Grandes São as Palavras de Isaías

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8/7/2019 Grandes São as Palavras de Isaías http://slidepdf.com/reader/full/grandes-sao-as-palavras-de-isaias 1/9 Grandes São as Palavras de Isaías Hugh W. Nibley Cheguei ao ponto de não ter mais nada que dizer. Quanto a mim, as escrituras dizem tudo. “E agora eis que vos digo que deveis examinar estas coisas. Sim, ordeno-vos que examineis estas coisas diligentemente, porque grandes são as palavras de Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas as coisas relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos gentios. E todas as coisas que ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras que ele disse” (3 Néfi 23:1-3). Apenas esta citação nos poupa a inconveniência de fazer apologia por Isaías. O livro de Isaías é um tratado para os nossos dias; a nossa própria aversão a ele é testemunho de seu grande valor. É necessário nos lembrar de sua importância, porém, pois a mensagem de Isaías não é popular, e ele nos diz por que. Os iníquos não gostam de ouvir a acusação de suas culpas. Toda sociedade, por corrupta que seja, tem algumas coisas de bom—senão não conseguiria sobreviver de um ano para outro. Convenhamos, não é mas agradável falar do bem do que do mal? O povo de Zaraenla, conforme disse Samuel, o lamanita, queria que os profetas falassem do que havia de bom em Zaraenla, e não do que havia de errado. Aqui há um grande perigo: o que há de certo numa sociedade mal pode prejudicá-la, mas somente uma falha séria pode destruí-la. Não se vai ao médico para saber o que está funcionando bem, e sim a causa da doença e as ameaças à saúde. Porém, Isaías diz que o povo de Israel quer ouvir coisas bonitas: “Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis” (Isaías 30:10). Desde então o processo de interpretar Isaías tem sido o de fazê-lo aprazível. Considerem alguns exemplos conspícuos disso dos doutores e eruditos: 1. A noção de que Isaías só moraliza em vez de ensinar a doutrina. Porém, ele começa por chamar Israel os filhos de Deus (Isaías 1:2); ele insiste nisso ao longo do livro—Deus é seu Pai. É a primeira Regra de Fé. Mas os israelitas não querem enxergar (Isaías 1:3); não querem saber de doutrina (Isaías 1:4). Não enxergam nada que não queiram ver, diz Isaías. São funcionalmente cegos. Já de propósito cortaram as linhas de comunicação, mas se queixam de não receber nenhuma mensagem. O livro de Isaías está repleto de coisas óbvias, especialmente para os Santos dos Últimos Dias, que os outros não vêem. Os rabinos fazem escárnio da sugestão que Isaías realmente se refere a Cristo. Mas nós vamos muito além disso. Vemos nele o Livro de Mórmon e o chamado específico de Joseph Smith. E quem dirá que não temos razão? 2. A idéia de que o Deus de Isaías é o Deus de ira, selvagem e vingativo, do Velho Testamento, o Deus tribal. Se é verdade, não precisamos levá-lo a sério. Estamos dispensados. Mas na realidade o Deus de Isaías é a própria bondade. “Vinde então, e argüi-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve” (Isaías 1:18). Nisto não há nada de autoritário; Ele está sempre disposto a palestrar e esclarecer. Suas declarações mais ameaçadoras são logo seguidas de mostras de que Ele está sempre disposto e preparado, esperando, incentivando e implorando com paciência. É Israel que não quer ouvir; eles é que cortam o diálogo e saem, virando as costas diante d’Ele, pedindo-Lhe que se cale. 3. A noção de Isaías se dirige somente a grupos especiais. Na verdade ele fala a pessoas boas e más—mas são as mesmas! Ai de Israel! Boas novas a Israel! É o mesmo Israel. E não fala somente a Israel, mas a toda a humanidade; ele se dirige `as nações e a seus líderes, mas não fala somente à sua geração mas a todas. Néfi aplicou as palavras de Isaías a seu próprio povo no deserto “para nosso proveito e instrução” (1 Néfi 19:23). Seiscentos anos depois, Jesus Cristo adverteu aos nefitas que fizessem igual, e o anjo Morôni entregou a mesmíssima mensagem à nossa geração. Isaías só tem uma audiência porque que só tem uma mensagem. Ele se dirige a quaisquer mortais na face da terra que precisem do arrependimento. Isto nos leva ao próximo ponto. 4. A idéia de que há mais de um Isaías e que todos eles nos dizem coisas diferentes. Já que há somente uma mensagem e uma audiência, este argumento se torna trivial. A mensagem é a de alegria: “Arrependei-vos, e tudo será bem—melhor do que se pode imaginar!” A mensagem somente é cruel para aqueles que não pretendem arrepender-se. Isaías não faz distinção entre os bons e os maus, somente entre aqueles que se arrependem e aqueles que não. Ele não pergunta onde estamos—ele já sabe—só pergunta em que direção vamos. Naturalmente apenas aqueles que precisam arrepender-se podem-se arrepender, mas isso se aplica a todos, de igual modo. Será que uma pessoa precisa mais do arrependimento do que outra? Esdras e Baruque protestaram a Deus que, embora Israel tivesse pecado, os gentios agiram pior ainda. Por que, perguntaram eles, os gentios levaram uma pena mais suave? Mas Deus não aceitou o argumento deles. Sempre se pode achar alguém mais pecador que nós para sentirmo-nos mais virtuosos: aqueles terroristas, os perversos, os comunistas. São estes que precisam-se arrepender! Sim,

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Grandes São as Palavras de Isaías

Hugh W. Nibley 

Cheguei ao ponto de não ter mais nada que dizer. Quanto a mim, as escrituras dizem tudo. “E agora eisque vos digo que deveis examinar estas coisas. Sim, ordeno-vos que examineis estas coisas

diligentemente, porque grandes são as palavras de Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas ascoisas relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos gentios.E todas as coisas que ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras que ele disse” (3 Néfi23:1-3). Apenas esta citação nos poupa a inconveniência de fazer apologia por Isaías. O livro de Isaías éum tratado para os nossos dias; a nossa própria aversão a ele é testemunho de seu grande valor. Énecessário nos lembrar de sua importância, porém, pois a mensagem de Isaías não é popular, e ele nosdiz por que. Os iníquos não gostam de ouvir a acusação de suas culpas. Toda sociedade, por corrupta queseja, tem algumas coisas de bom—senão não conseguiria sobreviver de um ano para outro.Convenhamos, não é mas agradável falar do bem do que do mal? O povo de Zaraenla, conforme disseSamuel, o lamanita, queria que os profetas falassem do que havia de bom em Zaraenla, e não do quehavia de errado. Aqui há um grande perigo: o que há de certo numa sociedade mal pode prejudicá-la,mas somente uma falha séria pode destruí-la. Não se vai ao médico para saber o que está funcionandobem, e sim a causa da doença e as ameaças à saúde.

Porém, Isaías diz que o povo de Israel quer ouvir coisas bonitas: “Não profetizeis para nós o que é reto;dizei-nos coisas aprazíveis” (Isaías 30:10). Desde então o processo de interpretar Isaías tem sido o defazê-lo aprazível. Considerem alguns exemplos conspícuos disso dos doutores e eruditos:

1.  A noção de que Isaías só moraliza em vez de ensinar a doutrina. Porém, ele começa por chamarIsrael os filhos de Deus (Isaías 1:2); ele insiste nisso ao longo do livro—Deus é seu Pai. É aprimeira Regra de Fé. Mas os israelitas não querem enxergar (Isaías 1:3); não querem saber dedoutrina (Isaías 1:4). Não enxergam nada que não queiram ver, diz Isaías. São funcionalmentecegos. Já de propósito cortaram as linhas de comunicação, mas se queixam de não recebernenhuma mensagem. O livro de Isaías está repleto de coisas óbvias, especialmente para osSantos dos Últimos Dias, que os outros não vêem. Os rabinos fazem escárnio da sugestão queIsaías realmente se refere a Cristo. Mas nós vamos muito além disso. Vemos nele o Livro deMórmon e o chamado específico de Joseph Smith. E quem dirá que não temos razão?

2.  A idéia de que o Deus de Isaías é o Deus de ira, selvagem e vingativo, do Velho Testamento, oDeus tribal. Se é verdade, não precisamos levá-lo a sério. Estamos dispensados. Mas na realidadeo Deus de Isaías é a própria bondade. “Vinde então, e argüi-me, diz o Senhor: ainda que osvossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve” (Isaías 1:18).Nisto não há nada de autoritário; Ele está sempre disposto a palestrar e esclarecer. Suasdeclarações mais ameaçadoras são logo seguidas de mostras de que Ele está sempre disposto epreparado, esperando, incentivando e implorando com paciência. É Israel que não quer ouvir;eles é que cortam o diálogo e saem, virando as costas diante d’Ele, pedindo-Lhe que se cale.

3.  A noção de Isaías se dirige somente a grupos especiais. Na verdade ele fala a pessoas boas emás—mas são as mesmas! Ai de Israel! Boas novas a Israel! É o mesmo Israel. E não falasomente a Israel, mas a toda a humanidade; ele se dirige `as nações e a seus líderes, mas nãofala somente à sua geração mas a todas. Néfi aplicou as palavras de Isaías a seu próprio povo nodeserto “para nosso proveito e instrução” (1 Néfi 19:23). Seiscentos anos depois, Jesus Cristoadverteu aos nefitas que fizessem igual, e o anjo Morôni entregou a mesmíssima mensagem à

nossa geração. Isaías só tem uma audiência porque que só tem uma mensagem. Ele se dirige aquaisquer mortais na face da terra que precisem do arrependimento. Isto nos leva ao próximoponto.

4.  A idéia de que há mais de um Isaías e que todos eles  nos dizem coisas diferentes. Já que hásomente uma mensagem e uma audiência, este argumento se torna trivial. A mensagem é a dealegria: “Arrependei-vos, e tudo será bem—melhor do que se pode imaginar!” A mensagemsomente é cruel para aqueles que não pretendem arrepender-se. Isaías não faz distinção entre osbons e os maus, somente entre aqueles que se arrependem e aqueles que não. Ele não perguntaonde estamos—ele já sabe—só pergunta em que direção vamos. Naturalmente apenas aquelesque precisam arrepender-se podem-se arrepender, mas isso se aplica a todos, de igual modo.Será que uma pessoa precisa mais do arrependimento do que outra? Esdras e Baruqueprotestaram a Deus que, embora Israel tivesse pecado, os gentios agiram pior ainda. Por que,perguntaram eles, os gentios levaram uma pena mais suave? Mas Deus não aceitou o argumentodeles. Sempre se pode achar alguém mais pecador que nós para sentirmo-nos mais virtuosos:aqueles terroristas, os perversos, os comunistas. São estes que precisam-se arrepender! Sim,

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com certeza precisam, e será um trabalho de tempo integral, exatamente como o é para todosnós.

5.  Os doutores de religião, tanto judeus como cristãos, gostam de elaborar a noção de que paraIsaías o pecado supremo e imperdoável era a adoração de ídolos. Pois bem, o profeta diz que aidolatria é tola e contrária à razão, mas nunca diz que é o pecado imperdoável. A grande ilusãodestes eruditos é que como pensadores modernos, iluminados e racionais fizeram umadescoberta maravilhosa: que bonecos de metal e madeira, bem como imagens de esculturarealmente não podem ver, ouvir, etc. Labutam com afinco para salientar este ponto. No entantoos antigos eram tão cientes deste fato que nós. Era justamente por causa dos ídolos nãopoderem agir que os adoravam. Há uma história célebre do Paisano Eloqüente do Reino Médio doEgito que conta que o mordomo malicioso de uma grande propriedade, ao ver um camponêspassar carregando mercadorias para o mercado, clamou: “Quisera que eu tivesse algum ídolo queme permitisse roubar as mercadorias daquele homem.” Uma imagem muda não se oporia aqualquer ação por parte dele. Eis a beleza dos ídolos: São tão impessoais e amorais como odinheiro no banco, que, aliás, é o que equivale a um ídolo eficaz, tanto nos dias de hoje comonos tempos antigos.

6.  Isto se junta à idéia de que a maior virtude moral e intelectual era reconhecer que há um únicoDeus. Mais uma vez se trata de uma noção comum entre os antigos. Isaías não denuncia opoliteísmo como o pior dos pecados. Na verdade, há vários pesquisadores que já mostraram queo politeísmo em si não é condenado em lugar algum na Bíblia. Certamente Isaías dá grande

ênfase à unicidade. Não há meio termo. Há somente um caminho para o homem seguir, um Deus para Israel, e uma raça humana para servir. Para diluir este ensinamento desconfortável, osdoutores o transformaram em exercício escolar.

7.  A idéia de que Isaías denuncia sobretudo as práticas pagãs. Mas eram os ritos e ordenanças queDeus havia dado a Moisés e que o povo praticava religiosamente que Isaías descreve como sendoexercício de futilidade desesperada.

ISAÍAS CAPÍTULO 1 

A forma mais rápida de adquirir uma visão geral do imenso l ivro de Isaías é simplesmente ler o primeirocapítulo. Os eruditos acreditam há muito tempo que este capítulo não faz parte do livro original, mas queé um resumo feito por um discípulo. Mesmo que seja assim, é muito valioso, ademais, é notável que este,o capítulo mais famoso de Isaías, não é citado no Livro de Mórmon. Vamos examiná-lo versículo porversículo.

1:2. O povo de Israel são os filhos de Deus—Ele é seu Pai. Esta é a doutrina de que se esqueceram, masnão terão condições de recebê-la de novo até passarem por uma regeneração moral, a qual é a carga dapregação de Isaías.

1:3. Rejeitaram aquela doutrina. Recusam-se a ouvi-la.

1:4. Já que não conseguem suportar a doutrina no seu estado de iniqüidade, fogem dela. Isto éimperdoável; Deus não encara isso com tolerância. Ele sabe que são bem capazes de entender e viver oevangelho, de forma que Ele se tornou mais do que descontente; Ele se irou.

1:5. Porém não é ele quem tem-lhes dificultado as coisas. Eles mesmos se decidiram a seguir se própriocaminho, fazendo abertamente rebelião contra Ele. E o sistema deles simplesmente não funciona. Nãoconseguem arcar mentalmente com a situação, nem têm espírito suficiente para vencer. O homem semDeus é um pobre coitado.

1:6. Tudo está nojento, nojento, nojento. Todas as tentativas de se indireitarem fracassam. Nadafunciona.

1:7. Isto resulta em depressão nacional e disastre internacional.

1:8. O povo escolhido de Deus está cercado, confiando no seu exército fracassado, presos dentro domuros de sua própria cidade.

1:9. A única razão pela qual sobreviveram até aí é porque ainda havia entre eles alguns justos, umremanescente de pessoas honestas.

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1:10. É hora de considerar a alternativa que aqui Isaías lhes oferece.

1:11. Vós, com piedade fingida, não podereis contentar a Deus pela vã observância de ritos religiosos, ouseja, reuniões e sessões no templo.

1:12. Não é para vós decidirdes o que fazer para agradar a Deus—resta para Ele decidir, e Ele não vos

exigiu toda esta mostra falsa de piedade.1:13. Suas observâncias mais dedicadas, até as que seguem as ordens antigas de Deus, na verdade sãoiniqüidade quando feitas de espírito contrário ao amor a Deus.

1:14. Deus não está impressionado, e sim, revoltado por causa disso.

1:15. Mesmo quando orais, Deus não vos ouvir´. Por que não? Resposta: Porque há sangue nas vossasmãos erguidas.

1:16. O sangue e os pecados desta geração estão sobre vós no templo. Que sangue e pecados? Vossainiqüidade.

1:17. Que iniqüidade? O que deveremos fazer? Resposta: Tratar as pessoas com justiça, aliviar aquelesque estão oprimidos pela dívida em vez de exigir-lhes pagamento, fazer justiça ao órfão e ajudar asviúvas; em outras palavras, mostrar respeito àqueles que não têm dinheiro.

1:18. Deus não é nem impulsivo nem arbitrário. É grandemente imparcial. Será o caminho dEle o únicocaminho? Permitem-O a dizer-lhes o por quê, e vejam se concordam: “Vinde, então, e argüi-me, diz oSenhor.” Aí segue uma declaração surpreendente: “Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata,eles se tornarão brancos como a neve.” É óbvio que Deus não se compraz nas admoestações; Ele nãoexulta da punição reservada para os iníquos assim como os homens às vezes exultam (Tomás de Aquino,por exemplo). Ele ama a todos e oferece-lhes promessas maravilhosas. Há uma saída, e é por isso queIsaías prega-não por ser repreendedor puritano.

1:19. Os judeus já ouviram o suficiente? Basta ouvir e seguir os conselhos, e tudo estará bem.

1:20. Mas não podereis proceder como dantes. Se continuardes do mesmo jeito, sereis arrasados pelaguerra. “Pois a boca do Senhor o disse.” A “destruição decretada” de Doutrina e Convênios 87:6 é outracitação de Isaías.

1:21. Vós podeis vencer, porque de outrora já o fizestes. Mas daí perdestes tudo—cedendo a assassínios econcupicência desenfreados.

1:22. E para quê? Pertences e prazeres, prata que agora não tem valor e vinho estragado.

1:23. Os líderes é que dão o pior exemplo. Lidam com ladrões; todo o mundo recebe suborno: “Cada umdeles ama as peitas, e anda atrás das recompensas.,” enquanto os pobres não recebem justiça e a causada viúva não chega perante eles.

1:24. Deus não quer saber de tais patifes. Vai eliminá-los, pois se tornaram inimigos d’Ele.

1:25. Tudo isso exige uma limpeza geral. Todas as escórias serão purgadas.

1:26. Restaurar-se-á a antiga ordem para “restituir os teus juízes como foram dantes.” Ainda serápossível, e Deus o fará acontecer. Ainda haver´ “a cidade de retidão, a cidade fiel.” 

1:27. Sião, com muitos conversos de fora, será redimida, ainda que algumas das mesmas pessoas iníquascontinuem a viver lá.

1:28. O restante terá que sair, não porque Deus resolveu expulsá-lo, e sim porque eles próprioscaminharão do lugar seguro para a destruição, e com olhos abertos rejeitarão o Senhor e serãoconsumidos.

1:29-31. Estes versículos são as únicas referências ao paganismo—seitas populares que se secarão e sequeimarão. Elas não serão destruídas, porém, por seguir os ritos do paganismo, como os doutores,

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ministros e comentaristas gostam de dizer-nos, mas porque elas se ultilizam disso para encobrir suaspráticas imorais, cruéis e gananciosas.

OS VÍCIOS MAIS MALIGNOS 

Para o restante deste ensaio tratarei das qualidades humanas que, conforme a descrição de Isaías,

agradam ao Senhor e as qualidades que Ele odeia. Tanto essas como as outras são surpreendentes.Quanto às caraterísticas de comportamento que Isaías denuncia como os vícios mais malignos, são semexceção os vícios de pessoas bem-sucedidas. A iniqüidade e tolice de Israel não consistem em preguiça,nem em não se vestir bem, usar cabelo comprido, ser não-conformista, promover idéias e programasliberais, radicais e não realistas, nem na irreverência às tradições, desdém para os ídolos estabelecidos, eassim por diante. O povo mais iníquo do Livro de Mórmon são os Zoramitas, um povo próspero, patriótico,empreendedor, trabalhador, corajoso, independente e orgulhoso que muito bem-vestidos observavamrigorosamente as práticas religiosas todas as semanas. Dando graças a Deus por tudo que lhes haviadado, prestavam testemunho de Sua bondade. Sustentavam-se em todos os seus atos por uma auto-imagem lindíssima. Pois bem, o que há de errado com tudo isso? Há um fato que estraga tudo, e é amesmíssima coisa que deixa Israel de mal com o Senhor, de acordo com Isaías. Os judeus observavamestritamente as regras que Moisés lhes deu—“E eis . . . que clamam a Ti,” mas na verdade estãopensando em outra coisa. “Eis, ó meu Deus, seus suntuosos ornamentos . . . todas as coisas preciosas . . .seu coração está preso a estas coisas e, no entanto, clamam a ti, dizendo: Agradecemos-Te, ó Deus, por

sermos um povo escolhido por ti, enquanto outros perecerão” (Alma 31:27-28).

Deus resome a causa de Sua ira contra Israel nestas palavras: “Pela iniqüidade de sua avareza meindignei, e o feri; escondi-me, e indignei-me.” E com que efeito? Isso não efetou o rebelde, pois “seguiu ocaminho do seu coração” (Isaías 57:17). Como os Zoramitas, o Israel cobiçoso estava contente consigomesmo, assim como nestes últimos dias. Israel moderno (nós) recebeu “uma maldição severa e dolorosa” por causa de “cobiça e palavras falsas;” isto é, ganância e hipocrisia (Doutrina e Convênios 104:4). Semdúvida a maior acusação que Isaías faz contra os iníquos é a de “opressão,”  ashaq em hebraico. Estapalavra significa estrangular, pegar o pescoço e apertar; levar a vantagem máxima de quem está no seupoder, ou seja, tirar o lucro máximo. Tudo isso se centraliza em “Babilônia, . . . a cidade dourada,”—“oopressor” (Isaías 14:4), que nos proporciona uma vista instantânea da estrutura socio-econômica domundo de Isaías. É uma sociedade competitiva e predadora, “E estes cães são gulosos, não se podemfartar; e eles são pastores que nada compreendem (Não sabem o que passa porque só se preocupam

consigo mesmo.); todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um porsua parte” (Isaías 56:11).

A acusação aplica aos nossos dias quando “todo homem anda em seu próprio caminho e segundo aimagem de seu próprio deus, cuja imagem é a semelhança do mundo e cuja substância é a de um ídoloque envelhce e perecerá em Babilônia, sim, Babilônia a grande, que cairá” (Doutrina e Convênios 1:16).Babilônia havia florecido muito antes da época de Isaías, e iria florecer muito depois. Nos tempos dele, elaestava em ascenção, mas a palavra se emprega ao longo das escrituras como protótipo, ou modelo, deum mundo que se sustenta pela economia. Não há onde sua filosofia melhor se defina do que naspalavras de Corior: “Cada homem prosperava segundo sua aptidão e cada homem conquistava segundosua força; e nada que o homem fizesse seria crime” (Alma 30:17).

Em Isaías, as pessoas bem-sucedidas vivem um carnaval. É como se dissessem: “Vinde, . . . trarei vinho, ebeberemos bebida forte” (Isaías 56:12). Haverá drinques e festa na minha casa. E amanhã ainda mais,até melhor, e muito mais abundante. A economia parece forte; está tudo bem.

Isaías tem muito que dizer sobre o elite da alta sociedade em palavras que igualmente nos inquietam hojeem dia:

28:1. “Ai da coroa de soberba dos bêbados de Efraim, cujo glorioso ornamento é como a flor que cai, queestá sobre a cabeça do fértil vale dos vencidos de vinho.” 

28:2. “Eis que o Senhor tem um forte e poderoso (vento) que . . . com a mão derrubará por terra.” 

28:3. “A coroa de superba dos bêbados de Efraim será pisada aos pés.” 

28:7. Mas também estes erram por causa do vinho . . . e tropeçam no juízo.” 

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Ele descreve as pessoas mundanas: “Ai dos que se levantam pela manhã, e seguem a bebedice; econtinuam até à noite, até que o vinho os esquente!” (Isaías 5:11). Espupefazem-se pelo ritmo da músicaque também se tornou parte da nossa vivência: “E harpas e alaúdes, tamboris e gaitas, e vinho há nosseus banquetes; e não olham para a obra do Senhor, nem consideram as obras de suas mãos” (Isaías5:12). E, naturalmente, existe o servilismo à última moda: “Porquanto as filhas de Sião se exaltam, eandam com o pescoço erquido, lançando olhares impudentes; e quando andam, caminham afetadamente,fazendo um tilintar com os seus pés” (Isaías 3:16)—do jeito dos modelos de passarela. Uma lista depalavras de butique que só os entendidos de moda feminina conhecem diz-nos que “o Senhor tirará osornamentos dos pés . . . as toucas, e adornos em forma de lua, os pendentes, e os braceletes, as estolas,os gorros, e os ornamentos das pernas, e os cintos, e as caixinhas de perfume, e os brincos, os anéis, e asjóias do nariz” (Isaías 3:18-21), e naturalmente roupas, “os vestidos de festa, e os mantos, e os xales, eas bolsas” (Isaías 3:22). O propósito de seus acessórios de beleza será derrotado quando cairem oscabelos e houver mau cheiro em vez de perfume (Isaías 3:24).

Naturalmente há o lado mais sombrio e repreensível do comportamento sexual: “Ouvi a palavra doSenhor, vós poderosos de Sodoma, . . . ó povo de Gomorra . . . como se fez prostituta a cidade fiel!” (Isaías 1:10, 21). Da mesma maneira que Néfi “aplicou todas as escrituras a nós, para o nosso proveito einstrução” (1 Néfi 19:23), já de cara Isaías não somente compara Jerusalém às cidades já desaparecidashá muito tempo de Sodoma e Gomorra, mas também declara que na verdade é  Sodoma e Gomorra—mostrando-nos que tampouco podemos evitar esta acusação por sermos de outra época e cultura. Afinal,

será que o cenário de hoje é tão diferente do de outrora?

O guarda-roupa caro reflete um mundo em que as pessoas lutam para impressionar e impor-se nosoutros. Todos buscam uma carreira, todos querem tornar-se VIP: “O poderoso, e o homem de guerra, ojuiz, e o profeta, e o adivinho, e o ancião, o capitão . . . e o homem respeitável, e o conselheiro, e o sábioentre os artífices, e o eloqüente orador” (Isaías 3:2-3). Que tal eles? “E dar-lhes-ei meninos por príncipes,e crianças governarão sobre eles” (Isaías 3:4). Tchau-tchau autoridade—e por quê? Porque cada um só seimporta consigo mesmo neste jogo de procurar domínio sobre os outros: “E o povo será oprimido; umserá contra o outro, e cada um contra o seu próximo (concorrência!); o menino se atreverá contra oancião (o que mais se pode esperar?), e o vil contra o nobre” (Isaías 3:5). Perder-se-á por completo ocontrole. Um homem agarrará seu irmão, dizendo: “Tu tens roupa, sê nosso governador, e toma sob a tuamão esta ruína!” mas este recusará a grande honra, dizendo: “Não procurem fazer-me seu governador—estou sem um tostão furado!” (veja Isaías 3:6-7). Já que todos estarão sem dinheiro, Isaías continua:“Porque Jerusalém está arruinada” (Isaías 3:8)—porque com teimosia acham que conseguem ser bem-

sucedidos sem Deus: “Ai dos filhos rebeldes, diz o Senhor, que tomam conselho, mas não de mim; e quese cobrem com uma cobertura mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado” porjustificar-se a cada passo (Isaías 30:1). Os rebeldes, os mentirosos não ouvirão a lei do Senhor.Rejeitaram a lei de Deus; rejeitam a lei do sacrifício. Ah sim, eles fazem sacrifício, mas não do jeito que oSenhor ordenou: “Requeri isto de vossas mãos?” (veja Isaías 1:12). Violaram a lei da castidade, pois Israelé uma prostituta. Violaram a lei da consagração, porque são idólatras—cobiçar as coisas para si é a formade consagração deles. Rejeitaram a lei de Deus porque não fariam as coisas conforme o convênio, e simsegundo a própria vontade deles (veja Isaías 30).

Quem serve de exemplo para os mundanos é aquele espírito mais ambicioso de todos. “Como caíste desdeo céu, ó estrela da manã (Lúcifer), filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas asnações! E tu dizias no teu coração: Eu . . . exaltarei o meu trono . . . e no monte da congregação meassentarei” (Isaías 14:12-13). Ele procura governar o mundo, o que de fato faz, com efeitos desastrosos;

o resultado: opressão e ruína: “Eis que o Senhor esvazia a terra, e a desola, e transforma a sua superfície,e dispersa os seus moradores. E o que sucede ao povo, assim sucederá ao sacerdote; ao servo, como aosenhor; à serva como a sua senhora; ao comprador como ao vendedor; ao que empresta como ao quetoma emprestado; ao que dá usura como ao que paga usura. De todo se esvaziará a terra, e de todo serásaqueada, porque o Senhor pronunicou esta palavra” (Isaías 24:1-3).

Isaías sabe descrever um mundo que está em crise total. Há uma literatura antiga e rica de lamentação,tanto dos egípcios como de Babilônia, que aparece ao longo de milhares de anos, junto a documentoscomerciais, cartas e textos religiosos, que confirmam que tais condições realmente prevaleciam no mundode tempos em tempos exatamente da forma que Isaías as conta, sempre com a mesma histeria social,econômica e financeira. Observem a forte ênfase à economia e finanças na passagem já citada. “Semprevos lembrais de vossas riquezas,” diz Samuel o Lamanita, e por isso mesmo as perdereis (veja Helamã13:22, 31). De acordo com ele, são amaldiçoadas e se tornarão “escorregadias,” e Isaías profere umadeclaração semelhante: “De todo se esvaziará a terra, e de todo será saqueada . . . A terra pranteia e se

murcha . . . porque eles (o povo) têm transgregido as leis, mudado os estatutos, e quebrado a aliançaeterna” para agradarem-se a si mesmos (Isaías 24:3-5). “Por isso a maldição tem consumido a terra” (Isaías 24:6); poucos homens restam, tudo está assolado; não há colheita, não chove; portanto muitos

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são conduzidos ao cativeiro porque não têm conhecimento, e os justos entre eles são famintos; a multidãosofre de sede. “Porque este povo não é povo de entendimento, assim aquele que o fez não secompadecerá dele, e aquele que o formou não lhe mostrará nenhum favor” (Isaías 27:11).

MALES DA SOCIEDADE 

É claro que os homens são responsáveis perante Deus por mostrar bom senso. A auto-decepção custacaro; o Senhor “desfaz os sinais dos inventores de mentiras, e enlouquece os adivinhos; . . . faz tornaratrás os sábios, e converte em loucura o conhecimento deles” (Isaías 44:25). Eles têm odeado Sua palavrae confiam em opressão e perversidade e persistem nelas. São muito cabeça-dura. Persistem até o fimcomo a brecha de um “alto muro.” Eles permanecerão no seu caminho com grande afinco. Nada os move.Como uma represa alta quando rompe, rompe de vez. (Eis o princípio do “vigésimo-nono dia.”) Primeiro omuro forma uma barriga, e aí cai tudo, “cuja quebra virá subitamente” (Isaías 30:12-13).

Tudo isso acontece porque está tudo fora dos eixos. Ninguém confia em ninguém nesta sociedadecompetitiva. “Ninguém há que clame pela justiça, nem ninguém que compareça em juízo pela verdade;confiam na vaidade, e falam mentiras; concebem o mal, e dão à luz a iniqüidade” (Isaías 59:4). “Obra deviolência há nas suas mãos. Derramam o sangue inocente. Seus pensamentos são os pensamentos dainiqüidade” (veja Isaías 59:6-7). Tudo isso parece programação de televisão. Tal caminho só leva àdesconfiança: “Não conhecem o caminho da paz, . . . fizeram para si veredas tortuosas” (Isaías 59:8); “o

falar de opressão e rebelião, o conceber e proferir do coração palavras de falsidade. . . . Sim, a verdadedesfalece, e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado” (Isaías 59:13, 15). Só lhes será proveitosoquebrar as regras enquanto houver pessoas simples e fáceis de enganar que cumprem com elas. E se nãoparticiparem deste jogo, se tornarão vítimas. Isaías não aplaude tal realismo: “Ai de ti, despojador, quenão foste despojado, e que procedes perfidamente contra os que não procederam perfidamente contra ti!” (Isaías 33:1). O Senhor nos adianta ainda mais na nossa dispensação, dizendo-nos que não temos direitode trapacear mesmo àqueles que são espertinhos e procuram-nos enganar: “Ai daquele que mente paraenganar, porque supõe que outro minta para enganar, pois esse não está isento da justiça de Deus” (Doutrina e Convênios 10:28).

Naturalmente Isaías nos leva aos tribunais de justiça: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal” (Isaías 5:20)—sendo isto a arte da retórica, a arte, conforme Platão, “de fazer o bem parecer mal e o malparecer bem pelo emprego de palavras,” que no mundo antigo se desenvolveu nos tribunais. “Ai dos quesão sábios aos seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos! . . . dos que justificam ao ímpio porsuborno, e aos justos negam a justiça!” (Isaías 3: 21, 23). Isso nos lembra de como os ladrões deGadiânton, quando de posse do governo e os tribunais, quando “obtiveram total controle do governo,” logo “desprezaram os pobres e mansos e os humildes seguidores de Deus” (Helamã 6:39), “ocupando ascadeiras dos juízes” (Helammã 7:4), “deixando os culpados e iníquos impunes, por causa de seu dinheiro” (Helamã 7:5). Eles “justificam ao ímpio por suborno,” diz Isaías (5:23), e ele os adverte no própriolinguajar jurídico que Deus acusar´ os élderes de Israel e “contra os seus príncipes; é que fostes vós queconsumistes esta vinha; o espólio do pobre está em vossas casas!” (Isaías 3:14). O que está em sua casarealmente pertence a estes. “Que tendes vós, que esmagais o meu povo e moeis as faces dos pobres?” (Isaías 3:15. “Ai dos que decretam leis injustas (por sua autoridade intocável), e dos escrivães queprescrevem opressão” (Isaías 10:1)—servindo seus próprios interesses pelas leis que fazem, “paradesviarem os pobres do seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; paradespojarem as viúvas e roubarem os órfãos!” (Isaías 10:2).

Tudo está armado; todo o mundo recebe suborno; a cidade meretriz está cheia de assassinos; ospríncipes são rebeldes, companheiros de ladrões; “cada um deles ama as peitas, e anda atrás dasrecompensas; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da viúva” (Isaías 1:23).Mesmo quando claramente tem razão, o pobre não consegue ganhar a causa, porque “o avarento . . .maquina invenções malignas com palavras falsas, mesmo quando o pobre chega a falar retamente” (Isaías32:7). “ Porque o vil . . . pratica a iniqüidade para usar hipocrisia e . . . proferir mentiras . . . para deixarvazia a alma do faminto, e fazer com que o sedento venha a ter falta de bebida” (Isaías 32:6). O comérciode imóveis é um setor muito explorado por tais pessoas, e os registros antigos, desde os pregadoresgregos iniciais, Hesoides e Solon, até os últimos satiristas romanos, inclusive Petrônio, estão repletos detrapaças e golpes pelos quais adquiriram vastas propriedades. “Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnemcampo a campo, até que não haja mais lugar, e fiquem como únicos moradores no meio da terra!” (Isaías5:8).]

Isaías tem muito que dizer sobre o comércio, “Peso de Tiro,” a cidade diadema, “cujos mercadores sãopríncipes e cujos negociantes são os mais nobres da terra.” O Senhor pretende “denegrir a soberba detoda a glória, e envilecer os mais nobres da terra” (Isaías 23:1, 8-9). São pessoas inquietas esses

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empresários: “Paz, paz, para o que está longe, e para o que está perto . . . mas os ímpios são como o marbravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo” (lembrem-se das águassujas mencionadas por Leí) (Isaías 57:19-20). “Mas os ímpios não têm paz, diz o Senhor” (Isaías 48:22;57:21). Babilônia é, ao mesmo tempo, agitada e ocupada, egoista e despreocupada; “Ninguém me podever,” diz ela, “eu sou, e fora de mim, não há outra” (Isaías 47:10). Ela tem à sua disposição todo o know- how técnico e comercial. Todos os peritos trabalham para ela—encantadores, astrólogos, analistasinteligentes, contadores hábis—mas serão queimados como restolho. No capítulo 13 de Isas, vemos opeso de Babilônia, a ampla atividade, os ruídos, o corre-corre, a arrogância, a grande fome para lucrosneste centro mundial que é outra Sodoma, um abismo de degeneração moral.

A VANGLÓRIA DAS NAÇÕES 

Por um grande milagre poupou-se a vida do rei Ezequias de Judá e este recebeu mais quinze anos devida. Numa grande expressão de alegria e gratidão, ele expressou sua gratidão e o alívio infinito de saberque Deus podia dar tudo que se pede a Ele, até a própria vida; de que vale toda a segurança das riquezasdo mundo em comparação com isso? Aí aconteceu uma coisa significante. Chegaram os embaixadores deBabilônia, e Ezequias não pôde resistir à tentação de mostrar-lhes toda a tesouraria que representava seupoder e riquezas. “Então o profeta Isaías veio ao rei Ezequias, e lhe disse: Que foi que aqueles homensdisseram, e de onde vieram a ti? E disse Ezequias . . . vieram a mim de Babilônia. E disse ele: Que foi queviram em tua casa? E disse Ezequias: Viram tudo quanto há em minha casa; coisa nenhuma há nos meus

tesouros que eu deixasse de lhes mostrar. Então disse Isaías a Ezequias: Ouve a palavra do Senhor dosExércitos: Eis que virão dias em que tudo que houver em tua casa, e o que entesouraram teus pais até aodia de hoje, será levado para Babilônia; não ficará coisa alguma” (Isaías 39:3-6). O homem não resistiu aexibir seus posses, e sua vaidade somente serviu para despertar a ganância. Gostaram do que viram evoltaram para buscá-lo. Ele havia caído na armadilha.

Isaías entende muito bem do cenário internacional em que o erro fatal é pensar que o destino está nasmãos dos grandes homens da terra, mas a verdade é que não há grandes homens, somente cidadãoscomuns que têm ilusões desatrosas de grandeza. Arrogante é uma das palavras prediletas de Isaías.

“E visitarei sobre o mundo a maldade, e sobre os ímpios a sua iniqüidade; e farei cessar a arrogância dosatrevidos, e abaterei a soberba dos tiranos” (Isaías 13:11).

“Farei que o homem seja mais precioso do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir” (Isaías 13:12).

“Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a sua altivez será humilhada; e só o Senhor ser´ exaltadonaquele dia” (Isaías 2:11).

“Mas eis que o Senhor, o Senhor dos Exércitos, cortará os ramos com violência, e os de alta estaturaserão cortados, e os altivos serão abatidos” (Isaías 10:33).

“A terra pranteia e se murcha; o mundo enfraquece e se murcha; enfraquecem os mais altos do povo daterra. Na verdade a terra est´ contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido asleis, mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna. Por isso a maldição tem consumido a terra; e osque habitam nela são desolados; por isso são queimados os moradores da terra, e poucos homensrestam” (Isaías 24:4-6).

O que torna grande uma nação? Poder e riquezas é a resposta que se dá hoje em dia; o objetivo é serprimeiro em força militar e poder econômico. Também se pensava assim nos tempos de Isaías: Aidaqueles que dependem de cavalos e carruagens porque são poderosos, mas que “não atentam para oSanto de Israel; . . . os egípcios são homens e não Deus; e os seus cavalos carne, e não espírito” (Isaías31:1-3). Não se garante segurança alguma através de alianças, nenhuma espada, tantos dos fortes comodos fracos, terá poder de vencer a Assíria; o Senhor tem seus próprios planos para a Assíria, e ninguémpoderia ter imaginado o que seriam. Em que consiste a segurança? Ao construir a fortaleza de Jerusalém,cavaram suas próprias covas. A única defesa verdadeira é o chamado do sacerdócio no templo. Quementra no jogo de poderes políticos, receberá o galardão de sempre.

Os assírios garantiram a segurança. Era a nação de maior poder militar. “Fazei aliança conosco,” disserama Jerusalém (e Isaías preservou as cartas), “e estareis seguros. Sois tolos. Como é que Deus vos salvará,

se não tiverdes exército? Precisais de nós. Deus está do lado de quem tem as grandes batalhões.” Isto é oque se chama Realpolitik , o que sempre tem destruído seus seguidores em tempos modernos. QuandoIsaías diz ao povo que confie em Deus e não no Egito, dizem que ele não é realista! Aí vêm os assírios, os

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super-realistas, com o seu poder invencível—e foram todos mortos ao dormir no acampamento. E asgrandes nações? “Eis que as nações são consideradas por ele como a gota de um balde, e como o pómiúdo das balanças” (Isaías 40:15). Todas as nações perante ele não são nada, são consideradas comomenos de nada e vaidade porque fazem de conta que são grandes (veja Isaías 10:33). “Porque Tofete jáhá muito tempo está preparada;” e espera-os agora—(“preparei-lhes uma prisão,” disse o Senhor aEnoque [Moisés 7:38]). “Sim, está preparada para o rei”—para a Assíria. “Ele a fez profunda e larga: a suapira é de fogo, e tem muita lenha; o assopro do Senhor como torrente de enxofre a acender´” (Isaías30:33). Não se impressionem com “o poderoso, e o homem de guerra, o juiz, e o profeta, e o adivinho, eo ancião” (Isaías 3:2). Somente existe um ser em que se pode confiar. A Assíria desapareceu de um diapara outro, e nunca mais se ouviu falar dela, ao passo que permanecem conosco até hoje umas naçõesmenores, contemporâneas da Assíria, que não tinham condições de apostar na supremacia militar.

“MÃOS LIMPAS; CORAÇÃO PURO”  

Tão surpreendentes como as caraterísticas que Isaías detesta, são aquelas às quais ele dá valor—não àmotivação, iniciativa, indústria, empreendimentos, trabalho duro, e piedade—nenhuma das virtudeszoramitas, embora estas sejam virtudes de verdade quando não são corrompidas por motivos egoístas ouuma obsessão mórbida com a rotina. Permitem-me a observar de passagem que o trabalho, afinal, não éum corre-corre ocupadíssimo e rotineiro, embora esta seja a essência da vida moderna de comércio eestudo, mas consiste na energia suprema e curiosidade disciplinada de abrir novos caminhos. No livro de

Isaías as qualidades que Deus exige aos homens são as de que a sociedade trata com ares desuperioridade e desdém. Isaías promete as maiores bênçãos e glória aos mansos, humildes, pobres,oprimidos, afligidos e necessitados. Como!? Ser pobre e oprimido é sucesso? Será que ele nos admoesta aunir-nos aos fracassados? Que valor poderá haver em tais condições negativas e submissivas? De fato, hávirtude nisso, mas a presença de Satanás no mundo é um fator decisivo. Temos a promessa que nãohaverá pobres em Sião. É justamente porque Satanás lá não estará presente com suas artimanhas. Masele é o príncipe do mundo atual, livremente permitido, por um tempo, a provar e tentar os homens. Aquiele manda.

E como é que o diabo nos tenta? Na mitologia universal da raça humana, o diabo é o senhor dosubmundo que controla os tesouros da terra no seu reino maligno; é Plutão, o deus da riqueza, que, porseu controle dos recursos do mundo, dita os negócios dos homens. A última peça de Aristófanes, o Plutão,é um comentário grande e amargo a respeito do tipo de pessoas que se tornam bem-sucedidos nestemundo. Com certeza um dos temas mais prevalecentes da literatura desde a história egípcia dos doisirmãos, Lazarone e Dives, até as vicissitudes da família Joad de Grapes of Wrath (de Steinbeck). Seacreditamos Isaías, o próprio Filho do Homem era “desprezado e rejeitado” (Isaías 53:3), do qual conclui-se que ser altamente bem-sucedido nesta vida não comprova a virtude definitiva. Porque a pergunta deouro de Satanás, “Tens por acaso algum dinheiro?” faz um efeito paralizador e misterioso que conseguealistar todos, menos os espíritos mais nobres, na grande conspiração. Diz Isaías: “Por isso o direito setornou atrás, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade nãopode entrar. Sim, a verdade desfalece, e quem se desvia no mal arrisca-se a ser despojado” (Isaías 59:14-15). Em outras palavras, quem se recusar a aceitar estas coisas, levará uma surra. Continua Isaías: “OSenhor o viu, e pareceu-lhe mal aos seus olhos que não houvesse justiça” (Isaías 59:15). Todos seaproveitam uns dos outros, e isto não agrada a Deus de jeito nenhum. “Eis que o mundo agora jaz empecado, ninguém faz o bem, não ninguém, . . . e a minha ira está acesa contra os habitantes da terrapara visitar sobre eles conforme a sua impiedade.” São as primeiras palavras do Senhor nestadispensação, proferidas a Joseph Smith no bosque sagrado. A expressão “o mundo jaz em pecado” exige

um esclarecimento à moda de Isaías, e também achamos a explicação da mesma expressão em Doutrinae Convênios 49:20: “Mas não foi determinado que possuísse um homem mais do que o outro; portanto omundo se acha em pecado.” Mamom (riquezas) é um deus ciumento; não se pode servir a ele e aqualquer outro mestre. Para escapar-se da atração poderosa dos bens do mundo e da ameaça mortalàqueles que não os possuem requer uma alma mansa e humilde—e corajosa!

O que é que Isaías diz que Deus exige àqueles que querem ser justificados (salvos)? Em primeiro lugardevem ser limpos de toda a contaminação: “Lavai-vos, purificai-vos,” diz ele no primeiro capítulo (Isaías1:16). Não façais vossas orações de mãos cobertas de sangue. O indivíduo de mãos limpas e coraçãopuro, diz o salmista, é aquele que “não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente” (Salmos24:4). Isaías concorda: é aquele que “rejeita o ganho da opressão, que sacode das suas mãos todo opresente; que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de derramamento de sangue e fecha os seusolhos para não ver o mal” (Isaías 33:15). O povo havia jejuado conforme ordenado por Deus e perplexoperguntou a Isaías por que Deus não o havia escutado. Ao responder-lhe, o profeta disse: “Porventura

não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo eque deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teupão com o faminto, . . . e recolhas em casa os pobres abandonados; e quando vires o nu, o cubras . . . ?” 

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(Isaías 58:6-7). Isto também serve de lembrete que nosso jejum requer uma oferta para os pobres. Deusnão se impressiona com os templos magníficos que a humanidade Lhe constroi—em todo caso, tudopertence a Ele, “mas para esse olharei, para o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra” (Isaías 66:2). Se o povo continua a justificar-se—“também estes escolhem os seus próprios caminhos, e asua alma se deleita nas suas abominações” (Isaías 66:3)—Deus não lhes tirará o arbítrio; dará a elescorda suficiente para enforcarem-se: “Também escolherei as suas calamidades, . . . porquanto clamei eninguém respondeu; . . . e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer” (Isaías 66:4).

Depois de descrever os caminhos de Israel, o peso de Damasco, o peso do Egito, o peso de Babilônia e aAssíria—ou seja, o mundo como é mas não devia ser—Isaías representa em palavras resplandecentes aterra como devia ser—como foi destinada, conforme o propósito para o qual foi criada. “. . . Deus . . . nãoa criou vazia, mas a formou para que fosse habitada” (Isaías 45:18). A terra estará sob o seu domínio, eleé o Senhor e não há outro. A ele todo joelho dobrará e toda língua confessar´. “E naquele dia . . . o frutoda terra será excelente” (Isaías 4:2). Tudo que resta são Sião e Jerusalém. “. . . o Senhor terá lavado aimundícia das filhas de Sião, e limpado o sangue de Jerusalém” (Isaías 4:4).

Sendo que Babilônia já não é, um grande suspiro de alívio se ouve; por fim o mundo se acalma edescansa. A cidade dourada, a opressora, não é mais (veja Isaías 14:4). A terra toda descansa. “Boasnovas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e aabertura de prisão aos presos” (Isaías 61:1). “Nunca mais se ouvirá de violência na tua terra, desolação

nem destruição nos teus termos” (Isaías 60:18). Pelo contrário, “julgará com justiça aos pobres, erepreenderá com eqüidade aos mansos da terra” (Isaías 11:4). “Pois onde está o furor do que teatribulava?” (Isaías 51:13). “Ó vós . . . que não tendes dinheiro, vinde, comprai, sem dinheiro e sempreço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? . . . Vinde a mim, ouvi, e a vossaalma viver´” (Isaías 55:1-3). Que assombroso! Naquele dia o homem valerá mais que ouro—uma viravoltados princípios do mundo. Ao mesmo tempo voltarão as florestas e as árvores se regozijarão: “Ninguémsobe contra nós para nos cortar” (Isaías 14:8). Freqüentemente Isaías compara a iniqüidade crescente domundo com a exploração brutal e desperdício da natureza, que está chegando a seu auge na atualgeração. Todos nós conhecemos suas passagens mais poéticas: “E morará o lobo com o cordeiro, e oleopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e ummenino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leãocomerá palha como o boi” (Isaías 11:6-7). Nos meus dias de escola se considerava esta ilustração comose de um Isaías não realista que imaginava um monte de bobagem zoológica. Afinal, o que ele retratounão era a natureza de “dente sangrento e garras” do nosso mundo neo-darwiniano. Desde então muito se

tem aprendido sobre a natureza verdadeira de certos animais selvagens. “Não se fará mal nem danoalgum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as áuascobrem o mar” (Isaías 11:9). “O deserto e o lugar solitário se alegrarão disto; e o ermo exultará eflorescerá como a rosa. Abundantemente florescerá, . . . porque áuas arrebentarão no deserto e rebeirosno ermo. E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas” (Isaías 35:1-2, 6-7); “Para que todos vejam, e saibam, e considerem, e juntamente entendam que a mão do Senhor fezisto, e o Santo de Israel o criou” (Isaías 41:20).

E este mundo feliz é para todos, da mesma forma que a mensagem de cautela e da promessa de perdãode Isaías é para todos. Os filhos do estrangeiro que aderirem ao convênio “eu os levarei ao montesagrado.” Eles irão ao templo, o qual será chamado “casa de oração para todos os povos” (Isaías 56:7). OSenhor Deus, que congrega os párias de Israel e todos os animais do campo, diz que não haverá maiscães de guarda para atormentá-los; será uma época felicíssima para o homem e o animal (veja Isaías

56:8-10). “Grandes são as palavras de Isaías” (3 Néfi 23:1). Foi-nos mandado examiná-las, estudá-las,ponderá-las, levá-las a sério, e compreender que as calamidades e bênçãos contidas nestas palavrasforam destinadas para a nossa geração. Oro que as palavras deste grande profeta possam nos preparartanto para estas calamidades como para as bênçãos.