Gutierrez,GraceCristinaRoel

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i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO Avaliao do Desempenho Trmico de Trs Tipologias de Brise-Soleil Fixo Grace Cristina Roel Gutierrez Campinas 2004 iii UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO Avaliao do Desempenho Trmico de Trs Tipologias de Brise-Soleil Fixo Grace Cristina Roel Gutierrez Orientadora: Prof Dr Lucila Chebel Labaki DissertaodeMestradoapresentada Comissodeps-graduaodaFaculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo daUniversidadeEstadualdeCampinas, comopartedosrequisitosparaobtenodo ttulo de Mestre em Engenharia Civil, na rea de concentrao de Edificaes. Campinas, SP 2004 iv FICHACATALOGRFICAELABORADAPELABIBLIOTECADAREADEENGENHARIAEARQUITETURA-BAE-UNICAMP G985a Gutierrez, Grace Cristina Roel Avaliao do desempenho trmico de trs tipologias de Brise-Soleil fixo/ Grace Cristina Roel Gutierrez.--Campinas, SP: [s.n.], 2004. Orientador: Lucila Chebel Labaki Dissertao (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. 1. Conforto trmico.2. Arquitetura e radiao solar.3. Calor Radiao e absoro - Medio.4. Calor solar Medio.I. Labaki, Lucila Chebel.II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.III. Ttulo. Titulo em Ingls: Thermal performance of three different fixed shading devices Palavras-chave em Ingls: Shading devices, Sun-breaker, Thermal performance, Sun control, Prototypes measurements rea de concentrao: Edificaes Titulao: Mestre em Engenharia Civil Banca examinadora: Rosana Maria Caran de Assis, Leonardo Salazar Bittencourt, Leandro Silva Medrano Data da defesa: 03/12/2004 v UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO Avaliao do Desempenho Trmico de Trs Tipologias de Brise-Soleil Fixo Grace Cristina Roel Gutierrez Dissertao de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituda por: Campinas, 03 de Dezembro de 2004 vii DEDICATRIA Para Ricardo, com amor, meu norte, meu sul, meu leste e oeste. Para nossas meninas, Sabrina e Bruna. ix AGRADECIMENTOS ProfDrLucilaChebelLabaki,minhainspiradora,porsuaorientaonorteadorae pacincia. Por ter enxergado e aprimorado um potencial que desconhecia; AoRicardo,meuesposoemaiorincentivador,peloseuapoiooperacionale experimental, e pela reviso do texto deste trabalho; Adriana, amiga e companheira de campo, pela sua colaborao em todo o processo experimental; FAPESP,quefinanciouaaquisiodeequipamentoseconstruodosprottipos, atravs do Auxlio Pesquisa (Processo 99/11097); Lia e ao Mariano, grandes amigos, pelo auxlio na execuo das janelas e brise-soleil; AostcnicosObadiaseDanieldoLACAMFEC,pelotrabalhorduo,apoio experimental nos prottipos e monitorao dos dados; Prof Dr Rosana Caram, pelo apoio no planejamento dos prottipos da pesquisa; AoProf.Dr.CarlosTadeudosSantosDiasdoDepartamentodeCinciasExatasda ESALQ/USP, e ao sr. Geneville, pela colaborao no tratamento estatstico; Ao sr. Mauro do Laboratrio de Espectrofotometria da EESC USP, pelo seu auxlio nos testes de espectrofotometria das amostras de cores do brise-soleil; Ao amigo Ivan, pela sua colaborao no tratamento das imagens; Kika e Rubia, que participaram das discusses do grupo de pesquisa nos prottipos; Ao Prof. Dr. Osny Pelegrino Ferreira, pela memria do grupo de pesquisa; Ao Guto, que auxiliou no transporte das janelas dos prottipos; E tambm as pessoas que de uma ou outra forma apoiaram o desenvolvimento desse trabalho, Ilza, Maria, e Roberto Bocchio.OBRIGADO xi Para o arquiteto to importante saber projetar um brise tanto quanto um pilar. Louis Kahn (apud Vianna & Gonalves, 2001) xiiiSUMRIO pgina Lista de Figuras.......xv Lista de Tabelas.......xix Lista de Equaes.......xix Lista de Quadros.......xx Resumo.......xxi Abstractxxiii 1. Introduo.......01 2. Objetivos.......05 3. Reviso bibliogrfica .......07 3.1 Adequao ao clima......07 3.1.1 Adaptabilidade humana ao clima....07 3.1.2 Abrigo e arquitetura.....11 3.1.3 Adequao da arquitetura ao clima...14 3.2 Brise-soleil.......19 3.2.1 A criao do brise-soleil.....21 3.2.2 O brise-soleil na arquitetura moderna brasileira..23 3.2.3 Caractersticas......39 3.2.4 Indicao .......42 3.2.5 Funcionalidade......45 3.2.6 Avaliao da eficincia do brise-soleil...49 xivpgina 4. Materiais e mtodos.......63 4.1 Caracterizao da rea de estudo....63 4.2 Descrio dos prottipos ......67 4.3 Descrio do brise-soleil......74 4.4 Perodos, horrios e intervalos das medies...82 4.5 Equipamentos.......83 4.6 Coleta de dados.......90 5. Resultados e discusso......93 5.1 Temperatura interna......101 5.2 Temperaturas superficiais.....116 5.3 Anlise estatstica......128 5.4 Consideraes finais......138 6. Concluso........141 7. Referncias bibliogrficas......145 Anexos .........151 Anexo I Radiao solar......153 AnexoII Clculo do painel equivalente....161 Anexo III Tempo solar......169 Apndice........173 xvLista de Figuras Captulo 3. Reviso Bibliogrficapgina 3.1. Edifcio da Associao Brasileira de Imprensa - ABI..24 3.2. Edifcio da Obra do Bero ......25 3.3. Pavilho do Brasil na Feira Mundial de Nova York ..25 3.4. Detalhe do brise-soleil do Ministrio da Educao e Sade.26 3.5. Edifcio do Ministrio da Educao e Sade MES..26 3.6. Estudo para projeto do brise-soleil horizontal mvel do MES.28 3.7. Edifcio Bristol.......29 3.8. Edifcio Calednia .......29 3.9. Conjunto Residencial do Pedregulho Bloco A...30 3.10. Conjunto Residencial do Pedregulho, acesso ao bloco A..30 3.11. Conjunto Residencial do Pedregulho Bloco B...31 3.12. Conjunto Residencial do Pedregulho, vista posterior do bloco B.31 3.13. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro...31 3.14. Detalhe da fachada do edifcio Sede do Instituto de Previdncia do Estado da Guanabara, RJ.......32 3.15. Edifcio Sede do Instituto de Previdncia do Estado da Guanabara, RJ32 3.16. Detalhe do Edifcio Seguradoras.....32 3.17. Edifcio Clemente de Faria.....33 3.18. Edifcio Instituto Vital Brazil, fachada posterior...33 3.19. Casa de Heitor Almeida......34 3.20. Casa de Joo Paulo de Miranda Neto....34 3.21. Varanda da Casa de Joo Paulo de Miranda Neto ...34 3.22. Edifcio Caramuru ......35 3.23. Edifcio Renata Sampaio Ferreira.....36 3.24. Detalhe da trama da fachada do Edifcio Renata Sampaio Ferreira36 3.25. Residncia no Jardim Paulista.....36 3.26. Residncia do arquiteto Oswaldo Bratke....37 3.27. Residncia da rua Sucia .....37 xvipgina 3.28. Edifcio Copan.......38 3.29. Edifcio Copan, detalhe do brise-soleil....38 3.30. Edifcio Copan, vista da fachada principal...38 3.31. Maquete do edifcio Copan.....38 3.32. As tipologias de brise-soleil e mscaras de sombra...39 3.33. Absoro, reflexo e transmisso da radiao solar incidente sobre as superfcies........47 Captulo 04. Materiais e Mtodos 4.34. Mapa do Campus da UNICAMP.....64 4.35. Localizao dos prottipos no terreno da FEC...64 4.36. Diferena da radiao solar em funo das condies de cu.65 4.37. Carta Solar de Campinas......66 4.38. Vista geral dos seis prottipos no terreno da FEC...67 4.39. Vista de dois prottipos......69 4.40. Vista dos prottipos finalizados.....69 4.41. Implantao, planta e cortes dos prottipos...70 4.42. Fachadas dos prottipos......71 4.43. Face norte.......73 4.44. Face leste.......73 4.45. Face sul........73 4.46. Face Oeste.......73 4.47. As trs tipologias de brise-soleil em ensaio....74 4.48. Mscaras de sombra para as trs tipologias em estudo..75 4.49. Carta Solar de Campinas, e identificao do perodo de calor excessivo75 4.50. Mscaras de sombra sobre carta solar de Campinas..76 4.51. O elemento vazado utilizado e suas dimenses...77 4.52. Vistas externa e interna da janela com elemento vazado..77 4.53. Prottipos com brise-soleil vertical de madeira e concreto..78 4.54. Prottipos com brise-soleil horizontal....78 4.55. Grfico de refletncias das amostras de tons de cinzas...79 xviipgina 4.56. Grfico de refletncia 50%, amostra selecionada...80 4.57. Vista dos prottipos sem os dispositivos....80 4.58. Vista dos prottipos com dispositivos na fachada norte..80 4.59. Vista dos prottipos com dispositivos na fachada oeste..81 4.60. rea experimental com identificao dos prottipos..81 4.61. Vista dos prottipos......84 4.62. Estao meteorolgica......84 4.63. Esquema da estao meteorolgica Campbell Scientific..86 4.64. Sensores da estao meteorolgica....87 4.65. Posicionamento dos sensores nos dispositivos de proteo.89 4.66. Posicionamento dos sensores no ambiente interno..89 Captulo 05. Resultados e Discusso 5.67. Grfico de temperatura e umidade relativa para o perodo de 11 a 18/0195 5.68. Grfico de radiao solar para o perodo de 11 a 18/01..95 5.69. Grfico de temperatura e umidade relativa para os dias 09 e 10/0296 5.70. Grfico de radiao solar para os dias 09 e 10/02...96 5.71. Grfico de temperatura e umidade relativa para o perodo de 20 a 25/0397 5.72. Grfico de radiao solar para o perodo de 20 a 25/03..97 5.73. Grfico de temperatura e umidade relativa para o perodo de 26/03 a 02/04 .........98 5.74. Grfico de radiao solar para o perodo de 26/03 a 02/04 ..98 5.75. Grfico de temperatura e umidade relativa para o perodo de 26/06 a 01/07.........99 5.76. Grfico de radiao solar para o perodo de 26/06 a 01/07 ..99 5.77. Grfico de temperatura e umidade relativa para o perodo de 03 a 07/07100 5.78. Grfico de radiao solar para o perodo de 03 a 07/07..100 5.79. Grfico de temperatura do ar no perodo de 11 a 18/01 fachada norte102 5.80. Grfico de temperatura do ar nos dias 09 e 10/02 fachada oeste 102 5.81. Grfico de temperatura do ar no perodo de 20 a 25/03 fachada oeste106 xviiipgina 5.82. Grfico de temperatura do ar no perodo de 26/03 a 02/04 fachada norte .........106 5.83. Grfico de temperatura do ar no perodo de 26/06 a 01/07 fachada oeste........110 5.84. Grfico de temperatura do ar no perodo de 03 a 07/07 fachada norte110 5.85. Grficos de temperatura do ar, aberturas situadas na fachada norte (vero, outono, inverno).......113 5.86. Grficos de temperatura do ar, aberturas situadas na fachada oeste (vero, outono, inverno).......115 5.87. Grfico de temperaturas superficiais no perodo de 11 a 18/01 fachada norte.........118 5.88. Grfico de temperaturas superficiais nos dias 09 e 10/02 fachada oeste118 5.89. Grfico de temperaturas superficiais no perodo de 20 a 25/03 fachada oeste.........120 5.90. Grfico de temperaturas superficiais no perodo de 26/03 a 02/04 fachada norte.......120 5.91. Grfico de temperaturas superficiais no perodo de 26/06 a 01/07 fachada oeste........122 5.92. Grfico temperaturas superficiais no perodo de 03 a 07/07 fachada norte.........122 5.93. Grficos de temperaturas superficiais, aberturas situadas na fachada norte (vero, outono, inverno)......125 5.94. Grficos de temperaturas superficiais, aberturas situadas na fachada oeste (vero, outono, inverno)......126 xixLista de Tabelas Captulo 03. Reviso Bibliogrfica pgina 3.1. Coeficiente de sombra para diferentes elementos de proteo solar.52 Captulo 04. Materiais e Mtodos 4.2. Dados climticos da regio de Campinas....65 Captulo 05. Resultados e Discusso 5.3. Dados de direo e velocidade dos ventos para o perodo de 11 a 18/0195 5.4. Dados de direo e velocidade dos ventos para os dias 09 e 10/0296 5.5. Dados de direo e velocidade dos ventos para o perodo de 20 a 25/0397 5.6. Dados de direo e velocidade dos ventos para o perodo de 26/03 a 02/04 98 5.7. Dados de direo e velocidade dos ventos para o perodo de 26/06 a 01/07 99 5.8. Dados de direo e velocidade dos ventos para o perodo de 02 a 07/07100 Lista de Equaes Captulo 03. Reviso Bibliogrfica pgina 3.1. Coeficiente de absoro, reflexo e transmisso....46 Captulo 05. Resultados e Discusso 5.2. Modelo matemtico do delineamento experimental da ANVA.129 xxLista de Quadros Captulo 3. Reviso Bibliogrficapgina 3.1 Diferenas entre adaptao e ajuste.... 10 3.2 Comparao entre orientaes indicadas para uso do brise-soleil. 42 3.3 Indicao de tipologia em relao orientao da fachada .. 43 3.4 Necessidade de proteo solar, ms x orientao, em Londrina PR 44 Captulo 5. Resultados e Discusso 5.5. Comparaes simples e duplas.....131 5.6. Comparaes triplas e qudruplas....131 5.7. Interao entre fatores para temperaturas internas..132 5.8. Interao entre fatores para temperaturas superficiais superiores ou esquerda .........135 5.9. Interao entre fatores para temperaturas superficiais inferiores ou direita .........136 5.10. Comparao entre os resultados da interao entre fatores para cada varivel analisada........137 xxi RESUMO Estapesquisaavaliaodesempenhotrmicodobrise-soleil,emrelao radiaosolarincidenteemambientescomaberturasprotegidas.Osdispositivos testadosforamselecionadosconsiderandoastipologiasemateriaisutilizadosem edificaesdaarquiteturamodernabrasileiraentreosanos1930e1960.O desempenhotrmicodobrise-soleilreconhecidoemestudosdegeometriade insolao e simulao com software, porm so raras as avaliaes experimentais sob condiesclimticasreais.Ametodologiautilizadabaseadaempesquisasde desempenhotrmicodeelementosecomponentesconstrutivosrealizadasem prottipos.Atravsdeumsistemadeaquisiodedadossoverificadas:variveis ambientais (temperatura do ar, umidade relativa, radiao solar, pluviosidade, direo e velocidadedosventos),evariveismedidasnosprottipos(temperaturasdoare superficiais).Osensaiosdecampoforamrealizadosemprottiposlocalizadosem Campinas, SP. Foram testados brise-soleil horizontal e vertical em madeira e concreto, eelementovazado(concreto),fixos,expostosnasfachadasnorteouoeste,durante uma semana em cada orientao, nos perodos prximos aos equincios e solstcios de vero e inverno. Nos ensaios realizados, os resultados mostraram a reduo pontual de at 4,14C na temperatura interna, sendo o melhor desempenho trmico o da tipologia combinada.Obrise-soleilverticalfixoperpendicularfachadaapresentouospiores resultados na fachada oeste, contrariando indicaes usuais da literatura arquitetnica. Palavras Chave: brise-soleil, proteo solar, desempenho trmico, avaliao em prottipos. xxiiiABSTRACT In this work the thermal performance of shading devices regarding solar radiation inindoorspaceswithprotectedopeningsisanalyzed.Thetypologyandmaterialsof shadingdeviceswereselectedconsideringtheelementsusedinBrazilianmodern architecture buildings between the 1930 and 1960 decades. Most studies about shading devicesarebasedongeometricdrawingsandsoftwaresimulationanalyzingthe efficiencyofprovidedprotectionduringspecificperiods,howevertherearefew experimentalworksperformedunderrealclimateconditions.Inthisinvestigation,three differentdeviceswereevaluatedinthemostproblematicconditionsofexposure,by acquiringmeasurabledataofexternalparameters(airtemperature,relativehumidity, solar radiation, rain, wind speed and direction) and internal parameters (air temperature andsurfacetemperatures)toverifytheirefficiency.Theseexperimentswereconducted atSchoolofCivilEngineering,ArchitectureandUrbanDesignofStateUniversityof Campinas(UNICAMP)intheStateofSoPaulo,Brazil.Theinvestigateddeviceswere horizontalandverticalsun-breakersofconcreteandwood,andconcreteeggcratesun-breaker, fixed, on north and west exposures, for a week in each faade, in equinox and summerandwintersolsticesperiods.Inthesetests,theeggcratetypologyshowedthe bestthermalperformance,withapunctualreductionofupto4,14Coninternalair temperature.Theverticalfixeddevicesregisteredtheworstresultsonwestfaade,in contrast with current Brazilian architectural literature recommendation. Keywords: shading devices, thermal performance, sun control, prototypes measurements. 1 1. INTRODUO A edificao, o abrigo, possui funo de proteo s intempries, s variaes doclima.Diferentesestilos,tcnicasconstrutivaseprogramasarquitetnicos respondemmaisoumenossatisfatoriamentenecessidadedeproteoutilizando tcnicas,materiaiseelementosconstrutivosdisponveisemcadapoca,criando espaos adequados s necessidades humanas. No Brasil, a influncia da radiao solar sobre as edificaes crtica devido faixa de latitudes do pas (entre 5 N e 34S1) e ao clima, na sua maioria, caracterizado pela grande insolao, alta umidade relativa e predominncia do perodo quente. Para asseguraroconfortotrmicodosusuriosdeumaedificaofaz-senecessrioo controle do ganho de calor solar. O brise-soleil ou quebra-sol2 um dispositivo de proteo solar, constitudo por umaoumaislminas,geralmenteparalelas,externasedificao.umelemento construtivo que permite minimizar o aporte de calor solar pela envoltria da edificao, principalmente nas aberturas e superfcies transparentes ou translcidas. A importncia

1 O limite da fronteira norte do Brasil o Monte Roraima - RO ( 5 N), sendo Oiapoque - AP (3 54 N) a cidade mais a norte do pas. A cidade de Chu - RS (33 40 S) localiza-se na fronteira sul. 2Brise-soleil,quebra-sol,sun-breakers,parasol,quebra-luz,corta-luz,externalshadingdevices,soalgumasdasdenominaes dadas a esse elemento construtivo. Segundo Corona e Lemos (1972), a expresso brise-soleil um termo de aplicao constante na linguagem comum da arquitetura contempornea brasileira, que provm do francs brise-soleil, cuja traduo literal quebra-sol, apesar de designar a mesma coisa, no atingiu a popularidade do vocbulo brise, que por isso mesmo, dever fazer parte de nossa lngua como aquisio definitiva. 2dessedispositivopassivoresidenareduodaincidnciadaradiaosolardiretana edificao em funo do sombreamento proporcionado. O bom desempenho trmico do brise-soleilreconhecidoemvriaspesquisasdesenvolvidasatravsdeestudosde geometriadeinsolaoesimulaocomsoftware;entretantosorarasasavaliaes baseadasnaaquisiodedadosexperimentaisatravsdeprottiposparamedies em campo sob condies climticas reais, para comprovao de sua eficincia. Obrise-soleil,criadoporLeCorbusierporvoltade1920,foiadotado, desenvolvido e amplamente utilizado pela arquitetura moderna brasileira em resposta necessidade de proteo radiao solar excessiva, visando o controle do calor e luz. Almdessafuno,esseelementopossuiumaexpressoformalmarcante,eadquire grande importncia caracterizando as obras realizadas entre os anos de 1930 e 1960. A disseminao de seu uso expe o desconhecimento e a falta de domnio das ferramentasdeprojetoparaacorretaorientao,especificaodetipologiae dimensionamento. Sem conhecimento tcnico, a expresso arquitetnica resultante do uso deste elemento acabou por configurar um modismo ou ornamento, passando a ser criticado pelo prprio movimento moderno. Outro fator que contribuiu para a reduo de sua utilizao e de outras solues de condicionamento passivo foi o desenvolvimento eacessibilidadeaosequipamentosdecondicionamentoartificial,principalmentedoar condicionado,resultandoemedificaesencerradaseisoladasdomeioambiente. Porm,oaltoconsumoenergticoequestesrelativaspsicologiaambiental proporcionaramdiscusses,reavaliandoousogeneralizadodessessistemas, procurandovalorizarocondicionamentonaturalesoluesquecontemplemo desenvolvimentodetecnologiaseenergiasalternativas.Aintegraodeambos- condicionamentonaturaleartificial,indicada,sendoossistemasartificiaisuma complementaoaonatural,excetoematividadesespecficasqueexijamumcontrole ambiental bastante rgido. Embora a utilizao do brise-soleil seja recomendada, proporcionando conforto ao usurio e benefcios econmicos, observa-se que a conscientizao da importncia desseelementodecondicionamentopassivomnima,bemcomodadivulgaode 3seu uso e propriedades trmicas. Prope-se o resgate desse elemento construtivo com nfasenafunodeproteosolar,avaliandosuaeficincia,projetoeindicao,e tambmvalorizaodesuaexpressoplstica.Dessaforma,esteestudoavaliao comportamentotrmicodobrise-soleilemrelaoradiaosolarincidente,em prottipos sob condies climticas reais. Os captulos que compem este trabalho esto estruturados da seguinte forma: narevisobibliogrfica,parte-sedaadequaoclimticaesuarelaocomoabrigo, comentandobrevementeumadasfunesessenciaisdaarquitetura(CORONA& LEMOS,1972).Apresentaumaabordagemhistrica(arquiteturamoderna)sobrea criaodesseelementoconstrutivo:obrise-soleil,desenvolvidoemrespostas condies climticas e que se tornou uma caracterstica marcante na expresso formal dasedificaes.SegundoBruand(2002)suautilizaonoBrasilconfereidentidade arquitetura moderna nacional. Destacadasuaimportncianaarquiteturabrasileira,obrise-soleilabordado nas suas especificidades: a identificao dos dispositivos de proteo solar - definio, funoetipologia;eavaliaodedesempenhodarelaoaplicao/eficincia, baseadanageometriadeinsolaoemtodogrfico,nasimulaocomusode softwares, e pesquisas de campo sobre desempenho trmico. Emmateriaisemtodos,apresentadaaparteexperimentaldessapesquisa. Caracterizada a rea de estudo e clima local, descreve-se os prottipos e as tipologias debrise-soleilemensaio.Osequipamentosutilizadossoapresentadosedefinidos perodosdemedioeparmetrosambientaismonitorados.Amedioemcampo testandodiferentestipologiasdebrise-soleilfoirealizadanoterrenodaFaculdadede Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP, em Campinas, SP. Nosresultadosediscusso,somostradosediscutidososresultadosdos dadoscoletados,grficoseseutratamentoestatstico.Asconclusesdessapesquisa so apresentadas no ltimo captulo. 5 2. OBJETIVOS Objetivo geral Oobjetivodestetrabalhoavaliarodesempenhotrmico,emrelao radiaosolarincidente,deprottiposcomsuperfciesverticaistransparentes protegidas por brise-soleil, tpicos da arquitetura moderna brasileira. Objetivos especficos Coleta dedados experimentais em prottipos com trs diferentes tipologiasde dispositivos de proteo e duas orientaes, em condies climticas reais. Anlisedosdadosexperimentaisobtidoscomousodesseselementosnas fachadas mais crticas, norte e oeste, em relao incidncia da radiao solar direta. Avaliaoquantitativadaeficinciadobrise-soleil,paracadatipologia, comparando os dispositivos em estudo com o prottipo referncia e seu comportamento frente ao clima. Comparaodosresultadosdeensaiosdecampocomestudosdegeometria deinsolao,analisandoasindicaesdeusocorrentes,comotipologiaeorientao, com a resposta trmica obtida. 73. REVISO BIBLIOGRFICA Para compreender a importncia do brise-soleil, pesquisou-se sobre a evoluo dosdispositivosdeproteosolar,sendoconvenienteressaltarafunoprimordial desteelemento:aproteodaincidnciadiretadaradiaosolar.Essafunoest ligadanecessidadedeproteodohomemfrentesintemprieseaoabrigouma das funes essenciais da arquitetura3. 3.1 Adequao ao clima 3.1.1. A adaptabilidade humana ao clima Aadaptabilidadehumanaaoclimainerenteaosseresvivos,poisos organismos,humanosouno,respondemacaractersticasestruturaisefuncionaisdo seuambiente(MORAN,1994).Arespostahumanafrentescondiesdomeio ambiente,porm,extremamenteflexvel,umavezqueohomematuasobreo ambiente.ParaRivero(1986)osseresvivostmtrsexignciasfundamentaispara que o seu desenvolvimento seja normal: disponibilidade de alimentos, segurana diante 3 CORONA e LEMOS, 1972. 8dapossvelagressodeoutrosindivduoseadequaodaspropriedadesfsicase qumicas do meio envolvente com a sua constituio orgnica. Estudosnareadesociologiaprocuramexplicararelaodohomemcomo meioambientesobosmaisdiversosenfoques.SegundoMoran(1994),doperodo greco-romanoat1950trsteoriasexplicamainteraodosindivduoscoma natureza.Amaisantigafoiodeterminismoambientalgreco-romano,paraoqualo homemestsujeitoaoefeitodeterminantedanaturezacujainflunciasedpormeio daaodoclima,enfatizandoanatureza.Gerbi(1996)apudSegawa(2001)comenta quenaantigidade,onexoentreclimaegnioeralugarcomum,equeHipcrates estabeleciaumarelaoentreasalteraesdoclimaeafisiologiahumana.Um exemplodessateoriaaassociaoaoclimaquentecomocausadordeuma populaopreguiosa,dentreoutrasvisestpicasdessacorrente.Filsofoscomo DavidHume,VoltaireeMontesquieusoexpoentesdessavisodeterminista geogrfico-climtica. DeacordocomoMoran(1994),duasoutrasteoriassurgiramemperodos bastante prximos, no sculo XIX e XX: o possibilismo e o evolucionismo. Nopossibilismo,omeioambientetemumlimite,umfatorderestrioparaa ao humana. Segundo Segawa (2001), no sculo XIX a relao homem/clima perde o carterincondicionaldodeterminismo,apresentandoumavisopossibilistaondese vislumbravaumainteraomenosabsolutaesubmissaentreoambienteeos humanos.Assim,comoprocessodeurbanizaoeodesenvolvimentodamedicina cientfica, o enfoque se volta questo da salubridade. Aversoadaptativa/evolutivaouevolucionismoconsideraaadaptaodos seres vivos ao meio ambiente, sendo seu maior expoente a teoria de Darwin. Teorias antropolgicas mais recentes acrescentam outros fatores na explicao darelaohomem/natureza,focadosnaaohumanasobreomeioambiente,eno desenvolvimentodetcnicasetecnologias.Estapesquisanotemoobjetivode 9abordaroutrasteoriasantropolgicas,poisenvolvequestesrelativasreligio, processo de trabalho, entre outros aspectos. ParaMoran(1994),ocorpohumanocapazdeadaptar-sepormeios genticos,fisiolgicos,comportamentaiseculturais.Dessaforma,aadaptabilidade humana envolve vrios mecanismos de adaptao e ajustes. O autor trata a adaptao basicamentecomogenticaouevolutivaeasrespostassocioculturaisefisiolgicas comoajustes,procurandofazerumadistinoentreessesmecanismos.Estas respostasdeajustes-socioculturaisefisiolgicas,(...)proporcionamummecanismo maisrpidoparaaumentaraschancesdesobrevivnciadoqueasmudanas genticas,queseacumulamaolongodevriasgeraes.Assim,asrespostas reguladorasocorremdeformarpidaerefletemaflexibilidadefisiolgicae comportamentaldeumorganismo.Quasetodocomportamentoumaformade respostareguladoraqueserveparamanterumarelaoestvelcomomeio ambiente ou que permite um ajuste a mudanas ocorridas no mesmo. As estratgias culturais de vesturio e abrigo esto entre os mecanismos reguladores mais comuns queaumentamaspossibilidadeshumanasdesobreviverevivercomrelativobem-estaremambientesvariados.Asrespostasdeaclimao4levammaistempopara entrar em operao, pois exigem uma mudana na estrutura do organismo. Para que ocorram,precisoquehajaumestmuloexternoporumperododetempo suficiente.Sogeralmentereversveisquandocessaasituaoqueproduziua alteraoorgnica.Porexemplo,odesenvolvimentomuscularemvirtudede exerccios fsicos freqentes e vigorosos reverte-se quando o indivduo passa a levar uma vida mais sedentria (MORAN, 1994). Dessa forma, a relao homem/clima ser tratada como um ajuste, pois o termo adaptaorefere-seaumapopulao,sendoumprocessolentocomalteraes genticas,envolvendoaseleonatural,erestritaaohabitat(quadro3.1),condies 4 Segundo o dicionrio Aurlio, os termos aclimao e aclimatao so sinnimos. Holanda (1999) define aclimao: [de aclimar + ao] sf. 1. Ato ou efeito de aclimar. 2. biol. Faculdade que tem um ser vivo de, custa de algumas modificaes, viver e reproduzir-se em novo meio, diferente do habitual. 3. p. ext. Adaptao, ajustamento. E aclimar: [de a+ clima +ar] vtd.1. Habituar a um clima. 2. Habituar, acostumar, afazer, adaptar.(...). E define tambm: adaptao: [de adaptar + ao] sf. 1. Ao ou efeito de adaptar-se. 2. biol. Ajustamento de um organismo, particularmente do homem, s condies do meio ambiente. (...); e ajustar: [de a + justo + ar] vtd. 1. Tornar justo, exato, unir bem, igualar. 2. Convencionar, combinar, estipular. 3. Adaptar, acomodar, harmonizar. (...). 10questempossibilidadedeocorrerquandoumadeterminadapopulaoencontra-se isoladageograficamente,semcontatocomquaisqueroutrosgruposhumanos. Analisandoaaodohomemsobreomeioambiente,seusavanostecnolgicos, aprimoramentosdamedicina,condicionamentoartificial,biotecnologiaeoutros;bem comoosresduosprovenientesdaaohumana,vriospesquisadoresargumentam que o processo de seleonatural tornou-se invlidopara o ser humano ou discutem-no com srias restries. MecanismoNvelTempoClassificaoCaractersticasTipoFlexibilidade VantagemLimitaoAdaptaoPopulaolentaGentica ou evolutiva Alteraes nas freqncias dos genes-Irreversvelreprodutiva, seleo natural restrita ao habitat Desenvolvi-mento Irreversvelajuste vitalcio, caracterstico de um determinado ambiente ocorre na infncia e juventude FisiolgicasMudanas na estrutura orgnica ou em seu funcionamento AclimaoReversvel uma adequao temporria a um determinado local ocorre aps a fase de desenvolvi-mento AjustesIndivduorpida SocioculturaisAbrigo, vestimenta, e vrias formas de organizao social ReguladoresReversvelso mais rpidas e mais comuns, comportamentais, dependem menos do organismo fsico refletindo sua flexibilidade fisiolgica depende da ao do homem sobre o meio ambiente Quadro 3.1 Diferenas entre adaptao e ajuste (quadro desenvolvido pela autora, baseado em texto de MORAN, 1994). SegundoRivero(1986),cadaservivotempoderesdeadaptaoquelhe permitemsobreviverquandoalgumadaquelasvariveissemodifica;massempre possvelestabelecerlimitestimosdentrodosquaiscadaespciesedesenvolveem suaplenitude.Assim,forampesquisadosndicesdeconfortoparaoserhumano identificandovalorestimosdetemperatura,presso,umidade,luminosidade,nvel sonoro,contedodeoxignioeanidrodecarbonorequeridospeloseuorganismo. Estesparmetrosdependemdaaclimaodoindivduo,dasuaidadeesexo,mas sempre chegaremos a valores extremos vlidos para toda a espcie. Os trabalhos de maior destaque na rea de fisiologia humana e conforto trmico foram os desenvolvidos por Fanger (1972), e Humphreys (1976). Ohomemonicoserqueagesobreomeioambiente,eLemos(1999),ao comentar o trabalho de Eunice Durham coloca que ... o homem foi o nico animal que 11organizousuacondutacoletivaatravsdesistemassimblicos,propiciandouma formaespecficadeadaptaoeutilizaodoambiente,comoenvolvimentoda produodeconhecimentos,detcnicasoucomportamentospadronizados.E acrescenta ... nesse sentido, todo o comportamento humano artificial e no natural. Ohomem,assim,construiuumambientenoqualviveeoqualestcontinuamente transformando.Acultura,propriamente,essemovimentodecriao,transmissoe reformulao desse ambiente artificial. Rivero (1986) descreve que a vestimenta a primeira tentativa de criar ao seu redor um meio adequado. (...) lhe permite movimentar-se por outros ecossistemas mais hostis, (...), ampliando assim a dimenso do meio habitvel. Porm, a vestimenta no uma soluo satisfatria para realizar a maioria das funes humanas. Aparece ento aenvolventequeampliaoespaoacondicionado...,sendoaltimaetapadesta evoluoacidade.Econclui,umprojetoadequado,comoveremos,permitiria melhorar sensivelmente suas condies de habitabilidade. 3.1.2. Abrigo e arquitetura A adequao ao clima sempre foi um fator determinante para a implantao de grupos humanos e domnio de territrio, e das tipologias construtivas desenvolvidas. A fixaodegruposhumanosnumlocalounumdeterminadoterritriogeroua necessidade da construo e abrigos que atendessem essas exigncias de proteo ao clima.Apermannciadessesgruposnesseslocaisporgeraesproporcionouum conhecimento do clima, do solo e da vegetao, que foram continuamente incorporados naculturaconstrutiva,limitadaacondicionantesclimticas,materiaisdisponveise tcnicasconstrutivasusuais.Aproteoaoclimaasseguradapeloabrigoest relacionadaabordagemrelativaaosajustes,principalmenteasrespostas socioculturais, sendo imperativo sobrevivncia da espcie. 12interessantedefiniroconceitodeabrigo.Emdicionriosdalngua portuguesa,comoHouaiss&Villar(2001)eHolanda(1999),osentidodoabrigo aquecer ao sol, abrigar-se do frio, e especificamente algo ou local que oferece proteo contra os rigores do tempo sol, chuva, vento, e neve. J em dicionrios especficos de arquitetura encontra-se: Abrigo Qualquer espao coberto. O termo particularmente aplicado quando referidoconstruosituadaemespaoaberto,comousemparedesde vedao, destinada a proteger as pessoas das intempries... (CHING, 2000). Abrigo lugar onde o homem pode ficar e que constitua um meio de proteo contraaintemprie,chuva,vento,friooucalorexcessivoeaneve.Todae qualquerconstruoconcebidacomaintenodevencerumespaoparauso dohomem,umadasfunesessenciaisdaarquitetura.SegundoAndr Wogenscky: graas a ele (o abrigo) o homem pode viver em climas que de outra maneiranopoderiamsersuportados,emregiesquelheseriaminterditadas, tirando dele o melhor proveito. Habitao. (CORONA & LEMOS, 1972) Assim, a funo do abrigo oferecer proteo ao clima e principalmente que o abrigoumadasfunesessenciaisdaarquitetura.Entretanto,quandosedefine arquitetura, o sentido do abrigo praticamente desaparece. Para Houaiss & Villar (2001): Arquitetura(dolatimarchitectura).s.f.1.ARQarteetcnicadeorganizar espaos e criar ambientes para abrigar os diversos tipos de atividades humanas, visandotambmadeterminadaintenoplstica.2.ARQconjuntodasobras arquitetnicasexecutadasemdeterminadocontextohistrico,socialou geogrfico.3.ARQmaneirapelaqualsodispostasaspartesouelementosde um edifcio ou de uma cidade. 4. ARQ conjunto de princpios, normas, materiais e tcnicas usadas para criar o espao arquitetnico. 5. p. ext. conjunto de princpio e regras que so a base de uma Instituio. 6. p. ext. conjunto de elementos que perfazem um todo, estrutura, natureza, organizao. (...) 13E Holanda (1999): Arquitetura (do latim architectura). s.f. 1. Arte de criar espaos organizados e animadospormeiodoagenciamentourbanoedaedificao,paraabrigaros diferentestipos de atividades humanas. 2. O conjunto das obras de arquiteturas realizadasemcadapasoucontinente,cadacivilizao,cadapoca,etc.3. Disposiodaspartesouelementosdeumedifcioouespaourbano.4.Os princpios, as normas e tcnicas utilizadas para criar o espao arquitetnico. (...). Mesmo Corona & Lemos (1972), que no verbete do abrigo indicavam a funo deproteosintempries,quandodefinemarquiteturarestringesuaabordagema determinado meio. Arquiteturapelaconceituaomaisremotaaartedecomporeconstruir todaasortedeedifcios,segundoasregraseproporesconvenientes(...). LcioCosta,(...)diz:arquiteturaconstruoconcebidacomaintenode ordenarplasticamenteoespao,emfunodeumadeterminadapoca,deum determinado meio, de uma determinada tcnica e de um determinado programa. aartequedeveserconcebidaerealizadanosentidodecriarumespaoao mesmotempohumanopelohomemqueonecessitaenovives,masem aglomerados,socialpelarealidadequepresideoaparecimentodaobra arquitetnica, que alm do mais deve ser bela. SomenteRivero(1986)define...umadasfunesdaarquiteturaadecriar espaos,tantointeriores comoexteriores,ajustados anormasdehabitabilidadefsica, qumicaedesegurana,determinadaspelasnecessidadesdosindivduosqueos ocupam,almdisso,...oprojetoterqueresolvermltiplosaspectosfuncionaise estticosdentrodecomplexassolicitaesscio-econmicas,culturaise tecnolgicas.(...),paraterumamoradiaquelhesproporcioneabrigo,seguranae intimidade. 14Naetimologiadapalavraarquitetura,Houaiss&Villar(2001)indicamsua origem latina architecturae que significa a arte de edificar, na composio do latim architecturae, de arqu(e/i) e tectum, onde: tectum-cobrir,recobrir,ocultar,esconder,encobrir,proteger,abrigar, resguardar, telhado. arqu(e/i)dizrespeitoarquiteturaouaosarquitetos.2.comfecundidade moderna,servecomoverdadeiromorfemaprefixalhiperbolizanteou superlativizante. Assim, o termo arquitetura tambm pode ser entendido como melhor abrigo. 3.1.3. Adequao da arquitetura ao clima Aadequaodasedificaesaoclimaumacondicionantedeprojeto.A produo do abrigo, do espao construdo pelo homem, juntamente com parmetros de organizao scio cultural, tem o objetivo de atender as necessidades humanas. Dessa maneira, o programa de necessidades, os materiais e tcnicas construtivas, o clima, e a intenoplstica;formamumconjuntodeelementoscondicionantesoudeterminantes do partido arquitetnico. Desseconjuntodeelementosobserva-sequeoprogramadenecessidades,a intenoplsticaeatcnicaconstrutiva,emfunodaevoluoscio/culturale tcnico/econmicasdapopulaosofremvariaes,entretantoanicacondicionante quesemantmconstantenahistriaoclima.claroqueexistemvariaes climticas sazonais, e outras variaes oriundas de fenmenos naturais ou decorrentes doprocessodeurbanizao,pormdentrodopanoramahistricoessasmudanas podem ser consideradas mnimas frente aos outros trs aspectos apresentados. 15Na Antigidade, o conhecimento sobre o clima pressupunha a permanncia de umapopulaonumadeterminadareaterritorial,porsucessivasgeraes.Issose refletenasconstruesproduzidasvisandoaumamelhoradequaoclimtica. Juntamentecomatcnicaconstrutivadecorrenteprincipalmentedadisponibilidadede materiais, e do programa de necessidades dessa comunidade, surge uma determinada tipologiaconstrutiva,somadaaquestesdeidentidadeecultura,denominada vernacular.5 Lemos (1999) define que na arquitetura vernacular, as tcnicas construtivas e osprogramassedesenvolveramjuntososaber-fazeraperfeioou-seapartirdo domniodosrecursosdoambienteesempreatendendossolicitaesdasociedade, que esperava da habitao algo alm de mero abrigo contra as intempries ou ao das feras ou inimigos. ParaBehling(1996),aexploraohumanadenovosterritriosezonas climticasfizeramnecessrioodesenvolvimentotecnolgicodeformaaassegurarao homemsobrevivnciaeconforto.Segawa(2001)comentaqueacolonizaofoium vetordeinvestigaoclimticaeaaclimaocomoprocessoparaaliviarainsero humana em latitudes diferentes da origem europia do agente colonizador. Entretanto,verifica-sequeemborahouvesseumapreocupaocomrelao adequaoclimtica,asedificaescoloniaistinhamocarterdereproduziracultura construtiva do colonizador, limitada ao uso de materiais e tcnicas disponveis no novo territrio. No Brasil, a espessura das paredes de taipa se deve mais tcnica construtiva docolonizadoribricoealimitaodosrecursosmateriaisdisponveis,doquea preocupaoemproporcionarumatemperaturainternamaisamenaouproteo insolaoexcessivadostrpicos.Apresenadetrelias,gelosiasemuxarabisest mais relacionada questo cultural de resguardo da mulher e da famlia, do que a uma 5Arquiteturavernacularaquelaqueutilizaosmateriaisdisponveisemumdeterminadolocalouregioe/outcnicasde construo tradicionais de uma cultura. (HOLANDA, 1999) 16formadecontroleambiental.Emborasejareconhecidoqueoselementoscitados oferecessem uma boa resposta ao clima local, observa-se a existncia de alcovas sem aberturas que garantissem insolao e ventilao. J no sculo XIX, com a disponibilidade de recursos econmicos gerados pela canaepelocaf,edisponibilidadedemodeobraqualificadadosimigrantes,o panoramaconstrutivosealtera.Aeconomiapermiteaimportaodenovosmateriais construtivoseoimigrantetrouxeconsigonovastcnicasconstrutivas.Observa-sea substituio das casas de taipa por edifcios de tijolo, ferro e vidro. Um novo programa de necessidades, uma nova concepo arquitetnica. Outro aspecto o crescente processo de urbanizao promovida pela punjana econmica do caf, o incio de uma produo industrial nas cidades e o crescimento da populaocomdisponibilidadedemodeobra.justamentenesseperodoque ocorrem as primeiras reformas urbanas no pas, a partir dos trabalhos dos engenheiros sanitaristasecdigossanitrios,revelandoumapreocupaocomasquestes relativashigieneesalubridadedashabitaes.Percebe-sequeaprocurapela salubridade das edificaes em conjunto com uma nova tcnica construtiva, possibilita a adoo de recuos laterais nos lotes urbanos, o uso de pores, do p direito elevado, deaberturasmaioreseumnmeromaiordejanelas,parainsolaoeventilao visandogarantircondieshiginicasshabitaes.Inicialmente,osengenheiros sanitaristasbuscavamassegurarummnimodehorasdeinsolao.Entretanto,as regrasecdigossanitriossebaseavamemtrabalhosdesenvolvidosempases europeus,declimatemperado,paraosquaisasnecessidadesdeinsolaoe ventilao so bastante distintas dos trpicos. Embora tenha contribudo para o desenvolvimento da salubridade, e condies de insolao e ventilao, o ecletismo visto pelos modernistas com antipatia, pois era consideradaumaarquiteturaelitista,ftil,edecorativa,promovidapelariqueza proporcionada pelo caf, baseada na importao de variados estilos arquitetnicos, de modeobra,materiaisetcnicasconstrutivasalheiasstradiesconstrutivas, 17desprezandoascaractersticaslocaiscomooclima,equevalorizavamos estrangeirismo em detrimento cultura nacional. Segawa(2001)comentaqueemmeadosdosculoXXjexisteumgrupode profissionaisquebuscaprotegerasaberturascontraainsolaoexcessiva.Aquise inseremaspesquisasdePauloS,umdospioneirosadesenvolverestudosde insolaoparaasedificaes.EduardoKneesedeMelopreocupava-secomosol excessivoeprocuravaelementosparaprotegerointeriordasedificaes,comouma orientao adequada, o posicionamento e rea das janelas. Lcio Costa, ao procurar embasar e consolidar o movimento moderno no Brasil, resgatanaculturaconstrutivapopularbrasileiraosaberfazer,ascondicionantes climticas e os materiais disponveis como uma identidade nacional para o modernismo. Anecessidadedorompimentocomoecletismo,queseapropriavadetcnicase importaodemateriaiseuropeus,independentesdarealidadebrasileira,reforoua busca pelas razes da cultura construtiva brasileira. J para Lemos (1999), as razes, a arquiteturavernculabrasileiraouasorigensdenossaculturaconstrutivaede adaptao ao meio ambiente remontam ao perodo pr-colonial, das origens indgenas do territrio brasileiro6. Aoidentificar-secomapocacolonial,Costaressaltamuitosaspectosda relao do saber-fazer do mestre de obras e tenta adapt-las as condies tecnolgicas edosnovosmateriaisdisponveisemmeadosdosculoXX.Omodernismotraz 6 Lemos (1999) no concorda com a viso dos arquitetos do incio do modernismo no Brasil, principalmente Lcio Costa, ao propor uma identidade nacional como contraponto ao ecletismo que importava desde materiais, tcnicas e mo de obra. Procura valorizar aorigemdaarquiteturanacional,verncula,buscandonoperododoBrasilcolniaassuasrazes,apresentandoaarquitetura bandeiristacomoexemplo.PormparaLemos,naarquiteturaindgenaquetemostodaaexpressodosaberfazer,das condies locais (relevo, vegetao, hidrografia), dos materiais e tcnicas, e principalmente do clima. Para o autor, a arquitetura vernacular brasileira a indgena. E comenta ... a relao espao-atividade domstica, onde a tcnica, manipulandoosrecursosdanaturezaenvoltria,satisfazsexignciasdetodoumcomplexoculturalqueregeavidacotidiana. Essa a arquitetura dita verncula, porque mantm aquela relao entre a construo e o modo tpico de usufru-la, sempre alheia ainflunciasdeculturasexternas.Descreve,amoradaindgenaconseguidaatravsdemadeirasroliasfincadasnochoe vergadas superiormente, definindo um espao abobadado de planta onde predomina a linha curva. Toda a estrutura recoberta de palha, para o isolamento trmico, prevendo-se pequenas aberturas de entrada e sistemas superiores de ventilao. a oca escura, mas fresca e a salvo dos mosquitos, sendo, afinal, a soluo milenar que o homem definiu ao participar do ecossistema tropical das terras pela primeira vez descritas por Pero Vaz de Caminha. Pois, a evoluo das habitaes atenderam imposies de ordem cultural...,datransposiodaculturaconstrutivaibricaeinflunciassofridas,queapesardeseinseriremnumasociedade altamente miscigenada como a que havia em So Paulo (portugueses, espanhis, e numerosos ndios e mamelucos), a presena daculturaindgenanoseapresentanemnoprograma,natcnica,ounaintenoplsticaadotadas,somenteapercebemos claramente na lngua, nos equipamentos e na culinria. 18consigo a cincia e a racionalidade ao processo de projeto. A arquitetura moderna no um estilo, mas uma forma de viver. Oempregodenovosmateriaisetecnologiasconstrutivas,comoovidro,o concreto e o ao, pela arquitetura moderna transformou a linguagem de composio, de arranjoespacialeestruturaodaedificao.LeCorbusierrevolucionaarelao espacialdaarquiteturapropondoautilizaodoscincoprincpios:ousodepilotis,a planta livre, o terrao jardim, a estrutura independente e fachada de vidro. Maragno (2000) comenta que a reduo dimensional dos elementos portantes esuaseparaodoselementosdevedaopermitiramautilizaodovidroem superfciescadavezmaioresatchegarsfachadastotalmenteenvidraadas, proporcionando transparncia e integrao visual. Entretanto,Givoni(1981)afirmaqueaamplautilizaodapeledevidronas fachadasdasedificaesnaarquiteturamodernaalterouarelaoentreoambiente interno e o clima, enfatizando o problema do superaquecimento proporcionado por esse material construtivo. SegundoBruand(2002),asteoriaseoexemplodeLeCorbusier(...) enalteciamaaberturadosedifciosparaoexterior,proporcionando-lhesapenetrao doar,daluz,edanatureza.Entretanto,aaplicaodessesprincpiosnospasesde climaquenteexigiaumacertaadaptaoaomeioambienteeoempregodealguns dispositivos capazes de combater a insolao e o calor excessivos. Dentre outras preocupaes, que compunham o discurso modernista de ento, haviaanecessidadedeadaptaoscondiesclimticasregionais.ParaoBrasil, pas tropical situado entre as latitudes de 5N a 34S com a maior parte do seu territrio localizado entre o equador e o trpico de capricrnio, o clima foi o fator fsico que mais interferiu na arquitetura brasileira. (BRUAND, 2002). 193.2 O brise-soleil O brise-soleil7 um entre vrios tipos de dispositivos de proteo solar8. um elementoconstrutivoconstitudoporlminasgeralmenteparalelas,externas edificao. Afunoprimordialdesseselementosimpedirqueaincidnciadaradiao solardiretaatinjaassuperfciesdaedificao,principalmenteastransparentesou translcidas, interceptando os raios solares. Desta forma, atua no controle e reduo do ganhodecalorsolar,poispromoveosombreamentodassuperfciesporeles protegidas, dependendo fundamentalmente da orientao da fachada. Possuitambmfunessecundriascomoocontroledoexcessode luminosidade,caractersticoderegiesdeclimasquentes.Outrosaspectosque tambmsofreminflunciadesseselementossoavisibilidadeparaoexteriorea ventilao da edificao. Lemos e Corona (1972) assim o definem: BrisesoleilElementoarquitetnicodeproteo,comafinalidadeprincipal de interceptar os raios solares, quando estes forem inconvenientes. 9 7Brise-soleil,quebra-sol,sun-breakers,parasol,quebra-luz,corta-luz,externalshadingdevices,soalgumasdasdenominaes dadas esse elemento construtivo. Segundo Corona e Lemos (1972), a expresso brise-soleil um termo de aplicao constante nalinguagemcomumdaarquiteturacontemporneabrasileira,queprovmdofrancsbrise-soleil,cujatraduoliteralquebra-sol, apesar de designar a mesma coisa, no atingiu a popularidade do vocbulo brise, que por isso mesmo, dever fazer parte de nossa lngua como aquisio definitiva. 8Dispositivosdeproteosolaroudesombreamento:podemserdesdeumasimplescoberturaqueofereasombra,beirais, terrao/varandaoualpendre,muxarabis,marquises,toldos,venezianas,cortinasevegetao.Geralmenteprotegendoas aberturasdasedificaes.Incluemoschamadosbrise-soleilouquebra-sol,sendoestescaracterizadosporlminashorizontais verticaisoucombinadas,moldadasinloco,ouexistentesdenominadoscombogouelementovazado.Internamentetambmso consideradas como dispositivos de proteo as venezianas, cortinas, etc. (ALBERNAZ & LIMA, 2000). 9 Completam o verbete as informaes: o elemento arquitetnico com funo de quebrar a direo dos raios solares j comparece em muitas arquiteturas, mesmo de pocas mais remotas. Porm, do gnero placas horizontais ou verticais, mveis ou fixas, com o nome especfico de brise-soleil, constitui uma sistematizao criada por Le Corbusier para um de seus projetos de 1933. Tendo o mestrecontemporneoaplicadoesseselementosparaoMinistriodaEducaonoRiodeJaneiro,ficamelesdecididamente incorporadosaarquiteturabrasileira.(...).Dapordiante,osarquitetosbrasileirosconscientesdaimportnciaedaexcelncia desseselementosespeciaisnaarquiteturabrasileira,passaramaus-losnasdiversassoluesquehojeserevestemde caractersticas bem nacionais. (...) e Termo de aplicao constante na linguagem comum da arquitetura contempornea brasileira, queprovmdofrancsbrise-soleil,cujatraduoliteralquebra-sol,apesardedesignaramesmacoisa,noatingiua popularidade do vocbulo brise, que por isso mesmo, dever fazer parte de nossa lngua como aquisio definitiva. (CORONA & LEMOS, 1972). 20Para Ching (2000): Brise soleil - Anteparo, normalmente de palhetas, colocado na parte externa de um edifcio a fim de proteger as janelas da incidncia direta da luz solar. Quebra-sol-Qualquerumdentreumasriededispositivosexternosque constituememlminashorizontaisouverticais,inclinadasparaprotegeruma janela da incidncia direta da luz solar. Para Holanda (1999): Brise soleil Conjunto de chapas de material fosco que se pe nas fachadas expostasaosolparaevitaroaquecimentoexcessivodosambientessem prejudicar a ventilao e a iluminao. Para Houaiss & Villar 2001): Brisesoleil(fr)sm.ARQ.elementoarquitetnicoemformadeplacas horizontais ou verticais, fixas ou mveis, aplicadas sobre a fachada do edifcio, para barrar a incidncia direta dos raios solares; quebra-luz, quebra-sol. Para Albernaz & Lima (2000) Brise Anteparo composto por uma srie de peas, em geral placas estreitas ecompridas,colocadasemfachadas,parareduziraaodiretadosol.Suas peas podem ser mveis ou fixas, dispostas na horizontal ou vertical. Quando convenientemente disposto, protege o interior do prdio da excessiva insolao preservando a viso para o exterior. adequado seu uso em edifcios situados em locais de clima quente10. 10 Albernaz&Lima, 2000afirmam quefreqentemente desnecessrio naface suldo prdio,parcialmentedispensvelna face leste, indispensvel na face norte e na face oeste. Recomenda-se o uso de brise com peas horizontais na face norte do prdio e compeasverticaisnafaceoeste.Obrisemvel,porserregulvel,protegeconvenientementedaincidnciaderaiossolarese asseguramximavisibilidadeexterna,masexigecuidadosemanuteno.Obrisefixonoexigequalquercuidado,mais econmicoeparticularmenterecomendadoparafachadasorientadasanorteounordeste.Almdoseuaspectofuncional,tem aindaefeitodecorativo,tendosidoumelementomuitomarcantecomomeiodeexpressoplsticaemmuitosedifciosque introduziram o modernismo no Brasil. tambm chamado de brise-soleil e mais raramente quebra-sol. 213.2.1 A criao do brise-soleil IdealizadoporLeCorbusieremmeadosdosculoXX,obrise-soleiltem influnciadeelementosconstrutivoscomodispositivosdeproteosolaroriundosde culturas construtivas rabes e asiticas em sua concepo. Segundo Maragno (2000), sua origem pode ser identificada com elementos de arquiteturas tradicionais utilizados parafiltragemdaradiaosolar,daluzedocaloraplicadosprincipalmentena arquiteturarabe.Nopossuemnecessariamenteamesmaforma,materialou linguagem,masomesmoprincpiodeatuao:suafunoessencialocontroleda radiaosolarexcessivaempasesdeclimaquente.Corona&Lemos(1972) comentamsobreaorigemdessedispositivoedaoriginalidadedelinguagem:o elementoarquitetnicocomfunodequebraradireodosraiossolaresj comparece em muitas arquiteturas, mesmo de pocas mais remotas. Porm, do gnero placas horizontais ou verticais, mveis ou fixas, com o nome especfico de brise-soleil, constituiumasistematizaocriadaporLeCorbusierparaumdeseusprojetosde 1933. SegundoFathy(1986),obrise-soleilnaverdadeumareleituradapersiana, sendoseudesenvolvimentoumaquestodeescala,poisasdimensesdesuas lminas so aumentadas, e sua aplicao foi estendida a toda rea das aberturas, para aproteodefachadasinteiras.ParaMindlin(2000)emboraqualquertipodebrise-soleilpossaserconsideradoumaimitaodosvelhosetradicionaismtodosde proteocontraaofuscaoeocalor,sendopossvelidentificarreminiscnciase variaesdasrtulasepersianasdoperodocolonial,alinguagemdessenovo elementoextrapolaarefernciahistricatrazendobasecientficanasuaelaborao, avaliaodanecessidadedesombraeluz,passaa compora estruturadaedificao; sua forma e a multiplicidade de solues definem texturas, planos, profundidade, ritmo e movimento, enfim, possui uma identidade e esttica prprias. ParaMaragno(2000),obrise-soleilumarespostastransformaes arquitetnicasintroduzidaspelaspossibilidadestecnolgicasepelosconceitosda arquiteturamoderna.Estassociadonecessidadedeproteosolardosedifcios 22modernos,porteremtransformadoalinguagemdecomposio,dearranjoespaciale estruturao da edificao, com a intensa utilizao de novas tecnologias e materiais. Baker(1998)explicaqueaatitudedeLeCorbusiercomrelaosuperfcie envoltria de seus edifcios mudou quando percebeu os problemas provocados (...) pelo empregodeumamembranafinacomgrandesreasenvidraadasecomentaqueo problemaeraagudoempasesquenteseasoluofoiodesenvolvimentodeuma formadeanteparosolarconhecidocomobrise-soleil.ParaMaragno(2000),Le Corbusier deparou-se com a contradio entre a desejvel visibilidade da paisagem do exterior do edifcio e a necessidade de controle da radiao solar. SegundoMaragno(2000)obrise-soleilconstituiu-seemexcelentesoluo paraviabilizarousodosabundantespanosdevidrocontnuosetransparentesna resoluo das fachadas, por permitir a iluminao natural, a integrao visual do interior com o exterior e evitar a incidncia direta dos raios solares e os ganhos trmicos por ela ocasionados. Segundo Baker (1998), o brise-soleil atua como um filtro, criando uma pelcula permevel ao redor do edifcio que permite a penetrao no espao interno e suaviza o impactodaforma(...).Ecomentaqueesseelementolevouaoabandonodoefeito cbico das primeiras casas (...) modernistas. Aconcepodesseelementobasicamentefuncional,pormsuaaplicao passaadialogarcomacomposioarquitetnicadaedificao.Assim,tambmse enquadra nos preceitos modernista visto que sua forma segue a funo. Acriaodesseelementoconstrutivo,obrise-soleil,quefoidesenvolvidoem respostascondiesclimticas,umacaractersticamarcantenaexpressoformal das edificaes. 233.2.2 O brise-soleil e a arquitetura moderna brasileira SegundoCavalcanti(2001),almdoscincoprincpiosbsicosdomodernismo outroselementoscompemalinguagemdaarquiteturamodernabrasileira:usode rampas, formas livres e flexibilidade de volumes; proteo solar; curvas e estrutura com inteno plstica (elementos expressivos); e indistino dos espaos interno e externo. Paraoautor,aarquiteturamodernabrasileiracomsuasformasrevolucionrias representa uma assimilao transformadora ao reinterpretar os princpios modernistas e passaainfluenciaralinguageminternacionaldops-guerra.ParaGoodwin(1943), essa a primeira aplicao em larga escala dos princpios de Le Corbusier, Gropius e Van Der Rohe (...), que no Brasil tinha agora encontrado sua expresso artstica. Mindlin (2000) destaca dois fatores que contriburam para o desenvolvimento da arquiteturamodernabrasileira:apesquisasobreproblemasdeinsolao11eo desenvolvimento de uma tcnica avanada de uso do concreto armado. Para o autor, essesdoisfatoresestoassociadossduascaractersticasmaissalientesda arquiteturamodernanoBrasil:oempregodegrandes superfciesdevidro,protegidas, quando necessrio, por brise-soleil, e o uso de estruturas livres, apoiadas sobre pilotis, com trreo aberto quando possvel, marca da influncia de Le Corbusier. SegundoBruand(2002),aintroduodobrise-soleilnoBrasilsedcoma influncia de Le Corbusier sobre o grupo de arquitetos do Rio de Janeiro e So Paulo, do incio do modernismo brasileiro. Conhecidos posteriormente como Escola Carioca, as solues desenvolvidas por essageraodearquitetostinhamcomoestratgiadeprojetoapreocupaode projetarcomoclima,adotandosistemasdecondicionamentopassivo.Aventilao cruzada,beneficiadapelasgrandesaberturas,meias paredesetrreolivrecomouso de pilotis, um desses exemplos; e principalmente o brise-soleil, que foi aprimorado e 11 Data de 1916 o primeiro ensaio sobre o assunto, por Alexandre Albuquerque no Rio de Janeiro. Em So Paulo, Lcio Martins de Rodrigues desenvolve estudos na Escola Politcnica no qual estabelece base cientfica para orientar edifcios em relao ao sol. Mais tarde, no Rio de Janeiro, Paulo S, Atlio Corra Lima, Hermnio de Andrade e Silva tambm realizam estudos. Por fim, sob a lideranadePauloS,formulou-seumadoutrina,baseadaemextensapesquisaexperimental,cobrindotodososaspectosdo problema da insolao nas edificaes: astronmicos, trmicos, de ofuscao, sombra, etc. (MINDLIN, 2000). 24alvodeinmerascomposiesesoluesdistintasnaarquiteturamodernabrasileira, sendo utilizado das mais variadas formas. Maragno(2000)comenta queforamosjovensarquitetos brasileirosqueassimilarama soluooferecidapelobrise-soleile aperfeioaramaidiainicial, desenvolvendoumsofisticado sistemaquecombinavaplacas verticaiscomhorizontaismveis. Emboraasprimeirasaplicaesdo sistemadebrise-soleiltenhamsido soluesdeplacasverticais,como noedifciodaABI(Associao BrasileiradeImprensa)dosirmos Robertoem1937(fig.3.1),ena ObradoBero(fig.3.2)deOscar Niemeyerem1939,ambosnoRio deJaneiro,foinoprojetodo Ministrio da Educao e Sade (fig. 3.5)queocorreaprimeiraaplicao dobrise-soleilemumedifciode grande porte. Fig.3.1.EdifciodaABI(AssociaoBrasileiradeImprensa),1936-38,RiodeJaneiro,irmosM.M. Roberto. As duas fachadas orientadas a norte e noroeste foram protegidas por brise-soleil verticais fixos em concreto armado, interrompidos pela marcao da laje. O sistema de proteo contra o excesso de insolaoconsisteemfaixasdebrise-soleilverticais,cobrindoasduasfachadas,eseparadasdas paredesexterioresdassalas(feitascomportasdevidrocomventilaonapartesuperior)porum corredorqueasseguraventilaoauxiliareatuacomozonadedispersodecalor.(MINDLIN,2000; Fonte da fotografia: UNDERWOOD, 1994). 25Fig. 3.2. Edifcio Obra do Bero, Rio de Janeiro, 1939, de Oscar Niemeyer. (Fonte da fotografia: Underwood, 1994). Segundo Mindlin (2000) e Cavalcanti (2001), o projeto da proteosolarpropostaoriginalmenteporNiemeyerera compostoporelementosvazadostipocolmia,com placashorizontaisinclinadas,paramelhorproteo contra o sol da tarde. Porm, sua instalao foi realizada quando o arquiteto estava em viagem a Nova York para a obra do Pavilho Brasileiro na Feira Mundial, e sendo mal executada, resultou na ineficincia do dispositivo e justas reclamaesdainstituio.Assimqueretornou, Niemeyer mandou substitu-la s prprias custas, por um sistemadebrise-soleilverticalmvel,inspiradona soluo do edifcio da ABI. Segundo Bruand (2000), essa obra o primeiro exemplo de integrao do brise-soleil mvel na arquitetura. Fig. 3.3. Pavilho do Brasil na Feira Mundial em Nova York, 1938-39, Nova York. Arquitetos Lcio Costa e Oscar Niemeyer. Na fachada sul, protegendo da insolao havia um painel fixo, em formato de colmia. (Fonte da fotografia: UNDERWOOD, 1994). 26OedifciodoMinistriodaEducaoeSadeoprimeiroemais representativoexemplardaarquiteturamodernabrasileira,aplicandotodosos princpios de Le Corbusier num edifcio de grandes dimenses: o terrao jardim, a pele de vidro, a estrutura independente, planta livre, e o uso de pilotis, e incorpora tambm caractersticasquepassamacomporalinguagemdaarquiteturabrasileira:formas livreseflexibilidadedevolumes;proteosolar;curvaseestruturacominteno plstica (elementos expressivos); e indistino dos espaos interno e externo. Fig.3.4.Detalhedobrise-soleil combinandoplacasverticais fixas e horizontais mveis. OedifciodoMinistrioda EducaoeSadepossuiduas belaseimponentesfachadas, sendoumatotalmente envidraada a sudeste, e a outra anoroeste,protegidaporbrise-soleilhorizontalmvel,de cimento-amianto,nacorazul, fixadoemesbeltasplacas verticaisehorizontaisem concreto armado. Fig. 3.5. Edifcio do Ministrio da Educao e Sade, atual Palcio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, 1937-43. Projetado pelos arquitetos Lcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos Leo e Ernani Vasconcelos, com consultoria de Le Corbusier. (Fonte das fotografias: BONDUKI, 2000). 27Para descrever o sistema de sombreamento utilizado nesse edifcio, apresenta-se um trecho sobre o sistema de brise-soleil adotado, explicado no memorial descritivo da soluo definitiva para o projeto do Ministrio da Educao e Sade, elaborada pela equipe de arquitetos, transcrito de Bonduki (2000). De acordo com a disposio do bloco, as salas de trabalho ficaram orientadas paraSSEeNNO.NafaceSSE,insoladafracamenteemalgunsdiasdoano,pela manh,adotamosgrandescaixilhosenvidraadosatoteto,quepermitiroperfeitas condiesdeventilaoeiluminao,almdeagradvelvistaparaabaa;sero usadasnosmesmoscortinasderguasdemadeira(venetianblinds)paragraduara intensidade luminosa. NafaceNNO,insoladaquasetodooanoduranteashorasdeexpediente,foi adotadoumsistemadeproteoqueimportaexaminar,passandoemrevista, preliminarmente,osprocessosatentousados,paramostraralgunsdeseus inconvenientes. Ossistemasdeproteomaisconhecidosentrenssoosdevarandase cortinas.Otipodeproteoporvarandas,quandousadoemedifciosdessegnero, apresentasriosinconvenientesdeordemtcnicaeeconmica,pelosproblemasde ventilaoqueacarretaepelareadeconstruopraticamenteperdidaque representa.(...).Ascortinasdeenrolar,dasquaisdiversostipossousadosaquino Rio,almdeapresentaremdesvantagensequivalentes,dariamaoconjuntooaspecto comum de apartamento, o que, no caso, seria lamentvel. Restavaportantoumanicasoluo,obrise-soleilpropostoporLeCorbusier para a Arglia. Consiste este sistema em uma srie de placas adaptadas fachada, a fimdeproteg-ladosraiossolares,emdisposioaserestudadadeacordocomos casos apresentados. Tornava-se entretanto indispensvel, umavez que at ento no forausadoestemeiodeproteo,elaborarmosestudoscuidadososdotipoaser empregado. 28A inclinao do sol e a sua trajetria em relao fachada insolada estavam a indicarqueosistemadeproteopreferveldeveriaserconstitudoporplacas horizontais,pois,deoutraforma,seramosforadosaadotarvosdiminutos, acarretandoperdadevisibilidade.Poroutrolado,verificamosqueaadoodeplacas fixas,sebemquepudesseresolveroproblemadainsolao,seriamenossatisfatria no tocante iluminao, pois, tendo sido calculada para dias claros, resultaria por fora deficiente nos sombrios, obrigando ao uso da luz eltrica em horas que outros prdios poderiam dispens-la. Almdisso,consideramosque,sendoadireodosraiossolaresvarivelem relao fachada, o melhor sistema de evit-lo, deveria ser mvel (fig 3.6). Com essas razes e baseados em experincias feitas com os melhores resultados no prdio da Obra do Bero, na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde, devido orientao, foi adotado o tipo vertical decidimos empregar tambm um processo semelhante que garantisse em qualquer hora e dia disposio adequada s necessidades do trabalho. O sistema empregado no edifcio do MES consiste em lminas verticais fixas de concreto,ligadasaospisoseplacashorizontaisbasculantesdeeternite,armadasem ferro. Asplacashorizontaisficaroafastadascercade0,50mdasesquadrias, formando um vazio para tiragem do ar, a fim de evitar a entrada de calor por irradiao nassalasdetrabalho,etendoasverticaissomentedoispontosdecontatocoma estrutura, ainda para evitar um conjunto rgido que facilitaria a transmisso de calor. Asbsculasseroconstitudasporplacasduplasdecimento-amianto,cujas propriedades isotrmicas so conhecidas. Fig.3.6.Estudoparaoprojetodobrise-soleilhorizontal mvel. (Fonte: BONDUKI, 2000). 29 Fig. 3.7. Edifcio Bristol no Parque Guinle, Rio de Janeiro, 1954, de Lcio Costa. (Fonte: MINDLIN, 2000) Fig. 3.8. Edifcio Calednia, Parque Guinle, Rio de Janeiro, 1950, de Lcio Costa. (Fonte: MINDLIN, 2000). EdifciosBristol(1950)eCalednia(1954)noParqueGuinle,bairrodeLaranjeiras,RiodeJaneiro,de Lcio Costa. (Fonte das fotografias: MINDLIN, 2000) Segundo Cavalcanti (2001), os edifcios foram construdos sobre pilotis, com estrutura independente em concreto armado, planta livre, fachadas livres, brise-soleil e cobogs para proteo contra o sol. O autor comenta que as fachadas longitudinais orientadas para oeste foram divididas em quadros retangulares, sendo-lhesaplicadasdiversasformasdeproteocontraosol,deacordocomafunodeseus correspondentes internos: brises verticais, cobogs, tijolos vazados, de vidro, trelias de madeira. Mindlin (2000), comenta que a orientao fora escolhida em funo da implantao no parque e pela bela paisagem,pormeradesfavorvelparainsolao.Estadesvantagemfoi,noentanto,minimizadapelo tratamentodasfachadas,nasquaisforamfixadosbrise-soleilepainisdecobogsdecermica, produzindojogosdetexturaeluzmuitocaractersticosdessafasedaarquiteturabrasileira. 30Fig. 3.9 e 3.10. Conjunto Residencial do Pedregulho, 1947-52,RiodeJaneiro,deAffonsoE.Reidy.Vista doBlocoResidencialA,edifciosinuosocom260m decomprimento.Oterceiroandarabertocomo acessoaoedifcioedistribuiacirculao.Na fachadanoroesteposterior,tijolosvazados funcionamcomotreliasprotetorascontraosol. (CAVALCANTI,2001).(Fontedasfotografias: BONDUKI, 2000). Atrsdafachadadeelementosvazados,hum corredordeacessoaosapartamentos,queoferece proteo insolao direta, mantendo a filtragem da luz e ventilao permanente. Bonduki(2000)apresentaumtextodeAffonsoReidyeCarmemPortinho descrevendo o projeto do Pedregulho, sendo transcrita a seguir a parte sobre insolao: Foramadotadosdiversostiposdedispositivosparacorretoresdoexcessode insolaoeprocurou-se,semprequepossvel,asseguraraventilaotransversal.As facesmaiscastigadaspelosolforamprotegidascomquebra-soldediferentestipos: mveis de eixo vertical ou horizontal, conforme a orientao oeste ou norte (...); peas de terracota de diferentes tipos quadrados, retangulares, hexagonais (...); e blocos de cimento (...). 31Fig.3.11e3.12.ConjuntoResidencialdoPedregulho,1947-52,RiodeJaneiro,deAffonsoE.Reidy. VistadoBlocoB,apartamentoduplex.Avarandaalternaumfechamentoemgradesdeferrobaixase cobogs,enquantoosquartossoventiladosporjanelasaltasqueaparecemcomoumafitanas fachadas.Ocorredordeacessoaosapartamentosprotegeareadeestardainsolaomais desfavorveleapresenadejanelasnasfachadasopostaspropiciaaventilaocruzadanosetordos quartos. (CAVALCANTI, 2001). (Fonte da fotografia: BONDUKI, 2000) Paracorrigiroexcessodeinsolaodoscompartimentossituadosnaface oestedosblocosAeB,foramusadasvenezianasdemadeira,tipoguilhotina equilibrada, no bloco A, e basculante nos blocos B1 e B2 (...). Fig. 3.13. Museu de Arte Moderna, 1953-68, Affonso E. Reidy, Rio de Janeiro. A estrutura indissocivel da arquitetura, funcionandocomo elemento plstico.No terrao, aprgolaemconcreto o sistemade sombreamentoadotado,integrandoedandocontinuidadeaosespaosinternoeexterno,comritmoe vista da paisagem do mar. (CAVALCANTI, 2001). (Fonte da fotografia: BONDUKI, 2000) 32 Fig.3.14.Detalhedacomposiodebrise-soleildo Edifcio Sede do Instituto de Previdncia do Estado da Guanabra,RiodeJaneiro,1957.(Fontedas fotografias: BONDUKI, 2000) Fig.3.15. Edifcio Sede do Instituto de Previdncia do Estado da Guanabra, Rio de Janeiro, 1957. A fachada oesteprotegidaporumquebra-solparcialmente removvel.Originalmentehorizontais,passarama verticaisnaconstruodoedifcio.(Fontedas fotografias: BONDUKI, 2000) Fig. 3.16. Detalhe do edifcio Seguradoras, 1949-51, irmos Roberto, Rio de Janeiro. Adoo de solues passivasparaoconfortotrmico:Nafachadanorte,venezianasexternasregulveisecontroleinterno, permitindo ao usurio ajust-las conforme incidncia do sol. As venezianas esto montadas num sistema pivotanteemeixohorizontaledistamummetrodafacetransparente.Nota-setambm,apreocupao emventilaresseespaoentreobriseeajanela,impedindoaconcentraodearquente.leste,a fachada envidraada no conta com nenhum sistema de sombreamento. (CAVALCANTI, 2001). 33 Fig. 3.17. Edifcio Clemente de Faria Sede do Banco Lavoura,BeloHorizonte,1951,porA.VitalBrazil.A fachadanoroesteprotegidaporbrisesverticais mveisemcimentoamianto,enquantonafachada leste foi realizada uma trama com marcao horizontal daslajesevigas.(CAVALCANTI,2001).(Fonteda fotografia: CONDURU, 2000). Fig.3.18.EdifcioInstitutoVitalBrazil, Niteri,1941-42,deVitalBrazil.A necessidadedecontroleambientaldesse edifcioessencialsuaatividade laboratorial,sendoaproteosolar passivaumelementochavenesse projeto.Afachadanorteprotegidado excessodeinsolaoporumsistema especial de aberturas. Na torre a escada e os banheiros, contam com uma trama de elementosvazados.Afacesul envidraada.(Fontedafotografia: CONDURU, 2000). Nasobras pesquisadas,observam-seindicaesdousodesoluespassivas comoaorientaoadequadadasfachadas,usodedispositivosdesombreamentoe distanciamento desses elementos das aberturas para evitar a transmisso de calor por conduo,assegurandoumespaodeventilaonossistemabrise-fachadapara retirada do ar quente, acessos livres e ventilao cruzada no ambiente interno, visando equacionarareduodoaportedecalorsolar,aentradadeluznatural,aventilao adequada do ambiente, e a funo do ambiente interno. Aconcepodobrise-soleilfaziapartedoprocessodeprojeto.Destaca-seo estgio de desenvolvimento avanado dos estudos de insolao permitindo a aplicao adequadaasnecessidadesdecadaedificao, ousodesoluespassivasnos 34Fig.3.19.CasadeHeitorAlmeida,Santos,1949,deJ.VilanovaArtigas.Ptioprotegidoporprgola, integrado ao volume da construo, e que oferece proteo ao escritrio. A faixa de brise-soleil, ao longo das janelas dos quartos, permite o controle da luz do sol, mesmo com as venezianas abertas. (MINDLIN, 2000). projetosarquitetnicosdaprimeirametadedosculoXX,eapreocupaodos arquitetoscomoprojetoadequadodosdispositivos,bemcomoavariabilidadede solues e integrao s fachadas. Fig.3.20e3.21.CasadeJooPaulodeMirandaNeto,Macei,1953,porLygiaFernandes.Nafachada leste, as trelias em madeira protegem a varanda em frente aos quartos. (MINDLIN, 2000). 35Mindlin(2000)destacaqueesse edifciopossuiumasoluoimpare, delicadaeextremamentedetalhada deproteosolareaoclimaquente daBahia.Oarquitetoprojetouum sistemadelevesgradesdeferro,de 2por3m,destacadasdafachadae dispostasemdoisplanos, alternando-seemtabuleirode xadrez,espaadasde25cme apoiadasemconsolosdeconcreto salientesdaslajesdosandares. Essasgradessocobertasporuma espciedevenezianafeitadetiras debronzede1mmdelargura,(...) sobformadetelametlica.A proteocontraoexcessode insolaoassimobtida,comoseum mosquiteirofossetransformadoem brise-soleil, total e no impede que sepossadesfrutardavista,e tambmdritmofachada retangular. SegundoCavalcanti(2001),o elementodoprdioquemaisatraiu interesse, poca de sua construo foi o sistema de proteo contra o sol emduasdesuasfachadas.(...)O arquitetoprojetouumsistemade finaslminasmveiseverticais, apoiadasemumsistemadegrades, colocadonoexteriordoedifcio.O efeitoplsticodessesistema bastanteparticular,comatexturada tramaestreitaacentuadapelojogo deluzesombra,emcontrastecom as faces lisas da fachada. Fig. 3.22. Edifcio Caramuru, Salvador, 1946, de Paulo A. Ribeiro. (Fonte: CAVALCANTI, 2001) Ousodessedispositivodesombreamentopodecompornuanasediferentes texturas fachada, oferendo mesma dinamismo, ritmo e textura. SegundoBruand(2002)assoluesdebrise-soleilformamcomposiesto engenhosasquantovariveis,esteselementos,concebidosoriginalmentecom finalidadepuramenteprtica,transformando-senummeiodeexpressoplsticaque marcaram profundamente a arquitetura brasileira contempornea. 36 Fig.3.23.Ed.RenataSampaio Ferreira,SoPaulo,1956,de OswaldoBratke.(Fonte:SEGAWA, 1997).Almdaproteosolar,a tramaofereciaproteos esquadrias de madeira. Fig.3.24.Detalhedatramada fachada. Fig.3.25.ResidncianoJardim Paulista,SoPaulo,1948,de OswaldoBratke.(Fonte:SEGAWA, 1997). Oarquitetodefiniaplanose modulaes,numjogodevolumes com o uso de elemento vazado. 37 Fig.3.26.ResidnciadoArquitetoOswaldoBratkeMorumbi,SoPaulo,1951.Essaedificaoum beloexemplodecomposiogeomtrica.Possuiumrecuoimpostopelasdiferentesnecessidadesde proteo determinadas pela orientao de cada lado do plano. (...) Os painis exteriores de cobogs de concretopr-moldadocorrigemoexcessodeinsolaoeprotegemaprivacidadedacasa.(MINDLIN, 1956; foto SEGAWA, 1997). Fig.3.27.ResidnciadaRuaSucia,SoPaulo,1956,OswaldoBratke.Oarquitetotrabalhaa modulaoestrutural,comjogodecheiosevazios,eprotegeovaziodacomposiofrontalcom elementos vazados de cimento e madeira. (Fonte: SEGAWA, 1997). 38 Fig.3.28.EdifcioCopan,SoPaulo,1951-57,de OscarNiemeyer.Obrise-soleilhorizontalfixocobre todaafachada,compondojuntocomacurva,ritmo e movimento. (Foto: Ivan Moretti) Fig.3.29.Detalhedobrise-soleilhorizontalfixoe contnuo. (Foto: Ivan Moretti). Fig.3.30.OedifcioCopan,vistadafachada principal. (www.vivaocentro.org.br/imagens) Fig. 3.31. Maquete do Edifcio Copan, So Paulo, 1953. (Fonte: MINDLIN, 1956). 3.283.29 3.30 393.2.3. Caractersticas De modo geral, o brise-soleil definido pelas seguintes caractersticas: -So elementos externos fachada; -So compostos por uma ou mais lminas, geralmente paralelas. Podeserclassificadoporsuatipologia,mobilidadeecomposio arquitetnica: Tipologia: -Horizontais; -Verticais; -Combinados (horizontal e vertical)12. Fig. 3.32. As tipologias de brise-soleil e mscaras de sombra. (OLGYAY & OLGYAY, 1957).

12 Os tipos combinados so compostos por lminas horizontais e verticais. Tambm so chamados demistos, modulares, grelha ou eggcrate. 40Cadatipologiaprotegemaisadequadamenteadeterminadongulode obstruo:ahorizontalinterceptaosraiossolaresquandoosolestmaisalto;a verticalmaiseficazquandoosraiossolaresestomaisbaixos,porm dependem fundamentalmente da variao do azimute em relao orientao da fachada; e a combinada associa ambas as protees da horizontal e vertical. Mobilidade: -Fixos; -Mveis. Com relao mobilidade, o brise-soleil mvel possui lminas pivotantes ou basculantes,queacompanhamomovimentodosolprovendosombranos momentos de incidncia indesejada, de acordo com as necessidades do usurio, epermiteamplaaberturaevisualizaodoexteriorquandonohinsolao. Dessa forma, oferece flexibilidade e maior eficincia. Atualmente existem sistemas mecanizadosqueatravsdesensoresficamposicionadosnaorientaoque proveromelhorsombreamento.Entretanto,sosistemasmaiscaroseexigem manuteno.Jobrise-soleilfixomaissimples,barato,defcilinstalaoe manuteno,sendomaisindicadoparaosngulostpicosdafachadanorte,e independente da manipulao do usurio. Segundo Givoni (1981), a mobilidade a principal caracterstica de eficincia do brise-soleil. Composio arquitetnica Emboraafunosejaoprincpioparaautilizaodesseelemento,suas variaes e multiplicidade de solues resultam numa segunda pele da edificao, conferindoritmo,dinmica,eformalinguagemarquitetnica.Lam(1986)e Maragno(2000)procuramidentificarpadresdecomposioarquitetnicade acordo com a integrao e interferncia do brise-soleil na fachada da edificao, e a expresso formal resultante. 41Lam(1986)estudaoefeitodautilizaodobrise-soleilconsiderandosua eficincia e definio da forma arquitetnica, ou seja, na relao tcnica x esttica: -escala do elemento: grande, mdia e pequena; -visualizao do exterior: ampla, mdia, restrita; -interferncia da cor do elemento na relao com sua eficincia; -impacto do elemento na concepo formal: maior ou menor importncia. Comrelaoforma,Maragno(2000)propeumaanlisedas caractersticasconsiderandoalinguagemarquitetnica:incorporaoao conjunto,inseronafachada(posio),leituraarquitetnicaeimportnciana composio. -incorporao ao conjunto: integrado ou adicionado; -posicionamento na fachada: recuado, alinhado, saliente; -leitura arquitetnica: descreve sucintamente a forma predominante (painel, faixa, platibanda/marquise, balco/sacada, moldura, outros); -importncianacomposio:contribuioounoaoresultadoformalda edificao,sendodivididasemtrsgrausdecontribuio:define plasticamente, valoriza e compe, ou detalhe discreto. Outros aspectos que configuram expresso e formas geomtricas: -relaodobrisecomaabertura:restritoreadajanela(isolado),faixa deabertura(ligaodasaberturasemlinhaoucoluna),painel(segunda pele), ou caixa; -textura: profusa, marcada, ou discreta; -sombras: ressalta volumes ou confere profundidade; -acentua a relao de leitura: horizontal, vertical ou definida por um plano. 423.2.4. Indicao Naliteratura,principalmenteemlivrosdearquitetura13,encontram-se recomendaesacercadatipologiaoudanecessidadedeproteoadequada paraaorientaodafachada.Mindlin(2000)aocomentarsobreautilizaodo brise-soleilexplicaqueessesdispositivosmveisoufixos,verticaisou horizontais, so projetados de acordo com a orientao do prdio e sua finalidade, emumagrandevariedadedemateriais:concretoarmado,alumnio,asbesto, cimento, placa metlica, l de vidro inserida em placas de vidro, placas de madeira compensada, persianas em caixilhos, etc. Bruand(2002)eAlbernaz&Lima(2000)indicamumconjuntoderegras relativas necessidade de sua utilizao: Bruand (2000)Albernaz & Lima (2000) Ndispensvel no invernoindispensvel Eparcialmente dispensvelparcialmente dispensvel Sdesnecessriodesnecessrio Orientao Oindispensvel em qualquer estao indispensvel Quadro 3.2. Comparao entre orientaes indicadas para uso do brise-soleil. Acrticaacercadessetipoderecomendaesgenricasamplamente divulgadas,quedesconsideramolocal,latitude,pocadoano,eoclima,sem avaliarserealmenteseenquadramnessasdiretrizes.NoBrasil,essas recomendaes surgiram voltadas para a necessidade de proteo da arquitetura modernanoRiodeJaneiroeemSoPaulo,eenfatizavaaproteocontrao excessodesol,eafachadasulnonecessitarproteo.Entretanto,opasse localizanumaamplafaixadelatitude(5N34S),sendoqueparalocalidades prximas ao equadora fachada sul recebe insolao, e simtrica na latitude 0

13 Bruand (2002), Albernaz & Lima (2000), Goodwin (1943), Mindlin (2000). 43emrelaonorte;jparaas cidadesmais setentrionaisnecessriainsolao no perodo de inverno. Outroconjuntodeinformaesgeneralizadasrelativoaotipode proteosolarrecomendadoparacadaorientao.Ousodobrise-soleilvertical voltado a leste e oeste questionvel, pois essa tipologia no barra os raios que incidem perpendicularmente fachada, e nota-se que o brise-soleil praticamente ineficazanalisandoasobreposiodasmscarasdesombraecartasolar,onde severificaqueasreasprotegidasnopertencemtrajetriasolar.Parabarrar osraiosmaisbaixosnohorizonteutilizam-seprincipalmentelminasmveisou cominclinaoacentuada,pormessaalternativareduzmuitoavisibilidadeea disponibilidade de luz natural do ambiente interno. Entretanto, para latitudes mais elevadascomoemclimastemperados,aeficinciadessatipologiatem significativo acrscimo nas fachadas leste e oeste. Bruand (2000)Albernaz & Lima (2000) Atem & Basso (2004) Leite & Arajo (2004) localBrasil (RJ, SP)sem indicaoLondrina PR 23 25S Natal RN 5 55S N horizontalindispensvel, peas horizontais combinado com horizontal mvel e vertical fixo horizontal ou combinado NE--horizontal E verticalparcialmente dispensvel combinado com horizontal fixo e vertical mvel horizontal SE --horizontal Sdesnecessriodesnecessriovertical mvelcombinado direita SO --combinado inclinadosOvertical ou combinadoindispensvel, peas verticais horizontal ou vertical com mobilidade total combinado inclinadosOrientao NO --combinado inclinadosQuadro 3.3. Indicao de tipologia em relao orientao da fachada. Em estudos mais recentes Atem & Basso (2004) e Leite e Arajo (2004), o dispositivodesombreamentoavaliadoemfunodalatitudeenecessidadeou nodeinsolao,paraascidadesdeLondrinaPReNatalRN,respectivamente. 44LeiteeArajo(2004),apresentamanecessidadedesolesombrabaseadosno mtododeOlgyay,comaidentificaodosperodosdecalorexcessivo(ou superaquecimento)nacartasolardeNatalRN,0555S.Comparandoas recomendaes para Rio de Janeiro, So Paulo, Londrina e Natal no quadro 3.3, nota-sediferenasparaaescolhadastipologiasmaisadequadasparaos dispositivosdesombreamentoparacadaorientao.Observa-seumadiferena deabordagemnosestudosapresentadosacima,ummaiornmerode orientaes, posicionamento e mobilidade dos dispositivos. Atem&Basso(2004)apresentamumquadrocomasnecessidadesde sombraesolparaLondrinaPR(2325S),baseadosnaaplicaodosdados climticos na Tabela de Mahoney. MsOrientaoNorteLesteSulOeste Janeiro Fevereiro Maro - Abril - Maio - Junho - Julho - Agosto- Setembro - Outubro Novembro Dezembro necessidade de sol,proteo parcial,necessidade de proteo solar, - no h radiao direta. Quadro 3.4. Necessidade de proteo solar, ms x orientao, em Londrina PR. Fonte: Atem & Basso (2004) Entretanto,somenterecomendaesdetipologiaseorientaespara determinadaslocalidadesnoconsideramosfenmenosfsicosenvolvidosno processo de proteo solar. Outros aspectos devem ser considerados na escolha de uma soluo mais adequada, assegurando a eficincia do brise-soleil. 453.2.5. Funcionalidade Conformecitadoanteriormente,afunoprimordialdobrise-soleil impedirqueaincidnciadaradiaosolardiretaatinjaassuperfciesda edificao, principalmente as transparentes ou translcidas, interceptando os raios solares14.Destaforma,atuanocontroleereduodoganhodecalorsolar,pois promove o sombreamento das superfcies por eles protegidas. Para entender seu funcionamento imprescindvel compreender a radiao solar. Denomina-seradiaosolarenergiaemitidapelosolequesepropaga sobaformadeondaseletromagnticas,noespaoounummeiomaterial.O espectrosolarsubdivididoemtrsfaixasdeacordocomseucomprimentode onda:ultravioleta,luzvisveleinfravermelha,estandoassociadasadiferentes fenmenos ou propriedades que interferem no meio ambiente e afetam o homem de forma distinta15. ParaOlgyay&Olgyay(1957)aquestodocontroledaradiaosolar deveconsiderarsuacomposioespectral,poissuascaractersticasparticulares demandamdiferentesestratgiasdecontrole.Assim,aradiaoultravioletacom comprimentodeondaacimade290nmqueatravessaacamadadeoznio, emboraapresentevantagensteraputicas,barradatambmpelovidrocomum queopacoaoseucomprimentodeonda.Josreferentesdescoloraodos materiaispodemserminimizadoseateliminadoscomautilizaodepelculas polimricasaplicadasaosvidros.Nocasodaluzvisvel,afunodajanela admitirluzsuficienteereduzirobrilhoecontraste.Segundoosautores,fcil realizarseucontrolenointeriordoambienteconstrudo.Comrelaoao infravermelho,alertamparaavulnerabilidadedaenvoltria,poisessaradiao considerada de difcil controle e seu impacto no ambiente o mais representativo aodesempenhotrmicodaedificao.Aradiaoinfravermelha,sejadeondas

14Possuitambmfunessecundriascomoocontroledoexcessodeluminosidade,caractersticoderegiesdeclimas quentes. Outros aspectos que tambm sofrem influncia desses elementos so a visibilidade para o exterior e a ventilao da edificao. 15 Ver anexo 01. Radiao solar. 46curtas, mdias ou longas16, invisvel ao olho humano, porm percebida como fonte de calor. Ao interceptar os raios solares, os dispositivos de sombreamento barram a radiaodireta,sejaultravioleta,luzvisvelouinfravermelha.Obrise-soleildeve admitiraentradadaluz,pormsemprovocarofuscamento;ebarraro infravermelho, reduzindo o ganho de calor para localidades com climas quentes. Quandoaenergiasolarincidesobreumcorpo,elaabsorvida,refletida outransmitida.Oscoeficientesdeabsoro(),reflexo()etransmisso() correspondemaoquocientedarespectivaparcelasobreototaldaenergia incidente(RIVERO,1986).Asomadosmesmoscorrespondeaototaldessa energia, expressa na relao: + + = 1 [1]Para as superfcies opacas no h transmisso sendo = 0, e + = 1. ParaOlgyay&Olgyay(1957),Croiset(1976),Givoni(1981)eRivero (1986), a funo essencial do dispositivo de proteo solar o controle do ganho de calor solar. Atua como um filtro, uma segunda pele, impedindo a incidncia da radiao solar direta nas superfcies da edificao. Embora seja mais utilizado nas superfciestransparentes,chegandoaeliminaratransmisso,tambm significativa a reduo do aporte de calor nas superfcies opacas. Rivero (1986) escreve que os materiais se comportam seletivamente com relaoradiaoincidente;istosignificaqueaquantidadedeenergiaque absorvem,refletemetransmitemdiferenteparacadacomprimentodeonda. SegundoCroiset (1976)paraas aberturas protegidaspordispositivos,osvalores

16 Radiao infra-vermelha: ondas curtas (780 a 1400nm), mdias (1400 a 3000nm) e longas (3000 a 10000nm). 47de,,edependemdacor,domaterial,edatransparnciadesseelemento. Outroaspectoacercadosmateriaisopacosetransparentescomrelaos diferenas no processo de absoro da radiao ao longo da espessura, havendo uma distribuio de energia e fluxos trmicos distintos. (SANTOS, 1999). Considerandoumasuperfcietransparenteoutranslcida,aradiao incidente se divide em trs componentes: uma parte refletida, sem causar efeitos trmicosnomaterial;outraabsorvida,independedongulodeincidncia,e dissipadaporconvecoeirradiaodeondaslongas;eaterceiraparte transmitidaatravsdomaterial,edependedongulodeincidnciaedas propriedadesespectraisdovidro.Givoni(1981)descreveoprincpiodo funcionamentodosdispositivosdeproteosolar:aradiaointerceptada externamente ao vidro, e parte refletida para o exterior, parte refletida para o interior e o restante absorvido, elevando a temperatura do dispositivo. Sistemas de aberturasSuperfcie opaca = 0 Abertura (a)Superf. transparente (b)Associao de superf. opaca + transp. (c) I = 0gRadiao solarincidentefluxo da radiao solarabsorvida e dissipadapara o exteriorfluxo da radiao solarabsorvida e dissipadapara o interiorradiao solar refletida IgRadiao solarincidente IgRadiao solarincidentefluxo da radiao solarabsorvida e dissipadapara o exteriorfluxo da radiao solarabsorvida e dissipadapara o interiorradiao solar refletidaradiao solar transmitida radiao solar transmitidaIg Fig. 3.33. Absoro, reflexo e transmisso da radiao solar incidente sobre as superfcies. Quandoodispositivodesombreamentointerceptaosraiossolares,ele reduzoueliminaaincidnciadessaradiaonovidro,eassim,atransmisso dessa energia para o ambiente interno (fig. 3.33). Caso proporcione sombra a toda a rea da superfcie, a transmisso eliminada. Se sombrear uma parte e admitir insolaonarestante,areduodependerdopercentualdareasombreada sobre a total. No caso de uma orientao ou dimensionamento inadequados, no 48haver sombreamento e a superfcie receber a totalidade da radiao incidente. Nosestudosdegeometriadeinsolao,essassituaessodenominadas, respectivamente,comoeficinciastotais,parciaisenulas.Essaclassificao adotadarefere-senecessidadedesombreamento,entretantoquandoos dispositivossoprojetadosconsiderandoanecessidadedeinsolaonoinverno paradeterminadalocalidade,incoerentedenominarcomoeficincianula,pois satisfazaorequisitoprojetual.Olgyayenfatizaaavaliaodosperodosde superaquecimentocomoprincpioparaoprojetodesseselementos,masapenas parasombreamentototalenofazrefernciassituaesemqueasombra parcial.Frotarefere-seeficinciatotal,parcialenula,masnoparteda identificao dos perodos de necessidade de proteo. Fathy (1986) menciona que a eficincia desses elementos da ordem de 1/3.SegundoaASHRAE(2001),paraaberturastotalmentesombreadaspor dispositivosexternos,podehaverumareduodoganhodecalorsolaremat 80%.Olgyay(1963)apresentacoeficientedesombreamento17deat87%(para brise-soleil vertical mvel, adequadamente projetado). J para Givoni (1981) o sombreamento externo possibilita eliminar mais de 90%doganhodecalorsolar,(ovalormximoconsideraaaberturavedada ventilao),sendoqueaeficinciatrmicamaiorquandoosdispositivosso pintados com cores escuras. O autor afirma que para elevar a eficincia do brise-soleiloidealseriaautilizaodecoresescuras,principalmenteopreto. Considerandoessainformaopode-seraciocinarque,tendocoresescurasum coeficiente de absoro elevado, o brise-soleil negro funcionaria bem na proteo desuperfciestransparentesetranslcidas,pois,devidotambmalta emissividade,reirradiaroemondalongaaradiaosolarabsorvida.Paraessa radiao,essesmateriaissoopacos.Essesbrise-soleilfuncionariambemcom umposicionamentodistantedasuperfciesobproteo,poisaumentariama dissipaodo calorreirradiadocoma ventilaodos elementos. Entretanto,se 49nohouverdistanciamentodasuperfciedaedificao,suaeficinciaseria bastantereduzida,poisocalorabsorvidopassariaaointeriorporconduo. necessrio observar, porm, que essa soluo bastante prejudicial em relao a eficincia luminosa. Contrapondoessainformao,Rivero(1986)apontanadireoinversa, comautilizaodecoresclarascomaltondicedereflexo,poisdeixariade absorverocaloremfunodoaumentodaparcelarefletida,econseqente reduodaabsorvida.Nessecaso,amanutenodalimpezadoselementos essencialparaassegurarsuaeficcia,etambmpodeocorrerproblemade ofuscamento do usurio, dependendo do posicionamento do brise-soleil. Em consonncia com Givoni, Ges (1995) afirma que as janelas fechadas se beneficiam com cores escuras, quando a reflexo da poro visvel da radiao solar para a fachada diminui e o vidro da janela, opaco radiao infravermelha, noabsorveacargatrmicairradiadapelasplacas.Jasjanelasabertasse beneficiam com o brise-soleil de cores claras, em que o ar de entrada no ambiente interno se ressente menos das trocas por conveco e radiao com o brise-soleil. Ainflunciadosmateriaisnodesempenhodobrise-soleilimplicanatransmisso do calor por radiao e conveco de suas placas para o ambiente interno, e por conduo para as paredes envolventes, atravs dos suportes. 3.2.6. Avaliao da eficincia Aeficinciadobrise-soleildependedolocal,clima,orientaoeperodo para o qual foi projetado. 17Coeficientedesombreamentotemoobjetivodecompararocontrolesolarefetivoobtidopordiferentessistemasde aberturas. Expressa uma relao entre o ganho total de radiao solar de uma abertura externa com ou sem proteo solar, comparado a uma abertura de referncia com vidro simples de 3mm incolor, sob mesmas condies ambientais. 50Oestudoqueapresentaumaabordagemamplasobreosdispositivosde proteosolarfoiorealizadoporVitoreAladarOlgyay,sendoathoje extremamente relevante, divulgado no livro Solar control and shading devices de 1957.Apresentaosdispositivosdesombreamentocomoumelemento arquitetnico,descreveatcnicaparaoprojetodaproteosolar,comentao mtodopropostonumaaplicaoprtica,eatravsdeexemplosdeedificaes comentasuaexpressoarquitetnica.Enfim,analisaaformaefunodo elemento, discutindo a expresso arquitetnica resultante e sua eficincia atravs demtodosgrficosemedies,tantoemmodeloscomoemmateriaise componentes construtivos. Dispositivo de proteo solar As avaliaes relativas eficincia dos dispositivos de proteo solar so abordadasbasicamentedetrsformas:geometriadeinsolao,simulaescom softwares, e medies em campo ou em laboratrio. Um mtodo menos usual o balanotrmicoderadiaoedadosclimticos.Aspesquisascomenfoquena geometria solar so as mais utilizadas, e os mtodos grficos para a determinao de sua eficincia os mais estudados. Os autores que abordam o assunto de forma maisabrangentesoOlgyay&Olgyay,1957;Croiset,1976;Givoni,1981;e Rivero, 1986. Abordam a relao do sombreamento e controle do solar ganho de calorsolar,analisandorelaesdesuperfciesopacase transparentes/translcidas,efatoresdetransmisso,absoroereflexoda radiao solar. Olgyay&Olgyay(1957),analisandooselementosqueconstituema edificao,consideramovidrocomooelementomaisvulnervelaoda radiao solar. Nesse trabalho afirmam que a ultravioleta facilmente controlada e aluzvisvelnecessrianoambiente,podesercontroladainternamentecom 51relativafacilidade.Assim,concentramseuestudonaradiaoinfravermelha,de impacto mais profundo, pois nessa faixa a edificao mais vulnervel. O mtodo proposto pelos autores para o dimensionamento e avaliao da eficinciadosdispositivosdesombreamentoparacontroledaradiaosolar incidente composto por quatro etapas: -determinaodosperodosdesuperaquecimento,ouseja,quandoo sombreamento necessrio. Utilizam-se dados das variveis ambientais e a carta bioclimtica; -comousodacarta solaremprojeoeqidistante,localizaaposiodo sol e nela so marcados os perodos de necessidade de sombreamento; -escolha da tipologia e posio do dispositivo, atravs do uso da carta solar com a sobreposio de um transferidor auxiliar para o traado da mscara de sombra; -comosngulosdesombradefinidos,dimensiona-seoelementode proteodeformaqueobstruaosraiossolaresnosperodosde superaquecimento e permita insolao nos perodos de frio. Complementamomtodocomclculosderadiaoeousode nomogramas sobrepostos a carta so