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3 32 ENTREVISTA Professora Cláudia Morgado, da UFRJ, fala do mestrado ambiental 20 EMISSÁRIOS SUBMARINOS Criados há 100 anos, estão hoje no centro de uma grande controvérsia JANEIRO/MARÇO 2011 FOTO DA CAPA Inspeção no emissário da Barra Foto Marcelo Carnaval Agência O Globo E mais: Porto Alegre se prepara para receber em setembro mais de 6 mil pessoas para o 26º Congresso da ABES Copasa e Sabesp saem na frente com programas de profissionalização de chefias As colunas Gestão & Operação, de Álvaro Menezes; Registro, de Eduardo Pacheco Jordão; e Bionet, de Lineu Alonso Ensaio fotográfico com José Medeiros O artigo da Resenha Técnica fala de economia de energia na área de saneamento 6 PLANOS DE SANEAMENTO Prefeituras correm contra o tempo para se adequarem ambientalmente 28 AQUÍFERO GUARANI Águas subterrâneas abastecem boa parte do sul do Brasil 36 LAGOA ENCANTADA O caminho de uma lagoa fétida transformada em área de lazer

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32 ENTREVISTA Professora Cláudia Morgado, da UFRJ, fala do mestrado ambiental

20 EMISSÁRIOS SUBMARINOSCriados há 100 anos, estão hoje no centro de uma grande controvérsia

JANEIRO/MARÇO 2011

FOTO DA CAPA

Inspeção no emissário da Barra Foto Marcelo Carnaval Agência O Globo

E mais:• PortoAlegresepreparaparareceber

emsetembromaisde6milpessoasparao26ºCongressodaABES

• CopasaeSabespsaemnafrentecomprogramasdeprofissionalizaçãodechefias

• AscolunasGestão&Operação,deÁlvaroMenezes;Registro,deEduardoPachecoJordão;eBionet,deLineuAlonso

• EnsaiofotográficocomJoséMedeiros

• OartigodaResenhaTécnicafaladeeconomiadeenergianaáreadesaneamento

6 PLANOS DE SANEAMENTOPrefeituras correm contra o tempo para se adequarem ambientalmente

28 AQUÍFERO GUARANIÁguas subterrâneas abastecem boa parte do sul do Brasil

36 LAGOA ENCANTADAO caminho de uma lagoa fétida transformada em área de lazer

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I N S T I T U C I O N A L

seções da aBes

DIRETORIA NACIONALPresidente: Cassilda Teixeira de CarvalhoVice-Presidente: Eduardo Pacheco JordãoSecretário-Geral: Luiz Paulo de Almeida NetoDiretor da Região Norte: Haroldo Costa BezerraDiretor da Regiãio Nordeste Álvaro José Menezes da CostaDiretor da Região Sudeste: Roberval Tavares de SouzaDiretor da Região Sul: Antonio Carlos GerardiDiretor da Região Centro-Oeste: Paulo Cesar Barbosa PereiraSecretária-Geral adjunta: Ângela Sotero BacelarTesoureiro-Geral: Jorge Luiz Ferreira BriardTesoureira-Geral Adjunta: Ellen Martha PritschDiretor ad hoc: Peter B. Cheung

CONSELHO FISCALTitulares: José Eduardo Gobbi, Miguel Fernandez YFernandez e Ronaldo, Resende Pereira.Suplentes: Cicero de Carvalho Monteiro; Ricardo de CastroMartins Vieira e Sandro Adriani Camargo

CONSELHO DIRETORMembros Natos: Antônio César da Costa e Silva, AntônioMarsiglia Netto, Cassilda Teixeira de Carvalho, ClovisFrancisco do Nascimento Filho, Horst Otterstetter (PR), Hugode Matos Santos, João Alberto Viol, José Aurélio Boranga,José Carlos Vieira, Lineu Rodrigues Alonso, Luiz Otávio Mota

AcreSemy Alves FerrazTel.: (68) 3223-5077E-mail: [email protected]

AlagoasJosé Reinaldo de Sá FalcãoTel.: (82) 3221-4070 / 3221-6000Fax - (82) [email protected]

AmapáJoão Paulo Dias Bentes MonteiroTel.: (96) [email protected]

AmazonasArlindo Sales PintoTel.: (92) 3627-5527Fax.: (92) [email protected]

CÂMARAS TEMÁTICAS

Controle de PerdasCoordenador Geral: Jairo [email protected]

Materiais e Equipamentos para oSaneamento e Meio AmbienteCoordenador Geral: Joaquim Hornink [email protected]

Qualidade de Produtos QuímicosCoordenadora Geral: Maria CristinaCoimbra [email protected]

Resíduos SólidosCoordenadora Geral: Jussara Kalil [email protected]

Saneamento RuralCoordenadora Geral: MônicaBicalho Pinto [email protected]

TarifasCoordenador Geral: Miguel Fernández y Ferná[email protected]

Tratamento de EsgotosCoordenador Geral: Américo de [email protected]

BahiaEmanuel Silveira MendonçaTelefax - (71) [email protected]

CearáFrancisco Vieira PaivaTelefax: (85) [email protected]

Distrito FederalMaria Geraldina SalgadoTel.: (61) [email protected]

Espírito SantoNadja Lima GorzaTelefax - (27) [email protected]

GoiásMario Cezar GuerinoTelefax: (62) 3281-2954 (seção)[email protected]

MaranhãoRaimundo Nonato Medeirosda SilvaTelefax - (98) 3232 [email protected]

Minas GeraisMarcio Tadeu PedrosaTel.: (31) 3224-8248 /Fax: (31) [email protected]

Mato GrossoSuzan Lannes de AndradeTel.: (65) 615-8722 /Fax: (65) [email protected]

Mato Grosso do SulVictor Dib Yazbek FilhoTelefax: (67) [email protected]

ParáVera Maria Nobre BrazTel.: (91) 3226-1624 / (91)[email protected]

ParaíbaClaudia Coutinho NóbregaTelefax: (83) [email protected]

ParanáEdgard Faust FilhoTelefax: (41) [email protected]

PernambucoGuilherme TavaresTelefax: (81) [email protected]

PiauíCarlos Ernando da SilvaTel: (86) [email protected]

Rio de JaneiroErnani de Souza CostaTelefax: (21) [email protected]

Rio Grande do NorteJosivan Cardoso MorenoTelefax: (84) [email protected]

RondôniaMaria Lucilene Alves de LimaTel.: (96) 2101-4258

RoraimaAlexandre Alberto HenklainFonsecaTel.: (95) 2121-2266Fax: (27) [email protected]

Rio Grande do SulNanci Begnini GiugnoTelefax: (51) 3212-1375 (Seção)[email protected]

Santa CatarinaSebastião dos Reis SalvadorTel.: (48) 3223-2299/3025-5214/30255215Fax: (48) [email protected]

São PauloDante Ragazzi PauliTel.: (11)3814-1872Fax: (11) [email protected]

SergipeMarinoé Gonzaga da SilvaTel.: (79) 3211-6970 Ramais242/[email protected]

TocantinsAurélio Pessoa PicançoTel.: (63) [email protected]

Pereira, Luiz Paulo de Almeida Neto,Nelson Luiz RodriguesNucci, Paulo Cezar Pinto e Walter Pinto Costa.Membros Eleitos Biênio 2010/2012Acylino Jose dos Santos Neto, Anna Virginia MunizMachado, Antonio Sergio Ferreira Mendonça; EdmilsonFonseca; Eduardo Von Sperling; Eliana Beatriz NunesRondon Lima, Emiliano Jose Silva Santiago, FranciscoSuetonio B. Motta, Haroldo Mattos de Lemos, HelenoSilva de Souza, Helio Augusto Machado Pessoa, HubertBrant Moraes, João Baptista Comparini, José AlmirRodrigues Pereira, José Everaldo Vanzo, José LucioLima Machado, José Nelson de Almeida Machado,José Vicente Granato de Araújo, Livia Maria Dias, LuizEdmundo H. B. da Costa Leite, Luiz Henrique Cappellano,Manuel Osvaldo Senra Alvares da Silva, Marcio PintoPaes Leme, Maria Mercedes de Almeida Bendati, PauloCésar Quintanilha, Ricardo Augusto Simoes Campos,Ronald Young, Sergio Bezerra Pinheiro, Silvio Leifert eVilma de Seixas Martins

REPRESENTAÇÕES ABESEm Organismos Nacionais:

Membro do Conselho das Cidades - ConCidadesSite: http://www.cidades.gov.br/conselho-das-cidadesRepresentante: Eng.Ronaldo Resende

Membro do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRHwww.cnrh-srh.gov.brMembro do Conselho Nacional do Meio Ambiente –Conamawww.mma.gov.br/port/conama/index.cfmRepresentante: Eng. Cassilda Teixeira de CarvalhoComissão Intersetorial de Saneamento e Meio Ambiente– Cisama - do Conselho Nacional de Saúde do Ministérioda Saúdewww.conselho.saude.gov.br/Web_comissoes/cisama/index.htmlRepresentante: Eng. Edmilson Fonseca

Em Organismos Internacionais:

IWA – International Water Association - www.iwahq.orgMembro do Conselho Diretor: Eng. Cassilda Teixeira deCarvalhoWEF – Water Environment Federation - www.wef.orgMembro do Conselho Diretor: Eng. Angelo Luiz Monteirode BarrosAIDIS – Asociación Interamericana de Ingeniería Sanitáriay Ambiental - www.aidis.orgVice-Presidente de Finanças e Planejamento: Econ.Leonardo LevyTesoureiro Geral: Eng. Isaac Zilberman

COMITÊ NACIONALDA QUALIDADE

Coordenadora Geral: Nercy Donini BonatoE-mail:[email protected]

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Diretor Responsável: Cassilda Teixeira de CarvalhoConselho Editorial: Carlos Mello Garcias, Cecy Oliveira, Cícero Onofre de Andrade Neto, Evandro Rodrigues de Britto, Fernando Botafogo Gonçalves, Jorge Briseno, José Eduardo W. Cavalcanti, Márcia Adriana da Silveira, Márcio Gomes Barbosa, Marco Anto-nio Silva de Oliveira, Miguel Fernandez y Fernandez, Miguel Mansur Aisse, Nercy Donini Bonato, Paulo Cezar Pinto, Paulo Ferreira, Plínio Tomaz e Walter Pinto Costa Correspondência Revista Bio: Av. Beira Mar, 216, 13º andar – CEP 20021-060 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Tel: (21) 2277-3900 – Fax: (21) 2262-6838 Página na internet: www.abes-dn.org.br Assinaturas Departamento de Cadastro: Tel: (21) 2277-3909 Fax: (21) 2262-6838 Coordenação Geral/ABES: Maria Isabel Pulcherio Guimarães Coordenação Técnica: Clarice Arnt Produção e edição: RR Comunicação Ltda. Email da redação: [email protected]: Romildo Guerrante Reg. prof. 12.669/56/35 MTB/RJProjeto gráfico original: Maraca DesignDiagramação e atualização do projeto: Fino Traço Programação Visual Ltda.

A P A L A V R A D A P R E S I D E N T E

Revista Brasileira de Saneamento e Meio

AmbienteAno XVIII – nº 56

Julho/Setembro de 2010ISSN 0103-5134

Publicação trimestral da ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e

Ambiental, com tiragem de 6.000 mil exemplares

Cassilda Teixeira de CarvalhoPresidente Nacional da ABES

Realização

Patrocínio

ós vamos coordenar na ABES, em junho, o processo eleitoral que irá renovar as diretorias de 27 de suas seções esta-

duais. É a primeira vez que essas eleições abarcam todos os Estados da Federação, mais o Distrito Federal. É o desdobramento do trabalho que executamos em nossa primeira gestão, de reabrir seções que tinham sido fechadas, de reativar seções que, por qualquer razão, tivessem se desmobilizado.

Estamos trabalhando ombro a ombro com os presidentes das seções a fim de formularmos políticas comuns, de interesse do setor, falando em uníssono e agindo em conjunto para fortalecer a entidade em suas grandes ações políticas de defesa da universaliza-ção dos serviços de saneamento básico e do entorno tecnológico, econômico e social que isso implica.

Dentro desse projeto, vamos fazer em abril uma grande reunião de todos os presidentes com a

N

Harmonia no esforço

Diretoria Nacional e demais conselheiros, exatamente para afinar e dar instantaneidade às nossas ações. São ações como o Programa ABES de Atualização Profissional, que preparamos cuidadosamente, com auxílio de consultoria especial, para reforçar a forma-ção profissional nas bases onde se situam todas as nossas seções. Esse trabalho, ao final, há de reverter como investimento na melhoria da qualificação para o saneamento em todo o país.

Nossa capilaridade, essa presença maciça em todos os cantos do país, é muito de nossa força. Mas de nada adiantaria a capilaridade se as vozes fossem dissonantes, se não estivessem conectadas a um coro-lário de ideias representativas do setor. Este é o nosso trabalho, vamos fazê-lo com o sentido de missão.

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Ocaminho,aindalento,paraevitaradesordemambientaleurbana

PlanosMunicipaisdeSaneamentoBásico

tragédia que se aba-teu em janeiro sobre a Região Serrana flu-

minense expôs as feridas provoca-das pela falta de planejamento das prefeituras. O crescimento desor-denado em áreas de risco e a falta de infraestrutura adequada estão entre os principais fatores que agravaram ainda mais os nefastos efeitos das trombas d’água que atingiram as encostas íngremes de Friburgo, Teresópolis e Petrópolis.

Cenários como esses se repetem em várias regiões do país. À necessidade de um planeja-mento urbano que respeite o meio ambiente se soma a urgência de implantação do Plano Municipal de Saneamento Básico, previsto pela Lei 11.4445/2007 para estar con-cluído em dezembro de 2010, mas prorrogado até 2014. O plano, uma exigência da Lei do Saneamento, estabelece normas para a con-cessão do serviço de abastecimen-to de água, coleta e tratamento de esgotos, coleta e destinação do lixo. São diretrizes nacionais para o saneamento básico. O plano é também um instrumento para que os municípios se habilitem a receber recursos estaduais e fede-rais para a realização das obras necessárias no setor. Quem não os fizer, fica sem recursos.

A questão dos resíduos sóli-dos é uma das mais sérias a serem enfrentadas pelas administrações municipais. São volumes crescen-tes de lixo produzidos, encarecen-do cada vez mais a coleta, o trans-porte, o tratamento e a disposição final adequada. E como vivemos em uma sociedade de consumo, enquanto cresce o volume de resíduos, menos recursos têm as administrações públicas para encontrar as soluções.

Ao analisar questões como do abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, lixo e drena-gem, bem como a proliferação de vetores de transmissão de doenças potencializados pela falta destes serviços, um plano de saneamento básico tem como objetivo mudar a situação atual para um futuro melhor. O plano tem dois aspectos fundamentais: ser gerado através da participação popular, para que haja envolvimento e compromisso da coletividade, e a partir de uma competente abordagem técnica, desconhecida da população leiga.

Na maioria dos municípios, os serviços de saneamento - sobretu-do de água e esgoto - são repassa-dos a empresas, em grande parte estatais, por meio de antigos con-tratos de concessão. É uma forma de viabilizar a realização das obras

Celina Côrtes

A

P L A N E j A M E N T O A M B I E N T A L

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necessárias, em geral dificultadas pela falta de acesso dos municípios a recursos para investimentos nes-sa área. Por outro lado, a concessão privada desses serviços pode acar-retar acomodação dos gestores municipais, que acabam deixando nas mãos dos prestadores de ser-viço a definição de como, quando, onde e quanto investir.

Novo convênio Quem já saiu na frente na pre-

paração de planos de saneamento é a seção da ABES no Paraná, que acaba de fechar convênio com as secretarias estaduais de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná. O foco é a disseminação do conhecimento e a capacitação de técnicos municipais envolvidos na elaboração ou contratação dos planos. Essa disseminação, segun-do Edgard Faust Filho, presidente da ABES/PR, envolveu cerca de 12 mil técnicos de órgãos do estado e dos municípios que assistiram a palestras a distância do curso de Gestão Pública, oferecido pelo Governo do Estado em con-junto com o Instituto Federal de Educação do Paraná. “Na capaci-tação, serão dois técnicos de cada um dos 399 municípios do Paraná”, informa Faust Filho.

Ele diz que essa capacitação muda os critérios do planejamento municipal. “Ao capacitar os téc-nicos municipais, estamos modi-ficando o processo. É o município que deve identificar suas carências e definir as prioridades e a viabili-

dade das soluções, contando com o apoio de empresas, de consór-cios intermunicipais, dos estados e da União, promovendo a participa-ção e o controle social. Assim, com o entendimento, a colaboração e os compromissos transformados em planos de ação, teremos agi-lidade na elaboração de projetos e maior facilidade na definição de recursos”, acredita o presidente da ABES paranaense.

Faust Filho não acredita que a prorrogação do prazo para

execução dos planos possa influ-enciar na atávica falta de inicia-tiva dos prefeitos em executar os projetos. “Não entendo assim, temos que dar os primeiros pas-sos e com consistência. A primeira data estava fora da realidade dos municípios”, considera.

Ele lembra que também foram adiados os prazos para a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei Federal 12.305/10 e Decreto Federal 7.404/10. “Com o esforço aqui no Paraná da capaci-tação no início deste ano, esta-mos consolidando um caminho seguro que resultará nos planos e na construção de uma política de saneamento ambiental que inte-gre as ações de saúde, habitação, meio ambiente, recursos hídricos e saneamento. E que defina a inte-gração entre o estado e municípios, bem como o planejamento por bacias hidrográficas. Dessa forma serão fortalecidos os conselhos de meio ambiente, de recursos hídri-cos, das cidades e de saúde, além dos comitês de bacias e as agên-cias reguladoras”, avalia.

Em dois cursos já realizados, foram capacitados 73 técnicos. A previsão da ABES/PR em 2011 é oferecer mais oito cursos, cada um

com 80 alunos por turma. Faust Filho acredita que a dificuldade maior na implantação dos planos seja a obtenção de recursos finan-ceiros, seguida pela capacitação dos técnicos. “O convênio tem um custo aproximado de R$ 100 mil”, antecipa o presidente. Como a par-ticipação popular é crucial nesse processo, a ABES – Paraná desta-ca essa importância pela própria logomarca do projeto, simbolizado por mãos entrelaçadas. “O pro-grama estabelece a participação da comunidade em grupos de trabalho, seminários, audiências públicas e reuniões setoriais, entre outras atividades”, diz ele.

O convênio recém firmado pela ABES – Paraná tem o obje-tivo de estabelecer a colaboração recíproca entre as partes envolvi-das, e deixa claro que é preciso uma delicada costura para tudo funcionar a contento. “Entre as nossas obrigações específicas” –

diz – “estão o desenvolvimento do termo de referência a ser adotado pelos municípios do estado para a elaboração dos planos”.

Além de apresentar um pro-grama de treinamento para capa-citar os municípios a definirem políticas de saneamento básico, caberá à ABES – Paraná fazer a gestão administrativa de contratos e projetos de engenharia, obras e serviços. “A instituição também será responsável pela avalização e pelo processo de ensino e apren-dizagem com orientação à distân-cia”, completa Faust Filho.

No município de Viçosa (MG) o quadro deixa muito a desejar. Embora o plano tenha sido concluí-do em 2008, até hoje não foi votado pela Câmara Municipal. Para o então coordenador executivo do plano de Viçosa (MG), Aguinaldo Pacheco, secretário municipal de Obras de 2006 a 2008, o plano começou a ser elaborado no município em função de seus problemas na área do saneamento básico, sobretudo em relação ao lixo e à drenagem. Já a situação da água e esgoto alça

Viçosa a um patamar de IDH acima da média brasileira.

“Constatamos, não apenas através da opinião da população nas reuniões públicas, mas nestas últimas três ou quatro décadas, que apesar da condição topográ-fica muito desvantajosa de Viçosa, nunca se fez um planejamento e nem mesmo existe um órgão definido para cuidar da drenagem”, lamenta Pacheco. “Pelo contrário, a maioria das intervenções urbanas agride as encostas, os córregos e os talvegues, a ponto de sofrer-mos acidentes típicos da ocupação desordenada das encostas e dos vales, com deslizamentos, enchen-tes e até mortes”, descreveu.

O técnico de Viçosa acredita que o plano significa um instru-mento essencial de captação de recursos de outras instituições e órgãos de governo. “Sem ele não há financiamento possível, espe-cialmente os não reembolsáveis, dos quais o nosso município neces-sita tanto, pois nossos problemas, por nós mesmos criados, são maio-res que os recursos que os nossos imposto geram”, contabiliza.

No município mineiro, a equipe da Universidade federal de Viçosa constituiu o Grupo Executor, que coletou as informações e as organi-zou em relatórios. Acima desta equi-pe estava o grupo Coordenador Executivo, formado pela prefeitura, serviço municipal de água e esgoto e Funasa, que analisou e criticou os relatórios. A última palavra coube ao Conselho Consultivo do plano, que também analisou e sugeriu diretrizes, já que ele representa a sociedade organizada. Depois

P L A N E j A M E N T O A M B I E N T A L

Edgar Faust Filho

Agnaldo Pacheco

Os planos são instrumentos essenciais de captação de

recursos

“ “É o município

que deve identificar

suas carências e definir as

prioridades e a viabilidade das soluções

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das análises, os relatórios foram submetidos a uma Assembléia de Delegados dos Bairros, eleitos dire-tamente em cada reunião pública, para aprovação do texto final. Até agora, entretanto, todo esse tra-balho foi em vão, porque o texto sequer chegou à Câmara para ser votado como uma proposta de Lei do Executivo.

Outra cidade de Minas Gerais que não consegue resolver questões fundamentais de seu plano, tais como o destino final para o lixo, é São Lourenço, no chamado Circuito das Águas. São cerca de 57km² de área, totalmente urbanizada, ainda sem um terreno viável para licen-ciamento ambiental onde possa ser construído um aterro sanitário. Em fevereiro de 2009, o município liderou a criação do Consórcio Intermunicipal de Aterro Sanitário Regional. Quatorze municípios assi-naram um protocolo de intenções para participar do consórcio.

De julho de 2010 a janeiro de 2011, a diretoria do consórcio e seu corpo técnico criaram um edital de licitação para contratar a tecno-logia de destinação dos resíduos da região. O edital deixa claro que qualquer tecnologia poderá par-ticipar da concorrência, desde que esteja licenciada e funcione em ao menos um dos estados brasileiros - mesmo que este funcionamento seja piloto. É considerado funda-mental pelo consórcio que a tecno-logia atenda a todas as exigências legais nacionais e estaduais quanto à emissão de poluentes e destinação correta dos resíduos. De acordo com o cronograma, o edital deverá ser publicado ainda no primeiro semes-

tre deste ano, o que permitirá a reali-zação da concorrência pública.

Enquanto isso, porém, as dificuldades do lixão de São Lourenço continuam de vento em popa. Após 20 anos de destinação em um local totalmente inadequa-do, o talude de resíduos tornou-se um risco ambiental. A dramática situação levou os órgãos ambi-entais do estado a autorizarem o desvio de um córrego que cor-ria ao lado do lixão, já totalmente

impactado. O desvio permitiu a adequação do lixão aos quesitos de segurança, ainda que o córrego chegasse límpido ao seu destino. Com isso, houve diminuição do risco de um acidente ambiental . A questão, entretanto, ainda aguarda uma solução urgente e definitiva.

Em Iguatu, no Ceará, o quadro é igualmente precário, embora a cidade seja um dos cinco municípios do estado que já começou a elabo-rar o trabalho exigido pela Lei do Saneamento. Em janeiro deste ano foi realizada uma audiência pública para discutir o plano. Mas há muito

Pedra Grande será o próximo município a ser visitado pela equipe da Caern, para que o trabalho seja apresentado em audiência públi-ca. A engenheira Juliana Delgado Tinôco, coordenadora técnica da equipe de elaboração dos planos, e a assessora da Caern Leda Donato informam que já estão concluídos os planos de Lagoa Nova, Jaçanã e Lucrécia. Os três estão em fase de avaliação pelo presidente da comissão, o engenheiro Marcos Rocha. Leda adianta que até julho mais de 10 municípios terão o tra-balho concluído. Em setembro, mais 23 serão beneficiados.

“Vamos iniciar o disgnóstico téc-nico dos municípios de Carnaubias, Baraúna, Canguaretama, Cerro Corá

Um estado que se organi-za na implantação dos planos municipais de saneamento é o Rio Grande do Norte, cuja Companhia de Águas e Esgotos (Caern) asses-sora 76 municípios na elaboração de seus respectivos planos. Entre eles, 42 já iniciaram e estão em processo adiantado na confecção do documento. Cinco já con-cluíram e aprovaram o plano em audiência pública. O município de Galinhos, na região salineira, a 170km de Natal, foi o primeiro, entre os 154 municípios atendi-dos pela Caern a implantar o pla-no. São Miguel do Gostoso, São Tomé e Baia Formosa aprovaram o documento em audiência pública e o encaminharam às respectivas câmaras municipais para aprecia-ção e aprovação.

Galinhos na liderança do Nordeste

e Campo Grande. Até o momento, a Caern já recebeu 77 solicita-ções de prefeituras para auxílio na elaboração dos planos”, explica Juliana Tinôco. “A tendência é que esse número se eleve a cada dia. Destes municípios, 70 já estão com os trabalhos iniciados. Além de Galinhos, três já têm seus planos relativos a água e esgoto aprova-dos na Câmara Municipal: São Miguel do Gostoso, Baía Formosa e São Tome”, completa.

O plano municipal de sanea-mento garante as condições para que seja assinado, entre a Caern e os municípios, o contrato exigido pela legislação para a concessão do serviço de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos.

por fazer: são menos de 10% de rede de coleta de esgotos e o abasteci-mento de água não atende a todas as localidades. O Rio Jaguaribe e o Açude Orós recebem, diariamente, toneladas de águas fétidas oriundas da cidade e de outros centros urba-nos da Bacia do Alto Jaguaribe. “A elaboração do plano de saneamento básico é um projeto de fundamental importância e que merece urgên-cia em sua implantação”, acredita a secretária de Meio Ambiente de Iguatu, Socorro Feitosa.

O engenheiro Iran Lima, da empresa Ducto Engenharia, fez a apresentação do plano durante a audiência pública, com diagnóstico da realidade atual e propostas de ações a serem implantadas. “Há metas a serem atingidas em prazos diversos, sugestão de obras, programas educa-tivos e avaliação do plano”, explicou. “Depois de debatido em audiên-cia pública será encaminhado para aprovação na Câmara Municipal”.

Já a remota cidade de Biguaçu, em Santa Catarina, é outra que se prepara para desenvolver seu pla-no. Também no início deste ano o prefeito José Castelo Deschamps assinou contrato para a elaboração do plano com a empresa Sanetal, vencedora da licitação promovida pelo município. O grupo executivo composto por representantes de diversos órgãos públicos e repre-sentativos da comunidade comple-mentará o gerenciamento do pro-cesso até a conclusão de sua versão preliminar. O documento será submetido às audiências públicas locais, que discutirão seu conteúdo e receberão propostas da popula-ção para o seu aprimoramento.

Leda Donato

Juliana Tinôco

Qualquer tecnologia

pode ser aceita na destinação

do lixo

“ “

P L A N E j A M E N T O A M B I E N T A L

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Processos de escolha elegem a qualificação e afastam ingerências políticas

Gerentesporcompetência

scolher os melho-res gerentes entre os empregados é um desa-

fio e tanto para qualquer com-panhia. Conquistar um cargo de gestão na empresa em que traba-lha é o sonho de muito funcionário. E, para conciliar as necessidads de empresas e trabalhadores, algumas corporações instituíram proces-sos internos com regras técnicas e claras, oferecendo oportunidades de acesso a empregados com potencial de liderança.

É o caso da Copasa, a compa-nhia de saneamento do Estado de Minas Gerais. que mantém um processo seletivo interno para cargos de confiança. Adotado em 2003, escolhe, duas vezes por ano, seus novos gestores em todos os níveis hierárquicos, exceto presi-dente, diretores e alguns outros cargos estratégicos. Os gerentes que completam seis anos na fun-ção também participam, caso tenham interesse em continuar. No ano passado, 111 empregados inscreveram-se: foram seleciona-

Gloria Castro

E

R E C U R S O S h U M A N O S

dos 19 novos gerentes, com recon-dução de 16 aos seus cargos.

Se ainda não mantém, como a Copasa, um processo sistemático de seleção interna para cargos gerenciais, valendo-se do tradicio-nal modelo de indicação baseada em critérios técnicos, por com-petências e relacionamento, a Sabesp, companhia de saneamen-to do governo paulista, investe na preparação de futuros líderes com o Programa de Preparação de Sucessores Sabesp. São 120 os pro-fissionais selecionados.

Das três maiores companhias de saneamento do Brasil, só a Sanepar não quis se manifestar sobre o tema de profissionaliza-ção de chefias. Alegou que o pro-fesso de mudança para uma nova administração ainda está em curso.

Pioneirismo mineiro

Em Minas, o que começou como uma indicação de que os cargos de confiança fossem ocu-pados por funcionários escolhidos

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participa ativamente nas revisões do processo, bem como do pro-cesso seletivo em si e estímulo ao autodesenvolvimento e ao auto-gerenciamento de carreira.”

Outros indicativos do acerto em adotar o sistema, indicados pela superintendente de RH da Copasa, são o tempo de existência e consolidação do processo seleti-vo; o grande número de inscrições e de vagas preenchidas, o pequeno número de exonerações, o tempo médio de permanência na gerên-cia; e as informações qualitativas levantadas em pesquisas internas com empregados.

Competitividade interna

Mas se passar pelo processo de seleção é um desafio, perma-necer em um cargo gerencial é uma conquista diária. Depois de designado pela presidência, é garantido ao gerente selecionado,

“preferencialmente” por processo seletivo interno, aprimorou-se ao longo do tempo e, hoje, é exigên-cia prevista no Plano de Carreiras, Cargos e Salários, e seu regulamen-to fica disponível na intranet para consulta de todos os empregados. A transparência é fundamental: o cronograma das cinco etapas (análise de requisitos, curricular, avaliação de texto dissertativo, de perfil e apresentação à diretoria executiva) e os resultados também são publicados na rede interna de computadores da companhia..

A superintendente de Recursos Humanos da Copasa, Lúcia Maria Aguiar Garcia, diz que, além de propiciar ao empregados com perfil de liderança o acesso democrático à carreira gerencial, “a companhia pretendia alcançar uma gestão mais profissional, transparente e com melhores resultados.” E levanta uma questão importante em se tratando de empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política Urbana do Governo do Estado de Minas Gerais: “O processo também contribui para minimizar ingerências políticas.”

Lúcia aponta importantes benefícios para a empresa com a adoção do processo seletivo: “Maior transparência nos crité-rios de seleção dos ocupantes de cargos de confiança e profissio-nalização da gestão; renovação e fortalecimento do quadro ger-encial; ampliação das oportuni-dades de crescimento e conse-qüente aumento da motivação dos empregados; maior alinhamento do corpo gerencial com a estra-tégia da empresa (a alta direção

salvo em caso de falta disciplinar, a permanência por período mínimo de quatro meses, de maneira a permitir sua avaliação pelo Índice de Desempenho Gerencial (IDG). Após este tempo, o gerente pode ser exonerado, com base em pro-posta de exoneração fundamen-tada, apresentada pelo seu diretor.

O gerente pode se manter no cargo/unidade por no máximo seis anos. Após esse período, a vaga é automaticamente aberta e, caso deseje continuar na gerên-cia da mesma unidade, deverá se candidatar a novo processo sele-tivo e alcançar pontuação que lhe garanta ser aprovado em classifi-cação que lhe permita escolher a própria unidade. Todos os critérios e etapas do processo estão descri-tos em regulamento próprio, dis-ponível aos empregados

Com ações negociadas no Novo Mercado, segmento máxi-mo de governança corporativa da BM&F Bovespa, a Copasa tem como presidente, desde 2009, um funcionário de carreira: Ricardo Augusto Simões Campos, enge-

15 mil empregados, é um desafio constante administrar o modelo de gestão descentralizada adotado pela empresa. É preciso traçar objetivos e

prioridades, alavancar investimen-tos tendo sempre a visão de futuro. Para a preparação da futura geração de líderes foi lançado o Programa de

Preparação de Sucessores Sabesp”, diz Walter Sigollo.

A empresa sabe que formar sucessores não é uma ação que acontece do dia para a noite. Segundo Walter, há percepção generalizada de que faltam líderes em quantidade e qualidade sufici-entes para executar e sustentar as estratégias e aproveitar as opor-tunidades de negócios. Mas, para ele, a solução não passa simples-mente por incentivar a partici-pação nos inúmeros cursos ofer-ecidos no mercado. “O desafio é conciliar o desenvolvimento dos líderes com o dia a dia da orga-nização, trazendo para a empresa fundamentos aplicáveis à sua reali-dade. Portanto, nossa principal intenção com um programa espe-cificamente concebido é a de for-mar futuras lideranças de maneira alinhada com as melhores práticas empresariais para que sejam agen-tes da construção do futuro da Sabesp”, conclui.

Capacitação de sucessores

O Programa de Preparação de Sucessores da Sabesp tem como objetivo a formação de um banco de profissionais com perfil e poten-cial compatíveis com a gestão do negócio, de maneira a prover uma fonte interna de substituição de posições gerenciais, principal-mente em decorrência de aposen-tadoria dos atuais gerentes.

Os profissionais que estão sen-do treinados para assumir futura-mente posições de liderança na empresa foram selecionados num processo com três etapas: elimi-

nheiro civil com especialização em Engenharia Sanitária, que ingres-sou na companhia em 1977.

Lúcia Garcia destaca que o processo seletivo interno para cargos de confiança, “além de contribuir para a profissionaliza-ção da gestão da empresa, está alinhado aos princípios da gover-nança corporativa, que exigem transparência na gestão e igual-dade de oportunidades, entre outros”, resume.

Considerado inédito nas empre-sas públicas, o Processo Seletivo Interno para Cargos de Confiança da Copasa recebeu, em 2007, o Prêmio Ser Humano, da ABRH/MG - Associação Brasileira de Recursos Humanos de Minas Gerais.

Trajetória paulista

Na Sabesp, o superintendente de RH e Qualidade - e responsáv-el pelo Programa de Sucessão e Carreira -, Walter Sigollo, lembra que no passado, a formação de gerentes “se dava informalmente nas experiências do cotidiano e por meio de cursos de aperfeiçoamen-to relacionados à administração empresarial, considerando que a formação obtida nos cursos de gra-duação, como engenharia, quími-ca, entre outras, não lhes garantia a fundamentação necessária para o exercício da função gerencial.”

Hoje, a realidade empresarial se alterou radicalmente, e a Sabesp, assim como outras empresas, enfrenta desafios de grande com-plexidade. “Por isto, foi necessário adotar, na gestão de pessoas, práti-cas alinhadas ao mercado. Com

Lúcia Maria Aguiar Garcia

Walter Sigollo

Ricardo Augusto Simões Campos

A gestão de pessoas

exige práticas alinhadas ao

mercado

“ “R E C U R S O S h U M A N O S

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16 Jan/Mar - 2011 17

R E G I S T R O

EDUARDOjORDãO

Manoel Senra e sua filha Alessandra talvez sejam os melho-res engenheiros operadores de estações de tratamento de esgo-tos no Brasil. Pois não é que esses dois mineiros projetaram para a Copasa uma ETE inteira-mente montada sobre chassi de

Não é só o “pessoal da água” que pode se gabar de estar apli-cando bem o conceito de eficiência energética nos sistemas de adução e distribuição de água. A “turma dos esgotos” decidiu não ficar atrás, e anuncia, através da Câmara Temática de Tratamento de Esgotos, a realização, em 1º e 2 de junho, no Rio de Janeiro, do Seminário Internacional sobre Sustentabilidade em Estações de Tratamento de Esgotos. Ponto para Américo Sampaio, coordena-dor da Câmara Temática, e para Ernani Costa, presidente da ABES/Rio, que organizam o evento.

Destinado a ser um encontro de alto nível, o seminário deverá trazer ao Brasil especialistas norte-americanos e alemães, que deverão apresentar e discutir tópicos como a redução da emissão de gases de efeito estufa nas ETEs, tecnologias para redução do volume de lodo, uso do biogás para geração de energia elétrica e térmica, o próprio aumento da geração de biogás nos digestores – visando neste caso maior geração de energia. Alguns exemplos de ETEs operando com sucesso devem ser igualmente apresentados.

O seminário se realiza no Hotel Marriot, na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, 1 e 2 de junho. Marta Bonan, secretária da ABES-Rio, poderá prestar informações detalhadas: 21-22623602, [email protected]

São incontáveis os engenheiros que estudaram e os que consultam no livro clássico de Milton Tsutiya e Pedro Alem Sobrinho, Coleta e Transporte de Esgoto Sanitário. Pois uma terceira edição acaba de ser lançada, agora pelo Fundo Editorial da ABES, depois de algu-mas reimpressões da edição ante-rior, que era ainda do ano 2000.

Falando em Fundo Editorial, seu Conselho Editorial está for-mado, pronto para avaliar e pro-por novas publicações: Eduardo Jordão, Cleverson Andreoli, Jurandyr Povinelli, Manoel Senra, e Suetonio Mota. Representam todas as regiões do país, e aliam a experiência profissional à atividade acadêmica.

ETEsobrecaminhão

Eficiênciaenergéticanosesgotos

Umanovaedição

Eduardo Pacheco Jordão é enge-nheiro, consultor, e pesquisador visi-tante emérito da UFRJ

caminhão? Completa, com grade, desarenador, calha Parshall, reator UASB, com todas as interligações controladas, com retiradas de amostras em todas as unidades, um primor de estação!

Podendo atender 5 mil pes-soas, o caminhão se desloca até o loteamento, condomínio ou fábrica, deixando no local o chas-sis com a “ETE móvel”, enquanto obras ou intervenções na estação definitiva não são concluídas.

Já são duas as ETEs operan-do sobre caminhão. Não é um grande negócio?

Suami Cruz Leão, de 37 anos é, desde maio de 2010, gerente da Divisão de Programação Financeira da Copasa. Chegou lá depois de 17 anos de companhia e de ser aprovada pelo Processo Seletivo Interno para Cargos de Confiança. “O processo traz questões muito objetivas e diz claramente o que busca. Ser selecionada é fruto de um esforço pessoal grande, mas também de um incentivo da empresa. Eu acredito no trabalho, na missão da Copasa, que investiu na minha formação, no meu aper-feiçoamento, na sedimentação do conhecimento adquirido. É uma realização enorme, um estímulo à superação. Me sinto hoje capaz de ultrapassar qualquer limitação e responsável por me capacitar cada vez mais, sintetiza Suami.

Suami, a carreira sem limites

natória (idade, tempo de carreira universitária e nível na carreira), apreensão de conteúdo e ava-liação de perfil e de potencial. O grupo selecionado para integrar o programa é composto, majoritari-amente, por analistas, advogados e engenheiros.

Durante seis anos o grupo par-ticipará de diversas atividades de capacitação e desenvolvimento. Na primeira etapa, iniciada em setembro de 2010, o destaque é o curso de MBA Gestão Empresarial Sabesp, realizado em parceria

com a FIA - Fundação Instituto de Administração e com um programa personalizado para o negócio Sabesp. Nessa fase, também estão previstas atividades de treinamen-to; avaliação 360° (análise sistemáti-ca do desempenho do profissional em função das atividades que realiza, das metas estabelecidas, dos resultados alcançados e do seu potencial de desenvolvimento) e cursos de idiomas. Na segunda fase, serão oferecidas oportunidades de aperfeiçoamento individualizado, com programas de educação con-

tinuada e capacitação nacional e internacional nas questões priori-tárias de negócio.

Walter Sigollo resume a importância do tema na Sabesp: “A liderança sempre foi um dos prin-cipais desafios das grande orga-nizações. Formá-la de acordo com um perfil característico do negócio no qual ela irá atuar é um projeto crítico, principalmente para as empresas que vivem em ambi-entes de mudança constantes e voltados para a inovação.”

Ela entrou na Copasa em 1994, como auxiliar administrativo. Formada em Letras, foi ser secre-tária do Distrito Operacional do Centro, encarregada de custos, de RH e secretária do setor de audito-ria interna. Nesse período já estu-dava Direito, vindo a formar-se em 1997. Passou por vários departa-mentos, como a Superintendência de RH e o Departamento Jurídico. Em 2006 foi ser secretária da dire-toria até 2010.

Foi como secretária da direto-ria que Suami participou de um programa de trainee durante 20 semanas de dedicação exclusiva. Conheceu os processos de várias áreas estratégicas e ganhou uma visão sistêmica da companhia. Para concorrer, teve seu currículo aprovado e disputou cerca de 14

vagas com 65 candidatos. Ao final da preparação, foi a primeira colo-cada e, além de concorrer para se tornar gerente, decidiu cursar um MBA em Gestão Estratégica de Negócios. O céu é o limite.

R E C U R S O S h U M A N O S

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18 Jan/Mar - 2011 19

2 6 º C O N G R E S S O

Um megaevento para o setor de saneamento ambiental

CongressodePortoAlegre

programação do 26º. Congresso da ABES, que será reali-

zado em Porto Alegre de 25 a 28 desetembro, vai reafirmar o suces-so do Campeonato de Operadores, que atraiu a atenção dos congres-sistas no evento anterior, promo-vido em Recife em 2009. As com-panhias e serviços de saneamento em todo o país já estão promo-vendo campeonatos internos para escolher seus representantes ao evento. No Rio Grande do Sul, sede do Congresso, a Corsan, empresa de saneamento do estado, fez sua seleção interna no final do ano passado, e vai mandar seus melho-res operadores para a competição.

A

Outro ponto da programa-ção que está sendo organizada, e que deve chamar a atenção dos quase 6 mil participantes espe-rados na capital gaúcha, é o 1º. Encontro dos Jovens Profissionais do Saneamento Ambiental. Dois encontros preparatários com jovens que buscam inserção no mercado profissioral foram realiza-dos, com sucesso, em Porto Alegre e em Belo Horizonte, mobiliza-dos pelas seções locais da ABES. O Congresso será realizado no Centro de Convenções da Fiergs – Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, na capital gaúcha.

Além dé muitas palestras, mesas redondas, workshops e outros encontros para discutir a integralidade do setor de sanea-

Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul e sede do 26º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, foi fundada em 1772 por açorianos. Nos séculos seguintes de sua colonização, recebeu imigrantes alemães, italianos, espanhóis, africanos, poloneses e libaneses, principal-mente. É uma terra de renomados políticos, grandes escritores, intelec-tuais e artistas.

É a principal porta de entrada de turistas no estado, que têm como segundo destino a famosa Serra Gaúcha, a menos de 120km da capi-tal, onde estão instaladas as melhores vinícolas do Brasil. Tem cerca de 1 milhão 500 mil habitantes, 100% abastecidos com água tratada.

Porto Alegre, a capital do saneamentoCRISTINE ROCHOL/PMPA

Campeonato de operadores: prévia de uma das atrações de setembro

FOTOS DE ALBERTO JACOBSEN

Cassilda e Nancy com o presidente da Corsan, Arnaldo Dutra Primeiro encontro do programa Jovens Profissionais, realizado pela ABES/RS

mento, o Congresso terá participa-ção ativa de sanitaristas da América Latina, graças à proximidade da capital gaúcha com os países do Cone Sul. Sobre essa participação, a presidente da ABES/RS,Nancy Giugno, disse que, a partir desse evento, o Rio Grande do Sul “pas-sará a ocupar um lugar estratégico no desenvolvimento de agendas com os países da América Latina”.

Grandes eventos paralelos terão lugar durante o Congresso. Já está acertada, por exemplo, a reunião do Fórum Nacional de Bacias Hidrográficas. Da mesma forma, lá será feita a reunião pre-paratória do Rio+20, evento que antecipa a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, programada para o

ano seguinte no Rio de Janeiro.O interesse pelo Congresso

aumentou muito neste início de ano. Por isso, a presidente da ABES, Cassilda Teixeira de Carvalho, acer-tou com a Fiergs a ampliação de 6 mil para 8 mil metros quadrados a área de realização da grande feira de produtos e serviços de sanea-mento, a Fitabes, que ocorre tradi-cionalmente a cada dois anos jun-to com o Congresso. Cassilda disse que a ABES está “abrindo caminho para um grande Congresso”.

Para o final do primeiro trimestre deste ano, está prevista a dos melho-res entre os 2.600 trabalhos técnicos cujos resumos foram encaminhados à comissão organizadora. Os escolhi-dos para figurar nos anais devem ser anunciados em abril. (RG)

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20 Jan/Mar - 2011 21

A controvérsia do lançamento no mar de esgotos sem tratamento

Emissáriossubmarinos

missários submarinos já foram considera-dos a melhor solução, quase mágica, para o destino final dos esgotos domésticos gera-

dos nas grandes cidades costeiras. No mundo todo existem mais de 200 deles registrados, mas o número pode ser maior, na casa dos milhares. Hoje, no entan-to, são considerados ultrapassados por agredirem o meio ambiente, e estão sendo desativados em alguns países.

No Brasil, a construção de emissários sempre esteve cercada de polêmica. O primeiro deles, em Ipanema, no Rio, até hoje é contestado por biólogos marinhos, oceanógrafos e ambientalistas, mas é defendido por engenheiros sanitaristas e também pelo poder público. No centro da discussão, uma dúvida: a obra polui ou não polui as praias da Zona Sul carioca?

Em 2005, a Resolução 375 do Conama - Conselho Nacional de Meio Ambiente regulou a matéria, proibin-do o lançamento de esgotos no mar sem tratamento prévio. A partir daí, as empresas de saneamento foram ajustando seus projetos, na Barra da Tijuca, no Rio, na Baixada Santista, em São Paulo, em Salvador, na Bahia, acoplando estações de tratamento a seus emissários.

Mas, no emissário submarino de Ipanema, cons-truído bem antes da existência do Conama. a situação não se alterou. Há 35 anos ele continua despejando, a quatro quilômetros de uma das praias mais famosas do Brasil e do mundo, mais de 6 mil litros de esgoto por segundo. Sem tratamento.

Victor Passos

E

E S G O T O S

CUSTóDIO COIMBRA/AGêNCIA O GLOBO

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22 Jan/Mar - 2011 23

E S G O T O S

Tratar ou não tratar os esgotos?

Em agosto do ano passado, o biólogo marinho Ricardo Zaluar divulgou na internet um vídeo denunciando a poluição das praias da Zona Sul do Rio pelo Emissário Submarino de Ipanema. A tubu-lação, afirma, joga no mar “uma torrente imunda de esgotos sem qualquer tratamento. São 8 mil litros por segundo lançados entre a praia e o Monumento Natural das Ilhas Cagarras”.

“Nesse processo – prossegue Zaluar – se veem incríveis fenômenos biológicos: cardumes de preservati-vos, manadas de absorventes, turbi-lhões de cotonetes”, além da podero-sa carga de matéria orgânica. Na Zona Sul, tudo o que se joga no vaso sani-tário vai dar na praia, dependendo do vento e das correntes marítimas.

O resultado, segundo ele, “é uma área sem vida de 20 km² ao redor da boca do emissário. São 11 mil toneladas de porcaria assenta-das no fundo, que o mar não con-segue processar”. Outro resultado apontado por Zaluar é a contami-nação do pescado por bactérias que pedem causar doenças.

O biólogo reconhece que a obra do emissário tem seus méri-tos e sabe que, antes dela, os esgo-tos da Zonal Sul carioca eram joga-dos in natura no costão do Pão de

Açúcar e no Vidigal, dentro da zona de balneabilidade. “No entanto, diz ele, “lançar esgoto no mar sem qualquer tratamento, mesmo que longe das praias, é um absurdo”.

“Além dos efeitos nocivos para a saúde do banhista, há que se preocupar com a saúde do mar também. O mar não é estação de tratamento de esgoto”, diz a ocea-nógrafa Giselle Firme. “O emissário submarino desloca a poluição para um lugar onde nós não podemos ver o efeito que ela causa”.

O professor Rodolfo Paranhos, do Departamento de Biologia Marinha da UFRJ, também questio-

na o uso do mar para tratar esgotos. “Um engenheiro sanitarista sempre acha que o mar vai dar conta de todo o esgoto” – diz ele. “O mar real-mente pode ter uma enorme capaci-dade de diluir e degradar os esgotos, mas, se este limite é ultrapassado, a degradação ambiental é inevitável”.

Já o fotógrafo submarino Carlos Secchin reclama da des-carga enorme de esgoto in natura no mar de Ipanema. “No vai-e-vem da maré, dependendo da direção do vento, esses dejetos retornam às areias das mais famosas praias do Brasil, contaminando-as com agentes patogênicos”.

O emissário de Ipanema foi o primeiro projetado no Brasil. A execução da obra se deu entre agosto de 1973 e junho de 1975. Construído para dar um destino final adequado a todo o esgoto produzido na Zona Sul do Rio de Janeiro, tem 4.775 m de com-primento, diâmetro de 2,4 metros, profundidade de 27m e com uma vazão de projeto igual a 12 mil litros por segundo.

Desde sua conclusão a obra suscita controvérsias. A principal delas diz respeito à ausência de uma estação para tratar o esgoto antes de lançá-lo ao mar. A Cedae - Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro diz que o projeto do emissário submarino não previa a construção de uma estação de tratamento.

Mas, em 1975, ao defender sua construção, o engenheiro Emílio Ibrahim afirmava que “o projeto não descurou do efeito que as gor-duras oferecem à ação dispersiva do mar, tanto assim que contem-plou a instalação de uma estação de condicionamento prévio, a ser

montada no Cantagalo”. Na época, achava estranho que sem base técnica ou científica se opusessem restrições ao desempenho opera-cional de uma obra “que teve o seu projeto calcado em estudos e pes-quisas realizadas por técnicos de reputação internacional”.

Sempre presente no esgoto doméstico, a concentração de gor-dura pode chegar a 70 mg por litro. Parece muito pouco, mas, se levar-mos em consideração que a vazão

do emissário é – informa a Cedae – de 6 mil litros por segundo, no fim de um dia, de uma semana ou de um mês a quantidade é enorme.

A gordura resiste à ação bacte-ricida do mar e protege por perío-dos de até 100 dias os vírus de doenças como hepatite A, polio-mielite e outras. Dependendo da ação dos ventos e das correntes marítimas, essa carga perigosa pode chegar às praias e contami-nar banhistas.

Gordura, a grande inimiga das águas

Emílio Ibrahim

Ricardo Zaluar

EURICO DANTAS/AGêNCIA O GLOBO

Há mais de 20 anos Salvador dispõe de um emissário subma-rino que atende às exigências da legislação ambiental do país, isto é, com tratamento do esgoto antes

do lançamento no mar. A Estação de Condicionamento Prévio do Emissário do Rio Vermelho trata 8,3 mil litros de efluentes por segundo e os encaminha para dispersão no

oceano, a 2,35 Km da costa e a uma profundidade de 27 metros.

Até aí tudo bem. Os proble-mas começaram quando a Embasa decidiu construir outro emissário

Salvador cuida do mar

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O esgoto da Barra da Tijuca, no Rio, recebe trata-mento primário antes de ser lançado no mar pelo emissário submarino local. Tudo como manda o figurino. Mas nem sempre foi assim. A estação de tratamento só foi inaugurada em 2009, quando o emissário, em funcionamento desde 2007, já havia despejado no mar mais de 70 bilhões de litros de dejetos a cinco quilômetros da costa.

Esse volume de rejeitos domésticos foi retirado das lagoas da região – Jacarepaguá, Tijuca, Camorim e Marapendi. Esse ecossistema já estaria recuperado

Na Barra, com tratamento primário

E S G O T O S

se a obra tivesse sido realizada no início da década de 80, quando o primeiro projeto foi apresentado, mas a população rejeitou a ideia do emissário sem estação de tratamento prévio.

Argumentam os defensores do emissário sem tratamento que, devido à polêmica com os ambiental-istas no final dos anos 80, que resultou na paralisação das obras do emissário, o Rio passou 20 anos jogando os esgotos nas lagoas, que estão praticamente mor-tas, em vez de fazer a disposição submarina pelo emissário, longe das praias.

Em Natal, a intenção da Caern - Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte era construir um emissário submarino em Ponta Negra para escoar os esgotos da Zona Sul da capital potiguar, mas enfrentou forte resistência da população. No fim do ano passado, após pressões

da sociedade e do Ministério Público, a companhia anunciou um projeto alternativo, substituindo o emissário por uma estação de tratamento de esgotos com tratamento terciário.

Em 2008, após meses de dis-cussões e divergências a respeito da obra e diante da possibilidade

de os impasses retardarem ainda mais a sua construção, a Caern chegou a acrescentar ao projeto do emissário uma estação de trata-mento de esgotos. A resistência não diminuiu, o que levou a com-panhia a apresentar a nova propos-ta, que desta vez foi bem recebida.

Projeto de Natal ficou dentro da lei

WILLIAM DE MOURA/AGêNCIA GLOBO

na Praia dos Artistas, na Boca do Rio. Ambientalistas se manifesta-ram contrários e mobilizaram os moradores, fazendo com que a obra, que deveria ter começado em

2008, tivesse o projeto revisado.Segundo a Embasa, a exemplo do

Rio Vermelho, o esgoto do emissário da Boca do Rio terá tratamento prévio para retirar sólidos, areia e gordura. O

conjunto estação/emissário, que está em fase de conclusão, vai processar 3 mil litros por segundo. Numa segun-da fase, essa capacidade subirá para 5.9 mil litros por segundo.

Em 2006, um estudo sobre o efeito do emissário subma-rino na Baía de Santos, em São Paulo, constatou que o emissário estava efetivamente afetando a qualidade da água, a ecologia e a economia local. O estudo foi realizado por pesquisadores da USP - Universidade de São Paulo, em colaboração com cientistas do U.S. Geological Survey,

Dois anos depois, o Instituto Oceanográfico da universidade revelou que a poluição era tan-ta dentro da baía que eliminava qualquer vida animal no fundo do mar. Segundo o instituto, o culpado pela zona morta não foi difícil de encontrar: o emissário submarino, construído em 1979 para despachar o esgoto doméstico gerado pela Baixada Santista. Sete mil litros por segundo sem qualquer tratamento.

Diante desse quadro, a Sabesp reagiu e, em 2008, anunciou o Programa Onda Limpa. Segundo a

companhia, trata-se do maior pro-jeto de recuperação ambiental do litoral brasileiro. O investimento

é de R$ 1,9 bilhão, sendo R$ 1,4 bilhão só na Baixada Santista, para garantir o afastamento e o trata-mento de esgotos.

Na Baixada Santista, o pro-grama amplia de 53% para 95% o índice de coleta de esgoto e tratará 100% do coletado. Serão benefi-ciadas 3 milhões de pessoas, entre população fixa e flutuante, das cidades de Santos, São Vicente, Praia Grande, Guarujá, Itanhaém, Peruíbe, Mongaguá, Cubatão e Bertioga.

“A previsão de conclusão das obras é dezembro deste ano, mas boa parte delas, como as estações de tratamento de esgoto e esta-ções de pré-condicionamento, já começaram a funcionar no início de 2010”, informou a Sabesp.

No entanto, para a biogeo-química marinha Alessandra Larissa Fonseca, o tratamento primário causa alterações químicas, biológi-cas e físicas onde é despejado, causando a chamada “zona morta”. “Na Baixada Santista, algumas espé-cies são diretamente afetadas pela mudança no hábitat, as tainhas, por exemplo, já não entram na baía”.

Onda Limpa clareia o mar de Santos

Emissário da Barra em teste

Na Baixada Santista, todos osesgotos

que forem coletados

serão tratados

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26 Jan/Mar - 2011 27

Em 2008, o governo da Flórida proibiu a construção de novos emissários e ampliações nos já exis-tentes no sul do estado, devido ao impacto de nutrientes sobre a vida marinha e diante da necessidade de reaproveitar a água numa região densamente povoada. Os seis exis-tentes no sul têm até 2018 para redu-zir os nutrientes lançados, devendo ser totalmente desativados até 2025.

Há 16 anos, Nova Iorque, a maior cidade americana, comemorou um feito histórico. Conseguiu redu-zir a zero a quantidade de esgoto não tratado que despeja em torno da ilha de Manhattan, o coração da cidade. Iniciativas semelhantes aconteceram em cidades como São Francisco e San Diego, na Califórnia.

Mas, o melhor exemplo de trata-mento, segundo o jornalista ameri-cano Jeffrey Hoff, vem da cidade de Los Angeles, onde o esgoto recebe

tratamento terciário tão eficiente que, em vez de ir para o mar, é joga-do diretamente no lençol freático para que volte a ser consumido.

Emissários submarinos são con-siderados em boa parte do mundo um modelo ultrapassado e compro-vadamente agressor ao meio ambi-ente. O primeiro emissário do mun-do foi construído em 1910 em Santa Mônica, na Califórnia. O maior deles também está nos Estados Unidos, em Boston. Tem 13,2 km de exten-são, diametro de 7,32 m, profundi-dade de 38,5 m e vazão de projeto de 54.760 litros por segundo.

Mas a legislação americana obriga que todos os emissários das grandes cidades tenham tratamento secundário ou pro-cesso equivalente. Só é permitido tratamento inferior para cidades com 10 mil a 150 mil habitantes em zonas costeiras e entre 2 mil e

10 mil habitantes em estuários.Na Europa, os emissários da

França, de Barcelona, na Espanha, os de Gênova e Palermo, na Itália e o de Tessalônica, na Grécia, entre outros, têm tratamento secundário. Na Austrália, país onde existem mais emissários submarinos no mundo, todos têm, no mínimo, estação de tratamento secundário.

O tratamento dos esgotos domésticos visa remover o mate-rial sólido, reduzir a demanda bio-química de oxigênio, exterminar microorganismos patogênicos e reduzir as substâncias químicas indesejáveis. No tratamento pre-liminar, é feita a remoção de gor-duras e de areia; no primário, além disso, procede-se à decantação, a digestão e secagem do lodo; e; no secundário, é feito o tratamento primário, o biológico, a decantação secundária e a desinfecção.

Exigências acima do Equador

E S G O T O S G E S T ã O & O P E R A Ç ã O

ÁLVARO MENEzES

Cada dia que passa tem sido mais difícil realizar serviços de manutenção programada de tubulações dentro das áreas urbanas, principalmente nas grandes cidades. Os técnicos da operação e da manutenção devem desenvolver projetos de logística de transporte de equipamentos, de pessoal, e ainda contratar a elaboração de projetos de sinalização que possam ser aprovados pelas entidades controlado-ras do tráfego, visando reduzir os impactos que possam agravar o tradi-cionalmente caótico trânsito das cidades.

A otimização do uso de recursos humanos, técnicos, tecnológicos e materiais é uma exigência para que os serviços possam começar na hora certa e terminar no tempo previsto. O ideal é realizar todos os serviços durante a noite. No entanto, em alguns casos, principalmente nos de recuperação de adutoras, redes de distribuição ou coletores de esgoto, os trabalhos seguem por mais de 24 horas. Trabalhar durante os finais de semana também é uma forma de minimizar os impactos para a população, só que os custos, em todos os casos, se elevam. Assim, a velha rotina de manutenção sem se preocupar com a fiscalização das prefeituras ou as reclamações da população vem sendo substituída por um processo de gestão com qualidade, visando realizar no menor tempo possível a manutenção programada em tubulações dentro de áreas urbanas.

Os desafios ainda ficam por conta da mobilização de recursos e logística de deslocamento para executar as manutenções corretivas, como, por exemplo, aquelas decorrentes de rompimento de tubula-ções ou colapso de coletores de esgoto.

Alogísticanasruas

Manutenção programada poupa custos, ganha tempo e contribui com a qualidade de vida nas cidades

O Protocolo de Annapolis, que a Organização Mundial de Saúde publicou em 1999, diz respeito ao lançamento de esgo-tos sanitários no mar. Ele prevê, no caso de emissários submari-nos longos, tratamento primário completo. No Brasil, a Resolução Conama 357, de 17 de março de 2005, em seu capítulo IV, artigo

34, estabelece que os efluen-tes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados nos corpos d`água, direta ou indi-retamente, após o devido trata-mento. No Rio de Janeiro, a Lei nº 266/96 também regula a matéria. 2º Diz em seu artigo 2º:“Para lan-çamento de esgotos sanitários em corpos d’água, o tratamento

primário completo deverá asse-gurar eficiências mínimas de remoção de demanda bioquími-ca de oxigênio dos materiais sedi-mentáveis, e garantir a ausência virtual de sólidos flutuantes, com redução mínima na faixa de 30% (trinta por cento) a 40% (quaren-ta por cento) da DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio.”

O que rezam as leis do país

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28 Jan/Mar - 2011 29

R E C U R S O S h Í D R I C O S

A água que vem da pedra e mata a sede de um bom pedaço do Brasil

AquíferoGuarani

pedra formada há 250 milhões de anos pela transformação

da areia de um grande deserto em rocha porosa e permeável pode não ser a pedra filosofal dos anti-gos alquimistas, que pretendiam com ela fabricar ouro e um mila-groso elixir de longa vida. Mas, certamente, o arenito extenso que se encontra a mais de 300 metros de profundidade no noroeste de São Paulo, e que dali se estende ao Uruguai e à Argentina, pode ser um elixir de salvação da vida diante das ameaças de um mundo em que a água não será suficiente para todos.

A água, explica José Luiz Galvão Mendonça, geólogo do departamento estadual que licen-

cia e fiscaliza os poços do Aquífero Guarani, existe na Terra na mesma quantidade desde que o mundo é mundo. Não aumentou nem diminuiu. Evapora, forma nuvens, cai, infiltra-se no chão, alimenta os rios. Esse ciclo hidrológico em nada mudou. Por que então o mundo vive sob a ameaça de não ter água para todos dentro de 20 anos?

Por três razões principais, expli-cam todos os especialistas em água, alimento insubstituível da vida: aumento da população; cresci-mento da agricultura irrigada (para aumentar a produção de alimentos); e aumento do consumo individual nas regiões ricas. Então, os 2% de água doce aproveitável da natureza não vão dar pra todos. E não vão porque a população mundial, que hoje é estimada em 6,5 bilhões de pessoas, vai levar o sistema ao colapso quando atingir 10 bilhões, prevê a ONU para 2025. Isto se não mudarmos os hábitos de consumo e não formos rígidos na defesa dos mananciais existentes. Inclusive os que ficam debaixo da terra.

As águas subterrâneas, que constituem mais de 90% da água doce existente no mundo, são um

Romildo Guerrante

A

ROMILDO GUERRANTE

José Luiz Galvão Mendonça

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30 Jan/Mar - 2011 31

rocha porosa, o arenito, totalmente infiltrada de água.

A água contida não é um rio subterrâneo, como muita gente pensa, mas uma espécie de espon-ja, muito semelhante à que guarda o petróleo. O Aqüífero é continu-amente abastecido pela infiltração das águas da chuva na área de aflo-ramento, situada principalmente no noroeste de São Paulo.

Nos rumos Sul e Oeste, o Aquífero é cada vez mais profundo, passando de mil metros na fronteira com os vizinhos do Cone Sul. Mas, na região de Boa Esperança, perto de Araraquara, onde a rocha está à flor da terra, ocorre a maior parte da recarga do Aquífero. Ali está a área mais vulnerável à poluição. Por isso, há quem defenda a transformação

grande reservatório da humanidade. Mas não são “um mar de água doce”, como se dizia há alguns anos. Podem exaurir-se pelo mau uso, pela con-taminação, pelo desperdício. Estima-se, com base numa espessura média de 250 metros da camada de arenito, cuja porosidade efetiva é de 15%, que as reservas permanentes do aqüífero (água acumulada ao longo do tempo) sejam da ordem de 45 mil

quilômetros cúbicos. É muita água? É, mas não se pode esbanjar. Nem polu-ir. Poluir aquífero então, nem pensar, porque aí a condenação é eterna. E nem toda a água do Aquífero Guarani serve para o consumo humano, grande parte é salinizada.

No Brasil, a proteção aos aquífe-ros só veio em 2008, por meio de portaria do Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente, quan-do a utilização já era intensa desde a década de 70, acentuando-se vinte anos depois.

São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul usam regu-larmente as águas do Aquífero Guarani. No Paraná e em Santa Catarina as condições geológicas não são muito favoráveis. Em São

Paulo, onde ocorre a zona de recar-ga do Aquífero, próximo da cidade de Boa Esperança, as condições são muito favoráveis, não só pela escas-sa profundidade do manancial, quanto pelas características posi-tivas de aprisionamento da água nos poros do arenito. A protegê-la, outra camada ainda mais forte, esta de basalto – rocha nascida de lava vulcânica –, que foi a responsável pela compressão sobre as areias do vasto deserto que as transforma-ram em pedra. Pedra porosa que funciona como depósito de água em poros minúsculos. Acima dela, a pedra preta e resistente que é a maior defesa do Aquífero.

A água vem do arenito que fica debaixo dessa pedra. Não é um rio subterrâneo. É como o petróleo, que fica semiconfinado em poros que são quase alvéologos comu-nicantes. Para vazar a dureza da pedra, da “pedra rude”, cuja rigidez serviu à construção de boa parte da poesia áspera de João Cabral de Melo Neto, não se usa o cinzel dos lapidadores, mas brocas poderosas que custam até R$ 100 mil cada uma. Muitas delas se perdem na perfuração, ainda que lubrificadas com uma lama química que faz o que pode para suavizar e esfriar o choque do aço com o basalto preto que já escorreu vermelho há milhões de anos, na forma de lava, pelas encostas de extintos vulcões. Mas não fica pedra sobre pedra até que a água jorre à força de potentes motobombas que sugam o chão.

Há sempre uma pedra no caminho dos geólogos, assim como na rota dos poetas. Mas ela é vencida pela disposição do

homem em superar obstáculos. A lama resiliente que ajudou a broca na luta contra a pedra se agrega depois à parede dos poços, evitando que matéria sólida se despreenda e se junte à água que agregou o calor das profundezas e que está sendo bombeada para vazar a céu aberto, ao ritmo de 150 a 700 metros cúbicos por hora. Em algumas regiões, a água chega ao topo a 49 graus centígrados, o que é um grande estímulo à exploração de estâncias termais.

Por ser diferenciado em cada uma de suas nove partes já estu-dadas, o Aquífero Guarani tem uso restrito no Paraná, limitado no Uruguai e quase nulo na Argentina e no Paraguai. A salinidade é, em muitos casos, um fator até impedi-tivo. Há regiões em que o sal é três vezes mais presente que na água do mar. A profundidade é outro fator limitante, porque torna anti-econômica a exploração.

São Paulo é o estado que mais se vale das águas desse manancial para abastecimento urbano. Fica em São Paulo a cidade de Ribeirão Preto, a única com 100% de abas-tecimento com água subterrânea do Aquífero Guarani, extraída em 102 poços para abastecer 600 mil habitantes. Ribeirão tira tanta água do subsolo que em sua área cen-tral já não se autoriza a abertura de novos poços. Mas nem cogite sugerir à prefeitura que vá buscar água do Rio Pardo. Fica longe e exigiria a montagem de custosos sistemas de coleta, tratamento e distribuição. Embora um poço custe entre R$ 300 mil e R$ 700 mil (existem poços que chegam a

custar até R$ 3 milhões), é muito mais barato que um sistema con-vencial de mananciais a céu aber-to. Mas houve quem defendesse o transporte das águas do Aquífero para a capital paulista, onde o custo de tratamento da água de superfície é cada vez mais alto.

Segundo a ABAS – Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, existem 300 mil poços em opera-ção no Brasil – são 300 milhões no mundo inteiro. A cada ano, abrem-se mais 10 mil novos

O Aqüífero Guarani ocupa uma área de 1,2 milhão de km2, da qual 70% está em território brasileiro, estendendo-se pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Embora pouco utilizado fora de nossas fronteiras, o manancial alcança a Argentina, o Paraguai e o Uruguai.

O Aquífero se formou, em dife-rentes etapas, entre 150 milhões e 250 milhões de anos, quando essa região era um enorme deserto. Ocorrências vulcânicas extremas, talvez uma das maiores do planeta, cobriram de lavas o imenso areal. A rocha preta e dura que se formou da lava esfriada é o basalto. Sob o peso do basalto, a areia virou numa

A esponja subterrânea

de toda essa área em reserva nacio-nal, para evitar a contaminação.

Pesquisa feita em 2009 pela Cetesb, a empresa ambiental de São Paulo, em conjunto com o IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, não detectou contaminação. Pelo menos por enquanto.

poços. Nesse ritmo, é preciso con-trolar o licenciamento, pois em alguns pontos o nível das águas baixou. Episodicamente, aqui e ali. O que houve? Extraiu-se mui-ta água num período de tempo muito curto. O ciclo hidrológico normal não conseguiu repor essa água. Então, a autoridade respon-sável limita as autorizações.

Ribeirão e Bauru (400 mil habi-tantes) são as duas cidades pau-listas que mais consomem água do Aquífero. O abastecimento de

Bauru, diferentemente do sistema de Ribeirão, funciona com 65% de águas subterrãneas, sendo o rema-nescente obtido no Rio Batalha. Para o geólogo José Luiz Galvão de Mendonça, do DAEE, o departamen-to estadual situado em Araraquara que licencia os poços, o consumo excessivo e a poluição (que ocorre geralmente nas áreas mais próximas da superfície, nas chamadas “áreas de recarga”), são os grandes inimi-gos do manancial de águas subter-rãneas. Por isso o controle.

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ROMILDO GUERRANTE

ROMILDO GUERRANTE

R E C U R S O S h Í D R I C O S

Afloramento do Aquífero em Boa Esperança

Um dos 300 mil poços em operação no Brasil Os poços são artesianos, mas a água só jorra com o auxílio de bombas potentes

O arenito poroso que absorve a água

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32 Jan/Mar - 2011 33

E N T R E V I S T A

A engenheira Cláudia do Rosário Vaz Morgado, profes-sora da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro, é uma defensora da formação profis-sional de qualidade como peça fundamental para o país con-quistar e manter o bom desem-penho ambiental. Engenheira civil pela UFRJ, de Segurança do Trabalho pela UFF - Universidade Federal Fluminense e doutora em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, ela coordena a especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e o Programa de Engenharia Ambiental, ambos da UFRJ, e preside o Fórum Nacional dos Mestrados Profissionais. Pesquisadora das áreas de Ecologia Industrial e Governança de Riscos, ela falou à Revista Bio:

Qual deve ser o principal objetivo de um mestrado profissional em Engenharia Ambiental? Existem diferenças de foco entre cursos profissionais e acadêmicos?

O objetivo do mestrado profissional é o mesmo do acadêmico,

ou de qualquer pós-graduação stricto sensu, ou seja, ensinar pes-quisa com método científico. Num mestrado em Engenharia sig-nifica uma boa iniciação ao método científico: identificar uma situ-ação-problema, desenvolver uma metodologia que produza uma nova solução e também saber comunicar de forma oral e escrita, de maneira lógica, clara e objetiva, em linguagem científica, os resulta-dos da dissertação.

A diferença entre o mestrado profissional (MP) e o mestrado acadêmico (MA) é fundamentalmente o público a que se destina. No caso do mestrado profissional, é a graduados que já estejam no mer-cado de trabalho, ou seja, majoritariamente alunos que precisam cur-sar em horário parcial. Ao contrário, o mestrado acadêmico atende prioritariamente o aluno em horário integral. Isso não quer dizer que alguns alunos do MP não possam ser, eventualmente, recém-forma-dos ou que um determinado curso não possa ter bolsas de estudo para cumprir um objetivo de formação para uma demanda profis-sional específica. Um MP deve sofrer forte influência das demandas sociais, ter sua proposta permanentemente atualizada e reformulada para atender à dinâmica de mudanças que a sociedade necessita, além de articular o seu autofinanciamento.

A inserção social de um mestrado profissional é um requisito importantíssimo nessa modalidade de curso, e naturalmente requer uma metodologia de pesquisa de natureza interdisciplinar. Espera-se que os resultados das dissertações possam contribuir com um con-junto de soluções que fundamentem tecnologias sociais de aplica-ção imediata.

O Programa de Engenharia Ambiental – PEA, da UFRJ atende à demanda social através de edital público. O curso é gratuito e con-centramos a oferta das disciplinas nas quintas e sextas-feiras, com aulas iniciando às 9, 13 e 16 horas, com 3 horas de duração, para pos-sibilitar a dispensa dos profissionais em um dia ou, no máximo, um dia e meio por semana.

O primeiro edital de seleção ao mestrado profissional do PEA, em 2007, demonstrava uma significativa demanda reprimida. Qual a evolução do número de alunos e o perfil do profissional inscrito?

Quando lançamos o primeiro edital formos surpreendidos com

209 candidatos inscritos no período de 16/11/2007 a 25/01/2008.

Consideramos que algumas linhas de pesquisa que o PEA oferece são oportunidades novas no Rio de Janeiro, e que há uma demanda reprimida na área ambiental.

Nos editais seguintes a demanda só aumentou: 298 candidatos em 2008 e 362 em 2009. Verificamos que o interesse de formação e pesquisa de muitos can-didatos eram em áreas distintas do nosso programa, e passamos a restringir nos editais o perfil profissional do candidato para cada linha de pesquisa. Existe uma grande demanda nas áreas de ciências ambientais e educação ambiental que precisa ser atendida por outros programas.

Hoje oferecemos 11 linhas de pesquisa em três áreas de concentração: saneamento, gestão e segu-rança ambientais. Em algumas se aceita graduados em qualquer Engenharia, em outras, só podem concorrer engenheiros ambientais, químicos e de segurança do trabalho; ou bacharéis em Biologia, Geografia, Química, Direito, Economia, Geologia, Ciências da Computação e Matemática. Os editais ficam dis-poníveis no site www.pea.poli.ufrj.br .

Os setores que mais demandam profissionais especializados são os de petróleo, gás e biocom-bustíveis? Os cursos se direcionam a esse mercado?

Podemos afirmar que todos os setores demandam

profissionais com especialização em mais de uma área e com desenvolvimento de habilidades gerenciais. A Engenharia Ambiental possui uma grande demanda em função dos requisitos de sustentabilidade exigidos das organizações públicas e privadas. É uma deman-da das sociedades mundiais que será considerada, no futuro, como uma revolução social. Estamos num momento de inflexão na história da humanidade.

Os setores de petróleo, gás e biocombustíveis têm buscado atender a essa demanda por meio do Programas de Recursos Humanos da Agência Nacional de Petróleo – PRH/ANP, que destina bolsas de gra-duação, mestrado e doutorado e recursos para o pro-grama para a formação de profissionais para o setor. Em 2010, o PEA, em conjunto com a Escola de Química/UFRJ, através do Programa de Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, e do MP em Engenharia em

Biocombustíveis e Petroquímica, foi contemplado com um importante convênio nas linhas de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) e Ecologia Industrial. Outros setores estratégicos para o Brasil deveriam seguir este exemplo, organizando programas de recursos huma-nos em conjunto com as universidades.

Com grandes desastres como os ocorridos

recentemente nas cidades serranas do Rio de Janeiro, os cursos tendem a participar do debate ambiental em questão? De que forma?

Os Programas de Pós-Graduação são ambientes de

inovação e debates permanentes nas áreas em que se propõem atuar. O estado, as empresas e a sociedade civil organizada nem sempre colocam essas questões no elenco de suas prioridades. Quando acontece um acidente ambiental de grandes proporções, como o ocorrido nas cidades serranas, a universidade é procu-rada para resolver problemas de décadas, das quais a falta de planejamento e vontade política não se ocu-param. Não existem milagres! A universidade brasilei-ra está capacitada para atender as demandas sociais, mas é necessário maturidade política para investir em projetos mobilizadores de longo prazo, para gerar as tecnologias sociais de propriedade nacional e formar profissionais de alto nível técnico.

Como manter as áreas de pesquisa próxi-

mas do interesses sociais na solução de questões ambientais?

É preciso estabelecer no Brasil a articulação uni-

versidade-estado-empresas que possa elaborar pro-gramas nacionais de longo prazo nas áreas estratégi-cas do país, em todas as regiões. A desarticulação, e muitas vezes o conflito entre essas instituições, é ideo-logia ultrapassada. Não existe nação desenvolvida e democrática sem inteligência de estado e sem empre-sas, universidades e sociedade fortemente integradas.

A universidade é facilmente direcionada pelos investimentos em pesquisa e formação. As empre-sas no Brasil precisam ser fortalecidas tecnicamente e, em algumas áreas, até serem criadas. Em alguns

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34 Jan/Mar - 2011

setores, o capital estrangeiro é dominante, sem nenhuma contrapartida técnica ou de inovação com royalties compartilhados.

Hoje o Brasil tem recursos para repatriar doutores brasileiros no exterior e até “comprar alguns cérebros estrangeiros”, só falta projeto e vontade política.

As nações que dominam economicamente o mun-do trabalham a partir dessa articulação: quando uma multinacional se instala em um país, o governo de seu país busca acordos diplomáticos que facilitem as transa-ções entre os países e gerem demandas de consultoria e patentes, que são compartilhadas entre as empresas dos dois países. Não vejo essa preocupação no Brasil.

O que difere as áreas de Saneamento, Gestão e Segurança em Engenharia Ambiental?

No PEA, Saneamento Ambiental é uma área que

abrange a Engenharia Sanitária clássica e tratamen-to, reúso e monitoramento dos efluentes e resíduos industriais. Está estruturada em quatro linhas de pes-quisa: gestão e projetos de sistemas de águas urbanas; controle da poluição industrial; qualidade e monitora-mento ambiental; e biotecnologia aplicada ao sanea-mento ambiental.

A área de Gestão Ambiental oferece as linhas de pesquisa: desenvolvimento sustentável; eficiência energética; ecologia industrial; e bioindicadores e biomonitoramento.

O campo de Segurança Ambiental trata dos pro-blemas de acidentes ambientais e da gestão integra-da, com as seguintes linhas de pesquisa: análise de sistemas complexos; avaliação quantitativa de riscos; e gestão de SMS.

A senhora preside o Fórum Nacional de Mestrados Profissionais. Qual a situação dos cursos de Engenharia Ambiental no Brasil?

No Brasil, existem 10 cursos de mestrado

em Engenharia Ambiental recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes: um em São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná e Bahia, respectivamente; três

no Rio de Janeiro e dois em Santa Catarina. A listagem está disponível no site www.capes.gov.br . Apenas quatro deles são profissionais, os três do Rio e um de Santa Catarina, os outros são acadêmicos. Esses cur-sos são relativamente novos e, considerando a grande demanda de formação na área ambiental em outras regiões do país, possivelmente novas propostas de programas surgirão.

O Fórum Nacional dos Mestrados Profissionais – Foprof está em entendimentos com a Capes para via-bilizar a expansão com a qualidade dos MP. E uma das idéias é regulamentar a oferta de turmas fora de sede em áreas estratégicas (Engenharia Ambiental, Políticas Públicas, Saúde Coletiva, etc.) em associação com outras instituições de ensino e pesquisa para fortal-ecer novos grupos de investigação científica e atender as demandas mais imediatas de formação profissional nessas regiões. A página do fórum na internet é www.fnmp.org.br e o contato: [email protected].

Por que sua dedicação à Engenharia Ambiental? O que a senhora espera para o setor num futuro próximo?

A Engenharia Ambiental é uma engenharia nova,

com grandes desafios a serem vencidos. Significa equacionar as relações dos grupos de interesse para tornar viável um mundo mais sustentável. As enge-nharias de Produção, de Segurança e Ambiental são, na realidade, Sistemas de Engenharia que buscam integrar soluções, considerando a tecnologia, a gestão e as ciências sociais. Essa complexidade é instigante e requer, tanto para a atuação profissional como para a investigação científica, uma visão estratégica dos valores sociais do país.

Espero que, num futuro próximo, os fundos de meio ambiente que o Brasil conquistou nas últimas décadas sejam aplicados, avaliados e controlados com mais estratégia e rigor científico, instrumen-talizando o Estado e as empresas com inteligência competitiva e sustentável que a nação brasileira merece. Nesse contexto, a formação profissional de qualidade é chave na conquista e na manutenção do desempenho ambiental do país. (GC)

E N T R E V I S T A

B I O N E T

LINEU ALONSO

Friocausaestrago

A poluição atmosférica causada pelos veículos que consomem derivados de petróleo é um dos principais fatores da deterioração da qualidade do ar nos centros urbanos. Várias medidas estão sen-do tomadas pelas autoridades visando reduzir esta poluição. Entre elas, destacam-se a busca de combustíveis menos poluentes(álcool, energia elétrica, etc), a melhoria do desempenho dos novos veícu-los, restrições de uso de veículos em determinados dias da semana (os conhecidos rodízios dos paulistanos) e outras mais.

Recentemente a Prefeitura de Paris divulgou que em 2011 fará estudos para restringir o acesso de veículos mais poluentes (os 4x4 e os motores diesel antigos) a determinadas regiões. As áreas escolhidas foram batizadas de Zapa (sigla para “zonas de ação pri-oritárias para o ar”). A previsão é de que, dependendo dos resulta-dos obtidos, as medidas de restrição possam ser implementadas a partir de 2012. A informação é da France Press.

Caçaaospoluidores

Várias organizações pelo mun-do dedicam atenção especial à educação dos jovens, em particu-lar no que se refere às questões ambientais. A EPA, que é a agência ambiental americana, tem em sua página na Web um espaço espe-cialmente dedicado aos jovens. Chamado de Kids Club, esse espa-ço interativo permite aos jovens, por meio de uma linguagem simples, ter acesso às principais questões ambientais.

Os jovens são incentivados a expor suas dúvidas para espe-cialistas, recebem dicas diárias sobre sustentabilidade ambiental e podem recorrer a informações confiáveis para prepararem tra-balhos escolares. A troca de infor-mações entre jovens de diferentes regiões, cada qual contando suas experiências, também é um dos pontos fortes.

Que tal pensarmos em algo semelhante para a nossa página ele-trônica da ABES? Quem se habilita?

Oambienteeascrianças

As baixas temperaturas que ocorreram este ano no inverno euro-peu provocaram, além de desconfor-to para a população, problemas dos mais variados nos serviços públicos.

Na Inglaterra, país dos mais castigados pelas baixas tempera-turas, a distribuição de água foi seriamente afetada. Na região de Londres e no vale do rio Tâmisa, a

água distribuída para as residên-cias atingiu a menor temperatura histórica no mês de dezembro. As temperaturas caíram para cer-ca de 1,8®C, contra uma média histórica para dezembro de 7,3®C Como conseqüência, triplicou o número de vazamentos detecta-dos na rede pública.

O problema é que as baixas temperaturas provocam contra-ção das tubulações de distribuição de água, danificando-as. Segundo a experiência da Thames Water, empresa encarregada do forneci-mento de água para a região, quan-do as temperaturas caem a menos de 5ºC, as redes de distribuição de água apresentam enorme cresci-mento no número de rompimen-tos e vazamentos. Normalmente, a média de vazamentos reportados por dia na região atendida é da ordem de 75. No período analisa-do, esse número subiu para cerca de 300. As informações são da própria Thames Water.

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36 Jan/Mar - 2011 37

Estação de tratamento de esgotos não precisa ser feia

LagoaEncantada

Martha Baptista

E

E S G O T O S

ra para ser apenas um projeto de recuperação de uma esta-ção de tratamento de esgo-

tos, num bairro periférico de Cuiabá, capital mato-grossense, mas a Lagoa Encantada tornou-se muito mais. Quem se lembra do cenário de abandono até cinco anos atrás vai se surpreender se chegar lá para uma visita num fim de tarde de um dia qualquer. É inacredi-tável a mudança que se fez, em poucos anos, amarrando um sonho com uma parceria concreta entre a sociedade e o poder público.

Centenas de pessoas se exercitan-do em aparelhos de ginástica, fazendo caminhadas nas trilhas, andando em volta da lagoa ou simplesmente con-templando a única área de lazer de um dos muitos bairros nascidos ao longo de uma imensa avenida que surgiu em meados da década de 70 para ligar o Centro Político-Administrativo (CPA) com a área antiga da cidade.

As mudanças começaram em 2005, quando um movimento organizado da comunidade promoveu “um abraço pela morte da Lagoa”.

A população convivia há quase 20 anos com os problemas – mau cheiro, mato, , drogas, violência, abandono – de uma lagoa de estabilização que rece-bia o esgoto de cinco bairros da região, atendendo a uma população de aproxi-madamente 40 mil habitantes. Ela se

tornou depósito de restos de materiais de construção e uma espécie de local de desova para animais e até seres huma-nos. “A lagoa virou sinônimo de tudo que a sociedade não queria, de toda sua frus-tração diante da inoperância do poder público”, recorda a engenheira sanitária Eliana Rondon, que conhece como pou-cos a história da Lagoa Encantada.

Professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso, Eliana acabara de assumir a presidên-cia da Sanecap, a companhia de sanea-mento da capital cuiabana, quando a comunidade do bairro CPA 3 promoveu um “abraço da morte”, em protesto pelas condições de abandono do lugar.

Ali nasceu um grupo de trabalho, batizado de Amigos da Lagoa, do qual ela participou ativamente. Reunia repre-sentantes do poder público, da comuni-dade e da universidade, todos querendo transformar a lagoa, dar àquele espaço um novo significado.

A inspiração acabou vindo da experiência da cidade de Jales, no inte-rior de São Paulo, que tinha enfrentado problema semelhante. As mudanças começaram a acontecer aos poucos, afastando, por exemplo, os charreteiros que teimavam em jogar entulho no local. No final de 2005, o então prefeito Wilson Santos conseguiu recursos do Ministério doTurismo, no valor de R$

ROMILDO GUERRANTE

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38 Jan/Mar - 2011 39

2 milhões, para revitalização da área, que ganhou mirante, esculturas e uma pista, hoje utilizada para a prática de exercício, e que parece estreita para a quantidade de pessoas que freqüenta o local nos fins de semana.

Segundo a professora Eliana, a ideia inicial era ape-nas ter um acesso para estudantes que participassem de atividades de educação ambiental. Parceiros da ini-ciativa privada, como a Unimed, dotaram o parque de aparelhos de ginástica.

“A obra tomou proporções maiores do que a gente podia imaginar”, reconhece Eliana, que é apaixonada pela Lagoa Encantada. A ETE Lagoa Encantada – o nome foi escolhido pela comunidade – foi inaugurada em 30 de setembro de 2009. Desde então, nem tudo tem sido flores, embora o projeto inicial esteja frutifi-cando, em sintonia com a proposta inicial, de romper com a ideia convencional de uma estação de trata-mento de esgotos “como um lugar feio”. “A gente que-brou muros e a estação foi para dentro da comunidade (ver box). Queremos mostrar que efluentes podem ser insumos. Quando tudo interage, você tem sustentabili-dade”, teoriza a ex-presidente da Sanecap.

Estação Escola

A área de aproximadamente 31 hectares da Lagoa Encantada passou a ser vista de outra forma graças ao comprometimento dos Amigos da Lagoa. A Sanecap passou a ter um cuidado maior na limpeza da área (com a remoção e o descarte de lodos), assim como a Prefeitura de Cuiabá, que, mobilizando várias secretar-ias, também se empenhou em limpar e iluminar melhor o local. Foi construída uma estação elevatória de eflu-ente tratado para reúso de água em irrigação.

A Universidade tem desenvolvido pesquisas através do Programa de Mestrado em Recursos Hídricos e teve aprovado um projeto piloto para melhorar a operação do sistema como um todo, inclusive urbanização das lagoas de estabilização do bairro, com apoio financeiro da Fapemat - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso e desenvolvido em parceria com a Sanecap. O foco prin-cipal era trabalhar o reúso da água em fertirrigação e piscicultura. Além disso, a Lagoa Encantada e seu

entorno tornaram-se tema de trabalhos de conclusão de curso e projetos de estudantes dos cursos de gra-duação e mestrado da Universidade.

Em 2009, o Programa Petrobras Ambiental con-templou o projeto de criação do Centro de Referência de Reúso da Água, que venceu mais de 800 concor-rentes do Brasil inteiro. O Centro tem como foco o desenvolvimento integrado de ações de pesquisa, ensino e extensão na área revitalizada do conjunto de lagoas do CPA 3, a partir da gestão do reúso de efluen-tes, visando reduzir os impactos ambientais nos dois riachos que alimentam a lagoa.

Tendo a professora Eliana como coordenadora executiva, o projeto do Centro é uma ação integrada da Sanecap, Universidade Federal e do Idep - Instituto de Desenvolvimento de Programas. A proposta é transformar a ETE Lagoa Encantada numa Estação Escola, com a construção de laboratórios físico-químico, microbiológico e de geoprocessamento, e uma agenda continuada de atividades de Educação Ambiental. A coordenadora executiva destaca que as atividades dessa agenda mobilizaram mais de 6 mil pessoas no ano passado, entre estudantes do ensino fundamental e médio, do ensino superior (graduação e pós) e da comunidade, inspirando várias monogra-fias e uma dissertação de mestrado.

A Lagoa Encantada e os córregos do Caju e Gumitá, que cortam o complexo, estão sendo beneficiados com

um Plano de Recuperação das Áreas Degradadas, com o plantio de mudas de árvores, em parceria até mesmo com o Ministério Público, que doou mudas e grama. A ETE é palco também de pesquisas que envolvem o reú-so da água da chuva (o experimento de um professor da Universidade utiliza três tipos diferentes de telhado numa instalação para analisar a qualidade da água recolhida) e reúso da água de lavagem de roupa para alimentar descargas domésticas e outros usos que não necessitem de água potável, como a rega de plantas.

Entraves

Embora se possa dizer que a revitalização do Complexo da Lagoa Encantada seja um fato consuma-do e uma conquista (a mudança teve reflexos positivos até no mercado imobiliário do CPA 3, segundo pes-quisa realizada por alunos de mestrado da professora doutora Eliana Rondon), a história está longe de ter um final feliz. Um dos problemas é a violência urbana. Na visita de nossa reportagem à Lagoa Encantada, no final de janeiro, constatamos que o mirante está fechado e o responsável pela segurança interna do parque disse não se lembrar de tê-lo visto aberto ao público.

A professora Eliana reconhece que a equipe respon-sável pelos projetos teve que enfrentar problemas de depredação e vandalismo, que atingiram até o Sistema

de Wetlands, empregado para a depuração das duas lagoas de maturação e facultativa. Esse entrave começa a ser solucionado, segundo ela, com a recente instala-ção de uma Base Comunitária Móvel da Polícia Militar e a colaboração do comando da PM no bairro.

Outro gargalo é o fato de não terem sido construí-dos até agora dois reatores fundamentais para comple-mentar o processo de reúso (despoluição e geração de energia), que estavam incluídos nos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento em Cuiabá. Alguns usuários do espaço da Lagoa Encantada se queixam de que o local já recebeu mais atenção por parte do governo municipal logo após a inauguração. E que agora anda meio abandonado. As amigas Sandra de Oliveira e Grauciela Reis, que costumam passear na lagoa, reclamaram do mau cheiro em algumas áreas.

Há ainda muito mato e muito lixo jogado próximo à trilha, e poucas lixeiras, além de buracos na pista usada pelos praticantes de caminhada e corrida. Seja como for, a Lagoa Encantada é um bom exemplo de que é possível mudar uma paisagem que parecia ine-xoravelmente comprometida, quando a sociedade se mobiliza e se une ao poder público, à academia e a à iniciativa privada. Mas sua recuperação mostra tam-bém que todo cuidado é pouco: a comunidade precisa ficar alerta para que o resultado de tanto investimento e esforço não se perca.

E S G O T O S

O cenário de abandono antes das mudanças

O grande parque de lazer que Eliana construiu e apresentou a Cassilda pouco depois da inauguração

SAN

ECA

P

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40 Jan/Mar - 2011 41

Coleta e Transporte de Esgoto Sanitário (3a edição)

Autores: Milton Tomoyuki Tsutiya e Pedro Além Sobrinho547p. • R$50,00

Dicionário do Petróleo em Língua Portuguesa

Autor: Eloi Fernandez y Fernandez, Oswaldo A. Pedrosa Jr635p. • R$132,00

Ecogeografia do Brasil: Subsídios para Planejamento Ambiental

Autor: Jurandyr L. Sanches Ross208p. • R$90,00

Pensar a (in)sustentabilidade: desafios à pesquisa

Autor: José Daltro Filho e outros.265p. • R$52,00

Reedição de um livro que trata do planejamento e projeto dos sistemas de coleta e afastamento de esgotos, desde as tubulações que recebem os despejos das habitações e outras edificações, passando pela malha coletora, pelos coletores-troncos que acompanham os cursos de água e os fundos de vale e pelos condutos maiores ou interceptores, até as insta-lações que necessitem ser construídas.

Na indústria petrolífera dos países de língua portuguesa, há muito se fazia sentir a necessidade de uma ferramenta que permitisse a uniformização dos termos técnicos relativos a petróleo e gás, referentes tanto à pesquisa e à produção quanto aos aspectos de regulação e contratos desse setor. Este dicionário virá preencher essa grande lacuna e permitir que os profissionais do ramo falem, em português, exata-mente a mesma linguagem.

Expõe as bases para uma geografia construtiva, teórica e prática, valorizando a análise integrada. Retoma con-ceitos como geossistemas, fragilidades e potencialidades ambientais, e o relevo. Analisa os espaços naturais entre outros assuntos.

Os capítulos aqui elencados refletem a busca em divisar a sustentabilidade por diversas clivagens, desaguando em diferentes ramos da árvore de respostas no tocante ao pen-sar a (in)sustentabilidade.

R E S E N h A E D I T O R I A L

Eduardo Pacheco Jordão e Constantino Arruda PessôaLuiz Di Bernardo (coord.)José Alves Nunes Cleverson Vitório Andreolli (org.)Roque P. Piveli & Mário T. KatoLuiz Di BernardoHeber Pimentel Gomes Ibrahim Lasmar Antônio Marozzi RighettoMiguel Mansur Aisse

2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º

Tratamento de esgotos domésticos

Tratamento de água para abastecimento por filtração direta Tratamento físico-químico de águas residuárias industriais Alternativas de uso de resíduos do saneamento Qualidade das águas e poluição: aspectos físicos-químicos Seleção de tecnologias de tratamento de água 2v. Sistemas de abastecimento de água Ancoragens de tubulações com junta elástica Manejo de águas pluviais e urbanasSistemas econômicos de tratamento de esgotos sanitários

MAIS VENDIDOS – jANEIRO A MARÇO 2011

I N F O R M E

Vigilância em Saúde ambiental

A Vigilância em Saúde Ambiental - VSA consiste em um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou a outros agravos à saúde.

Compreende a área da saúde públi-ca que corresponde desde a formula-ção de políticas públicas, subsidiada pelo conhecimento técnico-científico, até as intervenções relacionadas entre saúde e fatores ambientais com o obje-tivo de melhorar a qualidade de vida do ser humano, ampliando o conceito de saúde para uma prática social, con-siderando a interdependência e a com-plexidade dos fatores socioeconômicos e demográficos com os conflitos decor-rentes de sua interação com o ambiente.

Em 2005, a IN SVS Nº. 01/2005 regulamentou as áreas de atuação do Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental (Sinvsa): água para consumo humano; ar; solo; contami-nantes ambientais e substâncias quími-cas; desastres naturais; acidentes com produtos perigosos; fatores físicos; e ambiente de trabalho. Além disso, incluiu os procedimentos de vigilância epidemi-ológica das doenças e agravos decorren-tes da exposição humana a agrotóxicos, benzeno, chumbo, amianto e mercúrio. Atualmente, a VSA vem sendo regida pelo Decreto n° 7.336, de 19 de outubro de 2010, que define a estrutura regimen-tal do Ministério da Saúde.

No processo de consolidação, os caminhos percorridos construíram avanços técnicos e operacionais com resultados positivos na implementa-ção da Vigilância em Saúde Ambiental no SUS. Com a estruturação do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador - DSAST, no âmbito da Secretária de Vigilância em Saúde, iniciou-se a reorganização das áreas técnicas da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental - CGVAM.

Com ênfase nas populações expos-tas a riscos ambientais, no que se refere aos componentes: ar, áreas contamina-das e substâncias químicas, formatou-se a área de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Contaminantes Químicos (Vigipeq), cujo objetivo está pautado no desenvolvimento de ações de vigilância em saúde visando ado-tar medidas de prevenção, promoção e atenção integral de populações expos-tas a contaminantes químicos. Assim, as áreas técnicas que integram o Vigipeq (Vigiar, Vigisolo e Vigiquim) continuam desenvolvendo suas ações como pre-vistas, porém de forma integrada.

O Vigidesastres, que tem como objetivo o desenvolvimento de um con-junto de ações a serem adotadas con-tinuamente pelas autoridades de saúde pública para reduzir a exposição da população e dos profissionais de saúde aos riscos de desastres e a redução das doenças e agravos decorrentes deles, além da Unidade de Respostas Rápidas (URR) incorporou a Vigilância em Saúde Ambiental relacionada aos Fatores

Físicos (Vigifis) e aos acidentes com Produtos Perigosos (Vigiapp). Esses três modelos propõem uma concepção de Vigilância em Saúde baseada na gestão do risco, que integra o processo de planejamento, organização, implementa-ção e controle dirigido a sua redução, ao gerenciamento do desastre e a recupe-ração dos seus efeitos, contemplando-o em todo o seu ciclo com ações voltadas a prevenção, preparação e resposta.

O Decreto Federal n. 79.367/1977 estabeleceu a competência do Ministério da Saúde (MS) sobre a definição do Padrão de Potabilidade da Água de Consumo Humano, a ser observado em todo o território nacio-nal. A partir de então, foram elabora-das Portarias considerando os avanços alcançados ao longo dos anos. A Norma em vigência é a Portaria MS 518/2004, que considera: visão sistêmica e inte-grada no controle da qualidade da água; princípios de boas práticas; avaliação, gerenciamento e comunicação de ris-co; enfoque epidemiológico; além do direito de informação ao consumidor. No ano de 2000, foi criado o Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), que estabelece e coordena ações bási-cas e estratégicas para a efetiva implan-tação do Vigiagua nas três esferas gover-namentais do setor saúde.

Pensar a atuação da Vigilância em Saúde Ambiental reconhecendo seus processos e suas dinâmicas, com o seu olhar sobre o território, tem pro-movido uma nova forma de atuação no Sistema Único de Saúde.

Daniela Buosi Rohlfs, Cássia de Fátima Rangel, Guilherme Franco Netto

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42 Jan/Mar - 2011 43

E N S A I O F O T O G R Á F I C O José Medeiros

José Medeiros se apaixonou pela fotografia aos 16 anos em sua cidade natal, Campo Grande (MS), onde trabalhou para os jornais Correio do Estado e Diário da Serra, mas seu talento de repórter fotográfico foi lapidado no Diário de Cuiabá e na Gazeta, no estado vizinho, Mato Grosso, onde mora até hoje. Nos últimos anos, teve fotos publicadas nas revistas Globo Rural, Isto É, Caros Amigos e Produtor Rural, e nos jor-nais Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo, Zero Hora e Correio Braziliense. Espírito inquieto, Medeiros investiu mais num projeto pessoal de registro de imagens de manifestações culturais populares, como a Festa do Congo, em Vila Bela da Santíssima Trindade (MT,) e a Cavalhada em Poconé (também em MT). Mais recentemente, documentou com seu olhar muito atento o Círio de Nazaré, em Belém (PA). Conhece como poucos o Pantanal, a Amazônia e o Cerrado. Suas andan-ças pelo Brasil renderam um rico material sobre as populações indígenas.

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44 Jan/Mar - 2011 45

T R A B A L h O S T é C N I C O S

ListadetrabalhosdaRevistaEngenhariaSanitáriaeAmbiental–RESA

1ª Edição – Janeiro/março 2011

Avaliação da partida e operação de filtros anaeróbios tendo bambu como material de recheio (Reg. ABES 073/09)

Start up and operation evaluation of anaerobic filters filled up with bamboo

Adriano Luiz tonetti, Bruno Coraucci Filho, José Roberto Guimarães, Luana Mattos de Oliveira Cruz, Marcela Soliz Nakamura

Identificação de compostos orgânic-os e farmacêuticos em esgoto hos-pitalar utilizando cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa (CG-EM) (Reg. ABES 154/09)

Identification of organic and pharmaceutical compositions in hospital waste water using a gas chromatograph coupled to mass spectrometry (cg-em)

Francisco Vieira Paiva, Neyliane Costa de Souza, Adrianus Cornelius Van Haandel

Remoção de macronutrientes de efluente da indústria de castanha de caju por uso de reator aeróbio em batelada com inóculo fúngico (Reg. ABES 120/09)

Removal of macronutrients from effluent of a cashew nut industry by using a batch aerobic reactor with fungal inoculum

Marina Lopes, Patrícia Celestino Carvalho de Oliveira, Marcus Vinícius Freire Andrade, Rinaldo dos Santos Araújo, Glória Marinho, Kelly Rodrigues

Insalubridade ambiental e aspectos soci-ais associados a patógenos intestinais isolados de dípteros (Reg. ABES 145/10)

Unhealthy environmental and social aspects associated to intestinal pathogens isolated of diptera

Maria José Rocha Ribeiro, Sandra Maria Furiam Dias, Elisa Teshima, André Renê Barboni

Avaliação ambiental estratégica no Brasil: considerações a respeito do papel das agências multilaterais de desenvolvimento (Reg. ABES 153/09)

Strategic environmental assessment in Brazil: debates regarding multilateral development agencies’ role.

Angela Pellin, Clara Carvalho de Lemos, André Tachard, Isabel Silva Dutra de Oliveira, Marcelo Pereira de Souza

Tratamento de águas residuárias de suinocultura em reator UASB e filtro anaeróbio em série seguidos de filtro biológico percolador (Reg. ABES 146/10)

Treatment of swine wastewater in UASB reactor and anaerobic filter in series followed of trickling filter

Rose Maria Duda, Roberto Alves de Oliveira

Diagnóstico do fluxo dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos no município de Belo Horizonte - Minas Gerais, Brasil (Reg. ABES 126/10)

Flow of e-waste at the city of Belo Horizonte – Minas Gerais, Brazil

Rosana Gonçalves Ferreira Franco, Liséte Celina Lange

Avaliação da sustentabilidade ambi-ental do uso de esgoto doméstico tratado na piscicultura (Reg. ABES 016/10)

Environmental sustainability evalua-tion of the treated sewage use in aquaculture.

Emanuel Soares dos Santos, Suetônio Mota, André Bezerra dos Santos, Cleto Augusto Baratta Monteiro

Detecção de emissão espontânea de luz em ensaios de colimetria aplica-dos ao monitoramento de efluentes sanitários (Reg. ABES 054/10)

Spontaneous light emission in coliforms test applied to wastewater monitoring

Samuel Ricardo dos Santos, José Euclides Stipp Paterniani, Cristiano de Mello Gallep

Desaguamento de lodo anaeróbio em filtros plantados com macrófitas (Reg. ABES 110/10)

Anaerobic sludge dewatering in constructed wetlands

Carla Suntti, Maria Elisa Magri, Luiz Sérgio Philippi

Aspectos do coprocessamento de resíduos em fornos de clínquer (Reg. ABES 055/09)

Waste coprocessing in clinker kilns: a review

Sônia Denise Ferreira Rocha, Vanessa de Freitas Cunha Lins, Belinazir Costa do Espírito Santo

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46 Jan/Mar - 2011 47

R E S E N h A T é C N I C A

Eficiênciaenergéticaemcompanhiasdesaneamento

grande desafio atual das companhias de saneamento básico

no país está em promover a uni-versalização dos serviços presta-dos e sua modernização de forma economicamente sustentável. Considerando ser este o setor de infraestrutura mais atrasado do Brasil e o grande aporte de recur-sos necessários para a execução dos novos empreendimentos e custeio das despesas de operação e manutenção deles decorrentes, é fundamental que as prestado-ras de serviço se preocupem com o desenvolvimento de programas que possibilitem melhorar consi-deravelmente sua produtividade.

Neste contexto, destaque espe-cial dever ser dado aos programas de eficiência energética. Recentes estudos efetuados pelo Governo Federal indicam que os serviços de abastecimento de água (captação, tratamento e distribuição) e esgota-mento sanitário (coleta, tratamen-to e disposição final) respondem,

O

consideráveis podem ser obtidas mediante a implementação ou readequação de instalações já exis-tentes, empregando tecnologias inovadoras de alto rendimento energético, ou mesmo através da adoção de ações de cunho estrita-mente operacional e comercial. Entre estes últimos, destaque espe-cial deve ser dado à revisão dos contratos celebrados com a con-cessionária de energia elétrica e estudos que utilizem a capacidade de armazenamento na distribuição para reduzir o consumo durante os períodos de pico, visto permitirem atingir bons resultados, pratica-mente sem a necessidade de rea-lização de grandes investimentos.

A literatura nacional e inter-nacional apresenta considerável número de estudos de caso relatan-do as substanciais reduções de consumo energético auferidas em diversas instalações ou sistemas de saneamento. Infelizmente, o mes-

mo espaço não é dado para a publi-cação de casos de insucesso, muito embora se saiba que eles existam, e não são raros. Perdemos com isso a oportunidade de aprender e evitar a repetição de erros já cometidos.

Além da redução do con-sumo energético que poderá ser alcançado pela maior eficácia das instalações, alguns sistemas de saneamento apresentam possibi-lidades bastante atraentes de gera-ção de energia a partir do biogás gerado nos processos de digestão anaeróbica, da combustão do lodo desidratado ou seco termicamente e dos potenciais hidráulicos even-tualmente existentes nos sistemas adutores de água bruta ou tratada. Ao contrário do que ocorre em outros países, estas potencialidades são pouco aproveitadas pelas com-panhias de saneamento no Brasil.

No início da última década, estimava-se que a perda média de energia no setor fosse de 48%. O Procel/Sanear, programa criado em 2003 pelo Governo Federal para inserir a eficiência energética no setor de saneamento, tinha como meta reduzir em 20% o consumo de energia elétrica nas empresas de saneamento no período de três anos, o que corresponderia em reduzir a perda média pela metade.

atualmente, por cerca de 2,3% do consumo total de energia elétrica do país, percentual este que tende a aumentar significativamente à medida que evoluímos rumo à uni-

versalização. Por outro lado, verifi-ca-se uma tendência acentuada de redução dos subsídios tarifários de energia elétrica concedidos pelo poder público às concessionárias

Américo de Oliveira Sampaio

dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

Dados contábeis das compa-nhias de saneamento revelam que o gasto com energia elétrica repre-senta o segundo maior item de cus-tos operacionais, sendo superado apenas pelas despesas com pessoal (salários + encargos). Nos últimos cinco anos, o gasto médio anual da Sabesp - Companhia Estadual de Saneamento Básico do Estado de São Paulo na conta de energia elétrica foi de R$ 467.097,00, correspondendo aproximadamen-te a 11% da média do total de despesas operacionais totais de R$ 4.069.807,00. Caso desconsiderarmos do cômputo total de gastos operacionais o item refer-ente a depreciação e amortização, este percentual subiria para 13%.

Os conjuntos elevatórios de água e esgotos constituem os prin-cipais responsáveis pelo consumo de energia elétrica dos serviços de saneamento, devendo, portanto, ser priorizados nos programas de melhoria de eficiência. Reduções

Conjuntos elevatórios de água e esgoto

devem ser priorizados

nos programas de eficiência

“Estação elevatória de Santa Inês, potência instalada de 80 mil HP (60 mil KW)

Conjunto motobombas: alvo prioritário de atenção em economia

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48 Jan/Mar - 2011 49

Superintendente de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Sabesp

R E S E N h A T é C N I C A

Apesar dos incentivos gover-namentais e dos diversos pro-gramas de eficiência energética implantados pelas operadoras, não podemos dizer que estamos logrando grande êxito em nosso objetivo. Comparada à realidade dos países desenvolvidos, con-tinuamos ainda convivendo com índice bastante elevado de per-das de energia na prestação dos serviços de saneamento.

Difícil encontrar uma justificati-va plausível para compreender esta situação, principalmente quando se considera que a implantação de programas de eficiência energé-tica não acarretam problemas ou dificuldades financeiras às empre-sas, ao contrário, contribuem para a melhoria da produtividade e con-seqüente redução dos custos dos serviços por elas prestados.

Talvez uma atuação mais consis-

tente por parte das agências regula-doras, mediante a fixação e fiscaliza-ção do atendimento de indicadores específicos de eficiência energética, possa contribuir efetivamente para a agilização deste processo.

Fica, porém, a reflexão: as com-panhias de saneamento precisam ser fiscalizadas e cobradas para a efetivação de programas dos quais elas mesmas sejam as principais beneficiárias?

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50 Jan/Mar - 2011

h U M O R

ALIEDO