Habitação Coletiva e a Evolução Da Quadra

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    Habitação coletiva e a evolução da quadra (1)

    Mário Figueroa

    O ideário moderno e a refexão sobre habitação coletiva estãopro undamente relacionados aos problemas decorrentes da densidadepopulacional urbana e do crescimento das grandes cidades durante o séculoXX. Nesse contexto as novas hipóteses de habitação e sua relação com oespaço urbano representam para o modernismo o n cleo inicial deinvestigaç!es e experimentaç!es desenvolvidas em "mbito disciplinar daar#uitetura para uma possibilidade real de trans ormação em grande escalado ambiente urbano.

    $ partir do desdobramento dos conceitos germinais do texto de %hristian de

    &ort'amparc( $ terceira era da cidade )*ille age +++, )-,( este ensaio trataespeci camente do papel da habitação coletiva na ormação das distintasidéias de cidade a partir da segunda metade do século X+X até o nal doséculo XX( compondo um #uadro anal/tico com oito distintas estratégiaspro0etuais #ue permitem uma refexão sobre as diversas ormas de inserção(complementação e construção da habitação coletiva na cidade modernaexplicitando a evolução e a trans ormação da ar#uitetura urbana dentrodeste per/odo.

    O es orço concentra1se em constituir um racioc/nio cr/tico do processopro0etual estabelecendo distinç!es conceituais sobre as estratégias dahabitação coletiva e sua relação com a tra0etória do desenvolvimento dascidades através de uma visão ampla do elemento urbano #ue por ess2ncia éo mais coletivo de todos. +nteressa en ati'ar nestas condiç!es o constantecon ronto entre habitação e espaço habitável( o #ual tem trans ormado apaisagem( a sociedade( a cultura( os hábitos e o desenho das cidades.

    3evemos entender como cidade tradicional um organismo urbano geradoatravés de um longo processo histórico. Neste contexto( tanto o traçadoviário como a habitação coletiva são elementos #ue não podem serconcebidos separadamente( como o positivo e o negativo de um mesmo

    sistema. Não existem( portanto espaços inde nidos nesta relação restritaaos dom/nios do publico e do privado.

    $ #uadra da cidade tradicional se caracteri'a por ser claramente delimitadae homog2nea. 4ma massa compacta #ue apresenta uma relaçãodesproporcional entre uma grande #uantidade de espaço constru/do emcontraposição a escassos e ragmentados espaços livres habitualmentedestinados apenas para a ventilação das habitaç!es. $ ar#uitetura( restritaa achada( se expressa neste momento apenas de orma bidimensional.

    $s trans ormaç!es de 5aussmann em &aris )678-19:, podem exempli careste tipo de #uadra ;residual

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    controlado )gabarito de altura( composição das achadas( matérias eelementos construtivos, para regulari'ar o tecido urbano e proporcionaruma extraordinária orça de con0unto. $ habitação coletiva compunha adiversidade programática da #uadra através de sua sobreposição emdistintos pavimentos o #ue gerava habitualmente edi /cios multi uncionais.

    O &lano de expansão para =arcelona de +lde onso %erdá )6:8:19>, desenhauma grelha ortogonal( com #uadras de 66?m x 66?m e vias de -@m delargura( de tal maneira #ue cada con0unto de nove #uadras e viascorrespondentes se inscrevem dentro de um #uadrado de >@@m de lado. $#uadricula estende1se até os n cleos urbanos vi'inhos e envolve a cidademedieval. $pesar de aparentar a imposição de uma nova ordem( indi erenteao contexto( o a0uste das bordas é eito com extrema habilidade tendo comosuporte avenidas diagonais #ue surgem a partir de conex!es pré1existentes.O corte diagonal nas arestas da #uadra trans orma o simples cru'amento de

    vias em lugar( gera também desta orma maior amplitude visual dosedi /cios de es#uina. Ae d vida nenhuma o melhor exemplo de habitaçãocoletiva inserida neste contexto é a %asa BilC de $ntoni Daud/ )6:@916-,.

    O &lano previa #uadra com ocupação perimetral em dois ou no máximo tr2slados. Os edi /cios não ultrapassariam mais do #ue dois terços da super /ciedo #uarteirão. Os espaços internos resultantes se abririam para a cidadeo erecendo e#uipamentos p blicos e generosas áreas arbori'adas. Oimportante é en ati'ar #ue neste momento a #uadra passa de uma condiçãode residual para se tornar suporte de uma composição urbana #ue a temcomo espaço da cidade. 3á1se um passo adiante da relação edi /cio1ruacomo de nidor da #uadra( ou se0a( o per/metro da #uadra deixa de ser olimite do espaço p blico.

    3o dese0o original de %erda permaneceu apenas o traçado viário( as#uadras oram maciçamente ocupadas no per/metro 0unto ao alinhamentoda calçada retomando um caráter #ue a reaproximou da #uadra tradicional.Originalmente as #uadras oram concebidas em média com 9E.@@@mF deárea constru/da( atualmente após 68@ anos de adensamento progressivotemos em média -:8.@@@mF de área constru/da por #uadra.

    3uas cidades desenvolveram experi2ncias extremamente signi cativasdesta tipologiaG $msterdã e *iena. No &lano de expansão de 5. &. =erlagepara $msterdam Huid )6:68, as #uadras ainda são resultado do sistemaviário( porém contribuem como instrumentos de ordenação dos edi /ciosperante uma nova hierar#uia de vias e espaços urbanos através deconstrução di erenciada das es#uinas( di erenciação das bordas edi cadascon orme as caracter/sticas da rua delimitadoras e principalmente pelaevolução do miolo da #uadra. +nicialmente destinado exclusivamente para

    0ardins internos das unidades residenciais térreas( o espaço interno evolui apartir da redução dos 0ardins privados e inserção de ruas e pátios internosdestinados ao uso semip blico.

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    No caso de *iena a opção não é pela expansão( mas sim( por aproveitarva'ios urbanos pré1existentes para inserir habitação coletiva operáriaatravés de grandes edi /cios residenciais cont/nuos( chamados de ;hoI

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    urbanas tradicionalmente vinculadas C cota do chão desde o comércio aose#uipamentos coletivos. Aem d vida a personi cação das idéias contidas na%arta $tenas #ue buscavam di erentes ormas e práticas sociais de vivercoletivamente decorrente das relaç!es entre as unç!es básicas )habitação(la'er( trabalho e circulação,.

    4ma ampla revisão de muitos dos princ/pios da cultura moderna( a eclosãode distintas tend2ncias ar#uitet nicas nos paises industrialmente maisavançados aliado a um otimismo perante as novas possibilidadestecnológicas tornam a década de sessenta um per/odo de grandeexperimentalismo. 3esde as propostas radicais do grupo $rchigram asantasiosas idéias do Auperestudio todas compartilham o ideal 5egeliano doprogresso ilimitado do positivismo moderno.

    $través de uma descomunal exaltação estrutural e tecnológica #ue sesobrepunha ao ambiente urbano existente as mega1estruturas geravamuma topogra a arti cial #ue comportariam as mais distintas atividadesnecessárias para uma metrópole. Ksta paisagem arti cial deveria ser dem ltiplos n/veis gerando um sólido tridimensional. Ksta nova escaladimensional acreditava1se poder recuperar uma maior liberdade e o erecerutopiaalternativas ao caos urbano. %omo exemplo constru/do podemos citaro =arbican %omplex )6:9>17-, em Vondres pro0etado por %hamberlin( &oYelle =on.

    $ partir dos anos oitenta cidades européias como =erlin e =arcelona estãoenvolvidas em pro undas trans ormaç!es urbanas. $ primeira( através do

    programa do +=$( serviu como modelo para outras cidades européiasprincipalmente com as estratégias de remodelação de #uadras parcialmenteconsolidadas através da reconstituição perimetral das #uadras e areinterpretação das tipologias( mor ologias e linguagens das cidadeshistóricas européias. $ segunda cidade aproveita a oportunidade de sediaros Togos Ol/mpicos de 6::- para reestruturar #uatro grandes áreas urbanas.$ intervenção mais importante é a da *ila Ol/mpica #ue permitiu recuperaro acesso da cidade ao mar além de criar um novo bairro residencial atravésde uma estratégia extensão do &lano %erdC de certas caracter/sticas desuas #uadras.

    %onceitualmente a #uadra contextualista recupera a ocupação perimetral econse# entemente o desenho da rua tradicional. $ es#uina volta a servalori'ada como re er2ncia urbana. &e#uenos racionamentos do per/metrorecuperam a possibilidade de acesso ao centro da #uadra #ue volta aassumir o papel de espaço coletivo habitualmente recebendo e#uipamentose generosas áreas verdes.

    Uipologicamente a #uadra aberta não é uma novidade( o melhor exemplodisso é o %on0unto Dolden Vane )6:8>, em Vondres( de %hamberlin( &oYell e=on. $ di erença desta nova abordagem está no posicionamento perante acidadeZ não se trata mais de uma abordagem positivista através daimposição de uma nova ordem racional ou de uma cidade ideal como

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    dese0ava o abstrato ideário moderno. $pós o esgotamento da linguagempós1moderna e do reconhecimento das limitaç!es evidentes das estratégiascontextualistas o pensamento contempor"neo tende a considerar apossibilidade de uma revisão do espaço constru/do e do espaço livre dacidade herdada a partir de um posicionamento complementar do espaço 0áconstitu/do.

    $ #uadra aberta é por ess2ncia um elemento h/brido conciliador. &ermite adiversidade( a pluralidade da ar#uitetura contempor"nea. Kla recuperar ovalor da rua e da es#uina da cidade tradicional( assim como entende as#ualidades da autonomia dos edi /cios modernos. $ relação entre osdistintos edi /cios e a rua se dá por alinhamentos parciais( o #ue possibilitaaberturas visuais e o acesso mais generoso do sol. Os espaços internosgerados pelas relaç!es entre as distintas tipologias podem variar dorestritamente privado ao generosamente p blico( sem desconsiderar as

    nuances entre o semip blico e o semiprivado.