Gralha Azul No. 29 Janeiro 2013
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BOLETIM MENSAL - No. 29 JANEIRO - 2013 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PARANÁ
GRALHA AZUL GRALHA AZUL
1BOLETIM MENSAL - SOBRAMES PARANÁ - GRALHA AZUL No 29 - JANEIRO 2013
A música do coração A melodia mágica do mais musical dos órgãos do corpo humano
Marcus Vinícius Bolívar Malachias
O coração é o motor da vida e o mais musical dos órgãos do corpo humano. Tem seu ritmo próprio, batendo a uma incrível cadência de 100 mil vezes por dia, um moto perpétuo. Seu ritmo é o próprio compasso da vida, ora mais rápido para acompanhar o presto do dia a dia ou mesmo o allegro assai vivace da emoção de um beijo. Mas o coração também sabe entoar um adaggio quando é hora do acalanto ou um largo maestoso quando chega o sono ao fim do dia. É curioso pensar que o coração começa a bater com poucas semanas de fecundação, ainda no útero materno, e nos acompanha até os úlJmos arpejos da vida, indo muitas vezes até além do nosso fim, pois pode ser transplantado levando a música da vida a outra pessoa. O coração é um órgão tão mágico que mesmo doente, conJnua a tocar a sua melodia, muitas vezes sem nos dar noKcia que a orquestra de seus milhões de células está sem fôlego. Às vezes revela suas aflições por meio de sopros, como flautas e oboés. Outras vezes seus sintomas e suas dores se confundem com a angúsJa, com os suspiros de emoção, revelando a razão de uJlizarmos o símbolo do coração para representar a vida, o amor e os senJmentos. Quantas lindas palavras surgiram a parJr dele: cor, coragem, acordar, recordar, cordialidade e até acordes, a combinação de notas que fazem a harmonia de todas as músicas que existem. Um órgão tão melódico não poderia ser indiferente aos efeitos da boa música. Uma recente publicação revisou os achados cienKficos sobre os efeitos da música harmônica sobre o coração e a circulação, revelando beneTcios sobre a regulação autonômica cardiovascular 1. A esJmulação com música agradável reduz a aJvidade simpáJca renal e a pressão arterial através da via audiJva, o núcleo supraquiasmáJco do hipotálamo e os neurônios histaminérgicos em ratos. Outro estudo demonstrou que o prazer de ouvir música esJmula a ação da dopamina no sistema mesolímbico de recompensa, de tal forma que os picos de aJvidade do sistema nervoso autônomo, que refletem a experiência dos momentos mais intensos emocionais, estão associados à liberação de dopamina no núcleo accumbens, região a qual é atribuída, entre outras funções, a resposta eufórica aos psicoesJmulantes, tais como a cocaína. Além disso, a esJmulação do sistema nervoso parassimpáJco pela música parece proteger contra a ocorrência de insuficiência cardíaca em idosos com doença vascular cerebral, ao reduzir os níveis circulantes de catecolaminas. Há, ainda, indícios de que a música reduz a incidência e a gravidade da insuficiência cardíaca em portadores de câncer de mama submeJdos à quimioterapia com antraciclina. A música nos acompanha por toda a vida. Se é com alegria que celebramos as primeiras baJdas de um coração anunciando a chegada de uma nova vida, é com tristeza e comoção que recebemos a noKcia de que após trilhões de pulsações, o coração encerra a sua melodia. Mas há quem, como eu, que acredita que a música do coração nunca se cala, pois quando isso acontece perde uma só letra e se transforma em oração. * Publicado na coluna Es.lo de Vida, do Jornal da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), novembro/2012.
2BOLETIM MENSAL - SOBRAMES PARANÁ - GRALHA AZUL No 29 - JANEIRO 2013
QUANDO OS ESCRITORES IMITAM OS PINTORES Hélio Moreira -‐ Sobrames GO
Academia Goiana de Letras -‐ Academia Goiana de Medicina -‐InsJtuto Histórico e Geográfico de Goiás
Em 1872 Claude Monet pintou o quadro “Impressão – nascer do sol” que retratava o nascer do sol no Porto de “Le Havre”, no canal da Mancha; mal sabia ele que este acontecimento seria o responsável pelo nascimento do movimento impressionista nas artes. Na sua apresentação, o quadro desagradou à maioria das pessoas que o viram, principalmente aos críJcos de arte; estes apelidaram o seu autor como “O impressionista”, pois o quadro, segundo aqueles, sugeria que o pintor possuía habilidade técnica limitada.
Proust nasceu em 1871, ou seja, um ano antes deste acontecimento, portanto temos o direito de pensar que este movimento (impressionismo) poderia ter influenciado a sua arte de escrever; acompanhem comigo este relato abaixo:
-‐Certa feita um grande amigo de Marcel Proust de nome Gabriel de La Rochefoucauld escreveu um romance (O amante e o médico) e lhe enviou com o pedido de que ele fizesse comentários e lhe desse possíveis conselhos; após elogiar a obra “Você escreveu um romance bonito e poderoso, uma obra esplêndida e trágica, com uma técnica complexa e de alto nível”, Proust, aproveitando a liberdade que lhe fora concedida e tendo em vista a sua ojeriza ao lugar comum na literatura, deu alguns conselhos ao amigo.
“Há algumas belas paisagens em seu romance, mas, às vezes gostaríamos que elas fossem pintadas com mais originalidade. Todos nós sabemos que o céu se incendeia ao crepúsculo e que a lua brilha circunspecta, porém a sua repeJção é um pouco entediante”.
No livro “Como Proust Pode Mudar sua Vida, 2011” o escritor suiço-‐inglês Alain de Bonon reproduz um pequeno trecho do livro de Proust “Em busca do tempo perdido”, onde aquele autor descreve a lua, fugindo, como ele aconselha àquele seu amigo, do lugar comum -‐ “Às vezes pelo céu da tarde passava a luz branca como uma nuvem, furJva, sem brilho, como uma atriz que ainda não está na hora de entrar em cena e que, da plateia, em toalete comum, olha um momento suas camaradas, apagando-‐se, indesejosa de chamar a atenção”.
Como se fora um pintor impressionista, Proust dá asas à imaginação e rompe com o lugar comum e descreve o que ele vê quando olha para a lua e não o que a maioria absoluta das pessoas está acostumada a ver, mesmo quando estas tentam dar voos de condor aos seus escritos, e diz “O céu incendeia ao crepúsculo” ou “a lua brilha circunspecta”.
Tenho certeza que Proust aprovaria este nascer do sol “pintado” por Humberto de Campos – “O sol que não mostrava ainda o seu disco, era apenas adivinhado pela claridade doce que punha no cabeço dos montes mais altos, fazendo ressaltos nos penedos inteiriços e nus, como chapas de prata fosca nelas engastadas, os finos lençóis d’água ... De repente, um cabeço de monte se acende, como um farol. E outro, e outro e mais outro. E a serra toda se inflama, se ilumina, faísca, fulgura, na gloria resplandecente do dia. Era o sol!”.
Já que falamos em astros, leiam comigo esta bela descrição de George Sand: -‐ “A lua se escondia atrás das Klias altas e desenhava no espaço azulado o espectro negro dos pinheiros imóveis. Uma serenidade profunda reinava entre as plantas; a brisa caíra, morrendo esgotada sobre as compridas ervas, aos primeiros acordes do sublime instrumento. O rouxinol ainda lutava, porém com uma voz Kmida e desfalecente. Por fim veio sentar-‐se num ramo flexível, que não se dobrou mais do que o faria se carregasse um fantasma”.
É claro que não pretendo merecer o beneplácito de Proust, Humberto de Campos ou de George Sand, porém, aJngido pela picada da mosca azul (alguns amigos, portanto suspeitos para fazerem julgamento com isenção, disseram-‐me que gostaram deste trecho de uma crônica que publiquei aqui no JL e ouso repeJ-‐lo:
“Lembro-‐me como se fosse hoje, naquela noite a lua estava desavergonhadamente bonita; surgiu por detrás do espigão mestre de um morro que limita nossa vista para o lado do nosso vizinho Sr. Juvenal; na verdade, foi surgindo devagar, parece que empurrada para cima por mãos invisíveis; inicialmente somente o seu clarão fazia prever sua próxima aparição, no início com certa Jmidez, porém, já dominando a encosta do morro.
De repente ela aparece inteira na tela do firmamento, a natureza ao seu redor, que nos é mostrada por sombras, parece que inicia o dormitar acalentada pela brisa cariciosa, seguramente presente em todo final de tarde, início de noite.
Era dia ainda e já era noite, os habitantes das matas já se acomodavam para o sono, escutando somente o murmúrio dos insetos, inaudível para os forasteiros daquelas paragens.
Se prestarmos atenção ao que nos rodeia, com a agudeza e a sensibilidade do nosso senJdo olfaJvo, poderemos senJr, no ar, um perfume como se fora exalado da boca de mulher nova e bonita e que circulava a custa de um zéfiro genJl ”.
3BOLETIM MENSAL - SOBRAMES PARANÁ - GRALHA AZUL No 29 - JANEIRO 2013
UNIÃO DE MÉDICOS ESCRITORES E ARTISTA S LUSÓFONOS (UMEAL)
A UMEAL é uma enJdade que congrega médicos escritores e arJstas que falam a língua portuguesa. Foi fundada em uma reunião preparatória em 24 de setembro de 1992, na localidade Cúria, Portugal. Nasceu com a finalidade de integrar médicos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné, Moçambique, Portugal, São Tomé e Principe e Timor, além de membros médicos espalhados pelo mundo que falem o idioma português e se dediquem à literatura ou a outra arte. A UMEAL congrega as associações de médicos escritores de Portugal (Sociedade Portuguesa de Escritores e ArJstas Médicos _ SOPEAM) e do Brasil (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores -‐ SOBRAMES). A atual Diretoria da UMEAL, eleita em assembléia por ocasião do VI Congresso, realizada no Recife, Brasil em 2007, está assim composta: Presidente: Waldênio Florêncio Porto, médico, romancista, Presidente da Academia Pernambucana de Letras, ex-‐Presidente da Sobrames Regional Pernambuco e da Sobrames Nacional; Vice-‐Presidente para Portugal: Luis Esperança Ferreira Lourenço, médico, conJsta, ex-‐Presidente da SOPEAM; Vice-‐Presidente para Cabo-‐Verde: Samuel Ferreira Fontes Gonçalves, médico, ensaísta. A UMEAL já promoveu sete congressos internacionais de médicos escritores lusófonos em todos foram apresentados trabalhos literários e realizaram-‐se exposições de pintura. O I Congresso foi realizado no Recife, Pernambuco, Brasil. Sessão de abertura feita no Teatro Valdemar de Oliveira, visitas ao Forte do Brum (com exibição de coreografias e folclore local), ao Real Hospital Português de Beneficência, à cidade de Olinda, à Fundação Gilberto Freire. O II Congresso foi realizado em Cúria, Portugal. Foram incluídos passeios turísJcos ao Centro e ao Norte do país e parte de Lisboa. O III Congresso foi realizado em Salvador Bahia, Brasil. Com visitas turísJcas à Lagoa do Abaeté, Ilha de Itaparica, Fundação Jorge Amado e Igrejas. O IV Congresso foi realizado em Leiria, Portugal. Houve visitas turísJcas aos mosteiros de Alcobaça e da Batalha, Castelos de Leiria e Tomar, Nazaré e praias da região. O V Congresso foi realizado no Recife, no Recife Monte Hotel. Novos passeios turísJcos pela capital e cidades vizinhas. O VI Congresso foi realizado no Recife, Pernambuco, Brasil, na Semana Pré-‐Carnavalesca de 2007. Congregou além de escritores do Nordeste Brasileiro, médicos de Portugal e de Cabo Verde. Realizou-‐se em associação com o II Congresso das Academias de Letras do Nordeste, patrocinado pela Rede de Integração das Academias de Letras do Nordeste. O VII Congresso foi realizado em Lisboa, Portugal. O VIII Congresso foi realizado em CuriJba em conjunto com o XXIV Congresso Nacional de Sobrames e com a comemoração de 25 anos da Academia Brasileira de Médicos Escritores. Foi realizado sob os auspícios da Sobrames Regional do Paraná, no Hotel Bourbon, com grande número de parJcipantes, incluindo portugueses, moçambicanos e brasileiros. Houve uma série de palestras com Assembleias das três enJdades. Na reunião da UMEAL foi escolhida a Capital Maputo de Moçambique como sede do IX Congresso , sob os auspícios de Helder F.B. MarJns. O atual presidente Waldênio Porto, com Maria José Leal e Luis Lourenço foram de suma importância na escolha daquele local para sediar o evento. Na assembleia da ABRAMES foram ouvidos, entre outros, sua presidente Juçara Valverde e os novos acadêmicos que tomaram posse naquela oportunidade: Márcia Etelli Coelho de São Paulo e Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki de CuriJba. Na reunião da Sobrames Nacional houve eleição com a escolha da nova Diretoria que tomará posse em Fevereiro de 2013, com vistas aos próximos eventos, ou seja a Jornada da Sobrames em Botucatú, São Paulo, o XXV Congresso em Recife e o IX Congresso da Umeal em Maputo, Moçambique.
Queremos prestar uma pequena homenagem ao nosso amigo, irmão, sobramista, abramista,
médico, marido e pai inesquecível Sérgio Pandolfo, que perdemos neste início de 2013. Enviamos nossas condolências à sua família.
EXPEDIENTE: Editor Responsável e Presidente Sobrames Paraná: Sérgio Pitaki ;Vice-Presidentes: Fahed Daher e Sonia Braga; Secretários: Paulo Maurício Piá de Adrade e Maurício Norberto Friedrich; Tesoureiros: Maria Fernanda Caboclo Ribeiro e Edival Perrini. contacto: [email protected] , fones:41-30131133; 41-99691233
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