Gralha Azul no. 14 - Sobrames Paraná - Agosto 2011

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SER POETA Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de um condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente! Florbela Espanca. Sonetos. 12a. Ed. 2002. SENSIBILIDADE versus INSENSIBILIDADE BOLETIM MENSAL - No. 14 AGOSTO 2011 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PARANÁ GRALHA AZUL GRALHA AZUL 1 BOLETIM MENSAL - SOBRAMES PARANÁ - GRALHA AZUL No 14 - AGOSTO - 2011 EXPEDIENTE: Presidente e Editor Responsável: Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki 1oVice-Presidente: Fahed Daher 2o.Vice-Presidente: Sonia Braga 1o. Secretário: Paulo Maurício Piá de Adrade 2o. Secretário: Maurício Norberto Friedrich 1o. Tesoureiro: Maria Fernanda Caboclo Ribeiro 2o. Tesoureiro: Edival Perrini contacto: [email protected] fones:41-30131133; 41-99691233

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Boletim Mensal Gralha Azul - Sobrames Paraná - agosto - 2011 No. 14

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SER POETA Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de um condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca. Sonetos.

12a. Ed. 2002.

SENSIBILIDADE

versus

INSENSIBILIDADE

BOLETIM MENSAL - No. 14 AGOSTO 2011 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PARANÁ

GRALHA AZUL GRALHA AZUL

1BOLETIM MENSAL - SOBRAMES PARANÁ - GRALHA AZUL No 14 - AGOSTO - 2011

EXPEDIENTE:

Presidente e Editor Responsável:

Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki

1oVice-Presidente: Fahed Daher2o.Vice-Presidente: Sonia Braga1o. Secretário: Paulo Maurício Piá de Adrade2o. Secretário: Maurício Norberto Friedrich1o. Tesoureiro: Maria Fernanda Caboclo Ribeiro2o. Tesoureiro: Edival Perrini

contacto: [email protected] fones:41-30131133; 41-99691233

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2BOLETIM MENSAL - SOBRAMES PARANÁ - GRALHA AZUL No 14 - AGOSTO - 2011

Sensação - Função psicológica que percebe a realidade imediata através dos sentidos físicos. “A sensação deve ser estritamente diferenciada do sentimento, que é um processo inteiramente diferente, embora possa associar-se à sensação como uma “tonalidade de sentimento”. A sensação relaciona-se não apenas aos estímulos externos, mas também aos internos, isto é, às mudanças nos processos orgânicos internos. A sensação concreta nunca aparece sob forma “pura”, mas está sempre ligada a ideias, sentimentos e pensamentos... A sensação concreta de uma flor... traz consigo não apenas a percepção da flor em si, mas também do talo, das folhas, do habitat e assim por diante. Mescla-se, também, instantaneamente, ao sentimento de prazer ou desprazer que a visão da flor evoca ou a percepções olfatórias simultâneas, ou a ideias sobre sua classificação botânica, etc. “

Sentimento. Função psicológica que avalia ou julga o valor de alguma coisa ou de alguém. “É uma realidade tão indiscutível quanto a existência de uma ideia.” A função sentimento é a base para as decisões de “luta ou fuga”. Como processo subjetivo pode ser bastante independente dos estímulos externos. Segundo Jung, é uma função racional, como o pensamento, por ser influenciada, decisivamente, não pela percepção, mas pela reflexão. No dia-a-dia, é frequente a confusão entre sentimento e emoção. A emoção, que mais apropriadamente deve ser chamada de afeto, é o resultado de um complexo ativado. O sentimento, não contaminado pelo afeto, pode ser bastante frio. “O sentimento distingue-se do afeto pelo fato de não produzir enervações físicas perceptíveis, isto é, nem mais nem menos do que um processo de pensamento normal.”Léxico Jungiano. 1991. Editora Cultrix.

Responsabilidade, s.f. De responsável+dade. Obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros; caráter ou estado do que é responsável ou do que está sujeito a responder por certos atos e a sofrer-lhes as consequências.Dicionário Laudelino Freire, 1957

SENSIBILIDADE versus INSENSIBILIDADE e RESPONSABILIDADE

Após essa introdução auto-explicativa de Carl Gustav Jung sobre a sensação e sentimento e lembrarmos da responsabilidade intrínseca, poderemos fazer uma análise prática sobre tudo o que nos cerca. A pergunta que deve ser colocada neste momento é simples: Perdemos nossa sensibilidade? A resposta por outro lado não é assim tão simples e há muitas variáveis a serem analisadas. A cada edição do Boletim Gralha Azul renova-se a busca de um tema que nos sensibilize e de alguma forma nos traga à luz da consciência literária, uma percepção de nossa existência como escritores, ou médicos escritores. Sob outra ótica, há também a questão responsabilidade literária. Como podemos fazer a diferença em tudo o que escrevemos e como influenciar nossos leitores? Escrever nossos sentimentos íntimos carregados de afeto, demonstra largamente nossa sensação em relação ao mundo, à sociedade, às pessoas e aos nossos entes queridos. Creio que essa posição torna-se acentuadamente egoísta no momento que deixamos de nos posicionar em relação a eles. No prólogo onde citamos o significante de Jung (e Saussure) torna-se evidente nossa perda constante do sentimento não contaminado pelo afeto. Tornamo-nos frios, distantes. A culpa não será nossa, desde que intuirmos ou percebamos o momento da mutação. Assim que recebemos o bombardeio de notícias corriqueiras como desastres, explosões, assassinatos, estupros e corrupção, cresce em todos uma carapaça ou uma resistência ao infortúnio alheio. Esse talvez seja o principal sintoma de uma doença social que foi exposta pelo confrade paraense Sérgio Pandolfo, comentada na internet pelo confrade mineiro José Alvarenga e exposta claramente no editorial do Jornal Mensal da Sobrames - Pernambuco, pelo confrade Cláudio Renato Pina Moreira. Crentes em fazer a diferença, não nos podemos furtar de escrever, declamar e propagar uma onda de boas novas. Nossos veículos são os mesmos do avesso e do contrário. Devemos usar o contraponto, unidos a executar uma obra de arte a favor de nossas futuras gerações. O descaso de políticos e mandatários é gritante. Inacreditável. Serão eles o reflexo do povo? Ou refletem apenas a inconsciência coletiva de todos nós. Em edição anterior desse Boletim comentamos a comenda oferecida a indivíduos alheios às letras pela ABL, como prova irrefutável de nossa indignação. Poderão emergir dentre nós alguns filósofos que a possam dirigir ou pelo menos direcionar todas as nossas indignações ao ponto certo: sentido irrestrito da educação, saúde e vida plena. Nossa responsabilidade é grande - pelo menos do tamanho de nossos dons, pois os recebemos de graça e cabe a todos nós levantarmos uma bandeira em conjunto como o fizeram poetas e escritores na história da humanidade. Não podemos abdicar de nos revoltar - não devemos deixar de falar de flores, do amor e da lua sem jamais nos esquecer da dor, da miséria e do caos que nos trazem a má política, o consumismo desenfreado e o neo-liberalismo populista sem dignidade.

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3BOLETIM MENSAL - SOBRAMES PARANÁ - GRALHA AZUL No 14 - AGOSTO -

RESPONSABILIDADE

ODE AO NEOLIBERALISMO

O efeito pior do Neo-Liberalismo não foi sobre a economia, coisa de ricos - uma condenada minoria nem sobre a cultura - coisa de sonhadores, nem sobre essa política - coisa de porcos.

Foi sobre a própria vida:- sobre o amor.

Não se aceita a impureza na água que nos limpa, no prato que nos salva, no coração do amigo com quem compartilhamos o drama ou o triunfo

E temos de aceitá-la no peito da pessoa que se ama?

O Neo-liberalismo estragou tudo- até o amor.

Adeus, amor!

Não há mais sentimento: só sensação.

Ficou banal transar - com qualquer um, ficou patético amar - a qualquer um.

E não cabe perdão; - ninguém re-ama.

O Neo-liberalismo revirou pelo avesso as relações humanas: privatizou o de-todos - o que tem de ser de todos; publicizou o de-um - o que só pode ser de um.

E estragou tudo- até o amor.

- Adeus amor!

(Inauguramos a era da solidão coletiva.)

Pedro LyraVozes na Paisagem - Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - II - RJ 2011Fortaleza - CE. Poeta, crítico e ensaísta, professor titular de Poética na UENF-Campos RJ, Pós-Doutorado na Sorbonne(Chercheur Invité - 2004/2005).

SENSIBILIDADE

VARIAÇÕES EM TORNO DE CURITIBA

Em Armazém de Ecos e Achados - 2001

Teu frio Curitiba vicia-me em abraços

Lua cheia no Barigui Quem disse que não tem mar aqui?

Atrás do lençol de nuvens Curitiba meu exercício de sonhos

Não suporto mais: É agosto demais no meu dezembro.

Plantei teu pinhão: nasceu-me a gralha azul

na sua manhã Curitiba respiro a cerração das nuvens que dormiram com você

Edival Perrini

Médico Poeta - Escritor - Curitibano - Psiquiatra - Sobrames Paraná. Criou e participa do grupo Encontrovérsia, de estudo e crítica literária, desde 1980.

http://www.edivalperrini.com.br/frames.php

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O acadêmico e Sobramista Roberto A. Carneiro (à direita nas fotos e com o Ministro da Saúde Alexandre Padilha na primeira) representou a Academia Paranaense de Medicina e a Sobrames PR no 182o. aniversário da Academia Nacional de Medicina.

Pai que te querodar um abraço. Dizer parabéns?Parabéns são meuspor ser filho teu

Pai que te quero saber teu, seguirteu exemplo, acreditar,viver, continuar,ser eu você hoje e amanhã

Pai que te quero respirar teu aspirarseguir a senda, a estreita veredada vida O sol sem a sombratua ou minha, sóa crença de bem fazer.

Pai que te querosaber conhecer oque já conheceu e quete faz viver assimpra sempre conosco.

Sérgio Pitaki

DIA DOS PAIS - 14 DE AGOSTO DE 2011

ACONTECEU ACONTECERÁ

BOLETIM MENSAL - SOBRAMES PARANÁ - GRALHA AZUL No 14 - AGOSTO - 2011