GRALHA AZUL No. 43 - FEVEREIRO 2014

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GRALHA AZUL - No. 43 - FEVEREIRO - 2014 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PR GRALHA AZUL GRALHA AZUL

! Em 1758 foi fundada a cidade de Macapá, capital do Amapá, a única banhada pelo Rio Amazonas. O nome Macapá tem origem na língua tupí, sendo uma variação do termo ‘macapaba” que significa “lugar de muitas bacabas”. É a única capital brasileira cortada pela linha imaginária do Ecuador, latitute 0º0’0’’. Para registrá-la, foi construido um obelisco, chamado de Marco Zero. O Marco Zero também é considerado um excelente local para apreciar o fenômeno do Equinócio que acontece entre os dias 21 de março a 23 de setembro. A população é de 415.554 habitantes. O clima é equatorial quente-úmido, com temperatura máxima entre 32,6ºC e a mínima entre 20ºC. A sensação térmica no verão pode passar dos 45ºC. Após 255 anos, em mutirão nacional, houve a possibilidade de fundarmos uma nova regional da SOBRAMES ao Norte do Brasil. A amapaense Josyanne Rita Franco, coincidentemente presidente da Regional de São Paulo, irmã de influente personalidade macapaense e com muitos amigos naquelas paragens, sugeriu esse novo sonho que foi imediatamente aceito por todos. Juntos conseguimos implantar com muito júbilo a nova SOBRAMES AMAPÁ. Médicos e amigos com grande produção artística responderam ao chamado. A alegria de participar conosco nesta egrégora, como diz a propaganda, não tem preço. Tampouco os esforços que todos envidaram valeu a pena. Hoje, após 9 meses, já fazemos planos para a comemoração do seu primeiro ano. Ana Higina Agra, médica escritora, foi eleita presidente por unanimidade. Em seu discurso de posse, concomitante com a fundação da Regional, descreveu com muita emoção, as atividades literárias e culturais do Amapá. Não foi sem emoção que lembrou que muitas vezes seu Estado é esquecido pelos demais brasileiros. O gesto sobrâmico de lembrar-se, agregar e definitivamente integrar esses brasileiros à Sociedade Brasileira de Médicos Escritores foi aceito de coração aberto, como um estímulo à produções artísticas regionais e ainda trazer para todos nós, conhecimentos novos sobre essa região linda, rica e totalmente ignorada por muitos. A viagem de Belém para Macapá foi feita de navio como parte importante do passeio pelo Brasil. Seria impensável ir de avião e não conhecer os arredores da ilha de Marajó e o rio Amazonas. As oportunidades passam por nossas vidas poucas vezes. Deixar Belém do Pará - o “Portal da Amazônia”, pela baía de Guajará, pelos rios Guamá e Maguarí, ajudou também a aumentar a emoção de chegar à linha do Ecuador, pelo forte de São José e encontrar os novos amigos, que pelo encontro caloroso, já eram antigos.

FUNDAÇÃO DA REGIONAL AMAPÁ

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HELENA LÚCIA ZYDAN SÓRIA SOBRAMES PR

nasceu em São Paulo, SP. Na sua formação passou pelo magistério, tendo cursado Pedagogia e Teologia e, finalmente, Medicina, sua opção profissional. Helena é especializada em obstetrícia e ginecologia, dedicando-se também ao Magistério Superior (Unioeste/Cascavel). Reside em Guarapuava PR.

Atividades Literárias: Desde cedo demonstrou afinidade com a palavra, produzindo textos técnicos e científicos, apaixonando-se pela poesia e, como consequência, participando de associações de poetas e antologias, merecendo destaque suas intervenções a partir de 1997. Destaque para “Florilégio Poético”a sua primeira produção. Seguiu-se a ela, Acalanto Lirial”, “Pelo caminho das Flores”, Médicos em Tempo de Poesia e Prosa”, “Sentimentos, Razões e Sonhos” e “Antologia Literária Internacional Dias Reis”. Marcou presença especial no XVIII Concuro Nacional de Poesias, promovido pela revista Brasília. Ingressou na Academia Cascavelense de Letras em 2006, ocupando a cadeira número 02, que tem como Patrono Celso F. Sperança.

EXUBERANTE

Palavra cheia, plena Completa Traduz o feminino exposto Distribuido por igual No ser original mulher

Mulher que nasce indefinida E escolhe ser na vida A plenitude do continente E conteúdo A beleza da metamorfose A forma moldando a ideia A alternância do preenchimento E do vazio receptivo A permissão para ser e ter Sol e lua num ciclo de vida

Mulher, e complexo e o simples De quem exala o perfume Da dor, da flor, do calor Que percebe, nutre e acompanha Que dirige anônima O Cosmos que anima Com mãos sensíveis e firmes De quem, nascida e crescida Decidiu desafiar: sou mulher

MULHER DO TEMPO

Acalmo tempestades Descubro o sol Anuncio nebulosidades Antecipo ondas de calor

Sou a mulher do tempo Do agora e do amanhã Percebo os sinais, as nuances Conduzo homens

Transporto pólen Deixo-me multiplicar De mim brota o ser Que a todos manterá

Modelo arestas Arredondo formas Movimento esferas Valorizo espadas

Meu interior contém o mundo A possibilidade, a perspectiva Meu sim ou não é que decide O caminhar de muitos

Por minha mão Calor e luz de desprenderão Gerarei incêndios e Cantarei florestas

Das águas sairei E me purificarei E delas beberá meu filho Sedento e indefeso

Fundirei metais Esfriarei utensílios Num canto qualquer Provido de ternura e brilho

Ah! Mulher deste tempo!

OLHAR E VER

Meus olhos se fecharam E se iluminaram Vi o verde e o azul Também o vermelho Que em ondas se espalharam

Eram tão puras as cores Assim como são os amores Sinceros, profundos, de pele O arco-íris interno Após lágrimas de bem-querer

Se fecho os olhos o vejo Como num lampejo

Se os abro e não o encontro Apanho as peças e monto O quebra-cabeça do viver

Pisco e tudo muda Numa fração de segundo Inaugurando a cada instante O possível e o desejado

Ah! Mas quando os olhos Se encontram Numa linguagem de encanto Fechá-los ou abri-los tanto faz...

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MANDELA“Não sejas vencido pelo mal: mas vence com o bem o mal”

(Paulo, Epístola aos Romanos, XII, 21).

Por Eduardo Rocha Virmond

Ex-presidente da OAB, Ex-presidente da Academia Paraense de Letras, Presidente Honorário da Aliança Francesa

  “Não tem adjetivos. Esse ser humano, sua imagem, sua santidade, não há como classificá-lo. Qualquer classificação é uma redução. Não podemos reduzi-lo.

Temos desconfiança sobre o homem. É um ser abjeto? O Homem destrói seus semelhantes, seus irmãos? Aplica-lhes atos e violências da maior crueldade? É verdade que, entre os seres vivos, o homem é o maior inimigo do homem? Entre os animais há exemplos de igual adversidade?

“Eppur si muove”, disse Galileu Galilei, após ser constrangido mediante as maiores violências a rejeitar a sua descoberta de que a Terra gira em torno do Sol, portanto a terra que anda, que gira caminhando e não os astros e galáxias que estão em torno da terra. A terra é redonda e não uma imensa planície com protuberâncias.

Se o homem é capaz de tudo contra si mesmo, há os homens que transcendem qualquer vestígio de crueldade, e conferem exemplos de perdão, de compreensão, de amor pelo próximo. Dizia Georges Sand: “Comprendre c’est pardonner“- Compreender é perdoar”.

Cristo perdoou, Buda perdoou, Sócrates perdoou, São Francisco de Assis perdoou. Mandela perdoou.

Albert Schweitzer salientava que a separação entre o Budismo e o Cristianismo atingia muitos pontos importantes em relação à conduta, à mortificação, ao dia a dia do homem, mas que há uma qualidade, um sentimento que vai às profundezas do ser, da alma, que liga Buda a Jesus, que é a compaixão. A compaixão é mais forte que a perfeição anterior, porque se revela na ação. Porém, diz Schweitzer, a ética da perfeição interior está regida pelo princípio do amor. ”Leva portanto em si a tendência a expressar-se em ação, e desde este ponto de vista apresenta superior afinidade com a afirmação do mundo e da vida. Em Jesus, a ética do aperfeiçoamento interior ordena o amor ativo”.

Mandela é um santo que exerceu, por estar repleto dele, o sentimento de alegre bondade em relação ao mundo inteiro, senão não teria sobrevivido. Por que, ao sair de um suplício que durou vinte e sete anos, pregou a liberdade, a bondade, o respeito por seus semelhantes, e conseguiu de seus verdugos que baixassem a cabeça no sentimento de conciliação, de verdade, exemplificando o amor pela humanidade, que aqueles nunca conseguiram obter?

Estas reflexões, em nome dos membros da Academia Paranaense de Letras, escrita em designação de sua Presidente Chloris Casagrande Justen, querem demonstrar o sentimento de solidariedade, de compreensão, a vontade de expressar o amor que exemplifica tudo o que rege Mandela, cuja vida concreta não é só exemplo imaginário, mas a da compaixão que deveremos exercer dia a dia, como budistas, como cristãos, como agnósticos em relação à humanidade. Se não o temos, se não o tivermos, o exercício futuro da vida de cada um só merece que os cultivemos, o amor, a compaixão, a consciência da liberdade, tudo ao contrário da frieza, da indiferença, da brutalidade, da negação da solidariedade.

Há uma linha, de Jesus Cristo, Buda, Sócrates, Gandhi, Francisco de Assis – Mandela. Quem se aproximar desta linha, não se arrependerá, será glorificado por si mesmo, por si próprio, sem qualquer objetivo de ser reconhecido. Jesus disse “não façais alguma coisa para serdes reconhecido”. Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus bonae voluntatis.”