Habitus - Elias e Bourdieu
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JOGOS HABITUAIS SOBRE A NOO DE HABITUS EM PIERRE BOURDIEU E NORBERT
ELIAS
Tatiana Savoia Landini Doutora em Sociologia pela Universidade de So Paulo (USP) e
docente do curso de cincias sociais da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp).
Email: [email protected] ou [email protected]
Enio Passiani Doutorando em Sociologia pela Universidade de So Paulo. Email:
Resumo
A teoria sociolgica, desde seu nascedouro, tenta equacionar a relao entre indivduo e
sociedade. Ao longo da tradio sociolgica, a balana ora pende para o indivduo, ora
pende para a estrutura (a sociedade). A teoria sociolgica contempornea no foge
regra e tambm se depara com a relao entre indivduo e sociedade. A nosso ver,
Bourdieu e Elias so os autores que melhor responderam a essa questo a partir do
desenvolvimento e aplicao emprica do conceito de habitus, dirimindo a oposio acima
indicada. A discusso ser feita partindo de uma apresentao sumria da noo de
habitus para os dois autores. Em seguida, cotejaremos ambas as discusses a fim de
enfatizar no as semelhanas, que so muitas, mas sim as diferenas que, apesar de
poucas, so cruciais.
Palavras-chaves: teoria sociolgica; Norbert Elias; Pierre Bourdieu
I Introduo
A teoria sociolgica, desde seu nascedouro, at as teorias mais contemporneas,
tenta equacionar a relao entre indivduo e sociedade. Ao longo da tradio sociolgica, a
balana ora pende para o indivduo, ora pende para a estrutura (a sociedade).
Resumiremos, a fim de introduzir o trabalho de Bourdieu e Elias, a perspectiva sociolgica
clssica: Weber, Durkheim e Marx.
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected] -
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Para Weber, o indivduo a via de acesso ao conhecimento possvel, pois o nico
capaz de dar sentido sua ao. , tambm, o nico que consegue dar coerncia a um
mundo catico, com dimenses cada vez mais distintas e fragmentrias. Nesse sentido, o
objetivo da sociologia, na perspectiva weberiana, compreender interpretativamente a
ao social, definida como aquela que orientada socialmente, ou seja, orientada pelo
comportamento de outros. Com base nessa definio, Weber constituiu uma tipologia da
ao social, definida em seu livroEconomia e Sociedade: ao social racional com relao
a fins, ao social racional com relao a valores, ao social tradicional e ao social
afetiva. Seguindo a definio de que s social a ao que est orientada ao outro, no
constituiria uma ao social a contemplao religiosa ou orao solitria ou o abrir o
guarda chuva no momento em que comea uma chuva. A teoria weberiana privilegia,
portanto, o indivduo, responsvel por dar sentido sociedade.
Se Weber entende que o objeto da sociologia a ao social, para Durkheim o que
deve ser estudado so os fatos sociais, definidos a partir de trs caractersticas: 1 coero;
2 externalidade; 3 generalidade. Nas palavras do autor, emAs Regras do Mtodo: so
os modos de agir e de pensar que existem fora das conscincias individuais e que, alm
disso, possuem um poder imperativo e coercitivo em virtude do qual se lhe impem.
Exemplos de fatos sociais so o direito, as crenas e prticas da vida religiosa ou a roupaque o indivduo veste sob pena de sofrer sanses indiretas, como o desprezo ou o riso.
Nesse sentido, os indivduos so produtos da sociedade, que pr-existe lgica e
historicamente. O indivduo existe apenas porque o todo garante a sua existncia.
J Marx, preocupado em compreender a formao da sociedade capitalista
industrial, centra o foco de sua anlise no que chama de infra-estrutura da sociedade, ou
seja, na base econmica que determina, em ltima instncia, para falar como Louis
Althusser, a superestrutura (ordenamento jurdico, religio, valores etc.). A diviso socialdo trabalho no capitalismo industrial, fruto de um determinado modo de produo, afirma
Marx, gerou duas grandes classes sociais em relao antagnica e conflituosa: a burguesia
e o proletariado. O indivduo, nesse sentido, definido de acordo com a posio que ocupa
na estrutura da sociedade, no tendo existncia em si. Logo, o indivduo portador das
relaes de classe.
A teoria sociolgica contempornea no foge regra e tambm se depara com a
relao entre indivduo e sociedade. A nosso ver, Bourdieu e Elias so os autores que
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melhor responderam a essa questo a partir do desenvolvimento e aplicao emprica do
conceito de habitus, dirimindo a oposio acima indicada.
A discusso ser feita partindo de uma apresentao sumria da noo de habitus
para os dois autores. Em seguida, cotejaremos ambas as discusses a fim de enfatizar no
as semelhanas, que so muitas, mas sim as diferenas que, apesar de poucas, so cruciais.
De certo modo, estaremos cometendo um desrespeito aos autores dado que tanto um
quanto outro sempre sublinharam a importncia das pesquisas empricas no
desenvolvimento dos conceitos. Ns, contrariando essa to sbia observao, por outro
lado, nos restringiremos a uma discusso meramente conceitual. A nosso favor, podemos
argumentar que tal discusso visa corrigir interpretaes equivocadas da obra dos autores
citados e, conseqentemente, concluses imprprias a respeito da realidade emprica em
decorrncia de impropriedades tericas. Assim sendo, embora terica, a discusso aqui
desenvolvida apresenta uma preocupao para com a anlise sociolgica.
II A noo de habitus em Bourdieu
O conceito de habitus foi reelaborado por Pierre Bourdieu a partir de utilizaes
anteriores e ocupa posio nuclear em sua teoria da prtica.
Segundo Casanova, a noo de habitus introduzida na reflexo filosfica porBocio e So Toms de Aquino, na traduo latina do equivalente hexis de Aristteles;
para os escolsticos, a noo de habitus est associada idia de que as aes encerram
uma inteno objetiva, que ultrapassa as intenes conscientes.
Mas com Marcel Mauss, aponta Casanova, que a noo de habitus ganha foros
de instncia sociolgica e antropolgica. Mauss vislumbra uma natureza social do habitus
que varia de acordo com os indivduos, sociedades, educaes, prestgios etc. ao
observar os efeitos da arte de utilizar o corpo humano. preciso encarar o habitus,assinala Mauss, como tcnica e como elaborao da razo prtica coletiva e individual.
Mauss salienta, portanto, a dimenso corporal e a produo social do habitus.
Em relao a Mauss, Bourdieu no s integra na sua perspectiva o tema da
produo social do habitus e o seu princpio corpreo (essencialmente fsico), como
tambm estabelece a continuidade e a articulao desse fundamento mais corporal s
prticas sociais em geral, e, particularmente, esfera ideolgico-simblica (esfera das
representaes e dos valores).
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Tal perspectiva ilustra a preocupao de Bourdieu em escapar filosofia do sujeito,
mas sem sacrificar o agente; e filosofia da estrutura, mas sem deixar de levar em conta os
efeitos que essa exerce sobre o agente e atravs dele. O habitus , portanto, um sistema de
disposies, tendncias incorporadas pelos atores decorrentes da especificidade do
processo de socializao por eles percorrido, particularmente da sua insero social mais
objetiva em determinados campos (religioso, intelectual, cientfico etc.) que presidem s
suas prticas sociais. Para Bourdieu, as disposies so estruturadas e estruturantes, j que
elas so determinadas pelas condies sociais mais estruturais presentes no processo de
socializao dos atores, e, ao mesmo tempo, concorrem para a determinao das prticas
desses atores.
importante frisar que, em Bourdieu, os habitus, nos seus contedos, representam
capital cultural sob a forma incorporada e, portanto, recursos de poder, j que o capital
cultural, assim como o econmico, distribudo desigualmente na sociedade. Os habitus
constituem princpios de um arbtrio cultural, principalmente na sua acepo de cultura
prtica: so o sentido prtico, o saber prtico, evoluindo estrategicamente segundo uma
lgica prtica entre a acumulao de capital cultural e a legitimao social.
As experincias da vida social so, nesse sentido, interpretadas, julgadas e
assimiladas atravs de um sistema de disposies em vigor que constitui uma espcie degramtica que est no princpio da percepo e da apreciao de toda uma experincia
social. O habitus, pois, alia as prticas sociais indicando aos indivduos as melhores
respostas e atitudes em relao s condies objetivas dadas. Se o habitus, enquanto
produto social, direciona as prticas e aspiraes individuais, ento os agentes sociais, ao
agirem, acabam por reproduzir estruturalmente a matriz de disposies, bem como as
condies objetivas que suportam esse habitus. Aparentemente o indivduo no teria
autonomia alguma porque suas aes seriam determinadas pelo habitus, contudo:(...) cada relao e interao, em cada momento, em cada situao, explorada pela
dimenso relacional ativa, criativa, transgressora e improvisadora do habitus, que
est associada ao seu carter estratgico (trata-se [...] de uma inveno em inteno,
bem como de uma improvisao regrada) (Casanova, 1995: 52).
Podemos ilustrar o argumento a partir da seguinte metfora: tomemos um pianista
que tem sua frente o teclado do piano, composto por um nmero limitado de teclas. Tal
limitao estrutural obriga o agente a obedecer certas regras para a execuo e inclusive
para a composio, sem, contudo, ameaar sua capacidade de inventar; acontece at
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mesmo o oposto, isto , a criatividade do pianista-compositor se realiza em funo do
instrumento, das limitaes e possibilidades que ele oferece.
H, logo, uma relativa indeterminao, abertura e incerteza prprias do sistema de
disposies. As prticas sociais, portanto, no so dotadas de absoluta regularidade e
possuem um determinado grau de autonomia, pois so o produto da relao dialtica entre
uma situao e um habitus. Por isso as prticas sociais no podem ser deduzidas direta e
exclusivamente da matriz de disposies, nem sequer calculadas exaustivamente ou de
forma absoluta, porque recobrem, alm de aspectos factuais, um componente de
experimentao social que se desenrola continuamente por tentativa e sondagens.
Destarte, uma das caractersticas do habitus o seu carter mediador entre as
condies estruturais objetivas em que so produzidas e incorporadas e as prticas e
representaes sociais que o estruturam. A partir do conceito de habitus, Bourdieu
procurou dissolver a antinomia terica entre indivduo e sociedade ao estabelecer que o
individual, o pessoal e o subjetivo tambm social, coletiva, ou, noutros termos, o habitus
nada mais que uma subjetividade socializada.
importante sublinhar que a incorporao do habitus pelo agente se d a partir de
sua insero e participao num dado campo, formado por agncias sociais especficas
daquele campo. Tomemos como exemplo o campo literrio. Alguns de seus agentes so oescritor, o crtico, o editor, o livreiro etc., que pertencem a uma ou mais agncias, como a
universidade, a editora, as academias literrias, as livrarias etc. Segundo Bourdieu, a
histria do campo a histria de suas lutas, ou seja, os agentes e agncias se encontram
numa competio contnua para determinar as regras responsveis por reg-lo, e a vitria
nessas contendas implica acumular mormente bens simblicos, como o prestgio, o
reconhecimento e o sucesso, atributos que garantiro... ao vencedor, as batatas! Quais
sejam, a hegemonia no campo.
III A noo de habitus em Elias
O termo habitus tambm utilizado por Elias referindo-se tanto ao habitus
individual como ao social o ltimo constituindo o terreno no qual crescem as
caractersticas pessoais e significando basicamente segunda natureza ou saber social
incorporado. O conceito de segunda natureza, para Elias, no de forma alguma
essencialista. Muito pelo contrrio, utilizado pelo autor para superar os problemas da
noo de carter nacional como algo fixo e esttico. O habitus muda com o tempo
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exatamente porque as fortunas e as experincias de uma nao (ou de seus agrupamentos
constituintes) continuam mudando e acumulando-se (Dunning e Mennell, 1997, p. 9).
O que est em jogo quando falamos na motivao da mudana (ou seja, por que h
mudana) que, em relao aos costumes, a transformao ocorre a partir da dinmica das
classes sociais. A fim de distanciar-se das outras classes sociais, a classe superior cria
novos padres de comportamentos, padres esses que, com o passar do tempo, so
adotados pelas outras classes. Em outras palavras, fica muito parecido com o que veio a ser
chamado por Bourdieu (Ortiz, 1994) de distino. Entretanto, Elias toca em um ponto
relevante, que o diferencia do autor francs: com o passar do tempo, os novos padres de
comportamento deixam de ser conscientes para tornarem-se uma segunda natureza a
essa segunda natureza que se refere quando fala em mudanas na estrutura da
personalidade.
O habitus, em Elias, incorporado a partir da participao dos indivduos nas
figuraes. O termo configurao ou figurao foi cunhado por Elias como contraponto
noo de homo clausus, expresso que, em seu entender, traduzia bem o estgio das
cincias sociais no final do sculo XIX e incio do XX. A noo de homo clausus, que
tanto incomodava Elias, pode ser entendida como a dualidade entre sujeito e objeto, entre
indivduo e sociedade e significa o entendimento do indivduo como um ser atomizado ecompletamente livre e autnomo em relao ao social. Sua crtica recai principalmente
sobre Parsons, mas no deixa de fazer comentrios a outros socilogos, por exemplo
Weber, cujo trabalho terico, mas no o emprico, teria como ponto de partida o indivduo
independente e auto-suficiente (Elias, 2000, p. 469). Sua viso a respeito da sociologia da
primeira metade do sculo XX pode ser resumida:
Aparentemente, temos escolha apenas entre abordagens tericas queapresentam o indivduo como o que realmente existe, alm da sociedade, o
verdadeiramente real (sendo vista a sociedade como uma abstrao, como
algo que no existe efetivamente) e outros enfoques tericos que apresentam a
sociedade como um sistema, um fato social sui generis, uma realidade de
tipo peculiar, para alm dos indivduos (Idem, p. 473).
O conceito de figurao, em contraposio, busca expressar a imagem do ser
humano como personalidade aberta, aquele que possui algum grau de autonomia em face
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das outras pessoas (nunca uma autonomia completa), mas que, na realidade,
fundamentalmente orientado para as outras pessoas e dependente delas o que liga os
seres humanos justamente a rede de interdependncias. A figurao conceito que, na
viso de Elias expressa o que chamado de sociedade seria, portanto, uma estrutura de
pessoas mutuamente orientadas e dependentes (Idem, pp. 481-482).
A ateno que Elias dispensa anlise das inter-relaes entre os indivduos ao
contrrio de autores que tm como foco o indivduo decorre de sua definio de
sociologia. Uma definio simples de sociologia diz que a cincia que trata dos
problemas da sociedade. Mas o que a sociedade? Para o autor, a sociedade formada por
todos ns, sendo cada um de ns um ser entre os outros; no se deve reificar o conceito de
sociedade assim como no se deve reificar o conceito de famlia, escola etc. A sociedade
no pode ser considerada uma coisa, mas um grupo formado por seres humanos
interdependentes.
A questo da interdependncia , portanto, central na definio de figurao, objeto
da sociologia.
Quanto mais intimamente integrados forem os componentes de uma unidade
compsita ou, por outras palavras, quanto mais alto for o grau da suainterdependncia funcional, menos possvel ser explicar as propriedades dos
ltimos apenas em funo das propriedades da primeira. Torna-se necessrio
no s explorar uma unidade compsita em termos das suas partes
componentes, como tambm explorar o modo como esses componentes
individuais se ligam uns aos outros, de modo a formarem uma unidade. O
estudo da configurao das partes unitrias ou, por outras palavras, a estrutura
da unidade compsita, torna-se um estudo de direito prprio. Essa a razopela qual a sociologia no se pode reduzir psicologia, biologia ou fsica: o
seu campo de estudo as configuraes de seres humanos interdependentes
no se pode explicar se estudarmos os seres humanos isoladamente. Em muitos
casos aconselhvel um procedimento contrrio s podemos compreender
muitos aspectos do comportamento ou das aes das pessoas individuais se
comearmos pelo estudo do tipo da sua interdependncia, da estrutura das suas
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sociedades, em resumo, das configuraes que formam uns com os outros
(Elias, 1970, pp. 78-79).1
O conceito de figurao tem como objetivo, exatamente, afrouxar o
constrangimento de falarmos e pensarmos como se o indivduo e a sociedade fossem
antagnicos e diferentes (Idem, p. 141). Pode ser aplicado a grupos de tamanhos e graus
de interdependncia diversos. Um grupo jogando pquer, os alunos de uma sala de aula,
uma vila de pescadores ou uma metrpole so todos exemplos de configuraes. No caso
das configuraes mais complexas, elas no so percebidas diretamente, pois as cadeias de
interdependncias so maiores e mais diferenciadas. Compreend-las implica abord-las
indiretamente e proceder a uma anlise dos elos de interdependncia.
As ligaes sociais a que Elias se refere dizem respeito no apenas s relaes
interpessoais, mas tambm s ligaes emocionais, consideradas agentes unificadores de
toda a sociedade. Em unidades sociais pequenas, a ligao emocional ocorre entre os
indivduos; quando consideramos unidades sociais maiores, precisamos levar em conta
novas formas de ligao emocional: as pessoas unem-se a smbolos de unidades maiores,
ligam-se emocionalmente umas s outras por meio de smbolos (Idem, pp. 150-151).
Elias, muitas vezes, utiliza imagens a fim de deixar mais claro um conceito; no casodo termo figurao, faz meno dana, independentemente do estilo, se tango, rock ou
outro (Elias, 2000, pp. 482-483). A dana, segundo ele, no pode ser pensada sem uma
pluralidade de indivduos dependentes e orientados reciprocamente uns aos outros. Alm
disso, no entendida como uma construo mental e, portanto, como uma mera abstrao
ou algo que existe para alm do indivduo ainda que possa ser entendida como
relativamente independente daqueles que esto tomando parte de uma determinada pea,
jamais entendida como independente dos indivduos como tais. Ao utilizar a dana paramelhor definir o termo figurao, Elias tem como objetivo principal eliminar a anttese
ainda presente no uso dos conceitos de indivduo e sociedade.
IV Consideraes finais
1 Ao afirmar que o comportamento das pessoas pode ser entendido apenas se o estudo se iniciar
pelas configuraes, Elias retoma, nesse seu livro de 1970, um ponto amplamente discutido nOprocesso civilizador, qual seja, o da relao entre dinmica social e estrutura da personalidade.
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Como j apontado na introduo deste trabalho, nossa preocupao indicar as
dessemelhanas das noes de habitus empregadas por Elias e Bourdieu.
Esquematicamente, temos:
1. Enquanto que em Bourdieu o habitus incorporado pelo agente ao longo de suatrajetria no interior de um ou mais campos internalizando, assim, as regras
especficas do campo do qual faz parte , em Elias o habitus introjetado a partir
da participao do indivduo numa dada figurao;
2. A perspectiva de Bourdieu, embora marcada pela psicologia e fenomenologia, , demodo geral, macro-sociolgica, aproximando-o de um certo estruturalismo
gentico. Em contrapartida, encontramos em Elias tanto uma abordagem macro
quanto micro-sociolgica alis, seu objetivo premente justamente articular
ambas as abordagens, relacionando as mudanas micro e macro;
3. No limite, a sociologia de Bourdieu uma sociologia do poder (simblico), isto ,de como o poder constitudo e desigualmente repartido entre os grupos sociais. A
de Elias, uma sociologia processual na medida em que busca compreender, a
partir das relaes entre indivduos e grupos, o devir histrico;
4. Se em Bourdieu existe, em alguma medida, uma preocupao com a histria, no esse o foco central. Pode-se dizer que o socilogo francs enfatiza a sincronia e noa diacronia. Elias, em contraposio, tem a histria como foco primordial. Se
analisa casos especficos ou relaes em um perodo curto de tempo, no o faz sem
que relacion-los ao desenvolvimento scio-histrico. Portanto, enfatiza a diacronia
e no a sincronia;
5. Por fim, encontramos nas abordagens de ambos os autores uma espcie de jogorelacional entre os agentes sociais. A diferena que Bourdieu parece preocupar-
se, no interior e no decorrer dos jogos, com a disputa entre os participantes,enquanto Elias preocupa-se com o resultado do jogo, ou seja, com o que seja
prevalecente a partir da dinmica social.
V. Bibliografia
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BOURDIEU, Pierre. As regras da arte. So Paulo: Cia. Das Letras, 1996.
BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. Lisboa: Difel, 1989.
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CASANOVA, Jos Lus. Uma avaliao conceptual do habitus. Sociologia. Problemas e
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Elias, Os alemes: a luta pelo poder e a evoluo do habitus nos sculos XIX e XX. Rio
de Janeiro, Jorge Zahar.
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ELIAS, Norbert. The civilizing process: sociogenetic and psychogenetic investigations.
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