GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de...

14
GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE Katiusca Angélica Micaela de Oliveira 1 RESUMO: O mundo é repleto de imagens, as imagens são repletas de mundos. Desde os humanos primórdios até os dias de hoje, há necessidade de deixar registros de presença, de observações do mundo, de criações artísticas, da política, da natureza, da evolução tecnológica. Esses registros estão intermitentemente espalhados pelo nosso campo óptico. Para cada lugar que olhar, o ser humano se depara com imagens e essas o ajudam a constituir sua identidade e a localizá-lo em espaço-tempo. Propõe-se este texto a observar, analisar, entender a importância da imagem e sua ressurgência, com intermitentes aparecimentos e desaparecimentos, através da apreciação da ressignificação do graffiti, entre o passado e o presente. Portanto é nesse contexto que essa pesquisa se insere, partindo da percepção da arte com suas multiplicidades, muitas técnicas já criadas, muitos materiais alternativos usados, diversas formas visuais, misturas de técnicas e linguagens artísticas, essas sempre propondo a rupturas com o passado. PALAVRA-CHAVE: Arte. Graffiti. Imagem. História. 1. Graffiti linguagem histórica O que se conhece hoje como graffiti está relacionado à origem da arte, a Arte Rupestre, o mais antigo registro gráfico da humanidade. A Arte Rupestre, forma de expressão usada como representação gráfica nas cavernas, onde supostamente o homem paleolítico teve necessidade de registrar sua marca, sua presença. As primeiras civilizações registravam fatos que foram importantes como é o caso dos registros em túmulos dos faraós Egípcios em que imagens e textos contam histórias por meio das composições elaboradas em forma de grandes murais. Essa forma de comunicação também foi utilizada por povos do Oriente, como China e Índia. Em Roma, os primeiros cristãos gravaram sinais religiosos nas catacumbas onde se reuniam em segredos. A sequência de registros se deu em tempos da antiguidade na Grécia e em Pompéia. No passado, a atitude para com pinturas era frequentemente semelhante. Não eram consideradas obras de arte, mas objetos que tinham uma função definida, algumas estranhas finalidades que se serviram pela arte. Para os povos primitivos seus processos de pensamento eram mais aplicados, para eles não havia diferença em edificar e fazer imagem, no que se refere à utilidade. As imagens eram feitas para protegê-los contra outros poderes, para eles a imagem era tão real quanto à força da natureza, as imagens serviam para fazer magia. As imagens era algo poderoso para ser usado e não como algo para contemplação. Ao pensar neste pressuposto das imagens primitivas remete a fala de Rancière “A arte antecipa o trabalho porque ela realiza o principio dele: a transformação da matéria sensível em apresentação a si da comunidade”. (Rancière 2005, p.67) Fascinante observar em cada movimento da arte que mesmo suas especificidades ainda há semelhança entre as projeções de imagens. Segue uma breve pesquisa história sobre as imagens com ênfase nas pinturas em parede e afins. Em adição ao texto, do mesmo modo como Didi-huberman sugere “Nossa hipótese de leitura será que, para além da evocação burckardtiana dos “restos vitais”, a Nachleben de Warburg fornece um modelo de tempo próprio das imagens, um modelo de anacronismo que rompe não apenas com as filiações vasarianas [...] e com as nostalgias winckelmannianas[...], mas também com todas as suposições usuais sobre o sentido da história. (Didi-humberman, 2013,p 67). 1 Katiuscia Angélica Micaela de OLIVEIRA, mestranda curso Ciências da Linguagem, UNISUL- Universidade do Sul de Santa Catarina.

Transcript of GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de...

Page 1: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE

Katiusca Angélica Micaela de Oliveira1

RESUMO: O mundo é repleto de imagens, as imagens são repletas de mundos. Desde os humanos primórdios

até os dias de hoje, há necessidade de deixar registros de presença, de observações do mundo, de criações

artísticas, da política, da natureza, da evolução tecnológica. Esses registros estão intermitentemente espalhados

pelo nosso campo óptico. Para cada lugar que olhar, o ser humano se depara com imagens e essas o ajudam a

constituir sua identidade e a localizá-lo em espaço-tempo. Propõe-se este texto a observar, analisar, entender a

importância da imagem e sua ressurgência, com intermitentes aparecimentos e desaparecimentos, através da

apreciação da ressignificação do graffiti, entre o passado e o presente. Portanto é nesse contexto que essa

pesquisa se insere, partindo da percepção da arte com suas multiplicidades, muitas técnicas já criadas, muitos

materiais alternativos usados, diversas formas visuais, misturas de técnicas e linguagens artísticas, essas

sempre propondo a rupturas com o passado.

PALAVRA-CHAVE: Arte. Graffiti. Imagem. História.

1. Graffiti linguagem histórica O que se conhece hoje como graffiti está relacionado à origem da arte, a Arte

Rupestre, o mais antigo registro gráfico da humanidade. A Arte Rupestre, forma de expressão usada como representação gráfica nas cavernas, onde supostamente o homem paleolítico teve necessidade de registrar sua marca, sua presença. As primeiras civilizações registravam fatos que foram importantes como é o caso dos registros em túmulos dos faraós Egípcios em que imagens e textos contam histórias por meio das composições elaboradas em forma de grandes murais. Essa forma de comunicação também foi utilizada por povos do Oriente, como China e Índia. Em Roma, os primeiros cristãos gravaram sinais religiosos nas catacumbas onde se reuniam em segredos. A sequência de registros se deu em tempos da antiguidade na Grécia e em Pompéia.

No passado, a atitude para com pinturas era frequentemente semelhante. Não eram consideradas obras de arte, mas objetos que tinham uma função definida, algumas estranhas finalidades que se serviram pela arte. Para os povos primitivos seus processos de pensamento eram mais aplicados, para eles não havia diferença em edificar e fazer imagem, no que se refere à utilidade. As imagens eram feitas para protegê-los contra outros poderes, para eles a imagem era tão real quanto à força da natureza, as imagens serviam para fazer magia. As imagens era algo poderoso para ser usado e não como algo para contemplação. Ao pensar neste pressuposto das imagens primitivas remete a fala de Rancière “A arte antecipa o trabalho porque ela realiza o principio dele: a transformação da matéria sensível em apresentação a si da comunidade”. (Rancière 2005, p.67)

Fascinante observar em cada movimento da arte que mesmo suas especificidades ainda há semelhança entre as projeções de imagens. Segue uma breve pesquisa história sobre as imagens com ênfase nas pinturas em parede e afins. Em adição ao texto, do mesmo modo como Didi-huberman sugere “Nossa hipótese de leitura será que, para além da evocação burckardtiana dos “restos vitais”, a Nachleben de Warburg fornece um modelo de tempo próprio das imagens, um modelo de anacronismo que rompe não apenas com as filiações vasarianas [...] e com as nostalgias winckelmannianas[...], mas também com todas as suposições usuais sobre o sentido da história. (Didi-humberman, 2013,p 67).

1 Katiuscia Angélica Micaela de OLIVEIRA, mestranda curso Ciências da Linguagem,

UNISUL- Universidade do Sul de Santa Catarina.

Page 2: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

2

2.Graffiti nas primeiras civilizações

Na arte Rupestre, imagens que foram descobertas nas paredes de cavernas e rochas na Espanha e Sul da França, no século XIX, os arqueólogos surpreendem com aperfeiçoado dos desenhos, elementos gráficos, recusaram-se a acreditar de inicio que representações de animais naturais tinham sido feitas pela humanidade no período Paleolítico (40.000 a.C.). Os rudimentares resquícios de ossos e pedras encontrados na região tornaram cada vez mais certos que essas imagens de bisões, mamutes, cavalos, tinham sido pintadas por uma civilização nômade que caçavam nas suas redondezas. Hipoteticamente o que conseguissem desenhar poderia dominar, num sentido mágico, interferir na captura de um animal desenhando-o ferido mortalmente, podendo 00000000000000000de essa forma dominá-lo com facilidade. Para pintar, produziam suas próprias tintas misturando terra com carvão, sangue e gorduras de animais. Utilizavam os dedos e pincéis rudimentares. As pinturas eram representações da natureza, tudo para garantir uma boa caçada e a sobrevivência da tribo. Pois segundo os desenhos era muito importante na Pré- História garantir a continuidade de sua espécie.

Arte Rupestre- Caverna de Altamira2

Fonte http://terraeantiqvae.com/profiles/blogs/pintaron-los-neandertales-altamira

Partindo da observação de pesquisadores destas cavernas pode-se articular que a arte começou com os europeus do Paleolítico Superior e isso refletia o nível cultural que tinham alcançado. Em Didi-humberman (2013,p 69) vamos encontrar o seguinte esclarecimento “Na medida mesma em que amplia o campo de seus objetos, de suas abordagens, de seus modelos temporais, a sobrevivência torna complexa a história: libera uma espécie de “margem de indeterminação” na correlação histórica dos fenômenos”. As pinturas deixadas nas paredes com detalhes, estruturações e organizações das imagens propõem pensarmos que na tribo havia uma pessoa que era responsável pela atividade de desenhar nas cavernas e possivelmente que esses lugares eram tratados como santuários de intenção mágica lugar de veneração da imagem.

A civilização antiga do Egito está muito bem contada por meio de pinturas e anotações existentes nas paredes das ruínas de palácios, túmulos, pirâmides, hipogeus. Os pintores egípcios tinham um modo de representar a vida real muito diferente do nosso, relacionado com a finalidade diferente que tinha de ser servida por suas pinturas. O que era

2 Altamira é o nome de uma caverna na qual se conserva um dos conjuntos pictóricos mais importantes da Pré-História. 1 Fica no município espanhol de Santillana del Mar, Cantábria, num prado do qual tomou o nome.As pinturas e gravuras da caverna pertencem ao Paleolítico Superior.

Page 3: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

3

mais importante não era a beleza da imagem, mas sim a interação com a realidade atual, preservar tudo o mais natural e claro possível. Segundo Rancière (2012, p.15) “Existe a relação simples que produz a semelhança de um original: não necessariamente sua copia fiel, mas apenas o que é suficiente para tomar seu lugar”. Eles desenhavam de memória de acordo com regras rigorosas que assegurava que tudo o que tinha que entrar na imagem se destacava com perfeita clareza. Seguir a regra, incluir tudo o que consideravam importante na forma humana. Não é apenas o seu conhecimento de formas e contornos que o artista incutia em suas obras mais também o conhecimento que ele tinha dos significados míticos das formas. Possivelmente essa rigorosa adesão tivesse algo a ver com a finalidade mágica da representação pictórica.

http://opassadoeumarte.blogspot.com.br/2008_05_01_archive.html

As pinturas e os modelos encontrados em túmulos egípcios estavam associados à

ideia de suprir a alma no outro mundo. Toda pessoa que se prezava tinha que tomar providências para a vida no além, encomendando uma dispendiosa tumba que abrigasse sua múmia e sua imagem, e onde sua alma pudesse habitar e receber oferendas de alimento e bebida que eram feitas ao morto. Alguns destes primeiros retratos da era das pirâmides, a quarta dinastia do Antigo Império está entre as mais belas obras de arte egípcia.

Pintura, Capela funerária de Tutmes III

http://lealuciaarte.blogspot.com.br/2012/01/em-vista-da-obsessao-da-sociedade.html

Page 4: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

4

A pintura egípcia apresenta características muito marcantes. Em relação às cores, por exemplo, predominam os tons vermelhados semelhantes à terra, o marrom, o preto e o branco. Quanto ao desenho, a lei da frontalidade aparece em quase todas as pinturas. Chamamos de lei da frontalidade o hábito de desenhar os olhos e os ombros das pessoas sempre de frente para o observador, mesmo que os pés e a cabeça estejam de perfil. A preocupação era mostrar cada parte do corpo pelo ângulo mais representativo. Além de ser feita nas paredes, a pintura também era realizada sobre uma folha de papiro.

Pintura, A tumba de De Horemheb

http://lealuciaarte.blogspot.com.br/2012/01/em-vista-da-obsessao-da-sociedade.html

A imagem pintada tem um sentido de ordem em todos os detalhes, é tão forte que qualquer variação desorganizaria o conjunto inteiro da representação. O artista egípcio iniciava desenhando uma rede de linhas retas na parede e distribuía suas figuras com grande cuidado ao longo dessas linhas. Os artistas trabalhavam para o faraó ou sacerdotes como escravos ou com pequenas remunerações. O Estado e os sacerdotes patrocinavam a arte, que possuía uma característica religiosa e era uma forma de afirmação da dominação do faraó. As pinturas e esculturas eram geralmente colocadas no fundo das tumbas. As pinturas e desenho do Egito antigo revelam uma rede de informações sobre as práticas diárias, sentimentos e gostos. Revelam a imaginação dos antigos egípcios quando ao que representavam. Figuras humanas grandiosas feitas para evidenciar suas posições de comando, no caso o Faraó, em relação às outras imagens, cujo tamanho e posturas indicam a submissão dos inimigos vencidos.

A arte da Mesopotâmia é menos conhecida do que a arte do Egito. Por volta de 3200 e 2900 a C., a Mesopotâmia foi habitada pelos Sumérios. A arte suméria começa em Ur, mais propriamente como Estandarte de Ur (espécie de história em quadrinhos da Antiguidade). A primeira tira mostra uma cena de celebração; a segunda, uma cena de um banquete com animais; e a terceira, homens que transportam mercadorias. A arte dos povos da Mesopotâmia, pois, além da escrita, eles costumavam representar seu cotidiano em paredes, placas de pedra ou argila. Existia algo de simples na pintura glorificavam os senhores da guerra do passado, a guerra não chegava ser um problema, bastava o herói aparecer e o inimigo dispersado como palha de vento.

Page 5: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

5

http://www.historiadelarte.us/arte-mesopotamico-primitivo/primeras-dinastias-sumerias/

Estandarte de Ur (espécie de história em quadrinhos da Antiguidade) proporcionou a observação histórica primitiva, e inspirou a técnica HQ história em quadrinho. Uma história em quadrinhos é uma narração contada por desenhos, organizados, normalmente, em linhas horizontais. Os desenhos habitualmente são separados uns dos outros e ficam dentro dos quadros retangulares, chamadas vinhetas.

Hagar, o Horrível é a tira em quadrinhos de Dik Browne, que fala do viking. http://historiasecontossemfim.blogspot.com.br/2011/09/hagar-o-horrivel.html

À sua maneira, os primitivos contaram a primeira história do mundo pintando nas paredes. E contar histórias é o que todos os quadrinhos fazem atualmente. A organização das imagens nas paredes inspirou a evolução dos HQ, para a imagem e textos, principalmente no século XV, quando a xilogravura começou a ser utilizada para ilustrar livros. No século XVI a técnica passou a desempenhar um notável papel, constituindo-se num elemento essencial da conjugação imagem/texto.

A maior parte das pinturas Romanas que conhecemos hoje provém das cidades de Pompéia e Herculano, que foram soterradas pela erupção do Vesúvio em 79 a.C. A cidade cercada de muralha e a entrada restringiam-se a grandes portas. As sobrevivências das imagens contidas nas pinturas possibilitam observar a história, mas essa não de forma organizada cronologicamente, pois não tem como identificar a realidade atual no período do soterramento ou resquícios do passado referente à época da erupção do Vesúvio. Tais observações remetem a pesquisa de Didi-huberman sobre o contexto da história da arte.

A sobrevivência segundo Warburg não nos oferece nenhuma possibilidade de simplificar a história: impõe uma desorientação temível para qualquer veleidade de periodização. É uma idéia transversal a qualquer veleidade de periodização. E uma idéia transversal a qualquer recorte cronológico. Descreve um outro tempo. Assim, desorienta, abre torna mais complexa a história. Numa palavra, ela a anacroniza. Impõe o paradoxo de que as coisas mais antigas às vezes vêm depois das coisas

menos antigas. (Didi-humberman, 2013, p.69)

Page 6: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

6

As paredes em geral, estavam sempre cobertas com cartazes, inscrições e pinturas de lutas de gladiadores. Cenas de contexto do dia-dia ou ate mesmo representando o passado, anacronizado. Segundo Funari, historiador da arte confere as pinturas nas paredes de Pompéia a grafites e inscrições, relatos visuais da história de uma civilização.

Um grafite, ou inscrição feita na parede, mostra o momento final de uma luta de gladiadores: o lutador à esquerda, M. Atílio, vence L. Récio, que se ajoelha e depõe o capacete no solo, à espera da decisão popular. A platéia poderia mostrar o polegar para baixo, condenando o perdedor à morte ou, pela bravura do combatente, conceder-lhe a vida, levantando o polegar para cima. Neste caso, o perdedor lutou corajosamente e está escrito que lhe foi concedida a vida (CIL IV – 10.236

3).

(Funari 2009, p. 111)

O lutador à esquerda, M. Atílio, vence L. Récio. (Funari 2009, p. 111)

Os mortos eram enterrados ou depositados em cinza fora da muralha da cidade,

nas tumbas encontravam inscrições e figuras. A grande massa da população Romana, ainda que semi-analfabeta, também gostava de escrever e, mesmo que não se pudessem ter livros publicados, era possível escrever nas paredes. Argumenta Funari que milhares de grafites representavam inscrições populares.

As paredes preservadas de Pompéia, cidade destruída pela erupção do Vesúvio em 79 d.C., trazem milhares de grafites populares, inscrições que tratam dos mais variados temas. Há poesia, desenhos, recados, trocas de impressões, até exercícios escolares podem ser lidos, dois mil anos depois de serem escritos. A língua usada nas paredes não era a mesma que se usava na literatura ou na oratória, era mais simples e direta, cheia de ‘erros’.( Funari 2009, p.121)

Pompéia. Anterior a 79 d.C.

http://antoniodearaujo.blogspot.com.br/2013_02_01_archive.html

3 Número de catalogação de pesquisa de imagem.

Page 7: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

7

Os romanos utilizavam a pintura de forma decorativa e, muitas vezes, os painéis eram desenhados dando efeito de continuada para criar novos ambientes de interior ou cenas de paisagens e de representação mitológica. Nesses painéis, eram trabalhadas as técnicas de afrescos, técnica em que o artista pintava sobre a massa da parede ainda úmida. As imagens estavam em diversos lugares tanto nas paredes de fora como as de dentro dos edifícios. O pesquisador da arte não se contentou em colecionar e admirar o objeto passou analisar, decompor, comparar a história, uma analise dos tempos, historiador da arte. Didi-huberman explicita seus pressupostos dos escritos de Warburg sobre a anacronização da história.

Por ter tecida de longas durações e de momentos críticos, de latências sem idade e ressurgências abruptas, a sobrevivência acaba por anacronizar a história. Com ela, cai por terra qualquer noção cronológica de duração. Em primeiro lugar, a sobrevivência anacroniza o presente: desmente com violência as evidencias do Zeitgeist, esse “espírito da época” em que tantas vezes se baseia a definição dos estilos artísticos. Warburg gostava de citar esta frase de Goethe: “O que chamamos espírito dos tempos [Geist der Zeiten] nada mais é, na realidade, que o espírito do honorável historiador em que esse tempo se reflete...” Com isso, a grandeza de um artista ou de uma obra de arte era reconhecida por Warburg [...] conforme sua capacidade de resistência a esse espírito, a esse “tempo de época”.pag 70e 71

Enquanto a arte Egípcia é uma arte ligada ao espírito, a arte Grega liga-se à

inteligência, pois os seus reis não eram deuses, mas seres inteligentes e justos que se dedicavam ao bem-estar do povo. A arte Grega volta-se para o gozo da vida presente. Contemplando a natureza, o artista se empolga pela vida e tenta, através da arte, exprimir suas manifestações. Na sua constante busca da perfeição, o artista grego cria uma arte de elaboração intelectual em que predominam o ritmo, o equilíbrio, a harmonia ideal. Eles têm como características: o racionalismo; amor pela beleza; interesse pelo homem, essa pequena criatura que é “a medida de todas as coisas”; e a democracia.

Afresco em Paestum, com cena de banquete, século V a.C.

http://www.acemprol.com/pintura-da-grecia-antiga-t5698.html

A pintura em paredes e painéis era altamente considerada entre os gregos em seus templos e palácios, apesar das referências acadêmicas serem voltadas para as pinturas em cerâmica, pois as pinturas de parede foram em grande maioria destruídas nas prolongadas guerras. Os Romanos em seus murais pintavam fragmentos de contexto Grego como uma apropriação cultural, e são nestes fragmentos que se tem uma noção maior de pesquisa sobre os murais Gregos. Ao observar a arte Grega e Romana remete ao pensamento que ambas se misturavam em termos culturais, mesmo esses povos sendo tão distintos em suas organizações sociais. Confundir-se com as imagens, o que é imagem Grega e o que é imagem Romana, propõe utiliza-se da seguinte argumentação de Warburg “[...]Antiguidade clássica - não tinha em si nada de uma origem absoluta. Por conseguinte, a origem forma, ela mesma, uma temporalidade impura de hibridações e sedimentações, de pretensões e perversões[...]”. (Didi-humberman, 2013,p 71).

Page 8: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

8

No Oriente Médio a realização de imagens era terminantemente proibida, mas a arte não pode ser suprimida. Os artífices do Oriente, a quem não era permitido representar seres humanos, deixou sua imaginação jogar com padrões e formas com arabescos nas ornamentações. De acordo com Didi-humberman (2013,p 71) “É que a sobrevivência realmente abre uma brecha nos modelos usuais da evolução. Neles detecta paradoxos, ironias do destino e mudanças não retilíneas. Ela anacroniza o futuro, ao mesmo tempo em que é reconhecida por Warburg como uma ‘força formadora para a emergência dos estilos’”. Redefinir a imagem propondo um modelo que favoreça a recordação de uma história, mesmo que essas estejam amaradas a novas linguagens artísticas. Essa alternativa de resistência da imagem Didi-huberman acrescenta:

Eis-nos um pouco mais bem armados para compreender os paradoxos de uma historia das imagens concebida como uma história de fantasmas – sobrevivências, latências e aparições misturadas com desenvolvimento mais manifesto dos períodos e estilos. Uma das formulas mais impressionantes de Warburg [...], terá sido definir a história das imagens que ele praticava como uma “história de fantasmas para gente grande”. Pag 71 e 72

Islâmica - sec. IV a VII

Cria-se uma nova forma de representar ideias, arabescos que vão cogitando

possíveis diálogos históricos. Acrescenta Rancière (2012,p113) um núcleo conceitual comum que permite os deslocamentos entre o arabesco simbolista e a simbolização publicitária funcional.[...] A mesma ideia de uma escrita sinalética das formas envolve múltiplas práticas e interpretações”.

O impacto da religião sobre a arte foi mais forte na China, adotaram costumes fúnebres, como as pinturas funerais com cenas que refletiam a vida e os hábitos sociais. Os chineses foram o primeiro povo que não considerou a criação artística uma tarefa subalterna, colocou o pintor no mesmo nível do poeta. A meditação e a contemplação eram incentivadas para examinar as ideias e ponderar a verdade sagrada. Podendo fixar o olhar na pintura sem que o tédio tomasse conta da sua mente. As imagens eram usadas para ensinar os leigos, esses que tinham poucos ensinamentos.

Page 9: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

9

Arte Mural do Período Han.

http://povosdaantiguidade.blogspot.com.br/2010/10/china-han-e-o-ocidente-2-parte.html

A contribuição da Índia na pesquisa vem de Ajanta, uma cidade da Índia com uma série de grutas que permaneceram ocultas pela selva durante 1.300 anos. São ao todo 29 grutas pintadas e esculpidas e talhadas na montanha de pedra, possivelmente no século II a.C. A temática prende-se sobre tudo com imagens da representação das vidas anteriores de Buda, pinturas nas paredes representando a religião budista.

Padmapani

http://www.epochtimes.com.br/a-flor-de-lotus-na-cultura-indiana/#.UqCwq9JDuSo

A famosa pintura mural da divindade Padmapani no distrito de Aurangabad, estado de Maharashtra, Índia, nas cavernas de Ajanta, um conjunto de 30 cavernas esculpidas na rocha entre o séc. II a.C. até 480-650 d.C. Padmapani significa literalmente ‘o portador do lótus’ (Archaeological Survey of India).Um elemento simbólico é a associação da flor de lótus com a cultura indiana, modelando e nutrindo o espírito da Índia como uma civilização ancestral. Sua simbologia é associada à pureza espiritual e ao renascimento. A flores nasce em meio à lama. Propõe inspirar um caminho de purificação e de transcendência em relação a tudo que é considerado impuro no mundo. Elementos pintados em paredes das grutas simbolizaram referências religiosa na Índia, a flor de lótus permanece sendo pintada até os dias atuais em diversos suportes, telas, mercadorias e até mesmo como pintura corporal, difundindo-se em vários países.

Page 10: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

10

http://imperatrizleopoldinahabsburgo.blogspot.com.br/2009/08/as-cavernas-de-ajanta-

na-india.html

Na relação historicidade e arte, varias civilizações primitivas e antigas, a imagem está implantada como registro da história, sendo que há infinitas definições das imagens. Na arte, a imagem é elemento fundamental, pois, é a representação dialógica, a imagem materializando o invisível. Nas palavras Didi-Huberman citando Walter Benjamin todo esse emaranhado de imagem propõe uma organização. “‘Organizar o pessimismo’ no mundo histórico, descobrindo um ‘espaço de imagens’ no próprio vazio de nossa ‘conduta política’, como ele diz. Essa proposta se refere à temporalidade impura de nossa vida histórica, que com o início de redenção. E é nesse sentido que é preciso compreender a sobrevivência das imagens, sua imanência fundamental: nem seu nada, nem sua plenitude, nem sua origem antes de toda memória, nem seu horizonte após toda catástrofe. Mas sua própria ressurgência, seu recurso de desejo e de experiência no próprio vazio de nossas decisões mais imediatas, de nossa vida mais cotidiana”. (Didi-Huberman,p.128)

03.Reconhecimento do Graffiti como arte

No! Don't think I'll need anything at all All in all it was all just bricks in the wall

All in all you were all just bricks in the wall Another Brick In The Wall -Pink Floyd

Não! Não pense que eu preciso de alguma coisa afinal

Tudo era apenas um tijolo no muro Todos são somente tijolos na parede

A arte de rua como força, como resistência, como voz ativa de uma sociedade

insatisfeita. Grafites feitos no muro de Berlim, a revolta se apropriando da linguagem da arte, artistas desconhecidos e conceituados uniram-se a um movimento de indignação e grafitaram e picharam um muro que delimitou fronteira e dividiu famílias. Em "East Side Gallery" Berlin teve o maior pedaço de parede (1,3 km), decorado com grafiteiros como Keith Haring e Gerald.

Page 11: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

11

Scarfe.ttp://www.lavanguardia.com/cultura/20130327/54370735683/excavadoras-retiran-

fragmentos-muro-de-berlin.html

Nem a passagem do século vai conseguir minimizar a estranheza do muro que, de 1961 a 1989, rasgou Berlim em duas. A história não esquecerá a derrubada do próprio, nem a reconstrução da cidade. A comoção gerada com a derrubada do muro e distribuição da cidade. A comoção gerada pela distribuição dos fragmentos de paredes e tijolos, pintados e grafitados, como ícone para a lembrança da luta, foi uma daquelas raras situações em que a vida reúne todos os elementos para resultar em ótima ficção.

Fragmento do muro de Berlim na rua do chaussee em Berlim, Alemanha.

http://pt.dreamstime.com/imagem-de-stock-fragmento-do-muro-de-berlim-image21036861

Berlim ao termino da Segunda Guerra e no inicio de Guerra Fria – o tenebroso confronto entre duas ideologias, uma guerra tratava o campo psicológico, á sombra do terror nuclear. Os aliados (britânicos, franceses e americanos) transformaram Berlim Oriental uma espécie de vitrine para exaltar as virtudes do capitalismo e da democracia. Já Berlim Oriental (46% de ária), capital da Alemanha comunista era a cidade autora e reprimida dominada por um regime autoritário de linha dura. O fausto da Berlim Oriental incomodava os comunistas. Em 1° de abril de 1948 eles iniciavam um bloqueio terrestre dos setores aliados de Berlim, que sé terminou em 12 de maio de 1649, período que aviões americanos e britânicos transportavam 1,5 milhões de toneladas de alimentos e carvão a cidade.

Ao fim da guerra em 1645, a futura Alemanha Oriental, oficialmente Rubrica Federal da Alemanha (RFA) – tinha 44 milhões de habitantes; a fortuna Oriental Republica doméstica Alemanha (RDA), contava 17 milhões. E 20 anos depois ela continuava com os mesmos 17 milhões, enquanto a população da Alemanha Oriental tinha crescido 60 milhões. Destes novos habitantes, alguns milhões aviam escapados do território comunista. Em agosto

Page 12: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

12

de 1961 cerca se 53.000 berlinense orientais iam trabalhar diariamente do outro lado, atravessando 74 pontos de passagem para o setor ocidental. Muitos não voltaram mais, para acabar com a evasão em massa o exercito comunista começa a fechar as passagens e levantar de arame farpado, nos dias sequentes inicia a construção de uma muralha, opinião ocidental o Muro da Vergonha.

Imagem atual do muro.http://lucianacarpinelli.wordpress.com/category/turista-em-berlim/

São necessários 30.000 soldados orientais para manter a vigilância constante nos

165,7 quilômetros de concreto e arame farpado circulam Berlim Oriental. O aparato conclui 300 torres de observação, iluminação abundante, alarmes elétricos, centenas de cães de guarda, valas anticarro e antitanque e até alarmes de tropeço que dispara balas. Para os comunistas, este “muro de proteção antifascistas” se destinava a impedir o brain drain (evasão de cérebros). O muro conseguiu, efetivamente, conter o êxodo que ameaçava a Alemanha comunista de colapso econômico e consistia, segundo alguns, numa espécie de “votação com os pés”, dando ao estilo de vida capitalista vitória esmagadora.O muro recebe suas primeiras pichações por volta 1980, explicitando a revolta contra o muro e a atuação política vigente. Segundo Ramos(1994, p.13), no muro apareceram alguns provérbios e desenhos:

Imagem 2 – Ficheiro:Berlin-wall4

Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Pichação “Poder é sempre sem amor, amor nunca é com poder” ou advertências tais como “O Muro deve permanecer”, logo muitas imagens também foram surgindo. Figuras humanas, rostos, paisagens, animais e esqueletos na maioria das vezes se organizavam num discurso visual de protesto à presença do muro. Símbolos da paz, como a pomba ou a Estátua da Liberdade, ocuparam este espaço por algum tempo. Internacionalmente conhecido como Muro da Vergonha, esse espaço recebeu – entre muitos artistas, a maioria desconhecida do grande público – a visita do graffitiiro norte americano Keith Haring. (Ramos 1994, p.13)

4 Lado da Alemanha Ocidental do Muro de Berlim repleto de pichações- http://pt.wikipedia.org/wiki/Pichação

Page 13: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

13

Na noite de 9 de novembro de 1989, uma quinta-feira, volta de 19 horas , as autoridades da Alemanha Oriental anunciavam discretamente que os candidatos a emigração podiam “passar por todos os postos fronteiriços entre a RDA e a RFA eu por Berlin Oriental”. Informaram ainda “a polícia recebeu instruções de emitir vistos para as partidas definitivas sem a exigência vigente ate em tão”. As pessoas custaram a acreditar. Só as 21h30m um jovem casal chegou a passagem da Bornholmer Strasse , apresentou o documento de identidade e atravessou para Berlim Ocidental.

http://mfm-a-roda.blogspot.com.br/2009_10_18_archive.html

Em poucas horas uma verdadeira maré humana tomo conta das ruas e, munida de

todo tipo de ferramenta, desde marreta até britadeiras, começou a demolição. A madrugada de 9 para 10 de novembro assistiu a uma das maiores festas da democracia, uma celebração de um momento maior da liberdade de humana.

[...]É fácil dar defeito É só lhe dar poder

E quando o caos chegar Nenhum muro vai te guardar[...]

( música: De Você-Pitty)

http://alterdochao.olx.pt/fragmento-do-muro-de-berlin-original-e-certificado-iid-

348909713 Nos fragmentos, alguns vendidos e disputados a preços altos, foram encontrados, além

de inscrições, também desenhos com simbologia suscitando a paz e a liberdade, essa feitos por artistas que vinham de diversos lugares, entre eles o renomado Keith Haring que grafitou do lado ocidental do Muro de Berlim três anos antes de sua queda. Alguns fragmentos ainda são vendidos nas mais diversas formas como uma recordação da história. Outros em formas maiores se encontram em museus do mundo. Grande maioria deles contendo as imagens do graffiti e da pichação. Assim valorizando a linguagem artística do graffiti, com ênfase nos fragmentos contidos as pinturas de Keith Haring, que foi prestigiado e reconhecido da performance dos grafites feitos no muro.

Muro de Berlim veio abaixo após diversas manifestações de cidadãos da Alemanha oriental em prol de liberdades democráticas e de uma equiparação econômica ao ocidente. Tais manifestações e a queda do Muro foram analisadas de diversas formas pela pelos historiadores e socialistas, cada qual com suas convicções políticas. Enquanto essa pesquisa não tem o intuito de tomar partido em relação ao acontecido político-histórico, lutas

Page 14: GRAFFITI: ENTRE O PASSADO E O PRESENTE - Programa de …linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/simfop... · 3 mais importante não era a beleza da imagem, mas sim

14

de classes, mas salientar a inserção da arte no meio urbano como forma de intervenção e auxilio nas reivindicações do povo quanto à queda do muro. A arte auxiliando a expressão política e social.

http://lucianacarpinelli.wordpress.com/category/turista-em-berlim/

http://zequinhabarreto.org.br/?p=3649

A chamada “maior galeria a céu aberto do mundo” é atualmente o mais longo pedaço do histórico Muro que continua em pé, com 1,3 km de extensão. O lado Oeste dele foi grafitado por artistas de todos os cantos do planeta com o objetivo de criar um memorial da liberdade. Atualmente ainda há poucos fragmentos de muro não grafitados, mas diversos artistas buscam deixar sua obra em evidência, aparecendo novas pinturas, cada artista com suas especificidades gráficas e ideológicas, mas todas as obras compondo uma grande exposição de arte, a arte fora do espaço conceituado do museu. Especulações imobiliárias já discutem com o governo a retirada dos resquícios do muro. Se ocorrer, mais uma fez os grafites ali expostos passam pela efemeridade da arte de Rua. O graffiti passa de uma expressão social para ser prestigiado como arte. Fragmentos de imagens, sobras de muros pintados sobrevivem no afã de contar a história. Conforme Didi-huberman (2013,pg.69) em sua pesquisa sobre História da arte “Warburg mostra como a sobrevivência desnorteia a história, como cada período é tecido por seu próprio nó de antiguidades, anacronismos, presentes e propensões para o futuro”.

4. Referências DIDI-HUBERMAN, de Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes Tradução de Vera Casa Nova e Márcia Arbex. Editora UFMG, 160 p. FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 4.ed., 2º reimpressão São Paulo: Contexto, 2009. RAMOS, Célia Maria Antonacci. Graffiti, Pichação e Cia. São Paulo: Anna Blume. 1994, p.13 – 15. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível:estética e política. Tradução de Mônica Costa Netto.Editora São Paulo:Exo experimental org.;Ed.34,2005.72p. RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens. Tradução de Mônica Costa Netto.Editora Rio de Janeiro:Contraponto,2012.151p.