Golpe de Espírito - Ficção

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Uma viagem fantástica pelas cidades intraterrenas em contato com os poderosos seres que as habitam, numa luta incansável de um grupo de jovens para desmantelar uma trama para tomar o poder da mais poderosa nação do planeta. O walk-in e walk-out usados para a tomada de corpos com o objetivo de controlar as nações por meio do controle de seus governantes.

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    GOLPE DE ESPRITO

    Fico

    Vincius Tadeu

    - O Moo -

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  • 4

    GOLPE DE ESPRITO

    Vincius Tadeu O Moo

    CAPTULO 1

    O Fiel da Balana

    O equilbrio a lei que rege o universo das

    coisas e est presente desde a posio dos astros

    at a preservao das espcies. Em velocidade

    espantosa ou numa mudana lenta, o sincronis-

    mo notrio e facilmente visvel a um bom ob-

    servador. Entretanto, o que acontece quando

    entra em cena um fator que aparentemente no

    se submete a nenhuma lei conhecida:

    O Livre Arbtrio.

    Evoluo presume sobrevivncia, preserva-

    o e aprendizado; exatamente nesta ordem.

    Assim, o mal exercido continuamente em nome

    da primeira, justificada pela segunda, enquanto a

    terceira resulta das demais com a ao do discer-

    nimento.

    Voc quer e voc faz. E ao outro sobra ape-

    nas suportar os efeitos da sua conduta, mesmo

    quando revidada. Entretanto, quando o compor-

  • 5

    tamento de um, ou de uns poucos, vem a colocar

    em risco o destino da humanidade, imediatamen-

    te acionado o Fiel da Balana.

    nessa hora que no Templo da Irmandade

    acendem-se todas as luzes e, na Terra, as gestan-

    tes sentem um leve tremor. Um manto de mi-

    lhes de pontos escuros vai sendo retirado e, em

    seu lugar, um inteiramente adornado de brilhan-

    tes luzes vai substituindo-o. Por um instante o

    planeta parece silenciar. A evoluo para alguns

    agora ser um tanto retardada, para permitir a

    entrada em cena das crianas ndigo e Cristal.

    Em milhes de lares as gestantes sentiram

    essas mudanas. Em Miami, Brenda, no oitavo

    ms de gestao, acordou assustada:

    James, acorda sacudiu o marido ,

    acorda!

    O que aconteceu? ele respondeu

    preocupado, enquanto esfregava os olhos e sen-

    tava-se na beirada da cama.

    Eu no sei, mas tive a impresso que o

    haviam arrancado de mim e colocado outro no

    lugar apontou a barrida, acariciando-a em

    seguida com movimentos circulares das duas

    mos , ele est diferente, parado, estranha-

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    mente quieto. Ser que ele morreu?! As pala-

    vras que praticamente morreram na boca de

    Brenda, num misto de pergunta e afirmao, mas

    que no admitia resposta.

    Rpido e silenciosamente o marido vestiu

    uma roupa qualquer, enquanto a mulher apenas

    colocava uma capa de chuva por cima da roupa

    de dormir.

    Em menos de 30 minutos o casal era aten-

    dido no hospital local, por um dos mdicos de

    planto.

    Doutor, tem alguma coisa errada com

    meu filho.

    Charles, o mdico residente, olhou por ins-

    tantes a antessala onde mais cinco gestantes

    aguardavam atendimento de emergncia, e viu

    que o relgio digital de parede marcava 03:30 da

    madrugada.

    E eu esperava um planto calmo!

    Conte-me o que aconteceu para deix-la

    assim preocupada. Vou examinar voc e o nenm

    e, se necessrio, ligo para seu mdico e ele vir

    atend-la. Deite-se, por favor.

    Obrigada Doutor. Eu estava dormindo

    quando senti um calafrio, acordei e no senti o

  • 7

    Wesley. Normalmente ele agitado, se debate o

    tempo todo num misto de rolar e contorcer;

    chutando e agitando os bracinhos.

    O mdico continuava o exame:

    Dona Brenda, a senhora ingeriu algum

    tipo de remdio... calmante... sonfero... coisas

    do gnero.

    No! A gestante respondeu num meio

    de indignao e surpresa com a pergunta Eu

    sei que tudo que eu tomo passa para o beb...

    O mdico anotou alguma coisa na ficha de

    atendimento e prosseguiu:

    Dona Brenda, os batimentos cardacos

    esto normais, tanto os da senhora como os do

    beb. Nesse caso, s me leva a concluir que o

    nenm est dormindo. Mesmo assim, se quiser

    posso acionar o seu mdico.

    Se diz que est tudo bem, no vejo

    necessidade de acord-lo por um beb dormindo.

    Afinal, foi sempre o que pedi a Deus. Obrigada,

    Doutor.

    Assim que possvel passe em consulta

    pelo mdico do pr-natal, ele tem o histrico da

    gestao e pode aconselh-la melhor.

    Farei isso o mais rpido possvel. Obriga-

  • 8

    da novamente.

    Enquanto o casal se retirava o mdico cha-

    mou a prxima paciente.

    Ao final de seu turno, o plantonista no

    pode deixar de estranhar a similaridade dos ca-

    sos.

    Trinta casos de nenm dormindo. Isso no

    comum!

    Doze anos depois

    Todos no estacionamento do shopping, ex-

    ceo de policiais e paramdicos envolvidos na

    operao, pareciam em pnico. Mdicos e enfer-

    meiros corriam para prestar atendimento a um

    menino cado no cho e uma menina em p, est-

    tica e aparentemente cristalizada, ao lado de um

    jovem ensanguentado que se retorcia no asfalto.

    Os policiais afastavam curiosos e procura-

    vam livrar uma rea para o pouso de um helic-

    ptero, que pairava alguns metros acima do solo.

    O comandante da operao checava pelo

    rdio o procedimento da equipe:

  • 9

    Atirador, algum disparo? Negativo! O tempo todo sem alvo! timo! o oficial suspirou aliviado Desta eu me livrei! repetiu mentalmente, en-quanto lembrava que nenhuma pessoa em co-mando, quer estar envolvida em operaes que resultam em crianas feridas ou mortas. O chefe dos socorristas se aproximou:

    Vamos remover as crianas de helicp-

    tero para o hospital!

    Elas esto bem?

    Sim! Aparentemente traumatizadas, mas

    bem!

    timo!

    Acho que deve ficar com isto entregou

    um iPhone ainda ligado , do garoto, ele teima

    que est bem e insistiu muito para pegar de volta

    o aparelho.

    E est?

    Aparentemente... Sim! Por precauo va-

    mos tambm lev-lo ao hospital.

    Alguma coisa mais... documentos?

    Nada! Disse que WY... Wesley; foi tudo

    que conseguimos.

    timo! Vou ver o que consigo no celular.

    A menina?

  • 10

    Visivelmente em choque!

    O rapaz?

    Morto! A bala entrou pela boca e ao sair

    levou metade do crebro com ela. No havia

    mesmo esperanas.

    timo!

    O outro balanou ligeiramente a cabea, em

    sinal de desagrado com o comentrio, enquanto

    se retirava.

    O policial acionou o boto do aparelho,

    enquanto repassava os fatos. Horas de nego-

    ciao e um desenrolar imprevisvel nos ltimos

    minutos. Conferiu no relgio.

    Exatos 3 minutos.

    Estranho! olhou para o celular aberto

    no Facebook.

    Bandido se mata no shopping # meninas eu

    vi # fui

    O ltimo status do garoto registrava 5

    minutos atrs.

    Estranho!

    Momentos antes

  • 11

    Voc est cercado, abaixe a arma!

    Um rapaz aparentando vinte e poucos anos,

    mantinha uma arma apontada para a cabea de

    uma menina de no mais de quatorze anos de

    idade. Momentos antes havia praticado um assal-

    to numa joalheria do shopping e na fuga, cer-

    cado, fez a garota de refm.

    A mais de uma hora o negociador da polcia

    tentava em vo fazer com que o rapaz libertasse

    a mocinha e se entregasse. Temendo um final

    trgico a polcia havia posicionado um atirador de

    elite num ponto alto nas proximidades. Sabiam

    de antemo que faces criminosas utilizavam as

    redes sociais para promoverem arrastes e, as-

    sim, utiliz-los como cobertura ao de

    bandidos perigosos.

    O Atirador, calmo e experiente, reportava ao

    seu chefe as condies do momento:

    Alvo na mira, mas sem condies de tiro

    seguro. Parece bem treinado e mantm a garota

    como cobertura perfeita.

    Aguarde, no podemos arriscar a vida da

    menina. O policial levou a mo ao queixo

    Estranho!

  • 12

    O que h de estranho? Ele est apa-

    vorado! Comentou o Negociador, que se acha-

    va bem prximo a ponto de ouvir o murmrio do

    oficial.

    V-se que um cara treinado... sem me-

    do... sem nada! Eles so treinados para usar os

    arrastes como cobertura de assaltos. Se algo d

    errado, se entregam, so presos juntamente com

    os demais e depois soltos. No mximo respon-

    dem por crime de perturbao da ordem pblica

    e porte ilegal de armas; e sabem disso. Isso

    quando no se desfazem da arma durante o

    tumulto. Olha, usa luvas e blusa de motoqueiro,

    embora no sejam luvas comumente usadas por

    eles, poucos reparariam na diferena.

    O que acha ento?

    Ele quer se aparecer... Os tais quinze mi-

    nutos de fama!

    Ento j teve mais que isso, olhe apon-

    tou para um local e olhou o relgio calculando o

    tempo que estavam ali , a mdia inteira deve

    estar presente. Logo deve se entregar! Pro-

    fetizou o Negociador.

    No! Olha voc... os poucos segundos

    que descobre a cabea para se fotografar ao

  • 13

    lado da vtima. Aposto que est postando nas re-

    des sociais. Ele vai matar a menina!

    At agora nada indica isso! Por que acha

    que pode ocorrer? Andou estudando psicologia

    forense?

    CSI, mas no isso. Alguma faco o

    financiou e, considerando que eles no gostam

    deste tipo de mdia, ele sabe que no pode ir

    para um presdio; ser morto! Vai matar a garota

    e se matar em seguida!

    Mas vamos poder provar que no temos

    nada com isso!

    Como no temos, a vida de um e de outro

    de nossa responsabilidade. isso que vai apare-

    cer. Ademais, depois ningum vai ficar sabendo

    do resultado da balstica. Isso no interessa im-

    prensa!

    Pode ser que ele se abra para o Atirador.

    Isso no vai ocorrer, vamos torcer por um

    fato novo.

    Os policiais estavam bem prximos da faixa

    de isolamento e um garoto que ouvia a conversa

    comeou a caminhar se distanciando do local.

    Num ponto, passou por baixo da fita que isolava

    o permetro e foi andando calmo rumo ao estra-

  • 14

    nho casal. Mantinha na mo um celular e nele te-

    clava.

    Detenham aquele garoto! O Oficial gri-

    tou para os policiais que estavam mais prximos

    do menino.

    Os homens correram para o rumo do garoto,

    mas isso tambm significava no rumo do me-

    liante, que mantinha a arma apontada para a ca-

    bea da garota, e este foi incisivo:

    Afastem-se ou eu mato a novinha aqui.

    Os policiais pararam de imediato, mas o ga-

    roto continuou andando.

    Ei muleque, no ouviu. Voc tambm.

    Fora!

    Voc no manda em mim o menino

    continuou se aproximando at ficar bem prximo

    da dupla , voc ouviu o policial, solte a arma e

    a garota ou vai se sair mal.

    D o fora ou tambm vai morrer.

    Tambm ... Ento o Oficial est certo,

    voc vai matar a garota.

    E voc tambm, se no sumir daqui agora

    ainda falando, o bandido se encobriu ainda

    mais atrs da moa e apontou a arma no rumo do

    menino. A garota agora soluava entre lgrimas.

  • 15

    Voc no me pe medo. Eu no tenho

    medo de morrer, at criancinhas conseguem.

    Voc tambm no... mas nossos motivos so dife-

    rentes; eu dou valor vida e voc no sabe o va-

    lor dela.

    Por instantes o rapaz ficou desconcertado.

    O menino voltou a falar:

    Fica calma gatinha, daqui a pouco tudo

    vai acabar olhou para a menina e em seguida

    para o bandido e para a arma, enquanto baixava

    o corpo at a posio sentado e em seguida dei-

    tado, ainda segurando o celular.

    Endoidou ... o bandido voltou a apon-

    tar a arma para a cabea da garota Acho que o

    valento ali amarelou disse para a refm ,

    conhece? apertou ainda mais a menina en-

    quanto apontava o garoto com um movimento

    da arma.

    A jovem apenas tremeu a cabea para os

    lados.

    No comando o alvoroo aumentou:

    O que houve... Ele atirou no garoto?

    Nada disso Chefe, deve ter desmaiado de

    medo.

    Olhe! O Negociador falou espantado.

  • 16

    O meliante depois de um leve tremor soltou

    a garota, enfiou a arma na boca e puxou o gati-

    lho, caindo para trs em uma poa vermelha e

    branca; que imediatamente se formou de uma

    mistura de crebro e sangue.

    Corram, peguem a menina gritou o

    Oficial enquanto tambm se dirigia ao local.

    A jovem estava plida, esttica, olhava o ra-

    paz cado no asfalto com movimentos involun-

    trio de pernas e braos. A poucos metros o garo-

    to comeava a dar sinais de recobrar a conscin-

    cia. Os paramdicos chegaram logo atrs dos po-

    liciais. O perigo tinha passado, e com um final im-

    previsvel.

    Baixem o helicptero!

    Horas depois

    No comando do Batalho de Operaes

    Especiais, o Tenente Onofre estava em p,

    enquanto outros cinco policiais se mantinham

    sentados; o Negociador, inclusive. Charles, com

    mais de 20 anos de trabalho e mais de 200 atua-

  • 17

    es, foi quem comeou a falar:

    Desde que ocorreu o fato, estou a pensar

    e no encontro uma explicao lgica. Algum

    que queria mdia, se matar sem qualquer fala. O

    que vocs acham?

    Estranho! Onofre respondeu e conti-

    nuou Ei pessoal, a pergunta para todos, va-

    mos l. Estranho no vale, eu j falei isso.

    Loucos so imprevisveis, sei l.

    Bill, louco no explica nada e sei l no

    resposta. Vamos, quero opinies Onofre res-

    pondeu.

    Conhecia a garota? Quem sabe das redes

    sociais, j confirmamos que estava postando fo-

    tos dos dois.

    Um rejeitado? Um magoado com garotas

    em geral?

    Problemas em famlia?

    Despedido do emprego? Dvidas? Quem

    sabe?

    No sabemos nada disso, mas vamos

    saber. Cuidem disso! Ed, Bill e Jos vo investigar

    a garota e o rapaz; amigos e familiares. Juan, pro

    IML, apresse a autpsia, quero saber tudo:

    drogas, remdios, tatuagens... Tudo! Esto libe-

  • 18

    rados. Todos fizeram meno de se levanta-

    rem, o Tenente continuou Voc no Charles,

    temos que conversar.

    Notei que meche neste celular a todo o

    momento. do garoto, no ?

    Sim! Est com bloqueio automtico para

    cinco minutos e no sei a senha.

    Ora Onofre, apenas um garoto, no tem

    porque ficar bisbilhotando.

    No, ... veja isso e entregou o iPhone

    aberto no status que j tinha visto antes.

    E da, garotos postam estas coisas o tem-

    po todo. Gostam de parecer informados. Acho

    que isto d ibope com as gatinhas.

    S isso, ento veja esta mensagem ou

    post como eles gostam de dizer virou o celular

    para o colega, permitindo que ele lesse:

    Show do Justin em Buenos Aires no vai

    acontecer # sinto garotas # falei

    E o que tem isso?

    O show foi cancelado na ltima hora e ele

    postou isso dois dias antes.

    No sei se sabe, mas o artista j tinha

    cancelado um show antes. Ao que tudo indica um

    perodo ruim da carreira. Minha filha uma f e

  • 19

    passou dias rezando. Isso foi em novembro ou se-

    r que estou errado.

    Sim! Quero dizer, no! Mas isso no mu-

    da nada.

    Muda sim! E, ademais, para essa garotada

    no acontecer quase sempre significa falhar, no

    bombar; como dizem.

    De todo jeito eu quero que voc v falar

    com o garoto, afinal fez psicologia. sua rea.

    O garoto acabou de passar por um trau-

    ma, a ltima coisa que os pais vo querer um

    maldito policial bisbilhotando.

    Ento no diga que policial.

    E voc... posso perguntar o que vai fazer.

    Vou pra casa assistir televiso. Satisfeito?

    O outro balanou a cabea para os lados

    enquanto saa.

    Onofre foi mesmo para casa e acompanhou

    todos os noticirios sobre o assunto; at os da

    madrugada. Na manh do dia seguinte, ao invs

    de ir para o batalho e terminar com os inter-

    minveis relatrios que sabia ter de preencher,

    ficou em casa e ligou para todas as emissoras que

    noticiaram o assunto. No momento, falava com a

    telefonista de uma delas:

  • 20

    Aqui o Tenente Onofre, Comandante do

    Batalho de Operaes Especiais, posso falar com

    o reprter que cobriu o incidente do Shopping

    Nacional.

    Vou transferir para o Josu.

    No demorou e do outro lado da linha:

    Josu!

    Josu, Tenente Onofre das operaes es-

    peciais, preciso saber se sua emissora usou de

    instrumentos de gravao de voz distncia no

    incidente do shopping.

    Sim! Mas no encontramos nada de inte-

    ressante, por isso no foi pro ar.

    Pode me enviar uma cpia de vdeo neste

    mesmo nmero.

    Fcil, tenho gravado no celular e estou

    enviando agora mesmo.

    Obrigado.

    Segundos depois o oficial ouvia a gravao

    que havia recebido.

    Estranho!

    Saiu para ir ao batalho, aps mandar men-

    sagem para o grupo da equipe no WhatsApp:

    Reunio em meia hora, na minha sala.

    No quartel

  • 21

    Muito bem, o que encontraram?

    No conhecia a garota, falei com amigas,

    chequei os amigos do facebook, vizinhana, clube

    e baladas. Nunca se viram antes daquela hora.

    Sem dvidas, saldo em conta bancria,

    sem envolvimento com drogas, popular com as

    garotas; mas levava a vida aparentemente sem

    trabalhar, e gastava bastante em bailes funk. Isso

    indica que o dinheiro que usava provinha de

    assaltos. Os pais no sabiam de qualquer ativi-

    dade ilcita do filho, mas tambm no sabiam se

    trabalhava, nem onde e nem para quem; sem

    qualquer profisso conhecida pelos pais.

    O laudo da necropsia atesta morte por

    arma de fogo, teste negativo para as principais

    drogas e remdios que podem causar loucura

    temporria; ausncia de lcool no sangue. Sem

    tatuagens. E no era um doente terminal; nega-

    tivo para HIV e outras doenas fatais.

    O tenente retirou do bolso um celular, neste

    instante o Negociador falou:

    A propsito, os pais do garoto pedem a

    devoluo do iPhone. E no, no consegui nada

    com o menino. Disse que estava somente brin-

    cando na internet e que isto no era crime.

  • 22

    Parece bastante esperto. Ainda disse que inter-

    feriu porque ns sabamos que ele ia matar a me-

    nina e que no estvamos fazendo nada para

    evitar que isso no acontecesse; ao que tudo in-

    dica ouviu nossa conversa. Tambm, muito re-

    servado e neste ponto bom mesmo, porque

    no vai falar com a imprensa.

    Que fale com quem quiser! Oua isso. a

    gravao feita por uma emissora de televiso,

    pena que ns no tnhamos naquela hora esses

    recursos.

    Minutos depois voltou a falar:

    E a, o que acharam?

    No falo pelos demais, mas eu no ouvi

    nada demais voltou a contestar o Negociador

    uma bravata e depois o desmaio, queria o que,

    apenas um garoto de doze anos.

    Ele no desmaiou, ele deitou; o que

    muito diferente. Quem desmaia cai de uma vez.

    Esse a nem soltou o celular.

    Desculpa, Chefe, ningum deita na frente

    do touro a no ser que queira se fingir de morto.

    E pra mim tanto faz o menino ter desmaiado ou

    fingido o desmaio; isso pode ter-lhe salvo a vida.

    A maioria dos animais faz isso. Para ns devia ser

  • 23

    o suficiente. preencher o relatrio e entregar.

    Caso encerrado.

    Sei que baratas fazem isso, mas o garoto

    no parece uma barata; ou parece?

    Samos bem dessa, no temos porque

    continuar fuando no assunto, agora com a po-

    lcia civil; concordo com o Negociador falou

    um deles.

    Todos os demais concordaram e o Chefe te-

    ve que aquiescer, a visvel contragosto disse:

    T bem! Ao relatrio, mas vocs preen-

    chem.

  • 24

  • 25

    GOLPE DE ESPRITO

    Vincius Tadeu O Moo

    CAPTULO 2

    O Lder do Inferno

    Se existisse um chefe na irmandade este

    seria o Irmo Oculto, assim chamado exatamente

    por no apresentar nenhuma forma fsica. Ele

    apenas se comunica com os demais, os chamados

    Guardies, por meio de emisses de pensa-

    mentos, ficando estes ltimos encarregados das

    providncias que fossem necessrias.

    E era isso que ocorria naquele momento, a

    comunicao iria comear. Eles sabiam! As pare-

    des do templo comearam a se dissolver, seus

    corpos etreos tambm estavam se dissolvendo.

    Toda a matria, por mais sutil que fosse se desin-

    tegrava. Em instantes nada mais existia do que

    um grande vazio. Um nada que comeava a ser

    preenchido de pensamentos:

    Doze anos atrs enviamos um milho de

    nossos primognitos, os primeiros da irmandade

    em tudo: antiguidade, conhecimento, fora... e

    uma vontade inabalvel de mudar aquele pla-

  • 26

    neta. Durante mais de um sculo cada um deles

    acompanhou o que l acontecia, sem poder fazer

    outra coisa a no ser reclamar. Esses agora

    jovens, que concentram poderes inimaginveis ao

    estado evolucional dos que habitam a Terra,

    esto sedentos de ao e mudanas. E eles vo

    faz-las! No momento, ns somos seus Conse-

    lheiros. Vocs vo prepar-los e gui-los para que

    comandem o inferno. Que assim se escreva e

    assim se faa!

    Pontos de luzes foram se organizaram em

    palavras e foram se adensando at formarem

    uma parede compacta. Outras foram aparecendo

    e em instantes o templo se apresentava nova-

    mente em sua forma slida.

    Visto de longe, mergulhado na escurido

    total, com suas paredes altas de luz adensada, o

    Templo da Irmandade mais parecia um farol no

    meio do nada. De perto, suas paredes brilhantes

    formadas de luz compacta pareciam vivas. O piso,

    do mesmo material, dava a impresso de fer-

    vilhar.

    Os guardies, posicionados lado a lado,

    pareciam esttuas esculpidas do mesmo material

    da construo gigantesca; com uma s diferena,

  • 27

    a de se moverem e falarem entre si.

    Precisamos eleger um lder.

    Wesley a escolha ideal!

    um revoltado!

    Todos o so! Trenfos, durante muito

    tempo eles viram as injustias sem que pudessem

    interferir diretamente. lgico que isto levasse

    revolta.

    Ele no pode ser controlado! Meni, se

    ele liderar ns vamos ter problemas.

    No devemos controlar. Instruir, ajudar

    e esperar que ele faa o que no podemos fazer.

    A viso dele do mundo ideal atende nossas

    necessidades do momento e uma tima pers-

    pectiva para o que vamos enfrentar no futuro.

    Quando ele estiver no comando da mai-

    or e mais poderosa nao voc me conta.

    Temos um consenso?

    Sim! Voc cuida dele.

    E voc?

    Vou arrumar um substituto, um reserva.

    Se algo acontecer a ele, vamos precisar de um. E

    no pense que fcil, tenho que escolher um em

    um milho.

    Meni visualizou os dias que precederam ao

  • 28

    nascimento de Wesley.

    A me, Brenda, embora contente com as

    mudanas no comportamento do beb, que

    agora a permitia dormir um sono reparador,

    sempre esteve intrigada com essa mudana.

    Muitas vezes consultava o Google sobre

    alteraes da personalidade do feto durante a

    gestao. Tentava entender como eram para o

    beb viver os nove meses da gestao.

    Sua comparao deste perodo era o de

    uma pessoa fechada em um saco plstico cheio

    de gua doce, jogado no poro de um barco

    remado por escravos em meio a uma tempes-

    tade. O jorrar de guas, a arrebentao das ondas

    contra a amurada; o eterno bater do tambor

    marcando o ritmo para os remadores. Um com-

    passo ora acelerado, outras vezes manso, tudo

    conforme o que a nave estivesse enfrentando;

    batalha, tempestade ou calmaria. A eterna via-

    gem at o porto seguro. Neste meio, os riscos de

    um naufrgio, abordagem inimiga e at o medo

    de uma recepo hostil no destino.

    No! Melhor comparar com Jonas. Ao

    menos sei o que acontece no final.

    Referia-se ao personagem bblico engolido

  • 29

    por uma baleia, com certeza ouvindo o tempo

    todo o bater do corao do animal e imerso em

    lquidos no borbulho intestinal. Este tinha um

    final conhecido e feliz. E isso a acalmava.

    Tentava por vezes lembrar-se de quando

    passou por isto tudo, mas as recordaes no iam

    to longe. Estava crente que aquele perodo a

    havia marcado para sempre; moldando o seu

    jeito de ser, os seus medos e seu humor.

    Achava-se uma pessoa tranquila, sensvel

    e, mesmo sem o foco principal das recordaes,

    agradecia sua me por isso. Fosse de outro mo-

    do e poderia ser agora uma portadora de distr-

    bios psicolgicos graves.

    Esquizofrenia e autismo no podem ser

    descartados.

    Afastou de imediato a ideia. No lhe agra-

    dava pensamentos negativos.

    Ainda mais nesta fase da gestao

    falou baixinho e deu um leve toque na barriga.

    Ela sabia muito bem que os pensamentos,

    sentimentos e emoes, que sempre refletem no

    humor materno, tambm afetam o feto; pois ele

    est exposto aos mesmos hormnios liberados

    no organismo da me.

  • 30

    Lembrava-se de ter lido que ansiedade,

    nervosismo e depresso so transmitidos quimi-

    camente.

    Toda situao de estresse atinge o beb.

    Ele est escutando tudo!

    Brenda entendia muito bem esta fase da

    gravidez, o que a intrigava era o que acontece

    nas 16 horas que o beb dorme diariamente; j

    que durante 65% deste tempo ele sonha. Mas

    sonhava sobre o que, com que; se suas ex-

    perincias eram poucas e limitadas. Sempre tinha

    estas perguntas em mente.

    Naquela hora Meni relembrava os encon-

    tros dirios com Wesley; a comear pelo primeiro

    aps a nova encarnao.

    Por que me foi ordenado reencarnar?

    Em princpio, porque voc e os demais

    acham que tudo aqui est errado. Querem mudar

    tudo!

    E est mesmo... mas vamos poder fazer

    isso?

    Voc parte do Criador, todos o somos,

    e Ele tudo pode.

    O que sei que hoje eu tenho apenas

    dois teros do tempo para continuar meu traba-

  • 31

    lho.

    Bem, isso te d algo em torno de dezes-

    seis horas por dia. No to ruim assim!

    Mas menos do que tinha antes.

    Isso verdade, mas o que conta no a

    quantidade de tempo, mas o que fazemos com

    aquele que temos.

    O mundo est piorando!

    No me parece. Mais mdicos, novas

    oportunidades de trabalho, uma cincia bem

    mais avanada. E isso tudo se resume em mais

    tempo de vida, mais e novas experincias; algo

    perfeito na evoluo.

    Mas a maldade impera!

    J tivemos oportunidade de conversar-

    mos sobre isso. Quer rever novamente seu pas-

    sado?

    No, no necessrio. Eu no me orgu-

    lho nem um pouco daquela poca.

    Pois deveria, foi o bero do seu Ser.

    Alis, o de todos ns.

    Meni parou por instantes, como se estu-

    dasse seus pensamentos e a forma de express-

    los, antes de continuar:

    A lucidez nem sempre vai acompanha-

  • 32

    lo; no da forma como a tem agora, os laos com

    a matria esto sendo apertados. Por isso

    importante ter sempre em mente os objetivos do

    Universo frente dos seus.

    Assim eu vou errar.

    Sim, vai! Ns tentaremos ajud-lo, eu

    farei tudo para isso. Mas haver momentos em

    que vai estar s com suas decises. Agora v, o

    que est passando uma adaptao gradual e

    constante.

    Em um tempo e espao diferente

    Trenfos acompanhava o movimento da

    maior cidade do Brasil. So Paulo, s nove da

    manh de uma segunda, sempre fervilhante na

    regio central. Aquele dia no era diferente das

    demais segundas. De estranhar, apenas um ser

    altamente evoludo acompanhando uma menina

    de 12 anos em seu caminhar para a escola;

    atividade que visivelmente ela estava fazendo a

    contragosto.

    #mais uma merda de aula#fui#

  • 33

    A garota teclava no celular e ao mesmo

    tempo falava com a amiga ao seu lado, enquanto

    as duas esperavam a chegada do nibus que as

    levariam at a escola.

    No sei por que, mas me sinto mais til

    quando estou dormindo. Pode?

    Voc s uma dorminhoca! Olha nosso

    nibus.

    As duas acenaram ao mesmo tempo.

    Merda, lotado novamente. Quem sabe

    um homem de atitude? Algum...

    De atitude apenas para te dar o lugar

    para sentar. Esquece isto, a maioria j acorda

    cansada para ir trabalhar Michele, a amiga,

    completou, sem esperar a outra terminar o que

    estava dizendo.

    Mirna colocou o fone de ouvido e sequer

    retrucou. Dez minutos depois desciam em frente

    escola.

    Durante a aula, indiferente matria que o

    professor tentava explicar, Mirna foi at a

    carteira da amiga e entregou a ela o celular.

    Olha esse vdeo maneiro.

    Mirna, se eu estiver atrapalhando, fala

    que eu me retiro.

  • 34

    Fica vontade professor, mas devia

    tambm ver esse vdeo. Isso que atitude.

    A faanha do Wesley nos EUA j era

    sucesso na rede.

    um medroso!

    Como medroso, no meio de centenas de

    pessoas foi o nico a encarar o cara. Deve estar

    apaixonado por ela, s pode replicou Mirna ao

    comentrio da amiga que acabava de ver o vdeo.

    Acho que voc que est apa-

    xonada por ele. Alis, voc se apaixona por qual-

    quer um mesmo.

    Qualquer um vrgula, s os de

    atitude. A-T-I-T-U-D-E soletrou completando

    ENTENDEU! levantou a voz provocando um

    sorriso nos colegas de classe.

    Mirna... Michele... podemos continuar

    com a aula.

    Sim, professor. Mas no sou eu... ela!

    Respondeu Micheli apontando a amiga.

    Podem rir, mas ainda vou conhecer este

    garoto Mirna apontou para o celular enquanto

    voltava para sua carteira.

    Houve um sorriso geral com o movimento

    que ela fez com o corpo. Transmitia desdm e in-

  • 35

    diferena.

    Trenfos tambm no pode evitar um

    sorriso enquanto murmurava:

    Ela mesmo engraada!

    Aquele dia, Trenfos seguiu Mirna durante

    todo o tempo. Precisava saber um pouco de sua

    vida fsica, mas aguardava com ansiedade que ela

    fosse dormir. Depois de interminveis horas de

    internet a garota colocou o celular para carregar,

    j passava bastante da meia-noite.

    O quarto, com roupas praticamente

    jogadas pelos cantos, estava adornado com al-

    gumas fotos de cantores jovens, e no se di-

    ferenciava em muito dos de nenhuma garota

    daquela idade. Seu olhar, normalmente eletri-

    zado, se tornava bastante sonhador quando revia

    o vdeo que havia baixado da internet; o mesmo

    que tinha mostrado na sala de aula. Trenfos viu

    nisso um bom meio de se aproximar da menina.

    Quando ela adormeceu, ele j havia preparado

    sua entrada triunfal.

    Projetou a garota numa rumorosa cena de

    potentes motos esportivas com seus motores

    acelerados ao mximo, num barulho que parecia

    poder acordar qualquer pessoa em um raio de

  • 36

    quilmetros. Ela, ao centro, vestia uma roupa de

    couro que por fora reproduzia todas suas formas,

    aquelas previamente imaginadas para quando

    completasse 18 anos. Cabelos louros longos e

    soltos ao vento, e o sorriso de quem o centro

    das atenes.

    Num repente todas as motos ficaram em

    marcha lenta, ao fundo, numa reluzente

    Hayabusa branca, algum pedia passagem puxan-

    do algumas vezes o acelerador. Do som provo-

    cado parecia emanar uma ordem inquestionvel

    e os demais foram se posicionando lado a lado,

    formando um corredor por onde o estranho pas-

    sava. Mirna permaneceu parada enquanto o

    moo acelerava a moto em sua direo, mas por

    estranho que parecesse ela no aparentava

    medo de ser atropelada. O estranho freou a moto

    provocando um babalu bem prximo dela. O

    tempo pareceu parar enquanto o motociclista se

    inclinava frente para beij-la, e com uma das

    mos a agarrava pela cintura puxando-a para a

    garupa da moto ainda empinada.

    Wesley! Com o som de sua voz enco-

    berto pelo ronco do possante motor e deixado

    para traz pela velocidade da arrancada da moto-

  • 37

    cicleta, ela manteve-se firme agarrada na cintura

    do rapaz e encostou a cabea em suas costas. A

    moto pareceu voar, flutuando entre nuvens, at

    parar ao lado de uma cachoeira. Os dois

    praticamente rolaram da moto enquanto suas

    roupas pareciam evaporar ao contato da areia

    mida.

    Trenfos sorriu satisfeito com o trabalho

    Agora com voc e seus sonhos de menina e

    se afastou. Outros lugares requeriam sua pre-

    sena.

    Diviso Especial da CIA para assuntos

    extrassensoriais Washington DC

    Qualquer um concordaria que uma reunio

    de seres to diferentes somente poderia

    acontecer em um zoolgico ou ento em um

    manicmio. De fato, algumas das pessoas

    presentes sequer pareciam estar ali, se que

    estavam. Uns mexiam a cabea convulsivamente

    de um lado a outro. Outros cutucavam os ps,

    arrumavam os cabelos, olhavam as unhas pro-

  • 38

    curando por detalhes da pintura; todos pare-

    cendo alheio a tudo que acontecia sua volta.

    Ou, simplesmente, no se importavam com nada

    do que ali acontecia.

    Homens, mulheres, meninos e meninas de

    diferentes idades, pelo visto apenas faltavam

    alguns bebs para completar o quadro. O nico a

    destoar do quadro cmico era o engravatado que

    se posicionava frente no auditrio. E, at ento,

    era o nico que falava:

    Vamos l pessoal, ns j conversamos,

    preciso saber com certeza que no estamos em

    risco de uma invaso ao corpo do nosso pre-

    sidente.

    Nosso o que cara-plida?

    Esqueceu-se Maysa?

    No, mas voc est viajando. impossvel

    controlar o corpo de outra pessoa.

    Um dos convulsivos, sentado bem no fundo

    da sala parou seus movimentos apenas para falar

    Eu posso! e voltou rapidamente ao estado

    anterior.

    Eu j tomei o corpo de um cachorro para

    morder o filho do vizinho. Um chato! Vivia me jo-

    gando pedras e a me chamar de doido falou

  • 39

    um jovem albino.

    Eu... eu... j fiz um cara calar a boca, ele

    gritava muito e isso me deixou louca de raiva.

    Uma menina franzina, certamente de

    origem asitica, a nica que se mantinha aparen-

    temente concentrada, comentou:

    fcil interferir nas ondas cerebrais, um

    choque e pronto, no vai mais lembrar o que es-

    tava falando. Simples assim!

    Ching, todas as vezes que te pedimos

    para repetir esse feito voc se recusa, por qu?

    Me deixa cansada, no gosto.

    Mas todos sabem o porqu de estarem

    aqui, presumo. Em assim o sendo, quero resul-

    tados. Voltou a falar o homem de terno.

    Eu estou aqui porque vocs prometeram

    visto de permanncia para minha famlia. S por

    isso! Ching retrucou de imediato.

    Sim, mas para conseguir isso voc tem

    que cooperar, seno, esquece o visto. Voc e sua

    famlia voltam para a China.

    Eu gosto de l, mas meus pais dizem que

    perigoso. Por mim tudo bem, podem me enviar

    de volta.

    E seus pais, Ching. Sabe o que acontecer

  • 40

    com eles, se voltarem. J no tnhamos conver-

    sado sobre isso?

    A garotinha no respondeu, ao contrrio,

    pareceu adormecer na cadeira.

    O homem na frente das crianas pareceu

    tomar um choque eltrico, estremeceu por uns

    segundos, ficou de quatro no cho e latindo qual

    um cachorro foi at uma bandeira dos EUA que

    estava em um canto da sala, levantou uma das

    pernas no mastro e assim ficou por instantes,

    como se urinasse. Todos na plateia riram como se

    tivessem ouvido e entendido uma piada. Voltou a

    se posicionar no centro e como se nada tivesse

    acontecido, continuou:

    No s a Ching, mas todos vocs tm uma

    semana para mostrar resultados.

    Acho que vai ter sua resposta bem antes

    disso, senhor Bright.

    O jovem que fez o comentrio simplesmente

    voltou a rir.

    Silncio, vocs esto dispensados agora.

    Voltamos a nos reunir em uma semana.

    Resultados eram cobrados diariamente pela

    diretoria, uma justificativa para o emprego do di-

    nheiro dos contribuintes e Bright pensava em no

  • 41

    estar tendo progressos com o grupo quando o

    interfone tocou:

    Bright, na minha sala. Agora!

    Era o Diretor Chefe e Bright pensava nas

    tantas desculpas anteriores, enquanto se encami-

    nhava para a sala onde era requisitado. Bateu.

    Entre!

    Sente-se Bright. A menos que agora este-

    ja se portando como um palhao, acho que con-

    seguimos alguma coisa com o grupo.

    No estou entendendo, Senhor.

    Olhe! O Diretor acionou um controle

    remoto que estava em cima da mesa. Um telo

    desceu do teto e logo comeou a reproduzir o

    vdeo da reunio de minutos atrs.

    Vendo a cena Bright comeou a se remoer

    por dentro.

    A Ching vai me pagar!

    Sem querer sorriu rapidamente e voltou a

    ficar srio.

    O Diretor Willians voltou a falar:

    Alguma explicao lgica para isso Senhor

    Bright, seno, acho que estamos diante de um

    verdadeiro caso de possesso. E exatamente

    isso que nos interessa. Promoo a Nvel Dois,

  • 42

    recursos ilimitados e liberdade total de ao.

    Relatrios dirios do progresso das investigaes

    diretamente para mim. Est dispensado.

    Bright voltou a sorrir, afinal a promoo

    significava melhores ganhos em salrio e bene-

    fcios, alm de melhor status na organizao,

    agradeceu:

    Obrigado Senhor!

    O outro apenas abaixou a cabea de volta

    aos papis em cima da mesa.

    Quando Bright retornou sua sala um novo

    nome j constava da plaqueta e sua secretria o

    esperava do lado de fora. E foi ela que falou:

    Nossa nova sala fica na Ala Oeste, no

    andar da diretoria. Espero que me mantenha

    ainda como sua Secretria.

    Sim! No muda nada, mas temos muito

    que fazer. Faa contato com aquele investigador.

    Como mesmo o nome?

    Onofre.

    Sim! E traga a Ching para minha sala. A

    propsito, onde fica mesmo?

    Venha, eu te mostro.

    Os dois atravessaram um corredor at o ele-

    vador e o boto do penltimo andar foi acionado.

  • 43

    Minutos depois

    Ching, como fez aquilo?

    Eu estava com raiva, o senhor falou que

    iria mandar meus pais de volta China.

    Esquea isso, me conta como o fez.

    No difcil, vinha analisando sua

    frequncia vibratria. necessrio igualar a

    frequncia para entrar no corpo de algum.

    Sim! J li e ouvi isso antes. O que quero

    saber se pode repetir isso quando voc quiser e

    por quanto tempo pode manter o controle.

    No est bravo comigo?

    No! Agora responda pergunta.

    Acho que sim, e acho que eu posso

    manter o controle enquanto meu corpo estiver

    dormindo; mas acho que no posso dormir por

    muito tempo.

    Isso pode ser arrumado.

    Quer que eu repita?

    Agora no! A propsito, aqui est o visto

    para sua famlia. J estava pronto, qualquer que

    fosse o resultado eles seriam entregues. Vou

    providenciar um apartamento melhor para seus

  • 44

    pais. Acho que entende que isso que aconteceu

    no pode ser comentado com ningum, nem

    mesmo com sua famlia.

    Sim! Ficaria chato para o senhor,

    bancando o cachorro.

    isso! Por favor.

    Ok!

    A garota saiu e Bright acionou o interfone:

    Cibele, consiga-me passagem para Miami,

    o mais rpido que puder.

    desnecessrio! Seu novo cargo d di-

    reito a uso de um dos jatos da companhia.

    Ento programe para amanh cedo. E

    avise Onofre que estou indo v-lo.

    Assim ser feito Senhor Bright.

    No dia seguinte

    Aeroporto de Miami

    Bom Dia!

    Bom dia, senhor Onofre.

    Fez boa viagem?

    tima! Obrigado por vir me receber o

    agente agradeceu.

  • 45

    Confesso que fiquei curioso, no todos

    os dias que se recebe uma visita do alto escalo

    da CIA. Acredito que seja por causa de WY.

    Sim! Li seus relatos e fiquei intrigado.

    Acha mesmo que o garoto fez tudo aquilo?

    No consigo ver de outra forma. O jovem

    possui estranhos poderes, se que podemos

    chamar assim. Venho acompanhando a vida dele

    desde aquele momento, extraoficialmente, se

    que me entende. Pela nossa lei ele no pratica

    nenhum crime.

    Compreendo!

    Vamos para minha casa, meus arquivos

    esto l.

    Certo, vamos ento.

    No carro o assunto continuou girando em

    torno de Wesley.

    Tem alguma ideia sobre o que pode ser?

    perguntou o agente da CIA.

    Uma espcie de possesso! A minha mu-

    lher acha que sou um louco.

    Ento vai achar que somos dois agora. Eu

    tambm acho que possesso. Experincia

    prpria comentou Bright, omitindo os deta-

    lhes.

  • 46

    O trajeto foi rpido at a casa de Onofre.

    Minha mulher vai insistir para que tome

    um caf. melhor aceitar, vai ser mais rpido

    assim.

    Eu adoro um cafezinho. No vai ser

    nenhum sacrifcio.

    Depois do elogio ao caf, Bright voltou a

    falar:

    Podemos conversar?

    Sim! Transformei um dos quartos em

    escritrio e ali que mantenho tudo sobre o

    assunto. Isso para mim virou quase um hobby.

    O agente ficou alguns instantes olhando os

    arquivos, vdeos, apanhados da internet e tudo o

    mais que o outro lhe oferecia. Aps alguns

    minutos de uma espcie de avaliao, disse:

    No h dvidas, o rapaz um projetor

    consciente. Isso faz com que eu no me desculpe

    por no ter dado mais importncia ao fato. Antes

    de agora, quero dizer.

    Eu entendo, um assunto difcil de

    engolir.

    Agora no mais! O que me preocupa

    no saber quantos desses existem por a e o que

    esto a fazer neste exato momento. Vou mandar

  • 47

    rastrear o rapaz, mas por enquanto gostaria de

    saber se possvel conversar com ele?

    Acredito que sim, at onde pude

    perceber usa isso numa espcie de punio a

    bandidos, e tudo indica estar preocupado com o

    aumento da criminalidade. Veja este caso do

    presdio, a pessoa que matou esse aqui mos-

    trou umas fotos , jura no se lembrar de nada;

    alm disso, diz que eram amigos. T certo, como

    era um drogado, no de admirar. O caso foi de

    pouca repercusso. Agora veja o post do WY duas

    horas antes do ocorrido apontou uma foto de

    tela do facebook #quem com ferro fere, com

    ferro ser ferido#fui#volto em duas horas#

    Essa foto do bandido ele postou exatamente

    duas horas depois, antes mesmo do pessoal do

    presdio saber dessa morte. Leia o texto

    #misso cumprida#esse no fere mais ningum#

    , conversei com WY dias depois, ele riu e disse

    ser premonio; no quis dar mais detalhes e se

    recusou a voltar ao assunto.

    ... ou o garoto timo vidente, ou... est

    a promover os fatos. Acho que vale a pena eu

    conversar com ele. Tenho certeza que a viagem

    no foi em vo. Poderia me deixar no aeroporto.

  • 48

    Mas no disse que quer conversar com o

    rapaz?

    Voc me disse que ele esperto e

    arredio, vou fazer do meu jeito. D-me a carona?

    Vamos l!

    Enquanto se despedia da mulher de Onofre,

    Bright falou ao celular:

    Prepare para retorno imediato a Wa-

    shington sem aguardar resposta desligou o

    aparelho.

    A despedida foi to rpida quanto o

    encontro. J no avio fez contato com sua

    secretria:

    Cibele, verifique que agente temos

    disponvel em Miami e pea para que faa

    contato comigo. urgente!

    Como num toque de mgica, mal acabou de

    desligar e o aparelho voltou a tocar:

    Bright!

    Senhor, agente Thomas. Estou lotado em

    Miami.

    Wesley Martinez... vou transferir um

    arquivo. Preciso dele no meu gabinete amanh,

    um avio da agncia estar sua disposio,

    escolte-o at l.

  • 49

    Sim Senhor! respondeu o agente.

    Na manh seguinte

    Acho que sabe que est em Washington,

    Senhor Wesley.

    Sim! E acho que sei o motivo.

    No que eu duvide de suas aptides, mas

    se puder me relembrar.

    Fidel!

    Confesso que poderia pensar numa infi-

    nidade de motivos, mas isso escapa a tudo que

    pensei at agora. Poderia ser mais especfico?

    Contanto que eu fale com meus pais,

    afinal vocs me pegaram quando eu saia de casa

    para o colgio e daqui a pouco termina a aula;

    eles vo estranhar se eu no chegar. Pode

    colocar um retardo de alguns segundos e cortar

    se eu for inconveniente, vou apenas dizer que

    vou dormir na casa de um amigo. Assim teremos

    algum tempo para conversar, mas amanh

    preciso estar em casa, seno vo desconfiar.

    esperto, o delay no ser necessrio.

  • 50

    O agente apertou uma tecla que

    impossibilitava a identificao da origem da

    ligao e entregou o aparelho ao rapaz.

    Me, sou eu, vou dormir no JR.

    Tudo bem!

    Sem mais, o rapaz desligou e devolveu o

    aparelho ao outro.

    S isso, nada mais?

    Tempos modernos!

    No sei por que razo, mas no me

    acostumo com essas atitudes. Mas, voc disse

    Fidel, se no me engano. O Fidel?

    Sim! Vocs esto preocupados com

    possesso. Estou certo?

    Digamos que sim, o que tem sobre isso?

    Tudo... acompanhei desde o incio.

    tarde, mas nada foi feito de irremedivel. Quero

    falar com a Ching.

    Posso perguntar como sabe dela?

    Digamos que a tenho entre meus amigos

    e no no Facebook.

    Acho que compreendo, vou mandar tra-

    z-la, havia prometido a ela uma semana com a

    famlia. Vai ter que interromper a visita, mas pelo

    que estou entendendo tenho a certeza de que ela

  • 51

    vai ficar feliz em v-lo.

    Eu avisei que estava vindo, ademais seu

    agente deveria ter sido alertado para no me

    deixar dormir durante o voo; somos perigosos

    quando dormimos Senhor Bright.

    Vou me lembrar disso! Vai demorar um

    pouco at ela chegar, acredito que possa contar

    mais sobre o caso Fidel.

    Vou esperar a chegada dela, enquanto

    isso porque no conta o que vocs sabem.

    Bom, no sei se temos tanto tempo

    assim.

    Quanto tempo leva para dizer nada. Mas

    no importa, vamos s minhas exigncias para

    ajud-los: um milho de dlares numa conta das

    Ilhas Cayman.

    Bem, no sei se meu posto pode autorizar

    tamanha quantia, mas posso falar com a Dire-

    toria.

    Esquea! brincadeira, dinheiro no me

    interessa.

    E o faz, ou far, por que razo. Posso sa-

    ber?

    Ns somos o princpio da evoluo final

    do homem, no sei se me entende.

  • 52

    Acredito que so diferentes. Existem

    muitos como voc?

    Mais do que pensa, podemos estar

    escondidos em cada criana que existe. Ou

    jovens, para ser mais exato. Temos um senso de

    justia prprio, da qual impossvel escapar. No

    h paredes, blindagens ou esconderijos que no

    possamos penetrar.

    Fidel um de vocs?

    Digamos que se assemelha, mas tudo ao

    seu tempo. No combinamos assim?

    Certo! No vou mais insistir.

  • 53

  • 54

    GOLPE DE ESPRITO

    Vincius Tadeu O Moo

    CAPTULO 3

    A elevao de um ser

    Doze anos antes

    Brenda estava sentada em uma confortvel

    poltrona com os ps apoiados em uma banqueta

    acolchoada. Nessa hora passava seu programa

    favorito e estava acostumada a ficar ligada no

    televisor at seu final. E, at ento, nada, pratica-

    mente nada, tinha feito com que levantasse

    nessa hora. Nem mesmo para ir ao banheiro saa

    da sala, sempre se antecipando a essas neces-

    sidades. Estava no nono ms de gravidez e como

    gostava de dizer, j estava acostumada ao seu

    novo beb. De fato, a coisa de um ms tinha

    pressentido muita mudana no comportamento

    do mesmo. Sentiu o beb se mexer de uma ma-

    neira caracterstica qual atribua o nome de a-

    cordar.

    Boa tarde! O dorminhoco acordou?

    O nenm fez um movimento de esticar as

  • 55

    pernas e abrir os braos e Brenda podia jurar que

    ele estava bocejando. Instantes depois ela teve

    uma vontade imensa de comer pasta de amen-

    doim. Levantou-se, foi at a geladeira onde

    pegou um pote, abriu-o e utilizando o indicador

    raspou uma boa quantidade levando em seguida

    boca. Saboreou com prazer, continuando a

    lamber o dedo enquanto voltava poltrona car-

    regando o pote na outra mo.

    No era voc que detestava pasta de

    amendoim, ou estou enganado. Ademais, acho

    que se levantou na parte mais intrigante do pro-

    grama e agora s vai saber se eu contar.

    Grvidas tem desejos, meu amor.

    Brenda respondeu ao comentrio do marido

    Ademais, sei que vai me contar o que aconteceu.

    Afinal, voc diz que no gosta, mas estava as-

    sistindo.

    Confesso que estava mesmo, mas quando

    vi voc levantar, eu fiquei te olhando e tambm

    perdi esse pedao. Incrvel essa sua mudana!

    Grvidas... Vai entender. Ela respon-

    deu com um leve sorriso.

    Num canto da sala dois seres invisveis aos

    demais conversavam:

  • 56

    E a Meni, o que acha?

    Ele est controlando as vontades da me,

    em sua ltima encarnao era viciado nessa gulo-

    seima. No de estranhar que esteja revivendo

    estes prazeres.

    Ainda bem que ele no era um fumante

    tornou o outro em tom de brincadeira.

    Cedo para dizer, mas acho que temos

    nosso homem.

    Beb, voc quer dizer.

    Ora, voc me entendeu.

    Quando Wesley nasceu as coisas conti-

    nuaram a acontecer da mesma maneira. Assim

    que acordava, a me corria atender alguma de

    suas necessidades: trocar a frauda, mamar, gua

    e dai em diante; sem qualquer necessidade do

    tradicional choro.

    Nas poucas vezes que adoeceu o pediatra

    sempre acertou de primeira, como se algum lhe

    soprasse nos ouvidos o que o beb estava sen-

    tindo.

    Quando dormia, a me dizia que o deixava

    nas mos do anjo da guarda. E estava!

    Wesley, voc tem de estar em sintonia

    com seu corpo, se no o conhecer bem, vai ser

  • 57

    um estranho em sua prpria casa.

    Mas ele me atrapalha, Meni.

    No, ele lhe fornece a energia que precisa

    para se manter e interagir com o mundo mate-

    rial. Sem ele somos constantemente atrados de

    volta ao astral e somente com um desgaste

    enorme de foras que podemos nos manter

    aqui. E mesmo assim por pouco tempo, sabe

    disso.

    Eu sei... de fato seria impossvel cumprir a

    misso de outra forma.

    Algumas coisas voc precisa ter em

    mente desde j. Do outro lado damos pouca ou

    nenhuma importncia forma fsica, at porque

    no a temos ou, melhor, porque podemos adotar

    qualquer uma que nos convir. Mas aqui existe

    certo padro de beleza, digamos que necessria

    em certas reas de atuao. Nosso sucesso

    depende de voc ser o melhor em tudo, neste

    campo inclusive.

    E se o bitipo desse meu corpo no

    corresponder?

    A beleza sempre relativa, j reparou

    que para as mes o filho sempre lindo.

    Igual o conto da coruja e do gavio?

  • 58

    Mais exatamente do jeito de olhar um

    sapo e ver um prncipe! Tudo que subjetivo

    pode ser sugestionado. A me envia cons-

    tantemente sinais ao feto quando imagina sua

    face, nariz, boca, orelha, braos, pernas, mos. O

    nenm no tem um espelho no tero, ento

    devolve me suas impresses imaginrias. Mas

    isso muito forte e no fica restrito somente

    gestante. O feto tambm comea a se ver assim,

    e aps o nascimento continua a se ver lindo, da

    forma como imaginou; de outra maneira seria im-

    possvel viver sombra das verdadeiras belezas.

    Sem contar que conforme a fora empregada

    acaba mesmo refletindo na forma fsica.

    Eu no tive... o que podemos dizer uma

    gestao completa. Apenas um ms e meio de

    adaptao. Pode causar complicaes?

    At certo ponto sim, notei que s vezes

    ela fica te olhando, mede orelhas, nariz, boca...

    em sua mente ficaram impressas duas imagens

    geradas por um e outro; cada um se imagina de

    uma forma diferente. Mas isso no importa mais,

    agora o importante voc entender como isso

    feito. No para sugestionar somente sua me,

    mas a todos sua volta. O que os olhos humanos

  • 59

    enxergam luz refletida e para esse caso es-

    pecfico vamos considerar a luz como uma onda

    ou apenas o lado em que ela se comporta como

    tal. Vai aprender a emanar luz apenas com as

    informaes que queira e isso que o crebro

    deles vai ler.

    Vou poder influenciar essas modernas

    mquinas digitais?

    As pessoas que te conhecem, sob a fora

    da influncia mental vo enxergar a foto

    exatamente como te veem; as estranhas no!

    Entretanto, ao falarem de voc com uma pessoa

    que te conhece recebero as mesmas infor-

    maes e passaro a v-lo da mesma forma; afi-

    nal estamos todos interligados. Isso sem contar

    que a capacidade de impregnar uma foto com

    informaes real.

    Por isso umas pessoas saem bem na foto,

    como se diz.

    Sim! Embora o princpio geral seja o de

    que as pessoas enxergam apenas o que querem

    ver. O crebro preguioso por natureza e adota

    o caminho mais fcil, ou seja, se todos dizem que

    belo; belo . Ele detesta perder tempo com

    anlises mais profundas e comum aceitar um

  • 60

    diagnstico pr-existente.

    E as pessoas chaves podero ser expostas

    a uma imagem prvia no astral, no assim que

    funciona, Meni?

    Exatamente isso! Outra coisa, os centros

    de energia do planeta esto distribudos em pon-

    tos fixos ligando-o dimenso astral e ao centro

    do Universo. O portal que faz a ponte entre elas e

    o indivduo est instalado no crebro, mais exa-

    tamente na glndula pineal. Vai aprender a

    oper-lo e ser essa sua rota de fuga, um plano

    de contingncia que com certeza ter a neces-

    sidade de usar em no poucas ocasies.

    Pensei que s servisse como uma porta

    de comunicao.

    No! Um caminho de fuga para dentro. E

    o melhor, s voc o conhece e somente voc

    poder oper-lo. No poucas vezes acontece en-

    tre os humanos de maneira involuntria.

    E a pessoa desaparece!

    Desaparece desta dimenso e, como no

    sabe como oper-lo, fica para sempre em uma

    dimenso paralela. Existem seres incumbidos

    destes resgates, mas uma operao difcil e

    quase sempre infrutfera.

  • 61

    Se importante porque no aprendo

    agora?

    pouco provvel que tentem matar um

    beb. Ademais, acho que est na hora da mama-

    deira. Meni riu e desapareceu em seguida.

    As dirias visitas de Meni a Wesley estavam

    fazendo efeito. Bastava o beb adormecer e l

    estava ele ao seu lado.

    Ainda bem que, como diz sua me, voc

    um dorminhoco. Isso nos d bastante tempo para

    prosseguirmos em seu treinamento. Meni

    brincou, antes de perguntar Vi que voc ten-

    tou atravessar o portal.

    Sim, mas a nica coisa que consegui foi

    transferir minha mente para uma dimenso para-

    lela a esta. Meu corpo ficou inteirinho no bero.

    Novamente estamos diante de um fato

    bastante comum, quer dizer, quando acontece in-

    voluntariamente.

    E, nesse caso, como j me explicou antes,

    o beb quando nasce pode ser um autista.

    Ou um louco quando adulto, mas tam-

    bm pode ser de causas fsicas no crebro. O im-

    portante saber que pode ser temporrio.

    E como eu fao para uma transio total.

  • 62

    No basta sugar sua energia vital para

    dentro da pineal, voc tem que trazer cada mo-

    lcula de seu corpo para dentro dela. Assim,

    todas as partculas vo para ela e provocam um

    inchao. Sobrecarregada, ela vai expelir tudo do

    outro lado.

    Sempre na mesma dimenso?

    Sim, qual numa casa, uma porta sempre

    abre para outro cmodo; mas sempre o mesmo.

    O resto treino!

    Meni, meu pai apareceu com um gatinho.

    Isso tem a ver com meu treinamento. Por que um

    gato?

    Igual a voc eles dormem muito Meni

    riu, antes de continuar , no acredita que

    iriamos comear por pessoas, no ? Brincadeira,

    num primeiro estgio vai apenas acompanh-lo.

    S se for ao sono, gatos s dormem.

    No! Crescem rpido, so independentes,

    gostam de vagar pelas redondezas; toda mobi-

    lidade que voc precisa nesta fase. Boa sorte com

    ele.

    Wesley viu quando Meni desapareceu.

    Voltou sua ateno para o gato que sobre uma

    almofada ronronava tranquilamente. Aproximou-

  • 63

    se do bichano.

    Que nome ser que vo dar a ele?

    Fez a pergunta mentalmente lembrando-se

    que os pais ainda estavam indecisos quanto ao

    nome. Era um machinho e o mais provvel era

    que ficasse mesmo Flix, era ideia de Brenda e

    ela sempre conseguia impor suas opinies na

    casa.

    Flix tocou com uma das mos no

    gatinho sentindo os pelos arrepiarem. Sentiu

    tambm o leve formigamento da corrente

    eltrica se transferindo para seu corpo. Provocou

    o mesmo tipo de estmulo e pode sentir o gato

    relaxar ao contato da corrente eltrica de baixa

    intensidade. Deitou-se ao seu lado mantendo a

    mo onde estava. Encostou a cabea no corpo do

    animal sentindo a vibrao que dele emanava.

    Pareceu adormecer junto com o animal.

    Sentia que estava a correr por campos

    abertos, a relva macia e mida comprimia como

    um tapete verde embaixo de suas patas. Sentiu-

    se pesado, mas com o corpo se deslocando em

    grande velocidade, abrindo os pequenos e

    poucos arbustos sua volta. Sentiu o roar do

    vento e o frescor trazido por ele, juntamente com

  • 64

    o odor suave de flores do campo que

    impregnavam as narinas.

    Narinas? Eu pensei certo? Wesley se

    deu conta de no estar a correr com o animal,

    mas sim que era ele o animal. Notou tambm

    que no era um gato, embora no soubesse o

    que era.

    Um gato no, grande demais para ser

    um gato, muito menos um gatinho recm-

    nascido. Por um instante apenas acompanhou

    a suave sensao de liberdade at sentir

    novamente o contato de pelos em suas mos. O

    gatinho tinha acordado e o sonho se foi, mas

    deixou a marca da experincia.

    Sentiu algo mido entre as pernas, um

    cheiro desagradvel e a costumeira sensao de

    desconforto. Era hora de acordar a me.

    Alguns meses depois j havia um

    sincronismo entre o gato e o beb. Dormiam

    praticamente ao mesmo tempo e pelo mesmo

    perodo. Wesley gostava dos sonhos de vida

    selvagem, mas estes estavam ficando raros; o

    gato crescia rapidamente e seus sonhos agora

    eram compostos em sua maior parte das ati-

    vidades do dia a dia.

  • 65

    O gato tambm passava mais tempo

    acordado e Wesley comeou a acompanha-lo em

    suas aventuras dirias. Desfrutava da vida livre

    que o gato lhe proporcionava e enquanto ele

    estava ensaiando os primeiros passinhos, o

    animal j percorria todos os cantos.

    Aquele dia o gato apenas queria dormir,

    nem sonhos, nem nada. O relgio marcava meia-

    noite quando abriu os olhos e levantou a cabea.

    Wesley sentiu o movimento e viu cada objeto do

    quarto escuro. E, no sem estranheza, percebeu

    que estava vendo tudo pelos olhos do Flix.

    Moveu sem muita preciso as patas e ensaiou os

    primeiros passos. Em pouco tempo corria por

    todo canto ensaiando os primeiros pulos.

    Parabns! com orgulho que vejo que

    conseguiu.

    A voz de Meni soou alta em seus ouvidos e

    pode pressenti-lo em um canto da sala.

    Meni? em seu novo campo de viso

    conseguia ver apenas as pernas. Pulou em cima

    de uma cadeira e, em seguida, em cima da mesa.

    Meni ria Sabe por que os gatos ficam

    quase sempre em lugares altos? Eles precisam

    estar quase na altura das pessoas para v-las

  • 66

    bem. Fez a pergunta e respondeu ao mesmo

    tempo, enquanto continuava a rir.

    Mas a nitidez das imagens muito

    melhor tornou Wesley tambm em

    pensamento.

    Mas no de perto! Deve ser ruim no

    enxergar a comida que come.

    Meni voltou a ficar srio para voltar a falar

    Como est indo com a abertura do portal?

    Sem novos progressos, consigo

    transportar a mente para a outra dimenso...

    mas o corpo. Sem chances... acho que no dou

    para a coisa.

    Voc sempre foi o melhor em tudo,

    confesso que essa coisa de metade matria e

    metade esprito mesmo complicada; como

    pode ver, ainda no me esqueci de como era. H

    influncia simultnea dos dois lados, o tempo

    todo o corpo procurando manter o esprito preso

    a ele e o esprito, por seu lado, querendo voltar

    para o astral. Para conseguir progresso, vai ter

    que aprender a quebrar essa resultante de

    foras.

    Tenho sonhado constantemente como se

    minha lngua estivesse repleta de uma casca

  • 67

    grossa e que com as mos eu ia retirando aquela

    camada at descobrir uma lngua mais fina e

    nova.

    Bem, isso pode estar te dando um

    caminho. Em forma figurativa, o corpo a casca

    grossa que voc deve ir removendo.

    Outra coisa Meni, hoje mesmo eu sonhei

    que estava no alto de uma torre, pendurado at a

    metade dela havia uma infinidade de objetos das

    mais diversas formas. Acontece que na parte de

    baixo existiam todos os tipos de temperos, era

    praticamente impossvel descer sem derrubar

    alguma coisa e sujar os potes de temperos. Isso

    sem contar que um vendedor zeloso brigava

    muito quando isso acontecia.

    Novamente entendo ser figurativo. Os

    temperos so seus sentimentos, suas emoes e

    seus pensamentos e, nesse caso, esto sendo

    colocados em posio inferior aos bens materiais.

    um alerta para que no sobreponha a coisa

    fsica espiritual, pois ser muito difcil voltar a

    inverter novamente as posies sem contaminar

    esta ltima. Por isso preciso se manter puro.

    Occa, occa banai it, chibna quiqu

    nau.

  • 68

    A disponibilidade para a purificao. Vejo

    que est treinando o idioma Irdin Meni sorriu

    antes de continuar naquela mesma lngua ,

    Huamanaykha Shiminikha.

    Neste encontro honro-Te, Senhor.

    Perfeito! Agora tenho que deix-lo.

    Meni se afastou.

    Ele est em busca da Palavra Perdida. E isso

    bom!

    O conhecimento da palavra perdida

    concedido apenas a altos iniciados.

    Meni se referia ao elo entre o que se sabe e

    o que pressente, embora ainda distante e

    secreto. A palavra que abre portais para

    realidades que at ento no foram atingidas.

    Continuando a se afastar, dessa vez sem o

    simples desaparecer empregado nas vezes an-

    teriores.

    Hoje esse conhecimento transmitido

    alma do homem, mas apenas em tarefas

    especficas guiadas pelos grupos internos.

    Desta vez se referia a grupos que teriam

    origem nos primrdios da evoluo e que tm

    como tarefa custodiar e transmitir para a hu-

    manidade uma energia de Raio, com suas qua-

  • 69

    lidades e atributos. Lembrou-se que no final do

    sculo XIX algumas pessoas possuam esse

    conhecimento. O que colocava a busca de Wesley

    como possvel.

    Miz Tli Tlan.

    Sabia da atual transio, o despertar dos

    cinco grupos internos coligados aos Raios Oitavo

    e os prximos.

    Sim! possvel!

    To logo Meni se afastou, Wesley voltou ao

    bero e, desta vez, sem nenhuma necessidade

    fisiolgica.

    Maitreyar!

    Wesley se viu lanado em um redemoinho

    cujo cone comeava nos ps e o vrtice termi-

    nava no centro da cabea e, quase instan-

    taneamente, foi transportado para outro lugar.

    Uma casa grande, comparada com a sua, seus

    pais eram os mesmos, mas trajavam roupas

    diferentes. Pode ver que a casa tinha at piscina

    e um jardim enorme, tudo incompatvel com o

    padro de vida que levavam. Seu bero

    ricamente adornado ficava em um quarto quase

    do tamanho da casa em que moravam, pode

    notar que no bero havia sensores de umidade e

  • 70

    de movimento e provavelmente estavam inter-

    ligados a algum aparelho de comunicao; prova-

    velmente celular. Sentiu os braos de Brenda

    levantando-o enquanto falava:

    Vamos trocar esta fralda molhada.

    Estava acordado e novamente na casa anti-

    ga. Estranhou o ocorrido e creditou tudo a um so-

    nho diferente.

    Dez anos depois Wesley quase no tinha

    nenhuma recordao do tempo de bero e

    algumas poucas das primeiras fases do tempo de

    criana. Lembrava-se do gato Flix, de alguns dos

    encontros com um ser imaginrio ao qual ainda

    tratava por Meni. Recordava-se ainda de alguns

    fatos estranhos que ocorrera durante aquele

    perodo, mas fora isso, apenas escola, brin-

    cadeiras com os amigos, festas, passeios, broncas

    dos pais e mais nada.

    Era um garoto popular entre as meninas de

    sua idade. Considerado lindo por elas h muito

    tempo seu face j tinha chegado a 4.999 amigos.

    Ele nunca anexava esse ltimo 1, exatamente

    para quem no parassem de chegar solicitaes;

    tinha mais de 500 pendentes. Vez por outra,

    exclua uma e inclua outra, o que era sempre

  • 71

    uma deciso difcil e o fazia sempre reclamando

    que 5.000 amigos era pouco; e que o Facebook

    devia rever esse nmero.

    Naquele dia WY, como j era chamado

    algum tempo, pedalava uma bicicleta na calada

    que ladeava uma pequena praa, quando um

    carro desgovernado veio diretamente em sua

    direo. Ainda pode ver a mulher ao volante

    cobrir o rosto com as mos ao perceber que o

    acidente era inevitvel.

    Maitreyar!

    Um cone invisvel se formou rapidamente

    com o vrtice na pineal e estendeu-se at o cho,

    fechou por baixo e encolheu a zero, voltando a se

    expandir do lado acima da cabea.

    Neste instante o veculo atingiu a bicicleta

    esmagando-a at ficar presa retorcida embaixo

    do carro, arrastando-a em seu trajeto at bater

    em um banco da praa.

    O cone se projetou no sentido inverso e WY

    retornou no mesmo lugar ainda na posio de

    pedalar, mas desta vez sem a bicicleta. A posio

    no suportou o peso do corpo e ele caiu sentado.

    A motorista veio correndo em sua direo

    gritando:

  • 72

    Voc est bem? Perguntou sem

    acreditar no que via. O garoto no tinha nenhum

    arranho. Ele deve ter sido lanado por cima

    do carro! Ela pensou, sem encontrar nenhuma

    outra explicao.

    Eu estou bem mesmo, mas acho que

    minha bike j era. Apontou no rumo carro,

    ainda sentado no cho e de onde podia ver a

    bicicleta toda retorcida embaixo do veculo.

    No se preocupe, vou comprar uma

    melhor que aquela. melhor voc deitar, estou

    ligando para o resgate.

    No! J disse que estou bem. Outra bike

    j t bom, tem um modelo que da hora.

    A moa viu que o menino estava dizendo a

    verdade, sequer tinha sujado a roupa. Desligou o

    telefone aps concluir que ela tinha mesmo

    atropelado s a bicicleta Ele deve ter pulado!

    Afinal eu mesma no vi nada. A idiota aqui

    fechou os olhos e ainda cobriu com as mos! Bela

    motorista voc ! pensou e depois perguntou:

    Onde voc mora? Seus pais esto em

    casa?

    Prazer WY o garoto estendeu a mo.

    Oh! Desculpe-me! Alice! A moa deu

  • 73

    um beijo no rosto do garoto.

    Ual! Voc demais, fosse uma novinha e

    eu ia ficar com voc.

    T me paquerando ? Acho que est bom

    mesmo. Mas voc ainda no me disse onde mora

    seu WY.

    Venha, aqui perto pegou no mo de

    Alice, enquanto continuava Voc tem face?

    Tenho sim, deixa eu pegar minha bolsa e

    trancar o carro e j vamos.

    A moa pegou o que queria e trancou o

    veculo. Enquanto eles caminhavam Wesley con-

    tinuava sua conversinha:

    Voc me anexa como amigo?

    Porque no!

    Curte minha foto do perfil?

    Curto sim! O que mais!

    Nada no, j t bom.

    Continuaram andando at a casa do garoto,

    enquanto ele ia pensando em quem ia excluir,

    para que pudesse anexar a mais nova amiga.

    Alice se explicou para os pais de Wesley

    dizendo que ao desviar de um buraco perdeu o

    controle do carro e passou em cima da bicicleta

    do garoto. Comprometeu-se a comprar outra

  • 74

    escolha do menino e chamou o guincho para

    rebocar o carro. Wesley fez questo de acom-

    panhar tudo at a remoo do veculo. De volta a

    casa foi para seu quarto e comeou a pensar no

    fato.

    Encolhe... estica... encolhe... estica. E l

    estou eu sem a bike. Maitreyar... essa palavra

    no me estranha, ao contrrio, muito familiar.

    O que significa? resolveu procurar no Google.

    Apenas encontrou referncias a Maitreya.

    Aproveitou tambm para procurar a bicicleta nos

    sites de compras, para escolher uma e informar

    Alice.

    Naquela noite se viu em um lugar calmo e

    ensolarado junto a uma cachoeira que empres-

    tava paisagem um leve rumor de gua caindo.

    Sentiu o corpo flutuar por cima da cena e uma

    voz suave sussurrando:

    Quando quiser uma resposta a alguma

    coisa procure em seu interior, ele sim tem todas

    as respostas; no o Google.

    Imediatamente Wesley se viu montado em

    um cavalo branco que marchava em meio a uma

    multido, enquanto gritava em alto e bom tom:

    Honrem a mulher!

  • 75

    Honrem a Me-do-Mundo!

    Usava armadura de guerreiro e todas as

    vontades se curvavam sua passagem e as que

    no se dobravam eram foradas por sua espada.

  • 76

  • 77

    GOLPE DE ESPRITO

    Vincius Tadeu O Moo

    CAPTULO 4

    A formao dos grupos

    Novinha de novo!

    Mirna apertou os seios tentando levant-los

    um pouco para parecerem maiores, apalpou as

    ndegas, correu a mo pelas costas altura da

    cintura e no encontrou cabelos, imediatamente

    levou a mo ao pescoo e puxou uma mecha para

    em frente aos olhos.

    A... cad a loiraa... cad o Wesley?

    O cenrio romntico, com sua cachoeira,

    grama fofa, brisa fresca e o leve som de guas

    tinham desaparecido. Agora em seu lugar um

    quadro de horror, com rochas escarpadas e

    pontiagudas, um vento glido e assobiante; sua

    frente um buraco enorme e escuro que parecia

    no ter fundo e cujo contorno das paredes

    somente podia ver at certo ponto.

    Sentiu duas mos apoiarem em suas costas

    e o deslocar para frente, resultado do empurro

    que acaba de sofrer. A queda foi inevitvel e

  • 78

    longa. Minutos de uma angstia que agora come-

    ava a ceder medida que a velocidade da queda

    diminua. Agora j num trecho iluminado podia

    ver nitidamente as paredes lisas de um tnel com

    mais de dez quilmetros de dimetro e que

    parecia escavado em ouro puro. Vencendo o

    medo olhou para baixo e pode ver l embaixo

    algumas construes que entendeu serem ram-

    pas. Instantes depois a velocidade de descida se

    aproximou de zero e ela foi colocada em p sobre

    uma dessas plataformas.

    Desculpe o empurro, eu no tinha tem-

    po para convenc-la a saltar.

    Ao seu lado um jovem estendia-lhe a mo

    direita, enquanto dizia:

    Sou Alex.

    Onde estamos? perguntou indiferente

    mo estendida e formal apresentao do ra-

    paz.

    Mirna!

    Lesado, eu estou cansada de saber meu

    nome, perguntei onde estamos.

    Mirna Jad!

    Que coisa n, o nome deste lugar igual

    ao meu, que coincidncia.

  • 79

    No simples coincidncia, logo vai saber

    por qu. Vamos, esto te esperando.

    Ento agora sou famosa, um comit de

    recepo.

    Podemos ir?

    Antes que ela respondesse o piso comeou

    um deslocamento levando-os rapidamente s

    portas de um prdio gigantesco e em seguida

    comeou uma subida at um dos andares e

    depois at uma sala.

    Que material usam aqui? Tudo parece ser

    feito da mesma coisa.

    O segundo material mais abundante no

    Universo. A luz!

    legal! E qual seria o primeiro?

    Massa escura, vai ter oportunidade de

    conhecer os que s trabalham com ela, mas no

    acho que vai achar legal.

    Acho que agora vou acreditar quando o

    professor de fsica falar que a luz onda e par-

    tcula.

    Pode acreditar que verdade. Agora

    preciso me retirar. Alex estendeu a mo direita

    um prazer conhec-la, at mais ver.

  • 80

    Prefiro do meu jeito beijou o rosto do

    rapaz vou ficar aqui sozinha?

    J viro v-la. At.

    At.

    Mirna se ps a olhar em todos os cantos da

    sala, um enorme salo sem qualquer tipo de

    moblia. Paredes lisas de uma mistura agradvel

    de cores claras e brilhantes, que iluminavam todo

    o ambiente. De repente, num canto da sala uma

    enorme mesa oval e algumas poltronas, tudo

    feito do mesmo material, foram se matria-

    lizando. Doze pessoas entraram e foram se

    sentando; o mais velho deles em uma das extre-

    midades enquanto a poltrona do lado oposto

    permanecia vazia.

    Queira se sentar Mirna o que parecia

    ser o chefe indicou o lugar; o nico que perma-

    necia vazio.

    Em silncio a garota foi at o lugar indicado,

    sentou de maneira normal para em seguida em-

    colher uma das pernas e sentar sobre ela.

    Desculpem, sou meio baixinha. Ainda!

    O outro apenas esboou um sorriso, antes

    de continuar:

  • 81

    Preciso que me escute apenas, depois

    responderei todas s suas perguntas. Voc ainda

    est no Brasil e o ano ainda o mesmo, est

    uma das tantas cidades subterrneas construda

    por nossa civilizao, mas tudo comeou bem

    antes dos dias de hoje. Em tempos remotos, igual

    a vocs, habitvamos a superfcie do planeta e

    alcanamos alto desenvolvimento tecnolgico,

    um estgio bem superior ao que se encontram

    hoje. Porm, toda estrutura de nossa civilizao

    se baseava no uso da energia nuclear, sobre a

    qual achvamos que tnhamos total controle;

    sobre os resduos radioativos inclusive. Ns, no

    uso de recursos energticos, havamos

    desenvolvido uma cadeia de consumo sem

    perdas; mas possvel apenas porque tnhamos

    um menor nmero de habitantes do que o hoje

    existente na superfcie. Contudo, a certa altura

    todo este sistema deixou de responder s leis

    fsicas conhecidas. E foi demasiado tarde que

    descobrimos isso. O teor radioativo na superfcie

    do planeta comeou a aumentar de forma

    inexplicvel e irreversvel com a tecnologia at

    ento conhecida. Tivemos que abandonar as

    cidades e a decadncia foi rpida. Desadaptados

  • 82

    vida normal que vocs ainda conhecem, com

    nossos genes modificados ao longo dos tempos,

    nossos corpos no conseguiam mais assimilar

    alimentos e gua em estado natural. Aos milhes,

    pessoas foram morrendo de fome e sede;

    vagando pelas selvas repletas de alimentos e

    gua. Produtos qumicos inventados de ltima

    hora possibilitaram a alguns uma readaptao

    nutricional. Os poucos sobreviventes precisaram

    procurar abrigo no interior do planeta. Com uma

    seleo rigorosa de pares, conseguiram gerar

    crianas saudveis. Enquanto isso a superfcie

    padecia de inmeros cataclismos: terremotos,

    vulces, maremotos, tsunamis gigantescos e

    tantas outras espcies de atividades geolgicas. A

    Terra reagia de maneira violenta, sugando,

    fechando, inundando e congelando, para fechar e

    purificar suas feridas. Cidades inteiras eram

    engolidas e purificadas no magma do planeta ou

    eram cobertas de gua salgada para serem

    lavadas de tudo com o que estivessem

    contaminadas ou, ainda, congeladas para selar

    seus perigos em densas camadas de gelo. E isso

    levou quase extino toda raa humana de

    cima; enquanto a das profundezas florescia

  • 83

    lentamente. Centenas de sculos se passaram at

    que alguns dos nossos se aventurassem

    novamente na superfcie, encontrando-a j

    recuperada do holocausto atmico. Muitos

    aglomerados de seres humanos foram

    encontrados, mas eram seres idiotizados e quase

    que em puro estado animal. Aps essa

    constatao criou-se um intercmbio, com alguns

    dos nossos passando a viver na superfcie e

    alguns de l sendo trazidos para viverem

    conosco. E isso gerou uma raa hbrida, tanto em

    um lugar, como em outro. Voc uma das muitas

    descendentes de nossos homens que subiram

    superfcie. Chocada?

    Sim! Pensei que estivesse fazendo

    contato com verdadeiros deuses, a eu seria uma

    semideusa. Agora vejo que no passo apenas de

    uma mestia, mas tudo bem; sou feliz assim, vai

    fazer o que n.

    Confesso que houve poca em que nos

    viam dessa forma, naquele estgio bestial era

    quase impossvel qualquer explicao diferente.

    S uma pergunta, por que no aparecem

    l em cima e se apresentam de vez. Tipo assim,

    ol, nos separamos a algum tempo, mas agora

  • 84

    estamos de volta e queremos viver novamente

    com vocs.

    Impossvel, temos uma vida subterrnea

    e uma cultura diferente; o que bom para ns

    pode ser prejudicial a vocs. Nossa populao

    em menor nmero, mas desnecessrio dizer

    que o que fazem na superfcie no nos afeta

    diretamente; como pde extrair do relato que fiz

    h pouco. Entretanto, foras quase to poderosas

    quanto as nossas tentam domin-los e essa

    juno de foras que entendemos perigosa. Por

    essa razo decidimos interferir de maneira direta.

    E onde eu entro nisso tudo?

    Sem contar que a consideramos um dos

    nossos, uma filha; se que podemos dizer assim.

    Voc tem um padrinho muito forte, Trenfos, ns

    sabemos que ainda no o conhece; mas ele fara

    contato com voc. Queremos que confirme nosso

    apoio irrestrito. Ns te daremos cobertura com o

    uso de nossa tecnologia.

    E o que vocs podem fazer de real, isso

    est me parecendo perigoso. Querem me botar

    no meio de uma guerra!

    Existe um relatrio elaborado pela Junta

    Aeronutica Civil dos Estados Unidos da Amrica.

  • 85

    Esse relatrio menciona o desaparecimento de

    William Brodie, sequestrado em pleno voo de um

    avio de passageiros proveniente de Fayetteville,

    Carolina do Norte. Brodie foi recolhido por duas

    luzes gigantescas, vista de todos a bordo.

    Vocs fizeram isso?

    Uma demonstrao de fora, necessria

    poca. Ele e mais quatro agentes da CIA viajavam

    com nomes falsos a bordo deste avio e estavam

    interferindo em aes nas quais tnhamos um

    interesse vital. Lgico que as interferncias ces-

    saram.

    Suponho que se eu estiver em perigo

    usaro os mesmos recursos.

    Sim! Mas estamos apenas comeando.

    Alex vai coloc-la a par do que acontece: os nos-

    sos inimigos e porque eles se fazem passar por

    amigos de vocs na superfcie, as interferncias

    deles no seu meio poltico; as tecnologias que

    usamos; e, principalmente, a unio de um grupo

    de jovens para impor leis e um padro de con-

    duta novo.

    Sem qualquer despedida o grupo inteiro se

    dissolveu juntamente com os mveis que at a

    pouco tempo guarneciam o salo. Alex entrou:

  • 86

    Vamos Mirna.

    Onde?

    Andar um pouco, enquanto eu conto so-

    bre a natureza e origem dos homens das trevas.

    T querendo me assustar, no precisa...

    isso tudo j assustador olhou sua volta ,

    bonito... mas assustador.

    A realidade ainda pior, pense em um

    lugar onde a luz no penetra. dele que vamos

    falar agora.

    Sou toda ouvidos... fazer o que n.

    Voc e outros que agora esto na Terra,

    encarnados h doze anos, pertencem ao coman-

    do Jovem Eterno e recebem energia-Antuak, e

    isso os fazem diferentes dos demais; no momen-

    to esto espalhados por todos os cantos do

    planeta. Caber a voc uni-los e nisso, como j foi

    informada, vai poder contar com a ajuda de seu

    protetor.

    Trenfos?

    Sim! Na hora certa ele vai aparecer e te

    ensinar coisas que no vai aprender aqui. Torna-

    se necessrio, antes desse encontro, que saiba

    tudo o que existe em Mirna Jad, e o que vai

    acontecer se os Seres das Trevas conseguirem o

  • 87

    seu intento.

    Esse Trenfos uma pessoa de sua

    civilizao?

    Ele atuou em muitas civilizaes, hoje

    um dos que comandam uma fraternidade. A

    Fraternidade dos Irmos Primognitos, seres que,

    como todos, vm evoluindo atravs dos tempos;

    mas que alcanaram um alto grau na linha

    evolutiva. E do qual voc faz parte e eu tambm.

    Normalmente prestam ajuda apenas do lado

    espiritual, mas desta vez foram convocados para

    encarnar e agir do lado material. Eles so seu

    grupo de trabalho.

    Mas eu nem sei quem eles so.

    Vai saber no momento certo. Ainda tem

    que ser preparada. Todos estes jovens se comuni-

    cam por telepatia-astral, ou seja, o pensamento

    de um transmitido imediatamente a todos os

    demais.

    Igual um grupo do WhatsApp?

    Sim! Conheo o sistema, mas nesse caso

    englobando um milho de jovens.

    Todos brasileiros?

    No! Esto distribudos em todos os

    pases.

  • 88

    Bom, ao menos espero que falem por-

    tugus; meu ingls pssimo.

    Falam muitos idiomas diferentes, mas

    esse tipo de comunicao chega ao seu cons-

    ciente de maneira lcida e a origem da

    transmisso clara, pode vir como uma ideia, um

    smbolo ou uma imagem que, por si, revela o

    significado.

    Pensei que isso fosse conversa fiada ou

    um dom, sei l. Que requer treinamento... por a.

    No no nvel de vocs, para voc

    inerente, e uma espcie de mente coletiva;

    quando conectada vai poder sintonizar pratica-

    mente todos os jovens do planeta. Digo pratica-

    mente porque existem outros conectados com as

    trevas.

    Mas existe treinamento pra isso, entre os

    normais, quero dizer. Ou no?

    Sim! O grupo teleptico russo alcanou

    muitos progressos nos ltimos sessenta anos,

    mas perto do que vocs podem fazer eles so

    rudimentares.

    Alex se referia ao grupo X-7, cujos primeiros

    trabalhos conhecidos datavam do ano de 1953,

    mas Mirna no se preocupou em saber detalhes.

  • 89

    por isso que s vezes tenho umas ideias

    loucas, como se a gente pudesse fazer diferena

    no mundo. Escola, sade, transporte; tudo dife-

    rente mesmo. Acabar com a fome, crimes,

    guerras... , seria legal!

    E vocs podem mesmo, a fora dos

    jovens unidos entre si faz toda diferena. Pode

    crer! Voc tem que saber um pouco deste meio

    de comunicao exatamente para que no o

    bloqueie como uma coisa ruim. Existe a partir dos

    vegetais, uma planta reconhece o ambiente em

    torno de si e se comunica com outras, com entes

    dvicos, com insetos, com animais e com o

    homem. No reino animal, principalmente nas

    espcies que possuem sistema nervoso mais

    elaborado, caso do cavalo, cachorro, gato, gol-

    finho e por a afora, predominam a telepatia ins-

    tintiva e a emocional. Nos humanos existem res-

    qucios da telepatia animal e mental, e a pos-

    sibilidade de desenvolvimento de uma telepatia

    superior, em nvel de alma; vocs atuam nessa

    ltima.

    Ento tudo bem! Quando comea meu

    treinamento, no adianta s falar no. Gosto de

    atitude.

  • 90

    Como acha que estamos no comunicando

    desde que chegou aqui Mi