Guedes,ItaloCésarMontalvão

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO INFLUÊNCIA DA FORMA URBANA EM AMBIENTE SONORO: UM ESTUDO NO BAIRRO JARDINS EM ARACAJU (SE) ITALO CÉSAR MONTALVÃO GUEDES Campinas 2005

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO INFLUNCIA DA FORMA URBANA EM AMBIENTE SONORO: UM ESTUDO NO BAIRRO JARDINS EM ARACAJU (SE) ITALO CSAR MONTALVO GUEDES Campinas 2005 iiUNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO INFLUNCIA DA FORMA URBANA EM AMBIENTE SONORO: UM ESTUDO NO BAIRRO JARDINS EM ARACAJU (SE) ITALO CSAR MONTALVO GUEDES ORIENTADORA: PROF. DR. STELAMARIS ROLLA BERTOLI DissertaodeMestradoapresentadaComisso dePs-graduaodaFaculdadedeEngenharia Civil,ArquiteturaeUrbanismodaUniversidade EstadualdeCampinas,comopartedosrequisitos paraobtenodottulodeMestreemEngenharia Civil, na rea de concentrao de Edificaes. Campinas, SP 2005iii FICHACATALOGRFICAELABORADAPELABIBLIOTECADAREADEENGENHARIA-BAE-UNICAMP G934i Guedes, Italo Csar Montalvo Influncia da forma urbana em ambiente sonoro: um estudo no bairro Jardins em Aracaju (SE)/ Italo Csar Montalvo Guedes.--Campinas, SP: [s.n.], 2005. Orientador: Stelamaris Rolla Bertoli Dissertao (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. 1. Poluio sonora.2. Rudo urbano.3. Trnsito - Rudo.4. Planejamento urbano.5. Simulao (computadores).I. Bertoli, Stelamaris Rolla.II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.III. Ttulo. iv Agradecimentos v Agradecimentos Agradeo a Deus, fonte de conforto e de iluminao. Meusagradecimentos,tambm,quelaspessoasquedepositaramcredibilidadeao trabalhodepesquisa,subsidiandodesdeaetapadacoletadedadosataelaboraofinaldesta dissertao. So algumas delas que contriburam com dedicao e competncia. Prof.Dr.StelamarisRollaBertolipelassugestes,orientaoterico-metodolgica, levando-me a entender o sentido da pesquisa acadmica e, sobretudo, pela presena amiga neste percurso. Funcionrios,professores da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), de modo especialaosquefazempartedaFaculdadedeEngenhariaCivil,ArquiteturaeUrbanismoedo Departamento de Arquitetura e Construo.IntegrantesdoLaboratriodeConfortoAmbientaleFsica-UNICAMP,Daniele Obadias, pelo suporte tcnico.PesquisadoresdoLaboratriodeAcsticaAmbiental,IndustrialeConfortoAcstico (LAAICA)doDepartamentodeEngenhariaMecnica(DEMEC)daUniversidadeFederaldo Paran (UFPR), com nfase, ao Prof. Dr.-Ing. Paulo Henrique Trombetta Zannin, pela importante participao na fase de simulaes acsticas. David Queiroz de Santana e Fabiano Belisrio Diniz pela elucidao das dvidas no uso do software SoundPLAN 6.0. Funcionrios de rgos da Prefeitura de Aracaju (SE), a exemplo da Empresa Municipal deObrasUrbanas(EMURB),daEmpresadeServiosUrbanos(EMSURB),daSecretaria MunicipaldePlanejamentodeAracaju(SEPLAN),porcontriburemcomimagens,legislaes locais e outras informaes referentes ao bairro Jardins e ao municpio de Aracaju (SE). Sndicosemoradoresdoscondomniosestudadosporliberaremosespaosinternosdos seus condomnios, viabilizando a realizao das medies acsticas. Agradecimentos viMayumi e Quitria pela ajuda na etapa de coleta de dados.Rivalda que, mesmo estando fisicamente distante, sempre esteve ao meu lado em todos os momentos.Meus familiares pelo apoio incondicional em mais uma etapa da minha vida.Demais amigos e colegas que contriburam direta ou indiretamente para a concluso deste trabalho.Agradeo,ainda,FundaodeAmparoPesquisadoEstadodeSoPaulo(FAPESP) pelo apoio financeiro. Sumrio viiSumrio Agradecimentos............................................................................................................................... v Lista de Figuras .............................................................................................................................. ix Lista de Tabelas ............................................................................................................................ xiv Resumo.......................................................................................................................................... xv Abstract......................................................................................................................................... xvi Captulo 1. Introduo..................................................................................................................... 1 1.1 Consideraes Sobre o Tema................................................................................................ 1 1.2 Objetivos da Dissertao ...................................................................................................... 4 Captulo 2. Rudo Ambiental........................................................................................................... 5 2.1 Introduo ............................................................................................................................. 5 2.2 O Rudo Urbano e a Poluio Sonora................................................................................... 6 2.3 Classificao das Fontes Sonoras (Rudo)............................................................................ 9 2.4 Tipos de Fontes de Rudo Urbano ...................................................................................... 10 2.5 Propagao Sonora ao Ar Livre.......................................................................................... 15 2.6 Influncia da Forma Urbana em Ambiente Sonoro............................................................ 22 Captulo 3. Avaliao de Rudo Ambiental................................................................................... 29 3.1 Introduo ........................................................................................................................... 29 3.2 Medio de Rudo............................................................................................................... 30 3.3 Legislao de Rudo Ambiental.......................................................................................... 37 3.4 Normas de Rudo Ambiental .............................................................................................. 39 3.5 Ferramentas para Avaliao de Rudo Ambiental .............................................................. 41 Sumrio viiiCaptulo 4. Metodologia da Pesquisa ............................................................................................ 53 4.1 Introduo ........................................................................................................................... 53 4.2 A Cidade de Aracaju (SE) .................................................................................................. 54 4.3 Regio em Estudo: O Bairro Jardins Aracaju (SE) ......................................................... 55 4.4 Materiais e Mtodo ............................................................................................................. 57 4.5 Modelagem e Simulaes Acsticas................................................................................... 69 Captulo 5. Resultados e Discusses ............................................................................................. 75 5.1 Introduo ........................................................................................................................... 75 5.2 Estudo de CASO 1: Cenrio Acstico Atual ...................................................................... 76 5.3 Estudo de CASO 2: Cenrio Acstico Atual Sem Muros .................................................. 86 5.4 Estudo de CASO 3: Cenrios Hipotticos do Setor 2 (CASO 3a, 3b, 3c).......................... 99 Captulo 6. Concluses................................................................................................................ 105 Captulo 7. Referncias................................................................................................................ 109 Anexo A: Norma Alem RLS - 90........................................................................................... 117 Anexo B: Um Pouco da Histria de Aracaju (SE) ................................................................... 121 Anexo C: Mapa da Diviso dos Bairros de Aracaju (SE) ........................................................ 123 ApndiceA:ComparaoentrevaloresmedidosecalculadosdeLAeq(dB)porpontode medio........................................................................................................................................ 124 Lista de Figuras ixLista de Figuras Figura2.1RelaoentreporcentagensdepessoasaltamenteincomodadasevaloresdeLdn referentes aos trfegos: areo, ferrovirio e rodovirio. Fonte: Adaptado da Brel & Kjr, 2000........................................................................................................................................................ 12 Figura 2.2 Histrico temporal tpico do rudo de trfego em centros urbanos. Fonte: HASSAL e ZAVERI, 1979 apud OUIS, 2001. ................................................................................................ 13 Figura2.3Histricotemporaltpicodorudodetrfegoemrodovias.Fonte:HASSALe ZAVERI, 1979 apud OUIS, 2001. ................................................................................................ 13 Figura2.4Representaodealgunsdosprincipaismecanismosdepropagaosonora.Fonte: Adaptado de Beranek e Vr (1992). .............................................................................................. 15 Figura2.5Efeitodadifraosonoradevido:(a)bordadeumaparede,(b)fendanaparede comdimensesmenoresdoqueocomprimentodeondae(c)fendanaparedecomdimenses comparveis ao comprimento de onda. Fonte: Adaptado de Hassal e Zaveri (1979). .................. 17 Figura 2.6 Barreira acstica. Fonte: GERGES, 2000. ................................................................ 19 Figura2.7Desempenhodeedifcioscomobarreirasacsticas(planodemassas).Fonte: NIEMEYER e SLAMA, 1998....................................................................................................... 19 Figura 2.8 Parcelas de som direto e refletido. Fonte: Adaptado de Kotzen e English (1999). .. 20 Figura2.9Variaodocaminhodasondasacsticasdevidoaoefeitodovento.Fonte: GERGES, 2000.............................................................................................................................. 21 Figura2.10Variaodocaminhodasondasacsticasdevidoaoefeitodeaumentoda temperatura com a altura. Fonte: GERGES, 2000. ....................................................................... 22 Figura2.11Variaodocaminhodasondasacsticasdevidoaoefeitodediminuioda temperatura com a altura. Fonte: GERGES, 2000. ....................................................................... 22 Figura 2.12 Espaos acsticos: (a) aberto e (b) fechado. Fonte: Adaptado de Niemeyer e Santos (2001). ........................................................................................................................................... 23 Lista de Figuras x Figura2.13Representao:(a)daviae(b)darua.Fonte:AdaptadodeNiemeyereSantos (2001). ........................................................................................................................................... 24 Figura2.14Representao:(a)daruaemperfilUe(b)daruaemperfilL.Fonte: Adaptado de Niemeyer e Santos (2001). ....................................................................................... 25 Figura 2.15 Perfis de ruas analisados na cidade de Bucareste (Romnia). Fonte: HINCU, 2003........................................................................................................................................................ 26 Figura 2.16 (a) Quadra mais exposta ao rudo de trfego e (b) quadra menos exposta ao rudo de trfego. Fonte: Adaptado de Niemeyer e Santos (2001). .............................................................. 27 Figura2.17(a)Maiorpermeabilidadeaorudodaviadetrfego (b) menor permeabilidade ao rudo da via de trfego. Fonte: Adaptado de Prinz (1980). ........................................................... 27 Figura3.1Nveisdepressosonoracomunsemambientesexternoseinternos.Fonte: Adaptado de Brel & Kjr (2000). ............................................................................................... 31 Figura 3.2 Grfico para adio de dois nveis sonoros. Fonte: GERGES, 2000. ....................... 33 Figura 3.3 Circuitos de compensao A, B, C e D. Fonte: GERGES, 2000. ............................. 34 Figura3.4MapaacsticodeumadeterminadaregionacidadedeGteborg(Sucia)obtida por meio de medies e predio acstica. Fonte: THORSSON; GREN e KROPP, 2004........ 42 Figura 4.1 Localizao do municpio de Aracaju em relao ao estado de Sergipe. ................. 54 Figura 4.2 (a) Localizao da rea em estudo do bairro Jardins, (b) modelo 3D da rea estudada (Vista Sudoeste)............................................................................................................................. 55 Figura4.3OrtofotocartadaregioemestudonobairroJardins.Fonte:AdaptadodeAracaju (2004). ........................................................................................................................................... 58 Figura 4.4 Foto 1: 1 trecho da Av. Dep. Slvio Teixeira (maro, 2005). .................................. 59 Figura 4.5 Foto 2: cruzamento entre as avenidas estudadas (maro, 2005). .............................. 59 Figura 4.6 Foto 3: 2 trecho da Av. Dep. Slvio Teixeira (maro, 2005). .................................. 60 Figura 4.7 Foto 4: ponto localizado na Av. Pedro Valadares (fevereiro, 2005)......................... 60 Figura 4.8 Foto 5: ponto localizado na Av. Min. Geraldo B. Sobral (fevereiro, 2005). ............ 61 Lista de Figuras xiFigura 4.9 Foto 6: ponto localizado na Alameda B (fevereiro, 2005). ................................... 61 Figura 4.10 Foto 7: ponto localizado na Rua A (maro, 2005). ............................................. 61 Figura4.11Planta-baixadaregiodo bairro Jardins (destaque: identificao das edificaes e dos 19 pontos de medio acstica). ............................................................................................. 63 Figura4.12Detalhedoposicionamentodomedidordenveldepressosonoradefrontes fachadas frontais dos edifcios: (a) bloco B Ed.(16) do Cd. Jardim Imperial, (b) bloco A Ed. (17) do Cd. Jardim Imperial, (c) bloco B Ed. (65) do Cd. Delphinos (fevereiro e maro, 2005)........................................................................................................................................................ 65 Figura4.13MedidordenveldepressosonoradaBrel&Kjr.Fonte: http://www.bksv.com/tbdoc/3239/2238_Mediator.pdf. Acesso em 15 de julho de 2005. ............ 67 Figura4.14Viso3Dwireframedomodelogeomtricofinaldaregioemestudonobairro Jardins (2005), extrada da interface do SoundPLAN 6.0.............................................................. 70 Figura 5.1 Cenrio acstico atual da regio em estudo.............................................................. 76 Figura 5.2 Cenrio acstico atual sem muros............................................................................. 86 Figura 5.3 Cenrio acstico atual sem muros (detalhe do setor 1)............................................. 88 Figura5.4Detalhedosetor1:localizaodosedifcios analisados: 14, 15, 16, 17, 63, 64, 66, 67, 68 e 69 ..................................................................................................................................... 88 Figura 5.5 Fotos dos edifcios: (a) 14, 15, 16, 17, (b) 66, 67, 68 e 69, (c) 63 e 64 e (d) foto do conjunto desses edifcios no trecho analisado (maro, 2005). ...................................................... 89 Figura 5.6 Grfico comparativo dos nveis sonoros nas fachadas frontais dos edifcios: 14, 15, 16 e 17. .......................................................................................................................................... 90 Figura 5.7 Grfico comparativo dos nveis sonoros nas fachadas frontais dos edifcios: 63, 64, 66, 67, 68 e 69. .............................................................................................................................. 92 Figura 5.8 (a) Grfico com os valores dos nveis sonoros na fachada frontal do edifcio 30 e (b) foto do edifcio 30 (maro, 2005). ................................................................................................. 94 Figura 5.9 Grfico comparativo dos nveis sonoros na fachada frontal e de fundo do edifcio17........................................................................................................................................................ 95 Lista de Figuras xiiFigura5.10Grficocomparativodosnveissonorosnafachadafrontaledefundodoedifcio 66. .................................................................................................................................................. 96 Figura 5.11 Grfico comparativo dos nveis sonoros na fachada frontal do edifcio 5, com e sem muros. ............................................................................................................................................ 97 Figura5.12Grficocomparativodosnveissonorosnafachadafrontaldoedifcio61,come sem muros...................................................................................................................................... 98 Figura5.13Grficocomparativodosnveissonorosnafachadafrontaldoedifcio15,come sem muros...................................................................................................................................... 98 Figura5.14Grficocomparativodosnveissonorosnafachadafrontaldoedifcio16,come sem muros...................................................................................................................................... 98 Figura 5.15 (a) Planta-baixa do CASO 3a e (b) modelo 3D do CASO 3a (Vista Sudeste)...... 100 Figura 5.16 (a) Planta-baixa do CASO 3b e (b) modelo 3D do CASO 3b (Vista Sudeste). .... 100 Figura 5.17 (a) Planta-baixa do CASO 3c e (b) modelo 3D do CASO 3c (Vista Sudeste)...... 101 Figura5.18Grficocomparativo dos nveis sonoros na fachada NE do edifcio 41 (CASO 3a, CASO 3b, CASO 3c e Cenrio atual) ......................................................................................... 101 Figura5.19Mapasacsticosdos:(a)Cenrioatual,(b)CASO3a,(c)CASO3b,(d)CASO3c...................................................................................................................................................... 103 Figura 5.20 Sees verticais do campo acstico dos: (a) Cenrio atual, (b) CASO 3a, (c) CASO 3b, (d) CASO3c ........................................................................................................................... 104 FiguraB.1Projetourbansticocomtraadoderuasemlinhareta,formandoquarteires simtricos. Fonte: SILVA, 2003.................................................................................................. 121 Figura B.2 Fotografia do bairro Jardins no ano de 2000. Fonte: SILVA, 2003. ...................... 122 Figura C.1 Mapa da diviso dos bairros de Aracaju (SE). ....................................................... 123 FiguraA.1GrficocomparativodosvaloresmedidosecalculadosparaLAeq(12:00hs 13:00h)......................................................................................................................................... 124 FiguraA.2GrficocomparativodosvaloresmedidosecalculadosparaLAeq(18:00hs 19:00h)......................................................................................................................................... 125 Lista de Figuras xiiiFiguraA.3GrficocomparativodosvaloresmedidosecalculadosdeLAeqparaospontos internos aos condomnios selecionados (12:00h s 13:00h)........................................................ 125 Lista de Tabelas xivLista de Tabelas Tabela3.1NveldecritriodeavaliaoNCAparaambientesexternos.Fonte:NBR10.151 (2000). ........................................................................................................................................... 40 Tabela 4.1 Caracterizao do entorno urbano dos setores estudados......................................... 59 Tabela 4.2 Identificao das principais edificaes da regio em estudo. ................................. 63 Tabela 4.3 Resumo dos dados de trfego inseridos no SoundPLAN 6.0.................................... 71 Tabela5.1Campoacsticodasseesverticaisaolongodasavenidas:Dep.SlvioTeixeira, Min. Geraldo B. Sobral e Pedro Valadares. .................................................................................. 80 Tabela 5.2 Comparao dos nveis sonoros nas fachadas frontais dos edifcios: 14, 15, 16 e 17........................................................................................................................................................ 90 Tabela5.3Comparaodos nveis sonoros nas fachadas frontais dos edifcios: 63, 64, 66, 67, 68 e 69. .......................................................................................................................................... 92 Tabela A.1 Correo devido superfcie da rua ...................................................................... 118 Resumo xv Resumo GUEDES,ItaloCsarMontalvo.Influnciadaformaurbanaemambientesonoro:um estudonobairroJardinsemAracaju(SE).2005.126p.DissertaoFaculdadede Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas. A poluio sonora ambiental, resultante da combinao de diversas fontes sonoras, como, alarmes,sirenes,atividadescomerciaiseservios,templosreligiosos,indstrias,obrasde construocivileotrnsitodeveculosautomotores,temelevadoonvelderudourbanoe contribudoparaosurgimentodeambientessonoroscadavezmaisdesagradveis.Atualmente, temsidoconsideradacomoumdosproblemasambientaismaiscomuns,degradandoomeio ambienteecomprometendoaqualidadedevida.Asavaliaesderudoambientalpormeiode mapeamentoepredioacsticapodemserteisnamedidaemquepermitemvisualizare quantificar o rudo ambiental, contribuindo para um planejamento adequado do ambiente sonoro urbano.Oobjetivoprincipaldestetrabalhofoiverificardequemaneiraainteraoentrefontes sonoras e a forma urbana exerce influncia em determinado ambiente sonoro, utilizando o bairro JardinsemAracaju(SE)comocampoexperimental.Foipropostoumestudobaseadona aplicaodeumsoftwareparamapeamentoepredioacsticaemqueseanalisou, primeiramente,ocenrioacsticoatuale,emseguida,oscenrioshipotticoscriadose simuladosemsetoresaindanoocupadosdaregio.Namodelagemesimulaesacsticas, considerou-seotrfegodeveculosnasavenidaslocaiscomoprincipalfontederudo.Parasua realizaoforamutilizadosdadosacsticos,detrfegoecaractersticasgeomtricasdaregio, levantadosduranteoinciodoprimeirosemestrede2005.Osresultadosmostraramqueas caractersticasfsicasdaformaurbanacomodensidadeconstrutiva,existnciadereaslivres, formaedisposiodasedificaesinfluenciamnapropagaosonoraaoarlivre e, portanto, no ambientesonorodeumadeterminadaregio.Asinformaesapresentadasnessetrabalho poderoservircomosubsdiosaoplanejamentoedesenhodascidadesnoqueserefereao conforto acstico. Palavras-chave:RudoUrbano;RudodeTrfego;PlanejamentoeDesenhoUrbano;Predio Acstica.Abstract xviAbstract GUEDES,ItaloCsarMontalvo.Influnciadaformaurbanaemambientesonoro:um estudonobairroJardinsemAracaju(SE).2005.126p.DissertaoFaculdadede Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas. Environmentalnoisepollutionresultingfromthecombinationofvariousnoisesources, suchas,alarms,sirens,commercialactivitiesandservices,religioustemples,industries,civil engineering works and the traffic of automobile vehicles, have increased the level of urban noise and contributed to the appearance of sound environments that are more and more unpleasant. At present it has been considered as one of the most common environmental problem by degrading theenvironmentandimpairingthequalityoflife.Theevaluationsofenvironmentalnoiseby acousticmappingandpredictionmaybeusefultotheextentthattheymayallowfora visualization and quantification of environmental noise, thus contributing for a suitable planning ofurbansoundenvironment.Themainobjectiveofthisstudyistoverifyinwhatwaythe interaction between the noise sources and the urban form exert their influence on a certain sound environmentbyusingthedistrictofJardinsinthecityofAracaju(Sergipe)asanexperimental field.Astudywasproposedbasedontheapplicationofsoftwareforacousticmappingand prediction. At first, the current acoustic scenery was analyzed and then, the hypothetical sceneries createdandsimulatedinplacesnotyetoccupiedinthearea.Intheacousticmodelingand simulation, local avenue vehicle traffic was considered as the main noise source by using traffic acoustic data and geometrical features of the area, as surveyed during the first semester of 2005. Theresultsshow that the physical features of urban form, such as building density, existence of openareas,formanddispositionofbuildings,influencethesoundpropagationinopenairand therefore, in the sound environment of a certain area. The information presented in this work may be used in the planning and designing of cities regarding acoustic comfort. Keywords: Urban Noise; Traffic Noise; Urban Planning and Design; Acoustic Prediction Captulo 1. Introduo 1 CAPTULO 1 INTRODUO Captulo 1. Introduo 1.1 Consideraes Sobre o Tema Apreocupaocomaacsticanoestrelacionadaapenasaoseudesempenhoem ambientesinternos,mastambm,aocontrolederudoepreservaodaqualidadenomeio ambiente.OrudotemsidoumgrandeproblemaaohomemdesdeaAntiguidade.Porexemplo,na RomaAntigajexistiamregulamentosparaorudoprovenientedocontatoentreasrodasdas carroas e as pedras do calamento, que geravam incmodos populao. Na Europa Medieval, algumascidadesproibiamduranteanoiteousodecarruagensecirculao de pessoas a cavalo, funcionando assim, como medidas para garantir tranqilidade aos seus habitantes (BERGLUND, LINDVALL e SCHWELA, 1999). Noentanto,osproblemasderudonessesperodossemostraminsignificantesaoserem comparados com os existentes nas sociedades de hoje, quando a acstica urbana passa a assumir papel de destaque em vista do rpido processo de urbanizao e conseqente aumento do nmero de fontes sonoras.Acombinaodediversasfontessonoras,taiscomo,alarmes,sirenes,atividades comerciaiseservios,templosreligiosos,indstrias,obrasdeconstruocivil,eotrnsitode veculos automotores, tem elevado o nvel de rudo urbano e contribudo para o aparecimento de Captulo 1. Introduo 2 ambientessonoroscadavezmaisdesagradveis.Atualmente,aWorldHealthOrganization1 (WHO)consideraapoluiosonoracomoumdosproblemasambientaisqueatingeaomaior nmero de pessoas no planeta depois da poluio do ar e da gua. CvetkoviePraevi(2000)comentamquetalproblematem-semostradodedifcil controle diante da existncia de uma grande variedade de fontes sonoras, dos diferentes mtodos deobtenodeinformaesrelativasexposioaorudoedosdiversosindicadoresde avaliao. Sabe-se, ainda, que as exposies ao rudo so responsveis por muitos fatores de risco sade fsica e mental no homem, como, perda temporria ou permanente da audio, prejuzo ao sono, estresse, irritabilidade, etc. Daanecessidadeemrealizarestudossobreapoluiosonoraesuasconseqnciasno ambienteenohomem,desdetrabalhosquevisamquantificarosdiversosefeitosdorudonas pessoas,comotambm,quelesinteressadosemcaracterizar,acusticamente,umadadaregio, pormeiodeferramentas,taiscomo,omapeamentoeapredioacstica.Taisferramentastm sidobastanteutilizadas,poisforneceminformaesdorudoambientalparaoplanejamento urbano,permitindooacompanhamentoeprevisesdaevoluodeambientessonoros,que segundoalgunsestudossofreminflunciasdiantedadensidadeconstrutivaedaformadas edificaes, enfim, da configurao do espao urbano. Em Aracaju (SE), no incio dos anos de 1990, grupos de empresrios locais deram incio aoprojetodeimplantaodeumnovoShoppingCenter2paraacidade,comointeressede valorizaralgumasdesuaspropriedades(vazios urbanos). O projeto abrangia, tambm, a criao deumbairrosituadonazonasuldacidade,atrsquilmetrosdoCentroHistrico,que enalteceriaosespaosprivadostipocondomniosfechadoscomocondioidealdemoradae apresentaria nos seus espaos pblicos, praas, calades, ciclovias, bulevares, dentre outros. 1 Organizao Mundial da Sade (OMS). 2 Em 1997, a empresa Nordeste Construes Ltda (NORCON), em parceria com a Decide Imobiliria Ltda, inaugurou o Shopping Center Jardins, sendo o ponto de partida para consolidao das obras que deram origem ao mais novo bairro da cidade, o Jardins (SILVA, 2003). Captulo 1. Introduo 3 O bairro Jardins apresenta-se hoje como um ncleo urbano verticalizado, onde surgir em mdio prazo, outro subcentro, dada alta densidade de populao e de renda (FRANA, 1999). Passados poucos anos do incio de sua implantao, podem ser observados em alguns pontos do bairro,osprimeirossinaisdepossveisproblemasurbanosrelacionados,porexemplo,aousoe ocupao do solo, a inexistncia de reas verdes projetadas, ao subdimensionamento de vias para veculos e passeios para pedestres, e ao rpido processo de verticalizao, o que torna pertinente a problematizaodainflunciadealgunsdessesaspectosnoconfortoacsticodosambientes construdosnessecontextourbano.Destemodo,questiona-seemquemedidaainteraoentre fontes sonoras e a forma urbana influencia o ambiente sonoro dessa regio.Esta dissertao, portanto, concentra sua ateno no estudo da influncia da forma urbana emambientesonoro,utilizando-seumareanobairroJardinscomocampoexperimental.O estudofoidesenvolvidocombaseemsimulaesacsticasrealizadasatravsdosoftwarepara mapeamento e predio acstica - SoundPLAN verso 6.0.Nodecorrerdotrabalho,realizadaumarevisobibliogrfica(Captulos2e3), abordando-sevriosaspectosdorudoambiental,como:orudourbanoeapoluiosonora,os diferentestiposeclassificaodefontessonoras(rudo),apropagaosonoraaoarlivreea influnciadaformaurbanaemambientesonoro.Comentam-se,tambm,algunsconceitose descritoresacsticos,normaselegislao,almdeferramentasparaavaliaoderudo,tais como,omapeamentoacsticoeemespecial,apredio acstica, quando se faz uma reviso de modelos e softwares comerciais direcionados para tal fim. NoCaptulo4,dedicadometodologiadapesquisa,apresenta-seecontextualiza-seo ambienteemanlise,almdeseremdescritosomtodoeosmateriaisutilizadosparao desenvolvimento do trabalho e alcance do objetivo principal estabelecido.NoCaptulo5,soapresentadosediscutidososresultadosreferentesinflunciada forma urbana em ambiente sonoro aps a realizao das simulaes acsticas.Por fim, no Captulo 6, so mostrados os aspectos observados no captulo anterior quanto influnciadaformaurbananoambientesonorodaregioestudada,podendoservircomo Captulo 1. Introduo 4 subsdiosaoplanejamentoedesenhodascidadesnoqueserefereaoconfortoacstico.Ainda nesse captulo, so apresentadas algumas sugestes para trabalhos futuros. 1.2 Objetivos da Dissertao 1.2.1 Objetivo Geral Estudardequemaneiraainteraoentrefontessonoraseaformaurbanaexerce influnciaemdeterminadoambientesonoro,utilizandoobairroJardinsemAracaju(SE)como campo experimental. 1.2.2 Objetivos Especficos LevantarprincipaisfontessonorasdobairroJardinseidentificarquais fontes so mais determinantes do ambiente sonoro local. Estudar a distribuio dos nveis de presso sonora no entorno urbano, utilizando-se resultados de medies in loco e software para mapeamento e predio acstica SoundPLAN, verso 6.0. Identificarprincipaisinflunciasdascaractersticasfsicasdaformaurbana,tais como:largurasdasvias,densidadeconstrutiva,formaedistribuioespacialdosedifcios,no ambiente sonoro da regio em estudo, com base em simulaes acsticas.Apresentarosaspectosobservadosreferentesinflunciadaformaurbanano ambientesonorodaregioestudada,podendoservircomosubsdiosaoplanejamentourbanoe desenho das cidades. Captulo 2. Rudo Ambiental 5CAPTULO 2 RUDO AMBIENTAL Captulo 2. Rudo Ambiental 2.1 Introduo AOrganizaoMundialdaSade(OMS)defineorudocomotodosomindesejadoque possa afetar, nocivamente, a sade e o bem-estar de indivduos ou de populaes (BERGLUND, LINDVALLeSCHWELA,1999).Dopontodevistadofenmenofsico,osomconsisteem flutuaesdepressonummeioelsticooumecnico,porexemplo,agua,oarouoao, propagando-se em forma de ondas acsticas. No entanto, nem todas as flutuaes de presso, que atingem ao ouvido humano, despertam sensaes auditivas. A sensao de som somente ocorrer para determinados valores de amplitude de presso e de freqncia.Orudoambientaloresultadodacombinaodorudodetodasasfontessonoras presentes em determinado ambiente. Neste trabalho, o estudo se volta para o rudo em ambientes urbanosonde,comumente,soencontradasinmerasfontes,quaissejam:trfegorodovirio, ferrovirioeareo,indstrias,construocivil,rudodevizinhana(restaurantes,discotecas, academias,templosreligiosos),propiciandoambientessonoroscadavezmaisdesagradveis, prejuzos sade e interferncia na qualidade de vida. Nopresentecaptuloserabordadoorudourbano,destacandoapoluiosonora,os diferentestiposeclassificaodefontesderudo,apropagaosonoraaoarlivreeaindaa influncia da forma urbana em ambientes sonoros.Captulo 2. Rudo Ambiental 62.2 O Rudo Urbano e a Poluio Sonora Comorpidoprocessodeurbanizao,apopulaopassoua ser alvo de suas principais conseqncias, por exemplo, da degradao do meio ambiente e decorrente comprometimento da qualidade de vida (BARROS, 2000). Sabe-se que o rudo excessivo consiste numa das mais significativas fontes perturbadoras domeiourbano,principalmente,noscentrosdasgrandescidades.Acombinaodediversas fontessonorasexistentesnessesambientes,como:alarmes,sirenes,atividadescomerciaise servios,templosreligiosos,indstrias,obrasdeconstruocivileotrnsitodeveculos automotorestemelevadoonvelderudourbanoecontribudoparaosurgimento de ambientes sonoros cada vez mais desagradveis, interferindo na realizao de atividades, quer seja o estudo, o trabalho, o lazer ou ainda o descanso. Nesse contexto, vrios estudos realizados recentemente (SUREZ e PERES, 1998, DIAZ et al., 1998; SATO et al., 1999; SOMMERHOFF, RECUERO e SUREZ, 2004) indicam o rudo dotrfegodeveculosautomotorescomooprincipalresponsvelpelosaltosnveisdepoluio sonoraemreasurbanasdevidoaocrescentenmerodeveculosemcirculaonasruase avenidas (ARRUDA et al., 2000). Arruda et al. (2000) consideram ainda como fator contribuinte para o avano da poluio sonora,asatividadesruidosas(Ex:Indstrias),quenopassadoserealizavamemregiesmais afastadasporcontadosseusincmodoseaospoucosforamsendoincorporadasaopermetro urbano diante do rpido avano dos limites das cidades. Pesquisastmconstatadotambmqueonvelsonorourbanosofrevariaesdianteda densidade construtiva e da forma das edificaes, ou seja, da configurao espacial do ambiente urbano.ComoexemplosdessesestudosestoosdesenvolvidosporNiemeyereSlama(1998), NiemeyereSantos(2001),LouraeValadares(2003),almdapesquisarealizadaporHincu (2003),queemespecialestudouainterfernciadediversosparmetros,taiscomo,alturade edifcios,distnciaentrefachadas,presenadezonasverdes,composiodofluxodeveculos, no nvel de rudo gerado pelo trfego veicular urbano, utilizando-se mtodo computacional, o que ser abordado com maiores detalhes no decorrer dessa dissertao. Captulo 2. Rudo Ambiental 7Assim, os problemas ocasionados pelo rudo tornaram-se mais graves, diante da expanso dascidades,dovolume do fluxo de veculos e tambm da densidade da malha urbana (MAIA e SATTLER,2003).DeacordocomaOMS,apoluio sonora consiste hoje, no tipo de poluio que atinge ao maior nmero de pessoas no planeta depois da poluio do ar e da gua. Umaprovadessagravidade,soasnumerosasqueixasrealizadaspelapopulaoaos rgosmunicipaisdecontroleambiental,queemgeral,representam70%dototaldas reclamaes nas grandes cidades (ROLLA, 1994; OLIVEIRA et al., 1999; BARROS, 2000).DeacordocomodocumentodaComunidadeEuropia,denominado Green Paper3, 20% dapopulaoeuropia(cercade80milhesdepessoas)estoexpostasanveisderudoque causamperturbaesaosono,incmodosspessoaseefeitosnegativosnasadehumana.Ao ladodisto,sabe-seque,aproximadamente,170 milhes dos cidados europeus (42%) vivem em reasondeosnveisderudoprovocamsriosincmodosduranteodia(CVETKOVIe PRAEVI, 2000).Oproblemadapoluiosonoraapresentadimensespreocupantesemcidadesdepases emdesenvolvimentonasquaissoencontradosaltosnveisdeexposiosonora.Asprincipais cidades da Amrica Latina so alguns desses exemplos, as quais possuem no trfego de veculos automotoresamaiorparceladecontribuioaorudoambiental(BERGLUND,LINDVALLe SCHWELA, 1999). Umaoutrainformaoimportantedizrespeitosemissessonoras4,queadependerdo seu tipo, podem ocasionar distrbios sade das pessoas muitas vezes de difcil avaliao, pois, envolvem reaes subjetivas das mesmas. Talvez por causa disso, os efeitos do rudo no homem tm sido alvo de constantes estudos (ROLLA, 1994).Muitas pesquisas sobre esses efeitos atestam que o barulho excessivo um dos principais geradoresdefatoresderiscosadefsicaementalnohomem,ocasionandoalmdaprpria perdatemporriaoupermanentedaaudio,prejuzoaosono,estresse,irritabilidade,neuroses, 3 Future Noise Policy, Green Paper, European Commission, Brussels. 4 Entende-se por emisso sonora a variao de presso sonora gerada por uma determinada fonte sonora enquanto que imisso sonora consiste na presso sonora que efetivamente chega ao sistema auditivo do receptor, considerando-se as perdas na transmisso entre a fonte e o receptor. Captulo 2. Rudo Ambiental 8desconfortoe,ainda,complicaonossistemascirculatrioehormonal(BARROS,2000; GERGES, 2000; OUIS, 2001). Foi visto tambm que a poluio sonora pode afetar a concentrao, aumentando os riscos deacidentesdetrabalhoedificultandooaprendizadonosambientesescolares.Portanto,pode interferir,diretamente,nacomunicaoverbalerelacionamentoentrepessoastantonombito familiar quanto no profissional (KESSLER, 1982). Poroutrolado,algunsestudosmostramoquantodifcildeterminaressesefeitos. Cvetkovi e Praevi (2000) comentam que tal dificuldade se deve s diferentes tolerncias das pessoasfrenteaoincmodo,aosvariadostiposdefontespresentesnomeioambiente;aos diferentesmtodosdeobtenodasinformaesquantoexposioaorudo,eainda,a existncia dos diversos indicadores de avaliao do rudo. Esse conjunto de fatores permite dizer que o rudo um poluente cujo controle se apresenta na maioria das vezes de maneira complexa. Sabe-se que todo problema de rudo envolve um sistema de trs elementos bsicos: fonte sonora, caminho de transmisso, e receptor. Harris (1979) comenta que o seu controle poder ser alcanado,atuando-seemcadaumdessescomponentesouatravsdecombinaesentreeles, sendo sempre importante considerar no processo, os aspectos econmicos e operacionais.Berglund e Lindvall (1995) ressaltam que tal controle ser sempre mais eficiente e menos dispendiosoquandoforplanejadocomcertaantecedncia,antesmesmoqueoproblemase desenvolva,evitando-seousodemedidasparareduoderudoasquais,normalmente,se mostram bastante onerosas. Oliveiraetal.(1999)comentamqueocontroledapoluiosonorapodeserobtidopor meio de duas estratgias: (i) medidas de coero, as quais consistem no reforo dos dispositivos decontrolederudonassituaesemquealeinofoicumprida;(ii)mecanismosdecarter preventivo, estabelecendo polticas que aprovem ou no a concentrao de atividades em reas j poludas,avaliando-seosimpactosdessasnovasatividadesantesdeseremimplantadas.Ainda destacamqueessaltimaestratgiasomentetervalidadeseforpossvelconsiderarasituao presente da poluio sonora no ambiente urbano como um todo. Captulo 2. Rudo Ambiental 9Assim sendo, legislaes internacionais e nacionais tm determinado limites de rudo para cadatipodeatividadeafimdegarantirseguranaeconfortodascomunidadesecomisso assegurar a sade e o bem-estar da populao (NAGEM, 2004). SegundoCvetkoviePraevi(2000),emboraexistamdiferenasentreprogramasde reduo do nvel de rudo em vrios pases, o aspecto comum neste campo inclui: o planejamento denovaszonasresidencialeindustrial,deestradasedeaeroportos;participaodapopulao duranteouemetapasposterioresfasedeplanejamento,atravsde reclamaes e comentrios, alm da avaliao do nvel de rudo de diferentes fontes segundo regulamentos e leis.Naescalaurbana,sonecessriasaesquedeterminemcritriosparaarealizaode atividades em determinadas regies dentro de uma viso global da cidade. Da a importncia para a realizao de um planejamento urbano eficaz e consciente que possa prever, particularmente, os impactosacsticosdevidosalteraesnasreasurbanas,seja,nosistemavirio,nousoe ocupaodosoloounaprpriaedificaoecomissoestabelecerdiretrizesparao desenvolvimentoeorganizaodosespaosdeumacidade(MACEDOeSLAMA,2000; NAGEM, 2004). 2.3 Classificao das Fontes Sonoras (Rudo) As fontes sonoras ou de rudo podem ser classificadas como fixas (indstrias, discotecas, clubes,obrasdeconstruocivil)oucomofontesmveisqueocasodotrfegodeveculos (avies,trens, nibus, automveis, motocicletas). Outra maneira de classific-las seria com base emsuascaractersticasgeomtricas,comparandosuasdimensescomsdoreceptoretambm comadistnciaentrefonteereceptor.Destemodo,asdiversasfontessonoraspodemservistas como fontes pontuais, lineares ou de superfcie (NIEMEYER e SLAMA; 1998). Umafontepontualapresentadimensesbemmenores do que a sua distncia ao receptor (ouvinte). Neste caso, a energia sonora se dissipa, esfericamente, de modo que o nvel de presso sonoraomesmoparatodosospontosdemesmadistncia.Almdisso,essenvelsofreuma reduode6decibels(dB)medidaqueseduplicaoafastamentoentreafonteeoouvinte, desconsiderandoasinterfernciasdevidoaosoloeaoar,ouseja,emsituaodecampolivre Captulo 2. Rudo Ambiental 10(BREL&KJR,2000).Segundoessascondies,asindstrias,discotecasereasdelazer podem ser vistas como exemplos de fontes pontuais. Jasfonteslinearessecaracterizamporpossuirumadesuasdimensesbemmaiorem relaodistnciafonte- receptor. O som sofre dissipao de forma cilndrica e o nvel sonoro se apresenta, igualmente, para todos os pontos de mesma distncia linha de eixo da fonte. Nesta situao, o nvel de presso sonora decai de 3 dB a cada duplicao da distncia entre o ouvinte e afonte.Ressalta-setambm,queparaissoocorrer,nodevemexistirinterfernciasdosoloe nemdoar.Assim,umavia de circulao de veculos pode ser modelada como uma fonte linear de grande comprimento (BREL & KJR, 2000; NIEMEYER e SLAMA; 1998).Porfim,umafontedesuperfcieapresentaduasdesuasdimensescomparveisao distanciamentoentreafonteeoreceptor.Atransmissodorudoatravsdeportas,janelasou paredes de uma edificao representa, claramente, esse tipo de situao (GERGES, 2000). NiemeyereSlama(1998)comentamqueessaformadeclassificao se mostra um tanto flexvel,dependendo,namaioriadasvezes,docontextoemanlise.Assim,noseriaerrado entenderumaindstriacomofontedesuperfciedentrodadimensodeumbairro,enem tampouco consider-la como fonte pontual numa escala maior, por exemplo, a cidade. 2.4 Tipos de Fontes de Rudo Urbano Conformevistonoitem2.2,umagrandevariedadedefontesderudoestpresenteno meio urbano, sendo o trfego de veculos automotores apontado por muitas pesquisas nacionais e internacionais, como principal responsvel pelos elevados nveis de poluio sonora.Kessler (1982) comenta que as fontes de rudo podem ser agrupadas em quatro principais categorias,quaissejam:(i)transporte(areo,rodovirioeferrovirio);(ii)indstria;(iii) construo civil; (iv) domstico. Da mesma forma que outros autores, Kessler (1982) ressalta o transporte como a principal fonte de poluio sonora nas cidades por ser de carter bastante difuso. Segundo ele, a qualidade sonora das reas prximas a aeroportos, rodovias e estradas de ferro , profundamente, degradada em vista do rudo emitido por essas fontes que, em geral, se apresenta de maneira transitria.Captulo 2. Rudo Ambiental 11Orudodasindstrias,emboraafete,relativamente,poucaspessoas,sefazpresentena comunidadeporumlongoperododetempo.Quantoaorudoprovenientedasatividadesda construo civil, Kessler (1982) considera, que mesmo se apresentando em altos nveis, este na maioria das vezes aceito pelas pessoas por ser de curta durao. O autor ainda destaca os rudos domsticos como queles gerados na prpria residncia, atravs do uso de aparelhos domsticos, tais como, ar condicionado, aspirador de p, liquidificador, televiso, rdios, etc. OdocumentoGuidelinesforCommunityNoise(BERGLUND,LINDVALLe SCHWELA,1999)citatambmosrudosdecorrentesdocomrcioeservio,dasatividades militares,assimcomo,dasatividadesdelazer,queparticularmentenoBrasil,porcontadesuas caractersticasclimticasamenasemrelaomaioriadospaseseuropeus,socadavezmais comuns, principalmente, durante os perodos noturnos (SATTLER e ROTT, 1994). SegundoBerglundeLindvall(1995),tradicionalmente,osestudosdorudoem comunidadestmfocalizadoapenasorudoproduzidoporumafonteespecfica,porexemplo, trfegoareo,rodovirioouferrovirio.Noentanto,algunsesforostmsidofeitosparaa comparao entre as informaes obtidas dessas diferentes fontes de rudo.Nessesentido,estudosconcluram que nveis sonoros equivalentes de diferentes tipos de fontesderudopodemconduzirsvariadassensaesdeincmodoemgruposdepessoas expostas a essas emisses. Um exemplo disso encontra-se ilustrado na Figura 2.1, que apresenta umcomparativoentreporcentagensdepessoas,altamente,incomodadaspelostrfegosareo, rodovirio e ferrovirio para iguais valores de nvel sonoro mdio dia-noite (Ldn)5 (BERGLUND e LINDVALL, 1995; BREL & KJR, 2000). 5 Consiste no nvel de presso sonora equivalente com uma penalidade de 10 dB para a exposio noturna (entre as 22:00h e 7:00h) Captulo 2. Rudo Ambiental 12 Figura 2.1 Relao entre porcentagens de pessoas altamente incomodadas e valores de Ldn referentes aos trfegos: areo, ferrovirio e rodovirio. Fonte: Adaptado da Brel & Kjr, 2000. AFigura2.1mostraummaiorincmodoocasionadopelorudodasaeronaves,seguido pelosveculosautomotoresetrens.Essaconcluso,possivelmente,indiquequeonvelde pressosonoraequivalentenosejaodescritormaisadequadoenemreflita,completamente,as caractersticas desses rudos.Explicaes alternativas para o resultado observado podem ser atribudas a outros fatores norelacionados,propriamente,scaractersticasdorudo.Porexemplo,BerglundeLindvall (1995)comentamqueoreceioouomedoassociadoaoimpactosonorodeaeronavesem residncias capaz de influenciar na verdadeira sensao de incmodo nas pessoas. 2.4.1 O Rudo de Trfego Orudodotrfegoresultadodacombinaodorudogeradopordiferentesveculos, levesepesados,deslocando-seemviasurbanasouemrodovias.Podeapresentardois componentes:orudodevidolinhaprincipaldeveculos(linhadetrfego),quesecomporta comofontelineareorudogeradoporcadaveculo,assemelhando-seaumafontepontual (OUIS, 2001). Emreasurbanas,essetipoderudodecorrentedasinstabilidadesnotrnsito, ocasionadaspelasaceleraesedesaceleraesdevidoscondiesdotrfego,das Captulo 2. Rudo Ambiental 13caractersticasdasestradaseatmesmodoprpriocomportamentodomotoristanadireo (LECLERCQ e LELONG, 2001). SegundoOuis(2001),estudossobreotrfegoveicularurbanotmmostradoqueas aceleraesrepentinassoresponsveispelospicosderudo,osquaispodemservistosno histrico temporal tpico do rudo de trfego em centros urbanos (Figura 2.2). Figura 2.2 Histrico temporal tpico do rudo de trfego em centros urbanos. Fonte: HASSAL e ZAVERI, 1979 apud OUIS, 2001. Jorudonasrodoviasapresentapoucasvariaesnosseusnveissonoros,pois,os veculos trafegam, sucessivamente, com velocidades constantes (Figura 2.3) (OUIS, 2001). Figura 2.3 Histrico temporal tpico do rudo de trfego em rodovias. Fonte: HASSAL e ZAVERI, 1979 apud OUIS, 2001. Umainformaointeressantequeosautomveis,caminhesemotocicletasemitem diferentes nveis sonoros com diferentes contedos espectrais, da a necessidade de consider-los deformaindependente.Esteaspecto,aliadoscaractersticasdoscomponentesdosveculos, produz significativas interferncias no rudo gerado pelo trfego (HARRIS, 1979). Por exemplo, nasbaixasvelocidades,orudopredominanteprovmdomotor,doescapeedaadmissodoar Captulo 2. Rudo Ambiental 14enquanto que, nas mdias e altas, resultado, principalmente, da interao pneu-estrada, uma vez queorudoaerodinmico,tambmrelacionadosaltasvelocidades,temsofridoredues, permitindoqueosveculosatinjamvelocidadesmaiorescommenorconsumodecombustvele menor nvel de rudo (ARRUDA et al., 2000).Portanto,osprincipaisfatoresqueinfluenciamnorudodetrfegoso:tipoe caractersticasdosveculos,posturadosmotoristas,composiodotrfego,caractersticasdas vias,almdascondiesatmosfricas.Ressaltando-seaindaaocorrncia,duranteapropagao sonora,demudanasnocampoacsticoresultante,porcontadascaractersticasgeomtricas locais, quais sejam: alinhamento da rodovia, topografia, espalhamento por obstculos e reflexes em edifcios ou demais superfcies (BELDERRAIN, 1995). Valadares e Gerges (1998) destacam que dentre os fatores citados acima, as caractersticas do fluxo de veculos e a geometria das vias podem elevar os nveis de rudo mesmo em presena de menores volumes de trfego, oferecendo informaes importantes, particularmente, ao estudo da capacidade ambiental e controle de rudo nos corredores de transporte urbano.Nos ltimos anos, as indstrias automobilsticas tm-se empenhado na reduo dos nveis sonorosgeradospelosveculos,afimdeassegurarmaiorconfortoaospassageiroseatenderas constantesexignciasdaslegislaesgovernamentais.Defato,esseinteressevemcontribuindo para apreciveis diminuies nos rudos produzidos pelo motor e escapamento, tornando maior a influnciadotipoedaconservaodospavimentos.Assim,pesquisasvmsendorealizadas, objetivando desenvolver novas alternativas de pavimentos e contribuir para a reduo dos nveis sonoros decorrentes da interao pneu-estrada (OUIS, 2001; NAGEM, 2004).Aindanesseaspectodecontroleereduodorudodetrfego,BerglundeLindvall (1995) destacam algumas medidas que podem ser adotadas, por exemplo, o planejamento do uso dosolo,autilizaodebarreirasacsticasaolongodeestradas,oisolamentodasreas residenciais,almdeummelhorgerenciamentodotrfego,queemespecial,temsidouma alternativaparaareduodapoluiosonoranasgrandescidades,atravsdaimplantaode tcnicas e medidas moderadoras de trfego, conhecidas como traffic calming (NAGEM, 2004).Captulo 2. Rudo Ambiental 15DeacordocomBarbosa(1998),aaplicaodessasltimasmedidas,normalmente, baseadasnasexperinciasestrangeiras,visaprevenodeacidentesnotrnsitoereduodo rudodetrfego,realizando-se,porexemplo,modificaes no volume e composio do trfego, nasvelocidadesdosveculos,nageometriadasvias,comotambm,noestilodedirigir.Logo, essas aes contribuem tanto segurana no trnsito quanto ao controle da poluio sonora e do ar. Noentanto,namaioriadoscasos,existeanecessidadedecombinaralgunsdesses mecanismosdecontrole,atuando-senafonte,nocaminhodetransmissoounoreceptor,para obter redues no incmodo causado pelo rudo do trfego. 2.5 Propagao Sonora ao Ar Livre Aenergiageradapelasfontessonorassofrevariaes,sendoatenuadadurantesua propagao ao ar livre devido a alguns fatores, tais como: distncia percorrida, obstculos (muros ou edifcios), tipo de solo, vegetao, absoro atmosfrica, efeitos da temperatura, do vento, da umidadeeprecipitaes.Paraexplicardequemaneiraocorremestasalteraesnecessrio considerar como o rudo emitido pela fonte, como se propaga pelo ar e ainda como chega at o receptor (Figura 2.4) (BREL & KJR, 2000; GERGES, 2000). Figura 2.4 Representao de alguns dos principais mecanismos de propagao sonora. Fonte: Adaptado de Beranek e Vr (1992).Espalhamento sonoro Captulo 2. Rudo Ambiental 16Aseguirserocomentadososprincipaismecanismosqueinfluenciamnapropagao sonoraaoarlivreealgumaspropriedadesconcernentespropagaodasondassonorasao encontrarem um determinado obstculo, os quais foram apresentados na Figura 2.4. 2.5.1 Absoro Sonora Quandoumaondasonoraincidesobreumasuperfcieslida,partedaenergiasonora absorvidadevidoaoatritoeviscosidadedoar,transformando-seemcalor.Aabsorosonora definida como a parcela da energia absorvida pelo material em funo da energia total incidente, sendoexpressaporumnmeroentre0e1,queocoeficientedeabsorosonoradeum determinadomaterial.Ovalorzerosignificaaausnciadeabsoro(oureflexototalda energia), e o valor 1 corresponde absoro total da energia. Ocoeficientedeabsorosonoradepende,essencialmente,danaturezadomaterial, variandoemfunodafreqncia.Materiaiscommaiorescoeficientesdeabsorosode estruturaporosacomotecidos,feltros,plsticosporosos,madeiraaglomerada,comumente, encontradosemambientesinternossedificaes.Nosambientesurbanosexisteumamaior predominnciademateriaiscombaixoscoeficientesdeabsorosonora,ouseja,materiais reflexivos, tais como: concreto, vidros, revestimentos cermicos (pastilhas), mrmores e granitos, espelhos dgua. 2.5.2 Reflexo Sonora Quando uma onda sonora encontra uma superfcie, parte de sua energia acstica se reflete, parte transmitida atravs dela e parte absorvida pela superfcie. Se a absoro e a transmisso so baixas, a maior parcela da energia sonora refletida.O nvel de presso sonora nas proximidades de uma superfcie resultado da emisso direta da fonte e das parcelas de som provenientes de uma ou mais reflexes. Portanto, as medies de nveisdepressosonoranodevemserrealizadasemlocaisprximosssuperfciesrefletoras, devido ao acrscimo na energia acstica nessas regies provocado pelo fenmeno da reflexo. Captulo 2. Rudo Ambiental 172.5.3 Difrao Sonora Adifraoocorrequandoaondasonoraencontraabordadeumaparedeou fendas com dimenses menores do que seu comprimento de onda, possibilitando que o som, ao contrrio da luz,contorneobstculoseatravessecaminhos,relativamente,tortuosos.Salienta-sequenas baixas freqncias ocorre uma maior difrao do que nas altas freqncias.De acordo com Nepomuceno (1968), quando o obstculo no muito grande em relao aocomprimentodeonda,tem-seofenmenodeespalhamento.Jnocasodoobjetopossuir dimensesbemmaiores,ocorreaformaodesombraacstica.NaFigura2.5soapresentadas diferentes situaes, que exemplificam o efeito da difrao sonora. (a) (b) (c) Figura 2.5 Efeito da difrao sonora devido : (a) borda de uma parede, (b) fenda na parede com dimenses menores do que o comprimento de onda e (c) fenda na parede com dimenses comparveis ao comprimento de onda. Fonte: Adaptado de Hassal e Zaveri (1979).Captulo 2. Rudo Ambiental 18Na Figura 2.5a, o ponto P (borda da parede) se comporta como uma pequena fonte sonora, irradiando ondas sonoras na regio de sombra acstica a partir dele. Nas Figuras 2.5b e 2.5c esto representadas situaes em que o som atravessa fendas com dimenses menores ou comparveis aoseucomprimentodeonda,respectivamente.Noprimeirocaso,afendafuncionacomouma pequenafontesonora,irradiandoondasapartirdela.Nosegundocaso,afendairradiaondas sonoras com comportamento distinto, formando uma pequena sombra acstica por trs da parede. 2.5.4 Efeito da Distncia No que se refere ao efeito da distncia percorrida pelo som, foi dito anteriormente, que em campo livre, sem a influncia do vento e do solo, o rudo emitido pelas fontes lineares e pontuais sofreatenuaesde3dBe6dB,respectivamente,medidaqueadistnciafontereceptor duplicada.Daaimportnciadebuscarumamximadistnciapossvelentreviasdetrfegoe alinhamentos de prdios para garantir menores nveis sonoros nas proximidades ou nos interiores dessas edificaes. Niemeyer e Slama (1998) comentam que, muitas vezes, por causa do tamanho doterreno,docustodosoloouaindadaconsolidaodotecidourbano,autilizaodesses recursos dificultada, adotando-se em alguns casos a implantao de barreiras acsticas. 2.5.5 Barreiras Acsticas Asbarreirasacsticassousadasparaatenuaoderudodotrfegodeveculos, mquinas de construo, geradores ou transformadores. O desempenho de uma barreira varia em funodesuaaltura,deseuposicionamentoentreafontesonoraeoreceptor,almdas freqnciassonorasemquesto;impedindoalivrepropagaodosomereduzindoonvel sonoroquechegaaoreceptor.Aatenuaosonorasedporcontadofenmenodadifrao, formando uma regio de sombra acstica que ser maior para sons de altas freqncias e quanto mais alta for a barreira (Figura 2.6). Captulo 2. Rudo Ambiental 19 Figura 2.6 Barreira acstica. Fonte: GERGES, 2000. Em pases desenvolvidos (por exemplo, na Europa), as barreiras tm sido aplicadas como importantesmedidasdeproteoambientalaolongoderodovias,podendoserconstitudaspor diferentesmateriais,taiscomo,concreto,vegetao,madeira,materiaisplsticosemetlicos (KOTZEN e ENGLISH, 1999; NETO, 2002). De acordo com Niemeyer e Slama (1998), a implantao de prdios s margens de vias de trfego,tambm,podeserutilizadacomobarreirasacsticas,demodoqueoprimeiroprdio sirva de barreira para o segundo e assim, sucessivamente (Figura 2.7). Todavia, deve-se existir a preocupao de que os primeiros prdios possuam atividades menos sensveis ao rudo ou que a fachada voltada para via apresente adequado isolamento acstico. Figura 2.7 Desempenho de edifcios como barreiras acsticas (plano de massas). Fonte: NIEMEYER e SLAMA, 1998.Captulo 2. Rudo Ambiental 20Cabe salientar, ainda, a possibilidade do uso de movimentos de terras (taludes), sejam eles artificiais ou naturais, como barreiras acsticas. 2.5.6 Tipo de Solo Osoloagecomoumplanoreflexivo,contribuindoparaachegadadosomdiretoe refletido at o receptor (Figura 2.8). Figura 2.8 Parcelas de som direto e refletido. Fonte: Adaptado de Kotzen e English (1999). O tipo de cobertura existente interfere na propagao sonora ao ar livre, atenuando mais o som quando o solo for revestido com materiais absorventes, por exemplo, a grama.2.5.7 Efeitos da Vegetao Irvine e Richards (1998) comentam que as rvores e arbustos apresentam pouco efeito na propagaosonoraaoarlivre.Segundoeles,umafaixade30mdevegetaodensarepresenta apenasumaatenuaosonorade3dB(A),ouseja,umareduo,aproximadamente, de 1 dB(A) para cada 10 m de vegetao. Niemeyer(1998)ressaltaqueoplantiodervoressobretaludesde terra, s margens das vias de trfego, contribui na ambincia sonora de um determinado espao urbano devido ao efeito demascaramentoedeaspectospsicolgicos.Noentanto,afunodebarreiraacstica desempenhada apenas pelos taludes que se opem propagao do rudo. 2.5.8 Efeitos da Absoro Atmosfrica Aabsoroatmosfricaapresentacertacomplexidadeedependedealgunsoutros aspectos,como,distnciada fonte, contedo espectral do rudo, temperatura, umidade relativa e Captulo 2. Rudo Ambiental 21pressoatmosfricadoambiente(BREL&KJR,2000).Seusefeitossoconsiderados insignificantescomparadosaosdemaisfatoresambientais,principalmente,emreasurbanas devidopresenadedistncias,relativamente,pequenasnessesespaos(BERANEKeVR, 1992; HARRIS, 1979). 2.5.9 Efeitos do Vento e da Temperatura Os efeitos do vento e temperatura se apresentam de modo semelhante. O vento influencia quandooatritocomasuperfciedosoloreduzsuavelocidade,prximoaonveldaterra, ocasionando distoro da frente de onda. As ondas sonoras que se encontram a favor do vento so refratadas em direo ao solo sem alterar o seu nvel sonoro. Todavia, quando a propagao se d emsentidocontrrioaomovimentodoar,asondasserefratamparacima,gerandosombras acsticas e reduzindo o nvel sonoro (Figura 2.9) (NETO, 2002). Figura 2.9 Variao do caminho das ondas acsticas devido ao efeito do vento. Fonte: GERGES, 2000. Quanto influncia da temperatura, sabe-se que durante o perodo do dia, o ar aquecido prximosuperfciedosolopelaradiaosolar,tornando-semaisfrioemdireoaocu. noite, esta situao invertida. Ocorre a elevao da temperatura com a altitude, provocando um acrscimonasvelocidadesdefrentedeondasemudananadireodasondasascendentes, empurrando-as na direo do solo (Figura 2.10).Captulo 2. Rudo Ambiental 22 Figura 2.10 Variao do caminho das ondas acsticas devido ao efeito de aumento da temperatura com a altura. Fonte: GERGES, 2000. Quandoatemperaturadiminuicomaaltura,tem-seumasituaooposta,ouseja,as frentesdeondadescendentesdivergem,afastando-sedosoloeocorreaformaodassombras acsticas (GERGES, 2000) (Figura 2.11). Figura 2.11 Variao do caminho das ondas acsticas devido ao efeito de diminuio da temperatura com a altura. Fonte: GERGES, 2000. Noprximoitemservistoqueapropagaosonoraaoarlivrenomeiourbanosofre, ainda, influncias diante da morfologia e da disposio dos vrios elementos presentes no tecido urbano,ocorrendoalteraesnosnveiseespectrossonorosdevidoabsoro,reflexo, espalhamento e difrao.Acompreensodosmecanismosdepropagaodosomaoarlivreconstitui-seem elementofundamental no entendimento de ambientes sonoros urbanos e, portanto, no auxlio ao controle do rudo nas cidades (NIEMEYER e SLAMA, 1998). 2.6 Influncia da Forma Urbana em Ambiente Sonoro Segundo Lamas (2000), a forma urbana consiste na maneira como se organizam as partes fsicas ou elementos morfolgicos os quais constituem e definem o espao urbano. Captulo 2. Rudo Ambiental 23Algunsestudos(NIEMEYER,1998;NIEMEYEReSLAMA,1998;NIEMEYERe SANTOS,2001)apontamqueaformaurbanainfluencianapropagaosonoraaoarlivreeno ambientesonorourbano,atravsdesuascaractersticasfsicasesuasinter-relaes,como, densidadeconstrutiva,perfisderuas,reasverdes,disposioeformadasedificaes, contribuindo para a qualidade acstica das cidades.A partir, principalmente, dessas ltimas referncias, sero abordados conceitos voltados acsticaeaoselementosmorfolgicosdoespaourbano,contribuindoparaummelhor entendimento da influncia da forma urbana na propagao sonora.2.6.1 Espaos Acsticos: Aberto e Fechado Nosambientesurbanosencontram-sepresentesdoistiposdeespaosacsticos:os abertos,quesecaracterizampelaexistnciadeumcamposonorodiretooucampolivre,eos fechados, nos quais se estabelece um campo sonoro, parcialmente, difuso. Noprimeirocaso,aatenuaodosomvariaemfunodoafastamentoentrefonte receptor, e os nveis sonoros se apresentam menores medida que se aumenta a distncia. Nesses espaos o som se dispersa na atmosfera sem retornar (Figura 2.12a). No segundo caso, as ondas sofremmltiplasreflexeseoseunvelsonorodecai,lentamente,sendoquaseomesmoem vrias posies (Figura 2.12b). Figura 2.12 Espaos acsticos: (a) aberto e (b) fechado. Fonte: Adaptado de Niemeyer e Santos (2001). Captulo 2. Rudo Ambiental 24BeranekeVr(1992)destacamquenosespaosacsticosfechados(canyonsurbanos) ocorreofenmenodareverberao6,devidosmltiplasreflexesdasondassonorasnas fachadas paralelas dos edifcios, amplificando, por exemplo, os sons provenientes do trfego. Por contadisso,paraamesmafonteedistncia,osnveissonorosnessesespaosseapresentam maiores do que no espao acstico aberto. 2.6.2 Elementos Morfolgicos: Via, Rua, Quadra (ou Quarteiro) Via Niemeyer e Slama (1998) a entendem como sendo a pista para a circulao dos veculos, isto,afontesonora,propriamentedita.Difereentresiemfunodesualargura,dotipoe composio do trfego existente (Figura 2.13a). Rua Consistenosomentenaviadecirculao,mastambm,noseuentornoimediato, englobando o espao entre a calada e alinhamento das fachadas. O rudo emitido nesses espaos influenciadopelotipodepavimentaonasviasecaladas;pelorevestimento,alinhamentoe movimentao das fachadas (Figura 2.13b). NiemeyereSlama(1998)destacam,tambm,queorudodentrodasedificaesse diferenciadaquelepercebidonasruasporcontadasalteraesocorridasnoseunvel e espectro sonoro ao transpor as fachadas dessas edificaes. Figura 2.13 Representao: (a) da via e (b) da rua. Fonte: Adaptado de Niemeyer e Santos (2001). 6 Fenmeno representado pela permanncia do som por um determinado intervalo de tempo aps a fonte sonora ser extinta. Captulo 2. Rudo Ambiental 25Dependendodoseuperfil,aruapodeapresentarduasconfiguraesbsicas:(i)ruaem U,caracterizando-seporpossuiredifciosaltosemambososlados,campoacsticosemi-reverberante e relao H/L >0,2 (Figura 2.14a); (ii) rua em L, quando as edificaes funcionam como barreiras apenas de um lado da rua ou apresenta a relao H/L