

espaço primário. A partir de experiências compartilhadas, esses laços vão sendo

construídos e se fortificam, criando raízes que se tornam presentes em toda a vida

do headbanger, atuando como a confirmação de sua identidade social.

7.2. Roadie Crew como base de identidade e influência.

Um dos fatores que consolidam a formação da identidade é a relação

interpessoal, quando os indivíduos se identificam com outras pessoas. Esse fator é

apresentado nas entrevistas através da influência, seja dos pais, amigos ou

familiares.

Comecei a ler a revista Bizz também por causa dos meus primos, sempre agradeço a eles, porque um primo meu tinha assinatura e eu pegava emprestado nessa época (E3).

O meu irmão, mais velho que eu, foi o caminho, sem dúvidas, para começar escutar o metal, me levou para as bandas clássicas (E6).

55

O meu primeiro contato com o metal foi através dos meus primos, eu devia ter uns 8 ou 9 anos. Eles escutavam Black Sabbath, Led Zeppelin, Pink Floyd, eu comecei a gostar das músicas e a buscar mais material (E2).

Meu pai escuta muito rock, ele tinha os CDs do John Lennon, Beatles, Pink Floyd, Queen, eu escutava essas bandas com ele e comecei a procurar mais bandas. Até que um dia fui na casa de um amigo e ele me mostrou algumas músicas do Iron Maiden, a primeira música de heavy metal mesmo que ouvi foi a The Number Of The Best, do Maiden (E8).

Eu sempre tive certo interesse pela música desde criança, pois tenho dois tios que tocam instrumentos, uma tia pianista e um tio que tocava acordeom (E4).

O papel dos influenciadores no rock em geral trouxe grandes contribuições

para os futuros ouvintes. Por ser um gênero que contém diversas ramificações, os

influenciadores apontam direções a serem seguidas, auxiliando o novo ou

inexperiente ouvinte a perceber diferentes conceitos e particularidades musicais.

Fóruns, revistas e conversas são importantes para essa intermediação de conteúdo,

espaços em que são apontados os pareceres dos editores acerca de determinada

banda ou música, servindo como uma orientação, que desperta o interesse e que

após servirá como base de informação para novas buscas. Assim, a construção

musical se dá através da experimentação auditiva guiada, pela qual, posteriormente,

o indivíduo seguirá o gênero/subgênero que mais se identificar.

Além disso, o sentimento de ampliar o grupo, de trazer novos ouvintes,

apreciadores e fãs, fortalecendo o meio e atuando também como fonte de

informação, é conceituado por Maffesoli (1998, p. 131), em que a confiança entre os

membros do grupo é estabelecida através de signos de reconhecimento específicos,

“que não tem outro fim senão o de fortalecer o pequeno grupo contra o grande

grupo”. O mesmo autor ainda afirma que “a partilha secreta do afeto, ao mesmo

tempo em que confirma os laços próximos, permite resistir às tentativas de

uniformização” (MAFFESOLI, 1998, p. 131). A confirmação da teoria do autor pode

ser encontrada no fragmento abaixo:

Eu tinha uns 13 anos. Nessa época o acesso à internet não era comum, como eu tinha internet discada a minha principal fonte de informação eram as revistas. Lembro da Rock Brigade nessa época, só que eu nunca mais vi pra vender em bancas, acompanho só pelo site, e a Roadie Crew, que na época eu já tinha alguma coisa. Acabava trocando muitas informações sobre bandas com meus colegas da escola, eles mostravam o que haviam achado e a gente compartilhava esse material (E4).

56

O diferenciar-se e a necessidade de aceitação em um grupo social é

novamente afirmada nesse ponto, com o fazer-se importante na cena musical. Por

isso, também, tantos fãs têm orgulho em falar sobre o gênero, debater informações

e realizar uma espécie de competição saudável em relação ao nível de

conhecimento sobre as bandas que formam a cena na sua cidade, estado, país e

também em nível mundial. Por esse e outros motivos alguns fãs contribuem para o

meio musical em que estão inseridos, não é raro headbangers terem a sua própria

banda, externando todos os conceitos defendidos por seus ídolos e em busca do

seu lugar na história do heavy metal.

A gente troca bastante informação [entre os amigos], tem dois momentos que ficam bem claros, que eu posso te falar bastante informações. Um deles é o período de antes da internet, que era via de correspondência. A gente tinha os fanzines e as revistas impressas. A gente trocava informações, eu tinha muita correspondência, até é bom lembrar que pelas revistas, falando certamente da Rock Brigade e da Roadie Crew, sendo eventualmente uma outra revista, mas especialmente os fanzines, em que traziam os endereços de bandas. Eu aleatoriamente buscava nessas que eu tinha uma identificação maior, quando não pegava [o endereço] de todas as bandas e enviava cartas pedindo materiais e coisas assim. Quando recebia esse material também vinham muitas informações de outras bandas, mas tudo no meio underground. No meio mais conhecido claro, o que aparecia nas revistas eram bandas que eu já conhecia, então corria atrás por mais material (E6).

Depois meus colegas de escola começaram a ouvir junto, o que um descobria mostrava para o outro e começou tudo assim. Quando eu comecei a me corresponder com gente de todo o Brasil, por carta, a gente começou a trocar fita K7 também. Conheci bastante coisa através de trocas pelo correio, demorava um mês pra chegar a fita e até hoje tenho os LPs e as fitas guardados (E3).

Quando a internet ainda era pouco acessada pelos brasileiros, a revista

Roadie Crew servia como um dos principais meios de informações dos

headbangers, a característica de levar notícias internacionais para o público

brasileiro fortaleceu a relação com o leitor. No início dos anos 90, as trocas

aconteciam de forma lenta e vários processos eram necessários. A Roadie Crew,

juntamente com a Rock Brigade, atuava como centralizadora de contato das bandas.

Estas escreviam para a revista, informando o endereço para envio de materiais e

apresentando seu conteúdo. O leitor que se interessasse deveria enviar uma carta

diretamente à banda, solicitando o envio do material e, se houvesse um valor a ser

cobrado, o dinheiro era enviado juntamente. Assim a rede crescia, as revistas

57

fortaleciam a cena brasileira em ascensão e as bandas underground conseguiam

espaço para expor seu material.

Atualmente, destaca-se que a frequência de consumo do material da revista

Roadie Crew continua a mesma, porém a plataforma de acesso ao conteúdo é

diferente. Com a facilidade de acesso à internet e a disponibilidade imediata de

informações, os leitores tem preferido o acesso on-line e a revista mantém um

espaço no site denominado “Classificados” para a mesma troca que ocorria

anteriormente.

Uma interessante forma de diferenciação das edições publicadas da Roadie

Crew, apontada pelos entrevistados, é a banda da capa. Não são apontados os

números, ou mês da edição, mas sim a banda de maior destaque.

A Roadie Crew conheci em 1998, com o Blind Guardian na capa. Eu lembro que eu saí do recreio da escola pra ir comprar a Metal Head e acabei comprando a Roadie Crew (E3).

Então foi o que eu fiz, a primeira resenha foi de um show em São Leopoldo, em 2001. Mandei as fotos junto e foi publicado na edição de março de 2002, eu acho que com o Gamma Ray na capa (E3).

Com isso, pode-se verificar a importância da escolha da capa da publicação,

pois o leitor se identifica a partir da banda definida para ocupar aquele espaço,

gerando expectativas acerca do conteúdo. Atua também como uma demarcação e

diferenciação, conectando os assuntos abordados naquela edição com fatos de seu

cotidiano e ao sentimento de descoberta e emocional do leitor.

7.3. Identidades compostas

Como verificado nos capítulos anteriores, o heavy metal é um gênero musical

não compreendido em sua plenitude, os processos inclusos no consumo da música

são profundos e cheios de significados. O conhecimento superficial acerca do

gênero musical pela sociedade causa desconforto entre os headbangers, que para

serem melhor aceitos adquirem mais de uma identidade que, como apontado por

Hall (2014, p. 11), é uma característica da sociedade atual, onde “o sujeito,

previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando

fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades”.

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[...]não gosto da estigmatização, porque ocorrem duas: uma delas é pelo fato de eu ser fã de metal, ter uma banda, eu não sou um cara sério, que é um preconceito, que eu não sou um sujeito comprometido com a universidade, o que não é verdade. Como se alguém que é tatuado, que usa camiseta de banda e que dá aula desse jeito fosse um cara que não é sério, ou seja, as vezes dentro do próprio grupo existe esse estigma (E6).

O metal de certa forma segrega tanto no meio familiar como no profissional. Em pleno século XXI as pessoas têm pré-conceitos. O metal é um estilo de vida, vai além da música propriamente dita (E2).

[...] venho dar aula com camiseta de banda, mas dependendo do dia, quando tenho muitas atividades burocráticas tento ser mais formal na minha forma de vestimenta, não que isso seja obrigatório (E6).

[...] ainda há muito preconceito da sociedade no geral, em pensar que somos um bando de revoltados sem propósito. Isso incomoda, eu gosto de conversar com as pessoas para mostrar que não é bem assim que a coisa funciona. Peço para escutarem a letra, o som, para perceberem a quantidade de elementos que tem ali (E8).

Pode-se perceber que além da identidade de headbanger, os fãs sentem a

necessidade de assumir outras identidades, pois o preconceito que algumas

pessoas ainda mantém sobre o gênero é intenso. Novamente a falta de

conhecimento afeta as relações sociais, pois nem todo headbanger cultua as forças

do mal, nem tudo precisa ser ligado a alguma religião ou a falta delas. A banda de

thrash metal Slayer, por exemplo, expõe em suas letras severas críticas em relação

a crenças religiosas9, mesmo assim o vocalista e baixista da banda, Tom Araya, não

esconde sua crença em Deus, tornando-a pública em várias entrevistas. Ronnie

James Dio é outro exemplo, vocalista, gravou 3 álbuns de músicas inéditas com o

Black Sabbath, banda conhecida por sua obscuridade e como uma das criadoras do

conceito do heavy metal. Ronnie Dio nasceu e se criou em família italiana católica e

assim defendeu sua crença, apesar de estar em um meio onde isso era duramente

criticado.

9 Escute a música Disciple, da banda Slayer. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YeE6RdWc-Io.

Acesso: 22 de outubro de 2015.

59

7.4. Revista Roadie Crew: de objeto a discurso enunciativo

A partir da deficiência de materiais específicos sobre o universo do heavy

metal, surgiu a Roadie Crew. Inicialmente, enquanto fanzine, os conteúdos apenas

informavam os leitores. Foi a partir da profissionalização da publicação que as

edições foram aprimoradas ao que encontramos hoje nas bancas. O fanzine

enquanto uma micromarca se estabeleceu em um espaço ainda não ocupado pelas

grandes editoras de música do país, trazendo conteúdo local e relevante para os

leitores, como observado no trecho abaixo:

[...] se desenvolve a procura por micromarcas, quase sempre especializadas em um pequeno setor e divulgadas boca a boca ou por um site na internet. Essas marcas são distribuídas pelos circuitos paralelos ou alternativos, o que lhes permite escapar do torniquete implacável da vasta distribuição. Elas prosperam em territórios abandonados pelas grandes marcas [...]. (SEMPRINI, 2010, p.55).

Além disso, pode-se verificar que a revista se modelou à sua prática

discursiva, construindo e veiculando significados, inserindo os elementos do heavy

metal e delimitando seu conteúdo. Construiu assim uma rede semiótica através de

seu discurso. A partir disso, aproxima-se de Semprini (2010, p. 96), em que o objeto

passou por um processo de enunciação seguindo “uma estratégia enunciativa

definida por um enunciador e dirigida, de maneira mais ou menos explícita e mais ou

menos voluntária, aos destinatários”.

A própria revista é um objeto que se tornou discurso, pois os editores

imprimem as suas expectativas e gostos pessoais nos textos publicados. Pode-se

observar esse fator nas resenhas de shows e reviews de álbuns, onde os

colaboradores exprimem sua própria impressão acerca do material, podendo ou não

ser de acordo com a opinião do leitor.

Já tive experiências ruins com releases de álbuns, de ouvir o CD e ficar indignado com o que o cara escreveu. Eu evito escrever de estilos que eu não gosto, porque ia acabar interferindo o meu gosto pessoal no texto, mas já aconteceu de eu ler e ficar indignado, de o som não ter nada haver com o que o cara falou (E3).

60

O “projeto de sentido” de Semprini não está somente no conteúdo de seu

discurso, mas também nas relações que estabelece por sua enunciação, sendo que

esse discurso semiótico não fazia parte do objeto. Nessa congruência dos dois

discursos que a Roadie Crew realiza não há uma dissonância cognitiva.

O processo de identificação do leitor com a Roadie Crew utiliza vários

métodos semióticos, seja pelo texto, imagens, o apelo emocional, o discurso das

próprias bandas que encenam as publicações e os discursos construídos através

desse aglomerado de informações acerca do gênero.

7.5. Relação do headbanger na reemissão de conteúdo.

Compreendendo o nível de influência que o heavy metal tem no cotidiano dos

fãs e sabendo que o fato de disseminar informações acerca do gênero para outros

apreciadores é um ato considerado de grande estima no meio, verificou-se que a

apropriação e reemissão de conteúdos são amplamente praticadas pelos

headbangers, sendo que essa relação acontece de várias formas. As principais,

destacadas nos discursos dos entrevistados, foram on-line, onde atualmente se

encontra conteúdo de forma rápida e de fácil acesso, e as trocas por

correspondência, quando a internet não era acessível a todos.

Ainda hoje costumo indicar muitas bandas e materiais para os amigos, isso é um fato legal do metal, o pessoal descobre algo novo e corre mostrar pra todo mundo. Eu escrevi pra um fanzine, há muito tempo atrás. O nome era O Barulho, fazíamos ele impresso (E2).

Eu via nas revistas que tinha a seção de cartas e publicações de fanzines, havia publicações de vários países, fiquei curioso para saber como funcionava isso. Como não chegavam fanzines pra mim, só o conteúdo das revistas, eu li uma matéria na Rock Brigade que ensinava como fazer fanzine, dando dicas, foi escrita pelo Fernando Souza Filho, eu me interessei, só que na época não tinha computador, não tinha nada, nem máquina de escrever. Meu primo tinha uma máquina de escrever, eu pegava ela todo final de semana e escrevia tudo. Só que eu nunca tinha visto um fanzine na vida, fiz meio por instinto, colocava letras de músicas traduzidas de algumas bandas, mas não fazia nenhuma entrevista. Antes da primeira edição oficial do fanzine Monsters of Rock, que eu fazia, era só brincadeira, porque não tinha entrevista, apenas colocava discografia da banda, biografia. Não era nada muito original, eu copiava tudo nas revistas, recortava as capinhas do CD das revistas, as fotos da banda e colava tudo na folha datilografada, depois tirava xerox. Foi aí que eu

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comecei com a brincadeira, era tudo enviado pelo correio, o xerox naquela época era barato, eu fazia várias cópias e enviava pelo correio (E3).

É muito bom discutir e contar a história de cada banda, de cada música, a gente sempre teve esse hábito de discutir bastante sobre música. Inclusive tive um programa de rádio, chamado Lado M, que tinha a proposta de comentar e apresentar bandas de heavy metal, enfatizando as décadas de 1980 e 1990, mas às vezes eu falava de alguma coisa que surgiu a partir de 2000, algum material novo, ou bandas novas, principalmente no cenário do RS (E8).

Ainda morando em Porto Alegre eu realizei a cobertura de shows de bandas de black metal, na verdade foi apenas um. Tenho um amigo que era do POA Show e pediu para eu fazer a cobertura do show do Marduk e Ad Hominem, em 2009 ou 2010, se não me engano, e escrevi para o POA Show uma resenha. Agora tive uma contribuição no livro que o Maicon Leite organizou, participei com entrevista, mas não muito, alguns colegas meus mais, mas nessa nova edição, que pega mais o meu tempo, aí sim tem uma colaboração maior da minha parte (E6).

A emissão das informações ocorre de forma primária pelas revistas e sites

especializados em música. Os leitores atuam como protagonistas na recepção do

conteúdo, pois decidem se irão apenas ler ou escolher transmiti-lo novamente para

outras pessoas, gerando uma nova emissão. Essa nova emissão ocorre através dos

fanzines, rádios e blogs de autoria própria dos leitores, que utilizam as informações

das fontes primárias para produzir um novo conteúdo, ou apenas reproduzi-lo.

Segundo Semprini (2010, p.102), os leitores são chamados de protagonistas e

auxiliam na contratação do projeto de marca de suas fontes de informação, pois

“legitimam sua permanência, seu conteúdo e sua evolução”.

Um fator importante para que essa nova emissão aconteça é o contexto. De

acordo com Semprini (2010), as tendências socioculturais e sociais estão presentes

no contexto, assim, a característica de compartilhamento de informações dos

headbangers é afirmada por esse fator, pois contribuindo para a cena adquirem um

papel social no meio o qual se inserem, tornando-se uma referência.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse estudo, foi possível abordar a importância que a música tem na vida

das pessoas, desde a Antiguidade até os dias atuais. A música inicialmente narrava

o cotidiano de um grupo de pessoas, e ao poucos tornou-se um elemento difusor de

valores culturais, carregado de significados. O heavy metal, além de um gênero

musical, tornou-se uma manifestação cultural, com uma forte rede de significados. A

partir da contextualização acerca da cultura e os estudos culturais britânicos, que,

assim como o heavy metal, nasceu na cidade de Birmingham, na Inglaterra, foi

possivel contruir uma trama entre os assuntos. Segundo o campo de pesquisa sobre

os Estudos Culturais, a interpretação acerca da cultura precisa ser analisada a partir

do contexto social no qual as pessoas se inserem, assim como as orientações

sociais e políticas. No decorrer desse estudo, a pesquisadora pode compreender os

pretextos fundamentais que motivaram o surgimento heavy metal, sendo o principal

deles a não aceitação da realidade social em que as primeiras bandas do gênero se

encontravam. Caracterizando, também, um dos motivos para que as relações de

identificação tenham se tornado fortes, pois era um sentimento compartilhado por

muitos jovens. Assim, a revista Roadie Crew soube utilizar a seu favor os elementos

desse universo, tonando-se uma fonte de referência nacional sobre o assunto.

A partir das entrevistas realizadas, pode-se perceber que a revista foi uma

das principais fontes de referência dos jovens dos anos 90, tendo em vista a

dificuldade em se obter conteúdo específico sobre o gênero musical naquela época.

Também foi um importante canal de troca de materiais específicos, visto que os

leitores anunciavam discos e fanzines em uma seção específica, possibilitando que

outros leitores entrassem em contato para que essas trocas fossem efetivadas.

Geralmente os headbangers sentem orgulho ao falar do gênero musical que mais

apreciam fato que caracteriza a contribuição de maneira voluntária em revistas,

rádios, fanzines e produções de shows, pelo orgulho de colaborar para que a cena

heavy metal aconteça. A presença dos influenciadores é um forte quesito

apresentado, todos os entrevistados conheceram o gênero através dos pais, amigos,

ou algum outro familiar, principalmente na adolescência e mantém essa prática de

retransmitir informações através dos novos meios, em sites e blogs.

Também foi possível verificar a importância da revista na construção

imagética do heavy metal no Brasil, auxiliando no conhecimento de novas bandas

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internacionais e fomentando a produção fonográfica nacional. A partir do

reconhecimento da cena local, novas bandas se formaram, em diversas regiões do

país, aproximando o público e muitas vezes contextualizando-o acerca do que o

heavy metal representava naquele contexto. A fidelidade ao gênero também é

apresentada nos discursos dos entrevistados, diferenciando o heavy metal dos

demais gêneros musicais. Essa diferenciação auxilia os fãs a se sentirem

pertencentes a um mesmo grupo e inseridos no mesmo contexto.

O que se espera deste estudo é que possa fomentar mais pesquisas acerca

do heavy metal e que auxilie na compreensão de um gênero musical possui diversos

códigos e valores, além dos elementos estritamente sonoros.

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REFERÊNCIAS

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CARVALHO, Fernanda de. Marca, imagem e reputação: a trajetória de sucesso de pessoas e empresas. São Paulo: Da Boa Prosa, 2012. CHRISTE, Ian. Heavy metal: a história completa. São Paulo: Arx, Saraiva, 2010. COSTA, Joan. A imagem de marca: um fenômeno social. São Paulo: Rosari, 2011. DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. DUNN, Sam; WISE, Jessica; MCFADYEN, Scot. Metal: A Headbanger's Journey. [Filme-vídeo]. Produção e direção de Sam Dunn, DVD, 2006, 94 min. Color. DUNN, Sam; MCFADYEN, Scot. Global metal. [Filme-vídeo] Produção e direção de Sam Dunn, DVD, 2008, 95 min. Color. ERIKSON, Erick. H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. São Paulo: Saraiva, 2003. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Lamparina, 2014. IOMMI, Tony. Iron Man: minha jornada com o Black Sabbath; tradução Tatiana Leão. São Paulo: Planeta, 2013. JANOTTI JR, Jeder. Heavy Metal com Dendê: rock pesado e mídia em tempos de globalização. Rio de Janeiro: E-papers, 2004. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de A. Sociologia geral. São Paulo: Atlas, 2000. MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense, 2014. MED, Bohumil. Teoria da música. Brasília: Musimed, 1996.

65

MEDAGLIA, Julio. Música, maestro! Do canto gregoriano ao sintetizador. São Paulo: Globo, 2008. POPOFF, Martin. Black Sabbath: a biografia. Destruição desencadeada; tradução Antônio Tibau. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013. SADIE, Stanley. Dicionário Grove de música: edição concisa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987. SEMPRINI, Andrea. A marca pós-moderna: poder e fragilidade da marca na sociedade contemporânea. São Paulo: Estação das letras e cores, 2010. RIBEIRO, Elisa Antônia. A perspectiva da entrevista na investigação qualitativa. Evidência: olhares e pesquisa em saberes educacionais, Araxá/MG, n. 04, p.129-148, maio de 2008. SILVA, Tomaz Tadeu da (Org). O que é, afinal, Estudos Culturais? Belo Horizonte: Autêntica, 2010. WALSER, Robert. Running with the devil: power, gender, and madness in heavy metal music. Hannover/London: Wesleyan University Press, 1993. WEINSTEIN, Deena. Heavy metal: the music and its culture. New York: Da Capo, 2000.

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APÊNDICE A – Questionário filtro

1. Nome:

2. Idade:

3. Sexo:

4. Em qual cidade você reside?

5. Qual sua formação / com o que você trabalha?

6. Qual o papel do Rock / Heavy metal na sua vida?

7. Quais são suas fontes de informações sobre o gênero musical?

8. Você é leitor da revista Roadie Crew?

9. Como ocorre seu contato com a revista Roadie Crew?

( ) Compro a revista na banca

( ) Sou assinante

( ) Acompanho pelo site

( ) Outro

10. O que você busca nas publicações da revista Roadie Crew?

11. Você gostaria de colaborar na segunda parte dessa pesquisa?

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APÊNDICE B – Questionário para colaborador

1. Nome:

2. Profissão:

3. Qual sua relação com a revista Roadie Crew?

4. Há quanto tempo você é colaborador da revista Roadie Crew?

5. O que lhe motivou a se tornar colaborador da revista?

6. Você contribui para a sessão de releases de CD’s/DVD’s?

( ) sim

( ) não

7. Os CD’s e DVD’s para a criação dos releases são adquiridos por você ou

as produtoras/gravadoras enviam o material?

8. Onde você busca referências para suas publicações?

9. Você publica em outras revistas ou sites? Quais?

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APÊNDICE C – Perguntas – entrevista em profundidade

1. Como você começou a escutar heavy metal?

2. Conte um pouco sobre a sua relação com o gênero musical.

3. De que maneira aconteceu o seu contato com a Roadie Crew?

4. Você já escreveu algum release ou resenha de show/álbum?

5. Quais meios de informação você utiliza para saber notícias acerca do

gênero?

6. Você gosta de falar sobre outras bandas e subgêneros do metal? Com

quem?

7. Aproximadamente, quanto você gasta com coisas relacionadas ao gênero

musical?

8. Por que você gosta desse gênero musical?

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ANEXO A – CD de referência musicais e diferenciação dos subgêneros do

heavy metal.

1. STEPPENWOLF. Born to be wild. In.: STEPPENWOLF. Everybody’s next one.

[S.I.] Dunhil/RCA, 1968.

2. AC/DC. Back in black. In.: AC/DC. Back in black. Bahamas: Atlantic Records,

1980.

3. BLACK SABBATH. War pigs. In.: BLACK SABBATH. Paranoid. Inglaterra:

Vertigo, 1970.

4. JUDAS PRIEST. Breaking the law. In.: JUDAS PRIEST. British steel. Inglaterra:

Columbia, 1980. (Heavy metal)

5. IRON MAIDEN. Run to the hills. In.: IRON MAIDEN. The number of the beast.

Inglaterra: EMI, 1982. (NWOBHM)

6. HELLOWEEN. Eagle fly free. In.: HELLOWEEN. Keeper of the seven Keys part

II. Alemanha: Nuclear Blast, 1988. (Power metal)

7. DRAGONFORCE. Operation ground and pound. In.: DRAGONFORCE. Inhuman

Rampage. Inglaterra: Roadrunner, 2006. (Speed metal)

8. SLAYER. Raining blood. In.: SLAYER. Raining blood : EUA: Def Jam, 1986.

(Thrash metal)

9. DARKTHRONE. Under a funeral moon. DARKTHRONE. Under a funeral moon.

Noruega: Peaceville, 1993. (Black metal)

10. DIMMU BORGIR. The serpentine offering. In.: DIMMU BORGIR. In sorte

diaboli. [S.I.] Nuclear Blast, 2007. (Symphonic black metal)

11. MORBID ANGEL. World of shit. In.: MORBID ANGEL. Covenant. Flórida,

Earache Records, 1993. (Death metal)

12. ARCH ENEMY. Blood on your hands. In.: ARCH ENEMY. Rise of the tyrant.

[S.I.] Century Media, 2007. (Death metal melódico)

13. DIVINE HERESY. Bleed the fifth. In.: DIVINE HERESY. Bleed the fifth. [S.I.]

Century Media, 2007.(Deathcore)

14. PARADISE LOST. Rotting Misery. In.: PARADISE LOST. Lost paradise. [S.I.]

Peaceville, 1990. (Doom, death metal)

15. TYPE O NEGATIVE. Black nº 1. In.: TYPE O NEGATIVE. Bloody Kisses. [S.I.]

Roadrunner, 1993. (Doom metal)

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16. LACRIMOSA. Schakal. In.: LACRIMOSA. Lichtgestalt. [S.I.] Hall of Sermon,

2005. (Gothic metal)

17. TUATHA DE DANANN. Behold the horned king. In.: TUATHA DE DANANN

Tingaralatingadun. [S.I.] Heavy metal Rock, 2001. (Folk metal)

18. SYMPHONY X. Incantations of the apprentice. In.: SYMPHONY X. The odissey.

[S.I.] Inside Out, 2002. (Progressive metal)

19. EPICA. Blank infinity. In.: EPICA. Consign To Oblivion. Alemanha:

Transmission Records, 2005. (Symphonic metal)

20. HAGGARD. Chapter II – Upon fallen autumn leaves. In.: HAGGARD. Tales of

Ithiria. Alemanha: Drakkar Entertainment, 2008. (Metal-orchestra)