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Universidade de

Aveiro

2020

Departamento de Línguas e Culturas

Guo Binyu

Estudo linguístico de palavras de origem chinesa no português

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Universidade de Aveiro

2020

Departamento de Línguas e Culturas

Guo Binyu

Estudo linguístico de palavras de origem chinesa no português

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Português Língua Estrangeira, Língua Segunda, realizada sob a orientação científica da professora Rosa Lídia Torres do Couto Coimbra e Silva, do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro

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o júri

Presidente:

Vogais:

Doutor Carlos Manuel Ferreira Morais

Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro

Doutora Sara Topete de Oliveira Pita (arguente)

Professor Auxiliar Convidada da Universidade de Aveiro

Doutora Rosa Lídia Torres do Couto Coimbra e Silva (orientadora)

Professora Auxiliar da Universidade de Aveiro

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agradecimentos Este espaço é dedicado àqueles que deram a sua contribuição para que esta dissertação fosse realizada. A todos eles deixo aqui o meu agradecimento sincero.

À minha orientadora, Professora Rosa Lídia Coimbra, pelo apoio e orientação, disponibilizados na realização deste trabalho, conselhos e sugestões, além das palavras de ânimo que imprimia sempre que achava necessário. Agradeço-lhe todas as suas sugestões e indicações dadas, que foram essenciais para esta produção escrita.

Aos meus pais pela forma como me incutiram a alegria de viver, fazer tudo o melhor possível e a confiança necessária para realizar os meus sonhos, pelo carinho e confiança que sempre me têm demonstrado, pela paciência, compreensão e encorajamento constante deles durante o processo da redação desta tese e por tudo o resto não dito.

À minha querida amiga, Catarina, por todas as correções gramaticais que fez para o meu trabalho e por todo o tempo que dedicou altruistamente ao melhoramento das minhas expressões portuguesas. Sem a sua ajuda generosa, muito dificilmente este estudo se teria tornado realidade.

Em suma, agradeço a todos aqueles que colaboraram e participaram para a realização desta dissertação, a aqueles que me orientam no estudo, me deram a mão e carinho na vida, desejo que tudo possa correr bem com eles. Portanto, queria dar-lhes o meu profundo agradecimento.

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palavras-chave Empréstimos, estrangeirismos, chinês, português, léxico, PLE.

resumo

Neste trabalho, pretende-se estudar a presença, no universo da língua portuguesa, de palavras de origem chinesa. O enquadramento teórico partirá de uma panorâmica sobre o desenvolvimento e expansão da língua portuguesa e contemplará as condições históricas da incorporação de palavras de origem chinesa no português. A parte prática do estudo partirá de um levantamento sobre corpora online de usos e frequência destas palavras na língua. O estudo contempla aspetos léxico-semânticos e morfológicos.

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keywords Loanword, foreign, Chinese, Portuguese, lexicon, PLE.

abstract

In this work, we intend to study the presence, in the universe of the Portuguese language, of words of Chinese origin. The theoretical framework will start from an overview of the development and expansion of the Portuguese language and will contemplate the historical conditions of the incorporation of words of Chinese origin in Portuguese. The practical part of the study will be based on a survey on online corpora of uses and frequency of these words in the language. The study includes lexical-semantic and morphological aspects.

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Índice

Introdução 02

Capítulo I – Enquadramento teórico 04

1. Perspetivação histórica do léxico do português 04

1.1 Do latim ao português 04

1.2 Processos de renovação e enriquecimento do léxico 05

1.3 Desenvolvimento da língua portuguesa 08

2. Influência linguística entre a língua portuguesa e outras línguas 11

Capítulo II – Análise dos resultados da pesquisa 17

1. Empréstimos e estrangeirismos de origem chinesa nos dicionários 17

2. A origem etimológica dos vocábulos 23

3. Diferenças de frequência nas variedades do português 28

3.1 As frequências totais por países 31

3.2 As frequências dos dez empréstimos mais frequentes por países 32

4. Análise dos empréstimos de origem chinesa mais frequentes 38

4.1. Análise morfológica e semântica dos dez empréstimos mais frequentes 38

4.2. Dados do WebDial sobre os três empréstimos mais frequentes 41

5. Análise da formação dos empréstimos de origem chinesa 48

Conclusões 54

Referências bibliográficas 57

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Introdução

A língua é um veículo de cultura e um instrumento para o desenvolvimento da

sociedade. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da sociedade, o progresso da ciência e

da tecnologia, o intercâmbio de ideias e a integração das culturas enriquecem e

desenvolvem a linguagem. À medida que o processo de globalização avança, a

comunicação e a influência entre as diferentes culturas não podem deixar de se

manifestar na linguagem.

Com o desenvolvimento da história, a comunicação entre as nações do mundo

aprofunda-se e os laços entre as nações tornam -se cada vez mais estreitos. Mas quando o

nome de um objeto não pode ser acedido durante a comunicação, pode recorrer -se ao

estrangeirismo para suprir o significado em falta. Na língua portuguesa, isso ocorre com

alguma frequência, sendo que esta dissertação analisa as palavras de origem chinesa na

língua portuguesa. Como língua internacional, o português tem vindo a enriquecer -se ao

longo do seu desenvolvimento, com encontros com outras culturas, especialmente no

que se refere ao seu vocabulário, pelo que muitas vezes encontramos, em português,

muitas palavras de outras línguas, como o latim, o francês, etc. Chamamos estas palavras

provenientes de outra língua de estrangeirismos. Da pesquisa que fizemos, concluímos

que o estudo dos empréstimos chineses em português, como o de Fu Hanyu (2013), são

ainda muito escassos e parcelares.

O estrangeirismo em português deriva principalmente do latim, grego, alemão,

árabe, espanhol, inglês e francês, sendo o chinês um deles. Como um fenómeno de

transmissão cultural entre povos, a presença de palavras estrangeiras na língua

portuguesa tem uma história milenar. Em particular, com a renovação contínua de vários

dicionários, o número de palavras de origem chinesa que entram na língua portuguesa

continua a aumentar.

A minha dissertação é dividida em uma seção teórica e uma seção analítica.

A parte teórica encontra -se dividida em duas partes. Na primeira parte, apresentarei,

em primeiro lugar, o período histórico em que nasceu a língua portuguesa e a evolução do

próprio vocabulário português durante esse período histórico. Em seguida, apresenta - se a

evolução do vocabulário português em função das influências externas

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o enriquecimento do vocabulário português a partir desta influência. Finalmente, será

apresentada a evolução da língua portuguesa nos tempos modernos. Na segunda parte,

será apresentada a influência recíproca do português e de outras línguas. O significado

de empréstimo será brevemente explicado.

Na parte da análise, será apesentada principalmente a análise de dados de pesquisa

de palavras de origem chinesa na língua portuguesa. Em primeiro lugar, serão listadas as

palavras estrangeiras de origem chinesa em português, bem como as suas fontes

etimológicas. Em seguida, serão contadas as diferenças que ocorrem na frequência do

vocabulário nos diferentes países de língua portuguesa. Seguidamente, os dados

estatísticos serão analisados. Finalmente, serão tecidas algumas considerações sobre a

formação de empréstimos de origem chinesa.

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Capítulo I – Enquadramento teórico

1. Perspetivação histórica do léxico do português

1.1 Do latim ao português

O português pertence à família das línguas românicas e tem origem no latim popular.

A partir do terceiro século a.C., a República Romana iniciou uma expansão em larga

escala. Em 218 a.C., os romanos ocuparam a Península Ibérica e trouxeram o latim para

cá. Durante o domínio romano, Portugal fazia parte da província da Lusitânia do

Império Romano, com o latim como idioma oficial, administrativo, judicial, militar,

académico e religioso.

A Língua Portuguesa tem a sua proveniência no Latim Vulgar, introduzido na

Lusitânia pelos romanos, região localizada no ocidente da Península Ibérica. Coutinho

explica-nos a origem da Língua Portuguesa da seguinte forma:

“Pode-se afirmar, com mais propriedade, que o português é o próprio

Latim modificado. É lícito concluir, portanto, que o idioma falado pelo

povo romano não morreu, como erradamente se assevera, mas

continua a viver transformado, no grupo de línguas românicas ou

novilatinas.” (Coutinho, 1976, p. 46)

Intelectuais e intelectuais de nível superior, como eruditos, clérigos e políticos,

usavam o latim clássico, enquanto soldados, empresários e administradores locais

usavam o latim vulgar. “Os primeiros textos escritos em português surgem no século

XIII. Nessa época, o português não se distingue do galego, falado na província (hoje

espanhola) da Galiza. Essa língua comum — o galego-português ou galaico-português

— é a forma que toma o latim no ângulo noroeste da Península Ibérica” (Teyssier,1997,

p. 6).

Com o passar do tempo, a língua latina popular fundiu -se com as expressões

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tradicionais dos povos indígenas locais, processo de fusão que se concentra no

abandono das consoantes l e n entre as vogais latinas.

“Sabemos que o português provém do latim vulgar falado no noroeste

da Península Ibérica, que foi modulado pela influência de certas

caraterísticas dos primitivos habitantes da região. Essa influência

motivou a supressão do –l– e do –n– latinos entre vogais, produzindo

assim uma das grandes diferenças entre o português e o espanhol, língua

em que essas consoantes se mantiveram (p. ex. port. só, mau, cor,

mão; esp. solo; malo; color; mano).” (Mateus, 2005. p.2)

Com o colapso do Império Romano no século V e a invasão dos bárbaros, a língua

local tornou-se diferente de outras línguas e românticas. Por volta do século IX,

começaram a aparecer os primeiros registos escritos dessa mesma língua. No século XV,

o português havia-se tornado numa língua madura, com uma riqueza de obras literárias.

1.2 Processos de renovação e enriquecimento do léxico

Os bárbaros germânicos invadiram o Império Romano após 400 d.C. Os visigodos

ocuparam Portugal em 585 e afetaram a língua local,

“[...] com a chegada dos povos germânicos à península e

nomeadamente os suevos à Galiza visse como o Latim vai tornar

realmente numa língua franca entre galaicos -romanos (provavelmente

bilíngues em Latim e galaico -lusitano) e suevos com a língua trazida do

centro da Germânia, que distante entre si buscassem no Latim o seu

ponto de encontro.” (Barbosa, 2005, p.3)

o que se refletiu principalmente na riqueza do vocabulário, mas não alterou a estrutura

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linguística latina.

“Os invasores germânicos limitaram-se a introduzir algum vocabulário

referente aos usos bélicos, ao vestuário, além de nomes de pessoas.

Mas muitas das palavras germânicas, que passaram ao português,

chegaram à península antes das invasões dos bárbaros, pois já haviam

penetrado no próprio latim e foram trazidas pelos romanos. É reduzido

o vocabulário diretamente introduzido pelos invasores. Eis algumas

das palavras germânicas, que ainda podem ser consideradas como

substrato: agasalho, arauto, arreio, bando, branco, barão, brisa, burgo,

dardo, elmo, esmalte, espora, estribo, fresco, guerra, guisa, guarda,

jardim, rico, roupa, etc.” (Vilela,1994, p. 15)

Após a invasão germânica formou -se um sentimento nacional, como nos diz

Castilho:

“A grande importância linguística da invasão germânica está em que

seu domínio libertou as potencialidades diferenciadoras da península

em relação a Roma, não mais considerada como metrópole. Formou -se

um sentimento nacional, e entre os sécs.VI e IX o Latim Vulgar

Hispânico, matizado pelos germanismos, começou a dilatar-se nos

diversos Romances de que surgiriam a partir do séc. X as línguas

românicas ibéricas.” (Castilho, 2009, p. 19).

No século VIII, os árabes invadiram a Península Ibérica e produziram um profundo

impacto na língua local. O domínio árabe do século VII em diante facilitou muito a

expansão e a integração da civilização. Deste modo, surge na região o desenvolvimento

da ciência e da arte.

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“O desenvolvimento literário foi muito intenso, a ponto de pensarem

alguns historiadores da literatura que a poesia lírica medieval da

Península Ibérica seja de origem árabe. Estudos linguísticos foram

cultivados, para as explicações do Alcorão.” (Castilho, 2009, p. 22)

Eles não apenas trouxeram colheitas agrícolas ricas e técnicas avançadas de plantio,

religião islâmica, azulejos etc., mas também espalharam bolsas de estudos gregas pela

Península Ibérica. Como resultado, o árabe enriqueceu bastante o vocabulário dos

idiomas locais, com palavras como alface, azeite, azulejo em português.

“Da ocupação árabe, por força da civilização comercial e agrícola

transportada pelo povo árabe, resultou uma língua popular de estrutura

românica com certa interpenetração árabe, sobretudo no léxico - o

chamado moçárabe -, e daí nos adveio um grande número de

vocábulos árabes, nos domínios da agricultura, economia,

administração, cultura e matemática, como açude, alcova, alcunha, aldeia,

alface, alfândega, alferes, algarismo, álgebra, algodão, alicerce, alfinete,

almude, álcool, armazém, arroz, azeite, azeitona, azenha, nora, cifra,

refém, zero, etc. ” (Vilela,1994, p. 16)

Com o passar do tempo, o latim popular e outras línguas continuaram a fundir -se e

a desenvolver-se, e o português evoluiu gradualmente para um novo idioma

independente do latim. No século XII, as pessoas começaram a usar o português para

registar informações como dívidas, testamentos e tratados, documentos que comprovam

totalmente o nascimento do português.

O léxico do português tem, pois, a sua génese em diferentes idades e origens.

Obviamente, como todas as línguas, a língua portuguesa foi enriquecida e mudada ao longo

da sua história. Como referimos anteriormente, a língua portuguesa é o resultado de uma

longa história. Apesar disso, existiram também processos de introdução de novas palavras

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oriundas de outros idiomas no idioma português ao longo do seu desenvolvimento.

1.3 Desenvolvimento da língua portuguesa

A partir do século XV, Portugal entrou na Era dos Descobrimentos, A frota de

Portugal mudou-se para o sul ao longo da costa oeste da África, contornando a ponta

mais ao sul da África e indo para o leste ao longo do Oceano Índico, alcançando Índia,

China, Japão e outros países, e nesse pro cesso de exploração do Oriente, acabou

também por descobrir o Brasil numa viagem em que, acidental ou propositadamente, se

desviou da rota planeada. Portugal não apenas controlou um grande número de bases

comerciais, mas também construiu um enorme império no exterior, implementou o

domínio colonial e tornou -se o centro do poder na Europa.

No decurso da expansão colonial portuguesa, o português também colidiu

constantemente com os idiomas de vários países, pelo que o seu vocabulário, pronúncia,

morfologia e sintaxe foram enriquecidos e evoluíram. Mais importante, com o

estabelecimento do império português no exterior, a Língua Portuguesa foi para o

exterior e tornou-se um idioma mundial. Atualmente, o português é o idioma oficial de

nove países, incluindo Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e

Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Timor Leste, além de ser o idioma oficial da

Região Administrativa Especial de Macau da China. Ainda há falantes de português em

Goa, Damão e Malaca na Malásia. O uso do português nesses países e regiões varia muito.

“No século XIV os portugueses descobrem os arquipélagos da

Madeira e dos Açores, que começam a povoar em princípios do século

seguinte. Em 1415, tomam Ceuta. descem pouco a pouco a costa da

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África. Em 1488, Bartolomeu Dias dobra o Cabo da Boa Esperança.

Em 1498, Vasco da Gama chega à Índia. Em 1500, Pedro Álvares

Cabral descobre o Brasil. Depois, os portugueses prosseguem até

Malaca, às ilhas de Sonda, às Molucas, à China e ao Japão. A língua

portuguesa, transportada assim para o ultramar, vai-se expandir por

vastos territórios. Política e administrativamente, nada resta hoje do

antigo Império. O Brasil tomou -se independente em 1822, e a

descolonização que se seguiu à revolução de 25 de abril de 1974 pôs

termo à presença portuguesa na África. A língua, porém, essa

permaneceu no Brasil e em diferentes países da África e da Asia.”

(Teyssier, 1997, p.31)

O português é língua oficial e a primeira língua dos portugueses. O português em

Portugal, também conhecido como português europeu, baseia-se principalmente no

português usado em Lisboa e Coimbra. Embora existam diferenças nos dialetos do

português utilizados em várias regiões de Portugal, existem principalmente diferenças nas

pronúncias individuais, que não afetam a comunicação e o entendimento entre si.

No Brasil, o português também é o idioma oficial e o primeiro idioma da população,

mas o português brasileiro é diferente do português europeu em termos de pronúncia,

vocabulário, morfologia e gramática, porque o português brasileiro não é afetado apenas

pelos idiomas e escravos indígenas locais. O impacto do uso de várias línguas africanas

também foi influenciado pelo italiano, alemão, japonês, holandês e inglês na onda de

imigração após o fim do tráfico de escravos. Além disso, devido ao vasto território

brasileiro, fatores como história colonial, composição da imigração e diferenças

geográficas tornam os dialetos portugueses em diferentes regiões bastante diferentes.

A situação linguística na África de língua portuguesa é mais complexa. Embora o

português seja a língua oficial desses países, as pessoas costumam usar uma das línguas

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africanas locais como primeira língua. No processo de colonização, a fusão de várias

línguas formou o crioulo, que se tornou o idioma comum desses países de língua

portuguesa, especialmente Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Embora o

mundo académico divida o português no português europeu e no português brasileiro, o

que significa que o português nos países africanos adota o padrão do português europeu,

na verdade, o português nos países de língua portuguesa africana também é influenciado

pelos seus idiomas nacionais. A situação na Guiné Equatorial é especial e não é a mesma

que nos países africanos de língua portuguesa mencionados acima. Embora fosse uma

colónia portuguesa, a Espanha começou a ocupar a Guiné Equatorial a partir do final do

século XVIII e gradualmente transformou-a numa província no exterior, então a

influência dos portugueses diminuiu gradualmente.

Em Timor-Leste, o português e o tétum local são os idiomas oficiais, mas,

diferentemente do tétum, o português é estabelecido como idioma oficial e de trabalho

por razões políticas. Embora o português seja a língua executiva, legislativa e judicial em

Macau, poucas pessoas usam o português diariamente.

“Na África a situação é bem diferente. A descolonização que se seguiu

à revolução de 25 de abril de 1974 levou à constituição de cinco

repúblicas independentes: 1 — Cabo Verde; 2 — Guiné-Bissau; 3 —

São Tomé Príncipe; 4 — Angola; 5 — Moçambique. Estas cinco

repúblicas não são comparáveis nem pelas dimensões dos seus

territórios nem pela importância das suas populações. Nestes cinco

territórios, o português é a língua oficial, a que é utilizada na

administração, no ensino, na imprensa, assim como nas relações com o

mundo exterior.” (Teyssier, 1997, p.77)

Portugal espalhou pelo mundo o idioma português, fazendo com que este se

apresente como a língua oficial em oito países e 5.ªmais falada no mundo hoje em dia.

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2. Influência linguística entre a língua portuguesa e outras línguas

A soma da riqueza material e espiritual criada pelos seres humanos no processo de

desenvolvimento social é chamada cultura. A linguagem, que é uma parte importante

da cultura, naturalmente se torna portadora da cultura. Ao longo dos tempos, devido aos

contactos e intercâmbios entre várias nacionalidades e países, diferentes idiomas

também se influenciaram mutuamente e se interpenetraram. Além da sua evolução interna,

o português também absorve um grande número de palavras estrangeiras.

“A história da língua portuguesa tem-nos mostrado que empréstimos

sempre foram importantes na formação do léxico. Desde o português

arcaico, o idioma tem recebido unidades lexicais do provençal (trova,

trovador…), do francês (jogral, linhagem…), do espanhol (caudal,

colcha, hediondo…). A influência italiana marcou a fase renascentista.

Dessa língua o português recebeu unidades lexicais relativas à poesia

(soneto, terceto…), à milícia (acampar, batalhão…), ao teatro

(arlequim, bufo…)” (Alves & Maroneze 2003, p. 29)

Os exemplos seguintes mostram empréstimos de diversas proveniências,

introduzidos no Português em diversos momentos da sua história.

“a. Castelhanismos

chiste 1543 chiste

airoso 1552 airoso (de aire ‘ar’)

moreno 1561 moreno (de moro ‘mouro’)

neblina 1660 neblina

palito 1720 palito (de palo ‘pau’)

lantejoula 1789 lentejuela

guerilha 1836 guerrilla

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bandarilha 1871 banderilla (de bandera ‘bandeira’)

cabecilha 1881 cabecilha

boina 1899 boina

cavalheiro caballero (de caballo ‘cavalo’)

b. Provençalismos e Galicismos

abandonar XIII abandonner (de bandon ‘poder’)

dama XIII dame

jóia XIII joyau

monge XIII monge

franja 1507 frange

chefe 1545 chef

bilhete 1611 billet (de bille ‘bola’)

comboio 1654 convoi (de convoyer ‘ir pela estrada’)

crêpe 1704 crêpe

terrina 1764 terrine de terre

blusa 1871 blouse

croquete 1871 croquette (de croquer ‘estalar’)

fétiche 1873 fétiche

governamental 1881 gouvernemental (de gouvernement)

montra 1899 montre (de montrer ‘mostrar’)

soutien XX soutiens-gorge

lingerie 1931 lingerie

tailleur 1933 tailleur

envelope 1938 enveloppe (de envelopper ‘envolver’)

palmier 1938 palmier

maquilhar 1941 maquiller 'pintar (o rosto)’

liseuse 1949 liseuse

boîte 1961 boîte

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croissant croissant

filete filet (de fil ‘fio’)

réveillon réveillon

c. Italianismos

balcão 1360 balcone

tenor XV tenore

piloto 1438 piloto

fachada 1548 facciata (de faccia ‘face’)

grotesco 1548 grottesco (de grotte)

contralto 1573 contralto

sentinela 1571 sentinella

soneto 1587 sonetto (de son ‘som’)

aguarela 1615 acquarella

charlatão 1643 ciarlatano (de ciarlare ‘falar’)

ópera 1698 opera 'obra'

bússola 1712 bussola

terceto 1789 terzetto

atitude 1817 attitudine

pitoresco 1833 pittoresco ‘relativo a pintor’

piano 1858 pianoforte

violoncelo 1858 violoncello

fiasco 1872 fiasco 'frasco de vidro'

pizaria XX pizzeria

d. Empréstimos provenientes de línguas africanas

banana de uma língua falada na Guiné

berimbau do Quimbundo, língua falada em Angola

cacimba do Quimbundo

carimbo do Quimbundo

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cubata do Quimbundo

samba do Quimbundo

senzala do Quimbundo

zumbi do Quimbundo

e. Empréstimos provenientes de línguas ameríndias

canoa 1533 do Aruaque, língua falada entre as

bacias do Amazonas e do Oiapoque

chocolate 1726 do Náuatle, língua falada no México

tomate 1721 do Náuatle

cacau 1675 do Náuatle

xícara 1706 do Náuatle

alpaca 1836 do Quíchua, língua falada na

Argentina, Bolívia, Equador e Peru

condor 1727 do Quíchua

amendoim 1618 do Tupi, língua falada no Brasil

mandioca 1549 do Tupi

tapioca 1587 do Tupi

f. Empréstimos provenientes de línguas asiáticas

leque 1600 do Chinês

bengala 1543 do Hindu

haraquiri 1874 do Japonês

quimono 1897 do Japonês

chá1565 do Mandarim

pagode 1516 do Malaio

bule 1649 do Malaio

chávena 1649 do Malaio

ketchup XX do Malaio

xaile 1789 do Persa” (Villalva, 2007, p. 60)

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Estes exemplos estão relacionados com o conceito de estrangeirismo. De acordo

com o Dicionário de Termos Linguísticos, estrangeirismo significa:

“Empréstimo lexical não integrado na língua, revelando-se estrangeiro

nos fonemas, na flexão e até na grafia, ou palavras portuguesas

empregadas com a significação das palavras estrangeiras de forma

semelhante. Na língua portuguesa os estrangeirismos mais frequentes

são hoje galicismos e anglicismos. A palavra estrangeira, quando é

sentida como necessária, ou pelo menos útil, tende a adaptar -se à

fonologia e à morfologia do português, através de um processo de

aportuguesamento.” (Xavier & Mateus, 1992, p. 152)

Temos empréstimo sempre que uma língua importa um elemento de outra língua. Se

esse elemento não for integrado no sistema fonológico e ortográfico da língua de chegada,

tem o nome de estrangeirismo. De acordo com o Dicionário de Termos Linguísticos,

empréstimo significa:

“Há empréstimo linguístico quando um sistema A utiliza e acaba por

integrar uma unidade ou um traço linguístico que existia antes num

sistema linguístico B e que A não possuía. A unidade ou o traço tomado

como empréstimo são eles próprios chamados empréstimos. Os

empréstimos podem ser externos ou internos.” (Xavier & Mateus,

1992, p. 142)

Quando há a adaptação ao sistema fonológico e ortográfico do português, dizemos

que ocorreu um aportuguesamento. De acordo com o Dicionário de Termos Linguísticos,

a definição de aportuguesamento é:

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16

“adaptação fonológica e morfológica dos estrangeirismos lexicais ao

português. Exs.bife (ing.beef), confeti (it.confetti). O

aportuguesamento integral atinge também a grafia. Como em “bife”,

mas mesmo com a grafia estrangeira pode dar-se o aportuguesamento

fonológico pela mudança de leitura” (Xavier & Mateus, 1992, p.47)

Por exemplo, se, em português, usarmos a palavra “leader”, isso é um

estrangeirismo, se usarmos a forma “líder”, já temos um aportuguesamento, porque

ocorreu uma adaptação, fonológica e morfológica. Ambos são empréstimos, porque ambos

vieram do inglês.

Algumas palavras estrangeiras são emprestadas umas das outras em diferentes

idiomas, e os seus significados são os mesmos ou ligeiramente modificados. Como no

inglês "mango" (manga) emprestado de “manga” em português.

Na sociedade moderna, devido ao desenvolvimento de alto nível da ciência e da

tecnologia e às trocas internacionais mais frequentes, as trocas entre as línguas estão a

tornar-se cada vez mais ativas, devendo-se observar que a influência e a penetração

mútuas entre as línguas se fortaleceram. Essa é uma das caraterísticas do

desenvolvimento da linguagem e um sinal de progresso social à escala global.

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17

Capítulo II – Análise dos resultados da pesquisa

Neste capítulo serão apresentados os dados da nossa recolha de empréstimos e

estrangeirismos de origem chinesa presentes na língua portuguesa. A recolha partiu da

consulta de dicionários do português e o uso dos vocábulos foi atestado no portal.O

corpus do português, nas variedades do português de Portugal, do Brasil, de Angola e de

Moçambique.

Vou listar três tabelas para analisar os dados de empréstimos e estrangeirismos de

origem chinesa de forma clara e intuitiva.

1. Empréstimos e estrangeirismos de origem chinesa nos dicionários

Seguidamente, na tabela 1, apresentam-se palavras de origem chinesa que entraram

no idioma português e que se encontram dicionarizadas como tal em dicionários de

língua portuguesa. Na primeira coluna da tabela indicam-se os vocábulos e origem

chinesa e suas definições. Na segunda coluna apresentam-se as frequências com que

estes vocábulos surgem na internet, segundo os resultados obtidos numa pesquisa

efetuada no motor de busca Google em fevereiro e março de 2020.

As definições e informações etimológicas foram consultadas nos seguintes

dicionários de língua portuguesa (ver referências completas na secção das referências

bibliográficas, no final da presente dissertação):

A – Dicionário Infopedia (online).

B – Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Machado, 1990).

C – Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (Academia das Ciências, 2001).

Na tabela 1, que a seguir se apresenta, as ocorrências encontram -se listadas por

ordem alfabética.

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Tabela 1 – Palavras de origem chinesa no português

Vocábulo Frequência na

Internet

ba gua /pa kua

(a representação de um conceito filosófico fundamental da

antiga China, sua tradução literal significa oito trigramas

ou oito mutações)

34 400 0 / 11 400 000

canga

(pau que assenta no chinguiço e de que pende a carga

levada por dois homens; antigo instrumento de suplício

chinês) A

5 330 000

cantonês /cantonense

(relativo ou pertencente àcidade de Cantão (China);

natural ou habitante de Cantão; dialeto chinês falado

em Cantão) A

4 450 000/ 41 300 000

caulino /caulim

(substância terrosa (argila) com cheiro a barro, constituída

por caulinite associada a outros minerais) A

112 000 / 341 000

chá

(planta arbustiva de origem asiática; folhas desta planta,

preparadas para infusão; infusão preparada com as folhas

desta planta) A

224 000 000

changshan /cheongsam

(vestido tradicional da China)

638 000/12 800 000

charão

(verniz de origem oriental, lustroso e de coloração preta ou

vermelha, preparado com laca e outras substâncias e

aplicado no revestimento de peças de mobiliário e outros

objetos decorativos) A

796 000

chau-chau

(prato de origem chinesa em que se refogam em conjunto

carnes e vegetais) A

67 000 000

chau-min / chaumin

(chau-min émacarrão chinês frito com legumes e às vezes

carne ou tofu)

27 400 000/ 153 000

chávena

(pequeno recipiente com asa, geralmente de louça, que

serve para tomar bebidas, quentes ou frias) A

1 350 000

china

(pessoa natural da China) A

4 900 000 000

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Vocábulo Frequência na

Internet

chin-chin

((brinde) àsua saúde!) A

2 480 000 000

chop-suey

(prato da cozinha internacional chinesa preparado com

legumes, carne ou peixe, cortados finamente, salteados e

temperados com molho de soja, geralmente servidos com

arroz ou massa) A

14 100 000

chow-chow

(cão de baixa estatura, com pelo abundante e longo, que se

distingue pela cor da língua, preto -azulada) A

132 000 000

confucionismo

(sistema filosófico e religioso elaborado com base nas

doutrinas de Confúcio) A

Confúcio (um pensador e filósofo chinês do Período das

Primaveras e Outonos.)

237 000

2 010 000

congo

(chá preto usado na China) A

7 650 000

dim sum

(petisco tradicional da China)

334 000 000

fantã (Macau)

(jogo de azar sobre quatro números escritos numa lousa e

com o auxílio de sapecas) A

58 300 000

feng shui

(sistema de origem filosófica taoista que estuda a relação

entre as pessoas e os ambientes em que vivem, com o

objetivo de organizar os espaços de mo do a atrair

influências benéficas) A

124 000 000

ganga

(tecido de algodão, muito resistente e bastante usado em

vestuário informal, geralmente em tons de azul)

113000000

gingko

(Ginkgo biloba, árvore dioica e caducifólia de origem

chinesa; nogueira-do-japão) A

5 850 000

ginseng

(tipo de chá)

52 800 000

iuane /yuan

(unidade monetária da República Popular da China)

49 500 /695 000 000

kumquat /cunquate

(pequeno fruto oblongo de forte aroma, originário da China

6 600 000 /6 020

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Vocábulo Frequência na

Internet

e do Vietname, de 2 a 4 cm de comprimento, e de casca e

polpa alaranjadas, assemelhando-se a uma laranja de

pequenas dimensões) A

kung fu /kung-fu

(arte marcial chinesa, nascida de necessidade de

sobrevivência dos antepassados na luta contra animais

ferozes e contra inimigos)

444 000 000

leque

(objeto constituído por varetas sobrepostas e presas por

uma das pontas, que se abrem e fecham, cobertas por

tecido ou papel e que se agita para produzir corrente de ar;

abano) A

7 620 000

li

(fórmula de tratamento respeitoso que se usa, na China,

para certas pessoas; medida itinerária chinesa; pequena

moeda chinesa, geralmente de estanho ou de cobre) A

2 940 000 000

líchia

(árvore frutífera, da família das Sapindáceas, nativa das

regiões meridionais da China; fruto dessa árvore) A

194 000

longana

((Dimocarpus longan) árvore tropical asiática, da família

das Sapindáceas, que produz frutos comestíveis de polpa

doce; fruto globoso dessa árvore, com casca castanha,

polpa esbranquiçada e translúcida de sabor doce e caroço

arredondado e escuro) A

380 000

lorcha

(ligeira embarcação chinesa) A

386 000

ma huang

(planta Ephedra vulgaris, de onde se extrai a efedrina) A

161 000 000

macauense /macaense

(natural ou habitante de Macau)

749 000

majongue /mahjong

(jogo de origem chinesa em que se utilizam 144 pedras

com figuras e números, que são distribuídas por quatro

jogadores) A

15 800 /179 000 000

manchu

(da Manchúria, região do Nordeste da China; natural ou

habitante da Manchúria; idioma da Manchúria) A

10 800 000

maoísmo

(pensamento de Mao Tsé Tung)

282 000

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21

Vocábulo Frequência na

Internet

Mao Tsé-Tung (um político, teórico, líder comunista e

revolucionário chinês.)

274 000

nanquim

(tinta preta, originária da cidade de Nanquim, utilizada em

desenhos e aguarelas; tinta da China) A

Nanquim (a cidade da República Popular da China)

568 000

2 040 000

panchão

(um panchão é um cartucho de pólvora, revestido por papel

vermelho. É um elemento típico da China, sendo

tradicionalmente queimado para cumprir um dos rituais do

Ano Novo Chinês.)

207 000

pequinês

(natural ou habitante de Pequim; cão pertencente a uma

raça de pequenos cães provenientes da China, com pelo

longo e liso, focinho achatado e olhos saídos) A

Pequim (a capital da República Popular da China)

307 000

4 920 000

pinyin

(sistema de transcrição alfabética e fonética dos caracteres

chineses, que usa os caracteres do alfabeto latino, tendo

sido introduzido na República Popular da China em 1958

aquando da reforma linguística) A

15 500 000

qigong /chi kung

(exercício de culti vo da energia, originário da China)

23 400 000 / 140 000

000

sampana

(pequena embarcação asiática, movida àvela ou a remos,

usada para o transporte de passageiros e/ou mercadoria ou

para a pesca) A

326 000

sapatião

(barco chinês, pequeno e ligeiro) A

287

tagim / tagin

Do chinês tá -jin, «grande homem»

(tratamento dado aos Mandarins de elevada categoria)B

65 100/n.a.

tai

(relativo ou pertencente aos Tais, povo da China que se

estabeleceu na Tailândia, em Laos, em Myanmar, no

Vietname e no sul da China) A

n.a.

tai chi 44 900 000

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Vocábulo Frequência na

Internet

(arte terapêutica de origem chinesa que consiste num

sistema de exercícios de meditação muito lentos e

controlados, cujos efeitos se fazem sentir física e

psicologicamente) A

tai chi chuan

(arte marcial de origem chinesa, usada atualmente como

ginástica e prática terapêutica ou relaxante, em que

individualmente se executa uma sequência de movimentos

lentos e circulares, privilegiando a concentração, o

equilíbrio corporal, a flexibilidade e a respiração) A

4 190 000

taiji

(um termo cosmológico chinês para o estado "final

supremo" do potencial absoluto e infinito indiferenciado)

9 450 000

tancá /tancar

(pequeno barco chinês, coberto com um toldo de esteira de

forma oval, movido a remos ou àvela, geralmente

tripulado por uma mulher, usado muitas vezes para

transporte de passageiros dentro de um porto) C

47 900 000/5 650 000

tao

(no pensamento chinês, éa origem e o princípio regulador

e inalterável de toda a realidade, que incorpora a harmonia

dos opostos (yin e yang) e que corresponde ao fluxo

constante da força vital) A

855 000 000

taoismo

(tradição filosófica e religiosa chinesa, baseada nos

ensinamentos de Lao-Tsé, filósofo do século VI a.C., que

preconiza a união harmónica do ser humano com a

realidade cósmica primordial, o tao, através da

contemplação mística da natureza, da simplicidade e do

princípio da não interferência com o curso natural das

coisas) A

1 060 000

tutão

(superintendente do palácio real, na China antiga) A

259 000

vampi

(um tipo de arbusto)

854 000

wok

(espécie de frigideira, típica da cozinha asiática, com uma

forma de meia esfera, fundo abaulado ou arredondado, cujo

revestimento em carbono praticamente puro permite a não

aderência dos alimentos e uma maior resistência à

109 000 000

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Vocábulo Frequência na

Internet

oxidação) A

xangaiense

(pertencente ou relativo à cidade chinesa de Xangai) A

Xangai (a cidade da República Popular da China)

1 680

6 970 000

xantungue/shantung/Xantum

(seda tecida à mão com fios irregulares, apresentando uma

superfície desigual e áspera, originalmente produzida na

província de Xantungue, na China) A

34 900 / 5 520 000 / 52

500

xar-pei /shar-pei

(raça de cães originária da China, de tamanho médio, pelo

curto, pele solta e enrugada, e língua escura e azulada) A

789 000/27 900 000

ya yan tzu

(planta utilizada no tratamento da disenteria amebiana) A

1 770 000

yanguiano

(relativo ao físico chinês Chen Ning Yang, prémio Nobel

da Física em 1957, ou à obra deste cientista) A

270

yin-yang

(segundo a filosofia chinesa, conjunto de duas forças

essenciais da natureza ou princípios complementares e

opostos que estão presentes em todos os fenómenos da

vida, representado por um símbolo de formato circular nas

cores preta e branca) A

168 000 000

2. A origem etimológica dos vocábulos

Na tabela 2 que em seguida se apresenta, estão descritas, na primeira coluna, as

palavras contempladas nesta análise dos empréstimos de origem chinesa constantes na

língua portuguesa, listadas por ordem alfabética, e à sua direita, a origem desses mesmos

vocábulos, segundo a sua existência nas três diferentes fontes de informação referidas

anteriormente. Os vocábulos estão escritos segundo a(s) grafia(s) do português

contemporâneo, e as origens etimológicas através do sistema de transliteração pinyin, o

mais utilizado atualmente para o mandarim padrão.

As fontes da coluna “outras” indicam o dicionário de Priberam e Wiktionary.

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Tabela 2 – A origem chinesa dos vocábulos (em itálico a palavra original, escrita em

pinyin, e entre aspas o seu significado)

Vocábulo

Origem chinesa

Infopedia Dicionário

Etimológico

Dicionário da

Academia

Outras

ba gua /pa kua --- --- --- Do chinês

bāguà, «oito

trigramas

divinos»

canga --- --- Talvez do chinês

kang-kia, «trazer a

canga».

---

cantonês /cantonense --- --- --- Do cantonês ou

chinês Hakka,

gwong

dung/Kóng -tûng,

+ suf. ês/ense

caulino /caulim Do chinês kao-ling,

«monte alto».

--- Do chinês kao-ling,

«monte alto».

---

chá --- Chá veio do

mandarin

(ch"a)

Do dialeto mandarino

do chinês chá

---

changshan /cheongsam --- --- Do chinês cheong sam ---

charão Do chinês

chat-liáu , de chat,

«verniz» + liáu ,

«tinta; óleo».

--- Do chinês chat-liáu ,

de chat «verniz»

+ liáu «tinta»

---

chau-chau Do chinês chau,

«comida».

--- Do

chinês cháu «refogar»

---

chau-min /chaumin --- --- Do chinês chau min

(massa frita com

carne)

---

chávena do chinês cha-kvan. --- Do chinês cha-kvan,

pelo

malaio chavan «xícara

de chá»

---

china do chinês Sin,

nome de um

soberano chinês do

século III a. C.

A dinastia

"chin"

conquistou

todo o resto

da China

--- ---

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Vocábulo

Origem chinesa

Infopedia Dicionário

Etimológico

Dicionário da

Academia

Outras

moderna,

acrescentando

o "a" no final

significa

"terra dos

Chin" China.

chin-chin --- --- --- Do chinês qǐng

ou cantonês

cing2(bis), lit.

«por favor, por

favor»; interj. de

saudação usada

em Cantão

chop-suey Do chinês shap sui,

«pedaços variados»

--- --- ---

chow-chow Do inglês

chow-chow, pelo

cantonês kaú,

«cão».

--- --- ---

confucionismo --- --- --- Do mandarim

Kǒng Fūzǐ,

empresta. do

novo latim

Confucius

congo Do chinês kung hu. --- --- ---

dim sum --- --- --- Do cantonês

dim2 sam1,

«tocar

gentilmente o

coração»

fantã (Macau) Do chinês fán -tán --- Talvez do chinês ---

feng shui Do chinês feng,

«vento» + shui,

«água».

--- --- ---

ganga Do chinês

dialeto káng, chinês

literário yáng.

--- --- ---

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Vocábulo

Origem chinesa

Infopedia Dicionário

Etimológico

Dicionário da

Academia

Outras

gingko Do chinês yínxìng . --- --- ---

ginseng / ginsem, ginsão ,

jinsão , jinsém

--- --- --- Do chinês Min

Nan jîn -sam

iuane /yuan Do chinês yuán --- Do chinês. Do chinês yuán,

«objeto

redondo»

kumquat/cunquate Do chinês kin ku --- --- Do cantonês

gam1 gwat1, lit.

«tangerina

dourada»

kung fu /kung-fu Do chinês gongfu. --- --- Do chinês

gōngfu,

adapt.por

Wade-Giles

kung1-fu,

«talento,

conquista»

leque Do chinês Lieu

Khieu, topónimo,

«ilhas Léquias»

situadas ao sul do

Japão

--- De Lieu Khieu,

topónimo

Do Ryukyuan

léquio, oriundo

do chinês Hakka

Liù-khiù,

«arquipélago

Liuqiu»

li

-fórmula de tratamento;

-medida itinerária;

-pequena moeda.

Respetivamente:

Do chinês lie;

Do chinês li;

Do chinês le.

--- Respetivamente:

Do chinês lie;

Do chinês li;

Do chinês le.

---

líchia Do chinês li-chi. --- --- ---

longana Do chinês lung yen,

«olho de dragão»

--- --- ---

lorcha Do chinês

long-chuen.

--- --- ---

ma huang --- --- --- ---

macauense /macaense --- --- --- Do chinês Min

Nan a-mâ +

káng, «porto de

Mazu» >

Macao > Macau

+ suf. ense

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Vocábulo

Origem chinesa

Infopedia Dicionário

Etimológico

Dicionário da

Academia

Outras

majongue /mahjong Palavra chinês,

provençal pelo

inglês mahjong ou

mahjongg

--- Do chinês ma-jong Do cantonês

maa4 zoeng3

manchu Do chinês Man

Txeu, «puro».

--- --- ---

maoísmo --- --- --- ---

nanquim --- --- --- ---

panchão --- --- Do chinês pan

cheong, «embrulho de

pólvora»

---

pequinês --- --- --- ---

pinyin Do chinês pīnyīn,

de pīn «juntar» +

yīn «som»

--- --- ---

qigong /chi kung --- --- --- ---

sampana Do chinês san-pan,

«três tábuas».

--- Do chinês san «três»

+ pan «tábua»

---

sapatião Do chinês

siau-ting.

--- --- ---

tagim / tagin --- Do chinês

tá-jin,

«grande

homem»

--- ---

tai --- --- --- ---

tai chi --- --- --- ---

tai chi chuan --- --- --- ---

taiji --- --- --- ---

tancá /tancar Do chinês tán -kiá,

«casa em forma de

ovo».

--- Do chinês. tanká,

«ovo», «casa»

---

tao Do chinês tao. --- --- ---

taoismo Do chinês tao,

«caminho», + -ismo.

--- --- ---

tutão Do chinês tu-tung --- --- ---

vampi --- --- --- ---

wok Do inglês wok, pelo

cantonês

--- --- do cantonês

xangaiense --- --- --- ---

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Vocábulo

Origem chinesa

Infopedia Dicionário

Etimológico

Dicionário da

Academia

Outras

xantungue/shantung/xantum De Xantungue,

topónimo,

província chinesa .

--- Do chinês Shandong,

topónimo «Xantum»,

através do inglês

Shantung.

---

xar-pei /shar-pei --- --- --- ---

ya yan tzu Do chin. --- --- ---

yanguiano --- --- --- ---

yin-yang --- --- Do chinês Do chinês

Observando a tabela anterior, verificamos que os dicionários nem sempre listam

todas estas palavras e, mesmo quando as contemplam, nem sempre apresentam a sua

origem etimológica. Daí a necessidade, em estudos deste tipo, de consultar diversos

dicionários. Da análise destes resultados, verificamos que não há contradições entre os

dicionários, embora alguns sejam mais detalhados na informação fornecida do que outros.

3. Diferenças de frequência nas variedades do português

Nesta parte, serão apresentadas as diferenças de frequências nas variedades do

português de Portugal, do Brasil, de Angola e de Moçambique. O corpus da pesquisa

foi obtido na base de dados online designada O Corpus do Português e, dentro deste,

no subcorpus WebDial, o qual contempla as referidas variedades e está disponível, após

registo, em. <https://www.corpusdoportugues.org/web-dial>.

O Corpus do Português é um corpus linguístico de textos da língua portuguesa,

criado pelos pesquisadores Mark Davies (Universidade Brigham Young) e Michael J.

Ferreira (Universidade de Georgetown), com suporte financeiro proveniente do U.S.

National Endowment for the Humanities. O Corpus do Português contém mil milhões de

dados e 1500-2000 ocorrências de uma palavra ou construção. Além disso, os textos

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são recentes, todos dos últimos 3 -4 anos. No corpus, podemos comparar a frequência de

palavras, frases e construções sintáticas em quatro dos países de língua portuguesa. Usarei

esta base para obter informações precisas sobre frequências nas variedades do português

de Portugal, do Brasil, de Angola e de Moçambique. Depois de obter dados mais

intuitivos, vou resumir e analisar.

Na tabela 3, que passarei a apresentar, encontram-se as frequências relativas da

presença de vocábulos de origem chinesa no Corpus do Português (Davies, 2015). Os

números representam a quantidade de cada um destes vocábulos por milhão de palavras.

Foram pesquisados os lemas, ou seja, em cada caso estão incluídas todas as formas da

palavra, contemplando todas as suas flexões. Os resultados são apresentados em cinco

colunas, uma com os resultados globais e as quatro seguintes com os resultados por

cada um dos maiores países de língua oficial portuguesa: Portugal, Brasil, Angola e

Moçambique. A tabela está apresentada em ordem decrescente das frequências totais.

Não foram incluídos os resultados das seguintes palavras por conterem muita

homonímia, na base de dados, com palavras de outra origem: congo, li, tao. Também

não se incluiu o regionalismo macaense fantã.

Tabela 3 – Frequência dos vocábulos de origem chinesa no Corpus do Português

(Davies, 2015) expressa em palavras por milhão.

Vocábulo Todos Brasil Portugal Angola Moçambique

china 62,24 65,32 65,34 126,22 117,34

chá 41,35 34,86 69,35 65,26 23,07

leque 9,71 7,15 17,84 12,23 15,50

chávena 5,31 0,47 18,09 1,69 3,44

tai + tai chi + tai chi

chuan 1,41

1,90

1,19

0,26

0,79

kung fu + kung-fu 1,02 1,41 0,71 0,42 0,79

canga 0,90 0,77 0,99 4,02 1,61

iuane + yuan 0,79 0,83 0,87 0,89 2,26

macaense 0,64 0,21 1,86 0,39 0,29

feng shui 0,63 0,74 0,71 0,08 0,72

ginseng 0,43 0,27 0,89 0,00 1,26

wok 0,43 0,13 1,30 0,10 0,22

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30

Vocábulo Todos Brasil Portugal Angola Moçambique

nanquim 0,32 0,50 0,10 0,23 0,14

confucionismo 0,23 0,28 0,22 0,13 0,29

maosí mo 0,22 0,11 0,36 1,49 0,43

qigong + chi kung 0,20 0,16 0,41 0,19 0,00

cantonês 0,18 0,09 0,34 0,05 1,22

caulino 0,14 0,08 0,27 0,39 0,14

yin-yang 0,13 0,15 0,11 0,37 0,00

manchu 0,12 0,07 0,14 0,96 0,18

mahjong 0,11 0,05 0,30 0,03 0,04

pequinês 0,11 0,16 0,06 0,05 0,07

cantonense 0,08 0,01 0,24 0,00 0,14

gingko 0,07 0,04 0,18 0,00 0,00

taiji 0,07 0,09 0,06 0,00 0,00

caulim 0,06 0,10 0,01 0,05 0,04

dim sum 0,06 0,04 0,05 0,00 0,90

pinyin 0,05 0,03 0,09 0,05 0,11

charão 0,03 0,03 0,03 0,00 0,07

líchia 0,03 0,00 0,10 0,05 0,04

shantung 0,03 0,04 0,01 0,00 0,07

chop-suey 0,02 0,02 0,03 0,00 0,00

kumquat 0,02 0,00 0,06 0,00 0,07

taoismo 0,02 0,02 0,03 0,00 0,00

shar-pei 0,02 0,03 0,01 0,00 0,04

ba gua 0,01 0,00 0,02 0,00 0,00

chau-chau 0,01 0,00 0,02 0,03 0,00

chau chau 0,01 0,00 0,02 0,00 0,04

chow-chow 0,01 0,01 0,00 0,00 0,04

changshan +

cheongsam 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

chau-min 0,00 0,00 0,01 0,03 0,00

chin-chin 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

longana 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

lorcha 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

ma huang 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

panchão 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

sampana 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

sapatião 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

tagim / tagin 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

tancá /tancar 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

tutão 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

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Vocábulo Todos Brasil Portugal Angola Moçambique

vampi 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

xangaiense 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

ya yan tzu 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

yanguiano 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

TOTAL 127,26 116,17 182,42 215,63 171,36

Da observação da tabela 3, podemos concluir que a frequência de uso destes

empréstimos não é uniforme. Há vocábulos, como chá, chávena que têm grandes

frequências e outros que apresentam valores de zero. Estes valores de zero nem sempre

significam que não há nenhuma ocorrência da palavra no corpus, simplesmente

significam que as ocorrências não chegaram para atingir o valor de 0,01 uma vez que é

nesse valor por milhão de palavras que se inicia a contabilização dos vocábulos.

Apresentamos, de seguida, a análise dos resultados.

3.1 Análise das frequências por países

O gráfico 1 é feito com os totais de cada uma das colunas da tabela 3

(apresentados na última linha da tabela) e permite verificar que, globalmente, é em

Angola que se verifica a maior ocorrência de empréstimos estrangeiros provenientes do

chinês, possivelmente devido à presença de comunidades chinesas neste país.

Gráfico 1 – Frequências relativas dos empréstimos do chinês, nos quatro países do corpus,

apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

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O gráfico 1 mostra que a frequência de uso de empréstimos chineses é mais saliente

em Angola, seguindo-se Portugal, com um resultado não muito afastado do de

Moçambique. Já os dados referentes ao Brasil mostram claramente que esta presença é

menor do que nos outros três países.

3.2 A distribuição de frequências dos dez empréstimos mais frequentes por países

Uma vez que os dez empréstimos mais frequentes constituem a grande parte do

corpus, optámos por apresentar uma análise mais detalhada de cada um deles.

De seguida, apresentam-se gráficos com o mesmo tipo de análise apresentada no

gráfico 1, ou seja, frequências relativas em termos de palavra por milhão, em relação a

cada um dos dez empréstimos mais frequentes no corpus, a saber: china, chá, leque,

chávena, tai (+ tai chi + tai chi chuan), kung fu (+ kung -fu), canga, iuane (+ yuan),

macaense e feng shui.

Gráfico 2 – Frequências relativas dos empréstimos da palavra “china”, nos quatro países do corpus,

apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

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Gráfico 3 – Frequências relativas dos empréstimos da palavra “chá”, nos quatro países do corpus,

apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

Gráfico 4 – Frequências relativas dos empréstimos de palavra “leque”, nos quatro países do corpus,

apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

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34

Gráfico 5 – Frequências relativas dos empréstimos da palavra “chávena”, nos quatro países do corpus,

apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

Gráfico 6 – Frequências relativas dos empréstimos da palavra “tai, tai chi e tai chi chuan”, nos quatro

países do corpus, apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

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Gráfico 7 – Frequências relativas dos empréstimos da palavra “kung fu e kung-fu”, nos quatro países do

corpus, apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

Gráfico 8 – Frequências relativas dos empréstimos da palavra “canga”, nos quatro países do corpus,

apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

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36

Gráfico 9 – Frequências relativas dos empréstimos da palavra “iuane e yuan”, nos quatro países do

corpus, apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

Gráfico 10 – Frequências relativas dos empréstimos de palavra “macaense”, nos quatro países do corpus,

apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

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Gráfico 11 – Frequências relativas dos empréstimos de palavra “feng shui”, nos quatro países do corpus,

apresentadas em número de ocorrências por milhão de palavras

Os gráficos permitem-nos constatar que a frequência com que estes empréstimos

chineses surgem nas diversas variedades do português não é uniforme. Há palavras em

que um dos países apresenta uma frequência muitíssimo superior à dos restantes, caso de

chávena em Portugal, canga em Angola, iuane em Moçambique e macaense em

Portugal. Outras palavras apresentam dois países com frequências claramente superiores

às dos dois restantes: China em Angola e Moçambique, chá em Portugal e Angola, leque

em Portugal e Moçambique, tai em Brasil e Portugal, kung fu em Brasil e Moçambique.

Finalmente, a palavra feng shui apresenta frequências muito menos elevadas em

Angola, em comparação com os restantes três países.

Estas distribuições serão certamente explicadas por razões culturais, relacionadas

com os hábitos das populações, a presença de emigrantes e as relações internacionais

entre os países.

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4. Análise dos empréstimos de origem chinesa mais frequentes

4.1 Análise morfológica e semântica dos dez empréstimos mais frequentes

A seguir, apresentam-se em detalhe as definições destas dez palavras que,

integrando o idioma português, foram emprestadas da língua e cultura da China. Para

uma explicação mais detalhada, listarei as definições dessas palavras no seguinte quadro

e, em seguida, agruparei as palavras de acordo com aspetos morfológicos e semânticos:

Vocábulo Definição

canga pau que assenta no chinguiço e de que pende a carga levada

por dois homens; antigo instrumento de suplício chinês

chá planta arbustiva de origem asiática; folhas desta planta,

preparadas para infusão; infusão preparada com as folhas

desta planta

chávena pequeno recipiente com asa, geralmente de louça, que serve

para tomar bebidas, quentes ou frias

china pessoa natural da China

fengshui sistema de origem filosófica taoista que estuda a relação

entre as pessoas e os ambientes em que vivem, com o

objetivo de organizar os espaços de modo a atrair influências

benéficas

iuane/yuan unidade monetária da República Popular da China

kungfu/kung-fu arte marcial chinesa, nascida de necessidade de

sobrevivência dos antepassados na luta contra animais

ferozes e contra inimigos

leque objeto constituído por varetas sobrepostas e presas por uma

das pontas, que se abrem e fecham, cobertas por tecido ou

papel e que se agita para produzir corrente de ar; abano

macaense natural ou habitante de Macau

taichi/tai/tai chi

chuan

arte marcial de origem chinesa, usada atualmente como

ginástica e prática terapêutica ou relaxante, em que

individualmente se executa uma sequência de movimentos

lentos e circulares, privilegiando a concentração, o equilíbrio

corporal, a flexibilidade e a respiração

Topónimos chineses

A palavra macaense é um adjetivo gentílico referente ao topónimo Macau, e a

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palavra China é um topónimo comummente utilizado para designar a República Popular

da China. As palavras de tipo topónimo, no nosso corpus, indicam essencialmente

cidades e lugares da China. Existem muitas palavras pertencentes a esse tipo, como

Pequim e Nanquim, na origem dos adjetivos correspondentes. A maioria dessas palavras

é transliterada diretamente. Os dados permitem verificar que, globalmente, é em Angola

que se verifica a maior ocorrência de empréstimos de palavra China, possivelmente

devido à presença de comunidades chinesas neste país. Isso também está relacionado ao

primeiro gráfico. É em Portugal que se verifica a maior ocorrência de empréstimos de

palavra macaense, obviamente devido ao facto de que Macau historicamente está ligado

a Portugal, sendo que “em 1987 se firmou o acordo de devolução de Macau à China, o

qual se cumpriu a 20 de dezembro de 1999”1.

Nomes de objetos culturalmente marcados pela cultura chinesa

A palavra iuane/yuan, a palavra canga, a palavra chávena , a palavra leque e a

palavra chá são nomes de realidades da vida material de origem chinesa: a palavra

chávena , a palavra leque são nomes de produtos e mercadorias de origem chinesa e

historicamente importadas para Portugal, a palavra chá é o nome da bebida tradicional

da China, a palavra yuan é o nome da moeda chinesa, e a palavra canga é o suplício da

China antiga.

Nos primeiros contactos entre o povo chinês e o povo lusófono, foram realizadas

transações comerciais. No século XIV, um grande número de mercadorias foi exportado

do Oriente para a Europa. Essas mercadorias eram produtos desconhecidos e nunca

tinham sido vistas pelos ocidentais. Portanto, para promover a expansão de mercadorias

e conhecimento de produtos e expandir transações comerciais, os nomes adequados

devem ser aplicados às novas mercadorias e produtos, acordados por ambas as partes.

Dada a inexistência da palavra em português, a solução terá sido a de utilizar o nome

emprestado do idioma chinês para comprar mercadorias.

1 Infopedia, <https://www.infopedia.pt/$integracao-de-hong-kong-e-macau-na-china> (acedido05-2020).

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Essas palavras da vida cotidiana exemplificam, portanto, as trocas históricas,

comerciais e sociais entre a China e os países lusófonos. Devemos admitir que o

intercâmbio económico e social entre o povo lusófono e o povo chinês promoveu

grandemente o processo de incorporação das palavras originadas da língua chinesa no

léxico do idioma português. Os nossos dados, permitem verificar que, globalmente, é em

Moçambique que se verifica a maior ocorrência de empréstimos da palavra iuane/yuan,

possivelmente devido aos intercâmbios económicos entre China e Moçambique. É em

Angola que se verifica a maior ocorrência de empréstimos de palavra canga,

provavelmente pela utilização deste instrumento na vida agrícola, a qual é

maioritariamente feitas pelas famílias e com a utilização de veículos de tração animal 2.

Verifica-se a maior ocorrência de empréstimos de palavra chávena, chá e leque em

Portugal. A chávena está relacionada à cultura do chá. Na cultura chinesa, o leque

representa um profundo património cultural e é parte integrante da cultura nacional e

tem uma relação estreita com a cultura do bambu e a cultura taoísta. A China sempre foi

conhecida como o "País criador de leques". A alta frequência destas palavras em

Portugal talvez porque os portugueses estejam muito interessados na cultura chinesa do

chá e leque. É de salientar que Portugal é o único país europeu produtor de chá,

nomeadamente na ilha de São Miguel, Açores 3.

Nomes de conceitos filosóficos e culturais chineses

2 Veja-se, por exemplo, o seguinte excerto de notícia: «O Gov erno angolano indicou que mais de 85% da

produção agrícola do país ainda é feita pelas famílias, referindo que o setor regista maior apoio aos

empresários e à agricultura familiar. […] “O apoio que se está a dar à agricultura familiar passa pelo

aumento de áreas, preparações de terras, aumento de insumos agrícolas, sementes, fertilizantes a um bom

preço e aumento da quantidade de charruas de tração animal”, disse o ministro da Agricultura e Florestas

de Angola, Marcos Nhunga.» In. Observador, 10-04-2019. Acedido em maio de 2020 em:

<https://observador.pt/2019/04/10/mais-de-85-da-producao-agricola-angolana-e-feita-por-familias/>.

3 Ver, por exemplo, na seguinte notícia: «[…] Chá Gorreana, uma das duas únicas e a mais antiga fábrica

de chá na Europa em contínuo funcionamento desde que foi fundada, em 1883. A outra fábrica, do Porto

Formoso, recuperada em 1998 […]». In Diário de Notícias, 21-11-2011 . Acedido em maio de 2020 em <

https://www.dn.pt/dossiers/economia/made-in-portugal---mes-da-alimentacao-e-bebidas/noticias/o-cha-m

ais-antigo-da-europa-produz-se-em-sao-miguel-2137063.html>.

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A palavra feng shui, a palavra kungfu/kung-fu e a palavra taichi/tai/tai chi chuan.

Essas palavras pertencem à filosofia e cultura chinesa. O intercâmbio e o encontro

cultural entre o povo da China e Portugal fizeram com que palavras estrangeiras em

chinês fluíssem para a cultura e a vida do espírito português. A palavra feng shui e a

palavra kungfu/kung-fu são usadas com maior ocorrência no Brasil, mas também são

usadas nos outros três países com grande ocorrência. Verifica -se a maior ocorrência de

empréstimos de palavra feng shui no Brasil. Mas em Portugal e Moçambique as

frequências são quase iguais às do Brasil. Apenas Angola tem uma frequência

comparativamente muito reduzida.

As palavras mais frequentes não as mesmas em todos os países. Além disso no

quadro há empréstimos que só surgem num dos países, sendo o caso da palavra ba gua.

Este empréstimo só surgiu em Portugal. A partir disso, também encontramos palavras

relativas à cultura da superstição, os brasileiros também a usam com alta frequência, tais

como feng shui, yinyang, embora esta última seja mais frequente ainda em Angola.

Palavras relacionadas com entretenimento aparecem com maior ocorrência em Portugal,

por exemplo mahjong. Palavras relacionadas à cultura das artes marciais chinesas

aparecem com grande ocorrência em vários países. A alta frequência de uso dessas

palavras ilustra a importância das palavras influenciadas pela vida cultural e espiritual

chinesa.

4.2 Dados do WebDial sobre os três empréstimos mais frequentes

Nesta parte da dissertação, foram escolhidas as três palavras mais frequentes no

Corpus do Português, para um estudo mais aprofundado e gráficos estatísticos. Também

anexarei frases com exemplos de uso, nas variedades consideradas, e as palavras que

mais frequentemente ocorrem no contexto destas palavras.

1. China

A palavra China é a mais frequente em todo o corpus. Por países, tem

frequências um pouco mais elevadas nas variedades africanas de Angola e

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Moçambique, como verificámos acima no gráfico 2.

Apresentam-se, de seguida, alguns exemplos de frases do corpus WebDial com a

palavra China:

Portugal:

Sei quem é o Carlos Dias, mas já que pergunta, não é a China que decide se a

Barragem avança ou não. Como é óbvio, a China.

Embora muito atrasado (estive 3 semanas na China em trabalho...), não podia deixar

de te dar os Parabéns e agradecer

Brasil:

Volte os olhos para a China, onde há ditadura comunista, tolhendo a liberdade política,

enquanto o Estado concede.

Execuções continuam sendo realizadas por Estados poderosos, especialmente a China e

os Estados Unidos.

Angola:

…desenvolvimento industrial de maneira bastante expressiva nos últimos cinquenta

anos, apesar da China ser comunista, a Rússia já ter sido socialista e Índia e Brasil

serem capitalistas.

Durante a segunda metade de 2007 a Dodge vai entrar na China.

Moçambique

Maior número de requerimentos, da qual constam também a África=do=Sul, Índia e

China, todos com acima dum milhar de pedidos.

E tudo isto para lhes aproveitarem apenas os chifres, produto muito valorizado na

China, para fabricar medicamentos tradicionais contra a impotência sexual masculina.

De seguida analisaremos, utilizando as ferramentas disponíveis online no WebDial,

os “Colocados” da palavra China, ou seja, as lexemas (foram excluídas as palavras de

função como pronomes, determinantes, preposições e conjunções) nas imediações da

palavra, até quatro palavras antes e quatro palavras depois da palavra pesquisada. Deste

modo, obtivemos os seguintes resultados. As palavras que mais frequentemente surgem

no contexto linguístico da palavra China no corpus são as seguintes:

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As palavras mais frequentes nas frases em que a palavra China ocorre são também

elas, nomes de países. Isso pode explicar-se porque há muitos textos sobre relações

internacionais, portanto é natural que se mencionem vários países. A ocorrência da

palavra “popular” e da palavra “república” são muito fáceis de explicar. Tem a ver com

a existência da designação “República Popular da China”. Há também topónimos

chineses, como “Pequim” e referência a monumentos famosos, como a “muralha”.

2. Chá

A palavra chá é a segunda mais frequente em todo o corpus, com especial destaque

para Portugal e Angola, tal como vimos acima no gráfico 3.

Exemplos frases do corpus com a palavra chá:

Portugal:

A Inês serviu-me um chá delicioso chamado Pink Lennon.

Um tratamento natural que ajuda é o chá de hortelã com gengibre.

Brasil:

Estou tomando três vezes ao dia, uma colher de chá.

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A xícara é de chá e a colher é de sopa.

Angola:

Havia dias em que o seu pequeno almoço era ginguba com chá.

Improvisou um chapéu com uma caixa de chá.

Moçambique

O nosso chá que vendemos em Mombaça varia de 1.10 usd.

Recordo-me de aquelas plantações de chá no Gurue ex -Vila Junqueiro.

Colocados

As palavras que mais frequentemente surgem no contexto linguístico da palavra chá no

corpus são as seguintes:

As palavras mais frequentes nas frases em que a palavra chá ocorre são nomes de

ingredientes de bebidas. Isso pode explicar-se porque há muitos textos sobre receita de

chá. A presença de numerais 4 pode dever-se a instruções para preparar o chá ou receitas

de culinária. A ocorrência da palavra “preto”, da palavra “camomila” e da palavra

4 O programa, por algum motivo, não excluiu os numerais desta listagem de lexemas.

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“verde” são muito fáceis de explicar. Tem a ver com tipo de chá. chá preto, chá verde, e

chá de camomila são bem conhecidos no mundo. A ocorrência do verbo “beber” e do

verbo “tomar” está relacionada à gramática portuguesa, sendo verbos frequentes nas

expressões “beber chá” e “tomar chá”. Esta é uma colocação de verbos. A presença do

adjetivo “quente” pode dever-se propriedades do chá. Na China, o chá geralmente é

quente e é feito de água fervente. Existem, nos colocados, alguns substantivos de

utensílios de mesa, tais como “xícaras”, “chávena”, “colher” etc. Também existem os

nomes de outras bebidas, tais como “leite”, “café” etc. A ocorrência dessas palavras

também está diretamente relacionada com o chá.

3. yuan

Outro empréstimo que consta da lista das palavras mais frequentes no corpus em

análise é o estrangeirismo yuan e a variante aportuguesada iuane. Surge, como vimos

acima no gráfico 9, mais frequentemente na variedade de Moçambique.

Exemplos frases do corpus com a palavra yuan:

Portugal:

Será o Yuan (também conhecido por Renmimbi) o melhor investimento cambial de 2011?

A discussão tem estado no valor da moeda chinesa, o yuan, que tem sido artificialmente

mantido subvalorizado.

Brasil:

Ele disse ainda que Pequim considera transformar a Suíça num centro de negócios

usando o yuan e citou dados econômicos de agosto, que indicam a recuperação chinesa.

Vamos continuar promovendo a conversibilidade do yuan sob a conta de capital.

Angola:

O dólar americano e o yuan são moedas concorrentes no comércio internacional?

Especialmente, a China, que irá transferir 50 % de suas operações internacionais para

Yuan a partir de 2010, a moeda irá fluir como um deslizamento fora de moda.

Moçambique:

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Mas a oferta atraiu demanda de 1,86 trilhão de yuan.

Em sua avaliação, o preço justo é de 5 yuan.

Colocados

As palavras que mais frequentemente surgem no contexto linguístico da palavra

yuan no corpus são as seguintes:

As palavras mais frequentes nas frases em que a palavra yuan ocorre são sobre

china. Isso pode explicar-se porque o yuan é a moeda oficial da República Popular da

China. O yuan ou, na forma portuguesa, iuane significando 'circular', é a unidade de

conta, enquanto renminbi é o nome da moeda. mas o termo é também usado para

designar a moeda chinesa em geral, especialmente em contextos internacionais. A

presença de numerais pode dever -se a estatísticas sobre moedas. A ocorrência da palavra

“valorização”, e da palavra “desvalorizado” são muito fáceis de explicar. Tem a ver com

valor de moeda de china. A ocorrência da palavra “dólar” porque pertence ao campo

semântico de moeda, tal como o Yuan. A presença de palavra “dinastia” é um pouco

interessante de explicar. Porque na China antiga havia uma dinastia cujo nome era Yuan.

Além disso, de facto, esta dinastia também tem alguma conexão com a moeda da China.

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Foi depois da Dinastia Yuan (1271-1368), que a monetização ficou mais simples.

Começou -se a usar principalmente papel-moeda e uma pequena quantidade de moeda

de metal. A ocorrência da palavra “negócios” é fácil de explicar. Isso tem uma certa

relação com a cooperação económica. E as transações económicas devem estar

relacionadas ao dinheiro.

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5. Análise da formação dos empréstimos de origem chinesa

Não é difícil de constatar que a grande maioria dos empréstimos são substantivos.

Alguns também podem ser usados como adjetivos, há uma interjeição (chin -chin!) e as

restantes classes morfológicas estão ausentes. Nesta parte, para tratar do formação dos

empréstimos de origem chinesa, escolher-se-ão algumas palavras como exemplos típicos,

de acordo com o resultado apresentado anteriormente, e abordar-se-ão os motivos e

processos da formação dessas palavras no léxico do idioma português, incluindo as

respetivas origens chinesas, as condições históricas e culturais dos próprios surgimentos

na língua portuguesa, a mudança de forma de cada palavra escolhida, e até os novos

significados correntes no português moderno.

Exemplo 1. chá

pinyin:chá

chinês simplificado: 茶

O chá é uma bebida preparada através da infusão de folhas, flores, raízes de planta do

chá, geralmente preparada com água quente. A cultura do chá originou-se na China, e

acredita-se que a árvore do chá tem origem na província de Sichuan ou província de

Yunnan, que historicamente era o sul da China, o Japão e o sudeste da Ásia. Beber chá é

considerado uma atividade social. Para aumentar a atenção, o chá também pode ser

consumido durante o dia, principalmente pela manhã, porque contém teofilina e cafeína.

O carácter chinês para chá é 茶, mas há duas formas completamente distintas de se

pronunciar. Uma é “te”, usada pelo Dialeto Min que se encontra em Amoy.

“The Amoy-Swatow dialect is spoken along the southern coastal half

of Fujian province (including the famous ports Amoy & Jiangjin) the

northeastern corner of Guangdong including Swatow (Shantou), and

the islands of Taiwan and Hainan.” (Yuan, 1981, p.269)

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Outra é usada em cantonês e mandarim, como cha e significa 'apanhar, colher'. De

facto, a China tem uma população grande e muitas regiões, portanto, na China

continental, a pronúncia de cada região varia muito.

Exemplo 2. macaense

pinyin: ào mén rén

chinês simplificado: 澳门人

O macaense refere-se aos residentes de Macau que têm o direito de residir em

Macau. Culturalmente, o significado do povo de Macau refere-se principalmente a

pessoas que têm uma forte ligação com a cultura local e têm uma relação estreita com a

sociedade de Macau, incluindo pessoas que vivem em Macau há muito tempo, pessoas

que têm ascendência ou cresceram em Macau. O povo de Macau não pertence a nenhum

grupo étnico específico e não é dividido por raça. Em termos de classificação de grupo

ou comunidade, o macaense pode ser dividido em chinês nativo, português e português

de Macau. A maioria dos chineses são maioritariamente da etnia Han com origem

ancestral na província de Guangdong e na província de Fujian na China; o português

nativo é o grupo étnico exclusivo de Macau refere-se aos descendentes da Eurásia que

nasceram em Macau e receberam cultura e educação portuguesas.

Não há dúvida de que o macaense se refere diretamente a Macau. Para pesquisar e

desenvolver o termo macaense, a principal questão é porque essa cidade é chamada

Macau em português? A origem do nome de Macau é muito interessante. Dizem que em

um dia soalheiro e calmo, o barco de pesca navegava no mar como de costume. De

repente, o tempo ficou muito mau. Os pescadores que lutavam na tempestade de repente

viram uma menina. De acordo com a ordem da menina, a tempestade parou e o mar

tempestuoso também voltou à calma. Quando o barco de pesca chegou ao porto com

segurança, a menina caminhou em direção à Montanha Mage, e de repente uma auréola

apareceu, ela transformou-se em fumo verde e desapareceu. O pescador agradeceu à

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mãe por sua ajuda. A fim de lhe agradecer por sua graça salvadora, os pescadores

construíram o Templo dos Magos na terra onde ela pousou. Mais tarde, quando os

primeiros portugueses que chegaram a Macau perguntaram aos moradores sobre o nome

local, os moradores pensaram que estavam perguntando sobre o templo, então

responderam ao Ma Ge e os portugueses levaram sua transliteração para o português

Macau. Esta é a razão do nome do português.

A pronúncia dos cantoneses "阁(ge)" e "交(jiao)" é semelhante, por este razão,

os portugueses ouviram-no como "Ma Jiao", e sua transliteração como "macau" tornou-

se a origem do nome português em Macau. Além do nome de Macau, esta bela terra já

foi conhecida como 濠江(Hao jiang), 镜海(Jing hai), 濠镜澳(Hao jing ao) ou 香山澳

(Xiang shan ao) e 莲岛(Lian dao).

Exemplo 3. tufão

pinyin: tái fēng

chinês simplificado: 台 风

O tufão é vento tempestuoso e violentíssimo, que é o ciclone tropical da região do

Pacífico ocidental. A pronúncia do português (tufão) é muito semelhante ao pinyin do

chinês (tái fēng). Podemos pensar nisso é derivado da transliteração.

“From Chinese, probably the Cantonese dialect: tayfun (1771), ty-

foong (1806),typhoon (1819), tyfoon (1848):The Pres. E. spelling

with -ph- instead of -f- is certainly due to the influence of the Greek

word, but as far as the rest goes9 typhoon, earlier tiffoon or tuffoon,

must be taken as an English word made of Chinese roots.” (Yuan,

1981, p.275)

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O primeiro caráter é normalmente usado para significar "pedestal", mas de facto é

uma simplificação do antigo carácter chinês 颱, que significa "tufão"; Assim, a palavra

originalmente significava "vento de tufão".

“The Chinese character 颱 in the Taiwan Fu Zhi is a pedantic

transcription or artificial formation of the Amoy colloquial name hong

風 ‘wind’ and ‘tai’ 台 for 胎 colloquial name hong 风 ’wind’ and tai

台 for 胎 that is, the mother of storm or wind. The new character 颱

which incorporates hong and tai is not found in the Kangxi Zidian.

a standard dictionary of modern Chinese, and has nothing to do with

Taiwan, the first part of which tai is unaspirated in Amoy while tai of

the name hong tai for typhoon is aspirated.” (Yuan, 1981, p.278)

Exemplo 4. feng shui

pinyin: fēng shǔi

chinês simplificado: 风水

Feng shui é um termo de origem chinesa, cuja tradução literal é vento e água. O

Feng Shui é uma metafísica com uma longa história na nação chinesa, também conhecido

como Qingwushu e Qingyanshu. Feng shui é o poder da natureza e a energia do grande

campo magnético do universo. O vento é vitalidade e energia de campo, e a água é fluxo

e mudança. É uma filosofia que estuda o meio ambiente e as leis do universo: como o

homem faz parte da natureza, a natureza também faz parte do homem, atingindo o

estado de "unidade do céu e do homem". O fundador do Feng Shui é a deusa taoísta

Jiutian Xuannv, e o conhecimento mais perfeito do Feng Shui surgiu no Período dos

Reinos Combatentes. A idéia central do feng shui é a harmonia entre o homem e a

natureza, para alcançar a unidade da natureza e do homem. O início do feng shui estava

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relacionado principalmente a métodos, princípios, como localização, orientação e

construção de palácios, residências, vilas e cemitérios, e foi uma metafísica para a

escolha do local certo.

Obviamente, o nome feng shui em português é mesmo o pinyin de 风 水 na língua

chinesa.

Exemplo 5. confucionismo < Confúcio

pinyin: kǒng z ǐ / kǒng fū z ǐ

chinês simplificado: 孔子 / 孔夫子

Confúcio foi um pensador e filósofo chinês do Período das Primaveras e Outonos.

Confúcio fundou uma doutrina moral centrada na benevolência, e ele mesmo era um

homem muito bom, compassivo, útil, sincero e generoso. A doutrina de benevolência de

Confúcio, encarna o espírito humano. A teoria do ritual de Confúcio, por sua vez,

encarna o espírito do ritual, ou seja, a ordem e as instituições no sentido moderno. O

humanismo, que é o tema eterno da humanidade, é aplicável a qualquer sociedade, a

qualquer época, a qualquer governo, enquanto que a ordem e a sociedade institucional

são requisitos básicos para a construção de uma sociedade humana civilizada. Este

espírito de humanismo e ordem de Confúcio é a essência do pensamento político e social

da China antiga.

As declarações de Confúcio são registradas principalmente nos Analectos, obra

também conhecida por Diálogos de Confúcio 5. Analectos é um dos clássicos do

confucionismo, compilado e transmitido pelos discípulos. Com um estilo de citação e de

diálogo, a obra regista as palavras e ações de Confúcio e seus discípulos, concentrando -

se em suas propostas políticas, pensamentos éticos, conceitos morais e princípios

educacionais.

Porque Confúcio era um grande educador e tinha três mil discípulos, dos quais

5 https://pt.wikipedia.org/wiki/Analectos_de_Confúcio (acedido em 12-052020).

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setenta e dois eram sábios, ele é conhecido como 孔 夫 子 (pinyin: kǒng fū zǐ), que

significa Mestre Kong. Obviamente, a palavra “Confúcio” também tem aqui a sua

origem. Além disso, a pronúncia do português é muito semelhante à do pinyin chinês.

Portanto, foi uma palavra transliterada.

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Conclusões

O fenómeno do empréstimo de palavras, formado pela interação e mistura de

diferentes línguas e culturas, é uma parte importante da comunicação intercultural. O

estudo do fenómeno das palavras estrangeiras chinesas na língua portuguesa consiste em

traçar o processo de comunicação cultural entre a China e a língua portuguesa e explorar

as suas tendências. As palavras de origem chinesa, que ocupam um lugar entre as

palavras estrangeiras contemporâneas da língua portuguesa, ainda não foram

completamente analisadas na comunidade académica nacional e internacional. Em

termos de abrangência e aplicabilidade, há ainda muito a fazer nas áreas de pesquisa

relevantes.

A análise dos resultados da interação cultural com o fenómeno das palavras de

origem chinesa na língua portuguesa, utilizando o método metro linguístico, revelou que

a maior parte das primeiras palavras estrangeiras chinesas que entraram na língua

portuguesa foram transliteradas, ou seja, a maior parte da pronúncia provém do pinyin

chinês. O número de palavras estrangeiras em português contemporâneo continua a

aumentar, com a influência da ortografia pinyin.

Este artigo apresenta estatísticas quantitativas e análises de palavras de origem

chinesa na língua portuguesa contemporânea, que confirmam o crescente número de

palavras de origem chinesas na língua portuguesa. No entanto, nesta pesquisa não se faz

um exame diacrónico dos termos considerados.

O fenómeno do estrangeirismo em português e em outras línguas é um campo de

pesquisa aberto a futuros estudos, com diversas implicações.

Em primeiro lugar, do ponto de vista da história das comunicações culturais, o

fenómeno do estrangeirismo, originado nos diferentes intercâmbios culturais ao longo

da história, é uma parte importante da linguagem como portadora de cultura e é visto

como um sinal importante de comunhão cultural. Ao mesmo tempo, a língua, como um

importante meio de socialização individual na cultura, influencia a perceção e o

conhecimento que os falantes da língua têm da cultura nativa e da cultura alheia. Neste

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sentido, o estudo do fenómeno das palavras estrangeiras chinesas na língua portuguesa é

um retrospeto da história do intercâmbio cultural entre a China e Portugal e uma busca

pelas suas tendências de desenvolvimento.

Em segundo lugar, do ponto de vista da influência cultural, a influência da língua

chinesa sobre a língua portuguesa já é amplamente comprovada pela crescente

aceitação da China no ocidente. Com o crescente poder da China, a influência do

chinês em outras línguas europeias, como o português, irá previsivelmente aumentar

ainda mais no futuro. Como compreender e estruturar a influência da cultura chinesa no

contexto histórico da grande mudança dos tempos é também uma área de pesquisa que

os estudiosos da linguística e os pesquisadores do ensino de línguas estrangeiras devem

considerar.

Em terceiro lugar, do ponto de vista do reconhecimento linguístico e do ensino de

línguas estrangeiras, o aumento do vocabulário pode ser efetivamente alcançado em

menos tempo se o fenómeno das palavras estrangeiras em português for introduzido na

prática do ensino de línguas estrangeiras em português ou chinês. Ao mesmo tempo, é

possível, por um lado, aprofundar o conhecimento do português como língua nativa sobre

a influência da cultura chinesa no seu próprio uso da língua, para que ele saiba não só o

que é, mas também como é, aumentando assim a motivação para conhecer a cultura

chinesa. Por outro lado, é possível aumentar a consciência cultural e a confiança cultural

dos falantes nativos de língua chinesa, aumentando ainda mais a sua compreensão dos

laços linguísticos e culturais e da interação entre eles.

Por último, há que referir que a língua não é apenas um meio de divulgação de

informação, mas também um importante vetor de cultura. A língua portuguesa moderna

foi influenciada por diferentes culturas durante o seu processo de formação, e as

influências da ásia oriental, embora não tenham desempenhado um papel significativo

neste processo, têm servido de ponte entre os falantes nativos de língua portuguesa e as

culturas orientais. Estudar o processo e as características da entrada da língua chinesa na

língua portuguesa é, essencialmente, estudar a influência da cultura chinesa na cultura

portuguesa e suas tendências. Este impacto continuará a verificar -se no futuro previsível

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e a investigação pertinente deverá ser desenvolvida como deve ser.

Foi no sentido de contribuir para o conhecimento desta presença de vocábulos de

origem chinesa no português, que nos propusemos elaborar esta dissertação. Tendo

pesquisado a presença destas palavras em diversos dicionários de língua portuguesa,

procedemos à sua análise morfológica e semântica. Pesquisando a presença destas

palavras no Corpus do Português, pudemos analisar o seu uso em textos produzido em

quatro países de língua portuguesa, em termos de distribuição pelas variedades,

contextualização em frases, identificação de termos concorrentes mais frequentes.

Constatámos que estes empréstimos surgem em todas as variedades do português,

embora não com as mesmas frequências relativas e verificámos que as palavras que com

maior frequência concorrem com elas, têm marcas culturais da cultura chinesa, como

seria expectável.

Nenhuma pesquisa académica está finalizada, havendo sempre pistas para futuros

desenvolvimentos. No presente caso, as principais pistas para futuras pesquisas irão no

sentido de aprofundar, para cada uma das palavras pesquisadas, o estudo que aqui

apresentámos para as mais frequentes. Também será interessante estar atento à introdução

de novos termos de origem chinesa que previsivelmente poderão vir a ocorrer no

português.

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