Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

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INSTITUTO DE MEDICINA INTEGRAL PROFESSOR FERNANDO FIGUEIRA ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE DO IMIP MARIA CAROLINA LOPES GRANJA MATERIAL DIDÁTICO - Psicologia -

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INSTITUTO DE MEDICINA INTEGRAL PROFESSOR FERNANDO FIGUEIRA

ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE DO IMIP

MARIA CAROLINA LOPES GRANJA

MATERIAL DIDÁTICO

- Psicologia -

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CURSO TÉCNICO EM RADIOLOGIA

DISCIPLINA PSICOLOGIA

CARGA

HORÁRIA 20 h/a

CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM

DISCIPLINA PSICOLOGIA

CARGA

HORÁRIA 40 h/a

Competências e Habilidades

Situar o aluno em relação aos aspectos gerais e conceituais da Psicologia.

Caracterizar alguns processos psicológicos básicos, tais como: a percepção do corpo, da sociedade e da cultura.

Situar o aluno nos conceitos de saúde-doença, diagnostico e tratamento, sob o olhar da Psicologia.

Identificar princípios éticos para um relacionamento saudável com os pacientes e no Exercitar a humanização no trabalho do técnico em radiologia no seu dia a dia.

Conteúdo Programático

I- Psicologia Geral:

­ Estruturalismo ­ Funcionalismo ­ Behaviorismo ­ Gestalt ­ Psicanálise ­ Humanismo

II- Percepção

­ Do Corpo ­ Do Sujeito ­ Da Sociedade e Cultura

III- Teoria Humanista

­ Conceito de Saúde ­ Conceito de Diagnostico e

Tratamento

METODOLOGIA

A metodologia tem como finalidade

subsidiar os processos de desenvolvimento

e de construção das competências

indispensáveis à prática profissional.

A abordagem didática voltada à construção

dos conhecimentos é fundamentada

através de:

Aulas expositivas;

Aulas Práticas em laboratório

técnico;

Exposição de filmes.

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

A verificação da aprendizagem será

contínua e cumulativa no processo ensino-

aprendizagem através de:

• Aplicação de testes;

• Trabalho de grupo;

•Desenvolvimento das

competências e habilidades nas

atividades de laboratório.

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Introdução ao estudante

Após alguma reflexão mais ou menos demorada você escolheu realizar um curso

técnico na área de saúde. E eis que os seus planos começam a se tornar realidade. Nesta fase é

normal ter dúvidas, sentir uma certa preocupação. E a curiosidade faz com que você busque

novas informações e procure descobrir como será a sua realidade profissional.

Quem atua profissionalmente no setor saúde deve estar apto a lidar com pessoas de

todos os tipos, de todas as crenças, com todos os valores morais e com todo tipo de

sofrimento (seja ele de ordem física ou mental). E este sofrimento causado pela doença torna-

se ainda mais intenso em virtude do processo de hospitalização, da distância da família e das

atividades cotidianas, dos seus medos e inseguranças.

Deste modo, é fundamental que você compreenda certos aspectos psicológicos

envolvidos na saúde e no adoecimento, ampliando a visão de que somente o corpo sofre com

a doença (ou de que somente o paciente sofre...). É preciso refletir sobre as relações humanas,

sobre o papel da família e sobre os aspectos motivacionais que lhe ajudarão, futuro

profissional, a conduzir os atendimentos da melhor maneira possível. Nestes casos, a

Psicologia tem muito a contribuir, fornecendo subsídios à compreensão da subjetividade

humana e dos processos de construção de significados.

Além disso, os estudos em Psicologia podem ajudar a se conhecer melhor e a

encontrar novas formas de lidar com a dor e o sofrimento (tanto os seus quanto os dos

pacientes com os quais se encontrará), para que suas práticas reflitam verdadeiramente a

intenção de promover o cuidado, e não a simples adoção de certas medidas técnicas.

Com esta apostila, esperamos que você encontre pelo menos algumas das respostas

que procura no que tange à ciência psicológica, refletindo sempre sobre as implicações

práticas destes pressupostos teóricos. Lembre-se: o aluno que você é hoje diz muito sobre o

profissional que você será em breve. Então, não deixe de buscar, de investigar, de questionar,

de refletir e acima de tudo, de apostar em uma forma mais humana e solidária de atuar como

técnico na área de saúde.

Bons estudos!

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Sumário

CAPÍTULO 1: Introdução ao estudo da Psicologia 5

1.1. Psicologia: uma forma de conhecer o mundo ............................................................... 5

1.2. Os tipos de conhecimento ............................................................................................ 6

1.3. Um breve histórico ...................................................................................................... 7

1.4. A Psicologia como ciência ........................................................................................... 7

1.4.1. Funcionalismo ..................................................................................................... 8

1.4.2. Estruturalismo ..................................................................................................... 8

Para aprofundar a discussão: Nativismo versus empirismo ......................................... 9

CAPÍTULO 2: Teorias da Personalidade 10

2.1. O que é personalidade? .............................................................................................. 10

2.2. Psicanálise ................................................................................................................. 11

2.2.1. A teoria topográfica ........................................................................................... 11

2.2.2. A teoria estrutural .............................................................................................. 12

2.3. Behaviorismo ............................................................................................................ 13

2.4. Teorias humanistas .................................................................................................... 14

Para aprofundar a discussão: Os mecanismos de defesa ........................................... 15

CAPÍTULO 3: Afetividade e percepção 16

3.1. A vida afetiva ............................................................................................................ 16

3.1.1. Os afetos ........................................................................................................... 16

3.1.2. As emoções ....................................................................................................... 17

3.1.3. Os sentimentos .................................................................................................. 17

3.2. Percepção .................................................................................................................. 17

3.2.1. Percepção de corpo, de si e de sociedade ........................................................... 18

3.3. Relações entre afetividade e percepção ...................................................................... 20

Para aprofundar a discussão: Afetividade e sexualidade ........................................... 21

CAPÍTULO 4: Desenvolvimento humano 22

4.1. Por que mudamos?..................................................................................................... 22

4.1.1. Mudanças referentes à idade .............................................................................. 22

4.1.2. Mudanças com causas culturais ......................................................................... 23

4.1.3. Mudanças singulares não partilhadas ................................................................. 23

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4.2. As fases do desenvolvimento ..................................................................................... 23

4.2.1. A teoria dos estágios de Jean Piaget................................................................... 24

Para aprofundar a discussão: As fases psicossexuais do desenvolvimento ................. 26

CAPÍTULO 5: Relações humanas 27

5.1. A vida em grupo ........................................................................................................ 27

5.2. Líder e liderança ........................................................................................................ 28

5.3. Motivação .................................................................................................................. 29

5.4. A comunicação interpessoal ....................................................................................... 30

Para aprofundar a discussão: Sobre a ética e o sigilo profissional ............................ 32

CAPÍTULO 6: Reflexões sobre a normalidade 33

6.1. Conversando sobre a normalidade .............................................................................. 33

6.2. Loucura e estigma ...................................................................................................... 35

Para aprofundar a discussão: A reforma psiquiátrica ............................................... 37

CAPÍTULO 7: Sobre o adoecimento e a morte 38

7.1. Diagnóstico e tratamento ........................................................................................... 38

7.2. Implicações psicológicas do adoecimento .................................................................. 39

7.3. Enfrentando a morte .................................................................................................. 40

Para aprofundar a discussão: A notícia .................................................................... 43

CAPÍTULO 8: Humanização e cuidado 44

8.1. Humanizar é preciso .................................................................................................. 44

8.2. Humanização e cuidado ............................................................................................. 46

8.3. Cuidar de si para cuidar do outro ............................................................................... 46

Para aprofundar a discussão: Como ser um profissional humanizado? ..................... 48

Referências Bibliográficas ................................................................................................. 49

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Introdução ao estudo da Psicologia 1

Fonte: a autora

Para início de conversa...

- Qual a importância da construção do conhecimento para o ser humano?

- Como você definiria a Psicologia?

- De que modo a Psicologia pode ajudar na sua prática profissional?

1.1. Psicologia: uma forma de conhecer o mundo

Você já percebeu que o ser humano sempre busca explicar e compreender os

fenômenos que acontecem a sua volta? Isso ocorre porque a construção do conhecimento é

um processo indispensável à adaptação do indivíduo, já que é preciso conhecer o mundo para

que se possa agir efetivamente nele3.

As pessoas não buscam apenas compreender os fenômenos que ocorrem no mundo

exterior. Ao contrário, muitos fenômenos que se passam dentro delas também são alvo de

dúvidas e questionamentos. Por isso há atualmente tantas ciências preocupadas em estudar o

próprio ser humano, como é o caso da Psicologia, da Medicina, da Enfermagem, da Nutrição,

da Antropologia etc., para não citar todas.

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Acontece que muitos dos conhecimentos que adotamos em nosso dia-a-dia provêm

não dos livros e artigos científicos, e sim das práticas cotidianas. Esse tipo de conhecimento é

denominado conhecimento do senso comum.

Conhecimento do senso comum: conhecimento intuitivo e espontâneo gerado nas práticas

cotidianas, baseado em tentativas e erros2.

Muitos dos conhecimentos originalmente produzidos pela ciência são, pouco a pouco,

integrados ao conhecimento do senso comum construído por uma determinada sociedade2. É

por isso que não é raro ouvirmos frases como “aquela menina é histérica” ou “aquele

comportamento foi inconsciente”. Como é possível observar, muitos conceitos psicológicos

acabam sendo utilizados por pessoas comuns na tentativa de explicar certos comportamentos

humanos ou aspectos relacionados ao funcionamento mental.

Devido a esse processo de apropriação do conhecimento científico pelo senso comum,

o termo psicologia é utilizado com os sentidos mais variados2. Embora estes sentidos diversos

nem sempre estejam comprometidos com a visão científica, há de se ressaltar que se trata de

uma fonte de conhecimento que responde à finalidade de explicar os fenômenos do mundo.

No entanto, um ponto merece atenção. Não podemos afirmar que a psicologia do

senso comum corresponda àquela adotada pelos psicólogos em sua prática profissional.

Assim, é importante que você esteja atento às suas próprias “teorias” psicológicas aprendidas

no cotidiano, pois estas não serão necessariamente as mesmas estudadas nesta apostila.

Além do conhecimento do senso comum e do conhecimento científico, os seres

humanos encontraram outras formas de explicar os fenômenos do mundo em que vivem. Esse

será o tema do nosso próximo tópico de discussão. Vamos lá?

1.2. Os tipos de conhecimento

Anteriormente, falamos sobre o conhecimento do senso comum, uma forma de

conhecimento que se origina no cotidiano e que se constitui a partir da tradição (formas de

refletir e agir sobre o mundo que passam de geração em geração), tornado-se hábito2.

Além dele, podemos falar em outros modos de conhecer e explicar o mundo, os quais

aparecem a seguir:

a) conhecimento filosófico: conjunto de pensamentos sobre a origem e o significado da

existência humana;

b) conhecimento religioso: corpo de conhecimentos procupado com a origem do homem, sua

ligação com a divindade e seus princípios morais;

c) conhecimento artístico: expressão da sensibilidade e das emoções humanas.

A Psicologia que estudaremos nesta apostila trata-se de um conhecimento científico,

que nada mais é do que uma das muitas possibilidades de conhecimento humano. Esta

Psicologia obedece a critérios precisos e rigorosos – como todas as ciências – que serão

explorados, pouco a pouco, ao longos deste capítulo.

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Conhecimento científico: conjunto de conhecimentos sobre um determinado aspecto da

realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa.

Caracteriza-se por possuir métodos e técnicas específicas, processo cumulativo de

conhecimento e objetividade2.

O que você faz quando quer conhecer melhor uma determinada pessoa?

Provavelmente você procura saber seu nome, idade, quem são seus pais, onde mora... Enfim,

você procura buscar informações sobre a história de vida dessa pessoa, certo? Pois bem.

Faremos o mesmo em relação à Psicologia científica.

1.3. Um breve histórico

As raízes da Psicologia (termo etimologicamente derivado de psyché, que significa

alma e logos, que significa razão2) podem ser encontradas nos grandes filósofos da Grécia

Antiga. Os mais famosos entre eles, Sócrates, Platão e Aristóteles, fizeram perguntas

fundamentais sobre a vida mental: “o que é a consciência? As pessoas são intrinsecamente

racionais ou irracionais? Existe realmente livre-arbítrio?”1.

Psicologia: termo etimologicamente derivado de psyché, que significa alma e logos, que

significa razão.

Além das questões relacionadas à vida mental, os aspectos fisiológicos do corpo e o

comportamento humano também geraram profundo interesse dentre os antigos filósofos,

impactando profundamente nas origens da Psicologia enquanto ciência1.

Embora filósofos e estudiosos continuassem interessados no funcionamento tanto da

mente quanto do corpo ao longo dos séculos, geralmente considera-se que a Psicologia

científica começou em 1879, quando Wilhelm Wundt montou o primeiro laboratório de

Psicologia na Alemanha. Wundt acreditava que a mente e o comportamento poderiam ser

tratados como objeto de análise científica. A forma encontrada por este autor para estudar as

questões psicológicas foi associá-las aos sentidos, em especial à visão1.

1.4. A Psicologia como ciência

Conforme dito anteriormente, a Psicologia adquire valor científico à medida que se

distancia da Filosofia, que influenciou profundamente a sua construção. Na condição de

ciência, os estudiosos dos fenômenos psicológicos tiveram que padronizar a produção de

conhecimento, definir seu objeto de estudo, diferenciá-la de outras ciências buscando um

campo de estudo próprio, e construir métodos e teorias adequados à nova ciência2.

De forma bastante geral, podemos definir a Psicologia como a ciência que investiga

questões relacionadas ao comportamento humano e aos processos mentais1. No entanto, esta

definição está longe de ser aceita em todas as áreas desta ciência tão complexa.

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Psicologia: ciência que estuda o comportamento humano e os processos mentais.

Embora a Psicologia científica tenha nascido na Alemanha, foi nos Estados Unidos

que ela encontrou campo para um rápido crescimento. Ali surgiram as primeiras abordagens

ou escolas em Psicologia, que deram origem às inúmeras teorias psicológicas existentes na

atualidade. São elas: o Funcionalismo, o Estruturalismo e o Associacionismo2.

1.4.1. Funcionalismo

O Funcionalismo foi fundado por William James com o objetivo de responder a

questões como “o que fazem os homens?” e “por que o fazem?”. Para atingir este objetivo, a

consciência foi eleita como objeto de estudo, estando os funcionalistas comprometidos em

investigar como ela é utilizada pelos homens para se adaptarem ao meio em que vivem2.

1.4.2. Estruturalismo

O Estruturalismo , fundado por Edward Titchner, investigava a consciência humana

através de seus aspectos estruturais. Ou seja, investigava-se os estados elementares da

consciência como estruturas do sistemas nervoso central2.

1.4.3. Associacionismo

O primeiro representante do associacionismo foi Edward. L. Torndike. O termo

associacionismo originou-se da concepção de que a aprendizagem se dá por um processo de

associação das ideias – das mais simples às mais complexas. Assim, para aprender um

conteúdo complexo, a pessoa precisaria primeiro aprender as ideias mais simples que estariam

associadas àquele conteúdo2.

Referências

1. Attkinson, R. L., Smith, E. E., Bem, D, J., Nolen-Hoeksema, S. & Smith, C. D. (2002). Introdução à

Psicologia de Hilgard. 13 ed. (D. Bueno trad.). São Paulo: Artmed.

2. Bock, A. M. B., Furtado, O., & Teixeira, M. D. T. (2002). Psicologias: uma introdução ao estudo da

psicologia. 13 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva.

3. Granja, M. C. L. (2012). O mundo econômico da criança: uma investigação psicológica sobre o dinheiro.

Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva, Universidade Federal de

Pernambuco, Recife, PE.

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PARA APROFUNDAR A DISCUSSÃO...

Nativismo versus empirismo

Um dos debates mais antigos sobre a psicologia humana ainda continua acirrado na

atualidade. Ele gira em torno da questão de as capacidades humanas serem inatas ou

adquiridas através da experiência. A concepção nativista afirma que os seres humanos vêm ao

mundo com um suprimento inato de conhecimento e entendimento da realidade. Os primeiros

filósofos acreditavam que este conhecimento e entendimento poderiam ser acessados por

meio de cuidadoso raciocínio e introspecção. No século XVII, Descartes apoiou a visão

nativista argumentando que algumas ideias (tais como Deus, o eu, axiomas geométricos,

perfeição e eternidade) são inatas. Descartes também é notável por sua concepção do corpo

como uma máquina que pode ser estudada do mesmo modo que estudamos outras. [...]

A concepção empirista afirma que o conhecimento é adquirido pelas experiências e

interações com o mundo. Embora alguns dos antigos filósofos gregos apoiassem esta visão,

ela é mais fortemente associada ao filósofo inglês do século XVII John Locke. Segundo

Locke, ao nascer, a mente humana é uma tábula rasa, ou lousa vazia, na qual a experiência

“escreve” o conhecimento e o entendimento à medida que o indivíduo amadurece. Esta

perspectiva deu origem à psicologia associacionista. [...]

Na atualidade, o debate entre nativismo e empirismo é mencionado como debate

natureza-experiência. Embora alguns psicólogos ainda argumentem que o pensamento e o

comportamento humanos resultam da biologia ou primordialmente da experiência, a maioria

dos psicólogos adota uma perspectiva mais integrada, reconhecendo que os processos

biológicos (como a hereditariedade ou os processos cebebrais) influenciam os pensamentos,

os sentimentos e o comportamento, mas que a experiência também deixa sua marca neles.[...]

Referência:

Attkinson, R. L., Smith, E. E., Bem, D, J., Nolen-Hoeksema, S. & Smith, C. D. (2002). Introdução à Psicologia de Hilgard. 13 ed. (D. Bueno trad.). São Paulo: Artmed. (adaptado).

Questões

1. O que é o conhecimento do senso comum?

2. Quais são as características do conhecimento científico?

3. De que tipo de conhecimento se trata a Psicologia dos psicólogos?

4. Defina a Psicologia.

5. Quais foram as primeiras abordagens da Psicologia científica?

6. Qual a diferença entre o nativismo e o empirismo?

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Teorias da Personalidade 2

Fonte: imagem capturada na internet1.

Para início de conversa

- Em sua opinião, o que é personalidade?

- O que explica o fato de as pessoas serem tão diferentes entre si?

2.1. O que é personalidade?

Você certamente já ouviu falar sobre “personalidade”, não é? É comum ouvirmos

frases como “eu tenho uma personalidade forte” ou “aquele homem não tem personalidade”.

Agora que já sabemos que alguns conhecimentos científicos são “emprestados” ao senso

comum, nem sempre da forma mais apropriada, podemos refletir sobre a seguinte questão:

Será que essas frases revelam a concepção de personalidade tal qual faz a Psicologia?

A resposta é não. Isso porque todos temos personalidade. Mesmo aquelas pessoas que

são mais calmas e que falam menos. Desta forma, para a Psicologia não existe personalidade

forte ou fraca, e nem mesmo personalidade boa ou má. O termo personalidade refere-se

àqueles padrões relativamente consistentes e duradouros de percepção, pensamentos,

sentimentos e comportamento que dão às pessoas identidades distintas.

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Personalidade: padrões distintivos e característicos de pensamentos, emoções e

comportamentos que definem o estilo pessoal de interação de uma pessoa com o ambiente

físico e social2.

Se, por um lado, a Biologia é capaz de explicar com bastante precisão o que temos em

comum com os demais entes da nossa espécie, explicar as diferenças individuais tem sido

uma tarefa árdua para diversas ciências, inclusive para a Psicologia. Por conta disso, muitos

autores desta área buscaram – e continuam buscando – explicar o fenômeno da personalidade.

Algumas das teorias da personalidade ganharam destaque na ciência psicológica por

seu poder explicativo. Três delas serão abordadas a seguir.

2.2. Psicanálise

Sigmund Freud nasceu em maio de 1856 no país que atualmente é conhecido como

República Tcheca. Tendo se formado em medicina e se especializado em psiquiatria,

interessou-se pelos estudos sobre a histeria formulando ao longo de toda a sua vida um corpo

teórico denominado Psicanálise4.

Através dos atendimentos clínicos que prestava aos pacientes (e também de sua auto-

análise), Freud percebeu que cada pensamento, cada memória revivida, sentimento ou ação

possui uma causa. Ou seja, segundo ele, os processos mentais (sejam eles conscientes ou não)

são determinados pelos fatos que o antecederam.

Além disso, Freud defendia que o corpo era a fonte básica de toda energia mental4,

dando mais ênfase aos eventos biológicos do que aos eventos ambientais na constituição da

personalidade2.

A a obra freudiana foi marcada por duas grandes formulações teóricas: a teoria

topográfica e a teoria estrutural da mente.

2.2.1. A teoria topográfica

A premissa inicial de Freud era que havia conexões entre todos os eventos mentais

(determinismo psíquico). Quando um pensamento ou sentimento parece não estar relacionado

aos pensamentos e sentimentos que o precederam, as conexões estão no inconsciente. Uma

vez que estes elos inconscientes são descobertos, então a aparente descontinuidade está

resolvida4.

A teoria topográfica do aparelho mental, conforme formulada por Freud, considera

que o psiquismo é formado por três elementos, a saber:

a) o consciente: é somente uma pequena parte da mente e inclui tudo do que estamos cientes

em um dado momento4. Por exemplo, agora você sabe que está lendo esta apostila. Portanto, o

ato de ler é consciente.

b) o incosnciente: nele estão os elementos que nunca foram conscientes e que não são

acessíveis à consciência. Além disso, há material que foi excluído da consciência, censurado

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ou reprimido (ver boxe no final do capítulo). Este material não é esquecido ou perdido, mas

não lhe é permitido ser lembrado. O pensamento ou a memória ainda afetam a consciência,

mas apenas indiretamente4. Um exemplo disso são certos sentimentos ou características que

temos em nós que, por serem inaceitáveis (como sentir raiva do filho ou desejar que alguém

querido morra), nós não percebemos ou negamos.

c) o pré-consciente: é uma parte do consciente, mas uma parte que pode tornar-se consciente

com facilidade4. As porções de memória que são acessíveis fazem parte do pré-consciente.

São exemplos disso o seu número de CPF ou o telefone de sua casa. Você provavelmente não

estava pensando neles até ler esta parte do texto. Porém, se desejar, poderá trazer tais

informações facilmente à consciência.

As constantes críticas quanto à incapacidade da teoria topográgica responder questões

cruciais sobre os conflitos psíquicos levaram Freud a abandoná-la e a desenvolver uma

segunda teoria do aparelho mental.

2.2.2. A teoria estrutural

Ao reformular certos conceitos de sua teoria, Freud defendeu que o aparelho psíquico

possuía três estruturas básicas (daí o nome desta teoria), sendo elas o id, o ego e o superego4.

a) o id: é o reservatório de energia de toda a personalidade, sendo a estrutura original, básica,

central. O id é atemporal (ou seja, não comporta a noção de passado, presente ou futuro),

sendo regido pelo princípio do prazer. Os instintos localizam-se aí.

b) o ego: é a parte do aparelho psíquico que está em contato com a realidade externa. Tem a

tarefa de garantir a saúde, a segurança e a sanidade da personalidade, ao mesmo tempo

atendendo e aplacando as constantes exigências do id. O ego controla os impulsos do id de

modo que o indivíduo possa buscar soluções menos imediatas e mais realistas. Por exemplo:

se você sentir fome enquanto estiver realizando uma atividade para a nota, provavelmente irá

concluir a tarefa para depois buscar alimento. O id exige que o ego busque alguma solução

imediata para o desprazer sentido, enquanto o ego procura a melhor maneira de fazê-lo.

c) o superego: este atua como um juiz sobre as atividades e pensamentos do ego, já que se

constitui como depósito de códigos morais e modelos de conduta aprendidos socialmente. Por

exemplo, você vem sempre vestido às aulas porque seu supergego indica que esta norma

social deve ser cumprida.

Bem, há outras teorias da personalidade bastante difundidas na Psicologia. Uma delas,

o behaviorismo, é o nosso próximo assunto em discussão.

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2.3. Behaviorismo

O termo Behaviorismo foi inaugurado pelo americano Jonhn Watson em 1913. A

palavra inglesa behavior significa comportamento, que inicialmente era considerado por essa

abordagem como objeto de estudo da Psicologia3.

Postulando o comportamento como objeto da Psicologia, Watson deu a esta ciência a

consistência que os psicólogos da época vinham buscando – um objeto observável,

mensurável, cujos experimentos poderiam ser reproduzidos em diferentes condições e

sujeitos. Essas características foram importantes para que a Psicologia alcançasse o status de

ciência, rompendo definitivamente com a sua tradição filosófica3.

Em contraste com a Psicanálise, a abordagem behaviorista enfatiza a importância dos

determinantes ambientais ou situacionais do comportamento. Nesta concepção, o

comportamento é o resultado da contínua interação entre as variáveis pessoais e ambientais2.

Os psicólogos behavioristas utilizam os termos “resposta” e estímulo” para se

referirem àquilo que o organismo faz e às variáveis ambientais que interagem com o sujeito3.

O mais importante dos behavioristas que sucedeu Watson foi B. F. Skinner. Este

contribuiu profundamente para a construção de conceitos-chave como:

a) comportamento respondente (ou reflexo): são interações estímulo-resposta

incondicionadas, nas quais certos eventos ambientais produzem certas respostas do

organismo, independente de aprendizagem. Exemplo: dilatar a pupila em ambientes escuros.

b) comportamento operante: comportamentos que dependem da aprendizagem e que visam à

satisfação de alguma necessidade. Exemplo: tocar algum instrumento musical.

c) reforço positivo: evento que aumenta as chances de uma determinada resposta acontecer.

Exemplo: receber elogios aumenta a probabilidade da pessoa agir de modo a receber novos

elogios.

d) reforço negativo: evento que aumenta as chances de uma determinada resposta que o

remova. Exemplo: sentir fome aumenta a probabilidade da pessoa comer para não mais sentir

fome.

e) punição: estímulo aversivo (indesejável) ou remoção de um reforçador positivo (retirada de

algo desejável) com objetivo de modificar uma determinada resposta. Punir leva à supressão

temporária da resposta sem, contudo, alterar a motivação. Exemplo: cortar a mesada do filho

(remoção de um reforçador positivo) para que ele melhore as notas escolares.

Tendo apresentado alguns conceitos principais da teoria behaviorista, será explorada a

terceira grande tendência teórica que representa as perpectivas quanto à personalidade dentro

da Psicologia. Trata-se, na verdade, de um grupo de teorias denominadas humanistas.

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2.4. Teorias humanistas

Durante a primeira metade do século XX, as abordagens psicanalítica e behaviorista

eram dominantes na Psicologia. Em 1962, contudo, um grupo de psicólogos fundou a

Associação de Psicologia Humanista. Eles viam o humanismo como a “terceira força” da

Psicologia, uma alternativa às outras duas abordagens2.

Dentre os teóricos humanistas, o que mais teve destaque pela sua obra foi Carl Rogers.

Ele acreditava que as pessoas possuem uma tendência inata para o crescimento, maturidade e

mudança positiva. Tal pressuposto foi denominado tendência de realização2.

Além da tendência de realização, outros conceitos fundamentais da teoria rogeriana

(teoria proposta por Rogers) são:

a) self: termo que designa o eu ou o auto-conceito. É formado pelo conjunto de ideias, valores

e percepções do sujeito sobre si mesmo2.

b) self ideal: refere-se àquilo que cada um gostaria de ser. Assim, quanto mais próxima do self

ideal, mais feliz e realizada será a pessoa2.

c) empatia: uma das atitudes três atitudes que um terapeuta rogeriano deve adotar. Refere-se à

tendência de se colocar no lugar do outro sem, no entanto, se confundir com o outro5.

d) congruência: uma das atitudes três atitudes que um terapeuta rogeriano deve adotar. Estar

congruente consigo mesmo é estar de acordo, estar harmônico. A harmonia implica um estar

aberto aos próprios sentimentos, podendo escutá-los, elaborá-los e expressá-los5.

e) consideração positiva incondicional: uma das atitudes três atitudes que um terapeuta

rogeriano deve adotar. É a consideração e o respeito ao paciente por tudo o que ele é e

escolhe, sem intenção de transformá-lo5.

Referências

1. Blog Voto e Marketing. Disponível em <http://votoemarketing.blogspot.com.br/2010/05/imagem-e-

personalidade-na-politica.html>. Acesso em 10 jul 2012.

2. Attkinson, R. L., Smith, E. E., Bem, D, J., Nolen-Hoeksema, S. & Smith, C. D. (2002). Introdução à

Psicologia de Hilgard. 13 ed. (D. Bueno trad.). São Paulo: Artmed.

3. Bock, A. M. B., Furtado, O. & Teixeira, M. D. T. (2002). Psicologias: uma introdução ao estudo da

psicologia. 13 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva. 4. Fadiman, J. & Frager, R. (1986). Teorias da Personalidade. Editora Harbra: São Paulo.

5. Jordão, M. P. (1987). Reflexões de um terapeuta sobre as atitudes básicas na relação Terapeuta-Cliente. Em:

Rosenberg, R. L. Aconselhamento psicológico centrado na pessoa (45-52), vol. 21. São Paulo: E.P.U.

Page 16: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

15

PARA APROFUNDAR A DISCUSSÃO...

Os mecanismos de defesa

Diante de situações dolorosas e angustiantes da vida, o ser humano pode optar por

utilizar estratégias de enfrentamento focalizadas nas emoções. Freud utilizou o termo

mecanismos de defesa para se referir às estratégias inconscientes que as pessoas usam para

lidar com a ansiedade. Tais estratégias não alteram em nada a situação, apenas muda o modo

como a pessoa percebe ou pensa sobre ela. Assim, todos os mecanismos de defesa envolvem

um elemento de auto-engano.

Todos usam mecanismos de defesa de vez em quando. Eles nos ajudam nos momentos

difíceis até podermos lidar com as situações estressantes de maneira mais direta. Os

mecanismos de defesa só causam inadaptação quando se tornam o modo dominante de

responder aos problemas.[...]

São exemplos de mecanismos de defesa a repressão (através dela, memórias ou

impulsos perigosos ou dolorosos são excluídos da consciência), a racionalização (não

significa agir “racionalmente” como o nome pode sugerir, mas sim a atribuição de motivos

lógicos ou socialmente desejáveis ao que fazemos de modo a parecermos ter agido

racionalmente), a projeção (tal mecanismo nos protege do reconhecimento de nossas próprias

qualidades indesejáveis atribuindo-as aos outros de maneira exagerada), a intelectualização (é

a tentativa de se desvencilhar de uma situação estressante lidando com ela de maneira abstrata

e intelectual), a negação (ocorre quando o sujeito nega a existência de um fato indesejável) e

o deslocamento (ocorre quando um motivo que não pode ser gratificado de uma maneira é

satisfeito de outro modo).

Referência:

Attkinson, R. L., Smith, E. E., Bem, D, J., Nolen-Hoeksema, S. & Smith, C. D. (2002). Introdução à Psicologia

de Hilgard. 13 ed. (D. Bueno trad.). São Paulo: Artmed. pp. 534-537.

Questões

1. O que é personalidade?

2. Explique os principais conceitos da Psicanálise. Faça o mesmo para o Behaviorismo e para

a teoria de Carl Rogers.

3. Qual a concepção de homem da psicanálise? E do behaviorismo? E de Rogers?

4. O que são mecanismos de defesa? Dê exemplos.

Page 17: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

16

Afetividade e percepção 3

Fonte: imagem capturada na internet1

Para início de conversa...

- Qual a importância da nossa vida afetiva?

- Você já notou que tudo parece dar errado quando estamos de mau humor?

3.1. A vida afetiva

A vida afetiva é um tema que interessa profundamente aos psicólogos, pois ela é um

componente da nossa subjetividade. Por isso, a vida afetiva fala muito sobre o indivíduo e

sobre sua forma de ser e estar no mundo.

Atualmente, utilizam-se alguns termos específicos (comumente usados pelas pessoas

como se fossem sinônimos) para diferenciar algumas nuances – por vezes muito sutis – da

afetividade humana. É o que veremos agora.

3.1.1. Os afetos

Nossa vida afetiva é constituída por dois afetos básicos: o amor e o ódio. Entre estes

dois extremos, é possível que experienciemos alguns afetos intermediários, às vezes bastante

difíceis de compreender e expressar. Isso porque, embora os afetos sejam comunicáveis (isto

Page 18: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

17

é, podemos nos utilizar da linguagem para expressá-los a outras pessoas), muitas vezes eles

parecem enigmáticos para aqueles que os sentem. Outras vezes podem parecer mesmo

enigmáticos àqueles que nos observam e tentam inferir o que estamos sentindo2.

Os afetos podem ser produzidos tanto por estímulos internos (e.g., uma lembrança

desagradável) quanto externos ao indivíduo (e.g., as relações sociais). Nós vivenciamos

nossos estados afetivos através de emoções e sentimentos2.

3.1.2. As emoções

As emoções podem ser definidas como expressões afetivas rápidas e intensas, as quais

geralmente causam fortes reações orgânicas, como a aceleração dos batimentos cardíacos, o

tremor, o riso, o choro e as lágrimas. Tais reações são denominadas descargas emocionais,

que funcionam para diminuir o estado de tensão do organismo2.

São exemplos de emoções a surpresa, a raiva, o nojo, o medo, a vergonha, a tristeza, o

desprezo, a alegria, a paixão, a atração física. Elas podem ser conscientes ou não, sendo mais

ou menos aceitas socialmente por questões culturais. Como você deve saber, na nossa

sociedade é comum ouvirmos frases como “homem não chora”, numa clara repreensão à

expressão da tristeza – às vezes interpretada como “fraqueza” – pelo homem2.

Durante a prática profissional, é comum nos depararmos com situações nas quais as

emoções afloram, às vezes dificultando o trabalho. Já imaginou ter uma crise de riso durante

um atendimento? E cair no choro por notar o sofrimento de algum paciente? Embora as

situações profissionais exijam uma postura adequada, não há motivos para esconder as nossas

emoções. O importante é, de acordo com as próprias possibilidades e situações, lidar com elas

de modo natural, buscando sempre estar ciente de suas experiências afetivas.

3.1.3. Os sentimentos

Ao contrário das emoções, os sentimentos caracterizam-se por serem menos intensos e

mais duradouros, não sendo acompanhados por fortes reações orgânicas. São exemplos de

sentimentos a ternura, a amizade, a cumplicidade e o respeito2.

As emoções e os sentimentos possuem importante função adaptativa, pois que

participam ativamente da percepção que temos de nós mesmos, dos outros e das experiências

vividas. Através deles avaliamos situações vividas e planejamos o modo como iremos agir2.

Assim, podemos afirmar que há uma estreita relação entre os afetos e a percepção.

3.2. Percepção

Antes mesmo de a Psicologia se tornar uma ciência, importantes filósofos gregos

buscavam compreender a relação do homem com o mundo através da percepção. E mesmo as

origens da Psicologia científica foram profundamente marcadas pelos estudos em Psicofísica,

uma área da nova ciência que investigava a relação entre os estímulos sensoriais e a percepção

que as pessoas tinham deles2.

Page 19: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

18

Não é sem motivo que uma importante teoria psicológica, a Gestalt, tenha se originado

a partir de estudos sobre os fenômenos perceptuais. Gestalt é um termo alemão que não

encontra correspondente na língua portuguesa. Uma tradução próxima é “forma” ou

“configuração”. Por este motivo tal teoria ficou conhecida também como Psicologia da forma.

Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Kofka realizaram estudos psicofísicos

relacionando a forma à sua percepção. O objetivo destes gestaltistas era compreender que

processos psicológicos atuariam em fenômenos como a ilusão de ótica, situação na qual o

indivíduo percebe uma forma diferentemente daquilo que ela é de fato2.

Os teóricos da Gestalt criticavam o Behaviorismo (ver Capítulo 2) por acreditarem que

entre o estímulo oferecido pelo meio e a resposta apresentada pelo indivíduo (modelo

estímulo-resposta) havia o processo de percepção (modelo estímulo-percepção-resposta).

Assim, afirmava-se que a compreensão do comportamento humano depende da compreensão

do que o indivíduo percebe e de como este indivíduo percebe2.

Alguns conceitos importantes da teoria da Gestalt são2:

a) importância do contexto: para os gestaltistas, o comportamento humano só poderia ser bem

compreendidos se situado contextualmente.

b) a boa forma: diz respeito ao modo como percebemos os estímulos do mundo. Quanto mais

próxima a nossa percepção estiver do estímulo real, mais próximos estaremos da boa forma.

c) figura e fundo: noção que explica a relação entre o que

percebemos (figura) e o seu contexto (fundo). Por exemplo,

olhando a figura ao lado, os elementos que você destaca

perceptualmente compõem a figura. O restante compõe o fundo.

d) campo psicológico: pode ser definido como um campo de

força que nos leva a buscar a boa forma (ou a melhor percepção

possível) em situações cujos estímulos pareçam ambíguos.

Muitas ideias de teoria da Gestalt foram aproveitadas por

diversas outras teorias psicológicas, sendo utilizadas inclusive em abordagens clínicas. Sem

dúvida, tais ideias ajudam a compreender uma vasta gama de fenômenos humanos, servindo

como importante base para refletirmos sobre como percebemos a nós mesmos e aos outros.

3.2.1. Percepção de corpo, de si e de sociedade

Nós nos apresentamos no mundo através do nosso corpo. É através dele que

percebemos o ambiente, as outras pessoas, a cultura.

Como seres carnais que atendem necessidades de alimentação, de sexualidade e da

manutenção da saúde, nosso corpo revela-se ao mesmo tempo nas dimensões física e

simbólica3. Isso quer dizer que tanto a existência do corpo físico em si quanto os significados

Page 20: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

19

que atribuímos a ele fazem parte do que somos. Assim, o modo como percebemos o nosso

corpo influencia profundamente o modo como nos percebemos.

Cada pessoa tem uma relação particular com o seu próprio corpo. Embora ele seja a

sede de todas as experiências individuais, muitas vezes suas condições orgânicas não são

aceitas. Isso pode ocorrer devido às doenças, à idade ou mesmo a não aceitação de certas

características estéticas que são ditadas socialmente. Em vista disso, para algumas pessoas o

seu próprio corpo acaba sendo percebido como um fardo3.

A percepção é um fenômeno que se inicia com os estímulos sensoriais (apreendidos

por órgãos dos sentidos tais quais a pele, os olhos e os ouvidos) e que termina com a

atribuição de significados. Por exemplo, ao vermos um estranho vindo em nossa direção

enquanto caminhamos por um rua escura, é provável que interpretemos a situação como

ameaçadora. Ou seja, a percepção envolve mais do que elementos puramente sensoriais,

englobando também questões relacionadas ao significado e à cultura.

Percepção: fenômeno psicológico que se inicia com a recepção de estímulos sensoriais e que

envolve a atribuição de significados.

Para ilustrar esta definição de percepção, podemos utilizar a ideia de sede. Não é

somente a sensação de sede (necessidade fisiológica) que nos faz buscar algo para beber, é

também a consciência de que nos falta algo. Ou seja, o significado que atribuímos à sede3.

Todos nós existimos no mundo enquanto ser carnal cercado por outros seres também

carnais. E a identidade de cada um se constrói a partir das relações estabelecidas consigo

mesmo e com os outros. Todas essas relações dependem e passam necessariamente pelo

corpo, sendo este simultaneamente o que a pessoa é e o que a pessoa possui3.

Nesse contexto, cabe também refletir sobre o papel da cultura no modo como

percebemos o nosso corpo. A título de exemplo, podemos falar em uma tendência bastante

presente em nossa sociedade: a valorização de corpos magros e esbeltos. Esse aspecto cultural

acaba por influenciar o modo como percebemos a nós mesmos e aos outros. Não é a a

imagem da pessoa em si que importa, e sim o significado que damos aos contornos corporais.

Ou seja, uma pessoa acima do peso pode ser vista como alguém preguiçoso ou sem força de

vontade enquanto uma pessoa com corpo torneado é símbolo de esforço, felicidade e beleza.

Essa constante busca por corpos magros e esbeltos (uma questão notadamente

cultural) tem contribuído para a crescente ocorrência de certos transtornos psiquiátricos

conhecidos como Transtornos Relacionados à Imagem Corporal. São transtornos nos quais as

pessoas passam a dedicar demasiada atenção e esforço para atingir um certo padrão estético

de magreza e “beleza” por acreditarem (devido a uma percepção distorcida do seu corpo) que

encontram-se fora de tal padrão. Alguns exemplos são a anorexia, a bulimia e a vigorexia.

Transtornos Relacionados à Imagem Corporal: transtornos psiquiátricos nos quais a

pessoa dedica demasiada atenção e esforço (e.g., deixar de comer ou provocar o vômito) para

atingir um certo padrão estético corporal. A percepção da sua imagem corporal é distorcida.

Page 21: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

20

Para encerrar essa discussão sobre a percepção, cabe destacar um ponto de extrema

importância. É fundamental que prestemos atenção aos sinais que o nosso corpo nos dá, pois

eles informam os nossos estados afetivos (sabe aquela dor de coluna que não passa?) e nos

alertam para a necessidade de nos cuidarmos melhor.

É comum, por exemplo, o corpo apresentar desajustes em seu funcionamento como

reflexo de problemáticas psicológicas não resolvidas. São as chamadas doenças

psicossomáticas, cujos exemplos mais clássicos são a gastrite, a asma, a hipertensão arterial, a

taquicardia, a herpes, a urticária e a enxaqueca.

Doenças psicossomáticas: são doenças resultantes de causas psicológicas e cujos sintomas

são expressos no corpo.

Nas doenças psicossomáticas o sofrimento corporal é real, não devendo ser

considerado como secundário ou menos importante. O tratamento das doenças

psicossomáticas demanda uma abordagem de trabalho multidisciplinar, já que tanto o corpo

quanto a mente deverão ser cuidados.

3.3. Relações entre afetividade e percepção

Você já deve ter percebido o quão estreita é a relação entre nossos estados afetivos e a

nossa percepção. Utilizando como exemplo a pergunta do início do capítulo (“você já notou

que tudo parece dar errado quando estamos de mau humor?”), podemos constatar que, além

dos aspectos culturais, a nossa percepção é fortemente influenciada por nossos estados

afetivos. Será que o mundo decide conspirar contra nós quando estamos com algum problema

ou é o nosso mau humor que faz com que tudo nos pareça aborrecedor? No outro extremo,

quantas vezes passamos por situações que deveriam nos deixar chateados e nós (pelo bom

humor que experimentamos) não nos importamos?

Assim, na condução das relações humanas é fundamental que o profissional de saúde

leve em conta os aspectos perceptuais (incluindo aí a atribuição de significados) e afetivos

para melhor atender o paciente em suas necessidades existenciais.

Referências

1. Site Reinaldo Ribeiro. Disponível em < http://www.reinaldoribeiro.net/>. Acesso em 10 jul 2012.

2. Bock, A. M. B., Furtado, O. & Teixeira, M. D. T. (2002). Psicologias: uma introdução ao estudo da

psicologia. 13 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva.

3. Marzano-Parisoli, M. M. (2004). Pensar o corpo. (L. M. E. Orth trad.). Petrópolis: Vozes.

Page 22: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

21

PARA APROFUNDAR A DISCUSSÃO...

Afetividade e sexualidade

A Psicologia já sabe há um bom tempo que a questão sexual, pelos aspectos morais a

ela vinculados, é fonte de angústia para o jovem que se inicia nesses segredos. Mas não é

somente o jovem que sofre angústia com a sexualidade; o adulto e o velho também.

Procurando o caminho para aplacar essa angústia, nossa ciência tem tentado superar o

moralismo que envolve o tema (nem sempre com sucesso) e procurado descobrir as fontes e

os caminhos da sexualidade.

Muitas áreas, além da Psicologia, tratam da sexualidade humana: a Biologia e a

Medicina dão conta dos seus aspectos anatômicos e fisiológicos; a Antropologia estuda sua

evolução cultural; e a Sociologia e a História mostram-nos a gênese da repressão do

comportamento sexual. Hoje também encontramos uma área específica de estudos da

sexualidade, que procura englobar diferentes áreas do conhecimento, conhecida como

Sexologia.

Como a questão sexual envolve muitas disciplinas, a Psicologia poderá responder só

em parte às questões colocadas anteriormente. De acordo com a competência da Psicologia,

poderemos dizer o que é prazer, que sentimentos vêm junto com a sexualidade e, mesmo, qual

a diferença entre sexo e sexualidade.

Referência:

Bock, A. M. B., Furtado, O. & Teixeira, M. D. T. (2002). Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia.

pp. 231.

Questões

1. Defina o que são afetos, emoções e sentimentos.

2. Qual o objeto de estudo da teoria da Gestalt?

3. Quais são os principais conceitos da Gestalt?

4. O que é percepção?

5. Qual a relação entre a afetividade e a percepção?

6. O que são doenças psicossomáticas? Dê exemplos.

7. Há relação entre afetividade e sexualidade?

Page 23: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

22

Desenvolvimento humano 4

Fonte: imagem capturada na internet1

Para início de conversa...

- Você se percebe hoje como se percebia há dez anos atrás? O que mudou?

- Qual ou quais são as causas destas mudanças?

4.1. Por que mudamos?

É muito comum as pessoas rirem de suas próprias fotos antigas ao perceberem o

quanto eram diferentes no passado. Embora estejamos em constante processo de mudança,

nem sempre nos damos conta disso, não é mesmo? Mas, por que mudamos?

As mudanças pelas quais passamos durante todo o cliclo da vida são explicadas por

muitos fatores, alguns individuais, alguns sociais, outros biológicos e outros ainda devido às

experiências pessoais que vivenciamos. Vamos refletir mais sobre isso?

4.1.1. Mudanças referentes à idade

Ao pensar no desenvolvimento humano, a maioria de nós atribui as mudanças ao

aumento de idade, fato comprovado pelas observações corriqueiras que fazemos. As

mudanças de idade se devem a três causas principais, a saber:

Page 24: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

23

a) Mudanças biologicamente influenciadas: tratam-se dos processos biológicos que envolvem

crescimento e maturação do corpo. Um exemplo é o crescimento do cérebro nos primeiros

anos de vida2.

b) Experiências partilhadas: quando chegam a determinadas idades, as pessoas geralmente

passam por experiências sociais comuns à população da mesma faixa etária. Isso faz com que

uma sequência de experiências culturais partilhadas, como entrar na escola, gere alguns

padrões de desenvolvimento bastante parecidos2.

c) Mudanças psicológicas partilhadas: certas experiências sociais partilhadas fazem com que

mudanças psicológicas ocorram em pessoas diferentes em uma idade aproximada. Por

exemplo, tirar a carteira de habilitação aos dezoito anos faz com que uma parte representativa

da população compartilhe a experiência de sentir-se mais idependente nesta faixa etária2.

4.1.2. Mudanças com causas culturais

Além de ser decorrente do aumento da idade, o desenvolvimento sofre também a

influência de certos aspectos culturais. Nas diferentes sociedades observam-se padrões éticos,

modelos e expectativas característicos2. Por exemplo, nos Estados Unidos é muito comum que

os filhos saiam da casa dos pais ao iniciarem a graduação. No Brasil, no entanto, esta

experiência ocorre em menor escala.

Outro ponto que merece atenção são os componentes históricos que marcam uma

geração em uma dada época2. Há alguns anos, o uso de equipamentos eletrônicos como

telefones celulares e computadores era absolutamente impensável, fato este que criou uma

geração bastante distinta da “geração-virtual” que vemos atualmente.

4.1.3. Mudanças singulares não partilhadas

Além dos pontos já destacados, o desenvolvimento de cada indivíduo é moldado por

suas próprias vivências pessoais2. No que tange a esta questão destacamos a quantidade de

filhos de uma família, a união ou não do casal de pais, a qualidade das relações sociais

vivenciadas, o tipo de escola onde se estudou etc.

Como se vê, o desenvolvimento humano é um processo complexo que abarca

múltiplas causas. Este processo lento, gradual e incessante se desenrola através de fases

características, que serão o tema do próximo tópico.

4.2. As fases do desenvolvimento

O desenvolvimento pode ser compreendido como um processo de mudança4. Este

processo pode ser descrito através de fases mais ou menos definidas que nos ajudam a

compreender como nos tornamos, pouco a pouco, o que somos hoje e o que seremos no

futuro.

Page 25: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

24

Na história da Psicologia, o tema do desenvolvimento tem sido abordado de diferentes

maneiras. Há teorias que enfatizam o desenvolvimento da linguagem (como a teoria de Lev

Vygotsky), outras que procuram explicar o desenvolvimento psicossocial (como foi a

proposta de Erick Erickson), há outras ainda que exploram o desenvolvimento psicossexual

do indivíduo (como propôs Freud – ver boxe ao final do capítulo).

Como se vê, dentro da Psicologia há muitos modos de compreender o

desenvolvimento. Isso porque há inúmeras possibilidades de explorar o desenvolvimento de

um determinado aspecto humano (como a linguagem, a sexualidade, a inteligência, a

habilidade de se relacionar com os outros etc.).

Neste contexto, a teoria proposta por Jean Piaget acerca do desenvolvimento da

inteligência humana surge com destaque.

4.2.1. A teoria dos estágios de Jean Piaget

A compreensão de como o bebê recém nascido aprende e se desenvolve, tornando-se

um adulto hábil em relacionar-se com outras pessoas e com os objetos do mundo é questão

que desperta grande interesse na Psicologia. Para compreender o processo de construção do

conhecimento, o suíço Jean Piaget criou a chamada Epistemologia Genética.

A Epistemologia Genética interessa-se em explicar o processo da formação cognitiva a

partir da ocorrência de estágios sucessivos e ordenados, que implicam na aquisição de

competências pelos sujeitos após a aquisição de competências anteriores5.

Em sua teoria, Piaget apresentou o desenvolvimento cognitivo como um processo

contínuo e integrado. Porém, com o intuito de melhor compreender e definir como este

desenvolvimento se processa, o autor optou por dividi-lo em quatro níveis sequenciais,

definidos em termos da aquisição de determinadas estruturas que justificam a explicitação de

certos comportamentos6.

São estágios do desenvolvimento cognitivo propostos por Piaget6:

a) sensório-motor (0-2 anos): marcado pela inteligência prática e pela exploração do ambiente

através dos sentidos e dos movimentos corporais (daí o nome desta etapa do

desenvolvimento). O contato com o meio é direto, ou seja, sem a mediação de representações

simbólicas (como a linguagem). É neste estágio que criança desenvolve as noções de “eu”

(quando consegue diferenciar o mundo externo do mundo interno) de causalidade, de tempo,

de espaço e de objeto.

b) pré-operacional (2-7 anos): os eventos já podem ser representados internamente pela

criança (inteligência simbólica influenciada pela aquisição da linguagem). As crianças deste

estágio apresentam caracteríticas como pensamento egocêntrico (não confundir com

egoísmo), intuitivo e mágico, confusão entre aparência e realidade (predominânica da

percepção sobre a lógica), ausência da noção de reversibilidade e animismo (atribuir vida aos

seres inanimados).

Page 26: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

25

c) operacional concreto (7-11 ou 12 anos): com o declínio do egocentrismo, a criança

desenvolve a habilidade de se colocar no lugar do outro, passando a usar a linguagem com

finalidades predominantemente comunicativas e aumentando suas habilidades sociais. Outras

características são o aparecimento do pensamento lógico (por exemplo, a habilidade de

agrupar mentalmente objetos semelhantes), a percepção da conservação, a maior habilidade

de concentração em atividades e de colaborar em tarefas de grupo. Vale ressaltar que, neste

estágio, a realização de operações lógicas depende fortemente da presença de materiais

concretos. Por exmplo: a criança consegue realizar contagem numérica com auxílio dos dedos

ou de objetos equivalentes (fichas, carrinhos ou blocos de madeira).

d) operacional formal (12 anos em diante): este estágio, caracterizado pelo raciocínio

hipotético-dedutivo (o indivíduo consegue compreender sentenças do tipo “se...então...”), se

inicia por volta dos doze anos e perdura por toda a vida. As deduções lógicas podem ser feitas

sem o auxílio de material concreto. Por exemplo, o sujeito é capaz de compreender sentenças

como “Se todo gato late, o meu gato Mimi late também”. Observe que a sentença não se

baseia necessariamente em fatos, mas na coordenação das ideias expressas em termos de “se”,

“então”.

Assim, é possível constatar que muitos dos pressupostos piagetianos podem ser

verificados na prática, especialmente pelas pessoas que têm filhos pequenos ou convivem com

outras crianças. Apesar de certas limitações – como a pouca ênfase aos aspectos ambientais e

culturais na construção do conhecimento – a teoria de Jean Piaget possui muitos méritos,

tenho reconhecido valor científico em todo o mundo.

Referências

1. Blog Jardim das Reflexões. Disponível em <http://jardimdasreflexoes.blogspot.com.br/2011/01/saindo-do-

casulo.html>. Acesso em 27 jul 2012.

2. Bee, H. (1997). O ciclo vital. (R. Garcez trad.). Porto Alegre: Artmed.

3. Fadiman, J. & Frager, R. (1986). Teorias da Personalidade. Editora Harbra: São Paulo. 4. Lyra, M. C. D. P. (2006). Desenvolvimento como processo de mudança. Em: L.L. Meira e A. G. Spinillo

(orgs.), Psicologia Cognitiva: cultura, desenvolvimento e aprendizagem (pp.170-189). Recife: Editora

Universitária da UFPE.

5. Pádua, G. L. D. (2009) . A Epistemologia Genética de Jean Piaget. Revista FACEVV, 1(2).

6. Wadsworth, B. J. (1997). Inteligência e afetividade na criança na teoria de Piaget: fundamentos do

construtivismo. 5 ed. (E. Rovai trad.). São Paulo: Pioneira.

Page 27: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

26

PARA APROFUNDAR A DISCUSSÃO...

As fases psicossexuais do desenvolvimento

Na psicanálise freudiana existe o pressuposto de que todas as atividades que os seres

humanos realizam têm como causa as pulsões. Estas se expressam no indivíduo, em nível

corporal, como necessidades e, em nível mental, como desejos. É por isso que comumente se

diz que, segundo Freud, o homem é um ser desejante.

Desde quando ainda é bebê até o momento em que se torna adulto, o homem modifica

bastante os seus desejos e o modo como estes são satisfeitos. Por isso, Freud dedicou-se a

descrever cuidadosamente as modificações que ocorrem desde os primeiros anos de vida até a

adultez no que se refere às formas de gratificação (modos de sentir prazer) e os equivalentes

corporais destas gratificações, propondo as fases psicossexuais do desenvolvimento.

As fases psicossexuais do desenvolvimento podem ser assim resumidas:

a) fase oral (mais ou menos entre 0-2 anos): esta fase caracteriza-se por uma satisfação de

necessidades através da região oral (boca, língua e dentes). A pulsão básica do bebê relaciona-

se à necessidade de alimentação. Enquanto se alimenta, ele também recebe carinho e atenção.

b) fase anal (mais ou menos entre 2-3 anos): é a fase na qual a criança aprender a controlar os

esfíncters anais e a bexiga. O controle do corpo torna-se uma nova fonte de prazer. Além

disso, ao largar as fraldas, as crianças recebem maior atenção e elogios por parte dos pais.

c) fase fálica (mais ou menos entre 3-5 anos) : é a fase em que as áreas genitais do corpo são

focalizadas pela criança. As diferenças entre meninas e meninos começam a ser notadas. Há

também uma tendência das crianças competirem pela intimidade que seus pais compartilham

entre si, desejando receber mais atenção e carinho (o que ocasiona cenas de ciúmes).

d) período de latência (mais ou menos entre 5 anos e o início da puberdade): aqui os desejos

sexuais não resolvidos na fase fálica são reprimidos inconscientemente pela criança. Esta

passa a se concentrar nas atividades escolares e nos relacionamentos com seus amigos.

e) fase genital (do início da puberdade até o fim da vida): o desenvolvimento biológico e

psicológico finaliza-se nesta fase. Meninos e meninas compreendem suas identidades sexuais

distintas e buscam formas de satisfazer suas necessidades eróticas (associadas aos órgãos

genitais) e interpessoais.

Referência:

Fadiman, J. & Frager, R. (1986). Teorias da Personalidade. Editora Harbra: São Paulo.

Questões

1. Que fatores explicam o desenvolvimento humano?

2. O que é a Epistemologia Genética?

3. Quais são as fases do desenvolvimento cognitivo segundo Piaget?

Page 28: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

27

Relações humanas 5

Fonte: imagem capturada na internet1

Para início de conversa...

- Qual a importância dos grupos em nossas vidas?

- Que características suas contribuem para um bom relacionamento interpessoal?

5.1. A vida em grupo

O nosso dia-a-dia é profundamente marcado pela vida em grupo. Mesmo quando

estamos sozinhos, pensamos em acontecimentos e lembramos de situações que envolvem o

outro, não é mesmo? E ainda que estivéssemos sozinhos em uma ilha deserta, levaríamos

conosco o nosso idioma, nossas crenças, nossos valores, nossa cultura etc. Assim é que

podemos afirmar que em qualquer circunstância humana há determinantes sociais4.

Para viverem juntas, as pessoas precisam combinar algumas regras. Por exemplo, você

aguarda o ônibus na parada porque sabe (e isso já foi previamente estabelecido pelas

companhias de transporte, por órgãos do governo e comunicado à sociedade) que ele passará

naquele local num horário mais ou menos previsível. A essas e outras regularidades

combinadas pela vida em grupo damos o nome de institucionalização4.

Page 29: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

28

No senso comum, o termo instituição é utilizado como sinônimo de empresa ou órgão

público. Na Psicologia Social, porém, instituição se refere a um conjunto de valores e regras

construídos socialmente ao longo de várias gerações e que serve como guia básico de

comportamentos das pessoas. Um exemplo de instituição da nossa sociedade é a monogamia

(casamento somente entre duas pessoas)4.

Instituição: conjunto de valores e regras construídos socialmente ao longo de várias gerações

e que serve como guia básico de comportamentos das pessoas4.

É importante frisar que embora seja uma construção social, a instituição adquire valor

de verdade, sendo tradada como se fosse algo naturalmente correto. Isso porque ela é pouco

percebida nas relações cotidianas, sendo notada somente quando é descumprida (quando um

homem casa-se com várias mulheres, por exemplo).

As instituições são reproduzidas e, por vezes, reformuladas nos grupos4. Um grupo

pode ser definido como um conjunto de pessoas que interagem e influenciam umas as outras

para atingirem um objetivo comum.

Grupo: duas ou mais pessoas que interagem e se influenciam mutuamente visando a um

objetivo comum7.

Como você pode observar na definição acima, um grupo é mais do que um

aglomerado de pessoas. Imagine algumas pessoas na sala de espera de um consultório médico.

Embora todas tenham o objetivo de receber atendimento profissional, não há interação e

influência entre elas. Agora, imagine que uma destas pessoas comece a passar mal. É provável

que os pacientes interajam entre si buscando auxiliá-la. Agora o objetivo de todos é o mesmo,

havendo influências mútuas e interações. Neste último caso, teremos um grupo.

No funcionamento dos grupos observam-se características4 como:

a) o grupo é mais do que a simples soma de seus membros;

b) o grupo modifica-se com a mudança de qualquer subparte;

c) cada um dos membros desempenha diferentes papéis para a execução do objetivo do grupo;

d) os interesses do grupo se sobrepõem aos interesses individuais;

e) a coesão é a forma encontrada para que os objetivos do grupo sejam alcançados.

A coesão, também chamada de solidariedade, indica a influência que o grupo exerce

sobre cada um dos seus membros. Ou seja, ela expresssa-se no sentimento de pertencimento

que cada um possui em relação ao grupo. Quanto mais coeso o grupo, maior será a

responsabilidade e o comprometimento dos seus membros7.

A coesão de um grupo depende muito da atuação do seu líder. É sobre isso que

falaremos a seguir.

5.2. Líder e liderança

Page 30: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

29

Para aumentar a coesão e viabilizar a realização de seus objetivos, os grupos elegem

líderes. Nem sempre o líder é aquele que possui poder legítimo (ou seja, aquele que é o

chefe). Às vezes, quem exerce a função de liderança é aquele que domina certos

conhecimentos (e.g., o aluno que tira as maiores notas da turma) ou que tem o controle sobre

recompensas (e.g., o júri de um show de talentos) ou punições (e.g., um assaltante armado)3.

A liderança pode ser exercida de três maneiras3, a saber:

a) liderança democrática: o líder toma decisões com ajuda do grupo;

b) liderança autocrática: o líder toma decisões sozinho e depois anuncia ao grupo;

c) liderança anárquica: o líder não toma decisão alguma.

O tipo de liderança adotada depende não só das características pessoais do líder, mas

também das características do grupo e da situação envolvida. Às vezes, uma mesma pessoa

pode exercer lideranças distintas dependendo do caso.

Liderança: processo de dirigir e influenciar as atividades relacionadas às tarefas dos

membros de um grupo7.

A liderança não é exercida somente em grupos formais, como nas empresas. Mesmo

em grupos informais podem existir líderes, como acontece em “panelinhas” de uma classe do

colégio. O líder ajuda o grupo a manter-se unido e busca também motivar os seus membros

para a realização dos seus objetivos.

5.3. Motivação

O que motiva as pessoas a fazerem determinadas coisas? O que faz com que uma

pessoa consiga frequentar assiduamente a academia (mesmo nos dias de chuva!) e outra não

consiga fazer o mesmo de forma alguma? O que motiva uma pessoa a deixar de fumar? O que

motiva um indivíduo a ser um bom profissional apesar dos baixos salários?

O tema da motivação é bastante complexo. Há que diga que a motivação é uma porta

que só se abre por dentro... Ou seja, somente a própria pessoa pode se motivar a agir desta ou

daquela maneira. Porém, se certas condições forem oferecidas, as pessoas tenderão a se sentir

mais motivadas, concorda? Por exemplo, se uma mãe tem alguém de confiança com quem

deixar o filho tenderá a se sentir mais motivada para realizar atividades físicas, pois estará

segurança de que ele ficará bem enquanto ela estiver ausente.

Motivação: os fatores que provocam, canalizam e sustentam o comportamento de um

indivíduo.

Compreender o que motiva as pessoas é um passo fundamental para motivá-las. Por

isso, muitos estudiosos criaram as chamadas teorias da motivação. Dentre elas destaca-se a

proposta de Abranham Maslow em sua hierarquia das necessidades7.

Page 31: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

30

Maslow classificou as necessidades humanas de modo lógico e apropriado

representando-as através de uma pirâmide (ver figura abaixo).

Fonte: imagem capturada na internet2

Para Maslow, as pessoas são motivadas a satisfazer a necessidade mais forte em um

determinado momento. Quando uma necessidade mais básica (mais próxima à base da

pirâmide) é ao menos parcialmente satisfeita, a pessoa tenderá a buscar satisfazer o próximo

nível7

(ou o nível acima). Por exemplo, uma pessoa com fome ou sede (necessidades

fisiológicas) provavelmente irá buscar satisfazer estas necessidades antes de pensar em

arrumar um emprego que desenvolva a sua criatividade (necessidade de auto-realização). Essa

teoria explica porque é tão difícil se relacionar bem com as pessoas (necessidade afetivo-

social) quando se está prestes a perder o emprego (necessidade de segurança).

Como se vê, a hierarquia das necessidades é uma teoria quase intuitiva, pois podemos

facilmente pensar em aplicações práticas para os conceitos apresentados, não é? Muitas outras

teorias foram criadas para explicar o fenômeno da motivação humana, mas abordar cada uma

delas não é o objetivo deste capítulo. Para encerrar a discussão sobre as relações humanas,

cabe apresentar um último (mas importantíssimo) tópico: a comunicação interpessoal.

5.4. A comunicação interpessoal

Nas relações humanas, a comunicação exerce papel fundamental, já que é através dela

que as pessoas compartillham significados com a transmissão de mensagens simbólicas7.

A comunicação é um processo que se inicia quando um emissor (pessoa que fala ou

faz gestos) transmite uma mensagem para um receptor (pessoa que percebe a intenção

comunicativa). Este emissor transforma suas ideias (codifica uma mensagem) em palavras ou

gestos e utiliza-se de um canal (ar, no caso da palavra falada e papel no caso da palavra

Page 32: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

31

escrita) para comunicar algo ao receptor. Este interpreta (decodifica) a mensagem e a traduz

em informação significativa7. Observe o esquema abaixo:

Fonte: adaptado de Stoner, J. A. F. & Freeman, R. E. (1995).

Nem sempre a mensagem transmitida pelo emissor chega ao receptor da forma

pretendida. Às vezes, ela é alterada por ruídos que podem ser internos (e.g., quando o receptor

não está prestando atenção) ou externos (e.g., um ambiente barulhento), provocando as

chamadas falhas na comunicação7.

Além dos ruídos, a comunicação eficaz pode ter barreiras como: a) percepções

diferentes (pessoas diferentes percebem fenômenos de forma distinta); b) diferenças de

linguagem (a linguagem empregada pode variar de significado de pessoa para pessoa); c)

reações emocionais (raiva, alegria e tristeza, por exemplo, influenciam como percebemos as

informações que recebemos e que transmitimos); d) inconsistência entre a comunicação

verbal e não-verbal (quando falamos algo e nossos gestos informam o contrário) e; e)

desconfiança (quando não atribuímos credibilidade ao emissor)7.

A clareza nas comunicações é fundamental para o bom andamento dos trabalhos em

grupo. Por isso, cada um deve se esforçar para apresentar suas ideias da forma mais clara

possível, evitando desentendimentos e buscando esclarecer mal entendidos sempre que

necessário. É através da comunicação que os objetivos do grupo poderão ser alcaçados.

Referências

1. Site Administrando a Rede. Disponível em <http://administrandoarede.wordpress.com/2012/05/14/teoria-das-

relacoes-humanas/>. Acesso em 26 jul 2012.

2. Site Conexão RH. Disponível em < http://www.conexaorh.com.br/artigo15.htm>. Acesso em 31 jul 2012.

3. Bateman, T. S. & Snell, S. A. (1998). Administração: construindo vantagem competitiva. (C. A. Rimoli trad.).

São Paulo: Atlas.

4. Bock, A. M. B., Furtado, O. & Teixeira, M. D. T. (2002). Psicologias: uma introdução ao estudo da

psicologia. 13 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva.

5. Massarollo, M. C. K. B., Saccardo, D. P. & Zoboli, E. L. C. P. (2006). Autonomia, privacidade e

confidencialidade (pp. 137-152). Em Orguisso, T. & Zoboli, E. (orgs.). Ética e bioética: desafios para a

enfermagem e a saúde. Barueri: Manole.

6. Schirmer, J. (2006). Ética profissional (pp. 61-67). Em Orguisso, T. & Zoboli, E. (orgs.). Ética e bioética:

desafios para a enfermagem e a saúde. Barueri: Manole.

7. Stoner, J. A. F. & Freeman, R. E. (1995). Administração. 5 ed. (A. Calado trad.). Rio de Janeiro: Prentice-Hall

do Brasil.

Page 33: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

32

PARA APROFUNDAR A DISCUSSÃO...

Sobre a ética e o sigilo profissional

Toda prática profissional envolve a obediência de certos padrões éticos. Ou seja, as

atitudes, escolhas, preferências e gostos pessoais devem ser avaliados e, se necessário,

adaptados para atender às regras estabelecidas como as mais adequadas para o exercício

profissional.

Além de dominar conhecimentos técnicos, os profissionais de saúde devem enfatizar

as relações humanas, desenvolvendo virtudes como empatia, compaixão, honestidade,

fidelidade, coragem, justiça, prudência, sabedoria, entre outras. Assim, o bem estar do outro

será sempre colocado acima do seu próprio ou da instituição, a não ser quando isso possa

resultar em injustiça ou em objeção da consciência.

As relações humanas no campo da saúde deve ser pautada por alguns princípios éticos,

a saber: a autonomia, a privacidade e a confidencialidade. A autonomia refere-se ao respeito

às decisões do usuário do serviço. A privacidade, por sua vez, refere-se ao direito do paciente

decidir se e como dividirá a sua intimidade com o profissional (por exemplo, quem poderá

cuidar do seu corpo ou ouvirá detalhes sobre sua vida íntima). Por fim, a confidencialidade é

um dever do profissional, que se comprometerá em não divulgar qualquer informação sobre o

paciente a terceiros, a menos que isso seja autorizado. Mesmo em trabalhos de equipe, deve-

se ter cuidado de compartilhar somente as informações necessárias à condução dos

atendimentos. Assim, o comprometimento com o sigilo é um requisito fundamental para o

estabelecimento da confiança entre o profissional de saúde e o usuário do serviço,

contribuindo para a maior qualidade nas relações humanas.

Referências:

Schirmer, J. (2006). Ética profissional (pp. 61-67). Em Orguisso, T. & Zoboli, E. (orgs.). Ética e bioética:

desafios para a enfermagem e a saúde. Barueri: Manole.

Massarollo, M. C. K. B., Saccardo, D. P. & Zoboli, E. L. C. P. (2006). Autonomia, privacidade e

confidencialidade (pp. 137-152). Em Orguisso, T. & Zoboli, E. (orgs.). Ética e bioética: desafios para a

enfermagem e a saúde. Barueri: Manole.

Questões

1. O que são grupos?

2. Como uma liderança pode ser exercida?

3. Explique a hierarquia das necessidades de Maslow.

4. Quais são as barreiras para uma comunicação eficaz?

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Reflexões sobre a normalidade 6

Fonte: imagem capturada na internet1

Para início de conversa...

- Você se considera uma pessoa normal?

- O que é ser normal?

- Você já sofreu algum tipo de preconceito por apresentar alguma diferença individual?

6.1. Conversando sobre a normalidade

Conversar sobre o tema da normalidade não é uma tarefa fácil. Afinal, como definir

um fenômeno tão complexo? Além disso, alguns dos sintomas que caracterizam os

transtornos mentais (algumas alterações comportamentais e afetivas) podem ocorrer também

em pessoas ditas “normais”, embora quase sempre de forma mais atenuada. Quantas vezes

não ouvimos que uma pessoa triste está “depressiva” ou que uma mulher um pouco ciumenta

é “paranóica”? Assim, parar tratar deste tema é importante que você – como diriam os jovens

– abra sua mente e tente compreender a saúde mental sob um novo ângulo.

Em primeiro lugar, cabe refletir sobre uma questão fundamental: a proposta deste

capítulo não é abordar a doença mental (enquanto fenômeno patológico) e sim a saúde

mental, um tema que interessa a todos e não somente aos ditos “loucos”. Afinal, de perto

ninguém é normal, não é mesmo? Seria a saúde mental sinônimo de normalidade? Mas o que

é normalidade? E anormalidade?

Page 35: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

34

Em um primeiro momento, podemos dizer que o estado de normalidade em geral

possui certos traços característicos que, embora não sejam regra, nos fornecem alguma

referência. São eles a percepção adequada da realidade, a capacidade de exercer controle

adequado sobre o comportamento, auto-estima e aceitação, capacidade de formar

relacionamentos afetivos e capacidade para produzir3.

Traços característicos da normalidade: percepção adequada da realidade, a capacidade de

exercer controle adequado sobre o comportamento, auto-estima e aceitação, capacidade de

formar relacionamentos afetivos e capacidade para produzir.

Diante disso, alguns poderão dizer que normal é aquele que tem saúde e anormal

aquele que não a tem. Certo? Não exatamente... Você já observou que as pessoas costumam

definir a saúde como a ausência e doença e a definir a doença como ausência de saúde? No

entanto, ainda parece difícil dizer o que é doença e o que é saúde. Sei que essa reflexão pode

parecer complicada demais, mas você tem que “abrir a mente”, lembra?

Então, vamos pensar a saúde (e a normalidade) sob um outro ponto de vista.

Atualmente, há uma ênfase na concepção de saúde enquanto um fenômeno individual,

localizado no indivíduo e fortemente marcado por aspectos biológicos (concepção biológica

do processo saúde-doença). Ou seja, a doença é vista como algo que ocorre dentro do

indivíduo quando o seu organismo não funciona bem.

Concepção biológica da saúde: a doença é um fenômeno individual, que ocorre dentro do

indivíduo quando o seu organismo não funciona bem.

Essa concepção, bastante reducionista, tem dado lugar a uma outra que trata a saúde

como um fenômeno multivariável. Ou seja, a saúde do indivíduo é vista como algo que

envolve, além de causas individuais (idade, sexo, fatores hereditários), questões relacionadas

ao estilo de vida (se é fumante ou sedentário, por exemplo), influências sociais e comunitárias

(a exemplo dos relacionamentos interpessoais), as condições de vida e trabalho (onde mora,

como é o seu ambiente de trabalho) e condições socioeconômicas, culturais e ambientais

(renda familiar, acesso aos serviços de saúde, valores morais, país ou cidade onde vive)6.

Concepção multivariável da saúde: a saúde do indivíduo envolve múltiplas causas, como as

individuais, o estilo de vida, as influências sociais e comunitárias, as condições de vida e

trabalho e as condições socioeconômicas, culturais e ambientais.

Enfim, cada vez mais os aspectos externos às pessoas têm sido considerados como

fundamentais à determinação de sua saúde. Obviamente não nos referimos somente à saúde

do corpo, mas também à saúde mental. A partir daqui você já deve estar percebendo onde eu

quero chegar... Segundo esta nova concepção, não faz mais sentido reduzir a saúde mental à

psicopatologia e à semiologia2 (estudo do conjunto de sinais e sintomas que caracterizam uma

determinada doença). E isso nos leva a pensar na questão da loucura.

Page 36: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

35

6.2. Loucura e estigma

Agora que já falamos um pouco sobre a normalidade, que tal refletirmos sobre a

anormalidade?

A palavra anormal significa “fora de norma”. Muitas características, tais como altura,

peso e inteligência abrangem uma faixa de valores quando medidas em uma população

inteira. A maioria das pessoas, por exemplo, inclui-se na faixa mediana de altura, enquanto

algumas são normalmente altas ou baixas. Uma definição de anormalidade, portanto, baseia-

se na frequência estatística. Mas segundo esta definição, uma pessoa que é extremamente

inteligente ou extremamente feliz seria classificada como anormal. Assim, para definir o

comportamento anormal, precisamos considerar mais do que a frequência estatística3.

Além disso, outros elementos são considerados importantes na determinação de uma

anormalidade. São eles: os desvios das normas sociais (quando o sujeito comporta-se de

modo bastante distinto daquele valorizado socialmente), inadaptação do comportamento

(quando o sujeito age de modo a comprometer seu próprio bem estar ou o bem estar social) e

sofrimento pessoal (quando o modo de ser do indivíduo provoca-lhe angústias e

infelicidade)3.

No entanto, é importante observar que nenhum destes elementos – quando

considerados isoladamente – consegue explicar completamente características ou

comportamentos tidos como anormais. Em geral, todos eles (frequência estatística, desvios

das normas sociais, inadaptação do comportamento e sofrimento pessoal) devem ser

considerados conjuntamente para o diagnóstico da anormalidade3.

Para diagnosticar um determinado transtorno mental, os médicos psiquiatras devem

realizar um extenso e cuidadoso trabalho (inclusive contando com ajuda de profissionais de

outras áreas, como a Psicologia), utilizando como base a Classificação Estatística

Internacional das Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) ou Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV). Estes manuais apresentam uma

lista de sinais e sintomas característicos dos distintos transtornos mentais de modo que

somente a combinação de características específicas (e não a simples ocorrência de um ou

outro sintoma) garantirá um diagnóstico adequado.

Embora não possamos – e nem devamos – negar a existência de um diagnóstico,

devemos ter sempre em mente que mais importante do que olhar a doença é olhar o doente.

O diagnóstico tem sua importância, já que sem ele o tratamento poderia ficar seriamente

comprometido ou impossibilitado. Mais ainda, ter um nome para definir uma determinada

condição que ocorre ao paciente torna a comunicação entre os profissionais de saúde mental

mais eficaz e eficiente. O problema do diagnóstico decorre da atribuição de significados

pejorativos e impróprios àquela condição vivida pelo paciente, que deixa de ser visto como

um ser humano em sofrimento para ser considerado simplesmente como “louco”.

Observe que neste caso (infelizmente tão corriqueiro) a pessoa tem todas as suas

características, tendências, sentimentos, vivências e opiniões desconsiderados. A única coisa

que os outros percebem nele é o rótulo da loucura. A este processo de rotular uma pessoa

recebe o nome de estigmatização. O estigma refere-se às marcas — atributos sociais que um

indivíduo, grupo ou povo carregam e cujo valor pode ser negativo ou pejorativo. Imagine o

que significa para um indivíduo, em termos pessoais e sociais, ser egresso da prisão ou de

instituição psiquiátrica; ser homossexual, prostituta ou portador do vírus HIV?4

Page 37: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

36

Estigma: atributos sociais que um indivíduo, grupo ou povo carregam e cujo valor pode ser

negativo ou pejorativo.

O estigma revela que a sociedade tem dificuldade de lidar com o diferente. Esta

dificuldade é “perpetuada”, ao longo das gerações, pela educação familiar, pela escola, pelos

meios de comunicação de massa, por cada um de nós em nosso cotidiano, o que leva à

construção de uma carreira moral para o indivíduo estigmatizado, isto é, sua identidade tende

a incorporar este atributo ao qual corresponde um valor social negativo4.

Nesse sentido, é importante prestar atenção a situações semelhantes ao processo de

estigmatização que pode permear a vida cotidiana. O profissional vai ter que lidar, além da

doença, também com o estigma que, na verdade, aponta para questões morais, sociais e

culturais de uma determinada comunidade4.

Referências

1. Blog Etérea Paz. Disponível em < http://eterea-paz.blogspot.com.br/2012/03/preconceito-etica-e-os-

estereotipos.html>. Acesso em 10 jul 2012.

2. Amarante, P. (2007). Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 3. Attkinson, R. L., Smith, E. E., Bem, D, J., Nolen-Hoeksema, S. & Smith, C. D. (2002). Introdução à

Psicologia de Hilgard. 13 ed. (D. Bueno trad.). São Paulo: Artmed.

4. Bock, A. M. B., Furtado, O. & Teixeira, M. D. T. (2002). Psicologias: uma introdução ao estudo da

psicologia. 13 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva.

5. França Neto, O. (2009). Uma ética para os novos desdobramentos da reforma psiquiátrica. Ágora, Rio de

Janeiro, 12(1), pp. 119-129. 6. Spink, M. J. (2003). Psicologia social e saúde: prática, saberes e sentidos. Petrópolis: Vozes.

Page 38: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

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PARA APROFUNDAR A DISCUSSÃO...

A reforma psiquiátrica

Há cerca de 30 anos vem tomando corpo no Brasil um movimento social que milita

pela desinstitucionalização do paciente psiquiátrico. [...]. No nosso país aprendemos a chamar

esse movimento de Reforma Psiquiátrica.

Ao se falar em ética na Reforma, poderíamos propor que ela teria, como perspectiva

geral, algo em torno de uma responsabilização do louco, implicando-o na existência enquanto

sujeito. Nesse sentido, o primeiro grande passo foi a derrubada dos muros dos nosocômios,

visando com isso criar as condições para a inscrição da loucura na pólis. Mas a questão é mais

complexa. Para se atingir esse objetivo, tudo indica que não podemos nos restringir a essa

primeira etapa. Uma desinstitucionalização progressiva, apesar de necessária, não tem se

mostrado suficiente para garantir uma real mudança no status jurídico do "louco". Sua

responsabilização jurídica não é simples, pois este se encontra em uma imprecisa zona de

indiscernibilidade, na qual os limites legais exigem contínua reformulação.

[...]

Os manicômios já esgotaram sua potencialidade em mobilizar nossas reflexões.

Tornou-se necessário destituí-los do lugar de referência para tratamento dos "insanos", para

que pudessem voltar a adquirir a potência de colocar em questão nossas universalidades.

Hoje, talvez seja primordialmente nos impasses causados pela inscrição jurídica e social dos

loucos, dos menores infratores, dos imigrantes ilegais e de todos aqueles que colocam em

xeque a universalidade instituída, o local por excelência onde novas subjetividades possam vir

a ser pensadas.

[...]

Referência:

França Neto, O. (2009). Uma ética para os novos desdobramentos da reforma psiquiátrica. Ágora, Rio de

Janeiro, 12(1), pp. 119-129.

Questões

1. Qual a diferença entre as concepções biológica e multivariável da saúde?

2. É fácil definir o que é anormalidade no âmbito da saúde mental? Justifique.

3. O que é estigma? Qual a sua relação com o diagnóstico?

4. Em sua opinião, os diagnósticos em saúde mental deveriam deixar de existir? Por quê?

5. Como você definiria a reforma psiquiátrica?

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38

Sobre o adoecimento e a morte 7

Fonte: a autora

Para início de conversa...

- Você considera difícil dar suporte emocional às pessoas que vivenciam sérios problemas de

saúde ou aos seus familiares?

- O adoecimento do corpo gera implicações psicológicas?

- Qual a melhor maneira de lidar com a morte?

7.1. Diagnóstico e tratamento

Não importa se a procura por um serviço de saúde ocorreu devido a uma queixa

qualquer ou ao hábito de fazê-lo como periódica medida preventiva. Receber o diagnóstico de

uma doença grave é sempre uma questão delicada para a maioria das pessoas.

O dicionário da língua portuguesa Aurélio define o diagnóstico como “conhecimento

ou determinação duma doença pelos seus sintomas, sinais e/ou exames diversos” (Ferreira,

2000, p. 234). Assim, o termo refere-se tanto ao nome da enfermidade em si, quanto ao

conhecimento envolvido em sua determinação.

Page 40: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

39

Diagnóstico: conhecimento ou determinação duma doença pelos seus sintomas, sinais e/ou

exames diversos3.

A realização adequada do diagnóstico é fator fundamental na orientação do

tratamento. Este apresenta distintas definições no diciorário Aurélio (Ferreira, 200, p. 684),

sendo uma delas “procedimento médico que visa curar, aliviar ou prevenir”. Tal definição é

mesmo intuitiva, já que revela o primeiro pensamento que temos sobre o que seja tratar.

Porém, os profissionais da área de saúde devem buscar não somente conceber o tratamento

como a realização de procedimentos, mas realiza-lo como forma de “acolhida, recepção”, uma

outra definição para o termo encontrada no mesmo dicionário.

Tratamento: 1. procedimento médico que visa curar, aliviar ou prevenir. 2. acolhida,

recepção3.

Seja durante a realização do diagnóstico, seja na prática do tratamento, o profissional

de saúde deve sempre ter em mente o estado fragilizado do paciente. A doença causa uma

série de transtornos a sua vida, implicando em alterações na sua rotina e nos seus

relacionamentos interpessoais. Em casos mais graves, o paciente permanece internado em

hospitais por um tempo mais ou menos longo, afastando-se de sua casa, de sua família, de

seus afazeres diários e dos lazeres habituais. Deste modo, ainda que a enfermidade acometa

em um primeiro momento o seu corpo, haverá sempre implicações psicológicas no

adoecimento que precisam ser consideradas e igualmente tratadas.

7.2. Implicações psicológicas do adoecimento

Nunca o corpo foi alvo de tanto cuidado como tem sido atualmente, sendo

administrado, manipulado e reparado através de infinitos recursos terapêuticos. Isso se deve,

dentre outras coisas, a uma visão cada vez menos tolerante quanto à falta de controle sobre os

próprios impulsos, sobre a doença e sobre o envelhecimento5.

Numa sociedade que valoriza o desempenho (fazendo com que as pessoas tenham que

ser cada vez mais ágeis e eficientes em todos os setores da vida), não é dado ao corpo o

direito de apresentar uma fraqueza qualquer, de modo que se procura corrigi-la tão rápido

quanto possível. Não queremos defender com isso que não se devam utilizar os recursos

tecnológicos de que os serviços de saúde dispõem. Porém, é de extrema importância que o

profissional de saúde busque compreender o significado que o adoecimento possui para o

paciente sob os seus cuidados, percebendo a doença como parte constitutiva da vida, e não

algo que deve ser prontamente eliminado a qualquer custo5.

A doença expressa seus sintomas no corpo do paciente5. Isso faz com que somente ele

seja capaz de dizer, mesmo que não possua qualquer conhecimento técnico, o que sente e

como gostaria de ser – ou não – tratado. Nesse sentido, somente através da conversa e do

sincero interesse o profissional poderá ajudar, de fato, o paciente em sofrimento.

Nas práticas assistenciais, não é incomum observar o desrespeito à autonomia do

paciente. Este deve sempre “colaborar” com a realização de procedimentos6 como se o

Page 41: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

40

trabalho do profissional fosse realizado como simples favor. Nesse tipo de ocasião, cabe

sempre refletir que a decisão do paciente poderá ser distinta daquela que os profissionais

julgam como o melhor, não devendo o profissional conduzi-lo à força na execução de certos

procedimentos técnicos.

O não respeito à autonomia do paciente é um aspecto que gera importantes

implicações psicológicas, afinal, tira-se dele o direito de decidir sobre si mesmo, sobre sua

saúde e sobre sua vida. O paciente tenderá a sentir-se despersonalizado, já que é

desconsiderado em suas particularidades, preferências, defeitos e qualidades. Em geral,

refere-se a ele como “doente”, “paciente do doutor fulano” ou mesmo “ocupante do leito 12”.

Deste modo, quanto mais longo o tempo da doença e quanto mais grave a sua condição,

maiores são as chances de sentir-se despersonalizado1.

O processo de despersonalização do paciente agrava-se devido à crescente

especificação dos diagnósticos, os quais fragmentam a totalidade do indivíduo de acordo com

o órgão do corpo afetado e priorizam somente a existência de um determinado sintoma em

particular1. Assim é que muitas vezes o paciente passa a ser reconhecido pela equipe em

virtude de sua condição médica (e. g., paciente com fratura no braço direito).

Outras importantes implicações psicológicas do adoecimento referem-se a alterações

na percepção de si mesmo e de corpo (ver capítulo 3). Ao perceber-se como doente, o

paciente poderá comportar-se como tal, muitas vezes adotando uma postura mais retraída e

menos esperançosa quanto às suas possibilidades de cura2. Pelo que já estudamos, a percepção

e a afetividade possuem uma relação bastante estreira. Assim, a percepção que o paciente

apresente da sua condição repercutirá diretamente em seu estado emocional.

Não é incomum encontrar pessoas em situações de enfermidade bastante desgastadas

emocionalmente. Ocorre frequentemente casos de depressão ou crises de ansiedade como

consequência de longos períodos de tratamento, afastamento da família e do trabalho,

incerteza quanto às chances de reconquistar a saúde2 ou dos problemas financeiros gerados

pela doença. Este último é um aspecto que não pode ser desconsiderado, especialmento nos

casos em que o paciente é o principal provedor financeiro da família.

Uma última, mas não menos importante, implicação psicológica do adoecimento é o

medo. O medo do incerto, o medo de sentir dor, o medo de não mais poder retornar ao

convívio familiar. Enfim, o medo da morte.

7.3. Enfrentando a morte

Embora estudemos o ciclo da vida (nascimento, crescimento, amadurecimento,

reprodução e morte) já nos primeiros anos escolares, bem poucas pessoas concebem a morte

como um fenômeno natural que ocorrerá a todo e qualquer ser vivo, mais cedo ou mais tarde.

Nota-se que a morte vem sendo desnaturalizada com o passar dos anos. Se há algumas

décadas era comum morrer em casa cercado por familiares, hoje morre-se em hospitais

cercado por equipamentos e cuidados profissionais, muitas vezes sem a participação dos

parentes (especialmente das crianças)4. E com isso reforça-se a ideia de que a morte não pode

ser vivida, não pode ser compartilhada. É quase errado morrer. Decide-se, assim, não falar

sobre o assunto como se ele, deste modo, pudesse simplesmente deixar de existir.

Page 42: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

41

O tema da morte, tão temido e tão adiado, deve fazer parte das reflexões dos profissionais

que lidam com a saúde, já que nem sempre o diagnóstico adequado e o tratamento de última

geração levam o paciente à cura. Ou seja, é bastante válido refletir sobre como lidar com a

morte tanto do âmbito pessoal quanto no âmbito profissional, considerando que muitas vezes

o modo como se vive a perda de um ente querido é pior do que o fato da morte em si.

Buscando compreender melhor o fenômeno da morte, a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross

realizou uma vasta pesquisa com pacientes em estado terminal na qual questionava-se o que a

equipe de saúde poderia fazer para ajudá-los a enfrentar melhor aquela situação4.

Através das entrevistas com os citados pacientes, a autora percebeu que havia uma certa

progressão de estados psicológicos que indicava o modo como a doença e a morte estavam

sendo encaradas. A partir daí, foram descritas as cinco fases do luto4, resumidas da seguinte

maneira:

a) 1° fase: negação e isolamento – ao saber que possui uma doença terminal, a maioria dos

pacientes tem dificuldades em aceitá-la num primeiro momento, negando sua existência e

buscando isolar-se das outras pessoas.

b) 2° fase: raiva – ao perceberem que não mais podem negar a gravidade de suas doenças, os

pacientes tendem a expressar raiva aos profissionais e aos familiares, sentindo profundo

ressentimento contra o mundo, contra Deus e contra as pessoas sadias.

c) 3° fase: barganha ou tentativa de adiamento – nesta fase os pacientes costumam tentar

realizar algum tipo de acordo com a divindade como forma de adiar o desfecho inevitável.

Assim, deixam de se dirigir a Deus com ira e revolta, e tentam negociar com calma mudanças

na vida que levavam até então (deixar de fumar, frequentar mais a igreja) para que possam

viver um pouco mais.

d) 4° fase: depressão – ao constatar que todos os seus pedidos e acordos podem ter sido em

vão e que o morte o vencerá de qualquer maneira, muitos pacientes sentem-se deprimidos. É

uma fase mal compreendida pelos familiares e pela maioria dos profissionais. Em geral, tenta-

se a todo custo fazer com que o paciente lute pela vida até o último instante. Porém, a quarta

fase do luto é fundamental por ajudar o paciente a se despedir gradualmente da vida. Cabe

ressaltar que nesta e em todas as outras fases, nunca se deve tirar as esperanças do doente.

e) 5° fase: aceitação – o luto encerra-se na fase de aceitação, na qual o paciente sente-se

pronto e tranquilo para deixar a vida. O paciente percebe a morte como algo natural e

inevitável.

De um modo geral, as fases do luto abedecem a uma certa ordem cronológica. Porém,

é possível que diferentes pessoas experienciem cada fase de um modo particular. Isso inclui a

possibilidade de passar mais tempo em uma fase do que em outra, em retornar a fase anterior

ou mesmo em pular certas fases.

Page 43: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

42

Além disso, as fases do luto podem ser também vivenciadas pelos parentes do

paciente, os quais se encontram igualmente em um momento de despedida, ou mesmo diante

de alguma outra experiência que simbolize a morte (e. g., divórcio ou aposentadoria).

De qualquer modo, Elizabeth Kübler-Ross demonstra que em qualquer fase do luto

(mesmo na de aceitação) existe a esperança de que a vida dure um pouco mais. Em nenhuma

hipótese deve-se fazer o paciente perder esta esperança porque, ainda que o morte se

apresente em breve, o tempo de vida restante poderá ser vivido com mais dignidade.

Referências

1. Baptista, N. M. & Dias, R.R. (2003). Psicologia Hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan.

2. Calil, G. S. (2012). O processo de adoecimento, hospitalização e tratamento para um portador de

insuficiência renal crônica (2010). Monografia, Graduação em Psicologia, Faculdade de Ciências de Educação e

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de Janeiro: Nova Fronteira.

4. Kübler-Ross, E. (1996). Sobre a morte e o morrer: o que os doentes têm para ensinar a médicos, enfermeiras,

religiosos e aos seus próprios parentes (P. Menezes trad.), 7 ed. São Paulo: Martins Fontes.

5. Marzano-Parisoli, M. M. (2004). Pensar o corpo. (L. M. E. Orth trad.). Petrópolis: Vozes. 6. Massarollo, M. C. K. B., Saccardo, D. P. & Zoboli, E. L. C. P. (2006). Autonomia, privacidade e

confidencialidade. Em Orguisso, T. & Zoboli, E. (orgs.). Ética e bioética: desafios para a enfermagem e a saúde

(pp. 137-152). Barueri: Manole.

Page 44: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

43

PARA APROFUNDAR A DISCUSSÃO...

A notícia

E eis que chega a hora de transmitir a notícia de que algum paciente morreu. Os

familiares esperam ansiosos por notícias. Os profissionais tentam ao máximo adiar esse

momento...

É difícil estabeler uma regra sobre como e através de quem os parentes devem ser

avisados. Em geral, espera-se que o médico realize a comunicação, porém isso não é regra. É

possível que um outro profissional, mais próximo ou sensível, seja incubido desta tarefa.

A morte é um evento complexo que pode despertar profundo sentimento de tristeza,

desamparo e pesar. Exigir que a família permaneça calma e que não expresse sua dor é negar

o direito que todos têm de exercer sua humanidade. O que de melhor se pode fazer é estar

atento aos seus próprios sentimentos, às suas próprias reações para evitar que o sofrimento

(saudável e humano) se transforme em pretexto para frieza e descaso.

Aprender a lidar com a morte no ambiente profissional não é arranjar maneiras (e aqui

os mecanismos de defesa podem perfeitamente ser mencionados) para torna-se imune a ela. É

ser capaz de estar empaticamente unido àquelas pessoas que sentem muito pela recente perda.

É olhar nos olhos delas e dizer da forma mais clara e simples possível que não houve como

evitar a morte daquele ente querido. É, se for o caso, se emocionar junto e se colocar à

disposição para prestar algum tipo de apoio dentro das suas possibilidades.

É mais fácil transmitir notícias de falecimento quando nós mesmos percebemos a

morte como uma parte natural da vida. E, mais do que isso, quando nós estamos certos de que

fizemos o que havia ao nosso alcance para que aquela vida fosse preservada.

Referência:

A autora

Questões

1. O que é diagnóstico?

2. O que é tratamento?

3. Qualquer enfermidade, mesmo as corporais, geram implicações psicológicas?

4. O que significa dizer que a morte tem sido desnaturalizada?

5. Quais são as cinco fases do luto?

6. Existe uma maneira correta de comunicar a morte de algum paciente a sua família? Como

seria ela?

Page 45: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

44

Humanização e cuidado 8

Fonte: a autora

Para início de conversa...

- O que significa humanizar os serviços de saúde?

- Há relação entre humanização e cuidado?

- A pessoa já nasce ou se torna cuidadora?

8.1. Humanizar é preciso

Muito já foi falado em capítulos anteriores sobre a necessidade de o profissional de

saúde olhar o paciente como um ser humano em situação de sofrimento. Muito foi dito

também sobre as implicações psicológicas do adoecimento, que podem ocorrer mesmo em

virtude de doenças originalmente instaladas no corpo.

Todas essas discussões sobre levar o olhar da Psicologia, a empatia e o cuidado aos

atendimentos evidenciam que é preciso humanizar os serviços de saúde. Mas não foi sempre

assim.

Até o século XVIII as instituições hospitalares eram locais nos quais somente os

pobres recebiam algum tipo de assistência, já que os ricos tratavam-se em casa. Por conta

disso, os hospitais acabaram contribuindo para a exclusão social, pois que serviam ao duplo

propósito de prestar assistência a pobres, doentes e loucos (pessoas estigmatizadas, lembra?) e

de proteger a sociedade do “perigo” que essas pessoas representavam1.

Page 46: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

45

Já no século XIX, a ênfase na abordagem técnico-científica da doença e o

aprimoramento da realização de diagnósticos e tratamentos fizeram com que o ato de

confortar e consolar os pacientes fosse visto como uma coisa ultrapassada1. Essa concepção

biológica da doença (concepção anatomofisiológica) faz com que pessoas sejam reduzidas a

uma simples estrutura modelizável2. Ou seja, seu corpo torna-se impregnado da doença que

possui e a pessoa, em si, é reduzida ao seu estado patológico.

Somente em 1990 houve a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), criado com

o objetivo de democratizar a saúde e reduzir as desigualdades sociais. O SUS possui

princípios que norteiam suas atividades, tais como a universalidade (qualquer pessoa poderá

ter acesso aos serviços), a integralidade da assistência (todos os serviços de saúde serão

integrados entre si) e a igualdade (ninguém deverá ter privilégios).

Sistema Único de Saúde: política pública que visa à construção da democracia, à redução das

desigualdades sociais e à inclusão social. Posui princípios como a universalidade, a

integralidade e a igualdade4.

Esse passeio histórico surge para revelar que a necessidade de humanizar os serviços

de saúde são recentes. Tal necessidade parte da constatação de que os avanços técnicos e

científicos no setor saúde não têm sido acompanhados por avanços na qualidade das relações

humanas. Frequentemente, o lidar com o paciente restringe-se à realização de diagnósticos e

tratamentos, sem haver iniciativas para melhorar o contato pessoal e a qualidade de vida1.

Nesse cenário, percebe-se a desconsideração pelas necessidades emocionais e

existenciais do ser em sofrimento, sendo este descaso quase sempre “desculpado” pelas

precárias condições estruturais do sistema de saúde. Que a saúde pública (e mesmo a privada)

brasileira encontra-se em situação de crise todos sabemos. Porém, a falta de recursos materiais

não deve ser usada como justificativa para o constante descaso humanitário. É preciso

considerar que existem outros fatores como a arrogância, a falta de vocação, o comercialismo,

a insensibilidade1 e, em última instância, a cultura de que os serviços públicos de saúde não

podem ser oferecidos com qualidade.

Uma das estratégias para superar esses conhecidos problemas da saúde pública é a

Política Nacional de Humanização (PNH), criada em 2004 pelo Ministério da Saúde. A ideia

desta política é construir e fortalecer atitudes dos profissionais de saúde para que os vínculos

com os usuários dos serviços tenham melhor qualidade4.

Ainda que não seja possível garantir um atendimento isento de falhas aos usuários dos

serviços de saúde, o profisisonal deve buscar ao menos ouvi-los, compreendê-los, acolhê-los,

considerá-los em suas opiniões, queixas e necessidades de modo que, juntos, profissional e

pacientes possam buscar as melhores alternativas naquele contexto1. Deve-se fazer do

atendimento um verdadeiro encontro de pessoas, havendo o reconhecimento do outro que

busca ajuda, o reconhecimento de que todos precisam de ajuda em algum momento de suas

vidas e de que todo mundo sabe alguma coisa e ninguém sabe de tudo6. É preciso ouvir o

usuário para que ele diga o que espera do serviço prestado e, ao mesmo tempo, que o

profissional apresente as possibilidades existentes para resolver a demanda trazida. Deste

modo, o paciente poderá escolher (exercício da autonomia) de que modo deseja resolver ou

amenizar a sua situação de sofrimento.

Em uma frase, humanizar o atendimento em saúde é integrar o comportamento ético e

o arsenal técnico-científico, de forma que as necessidades existenciais dos usuários sejam

contempladas1. Para isso, é fundamental que haja melhorias nas condições de trabalho no

setor saúde ao mesmo tempo em que procura-se transformar também a cultura organizacional.

Page 47: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

46

Humanizar o atendimento em saúde é integrar o comportamento ético e o arsenal técnico-

científico, de forma que as necessidades existenciais dos usuários sejam contempladas.

Um serviço humanizado pressupõe a consideração da pessoa doente e não apenas da

doença. Por isso, a pessoa deve ser atendida em seus aspectos físico, emocional, psíquico e

social. Assim, humanizar os atendimentos em saúde implica em uma mudança de postura na

qual a simples realização de procedimentos técnicos dê lugar à prática do cuidado.

8.2. Humanização e cuidado

A literatura apresenta os termos humanização e cuidado ora como conceitos distintos,

ora como sinônimos. Essa confusão conceitual revela-se também em termos como “cuidado

humanizado” ou “humanização do cuidado”9. De qualquer maneira, humanização e cuidado

relacionam-se profundamente, de modo que a discussão deste capítulo não poderia ficar

completa sem a presença de ambos.

Há autores que apresentam o cuidado como um fenômeno existencial que faz parte do

ser e como condição para a sua própria humanidade8. Assim, todo ser humano é considerado

potencialmente como um ser do cuidado, sendo esta capacidade mais ou menos desenvolvida

em virtude de suas características pessoais, do contexto em que vive, de sua cultura ou de sua

condição sócio-econômica7. Ou seja, o termo “potencialmente” indica que a pessoa pode

escolher se e como expressará esse cuidado, mas que existe sempre a possibilidade para tal.

A relação de cuidado implica na consideração do outro, na existência da

responsabilidade e do compromisso. Implica ainda na busca pela promoção e pelo

favorecimento de um ser que encontra-se em estado de vulnerabilidade, através da satisfação

de suas necessidades7. Por isso é que o cuidador deve colocar-se no lugar desse outro

(empatia) na tentativa de descobrir qual de suas necessidades devem ser atendidas e de que

modo isso deve ser feito.

Pelo que foi dito, você já deve estar percebendo que a diferença entre cuidar e realizar

procedimentos tem mais a ver com a intenção de prover o bem a outro ser do que com a

realização de determinadas ações. E essa intenção de cuidar do outro depende profundamente

do modo como cuidamos de nós mesmos.

8.3. Cuidar de si para cuidar do outro

Todos sabemos o quanto é difícil cuidar de si no corre-corre cotidiano. Há sempre

tantas coisas a fazer que a última pessoa a ser lembrada somos nós mesmos. Então, fica a

pergunta: como cuidar bem do outro sem cuidar de si?

Cuidar de si envolve buscar qualidade de vida, ter boas relações interpessoais,

procurar boas condições de trabalho e cultivar hábitos saudáveis. Além disso, diz respeito a

estar atento aos sinais que o próprio corpo oferece, não adiando a consulta ao médico (nem ao

psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo etc.) quando necessário.

Por lidar constantemente com pessoas em grande situação de sofrimento, é comum

que os profissionais de saúde sintam-se por vezes cansados e impotentes. Essa situação pode

ser considerada normal se for resolvida com um pouco de descanso ou lazer. Porém, se o

desgaste emocional for intenso ao ponto da pessoa se sentir completamente esgotada, torna-se

necessário buscar apoio profissional.

Esse tipo de situação foi descrita pelo médico americano Herbert Freudenberger,

recebendo o nome de Síndrome de Burnout (do inglês burn=queimar e out=exterior). Isso

Page 48: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

47

sugere que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e emocionalmente (tal qual

fogueira que se apaga após queimar) chegando ao seu limite máximo2.

Síndrome de Burnout: quadro clínico causado por alto estresse ocupacional com predileção

para profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas,

principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda2.

O quadro clínico da Síndrome de Burnout caracteriza-se por2:

a) esgotamento emocional;

b) sentimento de despersonalização (atitudes negativas, descaso ou cinismo em relação a

outras pessoas);

c) somatização do estresse (dores no corpo, perda de peso, alergias, dor de cabeça, mal estar

geral, desordens gastrintestinais, úlceras etc.);

d) manifestações emocionais: falta de realização pessoal, avaliação negativa do trabalho

desenvolvido, sentimento de vazio, esgotamento, fracasso, impotência e baixa autoestima;

e) Irritabilidade, inquietude, dificuldade para se concentrar e comportamentos agressivos;

f) maior probabilidade de desenvolver comportamentos aditivos, como consumo excessivo de

álcool, cigarro, remédios, café e drogas ilícitas;

g) distanciamento afetivo, frequentes conflitos interpessoais no trabalho e na família e baixo

rendimento pessoal.

A Síndrome de Burnout é tratada com uso de antidepressivos e psicoterapia. Além

disso, torna-se indispensável investir numa melhor qualidade de vida, praticando exercícios

físicos regularmente, preferindo uma alimentação balanceada, dormindo bem à noite e

reservando um tempo para o lazer. Se não for possível evitar a carga estressante do trabalho,

vale a pena pensar em novos objetivos profissionais mais condizentes com suas necessidades

e espectativas3. Nunca é demais lembrar, para cuidar do outro é fundamental cuidar de si.

Referências

1. Ballone, G. J. (2008). Humanização do Atendimento em Saúde. Em PsiqWeb. Disponível em

<www.psiqweb.med.br>. Acesso em 31 jul 2012.

2. Ballone, G. J. (2009). Síndrome de Burnout. Em PsiqWeb. Disponível em <www.psiqweb.med.br>. Acesso

em 31 jul 2012.

3. Dráuzio Varela.com.br. Síndrome de Burnout. Disponível em <http://drauziovarella.com.br/doencas-e-

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Pinheiro, R. & Mattos, R. A. (orgs.) Construção da integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde (pp. 89-

111). Rio de Janeiro: ABRASCO.

7. Waldow, V. R. (2008). Atualização do cuidar. Aquichán, 8(1), 85-96.

8. Waldow, V. R. (2011). Uma experiência vivida por uma cuidadora, como paciente, utilizando a narrativa

literária. Texto & Contexto - Enfermagem, 20(4), 825-833.

9. Waldow, V. R. & Borges, R. F. (2011). Cuidar e humanizar: relações e significados. Acta Paulista de

Enfermagem, 24(3), 414-418.

Page 49: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

48

PARA APROFUNDAR A DISCUSSÃO...

Como ser um profissional humanizado?

Em razão do desenvolvimento tecnológico na medicina, alguns aspectos mais

sublimes do paciente, tais como suas emoções, suas crenças e valores, ficaram em segundo ou

terceiro planos. A doença, entretanto, objeto do saber cientificamente reconhecido, passou a

monopolizar a atenção do ato médico. E deve ter sido com esse enfoque eminentemente

técnico que a medicina se desumanizou.

Humanizar o atendimento não é apenas chamar o paciente pelo nome, nem ter

constantemente um sorriso nos lábios mas, além disso, é compreender os medos, angústias e

incertezas, é dar apoio e atenção permanente ao paciente. Humanizar também é, além do

atendimento fraterno e humano, procurar aperfeiçoar os conhecimentos continuadamente, é

valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos elementos implicados na assistência.

Na realidade, a humanização do atendimento, seja em saúde ou não, deve valorizar o respeito

afetivo ao outro, deve prestigiar a melhoria na vida de relação entre as pessoas em geral.

Entre os tópicos importantes na humanização do atendimento em saúde escolhemos

alguns poucos, mas relevantes, para registrar aqui; o interesse e competência na profissão, o

diálogo entre o profissional e o usuário e/ou seus familiares, o favorecimento de facilidades

para que a vida da pessoa e/ou de seus familiares seja melhor, evitar aborrecimentos e

constrangimentos e, por fim o respeito aos horários de atendimento. Como se percebe, esses

não são tópicos monopolizados pela área da saúde. Eles deveriam orientar os relacionamentos

interpessoais em geral.

Alguns aspetos são diretamente relacionados ao que se pretende com a humanização

do atendimento em saúde:

a) aprimorar o conhecimento científico continuadamente; interesse e competência;

b) aliviar sempre que possível, controlar a dor e atender as queixas físicas e emocionais;

c) oferecer informações sobre a doença, prognóstico e tratamento;

d) respeitar o modo e a qualidade de vida do paciente;

e) respeitar a privacidade (e dignidade) do paciente;

f) compreender a importância de se oferecer ao paciente um suporte emocional adequado;

g) a instituição deve oferecer condições de trabalho adequadas ao profissional de saúde.

Referência:

Ballone, G. J. (2008). Humanização do Atendimento em Saúde. Em PsiqWeb. Disponível em

<www.psiqweb.med.br>. Acesso em 31 jul 2012. (adaptado)

Questões

1. Qual a importância da humanização no setor saúde?

2. Como você explicaria a relação entre humanização e cuidado?

3. Como o profissional de saúde pode cuidar de si?

4. O que é Síndrome de Burnout?

5. Que comportamentos podem ser adotados por profissionais que buscam a humanização dos

serviços de saúde?

Page 50: Granja, M. C. L. (2012). Material Didático de Psicologia do IMIP

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Referências Bibliográficas

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