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MACRO BRASIL 2017 - JUNHO ESTRATÉGIA ELEVEN FINANCIAL RESEARCH | 5-JUN-17 1 Havia um 2016 no meio de 2017! Mesmo diante do cenário de crise política que se instalou no país após a delação da JBS, o time da Eleven ainda se mantém positivo em relação as perspectivas para o Brasil. Desde o final de 2016, o time de economia da Eleven vem afirmando que o ano de 2017 será o ano da retomada econômica, projetando um crescimento do PIB de 1,5% de forma isolada ao consenso dos economistas. No último mês, os dados de atividade econômica do Banco Central demonstraram que as convicções do time da Eleven estavam corretas, com o PIB crescendo 1,0% no primeiro trimestre do ano, número em linha com o nosso estimado. Outro ponto importante que mostra a retomada econômica é a geração de empregos. Além disso, a queda da inflação tem se demonstrado um fator positivo para a melhora no cenário econômico. Como já afirmamos, nossas estimativas vão além do simples fato de modelar as variáveis econômicas, perpetuando ou apenas adicionando leves mudanças nos dados atuais. Esse hábito não gera valor e leva inevitavelmente ao erro em cenários não-lineares. Mesmo inserido no contexto de uma nova crise política, enxergamos um fluxo de dados positivos, o time da Eleven manteve uma visão mais construtiva para o ano: i) IPCA de abril abaixo do esperado resultou em uma inflação acumulada de 4,08% nos últimos 12 meses; ii) O IGP-M de maio acumulou variação de 1,57% em 12 meses; iii) PIB cresceu 1,0% no primeiro trimestre, depois de 8 trimestres de queda; iv) O CAGED reportou criação de mais de 59 mil novos postos de emprego em abril. Adeodato Netto Estrategista-Chefe [email protected] +55 11 4302-3340 Rafael Bevilacqua, CGA Renda Fixa e Economia [email protected] +55 11 4302-3340

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MACRO BRASIL 2017 - JUNHO

ESTRATÉGIA

ELEVEN FINANCIAL RESEARCH | 5-JUN-17

1

Havia um 2016 no meio de 2017!

Mesmo diante do cenário de crise política que se instalou no país após a delação da

JBS, o time da Eleven ainda se mantém positivo em relação as perspectivas para o

Brasil. Desde o final de 2016, o time de economia da Eleven vem afirmando que o ano

de 2017 será o ano da retomada econômica, projetando um crescimento do PIB de

1,5% de forma isolada ao consenso dos economistas. No último mês, os dados de

atividade econômica do Banco Central demonstraram que as convicções do time da

Eleven estavam corretas, com o PIB crescendo 1,0% no primeiro trimestre do ano,

número em linha com o nosso estimado. Outro ponto importante que mostra a

retomada econômica é a geração de empregos. Além disso, a queda da inflação tem

se demonstrado um fator positivo para a melhora no cenário econômico.

Como já afirmamos, nossas estimativas vão além do simples fato de modelar as

variáveis econômicas, perpetuando ou apenas adicionando leves mudanças nos

dados atuais. Esse hábito não gera valor e leva inevitavelmente ao erro em cenários

não-lineares.

Mesmo inserido no contexto de uma nova crise política, enxergamos um fluxo de

dados positivos, o time da Eleven manteve uma visão mais construtiva para o ano:

i) IPCA de abril abaixo do esperado resultou em uma inflação acumulada de

4,08% nos últimos 12 meses;

ii) O IGP-M de maio acumulou variação de 1,57% em 12 meses;

iii) PIB cresceu 1,0% no primeiro trimestre, depois de 8 trimestres de queda;

iv) O CAGED reportou criação de mais de 59 mil novos postos de emprego em

abril.

Adeodato Netto Estrategista-Chefe [email protected] +55 11 4302-3340 Rafael Bevilacqua, CGA Renda Fixa e Economia [email protected] +55 11 4302-3340

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Neste contexto, estamos mantendo nossa projeção de crescimento econômico de 1,5% para 2017. Para inflação, em

função do forte movimento de queda dos preços dos últimos meses, estamos atualizando nossa estimativa para 4,3%

em 2017. Em relação à política monetária, mantemos nossa projeção de Selic em 8,75% para o final do ano. Quanto

ao Real, trabalhamos com uma taxa de câmbio de R$3,35/US$ para o final do ano.

Projeções para 2017

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017E 2018E 2019E 2020E

Atividade EconômicaPIB - % 7,54% 3,92% 1,93% 3,02% 0,11% -3,86% -3,60% 1,50% 2,50% 3,00% 3,00%InflaçãoIPCA 5,91% 6,50% 5,84% 5,91% 6,41% 10,67% 6,29% 4,30% 4,50% 4,50% 4,50%IGP-M 11,32% 2,10% 7,82% 5,51% 3,69% 10,54% 7,17% 4,00% 4,50% 4,50% 4,50%Taxa de jurosSELIC 10,25% 11,00% 7,25% 10,00% 11,75% 14,25% 13,75% 8,75% 8,75% 8,75% 8,75%TJLP 6,00% 6,00% 5,50% 5,00% 5,00% 7,00% 7,50% 8,00% 8,75% 8,75% 8,75%CâmbioTaxa (Final) 1,67 1,88 2,04 2,34 2,66 3,90 3,25 3,35 3,35 3,35 3,35Var. tx Final (%) -4,8% 12,6% 8,9% 14,6% 13,4% 47,0% -16,8% 3,1% 0,0% 0,0% 0,0%

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Inflação abaixo da meta – Revisamos a projeção para 4,3% em 2017

O processo de desaceleração inflacionária tem se demostrado persistente nos últimos meses. O mês de abril foi

marcante neste quesito. O resultado reportado no mês, relativo aos últimos 12 meses, mostrou o índice oficial (IPCA)

abaixo do centro da meta, fato que não acontecia desde 2010. Esse processo pode ser entendido como consequência

da forte queda dos preços dos alimentos, desemprego em patamar elevado e apreciação cambial (que tem efeito

defasado sobre os preços). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, principal indicador de inflação ao

consumidor, apresentou forte desaceleração no mês de abril. O indicador apresentou alta de 0,14% no mês ante 0,25%

no mês anterior, em linha com nossas expectativas. A inflação medida pelo índice acumula alta de 4,08% nos últimos

12 meses, abaixo do centro da meta (4,5%) estipulada pelo Banco Central. A trajetória de forte queda da inflação

iniciou-se no mês de setembro, logo após o índice acumular alta de 8,97% (12 meses) em agosto.

Ainda que grande parte dos agentes projete números substancialmente abaixo do centro da meta estabelecida pelo

Banco Central, nossa equipe entende que a retomada da atividade a partir do segundo trimestre não deve permitir

que a deterioração da economia prevaleça, alongando por muito mais tempo o ciclo desinflacionário.

Gráfico 1 - IPCA Mensal Gráfico 2 - IPCA Acumulado 12 meses

0,61%

0,78%

0,35%

0,52%0,44%

0,08%

0,26%0,18%

0,30%0,38%

0,33%0,25%

0,14%

0,0%

0,4%

0,8%

1,2%

abr-16 jun-16 ago-16 out-16 dez-16 fev-17 abr-17

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

12,0%

jan-15 mai-15 set-15 jan-16 mai-16 set-16 jan-17Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research

O enfraquecimento da atividade econômica e a consequente redução do consumo das famílias teve como resultado

positivo a queda do índice de inflação de serviços. O índice de serviços é uma das fontes de inflação que o Banco

Central acompanha de perto e é um importante termômetro para o Copom na condução da política monetária.

Os gráficos abaixo mostram a forte queda do índice, que passou de 8,09% em janeiro de 2016 para 5,96% em abril de

2017.

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Gráfico 3 - IPCA Serviços Mensal Gráfico 4 – IPCA Serviços Acumulado 12 meses

0,37%0,33%

0,62%0,59%

0,33%

0,47%0,42%

0,65%

0,36%

0,84%

0,33%

0,49%

0,0%

0,4%

0,8%

1,2%

5,0%

6,0%

7,0%

8,0%

9,0%

jan-15 mai-15 set-15 jan-16 mai-16 set-16 jan-17Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research

Um ponto de alívio substancial foi a acomodação dos preços administrados que haviam sido artificialmente reduzidos

em 2014, sendo reposicionados “na marra” em 2015, impactando violentamente os indicadores de inflação. Nesta

linha, entendemos que as revisões de grande magnitude já foram realizadas.

Gráfico 5 - IPCA Monitorados Mensal Gráfico 6 – IPCA Monitorados Acumulado 12 meses

1,40%

0,24%

-0,10%

0,26%0,37%

0,54%

0,22%

-0,01%

0,80%

0,58%0,48%

-0,60%-0,8%

-0,4%

0,0%

0,4%

0,8%

1,2%

1,6%

5,0%

6,0%

7,0%

8,0%

9,0%

jan-15 mai-15 set-15 jan-16 mai-16 set-16 jan-17 Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research

Outro dado que chama a atenção para o forte movimento do processo de queda dos preços foi o Índice Geral de

Preços – Mercado (IGP-M) de maio, que apresentou queda de 0,93% no mês ante queda de 1,10% em abril e uma

elevação na ordem de 0,82% em maio de 2016. Em 12 meses, o índice acumula alta de 1,57%, ante acumulado de

3,37% no mês anterior.

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Gráfico 7 – IGP-10 Mensal Gráfico 8 – IGP-10 Acumulado 12 meses

0,60%

1,42%

1,06%

-0,27%

0,36%0,12%0,06%

0,20%

0,88%

0,14%0,05%

-0,76%

-1,10%

-2,0%

-1,0%

0,0%

1,0%

2,0%

mai-16 jul-16 set-16 nov-16 jan-17 mar-17 mai-17

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

12,0%

jan-15 mai-15 set-15 jan-16 mai-16 set-16 jan-17 mai-17 Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research

Os resultados dos índices de inflação confirmam a trajetória de forte queda que, aliado à expectativa de um choque

de oferta favorável, levam o time de economia da Eleven a reduzir a projeção do IPCA para 4,3% ao final de 2017

(ante 4,6%).

Mesmo com a redução, nossos números ainda estão acima da média do mercado, principalmente por considerarmos

uma recuperação da atividade mais forte que o consenso, produzindo efeitos no indicador, principalmente nos últimos

meses de 2017.

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Saímos da recessão - PIB cresce 1% no primeiro trimestre

O IBGE divulgou logo na primeira manhã de junho, os dados do PIB do primeiro trimestre, que vieram em linha com

as nossas expectativas. O PIB subiu 1,0% contra o quarto trimestre de 2016. Este foi o primeiro trimestre de

crescimento depois de oito trimestres consecutivos de resultado negativo.

Gráfico 9 – IBC-Br MoM% Gráfico 10 – IBC-Br Índice

-0,97%

-2,22%

-1,53%

-1,20%

-0,61%-0,32%

-0,72%-0,86%

1,00%

-2,5%

-1,5%

-0,5%

0,5%

1,5%

1T15 2T15 3T15 4T15 1T16 2T16 3T16 4T16 1T17

Fonte: IBGEl. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGEl. Elaborado por: Eleven Financial Research

Historicamente, as recuperações são agudas após períodos de forte retração. Não há fundamento econômico

estrutural no subjulgamento coletivo da capacidade de retomada em 2017, na leitura da nossa equipe. Ao contrário,

a combinação de fatores positivos, como queda de inflação e juros, capacidade ociosa e desalavancagem das famílias

abre espaço consistente para a reaceleração.

Estes são alguns dos pilares que sustentam nossa visão e projeção, mesmo considerando o chamado carry over. O

resultado na leitura da equipe de economia da Eleven é um PIB positivo de 1,5% em 2017.

155

160

165

170

175

180

1T14 2T14 3T14 4T14 1T15 2T15 3T15 4T15 1T16 2T16 3T16 4T16 1T17

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Mantemos nossa projeção de Selic em 8,75% para o final de 2017

O Banco Central reduziu em 100bps a Selic para 10,25% a.a. na reunião encerrada em 31/05, como esperado pelo time

de economia da Eleven. No Comunicado divulgado junto com a decisão, o Copom sinalizou que o corte na próxima

reunião pode ter intensidade menor que a atual, ou seja, indicou uma possibilidade de corte de 75bps, também em

linha com nossas projeções.

Os membros do conselho, enfatizaram as incertezas sobre o avanço das reformas em andamento, como consequência

da atual crise política. Vale ressaltar que o comunicado usou a palavra “incerteza” 5 vezes, mostrando a preocupação

com o andamento das reformas. Diante desse risco usou o seguinte trecho para expressar que deve reduzir o ritmo

de queda na próxima reunião “o comitê entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em

relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequado em sua próxima reunião”.

Com isso, compreendemos a complexidade dos cenários de aprovação das medidas de controle fiscal, mas ressaltamos

que esses riscos já estão implícitos no atual cenário e refletidos no posicionamento do Banco Central. Assim, estamos

mantendo nossas projeções para o ritmo de flexibilização monetária. Nossos modelos contemplam um corte de 75

bps para a próxima reunião em julho, seguido por um corte de 50Bps em setembro e finalizando o ciclo em outubro

com um corte de 25bps. Assim, esperamos que o ano de 2017 termine com a taxa Selic em 8,75% a.a.

Gráfico 11 – Selic Projeção

Fonte: BCB. Elaborado por: Eleven Financial Research

8,75%

8,00%

9,00%

10,00%

11,00%

12,00%

13,00%

14,00%

15,00%

jan-14 jul-14 jan-15 jul-15 jan-16 jul-16 jan-17 jul-17 jan-18 jul-18

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Seguimos com R$ 3,35 por Dólar para o final de 2017.

O time de renda fixa e economia da Eleven mantém a projeção de câmbio para 3,35 Real por Dólar para o final de

2017. O Real seguiu os movimentos das moedas emergentes e mantém-se apreciado em relação à moeda americana.

Na cotação de fechamento de 31/05, a cotação era R$ 3,22 / US$ 1,00. Notem que mesmo com o alto stress registrado

no momento subsequente à “implosão de Brasilia” pela divulgação da gravação com o Presidente Michel Temer, a

moeda americana não teve sustentação em patamares altos, voltando à casa dos “três e vinte”, combinando a atuação

do Banco Central com o comportamento global frente às moedas emergentes.

Nossas projeções apontam a convergência dos juros norte-americanos para a “taxa de neutralidade”, alcançando os

2% ao final de 2018. Neste nível, considerando que o ritmo de atividade se mantenha dentro do previsto pelo FED, os

EUA chegariam à taxa de juro real ZERO, mantida a meta de inflação de 2%. Não projetamos uma “superaceleração”

da economia americana com planos expansionistas do Presidente Donald Trump como cenário-base. A expectativa de

cortes nos “corporate taxes” isoladamente não consegue impulsionar o tamanho dos investimentos que a Casa Branca

espera. Diferente do Brasil, a tributação está concentrada na ponta final e não nos agentes produtores e de comércio.

Qualquer alteração material no ritmo dos EUA demandará uma discussão orçamentária complexa, principalmente se

levarmos em consideração o aumento já declarado das expectativas de gastos militares e de defesa. Os movimentos

políticos recentes nos EUA remetem, inclusive, a um estado de cautela e conservadorismo na avaliação das condições

que Trump terá para angariar apoio às suas medidas em áreas mais sensíveis ao ritmo da atividade econômica.

Mesmo com a queda dos juros no mercado doméstico, o Brasil seguirá com um abismo entre a taxa Selic e a taxa

básica de juro dos EUA. Ainda mais importante é o cenário de que nossa taxa de juro real seguirá superior aos

principais pares emergentes. Mesmo com as recentes pressões negativas, principalmente nos preços do minério de

ferro, o preço internacional das principais commodities ainda suporta a visão para a moeda brasileira por conta dos

termos de troca.

Outro fator que corrobora para a nossa estimativa do câmbio, é a manutenção de superávits comerciais elevados. No

mês de abril, o superávit comercial foi de US$ 7,0 bilhões e em 12 meses a conta já acumula superávit de US$ 55,8

bilhões, sendo que nos quatro primeiros meses do ano, o saldo foi o maior da série histórica.

Nosso cenário-base ainda leva em consideração a evolução (porém ainda não uma solução definitiva) das reformas

fiscais e consequente consolidação da reversão das tendências do endividamento público, conforme abordado neste

relatório sobre a realidade fiscal do país.

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Assim, há boas perspectivas de manutenção do capital estrangeiro no mercado financeiro brasileiro. Nosso maior

desafio será atrair o capital dedicado, focado em investimentos e de longo prazo. Este sim, capaz de rebalancear a

relação entre oferta e demanda pela moeda norte-americana e potencialmente reposicionar o patamar de taxa de

câmbio. Nosso target para final de 2017 é R$ 3,35.

Resultados Fiscais

O resultado primário do Governo Central de abril apresentou superávit de R$ 12,60 bilhões, ante um superávit de

R$ 10,18 bilhões em abril de 2016. Apesar resultado positivo neste mês, o governo Central apresenta déficit de R$

2,71 bilhões no ano. No fluxo acumulado de nos últimos 12 meses, o Governo Central acumula um déficit de R$ 156,42

bilhões. Este valor ainda é muito acima da meta estipulada pelo Ministério da Fazenda para o ano de 2017, de R$ 139

bilhões. Um conjunto de medidas de contenção fiscal anunciadas pelo governo somado à retomada na atividade nos

levam a crer que esta meta será cumprida. Mesmo diante de uma crise política, seguimos projetando um crescimento

de 1,5% do PIB no ano de 2017 o que elevará substancialmente a arrecadação. A retomada da confiança do

consumidor e do investidor combinada com a queda estrutural da taxa de juros são fortes indícios de uma retomada

mais robusta ainda neste ano. Lembramos que inflação segue em forte queda e a geração de emprego dá indícios de

inversão para uma trajetória positiva. Nota: O abalo recente da confiança ainda não está consolidado em nossa leitura,

da memsa maneira que víamos como superestimados os dados de confiança logo após o impeachment de Dilma

Rousseff.

Apesar de sinalizar otimismo, a redução das despesas não foi suficiente para compensar a queda na arrecadação,

devido ao considerável aumento nos gastos com previdência, mas é uma forte evidência de que o ajuste fiscal teve

seu início. No longo prazo, porém, a estabilidade fiscal depende diretamente da flexibilização dos gastos obrigatórios

do orçamento. Nos primeiros meses de 2017, mais de 80% dos gastos realizados foram de natureza compulsória.

Por isso, o governo concentra grande parte de seus esforços na aprovação da Reforma da Previdência. A crise política

pode ter abalado a base aliada de Michel Temer consideravelmente, mas a urgência de estabilização das contas

públicas segue crescente. Diante disso, ainda que a data da votação da reforma em Plenário siga indefinida, sua

apreciação é inevitável. A histórica forma de “fazer política com as bases”, através de emendas orçamentárias ficará

materialmente comprometida se não houver uma alteração estrutural e profunda na realidade das contas públicas.

Mais do que nunca, a percepção de risco do mercado depende de uma sinalização positiva do Congresso em relação

à Reforma da Previdência. Como a fragilidade do cenário político exige cautela, a negociação do Executivo com o

Legislativo tomará mais algum tempo até que se chegue novamente a um acordo.

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Gráfico 12 – Déficit da Previdência (INSS) (R$ Bi) – Valores de abril 2017

Fonte: Tesouro Nacional. Estimativas: Ministério da Fazenda. Elaborado por Eleven Financial

O mais importante é que a população no geral já compreendeu a necessidade de reverter os resultados negativos das

contas públicas, portanto o time de Economia da Eleven segue com a aprovação de uma reforma, certamente não a

ideal, acontecendo neste ano, como cenário-base. O resultado das baixas receitas e altas despesas não poderia ser

diferente: o déficit primário acumulado para o ano de 2016 foi de R$ 158 bilhões, ou 2,5% do PIB, o maior valor desde

o início da série, em 1997. O déficit nominal (déficit primário mais o pagamento de juros) atingiu R$ 478 bilhões, ou

7,6% do PIB em 2016.

Gráfico 13 – Resultado Primário e Nominal do Governo Central

Fonte: Tesouro Nacional. Elaborado por Eleven Financial

A recorrente geração de déficits impulsiona a dívida do país para níveis preocupantes. Caso o crescente endividamento

não seja revertido, a percepção de risco sobre o Brasil pode retornar aos patamares de 2015, aí sim, impactando as

perspectivas de retomada na confiança e nos investimentos.

180,80

51,84 56,4965,00 69,14

95,72

153,68

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017E1T 2T 3T 4T

2,1% 1,8% 1,4%

-0,4%-1,9% -2,5%

-2,0%-1,3% -2,1%

-4,7%

-8,6%-7,6%

2011 2012 2013 2014 2015 2016Resultado Primário (% PIB) Resultado Nominal

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Carta Mensal do Estrategista

Economia e Ativos Financeiros em: Encontros e Desencontros

Historicamente, investidores e operadores de mercado (sim, eles foram separados propositalmente), afirmam que a

Bolsa antecipa a economia. Assim, os números que nosso time vem projetando desde o terceiro trimestre de 2016,

para o PIB em 2017, foram, nesta linha de pensamento, antecipados pela Bolsa. O voo dos 43.000 pontos do início do

ano passado, aos 60.000 pontos na chegada de 2017 comprovariam a tese.

A questão é: qual o tamanho do gap de tempo entre uma coisa e outra? Se a virada da economia é estrutural e da

Bolsa espasmódica, como os comportamentos podem estar efetivamente correlacionados? Haja agente estabilizador,

formador de mercado, gestor de política econômica, Banco Central e muito ansiolítico.

Extrapolando, se as Bolsas mundiais têm alguma correlação e o investidor norte-americano é tão importante por aqui,

qual das economias está realmente impactando na precificação do principal índice da Bolsa brasileira? Desde a

chegada da Eleven ao mercado, em 2015, afirmamos institucionalmente, o tamanho do reconhecimento que temos

pelo trabalho do FED, em uma combinação única de serenidade, diligência e credibilidade. Conduzir a política

monetária mais importante do mundo, durante anos, sem realizar uma única alteração na taxa básica de juros, como

visto entre o final de 2008 e dezembro de 2015, certamente não foi uma tarefa simples.

Durante este período, o S&P500, passou de 900 pontos para 2.000 pontos. O PIB dos EUA, por outro lado, após o

derretimento em 2009, registrou queda em somente três momentos. Os números de maio e junho de 2015, e maio

de 2016, mas que ao ser comparado ao mesmo mês do ano anterior, recuperava-se 0,7%. Se lá na América do Norte,

onde as variáveis têm um grau de previsibilidade infinitamente superior ao nosso, a dinâmica da Bolsa e da economia

não está necessariamente “alinhada”, ou sequer manteve a correlação histórica, como poderia o Ibovespa fazê-lo?

Volto a uma questão à qual tenho direcionado as atenções do nosso time de análise sucessivamente: a mudança

definitiva na dinâmica dos mercados após os períodos de quantitive easing (impressão desenfreada de dinheiro)

ocorridos desde 2008. O volume de recursos que migrou para os ativos financeiros descolou de forma abissal, dos

níveis de atividade da economia real. Quantos investidores tentam sistematicamente apontar como ponto de risco

máximo, o nível atual do S&P500 que vem renovando máximas históricas, mas não conseguem, em sua grande

maioria, sustentar posições vendidas no índice americano por longos períodos?

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O próprio índice de volatilidade, que muitos gostam de chamar de “índice do medo”, o VIX, segue em níveis muito

mais baixos do que as análises e correlações feitas pelo mercado em geral julgam razoáveis. O montante de recursos

é tamanho, que as posições “compradas” seguem sustentando as Bolsas nos níveis próximos às máximas históricas.

É fato que o comparativo com a história virou um verdadeiro exercício inócuo. Em 2008, o mundo derreteu por conta

da falta de liquidez. Derivativos e operações de “fumaça” faziam preços sem a contrapartida de recursos que

sustentassem os níveis. Pior, tudo isto securitizado. Os mercados globais ainda não têm histórico suficiente com

tamanha liquidez disponível e com os balanços dos principais Bancos Centrais em níveis, também jamais vistos, para

consolidar uma nova visão de tendência a partir da correlação com a atividade econômica.

Voltemos ao Brasil. Ibovespa em Dólares, está hoje aproximadamente em 19.000 pontos. A Bolsa brasileira segue

barata aos chamados “gringos”. Não temos (ainda) risco sistêmico na economia, nem na solvência do sistema

financeiro nacional. Ainda temos taxas de juro real muito próximas das maiores do mundo. Temos janela de

oportunidade em ativos que sequer foram percebidos pelo mercado ao longo de anos de desconfiança do capital

internacional com a terra do pau-brasil.

Em 2017, a verdade é que há tanto dinheiro disponível no mundo, que os operadores precisam encontrar “destinos

para alocar estes recursos”. E aí temos uma ótima notícia. Vamos à combinação prática de fatores que nos ajudam a

superar turbulências vindas do Planalto Central, quando estamos falando de Bolsa.

1. Não há nenhum lugar no mundo que remunere o capital a um juro tão alto e com segurança institucional e

sistêmica, ao menos sob a ótica da solvência;

2. O abismo entre as necessidades de investimento para a consolidação da base da economia nacional, nas

verticais de infraestrutura, educação, saúde e tecnologia;

3. As taxas de crescimento potencial nestes setores seguirão atraindo players globais, queiram os pessimistas,

ou não;

4. A participação destes recursos seguirá mantendo forte a oferta de dólares por aqui, o que não permitirá um

novo “overshooting”, ou super-desvalorização do Real;

5. Por conta disso, e combinado com a recente degradação da atividade, a inflação seguirá em níveis controlados;

6. Resultado: as taxas de juro podem continuar em queda e a desalavancagem da economia como um todo tende

a permitir um ciclo de recuperação estrutural consistente;

7. Nosso risco de insolvência por conta da gestão das contas públicas está, ainda que poucos afirmem

publicamente, sendo mitigado de forma relevante com as medidas já aprovadas e as mudanças já promovidas;

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8. A forma de fazer política no Brasil tinha dois pilares. Um deles já caiu, que era o financiamento de campanhas

bilionárias via caixa dois, com recursos advindos sabemos bem de onde. O segundo, são as emendas

orçamentárias. Ainda que não assumam por obviedades do jogo político, todo o legislativo já entendeu que

sem as reformas, não haverá caixa disponível para atendimento das bases;

Quanto ao índice Ibovespa, no curto prazo, pouco podemos afirmar. Muito dele está sim apoiado na confiança e nas

expectativas do mercado, e estas vêm sendo sistematicamente machucadas por uma quantidade inacreditável de

barbaridades reveladas pelo judiciário brasileiro. Poder este que aliás, conforme visto em outros lugares do mundo,

principalmente na Itália, fica obrigatoriamente por último em qualquer projeto de desestruturação de modelos,

digamos, questionáveis de operação.

A essência dos investidores e dos operadores é marcada pela necessidade evidente do lucro. Investidores conseguem

identificar assimetrias e oportunidades, ainda mais em momentos de alto stress. Operadores precisam

desesperadamente de volatilidade e têm em momentos como este, grandes janelas para impulsionar seus resultados.

Das duas formas temos fluxo garantido no mercado brasileiro. Bolsa movimentada e comportamento, pela primeira

vez em muitos anos, estruturalmente previsível de juros, inflação e câmbio. Quando vi nossas projeções de PIB,

dissonantes do mercado (para cima) serem inclusive superadas pelos dados do primeiro trimestre, e respaldadas pelas

divulgações de resultados, agradeci ao time liderado pelo meu sócio Rafael Bevilacqua. Que as ondas de euforia,

histeria e pânico, sigam fazendo muita gente bater cabeça por aí.

Enquanto isso, nosso papel é seguir olhando para os encontros e desencontros inevitáveis entre projeções e dados.

Quanto mais longe a manada ficar, maior a chance de entregar resultados verdadeiramente relevantes aos

investidores.

É muito mais difícil manter a serenidade com Brasília em chamas, mas não esqueçam que com tudo no lugar, é muito

mais difícil fazer a diferença. Vida que segue!