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IMPACTO E USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAO ESCOLAR

Guiomar Namo de Mello

Janeiro de 2001

. Um breve retrospecto do desenvolvimento da tecnologia da informao, permite distinguir pelo menos dois momentos importantes. Esses dois momentos se sobrepem e ainda esto plenamente vigentes. Um deles o que se inicia com o advento do computador e tem seu ponto mais alto no aparecimento do PC personal computer cujo aperfeioamento ainda est longe de ser concludo. O segundo comea com as primeiras redes de comunicao que utilizam computadores conectados a um servidor central e desenvolve-se at o ponto atual da www world wide web rede mundial de computadores.

. Na primeira fase h um aumento espantoso na rapidez e exatido com que a informao passa a ser processada, armazenada e editada. Mas o paradigma da produo do conhecimento permanece intocado e principalmente a possibilidade de negociao do significado do conhecimento ainda tem de fazer-se pelas formas tradicionais de interao das quais o telefone e o fax so as mais desenvolvidas.

. O segundo momento trouxe uma mudana epistemolgica significativa. a partir da rede mundial de computadores que se d uma transformao, ainda em seu incio, na maneira como o conhecimento produzido, organizado, compartilhado e disseminado.

. Essa transformao decorre dos recursos que se tornaram disponveis quando o desenvolvimento da tecnologia da informao viabilizou a rede mundial de computadores. Entre eles destacam-se:

(a) ir alm do seu prprio arquivo ou banco de dados e conectar-se com outras formas ou lugares de armazenamento de dados e informaes;

(b) mandar e receber informaes e interagir por via eletrnica; (c) cruzar, relacionar, comparar, verificar, desmembrar, separar,

reunir, referenciar, indexar, analisar e testar a procedncia da

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anlise, extrapolar e simular a extrapolao, e outras operaes intelectuais que se tornam mais rpidas e principalmente possveis de serem validadas em tempo real;

(d) apresentar para um grande nmero de interlocutores relevantes o resultado desse trabalho e receber comentrios, avaliaes, sugestes em tempo real.

. Esses dois momentos corresponderam a desafios diferentes dentro da escola. Primeiro foi o de introduzir o computador como uma ferramenta tecnologicamente mais avanada para fazer mais do mesmo, melhor do mesmo: calcular, fazer tabelas, escrever, descrever, apresentar, representar. Para esse tipo de uso no era necessrio repensar o currculo.

. Nesse mesmo perodo os primeiros soft wares educativos j permitiam vislumbrar o pontencial que a nova ferramenta tinha para orientar atividades que envolvem a construo de conhecimentos novos a partir de hipteses ou de dados existentes. No entanto os soft wares tm vida limitada, esgotam-se a partir de um tempo de uso, precisam de substituio e renovao e, principalmente, admitem nenhuma interao ou um pouco dela de modo simulado.

. O potencial acenado nos soft wares educativos multiplica-se quase ao infinito com o advento da rede mundial de computadores:

(a) o percurso do estudante para construir conhecimento pode incluir todo tipo de contedo existente na rede desde que algum oriente e demarque esse percurso;

(b) a construo do conhecimento j no precisa limitar-se a seqncias lineares, ela pode ter uma configurao em rede;

(c) a possibilidade de compartilhar significados com os colegas potencializada e a interao com o professor presencial ou virtualmente potencializada.

. O uso inteligente de um instrumento dessa natureza requer mudanas no ncleo duro do processo de ensino aprendizagem o currculo que por sua vez vo acarretar mudanas na organizao escola e da sala de aula.

. Tradicionalmente organizado em disciplinas rgidas e seriado de modo hierrquico, o currculo que at hoje trabalhamos no compatvel a aprendizagem em rede que a rede mundial de computadores viabiliza. preciso repens-lo no apenas no plano da proposta ou projeto curricular como no plano do ensino e da aprendizagem, tambm chamado de currculo em ao:

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(a) as disciplinas sero foradas a se expandir, fronteirizando-se com outras disciplinas do currculo ou com outros campos do conhecimento que at hoje no foram cogitados como objeto de ensino; o

(b) os alunos devero envolver-se mais em projetos de estudo, projetos de trabalho, projetos de execuo ou de produo, cujos temas, objetos de trabalho, ou resultados requeiram o concurso de diferentes disciplinas;

(c) os professores tero que orientar a busca e construo do conhecimento, a anlise do disponvel, o cotejamento dos pontos de vista e todos os atos sociais e cognitivos que contribuem para construir significados, valores e disposies de conduta.

. Neste ponto introduz-se a freqente pergunta: o professor est preparado para esse novo paradigma curricular? A responta : provavelmente no. Mas o importante so as razes do despreparo do professor no a sua constatao. Dependendo da explicao que se tenha para a defasagem entre professor e demandas educacionais da sociedade do conhecimento, a soluo para super-la ser diferente.

. O pressuposto deste trabalho o de que o despreparo da escola e sobretudo do professor se d em razo da falta de domnio dos objetos sociais do conhecimento que constituem o contedo do ensino e das formas de transposio didtica desse contedo.

. Ao destacar a debilidade da formao conteudstica e didtica do professor esta abordagem distingue-se daquelas que explicam a defasagem do ensino diante das novas tecnologias, pela ausncia de conhecimento, familiaridade e domnio das prprias tecnologias. Para essas abordagens, a soluo seria treinar o professor no uso das tecnologias.

. Ao contrrio, nossa abordagem aponta que a soluo ampliar e aprofundar os conhecimentos do professor tanto dos objetos de ensino como dos mtodos. Trata-se assim de usar as novas tecnologias para formar o professor em contraste com outras iniciativas que se propem formar o professor para o uso das novas tecnologias.

. Explicando melhor esse pressuposto de trabalho que bsico: o despreparo do professor para enfrentar os desafios de ensinar e aprender num mundo congestionado de informaes, onde o acesso ao conhecimento vai se tornando mais fcil, rpido e prazeiroso, no

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decorre de sua pouca familiaridade com o computador. Decorre de sua fragilidade profissional, sua formao de base que foi aligeirada e de m qualidade, sua cultura geral que restrita, sua falta de oportunidade para desenvolver a sensibilidade para problemas e tendncias da vida contempornea.

. Dito pelo lado positivo, um professor que teve oportunidade de construir conhecimentos slidos sobre sua rea de especialidade e como ensin-la, que possui uma cultura geral ampla e diversificada e uma auto-estima profissional pautada no sucesso, ter facilidade de atender s demandas educacionais de seus alunos ainda que estes estejam conectados permanentemente e que ele, professor, nunca tenha ligado um computador. E, mais ainda, esse professor aprender mais rapida e construtivamente a lidar com novas tecnologias.

. Trata-se portanto de utilizar ao mximo as novas tecnologias da informao para melhorar a formao dos professores, criando oportunidades para que eles aprendam a aprender utilizando conhecimentos de sua rea de especialidade: vivam a experincia de construir conhecimento e organiz-lo de modo inovador, expandindo as fronteira disciplinares; estabeleam relaes de aprendizagem colaborada; adquiram hbitos de acessar, processar, arquivar e organizar dados. E mobilizem esses saberes em situaes prticas de ensino e aprendizagem nas suas respectivas reas de conhecimento. Ao colocar as tecnologias da informao a servio da melhoria da qualidade da formao do professor, essa abordagem metodolgica est tambm preparando o professor para usar as novas tecnologias com seus alunos, em contextos nos quais essas tecnologias estejam disponveis.