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GRAU DE INOVAÇÃO SETORIAL - UMA ABORDAGEM A PARTIR DO RADAR DE INOVAÇÃO Marcos Roberto Gois de Oliveira (UFPE) [email protected] Andre Marques Cavalcanti (UFPE) [email protected] Joao Pereira de Brito Filho (UFPE) [email protected] Danilo Bernardo Torres (SEBRAE) [email protected] Suzana Muniz Matos (SEBRAE) [email protected] O presente trabalho objetiva apresentar o grau de inovação setorial (GIS) como uma ferramenta para avaliar o grau de inovação das empresas referenciadas com o seu setor de atuação. Para tal foi proposto um método alternativo ao tradicional de inferência do grau de inovação empresarial. O GIS normaliza o método tradicional com base nas 13 dimensões da inovação levando em consideração aspectos da heterogeneidade setorial. A validade do método proposto é apresentada via aplicação utilizando dados do radar de inovação dos setores de móveis e panificação da Região Metropolitana de Recife em uma amostra de 25 micros e pequenas empresas. Palavras-chaves: Inovação, grau de inovação, radar de inovação XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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GRAU DE INOVAÇÃO SETORIAL - UMA

ABORDAGEM A PARTIR DO RADAR DE

INOVAÇÃO

Marcos Roberto Gois de Oliveira (UFPE)

[email protected]

Andre Marques Cavalcanti (UFPE)

[email protected]

Joao Pereira de Brito Filho (UFPE)

[email protected]

Danilo Bernardo Torres (SEBRAE)

[email protected]

Suzana Muniz Matos (SEBRAE)

[email protected]

O presente trabalho objetiva apresentar o grau de inovação setorial

(GIS) como uma ferramenta para avaliar o grau de inovação das

empresas referenciadas com o seu setor de atuação. Para tal foi

proposto um método alternativo ao tradicional de inferência do grau

de inovação empresarial. O GIS normaliza o método tradicional com

base nas 13 dimensões da inovação levando em consideração aspectos

da heterogeneidade setorial. A validade do método proposto é

apresentada via aplicação utilizando dados do radar de inovação dos

setores de móveis e panificação da Região Metropolitana de Recife em

uma amostra de 25 micros e pequenas empresas.

Palavras-chaves: Inovação, grau de inovação, radar de inovação

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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1. Introdução

Um dos pressupostos básicos da macroeconomia é o equilíbrio entre demanda e oferta

agregada. Esse equilíbrio é obtido por meio de ajustes nas quantidades demandadas, ofertadas

ou ainda por ajustes de preços. Autoridades monetárias de todo mundo quando percebem o

efeito negativo do aumento de preços, tentam restabelecer o equilíbrio pelo estímulo ou

restrição das atividades produtivas.

De acordo com Varian (1992), o aumento da produção é obtido via incremento da

produtividade ou mudança no paradigma produtivo. A escolha da ação depende da posição

relativa da empresa na perspectiva da função de produção. Em outras palavras, é função da

sua posição em relação às referências de mercado.

Algumas nações que enfrentam uma grande expansão econômica como a China e o

Brasil estão diante de tal dilema. Aparentemente, a China procura um incremento da

produtividade, visto que há uma razoável quantidade de insumos básicos à produção como

mão de obra e capital. Segundo Meireles et al. (2010), a produção é incrementada por meio de

expansão da mão de obra e do capital, caso não haja mudança no paradigma produtivo.

No caso brasileiro a expansão da produção não é mais permitida via intensificação do

uso dos fatores de produção. Tal observação é corroborada pelo aumento de salários de

algumas profissões ligadas diretamente à produção industrial como as engenharias, indicando

que o país está se aproximando do limite da capacidade produtiva.

A solução para aumentar a produção minimizando os efeitos inflacionários é a

mudança de paradigmas na produção. Kao (2008) afirma que a inovação é um dos vetores do

desenvolvimento das nações. Por meio da inovação, as empresas poderiam, em tese, produzir

mais sem aumento significativo nos insumos e produtividade e sim modificando a maneira de

como se produz.

Segundo Senger et al. (2006), as inovações têm sido a nova moeda da competição

global na medida em que países competem ferozmente por novos mercados em um contexto

onde a capacidade de criar novas idéias é considerada como marca registrada do sucesso

nacional. A competição tem apontado para captação de capital de risco associado à pesquisa e

desenvolvimento (P&D) adicionados a talentos inovativos e assim, delimitando regiões

densas de inovação de onde emergirão oportunidades. A inovação passa a ser uma força

orientadora das políticas públicas de muitos países.

Diante da importância do crescimento do tema inovação no desenvolvimento das

nações, diversos pesquisadores propuseram tipologias para medir o grau de inovação

organizacional. Entre tais pesquisadores destacam-se os seguintes: Berreyre (1975),

Schumpeter (1984) e Sawhney & Chen (2010). Tal avanço metodológico culminou no radar

de inovação, uma ferramenta composta de 12 indicadores aplicáveis a praticamente toda

organização. A eficácia e abrangência dessa metodologia é questionável. A crítica que se

destaca nesse artigo é a dificuldade de homogeneizar e comparar a inovação entre empresas

de diferentes setores. A forma aqui sugerida em si utilizar uma média aritmética simples dos

12 indicadores. Entretanto, tal indicador cria distorções entre setores e dificuldades para

comparações.

Uma possível solução para esse problema é criar um índice de inovação setorial,

notadamente para ser aplicado às micro e pequenas empresas (MPE). Este é o principal

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objetivo deste trabalho. Em resumo, o presente trabalho irá apresentar um índice de inovação

setorial partindo do modelo do radar da inovação.

2. Referencial teórico

2.1 Inovação - definições

O termo inovação pode ser definido de várias formas dependendo da perspectiva de

interesse. No entanto, a maioria das definições apresenta uma visão restrita e geralmente

orientada para tecnologia com foco em P&D, desenvolvimento de novo produto ou a

dicotomia de produtos/processos.

Garcia & Calantone (2002) definem inovação como “processos interativos utilizados

para explorar o potencial de mercado de uma invenção baseado em tecnologia”. Este processo

simula graus variados de inovação e necessita uma tipologia para descrever tipos diferentes de

inovação. Semelhantemente, McDermott & O'Conner (2002) definem inovação como “uma

nova tecnologia ou combinação de tecnologias que oferecem benefícios que valem a pena”.

Esta visão enfatiza inovação como um processo de introdução no mercado de uma tecnologia

nova por adoção e difusão.

Neste fluxo, inovação é compreendida como P&D ou invenção dirigida a tecnologia.

Em um segundo grupo de definição, inovação passa a representar desenvolvimento de um

novo produto. Por exemplo, Hauser, Tellis & Grifo ( 2006) e Han, Kim, & Srivastava (1998)

definem inovação como “o processo de trazer produtos novos e serviços para comercializar”.

Um terceiro grupo de estudos inclui processos na extensão de inovação e a visão de

inovação como uma dicotomia de produto/processo. Por exemplo, Tushman & Nadler (1986)

definem inovação como “a criação de qualquer produto, serviço e processo que são novos a

uma unidade de negócio”. Neste conceito, inovação de processo envolve criar maneiras

diferentes de desenvolver produtos novos, melhorando a eficiência do processo. Esta

dicotomia ainda é tecnologia orientada. Portanto, baseado nos pontos de vista funcionais da

literatura existente, a maioria dos trabalhos de pesquisa na área leva em conta uma relação

estreita entre inovação orientada a tecnologia ou produto.

Neste artigo, inovação é entendida como uma ação capaz de gerar valor à organização

por meio de um fazer novo para ela, ou seja, inovação implica na mudança de paradigma

organizacional interno à empresa, mas não necessariamente uma mudança de paradigma

empresarial. Neste contexto é possível inovar em comercialização dos produtos,

desenvolvimento de canais de distribuição, criar novos produtos e/ou processos, desenvolver

novas ações de marketing, e outras ações que impactem no valor da empresa de forma

sustentável e permanente.

2.2 Mensurando a inovação em uma organização

A grande dificuldade entre as definições de inovação é estabelecer um procedimento

de como medi-la ou definir um processo de como inovar.

Segundo Garcia (2008), Berreyre estabeleceu em 1975 uma tipologia para a inovação

baseada em quatro princípios: tecnológico, comercial, organizacional e institucional. Tal autor

aborda a inovação de forma ampliada e dá o tom de complexidade do tema.

Outra forma de estabelecer a inovação de forma holística foi proposta por Schumpeter

(1984) de modo a definir dimensões da inovação. Segundo ele a inovação poderia surgir sob a

dimensão de um novo produto, de um novo processo, pela procura de novos mercados,

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desenvolvimento de novas fontes de matérias-prima e pelo estabelecimento de novas

estruturas de mercado.

Com base no modelo de Schumpeter (1984) define-se a principal referência

internacional para a medição da inovação: o Manual de Oslo (2004) que permite comparações

entre trabalhos relacionados com a inovação a partir das diretrizes propostas. Para o

desenvolvimento da metodologia proposta no presente trabalho, também foram consultados

outros autores que pudessem oferecer sustentação teórica.

Sawhney et al. (2006) propõe uma ferramenta denominada Radar que relaciona as

dimensões pelas quais uma empresa pode procurar caminhos para inovar. O Radar da

Inovação reúne quatro dimensões principais, a saber: ofertas criadas; clientes atendidos;

processos empregados; e praça (3W1H – what, where, who e how). Tais dimensões compõem

a base de referência para determinar a inovação, no entanto, o próprio Sawhney et al. (2006)

percebeu que as empresas procuram outros caminhos para alcançar patamares mais elevados

de competitividade por meio da capacidade de inovar.

2.3 As dimensões da inovação – o radar da inovação

Além das quatro dimensões acima apresentadas Sawhney et al. (2006) propõem

adicionar mais oito dimensões, a saber: Plataforma, Marca, Soluções, Relacionamento,

Agregação de valor, Organização, Cadeia de fornecimento, e Rede.

Bachmann e Destefani (2008) acrescentaram às 12 dimensões de Sawhney et al (2006)

o conceito de ambiente propício à inovação. Tal situação pode ser percebida, entre outros

aspectos, pelo aporte de recursos humanos à empresa com formação facilitadora do processo

de incorporação e implementação da cultura de inovação.

O quadro abaixo apresenta as dimensões da inovação proposta por Sawhney et al

(2006) e complementada por Bachmann e Destefani (2008), bem como uma breve definição

de cada dimensão.

Dimensão Definição

Oferta Desenvolvimento de produtos com características inovadoras.

Processos Redesenho dos processos produtivos de modo a permitir

incremento de eficiência operacional

Clientes Identificar necessidades dos clientes, ou novos nichos de

mercado.

Praça Identificar novas formas de comercialização e/ou distribuição.

Plataforma Relaciona-se com a adaptabilidade do sistema de produção face

à diversidade de produtos demandados.

Marca Forma como as empresas transmitem aos clientes seus valores.

Soluções Sistemas ou mecanismos para simplificar as dificuldades do

cliente.

Relacionamento Relaciona-se com a experiência do cliente com a empresa.

Agregação de valor Melhorar a forma de captar o valor dos produtos percebido por

cliente e fornecedores.

Organização Melhorar a estrutura da empresa

Cadeia de

fornecimento

Incrementar a logística com os fornecedores e clientes, sejam

internos, sejam externos.

Rede Comunicação entre os elos da cadeia de fornecimento.

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Ambiência

Inovadora

Relaciona-se com os profissionais que compõem a empresa e

que colaboram com a cultura da inovação. Fonte: Elaboração própria a partir de Sawhney et al. (2006 e 2010) e Bachmann e Destefani (2008).

Quadro 1: Definição das dimensões da inovação.

A Figura abaixo mostra as dimensões da inovação na visão de vários autores e

trabalho em comparação com o modelo de Sawhney et al. (2006 e 2010).

Fonte: Garcia (2008).

Figura 1: Dimensões da inovação: diversos modelos.

3. Proposição metodológica

A proposta de metodologia apresentada neste artigo passa pelas quatro etapas, a saber:

montagem e aplicação dos questionários; tratamento das informações; construção do modelo e

cálculo do Índice Setorial de Inovação.

Iniciou-se o trabalho com a aplicação do questionário desenvolvido por (inserir a

autoria do questionário). O questionário é composto de 40 construtos agrupados em 13

categorias, as quais coincidem com as dimensões da inovação propostas por Sawhney et al

(2006 e 2010) e mais a dimensão ambiência inovadora (BACHMANN, 2008). A Figura 2

mostra o relacionamento construto e dimensões da inovação.

Fonte: Elaboração própria a partir de Sawhney et al. (2006 e 2010) e Bachmann e Destefani (2008).

Figura 2: Dimensões da Inovação e construtos.

O questionário foi aplicado em 25 micro e pequenas empresas do setor industrial de

móveis e de 25 micro e pequenas empresas do setor de panificação da Região Metropolitana

do Recife. Os setores foram escolhidos em função da diferença natural entre eles, sobretudo,

no tocante às possibilidades de inovar. Tais questionários foram utilizados para validar e

testar o método de determinação do Índice Setorial de Inovação aqui proposto e

necessariamente respondido pelo próprio empresário, ou outra pessoa indicada por este, com

o apoio de um pesquisador vinculado ao Projeto Agentes Locais de Inovação promovido pelo

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) do Estado de

Pernambuco.

O modelo aqui proposto surge como uma evolução natural do Índice Global de

Inovação obtido como a média aritmética das 13 dimensões da inovação.

De acordo com Ketokivi & Ali-Yrkkö (2010) ações de inovação têm um impacto em

múltiplas dimensões do radar, mas de forma distinta para cada empresa. Estes autores

sinalizaram que independe da origem da inovação, quer seja no lançamento de um novo

produto ou umaestratégia de venda, ou outra ação, haverá um incremento das 12 dimensões.

Entretanto a propagação do impacto entre as dimensões tem efeito distinto entre cada

empresa, sobretudo em empresas de setores distintos.

A dificuldade do radar de inovação medir a inovação global remete a heterogeneidade

de cada setor. Exemplificando: o lançamento de um novo produto no mercado na indústria de

telefonia móvel tem um impacto superior ao lançamento de um novo produto em uma

empresa de panificação a depender do mix de produtos. Ketokivi & Ali-Yrkko (2010)

apontaram que empresas de base tecnológica têm uma capacidade maior de gerar inovação

com atividades de P&D do que empresas de base não tecnológicas. Entretanto, ambas podem

ser consideradas inovadoras em alguns aspectos distintos do radar.

Diante da constatação da heterogeneidade dos setores é proposto o grau de inovação

setorial por empresa (GISi) que é definido pela equação 1:

25,...,113

1

13

1

ipara

Dp

Dp

GIS

k

Mkk

k

ikk

i (1)

onde:

Dik é o valor da dimensão da inovação k para a empresa i;

DiM é o valor da dimensão da inovação k para o setor;

Já o peso das dimensões da inovação pk é obtido pelo seguinte modelo de otimização:

13

1k

Mkk DpMax

(2)

Sujeito a:

113

1

k

kp

kparapk %5

kparapD kMk %50

Defini-se o GIS setorial como sendo:

13

1k

Mkk DpGIS (3)

4. Aplicação

Na Tabela 1 são apresentadas as estatísticas básicas das dimensões da inovação das 25

empresas do setor de móveis e de panificação obtidas a partir dos questionários aplicados.

Dimensão Móveis - 25 empresas Panificação - 25 empresas

Média Máximo Mínimo Média Máximo Mínimo

Oferta 2,2 3,0 1,3 2,7 3,7 1,0

Plataforma 2,2 4,0 1,0 3,2 5,0 1,0

Marca 3,0 4,0 1,0 2,4 4,0 1,0

Clientes 2,2 3,5 1,0 3,0 3,5 1,0

Soluções 1,8 4,0 1,0 4,0 5,0 1,0

Relacionamento 1,8 4,0 1,0 1,3 4,0 1,0

Agregação de valor 2,2 4,0 1,0 2,8 4,0 1,0

Processos 1,7 2,6 1,0 1,5 4,2 1,0

Organização 2,2 3,0 1,5 2,1 4,5 1,0

Cadeia de fornecimento 1,0 1,0 1,0 1,5 5,0 1,0

Presença 1,4 4,0 1,0 1,4 4,0 1,0

Rede 1,3 3,0 1,0 1,4 5,0 1,0

Ambiência inovadora 2,0 2,8 1,0 2,4 3,5 1,0 Fonte: Elaboração própria.

Tabela 1: Estatísticas das dimensões da inovação média por setor.

Uma rápida avaliação comparativa entre os setores mostra que para o estrato avaliado

o setor de móveis tem vantagem em termos de inovação nas seguintes dimensões: marca,

relacionamento, processos, organização e presença. Esta vantagem pode ser atribuída às

características do setor de móveis das MPEs que têm uma necessidade de compor uma marca

forte e de manter um bom relacionamento com os clientes e funcionários.

Já no setor de panificação é evidente a necessidade de se manter um leque de produtos

e uma plataforma de forma a agregar mais valor à empresa, uma vez que a venda do

tradicional pão francês apresenta um baixo valor agregado.

O radar de inovação mostrado na Figura 3 apresenta as dimensões de inovação dos

dois setores simultaneamente. Nota-se uma maior abertura do setor de panificação à inovação.

O mesmo pode ser observado na Figura 4 que mostra a inovação máxima de cada setor.

Fonte: Elaboração própria

Figura 3: Radar de inovação médio para os setores de móveis e panificação.

A Figura 4 mostra ainda o potencial do setor em relação a inovação. As empresas de

panificação possuem um benchmarketing mais elástico, entretanto, o setor não demonstra um

potencial para ampliar a base de inovação. Já o setor de móveis tem um espaço mais amplo

para inovar, mas as empresas do setor não possuem um benchmarketing para orientá-las.

Fonte: Elaboração própria

Figura 4: Radar de inovação referencial para os setores de móveis e panificação.

A Tabela 2 apresenta as estatísticas das dimensões da inovação média por setor O

grau de inovação tradicional é calculado como a média aritmética das dimensões da inovação,

já o grau de inovação setorial é calculado de acordo a equação (3).

Móveis Panificação

Grau de inovação tradicional 1,9 2,3

Grau de inovação setorial 2,1 2,6 Fonte: Elaboração própria

Tabela 2: Estatísticas das dimensões da inovação média por setor.

Há uma modificação do grau de inovação tradicional para o setorial de ambos os

setores em função da modificação dos pesos em relação às dimensões da inovação, tal

alteração foi feita no sentido de incrementar a relevância das dimensões mais importantes para

cada setor. Na Tabela 3 são apresentados os pesos calculados de acordo com a Equação (3).

Dimensão Setor

Móveis Panificação

Oferta 0,05 0,05

Plataforma 0,22 0,16

Marca 0,17 0,05

Clientes 0,05 0,17

Soluções 0,05 0,13

Relacionamento 0,05 0,05

Agregação de valor 0,05 0,10

Processos 0,05 0,05

Organização 0,11 0,05

Cadeia de fornecimento 0,05 0,05

Presença 0,05 0,05

Rede 0,05 0,05

Ambiência inovadora 0,05 0,05 Fonte: Elaboração própria

Tabela 3: Pesos das dimensões da inovação para definição do grau de inovação setorial.

A Tabela 3 mostra que as dimensões mais relevantes para o setor de móveis são

plataforma e marca, enquanto que para panificação, plataforma e clientes. Outras dimensões

como ambiência inovadora, rede, presença e cadeia de fornecimento parecem não agregar

valor em termo de inovação para os setores analisados e amostras.

Já a Tabela 4 é construída com base na Equação (1) e apresenta o GIS, a média

aritmética da inovação e a média ponderada da inovação para as empresas pesquisadas. As

empresas cujo GIS estiver abaixo de 1,0 estão com o grau de inovação inferior às demais

empresas do setor.

Panificação Móveis

Empresa

Média

aritmética

Média

ponderada GIS Empresa

Média

aritmética

Média

ponderada GIS

1 4,2 4,2 1,6 1 1,6 1,9 0,9

2 2,9 3,4 1,3 2 1,9 2,2 1,1

3 1,9 2,1 0,8 3 1,6 2,0 1,0

4 2,2 2,6 1,0 4 1,8 1,9 0,9

5 2,0 2,3 0,9 5 2,1 2,4 1,1

6 1,4 1,5 0,6 6 2,8 3,0 1,4

7 2,4 2,8 1,1 7 2,6 2,4 1,1

8 2,4 2,8 1,1 8 1,6 1,9 0,9

9 1,9 2,3 0,9 9 1,6 1,8 0,9

10 1,3 1,2 0,5 10 1,6 1,8 0,9

11 2,1 2,2 0,8 11 2,1 2,2 1,0

12 1,5 1,8 0,7 12 1,4 1,6 0,8

13 2,4 2,8 1,1 13 1,5 1,6 0,8

14 2,4 2,8 1,1 14 1,3 1,7 0,8

15 2,4 2,8 1,1 15 2,6 2,9 1,4

16 3,1 3,3 1,3 16 1,6 1,7 0,8

17 2,4 2,8 1,1 17 1,7 1,8 0,9

18 2,4 2,8 1,1 18 1,9 2,1 1,0

19 2,4 2,8 1,1 19 2,4 2,5 1,2

20 2,4 2,8 1,1 20 2,2 2,5 1,2

21 2,4 2,8 1,1 21 2,1 2,3 1,1

22 2,4 2,8 1,1 22 1,8 2,0 0,9

23 2,4 2,8 1,1 23 1,9 2,1 1,0

24 1,8 2,0 0,8 24 2,1 2,2 1,0

25 2,4 2,8 1,1 25 2,1 2,3 1,1 Fonte: Elaboração própria

Tabela 4: Grau de inovação setorial por empresa.

As empresas cujo GIS estiver abaixo de 1,0 estão com o grau de inovação inferior às

demais empresas do setor. A análise da tabela permite inferir que a empresa número 4 do

setor de panificações é similar à empresa 3 do setor de móveis em termo de inovação em

relação ao setor de atuação de cada empresa.

5. Considerações finais

Conforme apresentado nesse artigo a inovação pode ser tomada como uma estratégia

fundamental para desenvolver o bem estar da sociedade por meio de sistemas e processos de

produção mais eficiente e como forma de utilizar melhor os recursos.

Assim como a inovação é relevante, também o é sua mensuração. Sobretudo para que

as empresas, instituições diversas e o Estado tenham uma referência para identificar se ações

impulsionadoras de inovação surtem efeito. Nesta linha explica-se o sucesso do radar de

inovação no sentido de nortear a medida da inovação, não apenas no sentido tradicional que

inovação que é associada à novos produtos, mas no sentido mais amplo. Qual seja agregar

valor à organização por um modelo diferente e sustentável.

No entanto, o radar de inovação, sobretudo o grau de inovação tem um problema que é

não abordar as empresas levando em consideração a heterogeneidade dos setores a que elas

pertencem. O presente artigo objetivou apresentar o Grau de Inovação Setorial (GIS) como

uma ferramenta para avaliar o grau de inovação de empresas referenciadas com o seu setor de

atuação.

O GIS normaliza o método tradicional a base das 13 dimensões da inovação. No

entanto, leva em consideração aspectos da heterogeneidade dos setores. Para demonstrar a

validade do método proposto é apresentada uma aplicação utilizando dados do radar de

inovação dos setores de móveis e panificação da Região Metropolitana de Recife em uma

amostra de 25 MPE de cada seguimento.

O resultado quantitativo da inovação obtido de cada empresa por meio do GIS permite

compará-las não apenas dentro do setor, mas também entre setores. Demonstrando-se a

possibilidade de uma empresa mediana em termos de inovação, mas situada num setor

propenso a inovação ser considerada mais inovadora que a empresa mais inovadora de um

setor com dificuldades naturais para inovar. Assim, a partir do radar normalizado será

possível investir em ações que verdadeiramente se transformem em resultados percebidos

pelos clientes ou consumidores de produtos e serviços de forma diferenciada com evolução

sustentável.

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