Granuloma Eosinofílico Felino
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE VETERINRIA
Complexo Granuloma Eosinoflico em Felinos Domsticos
Autor: Deisy Daiana Lerner
PORTO ALEGRE
2013/1
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE VETERINRIA
COMPLEXO GRANULOMA EOSINOFLICO EM FELINOS DOMSTICOS
Elaborado por: Deisy Daiana Lerner
Orientador: Prof. Daniel Guimares Gerardi
Monografia apresentada como requisito parcial para
obteno da graduao em Medicina Veterinria
PORTO ALEGRE
2013/1
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AGRADECIMENTOS
Agradeo aos meus pais, Rogrio Lerner e Lilian Lerner pelo apoio moral e
financeiro, pelo carinho, ateno e confiana depositada em meus sonhos e projetos.
Ao meu namorado, Robson Sobieski, pelo amor, companheirismo e apoio fornecido
durante meu caminho graduao.
Ao meu orientador, Professor Daniel Gerardi, pela ateno e apoio a mim destinados
durante a realizao desse trabalho e pelos conhecimentos compartilhados.
A minha irm, amigos e colegas, pelos bons momentos divididos e pelo crescimento
coletivo.
Aos meus animais de estimao, pelo carinho e inspirao na busca de conhecimento e
realizao desse trabalho.
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RESUMO
O Complexo Granuloma Eosinoflico (CGE) compreende um grupo de dermatoses
comuns em gatos domsticos. Pode apresentar-se como diferentes leses clnicas de pele e em
muitos casos as leses podem ser severas e causar graus variveis de prurido e/ou dor,
podendo ainda tornar-se crnicas e recorrentes. As apresentaes clnicas conhecidas do CGE
incluem a placa eosinoflica (PA), a lcera indolente (UI) e o granuloma eosinoflico (GE). Os
achados histopatolgicos so tpicos, com um infiltrado eosinoflico e um variado nmero de
mastcitos, histicitos e linfcitos, os quais so referenciados como dermatoses eosinoflicas,
consideradas um padro de reaes cutneas devido a diversos estmulos. Diversos fatores
etiolgicos tm sido propostos como causas potenciais, mas a maioria dos autores reconhece o
CGE como uma manifestao de doena alrgica felina, sendo as causas mais comuns a
hipersensibilidade a picada de pulga, hipersensibilidade alimentar e dermatite atpica.
O diagnstico definitivo do CGE baseado no histrico, exame clnico, citologia e
histopatologia, porm outros mtodos podem e devem ser aplicados para diagnosticar a causa
primria do CGE. Leses de CGE geralmente respondem bem ao tratamento a base de
glicocorticoides sistmicos, entretanto, algumas leses podem ser refratrias ao tratamento e
nesses casos, outros tratamentos propostos envolvem o uso de imunomoduladores,
hidrocortisonas tpicas, entre outros. Porm o mais importante lembrar que, sempre que
possvel, a causa primria deve ser eliminada. Este estudo teve por objetivos realizar uma
reviso atualizada sobre as formas de apresentao, possveis etiopatogenias, mtodos de
diagnstico e tratamentos disponveis para o CGE dos felinos domsticos.
Palavras-chave: Dermatose Eosinoflica, Gato Domstico, Doenas de Pele, Dermatologia.
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ABSTRACT
The Eosinophilic Granuloma Complex (EGC) represent a group of common domestic
cats dermatoses. It can be presented as different clinical skin lesions and in many cases, these
lesions can be severe and cause varying degrees of pruritus and/or pain, in addition, become
chronic and recurrent. The EGC clinical presentation known include eosinophilic plaques
(EP), indolent ulcers (IU) and eosinophilic granulomas (EG). The histopathological findings
are typical, with eosinophilic infiltrate and a varying number of mast cells, histiocytes and
lymphocytes, that are referred as eosinophilic dermatoses, considered a pattern of cutaneous
reactions caused by various stimuli. Different etiological factors have been proposed as
underlying cause, but most authors recognize EGC as a manifestation of feline allergic
disorder, most commonly flea bite hypersensivity, food allergies and atopic dermatitis. The
definitive diagnosis of the EGC is based on the history, clinical examination, cytology and
histopathology, but others methods can and should be applied to diagnose the primary cause
of EGC. Usually, EGC lesions show a good response to treatment with systemic
glucocorticoids, however, some lesions can be refractory to treatment, and in this cases,
another proposed treatment evolve the use of immunomodulator, topic hydrocortisone and
others. Nevertheless, its important remember that, always when possible, the primary cause
must be eliminated. This study aimed to realize an updated review about potential forms of
presentations, potential etiophatogenesis, diagnostic methods and available treatments for
EGC in domestic cats.
Key-words: Eosinophilic Dermatoses, Domestic Cat, Skin Diseases, Dermatology.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Hipersensibilidade a picada de mosquito.............................................................. 20
Figura 2. lcera indolente em um gato com doena de pele alrgica.................................. 21
Figura 3. lcera indolente em felino.................................................................................... 21
Figura 4. lcera indolente.................................................................................................... 22
Figura 5. lcera indolente..................................................................................................... 22
Figura 6. Placa eosinoflica em um gato de 3 anos............................................................... 23
Figura 7. Placa eosinoflica na face medial do membro plvico.......................................... 24
Figura 8. Placa eosinoflica, altamente pruritica, secundria a dermatite atpica................ 24
Figura 9. Placa eosinoflica no abdmen de um gato alrgico............................................. 25
Figura 10. Granuloma eosinoflico em coxim podal............................................................ 26
Figura 11. Granuloma eosinoflico em coxim podal............................................................ 27
Figura 12. Granuloma eosinoflico no queixo...................................................................... 27
Figura 13. Leso nasal de granuloma eosinoflico............................................................... 28
Figura 14. Granuloma eosinoflico na face caudal do membro plvico............................... 28
Figura 15. Granuloma eosinoflico em estgio avanado na lngua..................................... 28
Figura 16. Granuloma eosinoflico em cavidade oral........................................................... 29
Figura 17. Histopatologia de uma placa eosinoflica............................................................ 31
Figura 18. Histopatologia com detritos eosinoflicos granulares acumulados ao longo das
imagens em chamas...............................................................................................................
31
Figura 19. Histopatologia de uma placa eosinoflica............................................................ 32
Figura 20. Processo para investigao do diagnstico do CGE em felinos.......................... 34
Figura 21. Citologia de granuloma eosinoflico................................................................... 35
Figura 22. Citologia de placa eosinoflica................................................................... 35
Figura 23. Teste alrgico intradrmico em gato atpico...................................................... 38
Figura 24. Teste alrgico intradrmico em gato atpico....................................................... 38
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Possveis gatilhos etiolgicos para o CGE........................................................... 18
Tabela 2. Principais diferenas entre as apresentaes clnicas do CGE em felinos........... 29
Tabela 3. Terapias antimicrobianas sistmicas recomendadas para o tratamento de
suporte no CGE.....................................................................................................................
42
Tabela 4. Anti-histamnicos recomendados no tratamento de suporte no CGE................... 44
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LISTA DE ABREVIATURAS
AGE: cidos graxos essenciais
ASIT: imunoterapia alrgeno-especfica
BID: duas vezes por dia
CGE: complexo granuloma eosinoflico
FCV: calicivrus felino
Fel d 1: Felis domesticus 1 (alrgeno)
FeLV: vrus de leucemia felina
FHV-1: herpesvirus felino 1
FIV: vrus da imunodeficincia felina
GE: granuloma eosinoflico
HCA: acetato de hidrocortisona
H&E: hematoxilina e eosina
IgE: imunoglobulina E
MBP: protena bsica principal
MPs: membros plvicos
MTs: membros torcicos
PE: placa eosinoflica
PMD: piecemeal degranulation (degranulao fragmentria)
QID: quatro vezes por dia
SID: uma vez por dia
SPF: specific pathogen-free (livres de patgenos especficos)
TGF1: fator transformador de crescimento--1
TID: trs vezes por dia
UI: lcera indolente
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LISTA DE MEDICAMENTOS
PRINCPIO ATIVO NOME COMERCIAL LABORATRIO
Acetato de Hidrocortisona Cortavance Virbac
Acetato de Megestrol Ovarid Virbac
Acetato de Metilprednisolona Depo-medrol Rhodia Farma
AGE (suplemento) Pelo & Derme Vetnil
Amitriptilina Tryptanol Eurofarma
Amoxicilina + Clavulanato Clavamox Pfizer
Aurotiomalato de Sdio Myocrisin Aventis Pharma
Cefadroxila Cefamox Medley
Cefalexina Celesporin Ourofino
Cefpodoxima proxetil Simplicef Pfizer
Cetoconazol Nizoral Medley
Ciclosporina Atopica Novartis
Ciproeptadina Cobavital Abbott
Comicronized Palmidrol Retopix Innvet
Clemastina Alergovet Coveli
Clindamicina Dalacin Hexal
Clorambucil Leukeran Glaxo Smithkline
Clorfeniramina Celestamine EMS
Cloridrato de Metoclopramida Plasil EMS
Dexametasona Decadron Medley
Doxiciclina injetvel Doxiciclina Vetnil
Difenidramina Difenidrin Cristalia
Eritromicina Eritrex Ach
Fipronil Frontline Merial
Fluconazol Zoltec Ranbaxy
Hidroxizina Prurizin Darrow
Imidacloprid Advocate Bayer
Interferon Alfa Pegasys Roche
Interferon mega Virbagen Virbac
Itraconazol Sporanox Brainfarma
Moxidectina Cydectin 1% Fort Dodge
Prednisolona Prelone Ach
Prednisona Meticorten Eurofarma
Selamectina Revolution Pfizer
Sulfametoxazol + Trimetoprima Bactrim EMS
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SUMRIO
1 INTRODUCAO.................................................................................................... 10
2 REVISAO BIBLIOGRAFICA........................................................................... 12
2.1 Terminologia......................................................................................................... 12
2.2 Prevalncia............................................................................................................ 12
2.3 Patogenia............................................................................................................... 13
2.4 Etiologia................................................................................................................ 14
2.5 Apresentao clnica............................................................................................ 19
2.5.1 Classificao das leses......................................................................................... 20
2.5.1.1 lcera indolente..................................................................................................... 20
2.5.1.2 Placa eosinoflica................................................................................................... 22
2.5.1.3 Granuloma eosinofilico.......................................................................................... 25
2.5.2 Caractersticas histopatolgicas............................................................................. 30
2.6 Diagnstico............................................................................................................ 33
2.6.1 Diagnstico das leses de CGE............................................................................. 34
2.6.2 Diagnstico da causa primria............................................................................... 35
2.7 Tratamento............................................................................................................ 38
2.7.1 Glicocorticoides...................................................................................................... 39
2.7.2 Antimicrobianos...................................................................................................... 41
2.7.3 Ciclosporina............................................................................................................ 42
2.7.4 Clorambucil............................................................................................................ 43
2.7.5 Anti-histamnicos.................................................................................................... 44
2.7.6 cidos graxos essenciais........................................................................................ 45
2.7.7 Interferon mega..................................................................................................... 45
2.7.8 Progestagenos......................................................................................................... 45
2.7.9 Outros...................................................................................................................... 46
2.8 Prognstico............................................................................................................ 46
3 CONCLUSO....................................................................................................... 47
REFERNCIAS...................................................................................................... 48
APNDICE A Valores de referencia para perfil hematolgico na espcie
felina..........................................................................................................................
52
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10
1 INTRODUO
O Complexo Granuloma Eosinoflico (CGE) compreende um grupo de dermatoses
comuns em gatos domsticos (BUCKLEY et al., 2012). Basicamente, a patogenia da doena
corresponde a um padro de reatividade cutnea a ao de mastcitos e eosinfilos. Os
eosinfilos so clulas do sistema imunolgico que esto envolvidos na resposta inflamatria
a corpos estranhos, especialmente parasitas e representam a maior fonte de resposta de
mediadores inflamatrios associados a reaes de hipersensibilidade do tipo I (BLOOM,
2006). A base da patogenia est na resposta inapropriada dos eosinfilos a uma variedade de
estmulos, produzindo reaes cutneas.
A maioria dos autores reconhece o CGE como uma manifestao de doena alrgica
felina, sendo as causas mais comuns a hipersensibilidade a picada de pulga, hipersensibilidade
alimentar e dermatite atpica (FOSTER, 2003; BUCKLEY et al., 2012), mas etiologias
alternativas tambm tm sido investigadas, sugerindo o possvel envolvimento, em alguns
casos, de agentes virais, infeces bacterianas, fngicas e parasitolgicas, reaes a corpos
estranhos, desregulao com base gentica ou idioptica (BUCKLEY et al., 2012).
O CGE apresentar-se como diferentes leses clnicas de pele e em muitos casos as
leses podem ser severas e causar graus variveis de prurido e/ou dor, podendo ainda tornar-
se crnicas e recorrentes (BUCKLEY et al., 2012). As apresentaes clnicas conhecidas do
CGE incluem a placa eosinoflica (PA), a lcera indolente (UI) e o granuloma eosinoflico
(GE) (FOSTER, 2003). So relatadas diferentes caractersticas histolgicas em cada uma das
trs apresentaes clnicas (FONDATI et al., 2001), mas todas apresentam caractersticas
tpicas em comum, com um infiltrado eosinoflico e um variado nmero de mastcitos,
histicitos e linfcitos, e pequenos focos conhecidos como imagens em chamas (flame figures
em ingls), onde fibras de colgeno so cercadas por eosinfilos degranulados e edema
(BARDAGI et al., 2003). Embora cada padro de reao tenha diferenciaes histolgicas nas
apresentaes clnicas, pode ocorrer sobreposio entre padres e alguns gatos podem
apresentar-se com mais de uma forma. Por essa razo, as trs formas so agrupadas em um
mesmo complexo (GRACE, 2004).
O diagnstico definitivo do CGE baseado no histrico, exame clnico, citologia e
histopatologia, porm outros mtodos podem e devem ser aplicados para diagnosticar a causa
primria do CGE (BUCKLEY et al., 2012). importante a coleta de material para descartar
diagnsticos diferenciais e a investigao da causa primaria deve ser voltada para doenas
-
11
alrgicas, com a realizao de testes de triagem com eliminao de ectoparasita, dietas de
eliminao e testes intradrmicos, quando necessrio (BLOOM, 2006).
A abordagem teraputica para as leses depender da extenso das mesmas. Leses
isoladas e pequenas muitas vezes podem regredir sozinhas, sem a necessidade de tratamento
(FOSTER, 2003). As leses do CGE geralmente respondem bem ao tratamento a base de
glicocorticoides sistmicos, entretanto, algumas leses podem ser refratrias ao tratamento
(BUCKLEY et al., 2012). Nesses casos, outros tratamentos propostos envolvem o uso de
hidrocortisonas tpicas, imunomoduladores como a ciclosporina, clorambucil, anti-
histamnicos, cidos graxos essenciais, entre outros (FOSTER, 2003; BLOOM, 2006;
BUCKLEY et al., 2012). Porm o mais importante lembrar que, sempre que possvel, a
causa primria deve ser eliminada ou evitada.
Este estudo teve por objetivos realizar uma reviso bibliogrfica atualizada sobre as
formas de apresentao, possveis etiopatogenias, mtodos de diagnstico e tratamentos
disponveis para o CGE dos felinos domsticos, visto que, apesar de ser uma enfermidade
comum em gatos, ainda existem desafios para se estabelecer a etiologia e tratamento
alternativo quando as leses no respondem mais aos glicocorticoides ou os efeitos colaterais
so inaceitveis.
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12
2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 Terminologia
Os termos Doena de pele eosinoflica de felinos (em ingls Feline eosinophilic skin
diseases) e Dermatose eosinoflica (em ingls Eosinophilic Dermatoses) (POWER et al.,
1995; BLOOM, 2006), foram propostos como alternativas ao Complexo Granuloma
Eosinoflico (em ingls Eosinophilic Granuloma Complex), j que podem descrever melhor
um grupo de dermatoses que nem sempre so granulomatosas e que podem ter vrias
etiologias. Entretanto o termo CGE ainda rotineiramente usado na clnica veterinria
(BUCKLEY et al., 2012).
Em relao s formas de apresentao clnica do CGE, a lcera indolente tambm
referenciada como lcera eosinoflica, lcera dos roedores ou dermatite ulcerativa do
lbio superior felina (WERNER, 2003) e o granuloma eosinoflico como granuloma
colagenoltico ou granuloma linear (FOSTER, 2003).
2.2 Prevalncia
Apesar de ser referenciado como uma doena comum em felinos, faltam dados da
prevalncia do CGE no Brasil. Em um estudo sobre os diagnsticos mais comuns em
dermatologia felina, realizado na escola de veterinria de Nantes, Frana, o CGE apareceu em
9,2% dos gatos. A prevalncia de hipersensibilidade picada de pulga foi de 22,3% do total e,
desses casos, 42,9% estavam associados a outros problemas, inclusive leses de CGE. Foram
identificados, ainda, 2,8% de casos de alergia alimentar, sendo 25,2% associados a outras
doenas e tambm 2,4% de dermatite atpica, onde 4,7% estavam associados a outras doenas
(BOURDEAU et al., 2004).
Um dos maiores estudos de prevalncia na dermatologia felina foi recentemente realizado
na Universidade de Cornell, Estados Unidos, onde foram analisados 1407 casos no perodo de
1988 a 2003. Neste estudo, o CGE idioptico ocupou o nono lugar, com 2,9% dos casos e
alergias de todos os tipos combinadas, somaram 32,7% de todas as dermatoses felinas
(SCOTT et al., 2012).
Em outro estudo realizado no Reino Unido, o CGE idioptico ocupou o sexto lugar entre
as enfermidades mais comuns na dermatologia felina, porm a amostragem foi menor, com
154 gatos (HILL et al., 2006).
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13
2.3 Patogenia
A base da patogenia do CGE est na reatividade da pele dos felinos em relao ao
dos mastcitos e eosinfilos. Os eosinfilos so clulas fagocticas da linhagem granuloctica,
assim como os neutrfilos e basfilos, que so produzidos na medula ssea. Clulas
fagocticas contm grnulos que podem ou no ser corados, aquelas com grnulos que
seguram corantes cidos, como a eosina, so chamadas de eosinfilos. Eles esto envolvidos
na resposta inflamatria a corpos estranhos, especialmente parasitas e representam a maior
fonte de resposta de mediadores inflamatrios associados a reaes de hipersensibilidade do
tipo I. Uma citocina derivada de eosinfilos, o fator transformador de crescimento--1
(TGF1), tambm pode contribuir com inflamaes crnicas (BLOOM, 2006).
A ativao e atrao de eosinfilos atribuda a uma variedade grande de molculas
da classe das quimiocinas, citocinas, mediadores lipdicos, sistema complemento, molculas
de adeso, produtos da degranulao de mastcitos, imunoglobulinas e molculas associadas a
helmintos. Os eosinfilos passam pouco tempo de sua vida na circulao, a maior parte
utilizada nos tecidos. Quando um eosinfilo chega ao seu destino final, ele comea a destruir
o que o atraiu para aquele local, como por ex., um parasita, atravs de fagocitose ou liberao
de componentes txicos. Eosinfilos conseguem fagocitar antgenos pequenos, entretanto,
para matar grandes parasitas, eles expulsam componentes celulares via degranulao. Dentro
do citoplasma dos eosinfilos, encontramos quatro grandes grnulos que contm MBP
(protena bsica principal - principal componente dos grnulos eosinoflicos), protenas
catinicas eosinoflicas, peroxidase eosinoflica, neurotoxina derivada de eosinfilo, citocinas,
enzimas (como a arilsulfatase e cido-fosfatase) e outras protenas. Juntos esses componentes
so responsveis por destruio tecidual e inflamao. Eles tm propriedades vasoativas e
neurognicas que manifestam-se clinicamente como eritema, ppulas e prurido (BLOOM,
2006)
O estudo histopatolgico de Bardagi et al. (2003) demonstrou que, semelhante ao que
ocorre em humanos, os eosinfilos parecem liberar seu contedo dos grnulos atravs de dois
mecanismos, a citlise e a degranulao fragmentria (PMD), os quais representam dois
processos funcionais diferentes, provavelmente induzidos por estmulos diferentes. A PMD
ir provocar uma liberao mais seletiva e de maior durao dos componentes dos grnulos,
enquanto a citlise ir produzir uma liberao mais rpida e de todo o contedo dos grnulos,
sendo provavelmente mais importante na defesa contra parasitas e doenas alrgicas
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14
eosinoflicas (ERJEFLT et al., 2000), constituindo um mecanismo ativo e primrio de
degranulao (BARDAGI et al., 2003).
Diferenas observadas nos padres de degranulao podem estar relacionadas a
diferentes fatores estimulantes em felinos no CGE, assim como o estgio em que se encontra
a leso ou efeitos de tratamentos prvios (BARDAGI et al., 2003). No estudo de Minnicozzi
et al. (1994), foi demonstrado que a MBP induz a liberao de histamina de basfilos e
mastcitos, produzindo uma reao cutnea ppulo-eritematosa, provocando, diretamente, um
aumento da permeabilidade vascular. Portanto, a presena de edema no exame histopatolgico
pode ser explicada, em parte, como resultado da degranulao de eosinfilos, especialmente
na liberao do contedo dos grnulos pela citlise (BARDAGI et al., 2003).
Infelizmente, a mesma resposta imunolgica responsvel pela destruio de um
parasita, pode tambm responder inapropriadamente a outros antgenos, de forma
descontrolada ou no-direcionada, produzindo a reao de hipersensibilidade. Em gatos,
dermatoses eosinoflicas no devem ser consideradas como uma doena, mas sim um padro
de reaes cutneas em resposta a uma variedade de estmulos. Independente do gatilho,
diferentes causas podem gerar achados clnicos, histolgicos e imunolgicos semelhantes
(BLOOM, 2006).
2.4 Etiologia
Muitos estudos j foram feitos para esclarecer os mecanismos etiopatognicos por trs
do desenvolvimento do CGE. A maioria dos autores reconhece o CGE como uma
manifestao de doena alrgica felina, mas etiologias alternativas tambm tm sido
investigadas (BUCKLEY et al., 2012). Todos os esforos devem ser feitos para identificar e,
se possvel, eliminar a causa primria do CGE. As trs causas bases mais comumente
relacionadas ao CGE so a reao de hipersensibilidade a picada de pulga, a dermatite atpica
(alrgenos ambientais) e a alergia alimentar (BLOOM, 2006).
Acredita-se que a hipersensibilidade a picada de pulga seja a causa primria mais
comum de CGE. A reao alrgica ocorre devido protenas da saliva das pulgas (HNILICA,
2011). Em um estudo com induo experimental de hipersensibilidade a picada de pulga,
cinco de oito gatos que desenvolveram sinais clnicos consistentes com a hipersensibilidade,
tambm desenvolveram lceras indolentes (COLOMBINI et al., 2001). Alm disso, a
hipersensibilidade a picada de pulga considerada a causa mais comum de placas
eosinoflicas em locais onde existe a presena de pulgas (LEE GROSS et al., 2005).
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15
A dermatite atpica em felinos uma reao de hipersensibilidade do tipo I a
antgenos ambientais e suspeita-se de uma predisposio gentica ou hereditria para o seu
desenvolvimento (HNILICA, 2011). Nas dermatites atpicas em humanos, alm de alrgenos
exgenos (ambientais), tambm IgE especfica contra protenas humanas (autoalrgenos)
foram demonstradas (VALENTA et al., 2000). Com isso, um estudo sugeriu que o alrgeno
Felis domesticus 1 (Fel d 1; o principal alrgeno em humanos com alergia gatos) poderia
ser um autoalrgeno em gatos com CGE (WISSELINK et al., 2002). O estudo demonstrou
uma resposta de linfcito T, similar ao encontrado em inflamaes alrgicas em humanos,
aps a exposio de gatos com leses de CGE a Fel d 1. Autoalrgenos em dermatites de
humanos atpicos, entretanto, so protenas intracelulares que so reveladas s clulas aps
inflamao e trauma. Fel d 1, em contraste, uma protena encontrada na saliva dos gatos.
Pode ser possvel que a Fel d 1 seja implantada mais profundamente nas camadas da pele
devido a lambedura excessiva e ser capaz de agir de forma similar quando exposta a alrgenos
intracelulares nas doenas em humanos. Mais investigaes so necessrias para verificar o
papel do Fel d 1 no CGE (BUCKLEY et al., 2012).
A prevalncia de hipersensibilidade alimentar no clara, mas tem sido descrita com
certa variabilidade desde incomum at o terceiro tipo de hipersensibilidade mais comum em
gatos. Por outro lado, gatos atpicos podem ter hipersensibilidade picada de pulga e
hipersensibilidade alimentar ao mesmo tempo, mas a incidncia dessas alergias concomitantes
desconhecida (SCOTT et al., 2001). A hipersensibilidade alimentar consiste em uma reao
adversa a um alimento especfico ou um aditivo alimentar e alm das possveis leses de
CGE, sintomas gastrointestinais (como vmitos e diarria) podem ser relatados (HNILICA,
2011).
Episdios isolados de leses de CGE e que apresentaram remisso espontnea,
parecem pouco provveis que a causa seja alguma doena alrgica, j que a maioria dos
distrbios de hipersensibilidade so recorrentes e de longa durao. Alguns desses casos
isolados podem estar associados com trauma ou cuidados estticos excessivos, como a
escovao, por ex. (FOSTER, 2003). Uma base gentica suspeita em algumas situaes,
devido ao desenvolvimento de leses em uma colnia de gatos SPF (POWER, 1990). Esses
gatos apresentaram alta incidncia de GE e UI. Testes intradrmicos e dietas de eliminao
falharam em identificar uma reao de hipersensibilidade primria. Isso levou a teoria de que
existe uma desregulao eosinoflica gentica hereditria, que predispe o desenvolvimento
dessas leses. Nesse estudo, entretanto, tambm foi reportado que as leses podiam regredir e
recidir, com exacerbao na primavera e vero, sugerindo a presena de um desencadeador
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ambiental no identificado. Com dois a trs anos de idade, esses gatos se tornaram
assintomticos. Assim, se o GE e a UI ocorrem em gatos novos, existe a possibilidade (talvez
pequena), de uma base hereditria e o gato pode superar a doena ao longo do tempo. No
tem como prever quais gatos iro se tornar assintomticos e quais iro continuar tento
sintomas, por isso melhor abordar cada caso como sendo uma doena que continuar
trazendo problemas e existe uma causa primria de hipersensibilidade que ainda no foi
descoberta e tratvel (BLOOM, 2006).
Um estudo de 19 gatos com leses de CGE revelou que 68% tinham anticorpos
circulantes contra epitlio normal de gatos. Isso poderia sugerir que o CGE tem uma
patogenia autoimune. Entretanto, os auto-anticorpos podem tambm ser secundrios ao dano
epitelial (GELBERG et al., 1985). Tambm foi sugerido que alguns granulomas eosinoflicos
que afetam a cavidade oral so decorrentes de partes de insetos encravados (SCOTT et al.,
2001), mas esta no uma caracterstica histolgica comumente reconhecida (BUCKLEY et
al., 2012).
Outros relatos sugerem que agentes infecciosos esto envolvidos na etiologia do CGE.
As evidncias incluem identificao histolgica e citolgica de bactrias de placas
eosinoflicas, lceras indolentes e granulomas eosinoflicos. Porm leses de CGE predispe
o tecido a colonizao bacteriana e infeco, e provvel que o papel da bactria seja
secundrio. Mesmo assim, importante fazer citologia em todos os casos e quando
necessrio, cultura bacteriana e teste de sensibilidade a antimicrobianos (BUCKLEY et al.,
2012). Os microrganismos mais comumente isolados das leses incluem as espcies
Staphylococcus coagulase-positivos, Streptococcus -hemolticos, Pasteurella spp.,
Corynebacterium spp., Pseudomonas aeruginosa e Neisseria spp., (WILDERMUTH et al.,
2011). A incapacidade de auto-transmisso das placas eosinoflicas diferentes localizaes
no corpo em 5 gatos levou um estudo a concluir que essas leses no so transmissveis e no
so causadas por um agente infeccioso (MORIELLO et al., 1990).
Similaridades clnicas e histolgicas entre CGE e dermatoses felinas virais tm gerado
suspeitas de uma etiologia com fundo viral, entretanto, estudos recentes mostraram que o
Herpesvirus Felino-1 (FHV-1) raro em leses de CGE (LEE et al., 2010), onde foi
identificada a presena do vrus em dois de 30 gatos (6,6%), atravs de imunohistoqumica e
achados de incluses intranucleares em biopsias das leses.
Outro estudo (MORIELLO, 2003) reportou que infeco por Microsporum canis pode
ser responsvel por lceras nos lbios. Isso mostra como uma grande variedade de antgenos
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17
pode estimular uma reao no especfica de dermatite eosinoflica em gatos. A tabela 1 cita
os possveis desencadeadores etiolgicos do CGE.
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18
Tabela 1. Possveis gatilhos etiolgicos para o CGE.
Reao de Hipersensibilidade
- Alrgeno ambiental (dermatite atpica)
- Autoalrgeno
- Alrgeno alimentar (hipersensibilidade alimentar)
- Alergia a insetos
* Pulgas (hipersensibilidade a picada de pulga)
* Mosquitos (hipersensibilidade a picada de mosquito)
Doenas Infecciosas
- Viral
* Herpervirus felino 1 (FHV-1)
* Vrus da imunodeficincia felina (FIV)
* Vrus da leucemia felina (FeLV)
- Bacteriana
- Fngica
* Dermatofitose
- Parasitolgica
* Sarna otodcica
* Sarna notodrica
* Demodicose (Demodex gatoi)
Reao a corpos estranhos
- Exgenos
* Partes de insetos encravados
- Endgenos
* Queratina (hair shafts)
Gentica
- Desregulao eosinoflica hereditria
Idioptica
- Quando outras etiologias foram descartadas.
Fonte: BUCKLEY et al., 2012, p. 472.
-
19
2.5 Apresentao clnica
O CGE felino apresenta-se como uma srie de diferentes leses clnicas, que podem
ser encontradas em diferentes regies anatmicas, podem apresentar aspectos, graus de
prurido e dor variados, embora suas caractersticas histolgicas possam ser similares.
(BUCKLEY et al., 2012).
As leses tradicionalmente includas no CGE so a lcera indolente (UI), placa
eosinoflica (PE) e granuloma eosinoflico (GE). Todas as trs apresentaes clnicas podem
ser observadas em um nico paciente (FOSTER, 2003). Foster (2003) inclui doenas como a
hipersensibilidade a picada de mosquitos no CGE, mas como uma forma distinta da doena.
Bloom (2006) sugere que a hipersensibilidade a picada de mosquito, assim como o CGE e a
dermatite miliar, entrem como enfermidades componentes das chamadas dermatoses
eosinoflicas em felinos.
A hipersensibilidade a picada de mosquito descrita como uma dermatite prurtica
sazonal (relacionada com o ciclo biolgico do inseto), secundria a picada de mosquitos e
incomum em felinos. Os sintomas incluem dermatite ppulo-crostosa que afeta
principalmente regies menos abundantes em pelos, como a superfcie dorsal do nariz,
pavilho auricular (Figura 1), regio pr-auricular, periorbital, carpo flexor e coxins podais.
Essas leses podem progredir para eroses e estarem associadas despigmentao e edema.
Freqentemente esto presentes linfadenopatia perifrica e eosinofilia. Vrios casos
necessitam tratamento sintomtico com glicocorticides sistmicos, mas o controle da doena
baseia-se em controlar a exposio dos gatos aos mosquitos (FOSTER, 2003; BLOOM,
2006).
-
20
Figura 1. Hipersensibilidade a picada de mosquito.
Alopecia e crostas no pavilho auricular causadas
por picadas de mosquito.
Fonte: HNILICA, 2011
2.5.1 Classificao das leses
2.5.1.1 lcera indolente
As UI so facilmente reconhecidas como lceras distintas, bem demarcadas, unilateral
ou bilateral, que ocorrem principalmente na regio do lbio superior, na juno muco-cutnea,
filtro labial ou adjacente ao(s) dente(s) canino(s) superior(es) e ocasionalmente em outras
regies do corpo (FOSTER, 2003). Inicialmente, as leses surgem na forma de uma eroso
rasa, de colorao rosada. As eroses que evoluem para forma mais severa so bem
demarcadas, de tamanhos variveis, geralmente com crostas na superfcie e bordas elevadas.
Pode ocorre perda de tecidos mais profundos e haver marcado inchao do lbio associado s
leses, porm dor e prurido so raros (BUCKLEY et al., 2012). As leses so midas e
ulcerativas, podendo ocorrer hemorragias associadas localizao da leso no palato duro, as
quais podem passar despercebidas pela deglutio de sangue (SANDOVAL et al., 2005).
Leses extensas podem levar a distores faciais (FOSTER, 2003).
Linfadenopatia regional pode estar presente (BLOOM, 2006). Ao contrrio dos outros
tipos de leses, as UIs so raramente acompanhadas de eosinofilia srica (FOSTER, 2003;
BLOOM 2006). Essas leses podem ser vistas isoladas ou combinadas com dermatite miliar,
PE e GE (o qual pode ser encontrado tambm na cavidade oral). Freqentemente, no h
causa aparente estabelecida para essas leses (FOSTER, 2003).
-
21
Em casos de leses crnicas, deve-se realizar biopsia tecidual para descartar neoplasia,
pois as lceras labiais podem sofrer transformao maligna e virar um carcinoma de clulas
escamosas (MULLER et al., 1996; BLOOM, 2006). Alm de neoplasia, o diagnstico
diferencial inclui leses traumticas (BUCKLEY et al., 2012) e lceras infecciosas de FHV-1,
FCV, FeLV e criptococcus (BLOOM, 2006).
As figuras 2, 3, 4 e 5 mostram apresentaes de lcera indolente em felinos
domsticos.
Figura 2. lcera indolente em um gato com doena de pele
alrgica
Fonte: FOSTER, 2003
Figura 3. lcera indolente em felino. Nota-se perda de tecido
e distoro facial.
Fonte: NIEMIEC, 2008
-
22
Figura 4. lcera indolente, com alopecia e ulcerao do lbio
superior do gato.
Fonte: HNILICA, 2011
Figura 5. lcera indolente. Mesmo gato da figura 4. Nota-se
destruio tecidual e ulcerao do lbio superior.
Fonte: HNILICA, 2011
2.5.1.2 Placa eosinoflica
As leses de PE formam elevaes na pele, bem demarcadas, eritematosas e achatadas
que so geralmente erosivas, ulcerativas, com acentuada alopecia e altamente prurticas
(SCOTT et al., 2001). Essas leses podem apresentar-se isoladas ou mltiplas (BLOOM,
2006) e variar desde uma pequena eroso mal definida a uma grande placa circunscrita
-
23
(SANDOVAL et al., 2005). Devido caracterstica pruriginosa, as leses e pelos adjacentes
permanecem midos devido s lambidas constantes (GRACE, 2004; FOSTER, 2001).
Pode ser encontrada em qualquer localizao do corpo, porm particularmente mais
comum na regio ventral do abdmen, perianal e face medial dos membros plvicos
(BLOOM, 2006). Outras regies comuns incluem as extremidades plvicas, os espaos
interdigitais, regio axilar, tronco dorsal e superfcie articular dos cotovelos (MASON et al.,
2000; BLOOM, 2006). Essas leses podem ocorrer concomitantemente com dermatite miliar
e granuloma eosinoflico no queixo do paciente (FOSTER, 2003).
A PE tende a apresentar-se em gatos jovens, de 2 a 6 anos de idade e considerada
uma manifestao de doena alrgica de pele, pois geralmente acompanha uma eosinofilia
srica (FOSTER, 2003) e um esfregao direto da citologia pode mostrar altos nmeros de
eosinfilos (BLOOM, 2006). Linfadenopatia perifrica est ocasionalmente presente
(BLOOM, 2006; HNILICA, 2011).
O diagnstico diferencial deve excluir neoplasia (carcinoma de clulas escamosas,
linfoma, mastocitoma, adenocarcinoma metasttico mamrio), dermatofitose, cowpox vrus,
doenas virais cutneas, infeco por Mycobacterium spp. e infeco fngica profunda
(BUCKLEY et al., 2012).
As figuras 6, 7, 8 e 9 mostram apresentaes de placas eosinof
Figura 6. Placa eosinoflica em um gato de 3 anos. Leso
altamente pruritica causada por um alrgeno ambiental.
Fonte: BLOOM, 2006
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24
Figura 7. Placa eosinoflica na face medial
do membro plvico associada com alergia
picada de pulga. Nota-se que o pelo est
mido com saliva do paciente devido ao
intenso prurido.
Fonte: FOSTER, 2003
Figura 8. Placa eosinoflica, altamente pruritica, secundria
a dermatite atpica.
Fonte: FRIBERG, 2006
-
25
Figura 9. Placa eosinoflica no abdmen de um gato alrgico.
Fonte: HNILICA, 2011
2.5.1.3 Granuloma eosinoflico
Leses de GE podem ocorrer em qualquer local do corpo, incluindo a cavidade oral.
Locais tpicos incluem o lbio inferior, lngua, palato duro, arcos palatnicos, face caudal dos
membros plvicos, face medial dos membros torcicos e coxins podais. Prurido no uma
caracterstica consistente em todos os casos (FOSTER, 2003), alguns autores citam que o GE
no causa prurido (BLOOM, 2006).
As leses podem ser agrupadas ou singulares, nodulares, lineares ou papilomatosas,
nas quais ulceraes e exsudaes so comuns, onde se observam pequenas colees de
material branco-amarelado no centro, que correspondem ao foco de degranulao eosinoflica
(POWER et al., 1995; LEE GROSS, et al. 2005). Usualmente so bem demarcadas, firmes,
eritematosas, elevadas e alopcicas. A forma nodular mais comumente encontrada na
cavidade oral e no queixo (BLOOM, 2006). A enfermidade na cavidade oral pode estar
associada com halitose, anorexia, disfagia e hipersalivao. muito importante examinar o
tecido sublingual quando realizado o exame da boca, porque carcinomas podem estar
presentar e geralmente possuem prognstico desfavorvel (FOSTER, 2003).
As leses tm orientao linear quando associadas a traumas provenientes de
escovao excessiva e tambm so relatadas leses no queixo e lbio inferior que costumam
surgir e ter resoluo espontnea (FOSTER, 2003). Leses ulcerativas orais, especialmente no
palato duro, podem ser hemorrgicas. Essa forma pode ser severa e em alguns casos pode
exigir interveno cirrgica (BAILEY et al., 2007; CORGOZINHO et al., 2007).
-
26
O GE geralmente associado eosinofilia srica e linfadenopatia regional pode estar
presente (HNILICA, 2011). No foram relatadas predisposies raciais, de idade ou de sexo.
Gatos com menos de 2 anos de idade podem apresentar resoluo espontnea (FOSTER,
2003).
Os diagnsticos diferenciais incluem neoplasia, especialmente carcinoma de clulas
escamosas localizado na boca, linfoma e mastocitoma, dermatofitose, cowpx vrus, doenas
virais de pele, infeco por Mycobacterium spp., abscessos, furunculose, reao a corpos
estranhos, infeco fngica profunda e granuloma estril. (FOSTER, 2003; BUCKLEY et al.,
2012).
As figuras 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 16 mostram apresentaoes de granuloma
eosinoflico em felinos domsticos.
A tabela 2 cita as principais diferenas entre as apresentaes clnicas do CGE em
felinos.
Figura 10. Granuloma eosinoflico em coxim podal. Estgio
inicial de um GE em coxim, com leso exsudativa,
edemaciada e eritematosa.
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27
Figura 11. Granuloma eosinoflico em coxim podal. Mesmo
gato da figura 10. Leso exsudativa, edemaciada e
eritematosa.
Figura 12. Granuloma eosinoflico no queixo. Mesmo
paciente das figuras 10 e 11. Estgio inicial de granuloma
eosinoflico no queixo de um felino, nota-se leso
edemaciada e eritematosa
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28
Figura 13. Leso nasal de granuloma
eosinoflico associada a hipersensibilidade a
picada de mosquito.
Fonte: FOSTER, 2003
Figura 14. Granuloma eosinoflico
na face caudal do membro plvico,
com alopecia linear e eritema.
Fonte: HNILICA, 2011
Figura 15. Granuloma eosinoflico em estgio avanado na
lngua de um gato com dificuldade de deglutio. Foi necessria
interveno cirrgica e medicamentosa para reduo da leso.
Fonte: HNILICA, 2011
-
29
Figura 16. Granuloma eosinoflico em cavidade oral
causado por dermatite alrgica a pulga.
Fonte: HNILICA, 2011
Tabela 2. Principais diferenas entre as apresentaes clnicas do CGE em felinos.
Leso Regies comuns Dor e/ou Prurido Linfadenopatia Eosinofilia
UI Lbio superior Raro Ocasional Raro
Filtro labial
PE Abdmen Frequente Ocasional Frequente
Perianal
Face medial dos MPs
GE Lbio inferior Variado Ocasional Frequente
Queixo
Cavidade oral
Face caudal dos MPs
Face medial dos MPs
Coxins
-
30
2.5.2 Caractersticas histopatolgicas
O exame histopatolgico essencial para confirmar o CGE ou descartar outras
doenas, como neoplasias e infeces, pois o tratamento e o prognstico para essas doenas
podem ser drasticamente diferentes (BLOOM, 2006). Os achados histopatolgicos das trs
leses do CGE podem ser confusos, porque mesmo que cada uma dessas classificaes tenha
caractersticas histolgicas tpicas, todas as formas podem ser observadas no mesmo gato ao
mesmo tempo (MASON et al., 2000). Apesar da aparncia histopatolgica distinta,
caractersticas patolgicas compatveis com duas ou mais alteraes do CGE podem ser
observadas simultaneamente nas biopsias de pele felina (FONDATI et al., 2001) , portanto
melhor pensar nas alteraes histopatolgicas associadas ao CGE como um padro de reaes
e no um diagnstico especfico (BLOOM, 2006).
O CGE felino caracterizado histopatologicamente por um intenso infiltrado
eosinoflico na derme (Figura 17), acompanhado de depsito de detritos granulares amorfos,
que na colorao com hematoxilina e eosina (H&E), parecem intermedirios entre
eosinoflicos para basoflicos (FONDATI et al., 2001). No estudo histolgico de Bardagi
(2003), onde foram realizados exames microscpicos de vrias leses do CGE, todos os casos
apresentaram infiltrado eosinoflico intersticial difuso na derme, com formao das chamadas
imagens em chamas (Figura 18), termo utilizado para descrever agregados de material
necrtico referentes massiva degranulao de eosinfilos, fibras de colgeno parcialmente
rompidas e edema. Anteriormente a esse estudo, acreditava-se que as imagens em chamas
eram compostas por fibrilas de colgeno danificadas e que essas tinham papel na patognese,
atravs da colagenlise ou degenerao do colgeno, porm foi comprovado que as fibrilas de
colgeno mantm sua estrutura e no so danificadas, portanto no tem papel ativo na
patognese do CGE (BARDAGI et al., 2003).
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31
Figura 17. Histopatologia de um placa eosinoflica.
Nota-se severo e difuso infiltrado eosinoflico e de
mastcitos na derme. Colorao H&E; 100x.
Fonte: BUCKLEY et al., 2012
Figura 18. Histopatologia com detritos eosinoflicos
granulares acumulados ao longo das imagens em chamas.
Infiltrado inflamatrio predominantemente eosinoflico e
macrfago.
Fonte: FONDATI et al., 2001
Na UI, achados histolgicos incluem dermatite ulcerativa, hiperplsica, fibrosante,
perivascular superficial, com neutrfilos, clulas mononucleadas e infiltrado eosinoflico
difuso (FONDATI et al., 2001). As leses variam em funo do estgio, uma lcera recente,
de 48 a 96 horas, caracteriza-se por um infiltrado celular basicamente de eosinfilos, enquanto
-
32
que lceras com evoluo de trs dias a trs semanas mostram maior quantidade de imagens
em chamas. Nas lceras crnicas ocorre um predomnio de infiltrado mononuclear e
polimorfonuclear, fibrose drmica e, mais raramente, um infiltrado eosinoflico (MASON et
al., 2000).
Na PE, os fatores proeminentes incluem severa acantose folicular e da epiderme,
proeminente exocitose e espongiose eosinoflica, com possvel formao de pstulas
vesiculares eosinoflicas. Em casos de trauma, haver eroses e ulceraes da epiderme
(Figura 19). A derme apresentar infiltrado perivascular difuso de eosinfilos (FONDATI et
al., 2001). Pode ocorrer, concomitantemente, mucinose folicular e da epiderme (FOSTER,
2003).
Figura 19. Histopatologia de uma placa
eosinoflica. Nota-se ulcerao com uma camada
delgada superficial de exsudato inflamatrio,
onde encontra-se um grande numero de bactrias.
Colorao H&E; Aumento de 100x.
Fonte: BUCKLEY et al., 2012
Microscopicamente, o GE caracteriza-se por um granuloma nodular ou difuso, onde os
infiltrados drmicos variam de predominantemente eosinoflicos para linfocticos e
histiocticos (FONDATI et al., 2001). A derme apresenta degranulao eosinoflica profunda
(constituindo as imagens em chamas), macrfagos em paliada, clulas gigantes e formao
granulomatosa (FOSTER, 2003). Tambm podem estar presentes mucinose da epiderme e da
raiz do folculo, furunculose eosinoflica focal, paniculite eosinoflica focal (MULLER et
al.,1996) e ulcerao da epiderme (FONDATI et al., 2001).
-
33
2.6 Diagnstico
A investigao diagnstica deve focar na confirmao da presena de uma leso de
CGE e na investigao da causa primria. Pode ser necessrio iniciar um tratamento para
amenizar dor e/ou prurido das leses antes que se tenha estabelecido o diagnstico definitivo
da causa primria, mas muito importante buscar esse diagnstico, principalmente em casos
recorrentes (BUCKLEY et al., 2012). Para Bloom (2006), os dados mnimos que devem ser
coletados em um paciente com sinais clnicos consistentes com CGE incluem um raspado de
pele, escovao com pente fino, fita dupla face de acetato, exame com lmpada de Wood,
cultura fngica e se as leses parecerem atpicas ou no responderem a terapia, biopsia de
pele e exame histopatolgicos devem ser realizados.
O raspado de pele superficial e profundo realizado para descartar demodicose, a
escovao com pente fino de todo o pelo do animal e a preparao com fita dupla face
descartam a presena de ectoparasitas (BLOOM, 2006). A investigao com lmpada de
Wood e cultura fngica visam principalmente descartar dermatofitose felina, conhecido como
o grande imitador e geralmente deve ser descartada em todos os casos dermatolgicos.
Apenas a lmpada de Wood pode no ser suficiente, pois apenas 30% a 80% das cepas de M.
canis (dermatfito mais comum em felinos) fluorescem. Alm disso, exitem outras causas
para a fluorescncia, como escamaes, medicamentos e bactrias (Pseudomonas). A lmpada
de Wood til para escolher o local ideal para a coleta de pelos para cultura fngica
(BLOOM, 2006). A figura 20 esquematiza o processo para a investigao do diagnstico do
CGE.
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34
Figura 20. Processo para investigao do diagnstico do CGE em felinos.
Fonte: BUCKLEY et al, 2012
2.6.1 Diagnsticos das leses de CGE
O diagnstico das leses de CGE pode ser feito atravs do histrico (incluindo a
resposta a terapias anteriores), exame clnico, citologia e histopatologia. Sinais clnicos
compatveis e a demonstrao citolgica de grande nmero de eosinfilos (Figura 21) so
altamente sugestivos (BUCKLEY et al., 2012), porm para alguns autores, o exame citolgico
das leses tem pouco valor (BLOOM, 2006).
A figura 22 demonstra a citologia de uma placa eosinoflica infectada, mostrando
neutrfilos com fagocitose de bactrias cocides intracitoplasmticas.
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Figura 21. Citologia mostrando neutrfilos,
macrfagos e numerosos eosinfilos de um
gato com granuloma eosinoflico. Colorao
Rapi-Diff II; Aumento de 1000x
Fonte: BUCKLEY et al., 2012
Figura 22. Citologia de uma placa
eosinoflica infectada, mostrando
neutrfilos com fagocitose de bactrias
cocides intracitoplasmticas
Fonte: BUCKLEY et al., 2012
A histopatologia alm de confirmar as leses de CGE, uma ferramenta importante
para descartar diagnsticos diferenciais, principalmente doenas virais e neoplasias. Bipsias
podem ser realizadas com sedao e anestesia local ou com anestesia geral. O ideal realizar
a biopsia de cada leso, usando amostras de seis milmetros, separadas individualmente em
potes com formalina, acompanhados do histrico. Em casos onde a sutura da leso pode ser
um problema, uma amostra de quatro milmetros pode servir (BUCKLEY et al., 2012). As
caractersticas histopatolgicas de cada leso do CGE foram descritas anteriormente no texto,
porm a diferenciao entre elas improvvel que altere a teraputica (BLOOM, 2006).
2.6.2 Diagnstico da causa primria
Como o CGE est geralmente associado com reao de hipersensibilidade, deve-se
fazer um diagnstico voltado para doenas alrgicas (BLOOM, 2006). O primeiro passo deve
ser a certificao de que os gatos estejam livres de pulgas. Eles devem receber teraputica
com adulticida tpico, como fipronil, imidacloprid, selamectina e moxidectina, administrado
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36
duas vezes por semana durante 30 dias e depois mensalmente por mais dois meses (BLOOM,
2006). O imidacloprid um excelente inseticida, porm possui a limitao de no ser
acaricida, o qual tambm interessante ser descartado.
Alm dos gatos afetados, todos os outros eventuais animais (outros gatos, ces,
roedores, etc.) em contato com o paciente devem ser tratados com um desses produtos,
mensalmente por pelo menos trs meses. O ambiente tambm deve ser adequadamente
tratado, fontes potenciais de contaminao incluem a casa, dependncias e carros, os quais
devem ser aspirados e tratados combinando um adulticida ambiental e regulador de
crescimento de insetos (BUCKLEY et al., 2012). Enquanto se espera a resposta do tratamento
inseticida, o uso de prednisolona oral durante 21 dias pode ser feito para aliviar os sintomas
(BLOOM, 2006). Se for observada resposta a terapia, a hipersensibilidade a picada de pulga
pode ser o desencadeador das leses do CGE, mas tambm outro alrgeno ambiental sazonal
pode ter sido a causa (BLOOM, 2006), portanto, o histrico do perodo de apresentao das
leses deve ser bem investigado.
O tratamento de triagem para ectoparasitas, no ajuda na investigao da
hipersensibilidade a mosquitos, pois nenhum dos produtos repelentes efetivos contra
mosquitos so seguros para gatos. Esse diagnstico geralmente presuntivo e quando
suspeito, os gatos devem ser mantidos dentro de casa para prevenir contato com mosquitos
(BUCKLEY et al., 2012).
Se os testes de triagem contra ectoparasitas no tiverem sucesso em controlar as
leses, deve-se investigar hipersensibilidade alimentar (principalmente se os sintomas no so
sazonais) e/ou atopia. A hipersensibilidade alimentar deve ser investigada com uma dieta de
eliminao durante 12 semanas (BLOOM, 2006), pois diferentemente das dietas de
eliminao dos ces, os gatos necessitam de tempo prolongado devido presena de fatores
liberadores de histamina, um grupo heterognio de citocinas geradas por exposio crnica a
antgenos, que podem causar a liberao de histamina mesmo na ausncia desse antgeno e
essas liberaes podem continuar por semanas depois da remoo do antgeno (SCOTT et al.,
2001). Acredita-se que a melhor maneira de realizar essa dieta, com preparo de dieta
caseira, com a introduo de uma nova protena (BLOOM, 2006), mas tambm existem
opes de uma nova dieta protica comercial ou hipoalergnica hidrolisada comercial
(BUCKLEY et al., 2006).
O diagnstico da hipersensibilidade alimentar baseado na resoluo dos sinais
clnicos com a alimentao nova de triagem e na recorrncia desses com o desafio da
reintroduo da dieta usual do gato. Os problemas com triagens alimentares incluem gatos
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37
que tem acesso rua, e consequentemente consomem outros alimentos, palatabilidade e risco
de lipidose heptica se o paciente deixar de comer por muito tempo. Na prtica, muitas
triagens alimentares so abandonadas precocemente (BUCKLEY et al., 2006). Assim como
na triagem contra ectoparasitas, pode ser necessrio a administrao de prednisolona oral para
amenizar leses.
Nos casos onde outras doenas primrias, principalmente ectoparasitas e
hipersensibilidade alimentar foram excludas, o diagnstico mais provvel a dermatite
atpica. O diagnstico de atopia pode ser investigado com testes intradrmicos e/ou
sorolgicos, com ttulos positivos de IgE. J foi estabelecido que existe uma correlao
parcial entre testes sorolgicos e intradrmicos, porm a significncia dos resultados no
totalmente entendida (TAGLINGER et al., 2005). Alguns estudos mostram pouca correlao
entre os dois testes, mas vale lembrar que o teste sorolgico titula a IgE alrgeno-especfica
circulante, enquanto que os testes cutneos refletem a IgE ligada a mastcitos na derme.
DeBoer et al. (2001) e Taglinger et al. (2005) sugeriram que ttulos de IgE alrgeno-
especfico podem ser produzidos sem necessariamente trazer significncia clnica, pois foi
observado em alguns gatos saudveis.
O teste intradrmico (Figura 23) ainda usado como padro-ouro para demonstrar
hipersensibilidade alrgeno-especfica e consequentemente dermatite atpica em ces
(DEBOER et al., 2001). Em gatos existe uma maior dificuldade devido a pele ser mais
delgada nessa espcie, o que exige injees mais precisas (TAGLINGER et al., 2005). O teste
tambm usado com o objetivo de realizar a imunoterapia alrgeno-especfica (ASIT) uma
vez que o diagnstico j foi estabelecido (BLOOM, 2006). As reaes alrgicas no-sazonais
mais comuns so atribudas aos caros nas poeiras, mas outros alrgenos como mofo, grama,
rvores e plen tambm podem estar associados s reaes de hipersensibilidade em felinos
(TAGLINGER et al., 2005). Todos os outros alrgenos no testados em testes intradrmicos,
no podem ser descartados como desencadeadores de reaes alrgicas.
Gatos que apresentam leses de CGE devem ficar sistematicamente melhores, e
aqueles apresentando sinais de doena sistmica, devem ser investigados apropriadamente
para outros problemas. Exame hematolgico quando feito em gatos com leses de CGE, pode
revelar eosinofilia, embora isso no feche diagnstico, j que esse parmetro varia bastante
entre gatos e diferentes leses de CGE. Exame bioqumico e urinlise so usualmente sem
alteraes. Uma linfadenopatia perifrica pode estar associada com leses de CGE. Sorologia
para FIV, FeLV e Toxoplasma spp. podem ser consideradas antes de iniciar o tratamento com
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38
drogas imunomoduladoras. A presena de corpos estranhos endgenos ou exgenos pode ser
vista na histologia, embora raro (BUCKLEY et al., 2012)
Figura 23. Teste alrgico intradrmico em gato atpico.
Nota-se vrias reaes positivas sutis, o que tpico em
testes alrgicos em gatos.
Fonte: HNILICA, 2011
Figura 24. Teste alrgico intradrmico em gato atpico.
Aproximao do teste intradrmico da figura XXX.
Reaes positivas aparecem como mculas eritematosas.
Fonte: HNILICA, 2011
2.7 Tratamento
Existem muitos casos onde no se consegue fechar o diagnstico definitivo da causa
primria devido indisponibilidade dos proprietrios para prosseguir com as investigaes,
ou porque os gatos no colaboram com as dietas de eliminao. Ento resta para o clnico a
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39
resoluo do problema com terapia anti-inflamatria, onde a principal ainda com
glicocorticoides (FOSTER, 2003). Mesmo que uma causa primria tenha sido estabelecida, s
vezes necessrio fazer o tratamento sintomtico para alvio dos sintomas. Bloom (2006)
acrescenta que os tratamentos propostos a seguir podem ser realizados concomitantemente
com a ASIT nos casos de atopia.
Leses isoladas e pequenas muitas vezes podem regredir sozinhas, sem a necessidade
de tratamento. A abordagem clnica para leses depender da extenso das mesmas. Em gatos
jovens, com leses pequenas e sem sinais de prurido ou doena de pele alrgica, pode ser
prudente deixar as leses regredirem sem tratamento. Geralmente as formas de leses mais
difceis de tratar so aquelas localizadas na cavidade oral, essas podem necessitar de reduo
cirrgica e altas doses de glicocorticoides apenas para controlar a doena. (FOSTER, 2003).
2.7.1 Glicocorticoides
As leses do CGE geralmente mostram uma boa resposta ao tratamento com
glicocorticoides sistmicos (BUCKLEY et al., 2012), entretanto, algumas exigem dosagens
altas (FOSTER, 2003) e podem ser refratrias ao tratamento. Quando possvel, prefervel
evitar o uso de corticosterides de depsito, devida impossibilidade de retirar o tratamento
se efeitos adversos ocorrem e da mesma forma a impossibilidade de aumentar a dose caso a
resposta insuficiente (BUCKLEY et al., 2012). A maioria dos autores concorda que o
tratamento oral com prednisolona deve ser a primeira escolha entre os glicocorticides
(FOSTER, 2003; BLOOM, 2006; HNILICA, 2011; BUCKLEY et al, 2012;).
O tratamento inicial de prednisolona oral com doses de 1,0 a 2,0 mg/kg a cada 24
horas pode ser efetivo, mas em alguns casos doses maiores de 4,0 mg/kg a cada 24 horas pode
ser necessrio (BUCKLEY et al., 2012). Alguns autores recomendam doses iniciais de 1,0 a
2,0 mg/kg a cada 12 horas (BLOOM, 2006). A prednisolona encontrada na forma lquida ou
em comprimidos. As leses devem ser reavaliadas aps sete a 14 dias e as doses dirias
devem ser reduzidas gradualmente ou com terapia em dias alternados (BUCKLEY et al.,
2012). O objetivo manter o gato com a menor freqncia de dias alternados e com a menor
dose que controle a recidiva das leses. Se for necessria a administrao de glicocorticoides
a longo-prazo, recomendada somente a cada trs dias, para haver menos supresso do eixo
pituitrio-adrenal (BLOOM, 2006).
A prednisolona prefervel a prednisona, pois gatos tm absoro e metabolizao da
forma ativa imprevisveis da prednisona (BLOOM, 2006). Outra opo a soluo de
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40
dexametasona, que pode ser dada via oral inicialmente com dose de 0,1 a 0,2 mg/kg a cada 24
horas e com dose de manuteno de 0,05 a 0,1 mg/kg a cada 72 horas (FOSTER, 2003). Um
estudo comparando o uso de prednisolona e dexametasona sugeriu que a dexametasona exibe
maiores efeitos diabetognicos do que doses equivalentes de prednisolona (LOWE et al.,
2009).
O acetato de metilprednisolona um corticosteride de depsito, seus efeitos
geralmente duram em mdia 14 dias e uma alternativa em casos onde a prednisolona oral
no pode ser administrada ou o proprietrio est tendo dificuldade com a administrao oral.
recomendada a dose de 5,0 mg/kg e para leses severas, podem ser aplicadas injees duas
a trs vezes com um intervalo de duas semanas (BLOOM, 2006). Como citado anteriormente,
no deve ser a terapia de eleio. Efeitos colaterais do uso prolongado de glicocorticoides
incluem polidipsia, polifagia, variaes de peso, diabetes mellitus, infeco do trato urinrio,
hiperadrenocorticismo iatrognico, insuficincia cardaca congestiva, lceras gstricas,
demodicidose, dermatofitose e sndrome da fragilidade cutnea felina (FOSTER, 2003;
BLOOM, 2006). J foram identificados efeitos cardacos em 11% dos gatos em um grupo
tratado por longos perodos, bem como outros efeitos conhecidos (HNILICA, 2011). Se
nenhuma resposta vista, terapia adicional deve ser considerada para evitar o uso excessivo
de glicocorticides ou, maiores investigaes devem ser feitas (BUCKLEY et al., 2012).
O acetato de hidrocortisona (HCA) um no halogenado duplo ster, licenciado para
uso tpico em ces, com apresentao em spray a 0,0584%. Diferentemente dos
glicocorticides tpicos convencionais, o HCA metabolizado dentro da pele em uma forma
inativa, o que permite manter o potencial local sem riscos de efeitos sistmicos (BUCKLEY
et al., 2012). Um estudo recente avaliou a eficcia da aplicao diria ou em dias alternados
do HCA spray em 10 gatos com suspeita de doenas alrgicas (SCHMIDT et al., 2012). Sete
desses gatos apresentavam placas eosinoflicas, e o restante apresentava combinaes de
dermatite miliar e alopecia simtrica. Obtiveram melhora altamente significante tanto das
leses clnicas quanto do grau de prurido em um perodo de 56 dias do estudo. A facilidade da
aplicao do spray aumentou significativamente com o tempo, como relatado pelos
proprietrios, os quais tambm avaliaram a droga com eficcia boa ou excelente. A reposta ao
tratamento foi rpida, a maioria das melhoras clnicas foram vistas em at 14 dias e nenhum
efeito colateral foi reportado.
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41
2.7.2 Antimicrobianos
As leses no CGE so freqentemente erosivas ou ulceradas e a suscetibilidade a
infeces bacterianas secundrias alta. O estudo de Wildermuth et al. (2011) avaliou os
microrganismos bacterianos presentes em leses de placas eosinoflicas e lceras indolentes e
a resposta terapia antimicrobiana com amoxicilina-clavulanato de potssio. Bactrias
intracelulares estavam presentes em todas as leses no exame citolgico e foram
demonstradas no exame histopatolgico em 12 de 14 casos (85,7%). As bactrias mais
comumente isoladas das leses foram Staphylococcus coagulase-positiva, Pseudomonas spp e
Pasteurella spp. No teste de suscetibilidade a antimicrobianos, a resistncia amoxicilina-
clavulanato foi infrequente, fazendo dela uma escolha apropriada para tratar a grande maioria
das infeces bacterianas nas leses. Apenas o tratamento com amoxicilina-clavulanato dos
gatos com placas eosinoflicas, levou a reduo significativa do tamanho das leses e do
percentual de bactrias no campo microscpico, indicando que o antimicrobiano trata
efetivamente a infeco bacteriana secundria das PEs, levando a melhora clnica. Em
contraste, o mesmo tratamento no reduziu o tamanho das leses de UIs e apesar de reduzir o
percentual de bactrias nos campos microscpicos, apenas dois gatos tiverem melhora com
reduo do tamanho das leses.
No estudo de Wildermuth et al. (2011), as PEs foram tratadas com doses de 13,4
mg/kg a cada 12 horas durante 21 dias. Os autores recomendam continuar o tratamento por
mais dias nos casos que mostraram melhora clnica, at o desaparecimento das leses. As UIs
foram tratadas com 13,5 ou 14,1 mg/kg a cada 12 horas. Os gatos tratados com a maior dose
foram os que apresentaram alguma melhora, portanto, os autores sugerem que nos casos de UI
talvez seja necessrio o tratamento com doses mais elevadas das sugeridas pelo fabricante
e/ou por mais tempo. Ele sugere 20 mg/kg a cada 12 horas, o que j foi sugerido em um
estudo para tratamento de pioderma felina/foliculite bacteriana (SOUSA, 1995).
Bloom (2006) e Hnilica (2011) sugerem outros antimicrobianos para o tratamento de
suporte no CGE, alm de dosagem mais alta de amoxicilina-clavulanato (Tabela 3). Sugerem
tambm, que o tratamento seja realizado de quatro a seis semanas.
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42
Tabela 3. Terapias antimicrobianas sistmicas recomendadas para o tratamento de suporte no
CGE.
Frmaco - princpio ativo Dose Frequncia
Amoxicilina com clavulanato 13,5 a 22,0 mg/kg BID
Cefpodoxima proxetil * 5,0 mg/kg SID
Cefalexina 22,0 a 30,0 mg/kg BID
Cefadroxila 10,0 a 20,0 mg/kg BID
Clindamicina** 5,0 a 10,0 mg/kg BID
Sulfa-trimetoprim 125 mg BID
Doxiciclina 5,0 a 10,0 mg/kg BID
* no aprovado para gatos
** cuidar com irritao esofgica, que pode levar a estenose esofgica em gatos
Fonte: BLOOM, 2006; HNILICA, 2011
2.7.3 Ciclosporina
A ciclosporina um inibidor da calcineurina que exerce efeito imunomodulador, entre
outras aes, via supresso da funo de linfcitos T. Atualmente est disponvel em cpsulas
(Atopica), licenciada para uso em ces e uma forma lquida foi recentemente licenciada para
o uso em gatos a 7,0 mg/kg a cada 24 horas. Estudos mostram que a ciclosporina bastante
efetiva no tratamento de CGE em felinos em doses entre 3,6 a 13,3 mg/kg a cada 24 horas
(RETORNARD et al., 2013). A ciclosporina a 5,0 mg/kg a cada 24 horas tem mostrado ser
to efetiva quanto prednisolona (a 1,0 mg/kg) em doenas alrgicas felinas (WISSELINK et
al., 2009). Assim como para ces, tratamento uma vez ao dia deve ser contnuo por quatro
semanas e se tiver boa resposta, o tratamento pode ser diminudo para dias alternados e depois
por duas vezes semanais. Gatos que apresentam recidiva com a terapia de dias alternados
podem voltar ao tratamento dirio com reduo de dose ao mnimo para controlar as recidivas
as leses (BUCKLEY et al., 2012). Nas doses usadas para o tratamento de CGE em felinos, a
ciclosporina bem tolerada pela maioria dos gatos (SCHMIDT et al., 2012), o principal efeito
adverso limitado a leves distrbios gastrointestinais, especialmente vmitos (WISSELINK
et al., 2009).
-
43
Para minimizar os vmitos e outros efeitos colaterais, Bloom (2006) sugere o seguinte
protocolo para gatos adultos: administrar 10,0 mg de ciclosporina a cada 24 horas por quatro
dias, 20,0 mg a cada 24 horas por quatro dias e ento 30,0 mg a cada 24 horas por 45 dias.
Nos primeiros dez dias, administrar cloridrato de metoclopramida (2,5 a 5,0 mg) 30 minutos
antes da ciclosporina. Nos primeiros 14 dias, a ciclosporina deve ser administrada junto com a
refeio, depois disso, ela administrada duas horas antes das refeies.
Alguns estudos sugeriram uma relao entre tratamento com ciclosporina e
toxoplasmose (BARRS et al., 2006) e neoplasias (WOOLDRIDGE et al., 2002). Nos casos
citados de neoplasia, entretanto, todos ocorreram devido imunossupresso pela combinao
de ciclosporina e prednisolona que precedeu transplante renal. O tratamento concomitante de
prednisolona e ciclosporina pode tambm aumentar o risco de toxoplasmose. Na experincia
dos autores Buckley et al. (2012), prednisolona e ciclosporina so potentes imunossupressores
quando combinados, e devem ser usados com muito cuidado. Outros efeitos adversos pouco
comuns so a hipersalivao, hiperatividade, anorexia e hiperplasia gengival (WISSELINK et
al., 2009). Com as doses usadas no tratamento do CGE felino, entretanto, os riscos parecem
ser bem pequenos. (SCHMIDT et al., 2012)
A toxoplasmose aparenta ser rara nas doses recomendadas de ciclosporina (7,0 a
7,5mg/kg ou menos), mas podem ser mais preocupante em doses elevadas. O monitoramento
das concentraes sricas de ciclosporina deve ser considerado em gatos recebendo doses
acima da recomendada. Gatos negativos para toxoplasma podem ter um risco um pouco maior
de desenvolver toxoplasmose com o tratamento com ciclosporina. Medidas preventivas
incluem evitar ingesto de carne crua, manter gatos dentro de casa (se possvel) e utilizao
de coleira com sinos (o que faz a caa ter menos sucesso). Os gatos positivos para
toxoplasma, entretanto, no aparentam ter risco de reaparecimento da doena latente
(BUCKLEY et al., 2012).
A Ciclosporina pode ter diversas interaes medicamentosas. Em particular com
tratamento concomitante com alguns antibiticos (doxiciclina e eritromicina) e antifngicos
(cetoconazol, itraconazol e fluconazol), pois inibem o metabolismo da ciclosporina,
aumentando os nveis plasmticos e o risco de efeitos adversos (FOSTER, 2003).
2.7.4 Clorambucil
O clorambucil um agente alquilante derivado do nitrognio, de ciclo celular no
especfico, classificado como antineoplsico e/ou agente imunossupressor. A sua atividade
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44
citotxica deriva de ligaes cruzadas com o DNA celular (BLOOM, 2006). No licenciado
para o uso em animais, mas pode ser considerado em casos de CGE que so refratrios
terapia com esterides. Est disponvel em comprimidos de 2,0 mg e os comprimidos no
devem ser partidos ou amassados. O Clorambucil geralmente dado concomitantemente com
esterides, com doses equivalentes a 0,1 a 0,2 mg/kg a cada 24 horas ou em terapias semanais
(por ex., um comprimido de 2,0 mg duas a trs vezes por semana). O tratamento deve durar de
quatro a oito semanas para se observar algum efeito. Depois que uma resposta clnica for
observada, a dose de esteride deve primeiro ser reduzida gradualmente e depois disso
diminuir a dose de clorambucil se o caso permanecer em remisso (BUCKLEY et al., 2012).
Efeitos colaterais so infreqentes, mas podem ocorrer vmitos, diarreia, anorexia,
mielossupresso e hepatotoxicidade (BLOOM, 2006). Deve-se realizar um monitoramento
hematolgico a cada duas semanas para acompanhar algum sinal de mielossupresso. Depois
de trs a quatro meses, a hematologia pode ser monitorada a cada trs meses (BUCKLEY et
al., 2012).
2.7.5 Anti-histamnicos
Hnilica (2011) cita que o tratamento com anti-histamnicos pode reduzir a
sintomatologia clnica das leses em 40 a 70% em gatos cuja causa primria dermatite
atpica e o efeito benfico deve ocorrer dentro de duas semanas depois do incio da terapia.
Outros autores (BLOOM, 2006), relatam baixa eficcia dos anti-histamnicos no CGE e
sugerem que esses sejam administrados combinados com suplementao de cidos graxos -3
ou -3/6. A tabela 4 mostra as terapias com anti-histamnicos recomendadas no CGE.
Tabela 4. Anti-histamnicos recomendados no tratamento de suporte no CGE.
Frmaco - princpio ativo Dose Frequncia e durao
Hidroxizina 1,0 a 2,0 mg/kg BID ou TID por 14 dias
Clorfeniramina 0,4 a 0,5 mg/kg BID por 14 dias
Difenidramina* 1,0 a 2,0 mg/kg BID ou TID por 14 dias
Clemastina 0,05 a 0,10 mg/kg BID por 14 dias
Amitriptilina 1,0 a 2,0 mg/kg SID ou BID por 21 dias
Ciproeptadina** 0,5 a 1,0 mg/kg TID por 14 dias
* forma liquida com base alcolica que desagrada a maioria dos gatos
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45
** efeito colateral comum a polifagia e ansiedade com a maior dosagem, ideal aumentar
progressivamente a dose durante cinco a sete dias.
Fonte: BLOOM, 2006, p. 149-150.
2.7.6 cidos Graxos Essenciais
Os cidos graxos essenciais (AGE) so cidos graxos poli-insaturados importantes
componentes da dieta, pois no podem ser sintetizados. So constituintes das membranas
celulares, influenciando suas funes biolgicas e esto envolvidos na formao de
eicosanoides como as prostaglandinas, leucotrienos, tromboxanos e cidos
hidroxieicosatetraenicos. Em diversos testes, gatos com dermatites ppulo-crostosas e
suspeitos de alergia a pulga ou atopia foram tratados com combinaes de leos vegetais e de
peixe. Uma resposta favorvel foi encontrada (FOSTER, 2003). Hnilica (2011) relata que a
suplementao pode controlar o prurido em 20% a 50% dos gatos. Outro estudo sugere que
gatos apresentando CGE tambm respondem a suplementao com AGE. No so relatados
efeitos colaterais da terapia com AGE, apenas vmitos ocasionais. O maior problema est
relacionado com a sua palatabilidade. recomendada a administrao dos AGE na forma de
cpsulas, leos ou spray, junto com a refeio durante quatro a seis semanas para determinar a
resposta benfica. Terapia com AGE pode ser til na tentativa de manter uma resposta
benfica inicialmente alcanada com outras terapias, como glicocorticoides (FOSTER, 2003).
2.7.7 Interferon mega
Relatos anedticos sugerem que injees subcutneas uma ou duas vezes semanais de
2,5 MU de interferon mega pode ser efetivo e bem tolerado em alguns casos de gatos com
leses de CGE. O modo de ao desconhecido, mas provavelmente associado com
atividade imunomoduladora. Mas apenas alguns gatos foram tratados, nenhum estudo clnico
relatou a eficcia e a segurana a longo prazo. Portanto, o interferon mega no deve ser
usado como tratamento de primeira escolha (BUCKLEY et al., 2012).
2.7.8 Prograstgenos
Acetado de Megestrol (Ovarid; Virbac) j foi recomendado para o tratamento de
leses de CGE. Devido ao risco de severos efeitos adversos, incluindo ganho de peso,
diabetes mellitus, supresso adrenocortical, piometra de coto uterino e hiperplasia mamria,
-
46
alm da disponibilidade de drogas mais eficientes e seguras, o megestrol no pode ser
recomendado, a no ser como ltima opo em casos graves e difceis de tratar com outras
drogas (BUCKLEY et al., 2012).
2.7.9 Outros
Outras opes de tratamento que j foram reportadas incluem interferon-, com dose
de 3.000 UI dirias (BUCKLEY et al, 2012), exciso cirrgica, principalmente nas leses
nodulares na lngua e palato que podem dificultar a deglutio, bem como a criocirurgia,
terapia com laser e radiao (FOSTER, 2003). Bloom (2006) citou um anlogo do palmitoil-
etanolamida (Comicronized palmidrol), molcula anti-inflamatria que exerce sua ao
atravs da ligao a receptores canabinides (CB2) nos mastcitos, dessensibilizando a sua
degranulao. recomenda a administrao de 10 mg/kg a cada 12 horas por 30 dias. Foster
(2003) citou o tratamento conhecido como crisoterapia, que a terapia com sais de ouro
(aurotiomalato de sdio), usado em doenas imunomediadas por influenciar varias funes do
sistema imunolgico, porm no existe licenciado ao uso veterinrio. A terapia inicial com
doses semanais de 1,0 mg/kg, atravs de injees intramusculares, as quais podem ser
bastantes doloridas para gatos e pode levar de seis a 12 semanas para ser observada resposta.
Efeitos colaterais da crisoterapia incluem glomerulonefrite, mielossupresso, trombocitopenia
e erupes cutneas, portanto recomenda-se o monitoramento hematolgico a cada duas
semanas.
O benefcio clnico da administrao de polifrmacos deve ser balanceado em relao
tolerncia dos animais e complicaes para o proprietrio, mas uma das maiores vantagens
disso o uso potencial para reduzir doses e portanto reduzir efeitos colaterais nos tratamentos
sistmicos (BUCKLEY et al., 2012)
2.8 Prognstico
O prognstico varivel. Gatos com alergias primrias que so identificadas e
controladas com sucesso tem um bom prognstico. Gatos com leses recorrentes onde
nenhuma causa primria foi identificada, geralmente precisam de terapia a longo prazo para
manter as leses em remisso, conseqentemente, esses gatos tem um prognstico pior, pois
podem se tornar refratrios ou desenvolver efeitos colaterais inaceitveis como resultado da
terapia medicamentosa (HNILICA, 2011).
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47
3 CONCLUSO
O complexo granuloma eosinoflico em felinos compreende um grupo de dermatoses
comuns em gatos, clinicamente bem reconhecidas, mas pobremente entendidas. Em muitos
casos, leses podem ser severas e ter graus variveis de prurido e/ou dor. Alm disso, leses
podem se tornar crnicas e recorrentes. Portanto, importante obter um diagnstico rpido e
preciso, a fim de proporcionar um tratamento adequado, o qual pode ser longo para os gatos
afetados. A autora procurou realizar uma reviso bibliogrfica no que diz respeito
etiopatogenia, apresentaes clnicas, mtodos diagnsticos, alternativas de tratamentos e
prognstico dessa doena.
Ao longo da confeco desse trabalho e da pesquisa empregada para a realizao dessa
reviso, foi percebido que uma das maiores dificuldades chegar ao diagnstico da causa
primria. Mesmo com as apresentaes dermatolgicas mais variadas e em regies
anatmicas diversas, o diagnstico clnico do CGE geralmente acertado, porm a
investigao da potencial etiologia, as indicaes de testes diagnsticos e suas interpretaes
podem ser um desafio para o clnico. A tendncia desses casos serem tratados com
intervenes recorrentes sem antes atingir um diagnstico definitivo, pode complicar a
investigao da causa primria.
muito importante saber conduzir o diagnstico e se ter o conhecimento sobre as
opes de tratamento que podem ser empregadas, principalmente nos casos recorrentes onde
no se conseguiu eliminar a causa primria e as leses se tornam refratrias ao tratamento
convencional com glicocorticoides. Portanto esse trabalho uma contribuio para uma
melhor compreenso do CGE que afeta os felinos domsticos.
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48
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VALENTA, R., SEIBERLER, S., NATTER