Guerreiros e Guerreiras da comunidade Morro do Barbado

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Guerreiros e Guerreiras da comunidade Morro do Barbado Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 nº1932 Janeiro/2015 Venturosa Os agricultores e agricultoras do Morro do Barbado, na cidade de Venturosa, decidiram que a vida deles seria diferente da maioria dos outros agricultores que trabalham apenas com a terra e criação de animais. Em menos de dois anos, tudo se transformou na vida das oitenta e cinco famílias da comunidade. As mulheres agricultoras que apenas cuidavam dos maridos e filhos tornaram‐se mulheres determinadas. Aprender a ler, escrever, costurar, e participar de cursos são prioridades em suas vidas. “Não queremos parar por aí, queremos mais. Bordado com fitas, bolos e tortas, biscoitos e pães já estão na lista dos próximos cursos que vamos fazer”, conta Fabiana Antunes, vice‐presidente da associação dos moradores. Das 85 famílias da comunidade, cinquenta e duas participam da associação. “O Barbado é outro! A associação transformou esta comunidade numa grande família. Tenho o maior orgulho em dizer que todos os sábados realizamos um mutirão, que vem transformando a vida da comunidade ”, declara o agricultor e presidente da associação, Erinaldo Bezerra, conhecido como Mec. Ações como capinar, plantar, destelhar uma casa, plantar palma, fazer cerca, precisavam ser realizadas na comunidade, mas pagar pela mão‐de‐obra era impossível para as famílias, por isso os trinta e seis homens se reuniram em mutirões, aos sábados, das 8h às 13h, para resolver estes ou qualquer outro problema na comunidade. A associação não estava formalizada, mas em ações tudo estava encaminhado. A primeira ação do mutirão foi cavar um poço amazonas com 7,5m de profundidade, que atende a três famílias. Antes morar no Morro do Barbado era ver famílias se separando por conta do intenso êxodo rural, onde a maioria saia para trabalhar na lavoura de café em Minas Gerais e não retornava. Foi então que a ideia de formalizar a associação foi oficialmente para o papel. Na primeira reunião da associação havia dezesseis pessoas. Na segunda, vinte e seis. “O povo foi gostando tanto de se reunir que em pouco tempo foi surgindo ideias, entre elas a de organizar um torneio leiteiro para arrecadar fundos, e construir uma sede para a associação. A grande maioria não sabia o que o era o torneio, mesmo assim toparam o desafio. Um grupo se organizou para matar porco, alinhar bode, outro temperar e arrumar o local para a exposição e festa, e outro correu atrás de patrocínio no comércio de Venturosa. E assim o primeiro torneio leiteiro foi um sucesso para a comunidade e associação. Com a arrecadação do torneio construíram a base, levantaram as paredes e cobriram o telhado da associação”, conta Mec. Agricultoras do Barbado participam de curso de capacitação

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Os agricultores e agricultoras do Morro do Barbado, na cidade de Venturosa, decidiram que a vida deles seria diferente da maioria dos outros agricultores que trabalham apenas com a terra e criação de animais. Em menos de dois anos, tudo se transformou na vida das oitenta e cinco famílias do sítio.

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Guerreiros e Guerreiras da comunidade Morro do Barbado

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 nº1932

Janeiro/2015

Venturosa

Os agricultores e agricultoras do Morro do Barbado, na

cidade de Venturosa, decidiram que a vida deles seria diferente da

maioria dos outros agricultores que trabalham apenas com a terra e

criação de animais. Em menos de dois anos, tudo se transformou na

vida das oitenta e cinco famílias da comunidade.

As mulheres agricultoras que apenas cuidavam dos

maridos e filhos tornaram‐se mulheres determinadas. Aprender a

ler, escrever, costurar, e participar de cursos são prioridades em

suas vidas.

“Não queremos parar por aí, queremos mais. Bordado com

fitas, bolos e tortas, biscoitos e pães já estão na lista dos próximos

cursos que vamos fazer”, conta Fabiana Antunes, vice‐presidente da

associação dos moradores.

Das 85 famílias da comunidade, cinquenta e duas

participam da associação. “O Barbado é outro! A associação transformou esta comunidade numa grande família. Tenho o

maior orgulho em dizer que todos os sábados realizamos um mutirão, que vem transformando a vida da comunidade ”, declara

o agricultor e presidente da associação, Erinaldo Bezerra, conhecido como Mec.

Ações como capinar, plantar, destelhar uma casa, plantar palma, fazer cerca, precisavam ser realizadas na

comunidade, mas pagar pela mão‐de‐obra era impossível para as famílias, por isso os trinta e seis homens se reuniram em

mutirões, aos sábados, das 8h às 13h, para resolver estes ou qualquer outro problema na comunidade.

A associação não estava formalizada, mas em ações tudo estava encaminhado. A primeira ação do mutirão foi cavar

um poço amazonas com 7,5m de profundidade, que atende a três famílias. Antes morar no Morro do Barbado era ver famílias

se separando por conta do intenso êxodo rural, onde a maioria saia para trabalhar na lavoura de café em Minas Gerais e não

retornava. Foi então que a ideia de formalizar a associação foi

oficialmente para o papel.

Na primeira reunião da associação havia dezesseis pessoas. Na

segunda, vinte e seis. “O povo foi gostando tanto de se reunir que em

pouco tempo foi surgindo ideias, entre elas a de organizar um torneio

leiteiro para arrecadar fundos, e construir uma sede para a associação.

A grande maioria não sabia o que o era o torneio, mesmo assim

toparam o desafio. Um grupo se organizou para matar porco, alinhar

bode, outro temperar e arrumar o local para a exposição e festa, e

outro correu atrás de patrocínio no comércio de Venturosa. E assim o

primeiro torneio leiteiro foi um sucesso para a comunidade e

associação. Com a arrecadação do torneio construíram a base,

levantaram as paredes e cobriram o telhado da associação”, conta

Mec.

Agricultoras do Barbado participam de curso de capacitação

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

A arrecadação do torneio deu tão certo que sobraram recursos, para auxiliar os associados na compra de remédios, passagem para consulta médica, cirurgia ou qualquer outra necessidade. “Quando alguém da comunidade passa por alguma dificuldade, a associação se reúne e arranja prêmios para fazer um bingo em prol do necessitado. No momento temos o desejo de formar um grupo cultural para animar as nossas festas. Força de vontade foi fundamental para seguirmos em frente, além da união do grupo em motivar uns aos outros. Sem liderança não teríamos resultado. Nós não deixamos ninguém desamparado. A prioridade aqui é o sócio”, declara Mec. Uma das agricultoras conta que quando não tinha material para trabalhar, usava pedaço de pau como agulha de crochê. Olhando as dificuldades do passado Fabiana finaliza: “Nós somos guerreiras!” E em breve teremos mais histórias, atualmente associação elaborou um projeto para aquisição de máquinas de costura, junto ao financiador internacional. É um povo cheio de esperança e de união.

Realização Apoio

Ações dos Agricultores do Morro do Barbado

Agricultora na aula corte e costura

Mulheres agricultoras da Associação

Aula de corte e costura

Dia de mutirão

Agricultores separando as palmas

Agricultor no mutirão