Greve da PM pode se repetir próximo à Copa, diz socióloga

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08/02/12 BBC Brasil - Notícias - Greve da PM pode se repetir e comprometer Copa, diz socióloga 1/3 www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/02/120208_bahia_entrevista_mm_is.shtml Greve da PM na Bahia chegou ao nono dia sem acordo Ainda que governo e policiais cheguem a um acordo para por fim à greve da Polícia Militar na Bahia, persistirá o risco de que manifestações voltem a acontecer no país e afetem a realização da Copa do Mundo de 2014. A afirmação é da socióloga da Universidade Federal da Bahia Ivone Freire Costa, fundadora da Renaesp (Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública), órgão que reúne 72 cursos de especialização em Segurança Pública e é ligado ao Ministério da Justiça. A greve chegou ao nono dia sem acordo. Um grupo de policiais baianos ocupa desde a semana passada o prédio da Assembleia Legislativa da Bahia, que está cercado por tropas federais da Força Nacional. Neste período, o número de homicídios no Estado já atingiu 120, acima do registrado no mesmo período no mês de janeiro e mais da metade dos 171 registrados em todo o mês de fevereiro de 2011. Crítica das condições de trabalho oferecidas pelos governos estaduais à Polícia Militar, Costa coordena o primeiro mestrado do Brasil voltado à qualificação de policiais. Ela observa que eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas tendem a ser vistos como "ambientes de barganha" pelos movimentos sindicais e pede que o governo invista na cultura da negociação. Leia os principais trechos da entrevista concedida à BBC Brasil. BBC Brasil – O governo da Bahia tem origem no movimento sindical, portanto é experiente em movimentos de greve. O governo falha nas negociações ao permitir que uma greve como essa exploda? Costa - Falha. E sou enfática em dizer que há um descompasso entre as políticas de segurança pública formuladas, no âmbito federal, e a implementação dessas políticas - que significa injetar recursos, implementar o financiamento da requalificação das polícias. Isso tem andado muito lento, muito devagar. BBC Brasil – O que faltou na Bahia? Costa - É preciso incentivar o diálogo entre a sociedade, o governo e a Polícia. É preciso um esforço de requalificação e valorização dos profissionais da segurança pública e ampliação de investimentos em novos modelos de polícia, como as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio. Na Bahia, essas iniciativas não têm recebido a Acesse a BBC Brasil no Greve da PM pode se repetir e comprometer Copa, diz socióloga Ricardo Sangiovanni De Salvador para a BBC Brasil Atualizado em 8 de fevereiro, 2012 - 08:21 (Brasília) 10:21 GMT Tópicos relacionados Brasil 1 Vídeos Zoo usa rinoceronte de papel em simulação Homem cantor acusad Principais Notícias Indústria do Carnaval calcula per teme falta de 'plano B' 40 min atrás Argentina leva disputa sobre Malv entenda 17:40 Brasília Síria: Bombardeio a Homs é o ma agora, dizem moradores 09:09 Bra Destaques & Análi Suécia recebe artista chinês A essa e outras n Arte em Revis Para 'Financial pode mais ser como no passa Brasil em cim Gato invade ca partida de futeb milhares de fãs 30 mil seguido Especialistas d para melhoria d ciclistas. Perigo nas rua Mais Populares Argentina leva disputa sobre Ma ONU; entenda Brasil não pode ficar em cima d FT Encontrado lago glacial que esta mi de anos sem ... Greve da PM pode se repetir e comprometer Copa, diz soci... Primeira Página América Latina Internacional Economia Saúde Ciência e Tecnologia Cultura Vídeos e Fotos Esp Texto Vídeo Brasil

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Entrevista com a socióloga Ivone Freire Costa, durante a greve da Polícia Militar na Bahia - fevereiro de 2012

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1/3www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/02/120208_bahia_entrevista_mm_is.shtml

Greve da PM na Bahia chegou ao nono dia semacordo

Ainda que governo e policiais cheguema um acordo para por fim à greve daPolícia Militar na Bahia, persistirá orisco de que manifestações voltem aacontecer no país e afetem a realizaçãoda Copa do Mundo de 2014.

A afirmação é da socióloga da UniversidadeFederal da Bahia Ivone Freire Costa, fundadorada Renaesp (Rede Nacional de Altos Estudosem Segurança Pública), órgão que reúne 72cursos de especialização em SegurançaPública e é ligado ao Ministério da Justiça.

A greve chegou ao nono dia sem acordo. Um grupo depoliciais baianos ocupa desde a semana passada o prédioda Assembleia Legislativa da Bahia, que está cercado portropas federais da Força Nacional. Neste período, o númerode homicídios no Estado já atingiu 120, acima do registradono mesmo período no mês de janeiro e mais da metade dos 171registrados em todo o mês de fevereiro de 2011.

Crítica das condições de trabalho oferecidas pelos governos estaduais àPolícia Militar, Costa coordena o primeiro mestrado do Brasil voltado àqualificação de policiais. Ela observa que eventos como Copa do Mundoe Olimpíadas tendem a ser vistos como "ambientes de barganha" pelosmovimentos sindicais e pede que o governo invista na cultura danegociação.

Leia os principais trechos da entrevista concedida à BBC Brasil.

BBC Brasil – O governo da Bahia tem origem no movimento sindical,portanto é experiente em movimentos de greve. O governo falha nasnegociações ao permitir que uma greve como essa exploda?

Costa - Falha. E sou enfática em dizer que há um descompasso entreas políticas de segurança pública formuladas, no âmbito federal, e aimplementação dessas políticas - que significa injetar recursos,implementar o financiamento da requalificação das polícias. Isso temandado muito lento, muito devagar.

BBC Brasil – O que faltou na Bahia?

Costa - É preciso incentivar o diálogo entre a sociedade, o governo e aPolícia. É preciso um esforço de requalificação e valorização dosprofissionais da segurança pública e ampliação de investimentos emnovos modelos de polícia, como as UPPs (Unidades de PolíciaPacificadora) no Rio. Na Bahia, essas iniciativas não têm recebido a

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Greve da PM pode se repetir ecomprometer Copa, diz sociólogaRicardo Sangiovanni

De Salvador para a BBC Brasil

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devida atenção.

BBC Brasil – As cenas de vandalismo vistas durante essa greve têm aver com essa falta de qualificação dos policiais? As manifestações foramradicais demais?

Costa - Não vou dizer que o aumento das estatísticas de violência nesseperíodo seja uma fantasia - muito pelo contrário. Mas o que pode simser uma fantasia é a omissão de estatísticas do dia-a-dia,independentemente da greve. A greve faz com que determinadasinformações, que não podem emergir em situações normais, sejamdivulgadas. 80, 120 homicídios em uma semana? Isso, num períodonormal, representaria uma situação de extrema sensibilidade.

BBC Brasil – Mas e a maneira radical de reivindicar: serve mais paramostrar à sociedade a necessidade de melhorias, ou para acirrar osânimos com o Estado?

Costa - Não sei dizer se a ação dos grevistas foi planejada. A definiçãoda greve, assumida por Marco Prisco (principal liderança dos grevistas,filiado ao PSDB), foi "começar aqui e agora". Ela tem efeitosimprevisíveis. Por isso que se fala tanto em bom senso das liderançassindicais, no rumo de um acordo. Só que o bom senso não é mágico,não é místico: é intuitivo, depende da experiência de ambas as partesem negociar.

BBC Brasil – Mas tanto governo como grevistas se mostramirredutíveis!

Costa - Só que, em negociação, não existe indeterminação. Não existesuporte social para isso, tem um tempo determinado. Porque asociedade exige condições de segurança e tranquilidade. Vai haver umapressão para que a coisa chegue a bom termo.

BBC Brasil – Mas esse "bom termo" não preocupa, já que a pauta denegociações se resume a aumento de salários e anistia aos policiaisamotinados? Que avanço real o êxito dessa negociação representa emtermos de melhoria da Polícia Militar da Bahia?

Costa - É preciso seguir num processo deamadurecimento, para que essa instabilidadeseja um exemplo da necessidade de umadefinição de políticas públicas nacionais,políticas de Estado. Fora da PEC 300 (projetode emenda constitucional que cria um pisonacional para policiais militares), há projetos dereestruturação nacional das polícias, queenxuguem, por exemplo a quantidade de níveishierárquicos, para que a polícia trabalheapenas com três grandes blocos: estratégico,tático e operacional. Mas não adianta enxugaras estruturas no papel sem que isso sejaacompanhado de uma remuneração digna.Isso precisa ser reconhecido o mais rápidopossível pelas políticas públicas. Essemovimento é consequência dessa necessidade.

BBC Brasil – Esse racha entre governo e grevistas pode se repetirfuturamente?

Costa - Pode sim.

BBC Brasil – Inclusive a ponto de criar o mesmo clima de insegurançainstalado na Bahia às vésperas de grandes eventos, como Copa doMundo e Olimpíadas?

Costa - Esses são ambientes de barganha. A responsabilidade dos

Há projetos de reestruturação nacionaldas polícias, para que a polícia trabalheapenas com três grandes blocos:estratégico, tático e operacional. Masnão adianta enxugar as estruturas nopapel sem que isso seja acompanhadode uma remuneração digna."Ivone Freire Costa, Universidade Federal da Bahia

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dirigentes é profunda e eles devem ser atenciosos, porque a deliberaçãoé do Estado. É preciso ter sensibilidade para que isso não se aproximede 2014, que essas questões sejam negociadas. O governo tem que tercapacidade e capilaridade para sustentar a arena de forças políticas,que envolve governo e oposição. A greve sempre tem fundo político:começa pela reivindicação salarial, mas só se mantém quando hádesequilíbrio de forças políticas.

BBC Brasil – Caso não haja avanço nesse sentido, esses grandeseventos podem ficar comprometidos?

Costa - Com certeza absoluta. E esse é um grande risco para o qualtodos temos que estar atentos. O avanço da violência não é gratuito, éfruto de uma série de razões. E a principal é a perda da esperança deviver protegido e reconhecido pelas instituições. Quando a gente perdeas esperanças, a gente entra no vale tudo.

BBC Brasil – A partir da repercussão em Salvador, outras greves dePMs pelo país podem acontecer em outras capitais?

Costa - Há sempre uma expectativa, por parte dos grevistas, deampliação de força, de barganha.

BBC Brasil – Não é um contra-senso permitir que setores como aPolícia, que trabalham armados, possam fazer greve?

Costa - Usou arma, deixa de ser greve: virou motim. Greve não implicaem uso de arma, porque a arma implica uma sitação de poder. Mas,nesse caso, em que, no início, faltou negociação, não acho que devahaver punição a quem liderou e se envolveu nessa greve. Pelo menosem princípio.

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