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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA
CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado UPPH – Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico
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ÍNDICE
1. Expediente _______________________________________________________2
Justificativa ______________________________________________________2
Moções__________________________________________________________2
Comunicações da Presidência _______________________________________2
Comunicação dos Conselheiros ______________________________________2
Comunicação do Grupo Técnico ______________________________________2
2. Proposições______________________________________________________2
3. Ordem do dia _____________________________________________________2
3.1. Processos para Deliberação com Parecer de Conselheiro Relator ____3
01. Processo nº. 01018/2009 – Campinas _____________________________5
02. Processo nº.00805/2002 – Rio Claro _____________________________15
03. Processo nº. 00843/2003 – São Paulo____________________________26
04. Processo nº. 00992/2008 – São Paulo____________________________37
05. Processo nº. 63457/2010 – São Paulo____________________________46
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Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico
e Turístico do Estado - CONDEPHAAT
SESSÃO EXTRAORDINÁRIA
19/09/2011
Horário – 9:30 hs. – 12:00 hs.
Local – Sede da Secretaria de Estado da Cultura Rua Mauá nº 51 – 3º Andar
1. Expediente
Justificativa
Moções
Comunicações da Presidência
Comunicação dos Conselheiros
Comunicação do Grupo Técnico
2. Proposições
3. Ordem do dia
3.1. Processos para Deliberação com Parecer de Conselheiro Relator
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3.1. Processos para Deliberação com Parecer de Conselheiro Relator
01. Número do Processo: 01018/2009 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento da Mata Nativa (Guarani Futebol Clube) Interessado: MILENE CHRISTINA BERTINATO Município: CAMPINAS Parecer do Conselheiro: Maria Tereza Paes
02. Número do Processo: 00805/2002 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento da Capela Santo Antonio e do Matadouro Municipal. Interessado: PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO CLARO Município: RIO CLARO Parecer do Conselheiro: Haroldo Gallo
03. Número do Processo: 00843/2003 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento do imóvel situado na Rua Coriolano, 1313 (Antiga Fábrica Matarazzo) Interessado: LEONARDO GOMES MELO E SILVA Município: SÃO PAULO Parecer do Conselheiro: Haroldo Gallo 04. Número do Processo: 00992/2008 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento do mural localizado dentro do imóvel situado a Rua Peixoto Gomide, 1066. Interessado: INSTITUTO JOHN GRAZ Município: SÃO PAULO Parecer do Conselheiro: Haroldo Gallo
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05. Número do Processo: 63457/2010 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento do Cine Belas Artes imóvel situado a Rua da Consolação, 2423, nesta Capital. Interessado: VIA CULTURAL – Inst. Pesq. Ação pela Cultura Município: SÃO PAULO Parecer do Conselheiro: Francisco Alambert
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01. Número do Processo: 01018/2009 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento da Mata Nativa (Guarani Futebol Clube) Interessado: MILENE CHRISTINA BERTINATO Município: CAMPINAS Parecer do Conselheiro: Maria Tereza Paes
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02. Número do Processo: 00805/2002 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento da Capela Santo Antonio e do Matadouro Municipal. Interessado: PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO CLARO Município: RIO CLARO Parecer do Conselheiro: Haroldo Gallo
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03. Número do Processo: 00843/2003 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento do imóvel situado na Rua Coriolano, 1313 (Antiga Fábrica Matarazzo) Interessado: LEONARDO GOMES MELO E SILVA Município: SÃO PAULO Parecer do Conselheiro: Haroldo Gallo
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04. Número do Processo: 00992/2008 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento do mural localizado dentro do imóvel situado a Rua Peixoto Gomide, 1066. Interessado: INSTITUTO JOHN GRAZ Município: SÃO PAULO Parecer do Conselheiro: Haroldo Gallo
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05. Número do Processo: 63457/2010 Assunto: Solicita abertura de estudo de tombamento do Cine Belas Artes imóvel situado a Rua da Consolação, 2423, nesta Capital. Interessado: VIA CULTURAL – Inst. Pesq. Ação pela Cultura Município: SÃO PAULO Parecer do Conselheiro: Francisco Alambert
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PROCESSO CONDEPHAAT 63457
2011
• Parecer Técnico UPPH nº GEI-26-2011
• Data do Protocolo: 11/01/2011
• Interessado: VIA CULTURAL – Inst. Pesq. Ação pela Cultura
• Assunto: Pedido de Tombamento do Cine Belas Artes – São Paulo
• Proprietário: F lávio Maluf
Senhora Coordenadora,
Trata-se da solic itação, em caráter de urgência, do estudo de tombamento
do Cine Belas Artes, à Rua da Consolação no. 2423, São Paulo, como
“PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL INESTIMÁVEL DA CIDADE DE SÃO
PAULO.” (f l. 04), com entrada no Protocolo deste Órgão em 11 de janeiro de
2011.
Já no dia 12 subseqüente foi anexada nova documentação aos autos, com
solic itações no mesmo sent ido, do Exmo. Senhor Vereador Gi lberto Natalini
(f ls. 08 e 09) e da APACI – Associação Paulista de Cineastas (fls. 14 e 16),
assim como juntadas inúmeras cópias de artigos e matérias da imprensa
escrita favoráveis à preservação da função de c inema naquele local. (f ls. 17
a 97). Em 1 de fevereiro ainda se acrescentaram pró Belas Artes os of íc ios
de João Manoel da Costa Neto (f l. 134), Assessor Parlamentar e do I lmo.
Sr. Carlos Giannazi, Deputado Estadual.
O mesmo pedido foi feito em caráter extraordinário ao Órgão de
preservação do Patrimônio Munic ipal – CONPRESP – que pela premência da
demanda levou à consideração do Conselho a inc lusão do pedido na
primeira reunião do ano de 2011. Acatada a solic itação, o CONPRESP
concluiu pela abertura de processo de tombamento do edif íc io que abriga o
Cine Belas Artes, como medida inic ia l, cautelar e de proteção provisória.
A motivação para tamanho empenho decorreu do anúncio de fechamento do
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tradic ional Cine Belas Artes, na Capital, já em 27 de janeiro deste, por
conta da não renovação de contrato do proprietário do estabelec imento com
os locatários.
Considerado um dos últ imos cinemas de rua da cidade, dotado de perf i l
diferenciado de programação e localizado em ponto privi legiado – o
cruzamento da Rua da Consolação com a Avenida Paulista – efet ivamente o
Belas Artes, enquanto sala de projeção, é uma referência na cartograf ia
cultural paulistana.
Registre-se, desde já, que raramente foi observada na Capital tamanha
mobil ização da sociedade c ivil, c lasse art íst ica e representantes
inst ituc ionais, em favor da preservação do uso de um espaço cultural da
cidade, como se deu neste episódio do tradicional Cine Belas Artes.
Em passado já distante, do ano de 1975, ass ist iu-se a episódio histórico
deste envolvimento da população paulistana em defesa de patrimônio
relevante para a cidade e para o Estado: a grita pelo tombamento da
tradic ional Escola Normal Caetano de Campos, ameaçada de demolição em
favor da construção de uma estação do Metrô, na Praça da República.
Af inal, se tratava da escola pioneira do Ensino Normal na República
nascente, de 1894, com projeto arquitetônico de Ramos de Azevedo.
A edif icação balizava simbolicamente a la ic ização do novo regime e do
espaço, uma vez que, para sua realização, se preteriu a verba dest inada à
construção da nova Catedral da Sé, em favor da edif icação de uma Escola.
Coinc identemente, a Escola Normal Caetano de Campos, hoje tombada, se
localiza na Praça da República, protagonizando a ênfase na Educação, como
projeto da nova Ordem republ icana.
Bastante diverso é o caso do Cine Belas Artes. Na Caetano, se defendia um
monumento de alvenaria de extrema visibil idade, naquela altura quase
secular e de ressonância cultural inegável na Cidade, no Estado e mesmo no
País; hoje, se debate pela preservação de uso de um espaço, cultural sem
dúvida, mas enquanto programa de sala de projeção, de certa forma quase
anacrônico , se pensarmos na realidade das salas c inematográf icas da
atualidade e na adaptação precária das salas de seu interior.1
Curiosamente, a exemplo da defesa da Caetano de Campos, também no
episódio do Belas Artes a mídia foi altamente mobi lizada e deu espaço ao
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tema, colocando-o na pauta dos princ ipais veículos da imprensa escrita,
falada, televis ionada e on line. Leve-se em conta que a atenção dispensada
ao assunto se deu em meio ao mês de Janeiro, tradic ionalmente carente de
notíc ias midiát icas retumbantes, por conta do longo período de fér ias que
sucede às festas da virada do ano, com recesso de Instituições do
Legislat ivo, Judiciário e mesmo do Executivo. Entre a posse da Presidenta
Di lma e as lamentáveis e recorrentes enchentes e desmoronamentos de
áreas de r isco, por conta das chuvas de verão, houve espaço para se deter
e defender a manutenção de uso do Cine Belas Artes.
A ampla cobertura veiculou breves históricos do tradic ional c inema, que se
inic iou em 1952, e também colocou em cena o direito legít imo do
proprietário do imóvel – Sr. F lávio Maluf - em não renovar o contrato de
seu locatário. No caso, o locatário é o cineasta e formador cultural André
Sturm, em sociedade com Fernando Meirelles.
Desde 2003, André Sturm, também diretor da Pandora Filmes, é o
responsável pela programação do Cine Belas Artes, reconhecido pela
qualidade de sua Curadoria na seleção de fi lmes importantes do repertório
cinematográf ico, independente, inclus ive, do retorno de mercado por suas
projeções. A despeito da bilheteria, sozinha, não fechar as contas do
negócio, o apoio via patrocínios de entidades culturais de peso - HSBC
entre outros - garant ia o funcionamento do local, enquanto sala de
projeção.
A este propósito, reproduzimos algumas manchetes dos órgãos da grande
imprensa nestes dias correntes:
O Inquilino mais querido da cidade
(O Estado de S. Paulo 16 de janeiro de 2011)
Um ciclo para deixar saudades
(O Estado de S. Paulo 14 de janeiro de 2011)
Adeus. Belas Artes se despede da Consolação com retrospectiva.
(Guia Folha 14 a 20 de janeiro de 2011)
Salve o Cinema
(D Divirta-se, caderno de programação semanal de O Estado de S. Paulo, edição 16.)
Concomitante, várias passeatas foram igualmente conclamadas, com muitos
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adeptos, também reproduzidas pela mídia, em espetáculo de mobil ização
pouco visto na c idade, por conta de um equipamento cultural.
Diga-se que a estratégia do inqui l ino, no quadro de término do Belas Artes,
foi hábil e mobil izadora. Anunciou-se para antes do descerrar def init ivo das
portas, previsto para o dia 27, uma retrospect iva de arrasar, “só para
mostrar a falta que (o c inema) fará à cidade”. (O Estado de S. Paulo,
14.01.2011)
De fato, a programação condensada enfi leirou c láss icos e f i lmes notáveis,
em mostra que se estendeu do dia 14 a 27 de janeiro, d ia do encerramento
das atividades. E mais: anunciou para a sexta (21), uma edição extra de
cinco fi lmes para o Noitão, programa que às sextas feiras projetava f i lmes
noite adentro. Esta especia l programação, em período de fér ias e de lazer
na Capital, aglut inou não só cinéf i los, mas jogou mais luz sobre a iminência
do término das salas do Belas Artes, aguçando a curios idade sobre sua
história, mobil izando redes de comunicação e s ites, que divulgaram
passagens desconhecidas e esquecidas do grande público, a lus ivas ao
“tempo do Belas Artes”.
A manifestação do Prefeito Gilberto Kassab, favorável à permanência do
Belas Artes como c inema e naquele endereço, forneceu o aval necessário
para que os af ic ionados da causa sent issem respaldo para investidas
inst ituc ionais.
Ass im, ato cont ínuo, no calor da defesa da causa e, de certa forma
equivocadamente, cogitou-se do ato do tombamento como “único
instrumento” impedit ivo da mudança de uso do estabelecimento, decisão
eventualmente viabil izadora da manutenção do Belas Artes em
funcionamento naquele local.
Solic itações de aberturas de estudos de tombamento foram imediatamente
providenciadas aos órgãos do setor, a exemplo do CONPRESP e deste
CONDEPHAAT, num entendimento enviesado do real s ignif icado do instituto
do tombamento; em outros termos, do uso inapropriado de recurso legal,
que no caso deste Órgão estadual, só se aplica a manifestações e
representações efetivas de importância cultural para o Estado, cuja
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legis lação sobre o patrimônio imateria l ainda está em fase elaboração.
Com o debate na ordem do dia, a mídia também apontou justif icativas
coerentes que minimizavam a necessidade de preservação do Belas Artes.
Uma delas, no quadro do “fecha não fecha”, just if icava:
(o Cine Belas Artes) deixará saudades? Provavelmente não muita,
se pensarmos nos atuais e bem equipados multip lex dos shoppings
centers e os compararmos com o desconforto do velho complexo.
De labirínticos corredores e minúsculas salas claustrofóbicas no
subsolo – a Carmem Miranda e a Mário de Andrade, com 97 e 88
lugares, respectivamente. Ficará, s im na lembrança e na memória
afet iva dos cinéfi los por seu passado de glória, inic iado em 1967,
quando deixou de ser o Cine Trianon para se tornar o Cine Belas
Artes (...) onde f izeram tremendo sucesso fitas emblemáticas e
hoje c lássicas, como Morte em Veneza (1971), do ital iano Luchino
Viscont i, Corações e Mentes (1974), do americano Peter Davis, O
passageiro: prof issão repórter (1975) do italiano Michelangelo
Antonioni, Cria Cuervos (1976) do espanhol Carlos Saura e a Lei do
desejo (1987) do também espanhol Pedro Almodovar. (Veja SP ,
12/01/2011)
Em 18 de janeiro deste, uma nota do caderno “Metrópole” do jornal O
Estado de S. Paulo, s inalizava que o assunto fora, em princípio, acolhido
pelo CONPRESP. Em sua primeira reunião do ano, o Conselho acatava a
abertura de estudo de tombamento, assunto que segundo a imprensa fora
colocado “a toque de caixa na pauta”. (Estado, 18.01.2011, C12).
Ass im, com este sopro de sobrevida, se encontra a demanda também
encaminhada a este Condephaat e objeto deste parecer. Nesse sent ido,
passamos a ponderar sobre o mesmo.
Do Trianon ao Belas Artes: notas preliminares
O Belas Artes bal iza especial etapa da história da programação e
efervescência c inematográfica em São Paulo. Concebido em 1952,
especia lmente para o programa de uso cinematográfico e para sediar o Cine
Trianon, mereceu a partir de 1967 – quando se tornou Cine Belas Artes - a
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curadoria de exibição de Dante Ancona Lopes, divulgador do dito “c inema
de arte” em São Paulo. A expressão é controversa, entendendo determinada
corrente, que a denominação f i lme de arte:
(...) foi dada pelos exibidores (que são comerciantes) para designar, na década de 50, os f i lmes de tomadas demoradas, sem ação, quando da explosão no mercado das obras de Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Robert Bresson, Roberto Rossel l ini, entre tantos outros. Os exibidores é que denominaram estes de f i lmes de arte porque f i lmes que não at ingiam muito público, e o mercado, restr ito, dominado pelo cinema americano. Queriam eles d izer, na verdade, se t ivessem mais noção da arte do f i lme, que os f i lmes de arte se caracterizavam pela ref lexão em detr imento da ação (...)2
A despeito desta percepção tomada tão só na perspect iva do mercado, a
origem do Belas Artes, voltada para o “cinema de arte”, já impregnou suas
salas do diferencial de programação e explica, em parte, a legião de
af ic ionados que hoje se debatem por sua manutenção. Com propriedade,
Carlos Augusto Cali l s itua o papel de Ancona Lopes (SP/1909 – SP/1977) no
quadro dos exibidores da época:
Dante foi nosso melhor exibidor. Sem seu exemplo São Paulo não se ter ia tornado uma capital do c inema, uma Cinecittà, cuja programação r ivaliza hoje com os grandes centros estrangeiros.
Mais que isso:
Dante teve a qualidade de atuar de maneira diferenciada junto aos ramos de distribuição e exib ição, o que fez com que ele viesse a se projetar entre seus colegas de profissão. Sua ação pioneira foi decis iva para a formação de um circuito de exibição que fosse capaz de atender a um público mais exigente e crít ico em relação à produção f í lmica como um todo.3
Deve-se a Dante Ancona Lopes a criação do Cine Coral, em 1951, primeira
experiência bem-sucedida na implantação de uma sala totalmente voltada
para o público amante do chamado f i lm d’art. A inic iativa inovadora do
Coral serviu de modelo para a instalação de outras salas de arte pelo resto
do país. Entre elas, o Cine Belas Artes.
Registre-se ainda que por algum tempo, o Coral também abrigou a sede da
Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC), criada em 1962, para apoiar a
Fundação Cinemateca Brasileira. Além de Dante Ancona, entre os membros
fundadores da SAC, encontravam - se naquela inic iat iva o exibidor
Florent ino Llorente, o produtor Oswaldo Massaini, intelectuais como Paulo
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Emilio Sal les Gomes, Francisco Luiz de Almeida Salles, Flávio Rangel, Rudá
de Andrade, Jean-Claude Bernardet e polít icos, como Roberto de Abreu
Sodré.
Na década de 1960, Dante estendeu sua especial programação de arte para
os c ines Picolino, Scala e Trianon. Este últ imo seria transformado naquela
que certamente foi a realização de maior peso do decano programador: o
Cine Belas Artes.
Aberto ao público no dia 14 de julho de 1967, o Belas Artes - a mais ampla
sala de f i lmes de arte da América do Sul, com seus 1200 lugares4 -, se
tornou caudatário natural da efervescência c inematográfica daquele período
e se converteu em uma referência de amplo alcance. Por sua vez, o antigo
Cine Scala passou a se chamar Belas Artes Centro, sendo que ambos os
Belas Artes recepcionaram as sessões organizadas pela SAC.
Consta que quando se tornou Belas Artes a sala foi d ivid ida em duas, que
em breve viraram três. Pelo relato de Eder Mazini, diretor do Escritór io de
Cinema de São Paulo – ECINE SMC-G, sabe-se que:
o subsolo do c inema passou a ser a sede da Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC), capitaneada por Bernardo Vorobow, e virou casa de toda uma geração de c ineastas e artistas. Uma casa com jeito de quit inete, pequena para suas 60 poltronas, mas celeiro de grandes idéias e fonte de referências para o resto da vida. "Aquele porão se transformou num reduto do c inema experimental da época", af irma o diretor Carlos Reichenbach”.5
Após um incêndio o local passou por nova reforma e reabriu com seis salas,
em 1983, com o nome de Gaumont Belas Artes, tornando-se o primeiro
multiplex do País.
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A despeito da má qual idade, esta é uma das raras fotos com a denominação Gaumont Belas Artes. Fonte: ECINE
Vale lembrar que a conjuntura de emergência do Belas Artes, no ano de
1967, já o insere em especial e delicado momento da história do País, uma
vez que, em ação durante os Anos de Chumbo, figurou como espaço
diferenciado de projeção artíst ica, a despeito da severa censura em curso.
Logo, a programação inovadora e quali f icada, ass im como sua quase “ l ivre
expressão”, em tempos de controle da mensagem e da comunicação,
agregaram ao Belas Artes signif icados especia is em termos da memória do
entretenimento e da sociabil idade da Metrópole. Nesse sent ido, cabe
mencionar o trabalho de mestrado do geógrafo Eduardo Baider Stefani,
int itulado A geograf ia dos c inemas no lazer paulistano contemporâneo, onde
o autor confirma os vínculos entre afetiv idade, sociabi l idade e espaços
f ís icos, a exemplo do que parece i lustrar o “lugar” do Cine Belas Artes.6
Para além da especialidade e conteúdo de sua programação, acreditamos
que “o lugar” de implantação do Belas Artes, vale dizer, dos edif íc ios
Chipre, Gibraltar e Cine Belas Artes concorreu e muito para atração,
ampliação e consolidação de sua freqüência, vocacionando aquela esquina
para o entretenimento e direcionando para o Cine Trianon, depois Belas
Artes, público f iel e diferenciado. Eram famosas as f i las que se formavam
em suas bilheterias e que, na seqüência, se dispersavam pela espera da
sessão nos bares fronteiros: Riviera e Ponto 4.
Por esta razão, para além da memória socia l de uso tão prezada deste
espaço de projeção, outra vertente possível de leitura de eventuais
significados do Belas Artes, demanda olhar para a paisagem urbana da qual
é parte e conforma, passível de nos remeter para novos dados de
significação do bem em apreço.
Agora, não exatamente, ins ist imos, quanto a seu uso, mas pelo potencial do
quadro urbanístico no qual se insere e é parte, pelo “lugar de encontro” que
gerou, conferindo especial d inâmica para uma das esquinas tão
marcantemente paulistanas, a exemplo daquela que – guardadas as
diferenças temporais e de s ignificados – celebrizaram a esquina da Avenida
Ipiranga com a Avenida São João.
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Na paisagem urbana, um ponto dinâmico de confluências
Tentando ampliar o foco e inferir outros signif icados neste “patrimônio” tão
pranteado nas últ imas semanas que antecedem seu fechamento, alteramos
o zoom, até aqui apenas direc ionado para o Belas Artes e que, na breve
pesquisa realizada para este texto, não revelou s ignif icação just if icável de
preservação para o Estado.
Nesta visada mais ampla, procura-se percebê-lo como parte de uma
paisagem urbana e cultural maior: aquela conformada por uma esquina,
sem dúvida emblemática da vida da c idade, onde se encontram as
importantes artérias da Rua da Consolação e da Avenida Paulista, área que
melhor focada resulta em significativo lugar de história e memória da
Capital.
Nas últ imas décadas, desde que a Avenida Paulista foi a lçada a espaço de
celebração por excelência da cidade, aquela confluência figura como local
imprescindível para seu acesso, pontuando o encontro das importantes
Avenidas Rebouças, Dr. Arnaldo e Rua da Consolação. O traçado desta
últ ima, inc lus ive, remonta ao século XVI, então denominado "Caminho de
Pinheiros", estrada de trânsito cont ínuo pelas tropas que demandavam o
sertão. Naquele ponto, no alto do espigão, se cruzavam o “Caminho de
Pinheiros”, com a portentosa floresta do Caaguassu, então mata primária da
atual Avenida Paulista. Hoje, a vocação de importante passagem desta área
se mantém, por meio de avenidas urbanizadas que unem vários lados da
cidade, reproduzindo o centro nervoso de trânsito adensado de carros e
pedestres, passagens subterrâneas e alças de acesso viário, referência
potencializada de ponto de encontro e programas culturais múlt iplos.
Sublinhe-se que al i se deram as primeiras s inalizações de uso comercia l e
vert icalização da área no traçado da Avenida Paulista, até então
reconhecida como de uso exclusivamente res idencial.
Antes mesmo do Conjunto Nacional, de 1954, ali instalaram-se, de cada
lado da Rua da Consolação, dois importantes exemplares de arquitetura
moderna da c idade: o Edif íc io Anchieta, dos irmãos Roberto, em 1941, e o
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os edifíc ios Chipre, Gibraltar e então Cine Trianon, de 1952, projeto do
arquiteto italiano, naturalizado brasileiro, Giancarlo Palant i (Milão, 26 de
outubro de 1906 - São Paulo, 30 de setembro de 1977). Interessa-nos
preliminarmente este últ imo.
Palanti, formado pela escola Politécnica de Milão, em 1929, chegou ao
Brasil no pós-Segunda Guerra e atuou como arquiteto, urbanista e designer.
Reconhecido como expoente da arquitetura rac ionalista italiana, integrou o
grupo rac ionalista da arquitetura moderna em São Paulo, projetando vários
edif íc ios de qualidade na Capital. Quando da concepção do Chipre, Gibraltar
e Cine Trianon, Palant i trabalhava como diretor da Seção de Projetos da
Construtora Alfredo Mathias.7
I lustração do projeto de Giancarlo Palant i para o
Cine Trianon (atual Cine Belas Artes) e os edif íc ios Chipre e Gibraltar. Autoria da perspectiva
art íst ica não identif icada (Arquivo Giancarlo Palant i) Fonte: SANCHEZ, Aline Coelho. Op. Cit.
Indíc io da importância do conjunto arquitetônico foi sua publicação na
revista Acrópole, em 1956, cujos créditos são tr ibutados apenas à
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Construtora Alfredo Mathias S. A. como a autora do projeto e da
construção, e a Giul io Rosso, como o autor da decoração.
Aline Coelho Sanches, em seu texto “Notas sobre a arquitetura do Cine
Belas Artes”, esclarece que Palanti, naquela altura, como arquiteto
estrangeiro não podia legalmente ass inar seus próprios projetos. Assim, é
compreensível que os créditos da Acrópole tenham sido dados apenas à
construtora, assim como é provável que mesmo contando com o desenho
de Giancarlo Palant i, o edif íc io do Cine Belas Artes tenha a assinatura de
outro prof iss ional em documentos of ic ia is.8
As imagens da revista Acrópole são eloquentes da qualidade do projeto, no
transcorrer dos anos de 1950:
Fachada, Cine Trianon (atual Cine Belas Artes), São Paulo Autoria da foto não identif icada (Acrópole, n. 215, set. 1956, p. 448
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Foyer, Cine Trianon (atual Cine Belas Artes), São Paulo Autoria da foto não identif icada (Acrópole, n. 215, set. 1956, p. 448
Escada, Cine Trianon (atual Cine Belas Artes), São Paulo Autoria da foto não identificada (Acrópole, n. 215, set. 1956, p. 448)
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Tela, Cine Trianon (atual Cine Belas Artes), São Paulo Autoria da foto não identificada (Acrópole, n. 215, set. 1956, p. 449)
Tela, Cine Trianon (atual Cine Belas Artes), São Paulo Autoria da foto não identificada (Acrópole, n. 215, set. 1956, p. 449)
Do outro lado da rua
De um lado da rua, a obra de Palant i, no projeto arquitetônico dos edif íc ios
Chipre, Gibraltar e Trianon, pontuava a estét ica rac ional moderna na
fachada e interior da nova sala c inematográfica, enquanto a decoração,
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também de trato luxuoso, correspondia ao requinte esperado do local.
Palanti compôs harmoniosamente com a construção do outro lado da rua, o
preexistente e notável Edif íc io Anchieta, que também contribuiu para
conformar a potencializada esquina da Consolação com a Paulista.
Ainda em iníc ios do século XX, o vasto lote que se estendia da Avenida
Angélica até a Rua da Consolação fora ocupado pelo palacete do industr ial
português Pereira Inácio, de vastas dimensões e sofist icado programa de
uso. Neste local e antecedendo o projeto de Palant i, ainda ao tempo da II
Guerra, foi erguido em 1941, o Edif íc io Anchieta, projeto dos cariocas
irmãos Roberto, que conceberam na Avenida Paulista uma das primeiras
referências da arquitetura moderna em São Paulo, que, segundo Carlos
Lemos, f igura:
sem dúvida, (como) o primeiro modelo, não só pelos seus
apartamentos duplex como pelas past i lhas color idas em painéis
horizontais ritmados, a lém do pilot is, a grande novidade.9
Edifíc io Anchieta, em 1941. Edifíc io Anchieta. c. 1980 À dir., no térreo, o Bar Riviera.
Destaque-se no térreo do Anchieta, com entrada pela Rua da Consolação, a
existência memorável do Bar Riviera, em frente ao Belas Artes, fundado em
1949.
A princ íp io voltado para uma cl ientela elit ista, em f ins dos anos de 1960 e
durante toda a década de 1970 mudou de perf i l e viveu seu período de
grande efervescência revolucionária, fest iva e etí l ica. Ali se reuniam
estudantes, intelectuais e militantes contra a repressão. Como assíduos
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freqüentadores estavam Toquinho, Chico Buarque, os irmãos Caruso, José
Dirceu, membros da UNE, da Polop - a organização c landest ina -, entre
tantos.
O bar foi imortal izado por Angeli, com sua personagem Rê Bordosa e o local
pode ser ainda revisto em sua atmosfera boêmia no youtube, em tomada de
cena de f i lmagem com Antonio Fagundes, José Wilker e uma jovem Glória
Pires.10 Mas o Riviera era também destino natural do pessoal que saía do
Cine Belas Artes.
A gente saía do cinema e ia direto para o Riviera, para ficar
comentando o f i lme”, diz Dina, jornalista. Albert inho Lira lembra-se
de que pulavam uma divisória do canteiro central da Consolação,
para chegar mais depressa ao bar”. A seu lado, havia outro bar
agitado, o Ponto 4. A c lientela ia e vinha de um para outro e a
políc ia “baixava e pegava o pessoal em trânsito”. Aliás, a presença
do DOPS e dos delegados Sérgio F leury e Erasmo Dias também
foram registradas no Riviera, por conta da caça implacável aos
“subvers ivos. 11
Com a abertura polít ica, a partir de 1985, sua freqüência diminuiu e entrou
em decadência, fechando as portas após 56 anos de presença na noite
paulistana. Não adiantou ser o bar da Rê-Bordosa do Angeli, do Belas Artes,
de Chico Buarque e do Fernando Henrique nos idos dos 70.
O Bar Riviera e sua escada circular e retrô, seus t ijolos de vidro,
o garçom Juvenal e o Renato (derradeiro dono) cof iando os bigodes. Fonte: Riviera Fotos.
Afastando-se um pouco da esquina da Consolação, mas fazendo parte do
“pedaço”, na quadra delimitada pela Avenida Paulista, Rua Augusta,
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Alameda Santos e Rua Padre João Manuel, emergiu outra baliza marcante do
novo cenário vert ical izado e comercial da área, com a inauguração, em
1954, do Conjunto Nacional, de autoria do arquiteto David Libeskind. Em
seu lote na Avenida Paulista, até então, implantava-se, majestosa, aquela
que é t ida como a primeira casa art-nouveau da c idade, de propriedade de
Horacio Sabino, com projeto de Victor Dubugras.
A subida para o espigão
Não obstante este pontilhar de vert ical ização e comércio da Paulista, dos
anos de 1940 e 1950, é só a partir da década de 1960 que se ass iste à
mudança de uso radical da área.
Data dos anos de 1960 o êxodo inic ial de parte do comércio do Centro para
o alto do espigão, exatamente nas viz inhanças do atual Belas Artes. A
começar pela elegante Casa Sloper, até então na Rua Direita e do Fasano,
que da Vieira de Carvalho se instalava no próprio Conjunto Nacional.
Registre-se, a inda, em 1963, a mudança da tradicional casa de modas e
peleteria, a Peleteria Americana, s ituada desde 1930 na rua Barão de
Itapet ininga, para o Conjunto Nacional, passando a chamar-se Maison
Madame Rosita.
No ano seguinte instalava-se, no . 2.295 da Paulista, em sede própria, com
estufa c limat izada especial para as suas peles.
Em termos de memória daquela área – isto é, daquela def inida pelo
penúlt imo quarteirão da Paulista - algumas lembranças marcam seu
passado, bal izando o tempo do espaço res idencial dos primeiros anos, sua
vert icalização nos anos de 1940/60 e a consolidação da zona comercia l por
excelência, que sobreveio a partir dos anos de 1960/70, área de transito
múltipo de novas “tribos urbanas”. Uma delas, dos af ic ionados do “c inema
de arte”, do Belas Artes.
Da primeira fase, de iníc ios do século XX, sabe-se que lá se erig ira o
palacete do industria l português Pereira Inácio, que ocupava todo o
quarteirão entre a Angélica e a Consolação; da fase intermediária, da
vert icalização, implantaram-se harmoniosamente, de um lado, o edif íc io
Anchieta, do outro, o conjunto de edif íc ios Chipre, Gibraltar e Cine Trianon.
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Para quem sobe a Avenida Rebouças para descer a Consolação, ambos
permitem bela visual de acesso, f igurando como um portal de ingresso rumo
ao Centro, quase como se ambos fossem sent inelas.
Registre-se ainda, como interferência viár ia no local, a construção, em
1972, de uma passagem de pedestres embaixo da rua do Consolação, onde
são realizadas exposições diversas.
Concluindo
Com este breve elencar de marcos da área tentamos identif icar alguns
possíveis s ignif icados para o Belas Artes, inc lus ive recompondo parte da
paisagem urbana onde se insere. Nela, a lguns elementos até permitem
inserí-lo em histórico e plasticamente qualif icado ponto de confluência
viária e socia l da c idade; ass im como tomá-lo como referência de lugar de
celebração e lazer da Capital.
Não obstante, se, de certa forma, se pode recompor até um cenário de
interesse na trama urbana da Sao Paulo contemporânea, o mesmo não se dá
para o quadro cultural do Estado. Nesta últ ima perspectiva, não foram
ident if icados – salvo melhor juízo - atr ibutos passíveis de atestar
importância ao Cine Belas Arteas, seja quanto a seu espaço f ís ico e
sobretudo, quanto à força de propagação de seu uso.
Não é suf ic iente a referência qual if icada e pioneira da arquitetura moderna,
definindo a paisagem urbana onde se insere. A despeito da r ica vivência
daquela esquina, no passado e no presente, efetivamente também não se
tem ali, a atmosfera imortalizada por Vanzolini em Ronda e, em 1978, por
Caetano Veloso, quando compôs Sampa, com os versos: "alguma coisa
acontece no meu coração/que só quando cruzo a Ipiranga e avenida São
João.”
Novas e vindouras gerações até poderão infer ir naquele “pedaço” um ethos
especial, evocativo do lado Blade Runner da cidade, da São Paulo ainda
autofágica, mas também vanguardista, da qual o Belas Artes é até parte.
Inclus ive inc idem ali os graf iteiros que colorem o c inza da c idade, assim
como os ambulantes que vendem os mais sofist icados softwares,
manifestações e práticas que s ingularizam o “lugar do Belas Artes”. Que foi
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e é o lugar de “tribos urbanas” que dizem respeito tão só á Metrópole
paulistana.
Nesse sent ido, e arrematando um argumento f inal pert inente aos critér ios
de atuação legal deste Condephaat, o Belas Artes não gerou
desdobramentos de sua atuação no interior do Estado. Alguns c ineclubes
até existem em munic íp ios paul istas, mas, não propriamente inspirados ou
decorrentes do modelo e da programação do Belas Artes. Mesmo o recente
Festival Cinematográf ico de Paulínia, tudo indica, atende a outra demanda
da produção e projeção c inematográficas brasileiras.
Logo, procuramos levantar aqui pontos representativos da trajetória do
Belas Artes, a exemplo de ser:
• um dos primeiros c inemas com programação voltada para fi lmes de arte;
• espaço pensado inic ia lmente para c inema, dotado de tradição de uso, de autoria do arquiteto Giancarlo Palanti;
• lugar de vivência pol ít ica e boêmia cultural das décadas de 1960/70/80;
• parte de uma paisagem cultural dotada de qualidade arquitetônica.
Estes atributos, contudo, l imitam-se tão só a signif icados afetos à c idade de
São Paulo, não figurando como vetores ou repl icando-se no interior do
Estado.
Nesse sent ido, e a despeito de possível ambivalência que possa ser
depreendida do presente parecer, somos favoráveis ao arquivamento
deste dossiê preliminar. Afinal, a ambivalência se faz presente a priori ,
no pedido inic ial, solic itando o tombamento como “PATRIMÔNIO MATERIAL E
IMATERIAL INESTIMÁVEL DA CIDADE DE SÃO PAULO.” (f l. 04), def inindo o
âmbito munic ipal de sua importância, no próprio entendimento dos
interessados.
Isto posto, espera-se que a competente e at i lada gestão do Conpresp,
invest igue e analise com pluralidade técnica e generosidade, a demanda
deste ato c ívico pouco comum de mobil ização pela defesa do patrimônio
cultural da cidade. Não será demais lembrar, porém, que o tombamento
“per s i” não resolve o problema, se t ivermos presente que das sete salas de
cinema tombadas pelo CONPRESP - Art Palác io, D. José, Ipiranga, Marabá,
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Marrocos, Petrópolis e Paissandu - somente o Marabá está ativo e com
programação divers if icada.
Na sequência, fotos atuais do Cine Belas Artes e adjacências, t iradas no
mês de janeiro e capturadas do s ite Vitruvius e de autoria de Abí l io Guerra.
Ana Luiza Mart ins UPPG/GEI/CET 27 de Janeiro de 2011
Edifíc ios Chipre e Gibraltar, São Paulo, com Cine Belas Artes ao lado
Foto Abil io Guerra. 2011
Cine Belas Artes
Foto Abilio Guerra. 2011
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NOTAS
1. Certo que nosso trabalho implica em trabalhar com anacronismos de todo o teor, importando na preservação de exemplares de forte carga cultural alus ivos a formas e práticas culturais do passado. Nesse caso, contudo, não se está diante de um modelo de c inema qualif icado na forma. Mesmo enquanto c inema de rua, o Belas Artes demanda ampla reforma de seu interior para se tornar exemplar de programa de uso de sala de cinema. 2. SETARO, André, cr ít ico e professor de comunicação na Univers idade Federal da Dahia. In: Terra Magazine. Acessado em 21.01.2011
3. CALIL, Carlos Augusto e all i. Organização da mostra Dante Ancona Lopez, criador do c inema de arte em São Paulo. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2003, s/p.
4. TOMAZZONI, Marco. “Belas Artes é símbolo do cinema de arte em São Paulo”. http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/belas+artes+e+simbolo+do+cinema+de+arte+em+sao+paulo/n1237930672558.html
5. Parecer do Ecine – Escritório de Cinema de São Paulo ao CONPRESP, de 17 de janeiro de 2011.
6. STEFANI, Eduardo Baider. A geografia dos cinemas no lazer paulistano contemporâneo. São Paulo: Mestrado Geografia Humana FFLCH - USP, 2003.
7. Palanti trabalhou também com Henrique Mindlin, com quem projetou a agência paulistana da KLM, o edifício do Bank of London and South America, na rua XV de Novembro, ambos inaugurados em 1959. Assinou com Henrique Mindlin e equipe o pavilhão do Brasil na XXX Bienal de Veneza e o projeto para o Plano Piloto de Brasília, classificado em quinto lugar.[7] Sua parceria com Mindlin perdura até 1966. SANCHEZ, Aline Coelho. “Notas sobre a arquitetura do Cine Belas Artes”. In: http://agitprop.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.040/3729ES. Acessado em 21.01.2011.
8. Idem
9. LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. O modernismo arquitetônico em São Paulo (1). Arqtextos. In: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.065/413.
10. Para visualizar cenas do filme acessar: www. youtube.com/watch?v=OCanIjVieF
11. Sanches, Valdir. “A casa na Rua da Consolação (...)”. In: Jornal O Estado de S. Paulo, 26 de abril de 2006.
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BIBLIOGRAFIA
ANELLI, Renato Luiz Sobral. Arquitetura de cinemas na cidade de São Paulo. Campinas: Mestrado História – Unicamp, 1990.
BARRO, Máximo. Caminhos e descaminhos do cinema paulista: a década de 50. São Paulo: 1997.
GALVÃO, Maria Rita Eliezer. Crônica do Cinema Paulistano. São Paulo: Ática, 1975.
SALVADORE, Waldir. São Paulo em preto & branco: cinema e sociedade nos anos 50 e 60. São Paulo: Annablume, 2005.
SIMÕES, Inimá. Salas de Cinema em São Paulo. São Paulo: SMC/SEC,1990.
SOUZA, José Inácio de Melo. Imagens do Passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema. São Paulo: SENAC, 2004.
STEFANI, Eduardo Baider. A geografia dos cinemas no lazer paulistano contemporâneo. São Paulo: Mestrado Geografia Humana FFLCH - USP, 2003.