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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 17 DE SETEMBRO DE 2012 Especial H5

ARTIGO

Infraestrutura brasileira: desafios e oportunidades

“O governo federal merece elo-gios em promover a infraestrutu-ra, mas é preciso levar em contaque o Programa de Aceleraçãodo Crescimento (PAC) é só o co-meço, porque existe uma sériede problemas que estão por vir”.O diagnóstico é de José de Frei-tas Mascarenhas, presidente doComitê de Infraestrutura daConfederação Nacional da In-dústria (CNI).

Em entrevista ao Estado, elerevela estar preocupado com avelocidade exigida para imple-mentação dos projetos, mas oti-mista de que o setor privado da-rá conta do recado. O problema,

afirma, serão os efeitos colate-rais, o que pode significar contasmais salgadas.

Na opinião de Mascarenhas,um dos motivos para os gargalosno setor de infraestrutura é a in-capacidade de o governo realizaros investimentos necessários.“Um país como o Brasil, de di-mensões continentais, precisade uma imensidão de investi-mentos para ser competitivo”,afirma Mascarenhas. “E o fato éque os recursos em infraestrutu-

ra têm sido muito frágeis nos últi-mos anos todos. Esta é, aliás, amaior motivação para lançar oPAC 2. Percebe-se uma dificulda-de muito grande de o governoconseguir, por meio de suas es-truturas, ir adiante com as obrasque ele mesmo planeja, um pro-blema central de gestão.”

Ele aponta falta de bons proje-tos, de boa fiscalização e de mãode obra com a qualificação ade-quada. “Na infraestrutura físicahá uma deficiência muito gran-de de investimentos na questãodo transporte de carga, caso dosportos, cuja gestão e investimen-tos oneram os custos e os fretes.Nas ferrovias e rodovias a situa-ção é semelhante: má conserva-ção, gargalos entre os modos di-ferentes de transportes”, diz odirigente.

Pacote. O governo anunciouum pacote de R$ 133 bilhões de

investimentos em ferrovias e ro-dovias, dos quais R$ 79,5 bilhõesprevistos para um período de cin-co anos e R$ 53,5 bilhões para umperíodo de até 25 anos.

Mascarenhas fez três observa-

ções a respeito do plano. “O pri-meiro é que este gesto do gover-no significa finalmente umapreocupação sobre o assunto, al-go que os empresários vêm ob-servando há muito tempo. Va-

mos lembrar que quando se falaem infraestrutura são necessá-rias políticas públicas, isto é, nãohá uma solução do ponto de vis-ta privado sem que haja uma deci-são de estado. Na prática, o quese observa é uma abertura muitogrande ao reconhecer a necessi-dade de se convocar os empresá-rios, até porque, se for o contrá-rio, os problemas se agravarão”,diz o dirigente.

O segundo ponto é a criaçãoda Empresa de Planejamento eLogística (EPL), elogiada porele. “Refiro-me a um planeja-mento de qualidade, uma facetade inteligência do processo quepermite avanços, com interlocu-tores do setor privado”, explica.

Por fim, ele observa que o volu-me das obras ainda é “insuficien-te para qualificar o Brasil comoum país desenvolvido no seu sis-tema de transporte”.

“É pouco para qualificarmoso Brasil como um país industria-lizado”, argumenta o presiden-te do comitê da CNI. “Mas o queimporta neste instante é que ogoverno deu a abertura, e agorao que será feito é reunir forças.”/ C.D.

Fóruns Estadão BRASIL COMPETITIVO

A pesar de esforços para esta-belecer um modelo econô-mico brasileiro de sucesso,não há desenvolvimento

que se mantenha sem um sistema deinfraestruturabemplanejado,implan-tado e em constante conservação. NoBrasil, hágrandes desafios e oportuni-dades para o desenvolvimento da in-fraestrutura, mas a questão mais im-portante e que definirá os resultadosé: o País está preparado?

Asinfraestruturas podemserdividi-das em dois grupos: não econômicas eeconômicas.As não econômicas com-põem toda a rede social, que inclui

educação, saneamento, habitação, meioambiente, etc. Já as econômicas influen-ciam diretamente o desenvolvimento doPaís e incluem setores como transpor-tes, energia e telecomunicações.

Na categoria não econômica, há umpassivo histórico no atendimento dasnecessidades básicas da população, co-mo a infraestrutura de saneamento bási-co. Dados do IBGE indicam que, em2008, apenas 55% dos municípios ti-nham serviço de esgotamento sanitáriopor rede coletora.

Já nas infraestruturas econômicas, osinvestimentos precisam ser feitos paramelhorar e expandir capacidades insta-ladas. Parte do problema decorre da fal-ta de conservação e modernização, queacabaram por sucatear muitas infraes-truturas que precisam ser, em vários ca-sos, totalmente repensadas. Tal cená-rio representa desafios muito grandespara o País, mas oportunidades igual-mente magníficas.

Os investimentos em infraestruturaeconômica viabilizam ciclos sustentá-veis de desenvolvimento, traduzindo-se em crescimento do Produto InternoBruto (PIB). A análise de indicadores de

países como China, Índia e Coreia doSul (que respectivamente investem nototal, incluindo infraestrutura econômi-ca, 48%, 37% e 28% do seu PIB) sugereuma relação entre crescimento da eco-nomia e investimentos em transportes,energia e telecomunicações. O foco doschineses em modernizar os portos foifundamental para o aumento de seu co-mércio exterior, enquanto os investi-mentos em aeroportos geraram o au-mento do fluxo de pessoas e cargas.

Os investimentos em infraestruturaeconômicadevemantecipar-se àdeman-da. Mas isso não significa que a constru-ção de infraestrutura deva ser utilizadaindiscriminadamente como indutora dodesenvolvimento. Os investimentos fei-tos pela Grécia para os Jogos Olímpicosde Atenas não resultaram numa onda dedesenvolvimento duradouro, pois nãofocaram em atender demandas futuras.Com importantes eventos como a Copae a Olimpíada, o Brasil deve assegurarque os investimentos atendam não só oseventos, mas o País no longo prazo.

Para que as infraestruturas sejam de-senvolvidas de forma lógica, é importan-te que os investimentos sejam feitos

com base nas projeções de demanda e seestabeleçam metas de acompanhamen-to. Nesse quesito, o Brasil vem fazendo alição de casa, com iniciativas como o Pla-no Nacional de Logística de Transpor-tes, Plano Nacional de Logística Portuá-ria e o recém-lançado Plano Nacional deLogística Integrada, que apontam os in-vestimentos necessários em transpor-tes. Já o Plano Nacional de Energia e oPlano Decenal de Expansão de Energiaapontam necessidades do setor elétrico.Entretanto,uma dasprincipais dificulda-des tem sido concretizar propostas emações nos prazos previstos.

A falta de investimentos em níveisadequados e no tempo correto pode le-var a diferentes consequências. Para al-guns tipos de infraestrutura, gera colap-sos e interrupções, como o racionamen-to de energia, no começo da década de2000. Já em outros tipos, a falta de inves-timento, apesar de não provocar inter-rupções, leva à deterioração dos servi-ços e ao aumento de custos. A falta deinvestimentos nas rodovias e ferroviasprovoca aumentos de frete, utilizaçãode rotas menos eficientes e maior manu-tenção da frota.

Uma das soluções adotadas no Bra-sil para garantir investimentos temsido a concessão à iniciativa privada,como a dos aeroportos de Guarulhos,Campinas e Brasília, e o recente anún-cio do pacote de concessões de rodo-vias e ferrovias. De fato, os avançosobtidos em concessões no passado fo-ram consideráveis em diversos seto-res. Entretanto, o sucesso desse mo-delo requer uma organização institu-cional, com mecanismos de regula-ção e fiscalização.

O desenvolvimento de infraestru-tura nos países é um dos motores docrescimento econômico. No caso doBrasil, a demora em realizar novosinvestimentos pode limitar o desen-volvimento sustentável. Cabe aoPaís se organizar para desenvolver assuas infraestruturas para que maisum ciclo de crescimento possa ter iní-cio, que seja duradouro e traga benefí-cios para a sociedade.

LUIZ VIEIRA E CARLOS EDUARDO GONDIM

SÃO, RESPECTIVAMENTE, VICE-PRESIDEN-

TE E DIRETOR DA BOOZ & COMPANY

‘O PAC é só o início damodernização’, diz Mascarenhas

Investimentos eminfraestrutura econômicadevem antecipar-se àdemanda de forma a atendero País no longo prazo

HÉLVIO ROMERO/AE

FOTOS HÉLVIO ROMERO/AE

ÍNDICE DE COMPETITIVIDADE GLOBAL

País Posição Pontuação

Suíça 1 5,72

Cingapura 2 5,67

Finlândia 3 5,55

Suécia 4 5,53

Holanda 5 5,50

Alemanha 6 5,48

Estados Unidos 7 5,47

Reino Unido 8 5,45

Hong Kong 9 5,41

Japão 10 5,40

Brasil 48 4,40

Gargaloscomeçamna porta dasindústriasInfraestrutura deficiente anula acompetitividade dos produtos brasileiros

Carlos DiasESPECIAL PARA O ESTADO

Entre os empresários brasilei-ros é comum dizer que o pro-duto brasileiro é competitivoda porta para dentro da fábri-ca, mas a falta de infraestrutu-ra elimina esta vantagem. Re-cente levantamento da Asso-ciação Brasileira para o Desen-volvimento da Infraestrutura(Abdib), com base em estudodo Fórum Econômico Mun-dial, mostra que o Brasil apre-senta problemas crônicosquando o tema é competitivi-dade relacionado à gestão pú-blica.

De 144 países pesquisados, oPaís ocupa a lanterna em relaçãoao “peso da regulação para os ne-gócios” e “extensão e efeito detributação”.Paulo Godoy, presi-dente da Abdib, lembra que em2011 o Brasil investiu o equivalen-te a 4,18% do PIB em infraestru-

tura. A Tailândia, que mais teminvestido neste setor no mundo,aplica 15% do que produz inter-namente.

Para o dirigente, seria precisoum esforço concentrado em qua-tro pontos para melhorar o qua-dro brasileiro: maior desonera-ção para os investimentos, efi-ciência na gestão do Estado, li-nhas de financiamento maisacessíveis para projetos e am-pliar o programa de concessões.

O economista Gesner de Oli-veira, presidente da GO Associa-dos, lembra que entre os Brics(Brasil, Rússia, Índia e China) aqualidade da infraestrutura bra-sileira está abaixo dos demaisemergentes.

“Um levantamento do GlobalCompetitiveness Report revelaque o Brasil está atrás da China eda Índia, mas à frente da Rússiano ranking de competitividade.Quanto à infraestrutura, perde-mos para a Rússia, China mas so-

mos superiores a Índia”, afirma.Um estudo comparativo feito

pela Confederação Nacional daIndústria (CNI) cita como exem-plo o custo de exportação de soja

do Brasil e dos Estados Unidospara o porto de Hamburgo, naAlemanha. A participação dotransporte no custo total da sojaembarcada (rodoviário, maríti-mo e fluvial) é de 31% no portode Paranaguá, mas cai para 20%via Minneapolis, nos EstadosUnidos.

Interferência. O diretor de In-fraestrutura da CNI, José de Frei-tas Mascarenhas, revela que em2008 a entidade enumerou dezitens que à época interferiam nacompetitividade dos produtosbrasileiros.

Entre os dez, destaque para oscustos de portos e aeroportos,frete internacional, transporteinterno e de manuseio em arma-zéns nos portos. “O que assisti-

mos é um esforço correto do go-verno para corrigir estes proble-mas com o PAC, mas em uma ve-locidade ainda aquém da neces-sária,” acrescenta.

Luciano Coutinho, presiden-te do BNDES, lembra que nesteano os investimentos em infraes-trutura devem chegar a R$ 194bilhões, um crescimento real de6% em relação a 2011.

“O governo da presidente Dil-ma tem trabalhado para os fun-damentos para um ciclo de cres-cimento de longo prazo, o que éimprescindível”, diz Coutinho.

Neste ano, o Brasil ficou pelaprimeira vez entre os 50 paísesmais competitivos no RelatórioGlobal de Competitividade doFórum Econômico Mundial. OPaís subiu cinco colocações, fi-

cando em 48.º.Alguns dos destaques negati-

vos foram a “qualidade da in-fraestrutura de transportes”, emque o Brasil ficou no 79º lugar, a“qualidade da educação” (116.ºlugar) e o “volume de taxação co-mo limitador ao trabalho e inves-timentos” (144.º lugar).

Nas entrevistas feitas com exe-cutivos brasileiros, a “oferta ina-dequada de infraestrutura” fi-cou em segundo lugar entre osfatores mais problemáticos parase fazer negócios no Brasil, com17,5% das respostas.

Em primeiro lugar, ficaram as“regulações tributárias”, com18,7%, e, em terceiro, a “carga tri-butária”, com 17,2%, seguida da“burocracia governamental ine-ficiente”, com 11,1%.

Escassez. Mascarenhas não considera o plano suficiente

Painel. Paulo Godoy, Leandro Modé, Luciano Coutinho e Gesner de Oliveira participaram de painel no fórum Brasil Competitivo

●✽LUIZ VIEIRA CARLOSEDUARDO GONDIM

● Desafio

Presidente de comitêdo CNI estápreocupado coma velocidade deimplantação dos projetos

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JOSÉ DE FREITASMASCARENHASPRESIDENTE DO COMITÊ DEINFRAESTRUTURA DA CNI“Um país como o Brasil precisade uma imensidão deinvestimentos.”