GRITOS DO AFETO - EMBANDO -...

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GRITOS DO AFETO - EMBANDO - 2018 Quais são os gritos do afeto? Loucura, dor, brutalidade, ganância, embrutecimento, violência, separação.... Pessoas na rua pedintes e carentes de tudo, pessoas em suas grandes casas, solitárias, sofrendo de solidão e falta de conexão... Sintomas. Os ditos loucos evidenciam a falha do sistema... Artistas emudecidos fazem propagandas... As guerras mostram que a velha fórmula apodreceu... O corpo adoece, a alma apodrece, corações petrificados... É hora de gritar! O momento é de afetar e deixar sair gritos de muitas gerações! Afinal, de quantas memórias é feito um corpo? Tantas histórias, tantas dores, alegrias e amores... Como disse Galeano, não somos feitos de átomos, somos feitos de história. Somos feitos de afeto. O humano só se reconhece e sobrevive na relação. Estamos sobrevivendo? Estamos sobrevivendo aos gritos emudecidos escancarados nas esquinas, nos escombros, nos buracos? Gritos para quem quiser escutar. Quem quer ver o óbvio tão invisível na rotina? Quem encara a dificuldade de ser quem se é na dureza e caos da cidade, no mar de frieza do cotidiano? A urgência da de se ouvir, de nos ouvirmos. De resgatar os laços, refazer o nós. De deixar ecoar dentro os gritos do afeto nas ruas. Os gritos urgem, a magia emerge no peito, na lua, nos sábios marginalizados, nos encontros. Sinais. Sinais abrem e fecham. E a máquina continua funcionando, automática. Quebrada. Luzes se apagam, luzes acendem. Brilhos ofuscantes, brilhos oscilantes. Chega o momento, o chamado da força que acontece quando estamos juntos! Chamado que aponta para a escuta, a visão, pro canto dos gritos de sermos quem somos. A voz de dentro aponta caminhos, a força ancestral traz chão, o ritual transforma. O coletivo é círculo regulador que apoia e ancora. Afeto como sujeito, agente transformador que grita para ser ouvido, para furar a barreira do embotamento que nos anestesia no cinza das grandes metrópoles. Gritos do afeto é o desvendar da essência do artista alquimista que mergulha na escuta de si e do outro e se reinventa diante do caos da vida contemporânea.

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GRITOS DO AFETO - EMBANDO - 2018

Quais são os gritos do afeto? Loucura, dor, brutalidade, ganância, embrutecimento, violência, separação.... Pessoas na rua pedintes e carentes de tudo, pessoas em suas grandes casas, solitárias, sofrendo de solidão e falta de conexão... Sintomas. Os ditos loucos evidenciam a falha do sistema... Artistas emudecidos fazem propagandas... As guerras mostram que a velha fórmula apodreceu... O corpo adoece, a alma apodrece, corações petrificados... É hora de gritar! O momento é de afetar e deixar sair gritos de muitas gerações! Afinal, de quantas memórias é feito um corpo? Tantas histórias, tantas dores, alegrias e amores... Como disse Galeano, não somos feitos de átomos, somos feitos de história. Somos feitos de afeto. O humano só se reconhece e sobrevive na relação. Estamos sobrevivendo? Estamos sobrevivendo aos gritos emudecidos escancarados nas esquinas, nos escombros, nos buracos? Gritos para quem quiser escutar. Quem quer ver o óbvio tão invisível na rotina? Quem encara a dificuldade de ser quem se é na dureza e caos da cidade, no mar de frieza do cotidiano? A urgência da de se ouvir, de nos ouvirmos. De resgatar os laços, refazer o nós. De deixar ecoar dentro os gritos do afeto nas ruas. Os gritos urgem, a magia emerge no peito, na lua, nos sábios marginalizados, nos encontros. Sinais. Sinais abrem e fecham. E a máquina continua funcionando, automática. Quebrada. Luzes se apagam, luzes acendem. Brilhos ofuscantes, brilhos oscilantes. Chega o momento, o chamado da força que acontece quando estamos juntos! Chamado que aponta para a escuta, a visão, pro canto dos gritos de sermos quem somos. A voz de dentro aponta caminhos, a força ancestral traz chão, o ritual transforma. O coletivo é círculo regulador que apoia e ancora. Afeto como sujeito, agente transformador que grita para ser ouvido, para furar a barreira do embotamento que nos anestesia no cinza das grandes metrópoles. Gritos do afeto é o desvendar da essência do artista alquimista que mergulha na escuta de si e do outro e se reinventa diante do caos da vida contemporânea.

ROTEIRO de GRITOS DO AFETO

Cena 1 – EM CORPO Capa do livro Música oráculo - trazemos a energia e emoção das nuances da vida, somos mensageiros dessas nuances, mostrando o belo, o pânico, a magia, a tormenta... Música de abertura que traz as energias que vamos transitar durante o show e que traz a força do coletivo e de estar EmBando como uma marca do grupo. Energia e intenção: Visceral. Se apropriar do texto, falar as palavras com significado. Força, certeza, confiança, magia e o lúdico. Expressar as emoções e nuances de acordo com elas.

Música EM CORPO

Lucas Notaro

Em nuvens, em ordem, em par...

Em ar, em som, em cor, em chão

Em dias, em eras, em fontes, em grão.

Em lar, em mar, em vez, em quando,

Em sol, em cá, em si, em bando.

Em nuvens, em ordem, em par, em pânico!

Em rotas, em saltos, em uivos, em prantos

Em toca, em puro, em voltas, em tantos

Em parte. Em carne.

Em sorte. Em corte.

Em último, em outra, em círculos, em fases.

Em vão.

Cena 2- Baile de máscaras Cenário de máscaras, futilidades, superficialidade,

Música: Baile de Máscaras Lu Lodi Começou-se o baile de máscaras cada um tem a sua aqui! Bem vindos ao baile de máscaras, vamos todos dançar e sorrir! Então juntem-se ao baile de máscaras vós também podeis se divertir! Bem-vindos ao baile de máscaras, nós queremos ver todos sorrir! Vamos todos cantando com os pares bailando a diversão reina aqui De máscaras vamos, sem saber quem somos e a noite nós vamos sair Então juntem-se ao baile de máscaras vós também podeis se divertir Bem vindos ao baile de máscaras nós queremos ver todos sorrir Vamos todos cantando com os pares bailando, a diversão reina aqui De máscaras vamos sem saber quem somos e a noite nós vamos sair Começou-se o baile de máscaras, cada um tem a sua aqui Começou-se o baile de máscaras, nós queremos dançar e sorrir Vamos todos cantando com os pares bailando a diversão reina aqui De máscaras vamos, sem saber quem somos e a noite nós vamos sair daqui De máscaras vamos, sem saber quem somos e a noite nós vamos sair.

Cena 3 - CIRCO FANTASMA Crítica à idealização do que é ser artista, do glamour, da superficialidade, Intenção e atmosfera: Sarcasmo, sedução, deboche, lúdico, glamour, deslumbre.

Música CIRCO FANTASMA

Christian Bizzotto

“Respeitável público!!!

Esse é o GRITOS DO AFETO,

para o deleite dos vossos sentidos e

entorpecimento das multidões!”

Na madrugada o céu confirmou

Circo fantasma ao léu se armou

prum mambembe show

e o palhaço morreu

mas o circo é fantasma!

O circo sobrevoa a cidade

como, se ele nunca existiu?

Uma fantasia itinerante

que ninguém enxerga, nunca viu!

O palhaço já saiu de cena

e o equilibrista já caiu

numa corda bamba a vida cena

o sonho em pedaços se partiu

Na multidão o artista ficou

e quem se perdeu

nunca mais se encontrou

num mambembe show

Invisível fiquei...

mas o circo é fantasma!

Cena 4 - ALGUM NINGUÉM A loucura como sanidade e caminho. Sonho como fuga e respiro. Intenção e atmosfera: Loucura-sanidade, sonho, busca, devaneios.

Texto ALGUÉM Nena Telles

Ouço passos, ruídos e risos, vejo pés caminhando,

são muitos num movimento contínuo e sem fim.

Bocas abertas num grito calado, mãos prisioneiras de um gesto contido. Olho à minha volta são só paredes, busco palavras só encontro silêncio.

Onde estou? Que mundo é esse?

Fecho os olhos e mergulho num sonho,

não importa qual seja, mas sonho.

Me dizem louca.

Cena 5 - LÚDICO VAPOR Sonhos, projeções, loucura… Movimento de tentar se encontrar no outro, no sonho, em si mesmo. Múltiplas facetas, pluralidade individual, ciclos, nuances, estados da mente e do espírito. Intenção e energia: Confusão, agitação, prisão mental, busca, devaneios, alucinação. Priorização e apreensão do texto, palavra como energia e significado que jogamos para o público. Interpretação, expressão e apropriação de texto.

Música: LÚDICO VAPOR

Lucas Notaro

Vi alguém passando aqui igual a mim nem sei se era eu, talvez, não sei, mas pode

ser, porque ouvi dizer que nós vivemos num universo

misterioso e paralelo e sim podemos nos ver do outro lado

Vi alguém passando aqui tão igual a mim nem sei se era eu.

É não sei mas sim pode ser porque não num outro lado haver

um sujeito igual a mim a fazer aquilo que eu nunca fiz

Um esboço ou obra prima querendo aquilo que eu nunca quis.

Se isso tudo é possível eu vou visitar eu mesmo

pra ver se eu sou tudo que eu mais queria ser

e dizer a mim mesmo que bom que tá satisfeito

porque desse lado tá muito complicado ser

Esse universo imenso me parece tão pequeno

quando eu paro bem e penso o que posso imaginar

Sei que ele é tão pequeno diante do pluriverso

ou até desse multiverso que aumenta sem parar

Se isso tudo é possível eu vou visitar eu mesmo

pra ver se eu sou tudo que eu mais queria ser

E dizer a mim mesmo que bom que tá satisfeito

Porque desse lado tá muito complicado ser

Movimento caos imenso

foco saga plano órbita limite

Gravidade pensamento

fractal elementar

movimento caos imenso lúdico vapor

elemento vulnerável combustão

Cena 6 - A LOUCURA É DO LADO DE LÁ Instrumental que anuncia a perda do sentido e o mergulho no cemitério de memórias. Atmosfera densa e fria, revelando o cenário do lamento da solidão. Cena 7 - TORTUOSAMENTE Tristeza e dor da morte em vida, morte de si mesmo, de algo que representa pulsão de vida, dos sonhos, do amor, da felicidade, deixando vazio e fragilidade. Intenção e atmosfera: densidade, vazio, lamento, etéreo

Música: TORTUOSAMENTE Christian Bizzotto Se fossem todos os caminhos tortos Se fossem todas essas pistas falsas Se fossem todas as palavras ditas Se fossem todas as respostas certas E se não fossem as janelas largas e se não fosse esse remédio amargo talvez tivesse a sua presença agora a meia noite à luz da lua Tanto que já chorei Tudo que era chorar Tua ausência vai sempre voltar Tudo que já chorei Tanto que era capaz Tua ausência vem e me desfaz Não, meu amor, fica, por favor Ela adormeceu Já faz muito tempo que ela partiu, não vá você desejar a sorte de quem se foi porque não, ela adormeceu.

Cena 8 - TREM DA VENDA Propaganda, anúncio e denúncia do maquinário de vendas e vendas que agonizam a humanidade de ser. Atmosfera e intenção:energia rascante - ironia, força, tramoia, raiva contida

Música TREM DA VENDA Lucas Notaro Nano Max Carolina Sanches Vendo, vendo, vindo, vendo, vendo, Vendo vendo, vindo, vendo, vendo, Vendo vendo, vindo, vendo, vendo, Vendo, vendo, vindo, vendo, vendo, Vem vindo o trem da venda… Vendados, vendidos, vem ver: verdade massiva Vendas, restos, vidas, fatos, atos, ritos, Vetados, vencidos, vem ver: cadeira cativa Vendas, restos, vidas, fatos, atos, ritos, Tolos, ralos, nulos, vários, fartos, mitos, Um fato exclusivo vetado escondido, vem ver! Vendo, vendo, vindo, vendo, vendo, Vendo vendo, vindo, vendo, vendo, Vendo vendo, vindo, vendo, vendo, Vem vindo o trem da venda… Vender, rendar, render, vendar! Enquanto o sangue derramado esfria, humano versus agonia Um plano de esmagar o engano de querer Ser livre pra ganhar só o que merecer Vem vindo o trem da venda… Vender, rendar, render, vendar!

Cena 9 - ENTORPECIMENTO Adoração ao poder, ao entorpecimento como uma forma de viver e se sentir superior. Intenção e atmosfera: Desejo, Luxúria, poder, ganância, torpor, vícios. Todos representam o Poder e seus adoradores.

Música ENTORPECIMENTO

Christian Bizzotto,Guilherme Ashton, Nina Rodrigues e Pedro Fernando

PODER:

TODA NOITE EU DEIXO OS HOMENS NUMA ESPÉCIE DE DELÍRIO

INTOXICO SUAS MENTES COM O PERFUME DO MEU OLHAR

LANCINANTE EU DANÇO LOUCA E LANÇO O MEU FEITIÇO NOIR

HIPNOTIZO ESSES HOMENS A FAZEREM O QUE EU MANDAR

OUÇO UM CORTEJO, NÃO SE ATREVA. NÃO SOU UMA QUALQUER

EU CONTROLO O DESEJO, SOBREVIVA SE PUDER

BEM EU MANDO HÁ MUITO TEMPO, MEU NEGÓCIO É MUITO ANTIGO

UM SUCESSO DESDE UM TEMPO QUE NINGUÉM LEMBRA MAIS

E OS TOLOS QUE EM VÃO TENTARAM ME ALCANÇAR CAÍRAM

E VOCÊ SOZINHO NÃO CONSEGUE ME ENFRENTAR

NUNCA SE ESQUEÇA, EU TE VEJO ESTEJA ONDE ESTIVER

EU CONTROLO O DESEJO SOBREVIVA SE PUDER

CORO:

Eu quero entrar na roda do intenso prazer, eu quero me prender no trilho insano do poder

Eu quero me perder num mundo fora do tom, e lambuzar meu tédio no calor do teu batom

HOMEM:

QUERO DOMINAR O MUNDO / TER DE TUDO E UM POUCO MAIS

QUERO ME SENTIR MAIS VIVO / DE LOUCURAS SOU CAPAZ

PODE CRER CONSIGO TUDO / PODER INCONDICIONAL

PODE SER QUE EU SEJA LOUCO / POR AMAR O QUE ME FAZ MAL

CORO:

Eu quero te pegar à força e sussurrar no teu ouvido,

e então dizer coisas tão sujas só pra te ver gozar

E desse jeito esqueço essa minha vida de labuta e só assim serei feliz tentando me enganar.

PODER:

BEM, EU MANDO HÁ MUITO TEMPO TODOS QUEREM TER PODER

MAS EU COBRO MUITO ALTO

VOCÊ PODE ENLOUQUECER

Cena 10 - TEM GENTE, TEM FOME Um contraste e consequência do Entorpecimento. A fome que grita da gente invisível que sofre as consequências de um sistema de dominação mostrado em Trem da Venda e Entorpecimento. Momento de gritar a dor e a miséria. Evidenciar a falta e a necessidade de afeto. Intenção e atmosfera: Grito do afeto no cenário de miséria, solidão, dor, desespero e força para gritar e revelar o que muitos fingem não ver e não sentir. Prioridade em falar o texto de acordo com seu significado. Texto como substância do intérprete.

Música TEM GENTE, TEM FOME

Christian Bizzotto, Ilona Wirth, Pedro Fernando

Dançam, com pouca roupa ou quase nada

e já sabem que não podem mais

esconder ( sua imensa ) paixão

de viver ( e de ) sonhar { gritar },

pra existir e lutar

Só de medo não se vive, ( vive não! )

Temos fome de sonhar!

Tem gente, tem fome, tem ódio, tem

Vem gente, vem fome, vem morte, vem

Cabeça na lança na ponta da língua

cabeça não pensa na ponta da lança!

Sem trono, sem dono, sem fé também

( Tem gente, tem fome, tem ódio tem! )

Um povo, sem rumo, sem vida, sem

( Vem gente, vem fome, vem morte )

Procura no sonho encontrar seu caminho

achar um sentido perdido no mundo!

Cena 11 - CAOS-FUSÃO A sábia ambulante da cidade, errante, acerta em devaneios. Miséria, solidão, memórias que se confundem com o agora, perguntas sem resposta... Em lampejos, ela enxerga além de suas dores no clarão da noite de lua cheia… Pluralidade e não dualidade. Nada é uma coisa só. Os loucos e marginalizados enquanto sábios sensíveis desajustados e excluídos da engrenagem. Intenção e atmosfera: Loucura e lucidez como facetas que dialogam entre si. Drama, solidão, dor, consciência, magia.

Texto CAOS FUSÃO

Bia Pagliaro e Nina Terra

Os elefantes podem todos morrer.

Quick! quick !

Quando me levaram lá pra cima deu pra ver,

tem algumas luzes acendendo, tem outras não, outras escuras,

às vezes tem aquelas sozinhas ali no meio…

mas você consegue ver aquela que acende e apaga,

acende e apaga, acende e apaga.

É fácil saber quem tá aceso e quem tá apagado.

Por que os dias escuros marcam tanto?

Ele veio com a faca, eu tava no meu canto, eu lutei, lutei, mas ele me matou.

Aí eu falei pra ele assim: - Péraí! Eu moro aqui nessa barraca,

você entrou mas não é daqui. Pode ir saindo!

Vamos... Vamos a mi casa?

Mio marito aveva un Castello e Io era la principessa del castello.

O quê? Ah, não sei, 18?

E mi mama? Donde está mi mama?

Não é memória, é loucura!

Ei, me dá um trocado pra eu comprar uma quentinha?

Ei, me dá um trocado pra… Ei, me dá um trocado que..

me dá um trocado que eu tô com fome, bando de muquirana ?!?

E mi mama? Donde está mi mama?

Tem cicatriz que dói só de olhar.

Será que vou conseguir dançar um dia?

Cena 12 - SELVA DE SOM Na selva de som, os corações vazios não ouvem os gritos das dores da alma. Entre o concreto e o cinza, corpos na urgência sem rumo. Mas há algo além... Há magia no caos... A vida dá sinais de pulso. Intenção e atmosfera: Drama, sensibilidade, emoção, magia, mistério.

Conexão com letra, corpo como veículo sonoro.

Música SELVA DE SOM

Nina Rodrigues,

Christian Bizzotto, Lucas Notaro

Na selva de som

coração que não sente

o ar no concreto de gente

A curva do céu

me chamou pra dançar

e sentir o que toca o peito

Num sopro da noite

um brilho medonho

pedaços de sonhos

tão seus e meus

As gotas de céu

que escorrem na pele

talvez nos revelem

segredos de d’eus

Cena 13 - ASSOVIA O VENTO… e OUVE A dor gritando, pedindo para ser ouvida. Na escuta da dor, a morte se torna um único caminho... Para ir além. Intenção e atmosfera: Angústia, busca, fuga e encontro, escuta, dor. Gestos, movimentos, repetições. Prisão em si mesmo. Corpos que cantam a melodia, a tormenta e as duras e latentes memórias de solidão e falta de afeto.

Texto - ASSOVIA O VENTO

Mosaico de Herika Reis, com Nietzche, Klaus Vianna e Eduardo Galeano

Será que tem valor as palavras que

são ouvidas e que depois são esquecidas?

Será que as palavras só ficam para quem ouviu?

Só amar, basta?

Meu coração é uma máquina de escrever ilusões.

Me disseram que é preciso de caos

para nascer uma estrela dançante.

Mas primeiro é preciso saber que existe um corpo.

Assovia o vento dentro de mim. Estou despida.

Dona de nada, dona de ninguém,

nem mesmo dona das minhas próprias certezas.

Sou minha cara contra o vento, a contravento.

E sou o vento que bate em minha cara.

Música - OUVE

Gael Wirth

Ouve, querida ouve...

O lamento de um coração

Na frieza dos anos que vão

Ouve, querida ouve...

A beleza que o canto revela

Na certeza de uma primavera

Cena 14 - CONSUMINDO REVOLUÇÕES Transformando a dor em revolta e a revolta em mudança. Renascimento. Rompendo correntes, soltando as amarras, tomando as rédeas. Romper barreiras, quebrar padrões. Se rebelar, agir diante da angústia. Deixar de ser massa e ser coletivo Intenção: Apoderamento, energia, esperança.

Música CONSUMINDO REVOLUÇÕES

Christian Bizzotto

NÃO VOU CONSUMIR OS TEUS DISCURSOS

NÃO VOU MAIS SEGUIR OS TEUS COSTUMES

VOU REVOLUCIONAR O MEU PERCURSO

NÃO VÃO ME PRENDER CALAR OU ADESTRAR

EU VOU LUTAR!

NÃO VOU VOTAR NO PARTIDO QUE VENCE

NEM NA MOEDA DO SEU CONCORRENTE

VAMOS PRA FRENTE, MARCHEM DEMENTES!

NÃO VOU DEIXAR QUE ME ENGANEM, TOLOS...

VAMOS À REVOLUÇÃO

DA CADEIRA DO SEU ESCRITÓRIO

ABRA SUA MÃO DA CARREIRA NOTÓRIA

VAMOS QUEIME O DINHEIRO

RASGUE AS TUAS VESTES

PARE E SEJA O TEU MESTRE, VIVA!

Não vou consumir os teus recursos!

DANÇAM, COM POUCA ROUPA OU QUASE NADA...

Não vou mais seguir o teu percurso!

Não correspondo ao que você quer de mim!

Cena 15 - PÓ DE GENTE Anúncio de um novo mundo. De afetar e ser afetado, de encontros, potência, possibilidades. Da força do que somos quando juntos. Acordar os sentidos em um salto quântico de encontro com a essência. Resgate da força humana, da força ancestral, a energia feminina que aponta caminhos. A dança, a terra, os rituais, são fonte de cura e transformação. Intenção e atmosfera: Entrega, abertura, energia selvagem, empoderada. Toques, sensibilidade, fogo. Energia rascante de quem assume o risco de ser quem se é. Energia feminina.

Música:

PÓ DE GENTE

Christian Bizzotto

O que a gente pode ser

Pode ser o que a gente

Pé de serra pode ser

Pó de gente

Mais um encontro qualquer

Consoantes que se tocam

no ritmo do atmo de um verso

Mas do outro lado do céu

A beleza amazônica se revela uma

crônica sincrônica do meu universo

EU SOU A LIBERDADE PRESA NO OLHAR

PÓ DE INFINITO QUE AVANÇA DEVAGAR

EU SOU A GOTA D’ÁGUA

ESPERANDO TRANSBORDAR

SOU A MÃO QUE BEBE O COPO

E MERGULHA NESSE MAR

Eu vou dançar no barro

da terra da Festa de Reis

Vou dividir o meu maracatu

Pra girar e fazer rir e assim durar

Porque sei que todo ritual de dança

É uma maneira de renascer

Cena 16 - RODA Festa em roda, ritual, alquimia sendo feita, honram-se os ancestrais, as festas, a terra, as crianças, os encontros, a magia, a vida… Celebração! Intenção e atmosfera: Corpo enérgico, potente, vivo. Enraizado e energizado. Magia, festa, contagiar a plateia com as descobertas e a escuta dos gritos do afeto. Elementos: terra e água.

Música RODA

Christian Bizzotto

Sem você um dia a criança dança,

sem saber que dançar é lançar o ser,

à mercê da flecha que alcança o ser

Sem você!

DEIXA EU TE VER MENINA, DEIXA EU TE VER RODAR

SARACOTEIA NA MINHA RETINA, OFERTA PR’ ODOIÁ

DEIXA EU TE VER MENINA, DEIXA EU TE VER RODAR

QUEBRA TEU CORPO NA TUA CAMBINDA,

SANGRA PRA YEMANJÁ.

SENTE ESSA DANÇA

QUE VIBRA NO CORPO

SANHA DE EMARANHAR

RODA ESSA DANÇA MARA

QUE VIRA O BAQUE TORNADO IJEXÁ

ROÇA ESSA DANÇA NO CORPO

ROÇA ATÉ SE ASSANHAR

Roda no eixo menin’Odoiá, Yemanjá!

Roda no eixo menin’Odoiá!!!

Cena 17 - EM CORPO (reprise) - Final Na certeza do cumprimento da missão, da superação, na certeza do amor, dos afetos e da união. Na esperança de que nada será em vão e de que lutar para ser quem se é e viver os sonhos é possível, cantamos e celebramos. Intenção e atmosfera: Alegria, exuberância, festejo, certeza.

Excerto e final da Música EM CORPO Lucas Notaro

Em último, em outra, em círculos, em fases… em Vão ?

Lalalá Lalá Lá Lá... Lalalá Lalá Lá Lá Lalalá Lalá Lá Lá !!!

CANTAMOS, CELEBRAMOS E AGRADECEMOS !!!

° ° ° ° ° ° ° °