Golpe de Espírito - Ficção
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GOLPE DE ESPRITO
Fico
Vincius Tadeu
- O Moo -
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GOLPE DE ESPRITO
Vincius Tadeu O Moo
CAPTULO 1
O Fiel da Balana
O equilbrio a lei que rege o universo das
coisas e est presente desde a posio dos astros
at a preservao das espcies. Em velocidade
espantosa ou numa mudana lenta, o sincronis-
mo notrio e facilmente visvel a um bom ob-
servador. Entretanto, o que acontece quando
entra em cena um fator que aparentemente no
se submete a nenhuma lei conhecida:
O Livre Arbtrio.
Evoluo presume sobrevivncia, preserva-
o e aprendizado; exatamente nesta ordem.
Assim, o mal exercido continuamente em nome
da primeira, justificada pela segunda, enquanto a
terceira resulta das demais com a ao do discer-
nimento.
Voc quer e voc faz. E ao outro sobra ape-
nas suportar os efeitos da sua conduta, mesmo
quando revidada. Entretanto, quando o compor-
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tamento de um, ou de uns poucos, vem a colocar
em risco o destino da humanidade, imediatamen-
te acionado o Fiel da Balana.
nessa hora que no Templo da Irmandade
acendem-se todas as luzes e, na Terra, as gestan-
tes sentem um leve tremor. Um manto de mi-
lhes de pontos escuros vai sendo retirado e, em
seu lugar, um inteiramente adornado de brilhan-
tes luzes vai substituindo-o. Por um instante o
planeta parece silenciar. A evoluo para alguns
agora ser um tanto retardada, para permitir a
entrada em cena das crianas ndigo e Cristal.
Em milhes de lares as gestantes sentiram
essas mudanas. Em Miami, Brenda, no oitavo
ms de gestao, acordou assustada:
James, acorda sacudiu o marido ,
acorda!
O que aconteceu? ele respondeu
preocupado, enquanto esfregava os olhos e sen-
tava-se na beirada da cama.
Eu no sei, mas tive a impresso que o
haviam arrancado de mim e colocado outro no
lugar apontou a barrida, acariciando-a em
seguida com movimentos circulares das duas
mos , ele est diferente, parado, estranha-
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mente quieto. Ser que ele morreu?! As pala-
vras que praticamente morreram na boca de
Brenda, num misto de pergunta e afirmao, mas
que no admitia resposta.
Rpido e silenciosamente o marido vestiu
uma roupa qualquer, enquanto a mulher apenas
colocava uma capa de chuva por cima da roupa
de dormir.
Em menos de 30 minutos o casal era aten-
dido no hospital local, por um dos mdicos de
planto.
Doutor, tem alguma coisa errada com
meu filho.
Charles, o mdico residente, olhou por ins-
tantes a antessala onde mais cinco gestantes
aguardavam atendimento de emergncia, e viu
que o relgio digital de parede marcava 03:30 da
madrugada.
E eu esperava um planto calmo!
Conte-me o que aconteceu para deix-la
assim preocupada. Vou examinar voc e o nenm
e, se necessrio, ligo para seu mdico e ele vir
atend-la. Deite-se, por favor.
Obrigada Doutor. Eu estava dormindo
quando senti um calafrio, acordei e no senti o
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Wesley. Normalmente ele agitado, se debate o
tempo todo num misto de rolar e contorcer;
chutando e agitando os bracinhos.
O mdico continuava o exame:
Dona Brenda, a senhora ingeriu algum
tipo de remdio... calmante... sonfero... coisas
do gnero.
No! A gestante respondeu num meio
de indignao e surpresa com a pergunta Eu
sei que tudo que eu tomo passa para o beb...
O mdico anotou alguma coisa na ficha de
atendimento e prosseguiu:
Dona Brenda, os batimentos cardacos
esto normais, tanto os da senhora como os do
beb. Nesse caso, s me leva a concluir que o
nenm est dormindo. Mesmo assim, se quiser
posso acionar o seu mdico.
Se diz que est tudo bem, no vejo
necessidade de acord-lo por um beb dormindo.
Afinal, foi sempre o que pedi a Deus. Obrigada,
Doutor.
Assim que possvel passe em consulta
pelo mdico do pr-natal, ele tem o histrico da
gestao e pode aconselh-la melhor.
Farei isso o mais rpido possvel. Obriga-
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da novamente.
Enquanto o casal se retirava o mdico cha-
mou a prxima paciente.
Ao final de seu turno, o plantonista no
pode deixar de estranhar a similaridade dos ca-
sos.
Trinta casos de nenm dormindo. Isso no
comum!
Doze anos depois
Todos no estacionamento do shopping, ex-
ceo de policiais e paramdicos envolvidos na
operao, pareciam em pnico. Mdicos e enfer-
meiros corriam para prestar atendimento a um
menino cado no cho e uma menina em p, est-
tica e aparentemente cristalizada, ao lado de um
jovem ensanguentado que se retorcia no asfalto.
Os policiais afastavam curiosos e procura-
vam livrar uma rea para o pouso de um helic-
ptero, que pairava alguns metros acima do solo.
O comandante da operao checava pelo
rdio o procedimento da equipe:
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Atirador, algum disparo? Negativo! O tempo todo sem alvo! timo! o oficial suspirou aliviado Desta eu me livrei! repetiu mentalmente, en-quanto lembrava que nenhuma pessoa em co-mando, quer estar envolvida em operaes que resultam em crianas feridas ou mortas. O chefe dos socorristas se aproximou:
Vamos remover as crianas de helicp-
tero para o hospital!
Elas esto bem?
Sim! Aparentemente traumatizadas, mas
bem!
timo!
Acho que deve ficar com isto entregou
um iPhone ainda ligado , do garoto, ele teima
que est bem e insistiu muito para pegar de volta
o aparelho.
E est?
Aparentemente... Sim! Por precauo va-
mos tambm lev-lo ao hospital.
Alguma coisa mais... documentos?
Nada! Disse que WY... Wesley; foi tudo
que conseguimos.
timo! Vou ver o que consigo no celular.
A menina?
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Visivelmente em choque!
O rapaz?
Morto! A bala entrou pela boca e ao sair
levou metade do crebro com ela. No havia
mesmo esperanas.
timo!
O outro balanou ligeiramente a cabea, em
sinal de desagrado com o comentrio, enquanto
se retirava.
O policial acionou o boto do aparelho,
enquanto repassava os fatos. Horas de nego-
ciao e um desenrolar imprevisvel nos ltimos
minutos. Conferiu no relgio.
Exatos 3 minutos.
Estranho! olhou para o celular aberto
no Facebook.
Bandido se mata no shopping # meninas eu
vi # fui
O ltimo status do garoto registrava 5
minutos atrs.
Estranho!
Momentos antes
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Voc est cercado, abaixe a arma!
Um rapaz aparentando vinte e poucos anos,
mantinha uma arma apontada para a cabea de
uma menina de no mais de quatorze anos de
idade. Momentos antes havia praticado um assal-
to numa joalheria do shopping e na fuga, cer-
cado, fez a garota de refm.
A mais de uma hora o negociador da polcia
tentava em vo fazer com que o rapaz libertasse
a mocinha e se entregasse. Temendo um final
trgico a polcia havia posicionado um atirador de
elite num ponto alto nas proximidades. Sabiam
de antemo que faces criminosas utilizavam as
redes sociais para promoverem arrastes e, as-
sim, utiliz-los como cobertura ao de
bandidos perigosos.
O Atirador, calmo e experiente, reportava ao
seu chefe as condies do momento:
Alvo na mira, mas sem condies de tiro
seguro. Parece bem treinado e mantm a garota
como cobertura perfeita.
Aguarde, no podemos arriscar a vida da
menina. O policial levou a mo ao queixo
Estranho!
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O que h de estranho? Ele est apa-
vorado! Comentou o Negociador, que se acha-
va bem prximo a ponto de ouvir o murmrio do
oficial.
V-se que um cara treinado... sem me-
do... sem nada! Eles so treinados para usar os
arrastes como cobertura de assaltos. Se algo d
errado, se entregam, so presos juntamente com
os demais e depois soltos. No mximo respon-
dem por crime de perturbao da ordem pblica
e porte ilegal de armas; e sabem disso. Isso
quando no se desfazem da arma durante o
tumulto. Olha, usa luvas e blusa de motoqueiro,
embora no sejam luvas comumente usadas por
eles, poucos reparariam na diferena.
O que acha ento?
Ele quer se aparecer... Os tais quinze mi-
nutos de fama!
Ento j teve mais que isso, olhe apon-
tou para um local e olhou o relgio calculando o
tempo que estavam ali , a mdia inteira deve
estar presente. Logo deve se entregar! Pro-
fetizou o Negociador.
No! Olha voc... os poucos segundos
que descobre a cabea para se fotografar ao
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lado da vtima. Aposto que est postando nas re-
des sociais. Ele vai matar a menina!
At agora nada indica isso! Por que acha
que pode ocorrer? Andou estudando psicologia
forense?
CSI, mas no isso. Alguma faco o
financiou e, considerando que eles no gostam
deste tipo de mdia, ele sabe que no pode ir
para um presdio; ser morto! Vai matar a garota
e se matar em seguida!
Mas vamos poder provar que no temos
nada com isso!
Como no temos, a vida de um e de outro
de nossa responsabilidade. isso que vai apare-
cer. Ademais, depois ningum vai ficar sabendo
do resultado da balstica. Isso no interessa im-
prensa!
Pode ser que ele se abra para o Atirador.
Isso no vai ocorrer, vamos torcer por um
fato novo.
Os policiais estavam bem prximos da faixa
de isolamento e um garoto que ouvia a conversa
comeou a caminhar se distanciando do local.
Num ponto, passou por baixo da fita que isolava
o permetro e foi andando calmo rumo ao estra-
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nho casal. Mantinha na mo um celular e nele te-
clava.
Detenham aquele garoto! O Oficial gri-
tou para os policiais que estavam mais prximos
do menino.
Os homens correram para o rumo do garoto,
mas isso tambm significava no rumo do me-
liante, que mantinha a arma apontada para a ca-
bea da garota, e este foi incisivo:
Afastem-se ou eu mato a novinha aqui.
Os policiais pararam de imediato, mas o ga-
roto continuou andando.
Ei muleque, no ouviu. Voc tambm.
Fora!
Voc no manda em mim o menino
continuou se aproximando at ficar bem prximo
da dupla , voc ouviu o policial, solte a arma e
a garota ou vai se sair mal.
D o fora ou tambm vai morrer.
Tambm ... Ento o Oficial est certo,
voc vai matar a garota.
E voc tambm, se no sumir daqui agora
ainda falando, o bandido se encobriu ainda
mais atrs da moa e apontou a arma no rumo do
menino. A garota agora soluava entre lgrimas.
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Voc no me pe medo. Eu no tenho
medo de morrer, at criancinhas conseguem.
Voc tambm no... mas nossos motivos so dife-
rentes; eu dou valor vida e voc no sabe o va-
lor dela.
Por instantes o rapaz ficou desconcertado.
O menino voltou a falar:
Fica calma gatinha, daqui a pouco tudo
vai acabar olhou para a menina e em seguida
para o bandido e para a arma, enquanto baixava
o corpo at a posio sentado e em seguida dei-
tado, ainda segurando o celular.
Endoidou ... o bandido voltou a apon-
tar a arma para a cabea da garota Acho que o
valento ali amarelou disse para a refm ,
conhece? apertou ainda mais a menina en-
quanto apontava o garoto com um movimento
da arma.
A jovem apenas tremeu a cabea para os
lados.
No comando o alvoroo aumentou:
O que houve... Ele atirou no garoto?
Nada disso Chefe, deve ter desmaiado de
medo.
Olhe! O Negociador falou espantado.
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O meliante depois de um leve tremor soltou
a garota, enfiou a arma na boca e puxou o gati-
lho, caindo para trs em uma poa vermelha e
branca; que imediatamente se formou de uma
mistura de crebro e sangue.
Corram, peguem a menina gritou o
Oficial enquanto tambm se dirigia ao local.
A jovem estava plida, esttica, olhava o ra-
paz cado no asfalto com movimentos involun-
trio de pernas e braos. A poucos metros o garo-
to comeava a dar sinais de recobrar a conscin-
cia. Os paramdicos chegaram logo atrs dos po-
liciais. O perigo tinha passado, e com um final im-
previsvel.
Baixem o helicptero!
Horas depois
No comando do Batalho de Operaes
Especiais, o Tenente Onofre estava em p,
enquanto outros cinco policiais se mantinham
sentados; o Negociador, inclusive. Charles, com
mais de 20 anos de trabalho e mais de 200 atua-
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es, foi quem comeou a falar:
Desde que ocorreu o fato, estou a pensar
e no encontro uma explicao lgica. Algum
que queria mdia, se matar sem qualquer fala. O
que vocs acham?
Estranho! Onofre respondeu e conti-
nuou Ei pessoal, a pergunta para todos, va-
mos l. Estranho no vale, eu j falei isso.
Loucos so imprevisveis, sei l.
Bill, louco no explica nada e sei l no
resposta. Vamos, quero opinies Onofre res-
pondeu.
Conhecia a garota? Quem sabe das redes
sociais, j confirmamos que estava postando fo-
tos dos dois.
Um rejeitado? Um magoado com garotas
em geral?
Problemas em famlia?
Despedido do emprego? Dvidas? Quem
sabe?
No sabemos nada disso, mas vamos
saber. Cuidem disso! Ed, Bill e Jos vo investigar
a garota e o rapaz; amigos e familiares. Juan, pro
IML, apresse a autpsia, quero saber tudo:
drogas, remdios, tatuagens... Tudo! Esto libe-
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rados. Todos fizeram meno de se levanta-
rem, o Tenente continuou Voc no Charles,
temos que conversar.
Notei que meche neste celular a todo o
momento. do garoto, no ?
Sim! Est com bloqueio automtico para
cinco minutos e no sei a senha.
Ora Onofre, apenas um garoto, no tem
porque ficar bisbilhotando.
No, ... veja isso e entregou o iPhone
aberto no status que j tinha visto antes.
E da, garotos postam estas coisas o tem-
po todo. Gostam de parecer informados. Acho
que isto d ibope com as gatinhas.
S isso, ento veja esta mensagem ou
post como eles gostam de dizer virou o celular
para o colega, permitindo que ele lesse:
Show do Justin em Buenos Aires no vai
acontecer # sinto garotas # falei
E o que tem isso?
O show foi cancelado na ltima hora e ele
postou isso dois dias antes.
No sei se sabe, mas o artista j tinha
cancelado um show antes. Ao que tudo indica um
perodo ruim da carreira. Minha filha uma f e
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passou dias rezando. Isso foi em novembro ou se-
r que estou errado.
Sim! Quero dizer, no! Mas isso no mu-
da nada.
Muda sim! E, ademais, para essa garotada
no acontecer quase sempre significa falhar, no
bombar; como dizem.
De todo jeito eu quero que voc v falar
com o garoto, afinal fez psicologia. sua rea.
O garoto acabou de passar por um trau-
ma, a ltima coisa que os pais vo querer um
maldito policial bisbilhotando.
Ento no diga que policial.
E voc... posso perguntar o que vai fazer.
Vou pra casa assistir televiso. Satisfeito?
O outro balanou a cabea para os lados
enquanto saa.
Onofre foi mesmo para casa e acompanhou
todos os noticirios sobre o assunto; at os da
madrugada. Na manh do dia seguinte, ao invs
de ir para o batalho e terminar com os inter-
minveis relatrios que sabia ter de preencher,
ficou em casa e ligou para todas as emissoras que
noticiaram o assunto. No momento, falava com a
telefonista de uma delas:
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Aqui o Tenente Onofre, Comandante do
Batalho de Operaes Especiais, posso falar com
o reprter que cobriu o incidente do Shopping
Nacional.
Vou transferir para o Josu.
No demorou e do outro lado da linha:
Josu!
Josu, Tenente Onofre das operaes es-
peciais, preciso saber se sua emissora usou de
instrumentos de gravao de voz distncia no
incidente do shopping.
Sim! Mas no encontramos nada de inte-
ressante, por isso no foi pro ar.
Pode me enviar uma cpia de vdeo neste
mesmo nmero.
Fcil, tenho gravado no celular e estou
enviando agora mesmo.
Obrigado.
Segundos depois o oficial ouvia a gravao
que havia recebido.
Estranho!
Saiu para ir ao batalho, aps mandar men-
sagem para o grupo da equipe no WhatsApp:
Reunio em meia hora, na minha sala.
No quartel
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Muito bem, o que encontraram?
No conhecia a garota, falei com amigas,
chequei os amigos do facebook, vizinhana, clube
e baladas. Nunca se viram antes daquela hora.
Sem dvidas, saldo em conta bancria,
sem envolvimento com drogas, popular com as
garotas; mas levava a vida aparentemente sem
trabalhar, e gastava bastante em bailes funk. Isso
indica que o dinheiro que usava provinha de
assaltos. Os pais no sabiam de qualquer ativi-
dade ilcita do filho, mas tambm no sabiam se
trabalhava, nem onde e nem para quem; sem
qualquer profisso conhecida pelos pais.
O laudo da necropsia atesta morte por
arma de fogo, teste negativo para as principais
drogas e remdios que podem causar loucura
temporria; ausncia de lcool no sangue. Sem
tatuagens. E no era um doente terminal; nega-
tivo para HIV e outras doenas fatais.
O tenente retirou do bolso um celular, neste
instante o Negociador falou:
A propsito, os pais do garoto pedem a
devoluo do iPhone. E no, no consegui nada
com o menino. Disse que estava somente brin-
cando na internet e que isto no era crime.
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Parece bastante esperto. Ainda disse que inter-
feriu porque ns sabamos que ele ia matar a me-
nina e que no estvamos fazendo nada para
evitar que isso no acontecesse; ao que tudo in-
dica ouviu nossa conversa. Tambm, muito re-
servado e neste ponto bom mesmo, porque
no vai falar com a imprensa.
Que fale com quem quiser! Oua isso. a
gravao feita por uma emissora de televiso,
pena que ns no tnhamos naquela hora esses
recursos.
Minutos depois voltou a falar:
E a, o que acharam?
No falo pelos demais, mas eu no ouvi
nada demais voltou a contestar o Negociador
uma bravata e depois o desmaio, queria o que,
apenas um garoto de doze anos.
Ele no desmaiou, ele deitou; o que
muito diferente. Quem desmaia cai de uma vez.
Esse a nem soltou o celular.
Desculpa, Chefe, ningum deita na frente
do touro a no ser que queira se fingir de morto.
E pra mim tanto faz o menino ter desmaiado ou
fingido o desmaio; isso pode ter-lhe salvo a vida.
A maioria dos animais faz isso. Para ns devia ser
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o suficiente. preencher o relatrio e entregar.
Caso encerrado.
Sei que baratas fazem isso, mas o garoto
no parece uma barata; ou parece?
Samos bem dessa, no temos porque
continuar fuando no assunto, agora com a po-
lcia civil; concordo com o Negociador falou
um deles.
Todos os demais concordaram e o Chefe te-
ve que aquiescer, a visvel contragosto disse:
T bem! Ao relatrio, mas vocs preen-
chem.
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GOLPE DE ESPRITO
Vincius Tadeu O Moo
CAPTULO 2
O Lder do Inferno
Se existisse um chefe na irmandade este
seria o Irmo Oculto, assim chamado exatamente
por no apresentar nenhuma forma fsica. Ele
apenas se comunica com os demais, os chamados
Guardies, por meio de emisses de pensa-
mentos, ficando estes ltimos encarregados das
providncias que fossem necessrias.
E era isso que ocorria naquele momento, a
comunicao iria comear. Eles sabiam! As pare-
des do templo comearam a se dissolver, seus
corpos etreos tambm estavam se dissolvendo.
Toda a matria, por mais sutil que fosse se desin-
tegrava. Em instantes nada mais existia do que
um grande vazio. Um nada que comeava a ser
preenchido de pensamentos:
Doze anos atrs enviamos um milho de
nossos primognitos, os primeiros da irmandade
em tudo: antiguidade, conhecimento, fora... e
uma vontade inabalvel de mudar aquele pla-
-
26
neta. Durante mais de um sculo cada um deles
acompanhou o que l acontecia, sem poder fazer
outra coisa a no ser reclamar. Esses agora
jovens, que concentram poderes inimaginveis ao
estado evolucional dos que habitam a Terra,
esto sedentos de ao e mudanas. E eles vo
faz-las! No momento, ns somos seus Conse-
lheiros. Vocs vo prepar-los e gui-los para que
comandem o inferno. Que assim se escreva e
assim se faa!
Pontos de luzes foram se organizaram em
palavras e foram se adensando at formarem
uma parede compacta. Outras foram aparecendo
e em instantes o templo se apresentava nova-
mente em sua forma slida.
Visto de longe, mergulhado na escurido
total, com suas paredes altas de luz adensada, o
Templo da Irmandade mais parecia um farol no
meio do nada. De perto, suas paredes brilhantes
formadas de luz compacta pareciam vivas. O piso,
do mesmo material, dava a impresso de fer-
vilhar.
Os guardies, posicionados lado a lado,
pareciam esttuas esculpidas do mesmo material
da construo gigantesca; com uma s diferena,
-
27
a de se moverem e falarem entre si.
Precisamos eleger um lder.
Wesley a escolha ideal!
um revoltado!
Todos o so! Trenfos, durante muito
tempo eles viram as injustias sem que pudessem
interferir diretamente. lgico que isto levasse
revolta.
Ele no pode ser controlado! Meni, se
ele liderar ns vamos ter problemas.
No devemos controlar. Instruir, ajudar
e esperar que ele faa o que no podemos fazer.
A viso dele do mundo ideal atende nossas
necessidades do momento e uma tima pers-
pectiva para o que vamos enfrentar no futuro.
Quando ele estiver no comando da mai-
or e mais poderosa nao voc me conta.
Temos um consenso?
Sim! Voc cuida dele.
E voc?
Vou arrumar um substituto, um reserva.
Se algo acontecer a ele, vamos precisar de um. E
no pense que fcil, tenho que escolher um em
um milho.
Meni visualizou os dias que precederam ao
-
28
nascimento de Wesley.
A me, Brenda, embora contente com as
mudanas no comportamento do beb, que
agora a permitia dormir um sono reparador,
sempre esteve intrigada com essa mudana.
Muitas vezes consultava o Google sobre
alteraes da personalidade do feto durante a
gestao. Tentava entender como eram para o
beb viver os nove meses da gestao.
Sua comparao deste perodo era o de
uma pessoa fechada em um saco plstico cheio
de gua doce, jogado no poro de um barco
remado por escravos em meio a uma tempes-
tade. O jorrar de guas, a arrebentao das ondas
contra a amurada; o eterno bater do tambor
marcando o ritmo para os remadores. Um com-
passo ora acelerado, outras vezes manso, tudo
conforme o que a nave estivesse enfrentando;
batalha, tempestade ou calmaria. A eterna via-
gem at o porto seguro. Neste meio, os riscos de
um naufrgio, abordagem inimiga e at o medo
de uma recepo hostil no destino.
No! Melhor comparar com Jonas. Ao
menos sei o que acontece no final.
Referia-se ao personagem bblico engolido
-
29
por uma baleia, com certeza ouvindo o tempo
todo o bater do corao do animal e imerso em
lquidos no borbulho intestinal. Este tinha um
final conhecido e feliz. E isso a acalmava.
Tentava por vezes lembrar-se de quando
passou por isto tudo, mas as recordaes no iam
to longe. Estava crente que aquele perodo a
havia marcado para sempre; moldando o seu
jeito de ser, os seus medos e seu humor.
Achava-se uma pessoa tranquila, sensvel
e, mesmo sem o foco principal das recordaes,
agradecia sua me por isso. Fosse de outro mo-
do e poderia ser agora uma portadora de distr-
bios psicolgicos graves.
Esquizofrenia e autismo no podem ser
descartados.
Afastou de imediato a ideia. No lhe agra-
dava pensamentos negativos.
Ainda mais nesta fase da gestao
falou baixinho e deu um leve toque na barriga.
Ela sabia muito bem que os pensamentos,
sentimentos e emoes, que sempre refletem no
humor materno, tambm afetam o feto; pois ele
est exposto aos mesmos hormnios liberados
no organismo da me.
-
30
Lembrava-se de ter lido que ansiedade,
nervosismo e depresso so transmitidos quimi-
camente.
Toda situao de estresse atinge o beb.
Ele est escutando tudo!
Brenda entendia muito bem esta fase da
gravidez, o que a intrigava era o que acontece
nas 16 horas que o beb dorme diariamente; j
que durante 65% deste tempo ele sonha. Mas
sonhava sobre o que, com que; se suas ex-
perincias eram poucas e limitadas. Sempre tinha
estas perguntas em mente.
Naquela hora Meni relembrava os encon-
tros dirios com Wesley; a comear pelo primeiro
aps a nova encarnao.
Por que me foi ordenado reencarnar?
Em princpio, porque voc e os demais
acham que tudo aqui est errado. Querem mudar
tudo!
E est mesmo... mas vamos poder fazer
isso?
Voc parte do Criador, todos o somos,
e Ele tudo pode.
O que sei que hoje eu tenho apenas
dois teros do tempo para continuar meu traba-
-
31
lho.
Bem, isso te d algo em torno de dezes-
seis horas por dia. No to ruim assim!
Mas menos do que tinha antes.
Isso verdade, mas o que conta no a
quantidade de tempo, mas o que fazemos com
aquele que temos.
O mundo est piorando!
No me parece. Mais mdicos, novas
oportunidades de trabalho, uma cincia bem
mais avanada. E isso tudo se resume em mais
tempo de vida, mais e novas experincias; algo
perfeito na evoluo.
Mas a maldade impera!
J tivemos oportunidade de conversar-
mos sobre isso. Quer rever novamente seu pas-
sado?
No, no necessrio. Eu no me orgu-
lho nem um pouco daquela poca.
Pois deveria, foi o bero do seu Ser.
Alis, o de todos ns.
Meni parou por instantes, como se estu-
dasse seus pensamentos e a forma de express-
los, antes de continuar:
A lucidez nem sempre vai acompanha-
-
32
lo; no da forma como a tem agora, os laos com
a matria esto sendo apertados. Por isso
importante ter sempre em mente os objetivos do
Universo frente dos seus.
Assim eu vou errar.
Sim, vai! Ns tentaremos ajud-lo, eu
farei tudo para isso. Mas haver momentos em
que vai estar s com suas decises. Agora v, o
que est passando uma adaptao gradual e
constante.
Em um tempo e espao diferente
Trenfos acompanhava o movimento da
maior cidade do Brasil. So Paulo, s nove da
manh de uma segunda, sempre fervilhante na
regio central. Aquele dia no era diferente das
demais segundas. De estranhar, apenas um ser
altamente evoludo acompanhando uma menina
de 12 anos em seu caminhar para a escola;
atividade que visivelmente ela estava fazendo a
contragosto.
#mais uma merda de aula#fui#
-
33
A garota teclava no celular e ao mesmo
tempo falava com a amiga ao seu lado, enquanto
as duas esperavam a chegada do nibus que as
levariam at a escola.
No sei por que, mas me sinto mais til
quando estou dormindo. Pode?
Voc s uma dorminhoca! Olha nosso
nibus.
As duas acenaram ao mesmo tempo.
Merda, lotado novamente. Quem sabe
um homem de atitude? Algum...
De atitude apenas para te dar o lugar
para sentar. Esquece isto, a maioria j acorda
cansada para ir trabalhar Michele, a amiga,
completou, sem esperar a outra terminar o que
estava dizendo.
Mirna colocou o fone de ouvido e sequer
retrucou. Dez minutos depois desciam em frente
escola.
Durante a aula, indiferente matria que o
professor tentava explicar, Mirna foi at a
carteira da amiga e entregou a ela o celular.
Olha esse vdeo maneiro.
Mirna, se eu estiver atrapalhando, fala
que eu me retiro.
-
34
Fica vontade professor, mas devia
tambm ver esse vdeo. Isso que atitude.
A faanha do Wesley nos EUA j era
sucesso na rede.
um medroso!
Como medroso, no meio de centenas de
pessoas foi o nico a encarar o cara. Deve estar
apaixonado por ela, s pode replicou Mirna ao
comentrio da amiga que acabava de ver o vdeo.
Acho que voc que est apa-
xonada por ele. Alis, voc se apaixona por qual-
quer um mesmo.
Qualquer um vrgula, s os de
atitude. A-T-I-T-U-D-E soletrou completando
ENTENDEU! levantou a voz provocando um
sorriso nos colegas de classe.
Mirna... Michele... podemos continuar
com a aula.
Sim, professor. Mas no sou eu... ela!
Respondeu Micheli apontando a amiga.
Podem rir, mas ainda vou conhecer este
garoto Mirna apontou para o celular enquanto
voltava para sua carteira.
Houve um sorriso geral com o movimento
que ela fez com o corpo. Transmitia desdm e in-
-
35
diferena.
Trenfos tambm no pode evitar um
sorriso enquanto murmurava:
Ela mesmo engraada!
Aquele dia, Trenfos seguiu Mirna durante
todo o tempo. Precisava saber um pouco de sua
vida fsica, mas aguardava com ansiedade que ela
fosse dormir. Depois de interminveis horas de
internet a garota colocou o celular para carregar,
j passava bastante da meia-noite.
O quarto, com roupas praticamente
jogadas pelos cantos, estava adornado com al-
gumas fotos de cantores jovens, e no se di-
ferenciava em muito dos de nenhuma garota
daquela idade. Seu olhar, normalmente eletri-
zado, se tornava bastante sonhador quando revia
o vdeo que havia baixado da internet; o mesmo
que tinha mostrado na sala de aula. Trenfos viu
nisso um bom meio de se aproximar da menina.
Quando ela adormeceu, ele j havia preparado
sua entrada triunfal.
Projetou a garota numa rumorosa cena de
potentes motos esportivas com seus motores
acelerados ao mximo, num barulho que parecia
poder acordar qualquer pessoa em um raio de
-
36
quilmetros. Ela, ao centro, vestia uma roupa de
couro que por fora reproduzia todas suas formas,
aquelas previamente imaginadas para quando
completasse 18 anos. Cabelos louros longos e
soltos ao vento, e o sorriso de quem o centro
das atenes.
Num repente todas as motos ficaram em
marcha lenta, ao fundo, numa reluzente
Hayabusa branca, algum pedia passagem puxan-
do algumas vezes o acelerador. Do som provo-
cado parecia emanar uma ordem inquestionvel
e os demais foram se posicionando lado a lado,
formando um corredor por onde o estranho pas-
sava. Mirna permaneceu parada enquanto o
moo acelerava a moto em sua direo, mas por
estranho que parecesse ela no aparentava
medo de ser atropelada. O estranho freou a moto
provocando um babalu bem prximo dela. O
tempo pareceu parar enquanto o motociclista se
inclinava frente para beij-la, e com uma das
mos a agarrava pela cintura puxando-a para a
garupa da moto ainda empinada.
Wesley! Com o som de sua voz enco-
berto pelo ronco do possante motor e deixado
para traz pela velocidade da arrancada da moto-
-
37
cicleta, ela manteve-se firme agarrada na cintura
do rapaz e encostou a cabea em suas costas. A
moto pareceu voar, flutuando entre nuvens, at
parar ao lado de uma cachoeira. Os dois
praticamente rolaram da moto enquanto suas
roupas pareciam evaporar ao contato da areia
mida.
Trenfos sorriu satisfeito com o trabalho
Agora com voc e seus sonhos de menina e
se afastou. Outros lugares requeriam sua pre-
sena.
Diviso Especial da CIA para assuntos
extrassensoriais Washington DC
Qualquer um concordaria que uma reunio
de seres to diferentes somente poderia
acontecer em um zoolgico ou ento em um
manicmio. De fato, algumas das pessoas
presentes sequer pareciam estar ali, se que
estavam. Uns mexiam a cabea convulsivamente
de um lado a outro. Outros cutucavam os ps,
arrumavam os cabelos, olhavam as unhas pro-
-
38
curando por detalhes da pintura; todos pare-
cendo alheio a tudo que acontecia sua volta.
Ou, simplesmente, no se importavam com nada
do que ali acontecia.
Homens, mulheres, meninos e meninas de
diferentes idades, pelo visto apenas faltavam
alguns bebs para completar o quadro. O nico a
destoar do quadro cmico era o engravatado que
se posicionava frente no auditrio. E, at ento,
era o nico que falava:
Vamos l pessoal, ns j conversamos,
preciso saber com certeza que no estamos em
risco de uma invaso ao corpo do nosso pre-
sidente.
Nosso o que cara-plida?
Esqueceu-se Maysa?
No, mas voc est viajando. impossvel
controlar o corpo de outra pessoa.
Um dos convulsivos, sentado bem no fundo
da sala parou seus movimentos apenas para falar
Eu posso! e voltou rapidamente ao estado
anterior.
Eu j tomei o corpo de um cachorro para
morder o filho do vizinho. Um chato! Vivia me jo-
gando pedras e a me chamar de doido falou
-
39
um jovem albino.
Eu... eu... j fiz um cara calar a boca, ele
gritava muito e isso me deixou louca de raiva.
Uma menina franzina, certamente de
origem asitica, a nica que se mantinha aparen-
temente concentrada, comentou:
fcil interferir nas ondas cerebrais, um
choque e pronto, no vai mais lembrar o que es-
tava falando. Simples assim!
Ching, todas as vezes que te pedimos
para repetir esse feito voc se recusa, por qu?
Me deixa cansada, no gosto.
Mas todos sabem o porqu de estarem
aqui, presumo. Em assim o sendo, quero resul-
tados. Voltou a falar o homem de terno.
Eu estou aqui porque vocs prometeram
visto de permanncia para minha famlia. S por
isso! Ching retrucou de imediato.
Sim, mas para conseguir isso voc tem
que cooperar, seno, esquece o visto. Voc e sua
famlia voltam para a China.
Eu gosto de l, mas meus pais dizem que
perigoso. Por mim tudo bem, podem me enviar
de volta.
E seus pais, Ching. Sabe o que acontecer
-
40
com eles, se voltarem. J no tnhamos conver-
sado sobre isso?
A garotinha no respondeu, ao contrrio,
pareceu adormecer na cadeira.
O homem na frente das crianas pareceu
tomar um choque eltrico, estremeceu por uns
segundos, ficou de quatro no cho e latindo qual
um cachorro foi at uma bandeira dos EUA que
estava em um canto da sala, levantou uma das
pernas no mastro e assim ficou por instantes,
como se urinasse. Todos na plateia riram como se
tivessem ouvido e entendido uma piada. Voltou a
se posicionar no centro e como se nada tivesse
acontecido, continuou:
No s a Ching, mas todos vocs tm uma
semana para mostrar resultados.
Acho que vai ter sua resposta bem antes
disso, senhor Bright.
O jovem que fez o comentrio simplesmente
voltou a rir.
Silncio, vocs esto dispensados agora.
Voltamos a nos reunir em uma semana.
Resultados eram cobrados diariamente pela
diretoria, uma justificativa para o emprego do di-
nheiro dos contribuintes e Bright pensava em no
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41
estar tendo progressos com o grupo quando o
interfone tocou:
Bright, na minha sala. Agora!
Era o Diretor Chefe e Bright pensava nas
tantas desculpas anteriores, enquanto se encami-
nhava para a sala onde era requisitado. Bateu.
Entre!
Sente-se Bright. A menos que agora este-
ja se portando como um palhao, acho que con-
seguimos alguma coisa com o grupo.
No estou entendendo, Senhor.
Olhe! O Diretor acionou um controle
remoto que estava em cima da mesa. Um telo
desceu do teto e logo comeou a reproduzir o
vdeo da reunio de minutos atrs.
Vendo a cena Bright comeou a se remoer
por dentro.
A Ching vai me pagar!
Sem querer sorriu rapidamente e voltou a
ficar srio.
O Diretor Willians voltou a falar:
Alguma explicao lgica para isso Senhor
Bright, seno, acho que estamos diante de um
verdadeiro caso de possesso. E exatamente
isso que nos interessa. Promoo a Nvel Dois,
-
42
recursos ilimitados e liberdade total de ao.
Relatrios dirios do progresso das investigaes
diretamente para mim. Est dispensado.
Bright voltou a sorrir, afinal a promoo
significava melhores ganhos em salrio e bene-
fcios, alm de melhor status na organizao,
agradeceu:
Obrigado Senhor!
O outro apenas abaixou a cabea de volta
aos papis em cima da mesa.
Quando Bright retornou sua sala um novo
nome j constava da plaqueta e sua secretria o
esperava do lado de fora. E foi ela que falou:
Nossa nova sala fica na Ala Oeste, no
andar da diretoria. Espero que me mantenha
ainda como sua Secretria.
Sim! No muda nada, mas temos muito
que fazer. Faa contato com aquele investigador.
Como mesmo o nome?
Onofre.
Sim! E traga a Ching para minha sala. A
propsito, onde fica mesmo?
Venha, eu te mostro.
Os dois atravessaram um corredor at o ele-
vador e o boto do penltimo andar foi acionado.
-
43
Minutos depois
Ching, como fez aquilo?
Eu estava com raiva, o senhor falou que
iria mandar meus pais de volta China.
Esquea isso, me conta como o fez.
No difcil, vinha analisando sua
frequncia vibratria. necessrio igualar a
frequncia para entrar no corpo de algum.
Sim! J li e ouvi isso antes. O que quero
saber se pode repetir isso quando voc quiser e
por quanto tempo pode manter o controle.
No est bravo comigo?
No! Agora responda pergunta.
Acho que sim, e acho que eu posso
manter o controle enquanto meu corpo estiver
dormindo; mas acho que no posso dormir por
muito tempo.
Isso pode ser arrumado.
Quer que eu repita?
Agora no! A propsito, aqui est o visto
para sua famlia. J estava pronto, qualquer que
fosse o resultado eles seriam entregues. Vou
providenciar um apartamento melhor para seus
-
44
pais. Acho que entende que isso que aconteceu
no pode ser comentado com ningum, nem
mesmo com sua famlia.
Sim! Ficaria chato para o senhor,
bancando o cachorro.
isso! Por favor.
Ok!
A garota saiu e Bright acionou o interfone:
Cibele, consiga-me passagem para Miami,
o mais rpido que puder.
desnecessrio! Seu novo cargo d di-
reito a uso de um dos jatos da companhia.
Ento programe para amanh cedo. E
avise Onofre que estou indo v-lo.
Assim ser feito Senhor Bright.
No dia seguinte
Aeroporto de Miami
Bom Dia!
Bom dia, senhor Onofre.
Fez boa viagem?
tima! Obrigado por vir me receber o
agente agradeceu.
-
45
Confesso que fiquei curioso, no todos
os dias que se recebe uma visita do alto escalo
da CIA. Acredito que seja por causa de WY.
Sim! Li seus relatos e fiquei intrigado.
Acha mesmo que o garoto fez tudo aquilo?
No consigo ver de outra forma. O jovem
possui estranhos poderes, se que podemos
chamar assim. Venho acompanhando a vida dele
desde aquele momento, extraoficialmente, se
que me entende. Pela nossa lei ele no pratica
nenhum crime.
Compreendo!
Vamos para minha casa, meus arquivos
esto l.
Certo, vamos ento.
No carro o assunto continuou girando em
torno de Wesley.
Tem alguma ideia sobre o que pode ser?
perguntou o agente da CIA.
Uma espcie de possesso! A minha mu-
lher acha que sou um louco.
Ento vai achar que somos dois agora. Eu
tambm acho que possesso. Experincia
prpria comentou Bright, omitindo os deta-
lhes.
-
46
O trajeto foi rpido at a casa de Onofre.
Minha mulher vai insistir para que tome
um caf. melhor aceitar, vai ser mais rpido
assim.
Eu adoro um cafezinho. No vai ser
nenhum sacrifcio.
Depois do elogio ao caf, Bright voltou a
falar:
Podemos conversar?
Sim! Transformei um dos quartos em
escritrio e ali que mantenho tudo sobre o
assunto. Isso para mim virou quase um hobby.
O agente ficou alguns instantes olhando os
arquivos, vdeos, apanhados da internet e tudo o
mais que o outro lhe oferecia. Aps alguns
minutos de uma espcie de avaliao, disse:
No h dvidas, o rapaz um projetor
consciente. Isso faz com que eu no me desculpe
por no ter dado mais importncia ao fato. Antes
de agora, quero dizer.
Eu entendo, um assunto difcil de
engolir.
Agora no mais! O que me preocupa
no saber quantos desses existem por a e o que
esto a fazer neste exato momento. Vou mandar
-
47
rastrear o rapaz, mas por enquanto gostaria de
saber se possvel conversar com ele?
Acredito que sim, at onde pude
perceber usa isso numa espcie de punio a
bandidos, e tudo indica estar preocupado com o
aumento da criminalidade. Veja este caso do
presdio, a pessoa que matou esse aqui mos-
trou umas fotos , jura no se lembrar de nada;
alm disso, diz que eram amigos. T certo, como
era um drogado, no de admirar. O caso foi de
pouca repercusso. Agora veja o post do WY duas
horas antes do ocorrido apontou uma foto de
tela do facebook #quem com ferro fere, com
ferro ser ferido#fui#volto em duas horas#
Essa foto do bandido ele postou exatamente
duas horas depois, antes mesmo do pessoal do
presdio saber dessa morte. Leia o texto
#misso cumprida#esse no fere mais ningum#
, conversei com WY dias depois, ele riu e disse
ser premonio; no quis dar mais detalhes e se
recusou a voltar ao assunto.
... ou o garoto timo vidente, ou... est
a promover os fatos. Acho que vale a pena eu
conversar com ele. Tenho certeza que a viagem
no foi em vo. Poderia me deixar no aeroporto.
-
48
Mas no disse que quer conversar com o
rapaz?
Voc me disse que ele esperto e
arredio, vou fazer do meu jeito. D-me a carona?
Vamos l!
Enquanto se despedia da mulher de Onofre,
Bright falou ao celular:
Prepare para retorno imediato a Wa-
shington sem aguardar resposta desligou o
aparelho.
A despedida foi to rpida quanto o
encontro. J no avio fez contato com sua
secretria:
Cibele, verifique que agente temos
disponvel em Miami e pea para que faa
contato comigo. urgente!
Como num toque de mgica, mal acabou de
desligar e o aparelho voltou a tocar:
Bright!
Senhor, agente Thomas. Estou lotado em
Miami.
Wesley Martinez... vou transferir um
arquivo. Preciso dele no meu gabinete amanh,
um avio da agncia estar sua disposio,
escolte-o at l.
-
49
Sim Senhor! respondeu o agente.
Na manh seguinte
Acho que sabe que est em Washington,
Senhor Wesley.
Sim! E acho que sei o motivo.
No que eu duvide de suas aptides, mas
se puder me relembrar.
Fidel!
Confesso que poderia pensar numa infi-
nidade de motivos, mas isso escapa a tudo que
pensei at agora. Poderia ser mais especfico?
Contanto que eu fale com meus pais,
afinal vocs me pegaram quando eu saia de casa
para o colgio e daqui a pouco termina a aula;
eles vo estranhar se eu no chegar. Pode
colocar um retardo de alguns segundos e cortar
se eu for inconveniente, vou apenas dizer que
vou dormir na casa de um amigo. Assim teremos
algum tempo para conversar, mas amanh
preciso estar em casa, seno vo desconfiar.
esperto, o delay no ser necessrio.
-
50
O agente apertou uma tecla que
impossibilitava a identificao da origem da
ligao e entregou o aparelho ao rapaz.
Me, sou eu, vou dormir no JR.
Tudo bem!
Sem mais, o rapaz desligou e devolveu o
aparelho ao outro.
S isso, nada mais?
Tempos modernos!
No sei por que razo, mas no me
acostumo com essas atitudes. Mas, voc disse
Fidel, se no me engano. O Fidel?
Sim! Vocs esto preocupados com
possesso. Estou certo?
Digamos que sim, o que tem sobre isso?
Tudo... acompanhei desde o incio.
tarde, mas nada foi feito de irremedivel. Quero
falar com a Ching.
Posso perguntar como sabe dela?
Digamos que a tenho entre meus amigos
e no no Facebook.
Acho que compreendo, vou mandar tra-
z-la, havia prometido a ela uma semana com a
famlia. Vai ter que interromper a visita, mas pelo
que estou entendendo tenho a certeza de que ela
-
51
vai ficar feliz em v-lo.
Eu avisei que estava vindo, ademais seu
agente deveria ter sido alertado para no me
deixar dormir durante o voo; somos perigosos
quando dormimos Senhor Bright.
Vou me lembrar disso! Vai demorar um
pouco at ela chegar, acredito que possa contar
mais sobre o caso Fidel.
Vou esperar a chegada dela, enquanto
isso porque no conta o que vocs sabem.
Bom, no sei se temos tanto tempo
assim.
Quanto tempo leva para dizer nada. Mas
no importa, vamos s minhas exigncias para
ajud-los: um milho de dlares numa conta das
Ilhas Cayman.
Bem, no sei se meu posto pode autorizar
tamanha quantia, mas posso falar com a Dire-
toria.
Esquea! brincadeira, dinheiro no me
interessa.
E o faz, ou far, por que razo. Posso sa-
ber?
Ns somos o princpio da evoluo final
do homem, no sei se me entende.
-
52
Acredito que so diferentes. Existem
muitos como voc?
Mais do que pensa, podemos estar
escondidos em cada criana que existe. Ou
jovens, para ser mais exato. Temos um senso de
justia prprio, da qual impossvel escapar. No
h paredes, blindagens ou esconderijos que no
possamos penetrar.
Fidel um de vocs?
Digamos que se assemelha, mas tudo ao
seu tempo. No combinamos assim?
Certo! No vou mais insistir.
-
53
-
54
GOLPE DE ESPRITO
Vincius Tadeu O Moo
CAPTULO 3
A elevao de um ser
Doze anos antes
Brenda estava sentada em uma confortvel
poltrona com os ps apoiados em uma banqueta
acolchoada. Nessa hora passava seu programa
favorito e estava acostumada a ficar ligada no
televisor at seu final. E, at ento, nada, pratica-
mente nada, tinha feito com que levantasse
nessa hora. Nem mesmo para ir ao banheiro saa
da sala, sempre se antecipando a essas neces-
sidades. Estava no nono ms de gravidez e como
gostava de dizer, j estava acostumada ao seu
novo beb. De fato, a coisa de um ms tinha
pressentido muita mudana no comportamento
do mesmo. Sentiu o beb se mexer de uma ma-
neira caracterstica qual atribua o nome de a-
cordar.
Boa tarde! O dorminhoco acordou?
O nenm fez um movimento de esticar as
-
55
pernas e abrir os braos e Brenda podia jurar que
ele estava bocejando. Instantes depois ela teve
uma vontade imensa de comer pasta de amen-
doim. Levantou-se, foi at a geladeira onde
pegou um pote, abriu-o e utilizando o indicador
raspou uma boa quantidade levando em seguida
boca. Saboreou com prazer, continuando a
lamber o dedo enquanto voltava poltrona car-
regando o pote na outra mo.
No era voc que detestava pasta de
amendoim, ou estou enganado. Ademais, acho
que se levantou na parte mais intrigante do pro-
grama e agora s vai saber se eu contar.
Grvidas tem desejos, meu amor.
Brenda respondeu ao comentrio do marido
Ademais, sei que vai me contar o que aconteceu.
Afinal, voc diz que no gosta, mas estava as-
sistindo.
Confesso que estava mesmo, mas quando
vi voc levantar, eu fiquei te olhando e tambm
perdi esse pedao. Incrvel essa sua mudana!
Grvidas... Vai entender. Ela respon-
deu com um leve sorriso.
Num canto da sala dois seres invisveis aos
demais conversavam:
-
56
E a Meni, o que acha?
Ele est controlando as vontades da me,
em sua ltima encarnao era viciado nessa gulo-
seima. No de estranhar que esteja revivendo
estes prazeres.
Ainda bem que ele no era um fumante
tornou o outro em tom de brincadeira.
Cedo para dizer, mas acho que temos
nosso homem.
Beb, voc quer dizer.
Ora, voc me entendeu.
Quando Wesley nasceu as coisas conti-
nuaram a acontecer da mesma maneira. Assim
que acordava, a me corria atender alguma de
suas necessidades: trocar a frauda, mamar, gua
e dai em diante; sem qualquer necessidade do
tradicional choro.
Nas poucas vezes que adoeceu o pediatra
sempre acertou de primeira, como se algum lhe
soprasse nos ouvidos o que o beb estava sen-
tindo.
Quando dormia, a me dizia que o deixava
nas mos do anjo da guarda. E estava!
Wesley, voc tem de estar em sintonia
com seu corpo, se no o conhecer bem, vai ser
-
57
um estranho em sua prpria casa.
Mas ele me atrapalha, Meni.
No, ele lhe fornece a energia que precisa
para se manter e interagir com o mundo mate-
rial. Sem ele somos constantemente atrados de
volta ao astral e somente com um desgaste
enorme de foras que podemos nos manter
aqui. E mesmo assim por pouco tempo, sabe
disso.
Eu sei... de fato seria impossvel cumprir a
misso de outra forma.
Algumas coisas voc precisa ter em
mente desde j. Do outro lado damos pouca ou
nenhuma importncia forma fsica, at porque
no a temos ou, melhor, porque podemos adotar
qualquer uma que nos convir. Mas aqui existe
certo padro de beleza, digamos que necessria
em certas reas de atuao. Nosso sucesso
depende de voc ser o melhor em tudo, neste
campo inclusive.
E se o bitipo desse meu corpo no
corresponder?
A beleza sempre relativa, j reparou
que para as mes o filho sempre lindo.
Igual o conto da coruja e do gavio?
-
58
Mais exatamente do jeito de olhar um
sapo e ver um prncipe! Tudo que subjetivo
pode ser sugestionado. A me envia cons-
tantemente sinais ao feto quando imagina sua
face, nariz, boca, orelha, braos, pernas, mos. O
nenm no tem um espelho no tero, ento
devolve me suas impresses imaginrias. Mas
isso muito forte e no fica restrito somente
gestante. O feto tambm comea a se ver assim,
e aps o nascimento continua a se ver lindo, da
forma como imaginou; de outra maneira seria im-
possvel viver sombra das verdadeiras belezas.
Sem contar que conforme a fora empregada
acaba mesmo refletindo na forma fsica.
Eu no tive... o que podemos dizer uma
gestao completa. Apenas um ms e meio de
adaptao. Pode causar complicaes?
At certo ponto sim, notei que s vezes
ela fica te olhando, mede orelhas, nariz, boca...
em sua mente ficaram impressas duas imagens
geradas por um e outro; cada um se imagina de
uma forma diferente. Mas isso no importa mais,
agora o importante voc entender como isso
feito. No para sugestionar somente sua me,
mas a todos sua volta. O que os olhos humanos
-
59
enxergam luz refletida e para esse caso es-
pecfico vamos considerar a luz como uma onda
ou apenas o lado em que ela se comporta como
tal. Vai aprender a emanar luz apenas com as
informaes que queira e isso que o crebro
deles vai ler.
Vou poder influenciar essas modernas
mquinas digitais?
As pessoas que te conhecem, sob a fora
da influncia mental vo enxergar a foto
exatamente como te veem; as estranhas no!
Entretanto, ao falarem de voc com uma pessoa
que te conhece recebero as mesmas infor-
maes e passaro a v-lo da mesma forma; afi-
nal estamos todos interligados. Isso sem contar
que a capacidade de impregnar uma foto com
informaes real.
Por isso umas pessoas saem bem na foto,
como se diz.
Sim! Embora o princpio geral seja o de
que as pessoas enxergam apenas o que querem
ver. O crebro preguioso por natureza e adota
o caminho mais fcil, ou seja, se todos dizem que
belo; belo . Ele detesta perder tempo com
anlises mais profundas e comum aceitar um
-
60
diagnstico pr-existente.
E as pessoas chaves podero ser expostas
a uma imagem prvia no astral, no assim que
funciona, Meni?
Exatamente isso! Outra coisa, os centros
de energia do planeta esto distribudos em pon-
tos fixos ligando-o dimenso astral e ao centro
do Universo. O portal que faz a ponte entre elas e
o indivduo est instalado no crebro, mais exa-
tamente na glndula pineal. Vai aprender a
oper-lo e ser essa sua rota de fuga, um plano
de contingncia que com certeza ter a neces-
sidade de usar em no poucas ocasies.
Pensei que s servisse como uma porta
de comunicao.
No! Um caminho de fuga para dentro. E
o melhor, s voc o conhece e somente voc
poder oper-lo. No poucas vezes acontece en-
tre os humanos de maneira involuntria.
E a pessoa desaparece!
Desaparece desta dimenso e, como no
sabe como oper-lo, fica para sempre em uma
dimenso paralela. Existem seres incumbidos
destes resgates, mas uma operao difcil e
quase sempre infrutfera.
-
61
Se importante porque no aprendo
agora?
pouco provvel que tentem matar um
beb. Ademais, acho que est na hora da mama-
deira. Meni riu e desapareceu em seguida.
As dirias visitas de Meni a Wesley estavam
fazendo efeito. Bastava o beb adormecer e l
estava ele ao seu lado.
Ainda bem que, como diz sua me, voc
um dorminhoco. Isso nos d bastante tempo para
prosseguirmos em seu treinamento. Meni
brincou, antes de perguntar Vi que voc ten-
tou atravessar o portal.
Sim, mas a nica coisa que consegui foi
transferir minha mente para uma dimenso para-
lela a esta. Meu corpo ficou inteirinho no bero.
Novamente estamos diante de um fato
bastante comum, quer dizer, quando acontece in-
voluntariamente.
E, nesse caso, como j me explicou antes,
o beb quando nasce pode ser um autista.
Ou um louco quando adulto, mas tam-
bm pode ser de causas fsicas no crebro. O im-
portante saber que pode ser temporrio.
E como eu fao para uma transio total.
-
62
No basta sugar sua energia vital para
dentro da pineal, voc tem que trazer cada mo-
lcula de seu corpo para dentro dela. Assim,
todas as partculas vo para ela e provocam um
inchao. Sobrecarregada, ela vai expelir tudo do
outro lado.
Sempre na mesma dimenso?
Sim, qual numa casa, uma porta sempre
abre para outro cmodo; mas sempre o mesmo.
O resto treino!
Meni, meu pai apareceu com um gatinho.
Isso tem a ver com meu treinamento. Por que um
gato?
Igual a voc eles dormem muito Meni
riu, antes de continuar , no acredita que
iriamos comear por pessoas, no ? Brincadeira,
num primeiro estgio vai apenas acompanh-lo.
S se for ao sono, gatos s dormem.
No! Crescem rpido, so independentes,
gostam de vagar pelas redondezas; toda mobi-
lidade que voc precisa nesta fase. Boa sorte com
ele.
Wesley viu quando Meni desapareceu.
Voltou sua ateno para o gato que sobre uma
almofada ronronava tranquilamente. Aproximou-
-
63
se do bichano.
Que nome ser que vo dar a ele?
Fez a pergunta mentalmente lembrando-se
que os pais ainda estavam indecisos quanto ao
nome. Era um machinho e o mais provvel era
que ficasse mesmo Flix, era ideia de Brenda e
ela sempre conseguia impor suas opinies na
casa.
Flix tocou com uma das mos no
gatinho sentindo os pelos arrepiarem. Sentiu
tambm o leve formigamento da corrente
eltrica se transferindo para seu corpo. Provocou
o mesmo tipo de estmulo e pode sentir o gato
relaxar ao contato da corrente eltrica de baixa
intensidade. Deitou-se ao seu lado mantendo a
mo onde estava. Encostou a cabea no corpo do
animal sentindo a vibrao que dele emanava.
Pareceu adormecer junto com o animal.
Sentia que estava a correr por campos
abertos, a relva macia e mida comprimia como
um tapete verde embaixo de suas patas. Sentiu-
se pesado, mas com o corpo se deslocando em
grande velocidade, abrindo os pequenos e
poucos arbustos sua volta. Sentiu o roar do
vento e o frescor trazido por ele, juntamente com
-
64
o odor suave de flores do campo que
impregnavam as narinas.
Narinas? Eu pensei certo? Wesley se
deu conta de no estar a correr com o animal,
mas sim que era ele o animal. Notou tambm
que no era um gato, embora no soubesse o
que era.
Um gato no, grande demais para ser
um gato, muito menos um gatinho recm-
nascido. Por um instante apenas acompanhou
a suave sensao de liberdade at sentir
novamente o contato de pelos em suas mos. O
gatinho tinha acordado e o sonho se foi, mas
deixou a marca da experincia.
Sentiu algo mido entre as pernas, um
cheiro desagradvel e a costumeira sensao de
desconforto. Era hora de acordar a me.
Alguns meses depois j havia um
sincronismo entre o gato e o beb. Dormiam
praticamente ao mesmo tempo e pelo mesmo
perodo. Wesley gostava dos sonhos de vida
selvagem, mas estes estavam ficando raros; o
gato crescia rapidamente e seus sonhos agora
eram compostos em sua maior parte das ati-
vidades do dia a dia.
-
65
O gato tambm passava mais tempo
acordado e Wesley comeou a acompanha-lo em
suas aventuras dirias. Desfrutava da vida livre
que o gato lhe proporcionava e enquanto ele
estava ensaiando os primeiros passinhos, o
animal j percorria todos os cantos.
Aquele dia o gato apenas queria dormir,
nem sonhos, nem nada. O relgio marcava meia-
noite quando abriu os olhos e levantou a cabea.
Wesley sentiu o movimento e viu cada objeto do
quarto escuro. E, no sem estranheza, percebeu
que estava vendo tudo pelos olhos do Flix.
Moveu sem muita preciso as patas e ensaiou os
primeiros passos. Em pouco tempo corria por
todo canto ensaiando os primeiros pulos.
Parabns! com orgulho que vejo que
conseguiu.
A voz de Meni soou alta em seus ouvidos e
pode pressenti-lo em um canto da sala.
Meni? em seu novo campo de viso
conseguia ver apenas as pernas. Pulou em cima
de uma cadeira e, em seguida, em cima da mesa.
Meni ria Sabe por que os gatos ficam
quase sempre em lugares altos? Eles precisam
estar quase na altura das pessoas para v-las
-
66
bem. Fez a pergunta e respondeu ao mesmo
tempo, enquanto continuava a rir.
Mas a nitidez das imagens muito
melhor tornou Wesley tambm em
pensamento.
Mas no de perto! Deve ser ruim no
enxergar a comida que come.
Meni voltou a ficar srio para voltar a falar
Como est indo com a abertura do portal?
Sem novos progressos, consigo
transportar a mente para a outra dimenso...
mas o corpo. Sem chances... acho que no dou
para a coisa.
Voc sempre foi o melhor em tudo,
confesso que essa coisa de metade matria e
metade esprito mesmo complicada; como
pode ver, ainda no me esqueci de como era. H
influncia simultnea dos dois lados, o tempo
todo o corpo procurando manter o esprito preso
a ele e o esprito, por seu lado, querendo voltar
para o astral. Para conseguir progresso, vai ter
que aprender a quebrar essa resultante de
foras.
Tenho sonhado constantemente como se
minha lngua estivesse repleta de uma casca
-
67
grossa e que com as mos eu ia retirando aquela
camada at descobrir uma lngua mais fina e
nova.
Bem, isso pode estar te dando um
caminho. Em forma figurativa, o corpo a casca
grossa que voc deve ir removendo.
Outra coisa Meni, hoje mesmo eu sonhei
que estava no alto de uma torre, pendurado at a
metade dela havia uma infinidade de objetos das
mais diversas formas. Acontece que na parte de
baixo existiam todos os tipos de temperos, era
praticamente impossvel descer sem derrubar
alguma coisa e sujar os potes de temperos. Isso
sem contar que um vendedor zeloso brigava
muito quando isso acontecia.
Novamente entendo ser figurativo. Os
temperos so seus sentimentos, suas emoes e
seus pensamentos e, nesse caso, esto sendo
colocados em posio inferior aos bens materiais.
um alerta para que no sobreponha a coisa
fsica espiritual, pois ser muito difcil voltar a
inverter novamente as posies sem contaminar
esta ltima. Por isso preciso se manter puro.
Occa, occa banai it, chibna quiqu
nau.
-
68
A disponibilidade para a purificao. Vejo
que est treinando o idioma Irdin Meni sorriu
antes de continuar naquela mesma lngua ,
Huamanaykha Shiminikha.
Neste encontro honro-Te, Senhor.
Perfeito! Agora tenho que deix-lo.
Meni se afastou.
Ele est em busca da Palavra Perdida. E isso
bom!
O conhecimento da palavra perdida
concedido apenas a altos iniciados.
Meni se referia ao elo entre o que se sabe e
o que pressente, embora ainda distante e
secreto. A palavra que abre portais para
realidades que at ento no foram atingidas.
Continuando a se afastar, dessa vez sem o
simples desaparecer empregado nas vezes an-
teriores.
Hoje esse conhecimento transmitido
alma do homem, mas apenas em tarefas
especficas guiadas pelos grupos internos.
Desta vez se referia a grupos que teriam
origem nos primrdios da evoluo e que tm
como tarefa custodiar e transmitir para a hu-
manidade uma energia de Raio, com suas qua-
-
69
lidades e atributos. Lembrou-se que no final do
sculo XIX algumas pessoas possuam esse
conhecimento. O que colocava a busca de Wesley
como possvel.
Miz Tli Tlan.
Sabia da atual transio, o despertar dos
cinco grupos internos coligados aos Raios Oitavo
e os prximos.
Sim! possvel!
To logo Meni se afastou, Wesley voltou ao
bero e, desta vez, sem nenhuma necessidade
fisiolgica.
Maitreyar!
Wesley se viu lanado em um redemoinho
cujo cone comeava nos ps e o vrtice termi-
nava no centro da cabea e, quase instan-
taneamente, foi transportado para outro lugar.
Uma casa grande, comparada com a sua, seus
pais eram os mesmos, mas trajavam roupas
diferentes. Pode ver que a casa tinha at piscina
e um jardim enorme, tudo incompatvel com o
padro de vida que levavam. Seu bero
ricamente adornado ficava em um quarto quase
do tamanho da casa em que moravam, pode
notar que no bero havia sensores de umidade e
-
70
de movimento e provavelmente estavam inter-
ligados a algum aparelho de comunicao; prova-
velmente celular. Sentiu os braos de Brenda
levantando-o enquanto falava:
Vamos trocar esta fralda molhada.
Estava acordado e novamente na casa anti-
ga. Estranhou o ocorrido e creditou tudo a um so-
nho diferente.
Dez anos depois Wesley quase no tinha
nenhuma recordao do tempo de bero e
algumas poucas das primeiras fases do tempo de
criana. Lembrava-se do gato Flix, de alguns dos
encontros com um ser imaginrio ao qual ainda
tratava por Meni. Recordava-se ainda de alguns
fatos estranhos que ocorrera durante aquele
perodo, mas fora isso, apenas escola, brin-
cadeiras com os amigos, festas, passeios, broncas
dos pais e mais nada.
Era um garoto popular entre as meninas de
sua idade. Considerado lindo por elas h muito
tempo seu face j tinha chegado a 4.999 amigos.
Ele nunca anexava esse ltimo 1, exatamente
para quem no parassem de chegar solicitaes;
tinha mais de 500 pendentes. Vez por outra,
exclua uma e inclua outra, o que era sempre
-
71
uma deciso difcil e o fazia sempre reclamando
que 5.000 amigos era pouco; e que o Facebook
devia rever esse nmero.
Naquele dia WY, como j era chamado
algum tempo, pedalava uma bicicleta na calada
que ladeava uma pequena praa, quando um
carro desgovernado veio diretamente em sua
direo. Ainda pode ver a mulher ao volante
cobrir o rosto com as mos ao perceber que o
acidente era inevitvel.
Maitreyar!
Um cone invisvel se formou rapidamente
com o vrtice na pineal e estendeu-se at o cho,
fechou por baixo e encolheu a zero, voltando a se
expandir do lado acima da cabea.
Neste instante o veculo atingiu a bicicleta
esmagando-a at ficar presa retorcida embaixo
do carro, arrastando-a em seu trajeto at bater
em um banco da praa.
O cone se projetou no sentido inverso e WY
retornou no mesmo lugar ainda na posio de
pedalar, mas desta vez sem a bicicleta. A posio
no suportou o peso do corpo e ele caiu sentado.
A motorista veio correndo em sua direo
gritando:
-
72
Voc est bem? Perguntou sem
acreditar no que via. O garoto no tinha nenhum
arranho. Ele deve ter sido lanado por cima
do carro! Ela pensou, sem encontrar nenhuma
outra explicao.
Eu estou bem mesmo, mas acho que
minha bike j era. Apontou no rumo carro,
ainda sentado no cho e de onde podia ver a
bicicleta toda retorcida embaixo do veculo.
No se preocupe, vou comprar uma
melhor que aquela. melhor voc deitar, estou
ligando para o resgate.
No! J disse que estou bem. Outra bike
j t bom, tem um modelo que da hora.
A moa viu que o menino estava dizendo a
verdade, sequer tinha sujado a roupa. Desligou o
telefone aps concluir que ela tinha mesmo
atropelado s a bicicleta Ele deve ter pulado!
Afinal eu mesma no vi nada. A idiota aqui
fechou os olhos e ainda cobriu com as mos! Bela
motorista voc ! pensou e depois perguntou:
Onde voc mora? Seus pais esto em
casa?
Prazer WY o garoto estendeu a mo.
Oh! Desculpe-me! Alice! A moa deu
-
73
um beijo no rosto do garoto.
Ual! Voc demais, fosse uma novinha e
eu ia ficar com voc.
T me paquerando ? Acho que est bom
mesmo. Mas voc ainda no me disse onde mora
seu WY.
Venha, aqui perto pegou no mo de
Alice, enquanto continuava Voc tem face?
Tenho sim, deixa eu pegar minha bolsa e
trancar o carro e j vamos.
A moa pegou o que queria e trancou o
veculo. Enquanto eles caminhavam Wesley con-
tinuava sua conversinha:
Voc me anexa como amigo?
Porque no!
Curte minha foto do perfil?
Curto sim! O que mais!
Nada no, j t bom.
Continuaram andando at a casa do garoto,
enquanto ele ia pensando em quem ia excluir,
para que pudesse anexar a mais nova amiga.
Alice se explicou para os pais de Wesley
dizendo que ao desviar de um buraco perdeu o
controle do carro e passou em cima da bicicleta
do garoto. Comprometeu-se a comprar outra
-
74
escolha do menino e chamou o guincho para
rebocar o carro. Wesley fez questo de acom-
panhar tudo at a remoo do veculo. De volta a
casa foi para seu quarto e comeou a pensar no
fato.
Encolhe... estica... encolhe... estica. E l
estou eu sem a bike. Maitreyar... essa palavra
no me estranha, ao contrrio, muito familiar.
O que significa? resolveu procurar no Google.
Apenas encontrou referncias a Maitreya.
Aproveitou tambm para procurar a bicicleta nos
sites de compras, para escolher uma e informar
Alice.
Naquela noite se viu em um lugar calmo e
ensolarado junto a uma cachoeira que empres-
tava paisagem um leve rumor de gua caindo.
Sentiu o corpo flutuar por cima da cena e uma
voz suave sussurrando:
Quando quiser uma resposta a alguma
coisa procure em seu interior, ele sim tem todas
as respostas; no o Google.
Imediatamente Wesley se viu montado em
um cavalo branco que marchava em meio a uma
multido, enquanto gritava em alto e bom tom:
Honrem a mulher!
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75
Honrem a Me-do-Mundo!
Usava armadura de guerreiro e todas as
vontades se curvavam sua passagem e as que
no se dobravam eram foradas por sua espada.
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76
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GOLPE DE ESPRITO
Vincius Tadeu O Moo
CAPTULO 4
A formao dos grupos
Novinha de novo!
Mirna apertou os seios tentando levant-los
um pouco para parecerem maiores, apalpou as
ndegas, correu a mo pelas costas altura da
cintura e no encontrou cabelos, imediatamente
levou a mo ao pescoo e puxou uma mecha para
em frente aos olhos.
A... cad a loiraa... cad o Wesley?
O cenrio romntico, com sua cachoeira,
grama fofa, brisa fresca e o leve som de guas
tinham desaparecido. Agora em seu lugar um
quadro de horror, com rochas escarpadas e
pontiagudas, um vento glido e assobiante; sua
frente um buraco enorme e escuro que parecia
no ter fundo e cujo contorno das paredes
somente podia ver at certo ponto.
Sentiu duas mos apoiarem em suas costas
e o deslocar para frente, resultado do empurro
que acaba de sofrer. A queda foi inevitvel e
-
78
longa. Minutos de uma angstia que agora come-
ava a ceder medida que a velocidade da queda
diminua. Agora j num trecho iluminado podia
ver nitidamente as paredes lisas de um tnel com
mais de dez quilmetros de dimetro e que
parecia escavado em ouro puro. Vencendo o
medo olhou para baixo e pode ver l embaixo
algumas construes que entendeu serem ram-
pas. Instantes depois a velocidade de descida se
aproximou de zero e ela foi colocada em p sobre
uma dessas plataformas.
Desculpe o empurro, eu no tinha tem-
po para convenc-la a saltar.
Ao seu lado um jovem estendia-lhe a mo
direita, enquanto dizia:
Sou Alex.
Onde estamos? perguntou indiferente
mo estendida e formal apresentao do ra-
paz.
Mirna!
Lesado, eu estou cansada de saber meu
nome, perguntei onde estamos.
Mirna Jad!
Que coisa n, o nome deste lugar igual
ao meu, que coincidncia.
-
79
No simples coincidncia, logo vai saber
por qu. Vamos, esto te esperando.
Ento agora sou famosa, um comit de
recepo.
Podemos ir?
Antes que ela respondesse o piso comeou
um deslocamento levando-os rapidamente s
portas de um prdio gigantesco e em seguida
comeou uma subida at um dos andares e
depois at uma sala.
Que material usam aqui? Tudo parece ser
feito da mesma coisa.
O segundo material mais abundante no
Universo. A luz!
legal! E qual seria o primeiro?
Massa escura, vai ter oportunidade de
conhecer os que s trabalham com ela, mas no
acho que vai achar legal.
Acho que agora vou acreditar quando o
professor de fsica falar que a luz onda e par-
tcula.
Pode acreditar que verdade. Agora
preciso me retirar. Alex estendeu a mo direita
um prazer conhec-la, at mais ver.
-
80
Prefiro do meu jeito beijou o rosto do
rapaz vou ficar aqui sozinha?
J viro v-la. At.
At.
Mirna se ps a olhar em todos os cantos da
sala, um enorme salo sem qualquer tipo de
moblia. Paredes lisas de uma mistura agradvel
de cores claras e brilhantes, que iluminavam todo
o ambiente. De repente, num canto da sala uma
enorme mesa oval e algumas poltronas, tudo
feito do mesmo material, foram se matria-
lizando. Doze pessoas entraram e foram se
sentando; o mais velho deles em uma das extre-
midades enquanto a poltrona do lado oposto
permanecia vazia.
Queira se sentar Mirna o que parecia
ser o chefe indicou o lugar; o nico que perma-
necia vazio.
Em silncio a garota foi at o lugar indicado,
sentou de maneira normal para em seguida em-
colher uma das pernas e sentar sobre ela.
Desculpem, sou meio baixinha. Ainda!
O outro apenas esboou um sorriso, antes
de continuar:
-
81
Preciso que me escute apenas, depois
responderei todas s suas perguntas. Voc ainda
est no Brasil e o ano ainda o mesmo, est
uma das tantas cidades subterrneas construda
por nossa civilizao, mas tudo comeou bem
antes dos dias de hoje. Em tempos remotos, igual
a vocs, habitvamos a superfcie do planeta e
alcanamos alto desenvolvimento tecnolgico,
um estgio bem superior ao que se encontram
hoje. Porm, toda estrutura de nossa civilizao
se baseava no uso da energia nuclear, sobre a
qual achvamos que tnhamos total controle;
sobre os resduos radioativos inclusive. Ns, no
uso de recursos energticos, havamos
desenvolvido uma cadeia de consumo sem
perdas; mas possvel apenas porque tnhamos
um menor nmero de habitantes do que o hoje
existente na superfcie. Contudo, a certa altura
todo este sistema deixou de responder s leis
fsicas conhecidas. E foi demasiado tarde que
descobrimos isso. O teor radioativo na superfcie
do planeta comeou a aumentar de forma
inexplicvel e irreversvel com a tecnologia at
ento conhecida. Tivemos que abandonar as
cidades e a decadncia foi rpida. Desadaptados
-
82
vida normal que vocs ainda conhecem, com
nossos genes modificados ao longo dos tempos,
nossos corpos no conseguiam mais assimilar
alimentos e gua em estado natural. Aos milhes,
pessoas foram morrendo de fome e sede;
vagando pelas selvas repletas de alimentos e
gua. Produtos qumicos inventados de ltima
hora possibilitaram a alguns uma readaptao
nutricional. Os poucos sobreviventes precisaram
procurar abrigo no interior do planeta. Com uma
seleo rigorosa de pares, conseguiram gerar
crianas saudveis. Enquanto isso a superfcie
padecia de inmeros cataclismos: terremotos,
vulces, maremotos, tsunamis gigantescos e
tantas outras espcies de atividades geolgicas. A
Terra reagia de maneira violenta, sugando,
fechando, inundando e congelando, para fechar e
purificar suas feridas. Cidades inteiras eram
engolidas e purificadas no magma do planeta ou
eram cobertas de gua salgada para serem
lavadas de tudo com o que estivessem
contaminadas ou, ainda, congeladas para selar
seus perigos em densas camadas de gelo. E isso
levou quase extino toda raa humana de
cima; enquanto a das profundezas florescia
-
83
lentamente. Centenas de sculos se passaram at
que alguns dos nossos se aventurassem
novamente na superfcie, encontrando-a j
recuperada do holocausto atmico. Muitos
aglomerados de seres humanos foram
encontrados, mas eram seres idiotizados e quase
que em puro estado animal. Aps essa
constatao criou-se um intercmbio, com alguns
dos nossos passando a viver na superfcie e
alguns de l sendo trazidos para viverem
conosco. E isso gerou uma raa hbrida, tanto em
um lugar, como em outro. Voc uma das muitas
descendentes de nossos homens que subiram
superfcie. Chocada?
Sim! Pensei que estivesse fazendo
contato com verdadeiros deuses, a eu seria uma
semideusa. Agora vejo que no passo apenas de
uma mestia, mas tudo bem; sou feliz assim, vai
fazer o que n.
Confesso que houve poca em que nos
viam dessa forma, naquele estgio bestial era
quase impossvel qualquer explicao diferente.
S uma pergunta, por que no aparecem
l em cima e se apresentam de vez. Tipo assim,
ol, nos separamos a algum tempo, mas agora
-
84
estamos de volta e queremos viver novamente
com vocs.
Impossvel, temos uma vida subterrnea
e uma cultura diferente; o que bom para ns
pode ser prejudicial a vocs. Nossa populao
em menor nmero, mas desnecessrio dizer
que o que fazem na superfcie no nos afeta
diretamente; como pde extrair do relato que fiz
h pouco. Entretanto, foras quase to poderosas
quanto as nossas tentam domin-los e essa
juno de foras que entendemos perigosa. Por
essa razo decidimos interferir de maneira direta.
E onde eu entro nisso tudo?
Sem contar que a consideramos um dos
nossos, uma filha; se que podemos dizer assim.
Voc tem um padrinho muito forte, Trenfos, ns
sabemos que ainda no o conhece; mas ele fara
contato com voc. Queremos que confirme nosso
apoio irrestrito. Ns te daremos cobertura com o
uso de nossa tecnologia.
E o que vocs podem fazer de real, isso
est me parecendo perigoso. Querem me botar
no meio de uma guerra!
Existe um relatrio elaborado pela Junta
Aeronutica Civil dos Estados Unidos da Amrica.
-
85
Esse relatrio menciona o desaparecimento de
William Brodie, sequestrado em pleno voo de um
avio de passageiros proveniente de Fayetteville,
Carolina do Norte. Brodie foi recolhido por duas
luzes gigantescas, vista de todos a bordo.
Vocs fizeram isso?
Uma demonstrao de fora, necessria
poca. Ele e mais quatro agentes da CIA viajavam
com nomes falsos a bordo deste avio e estavam
interferindo em aes nas quais tnhamos um
interesse vital. Lgico que as interferncias ces-
saram.
Suponho que se eu estiver em perigo
usaro os mesmos recursos.
Sim! Mas estamos apenas comeando.
Alex vai coloc-la a par do que acontece: os nos-
sos inimigos e porque eles se fazem passar por
amigos de vocs na superfcie, as interferncias
deles no seu meio poltico; as tecnologias que
usamos; e, principalmente, a unio de um grupo
de jovens para impor leis e um padro de con-
duta novo.
Sem qualquer despedida o grupo inteiro se
dissolveu juntamente com os mveis que at a
pouco tempo guarneciam o salo. Alex entrou:
-
86
Vamos Mirna.
Onde?
Andar um pouco, enquanto eu conto so-
bre a natureza e origem dos homens das trevas.
T querendo me assustar, no precisa...
isso tudo j assustador olhou sua volta ,
bonito... mas assustador.
A realidade ainda pior, pense em um
lugar onde a luz no penetra. dele que vamos
falar agora.
Sou toda ouvidos... fazer o que n.
Voc e outros que agora esto na Terra,
encarnados h doze anos, pertencem ao coman-
do Jovem Eterno e recebem energia-Antuak, e
isso os fazem diferentes dos demais; no momen-
to esto espalhados por todos os cantos do
planeta. Caber a voc uni-los e nisso, como j foi
informada, vai poder contar com a ajuda de seu
protetor.
Trenfos?
Sim! Na hora certa ele vai aparecer e te
ensinar coisas que no vai aprender aqui. Torna-
se necessrio, antes desse encontro, que saiba
tudo o que existe em Mirna Jad, e o que vai
acontecer se os Seres das Trevas conseguirem o
-
87
seu intento.
Esse Trenfos uma pessoa de sua
civilizao?
Ele atuou em muitas civilizaes, hoje
um dos que comandam uma fraternidade. A
Fraternidade dos Irmos Primognitos, seres que,
como todos, vm evoluindo atravs dos tempos;
mas que alcanaram um alto grau na linha
evolutiva. E do qual voc faz parte e eu tambm.
Normalmente prestam ajuda apenas do lado
espiritual, mas desta vez foram convocados para
encarnar e agir do lado material. Eles so seu
grupo de trabalho.
Mas eu nem sei quem eles so.
Vai saber no momento certo. Ainda tem
que ser preparada. Todos estes jovens se comuni-
cam por telepatia-astral, ou seja, o pensamento
de um transmitido imediatamente a todos os
demais.
Igual um grupo do WhatsApp?
Sim! Conheo o sistema, mas nesse caso
englobando um milho de jovens.
Todos brasileiros?
No! Esto distribudos em todos os
pases.
-
88
Bom, ao menos espero que falem por-
tugus; meu ingls pssimo.
Falam muitos idiomas diferentes, mas
esse tipo de comunicao chega ao seu cons-
ciente de maneira lcida e a origem da
transmisso clara, pode vir como uma ideia, um
smbolo ou uma imagem que, por si, revela o
significado.
Pensei que isso fosse conversa fiada ou
um dom, sei l. Que requer treinamento... por a.
No no nvel de vocs, para voc
inerente, e uma espcie de mente coletiva;
quando conectada vai poder sintonizar pratica-
mente todos os jovens do planeta. Digo pratica-
mente porque existem outros conectados com as
trevas.
Mas existe treinamento pra isso, entre os
normais, quero dizer. Ou no?
Sim! O grupo teleptico russo alcanou
muitos progressos nos ltimos sessenta anos,
mas perto do que vocs podem fazer eles so
rudimentares.
Alex se referia ao grupo X-7, cujos primeiros
trabalhos conhecidos datavam do ano de 1953,
mas Mirna no se preocupou em saber detalhes.
-
89
por isso que s vezes tenho umas ideias
loucas, como se a gente pudesse fazer diferena
no mundo. Escola, sade, transporte; tudo dife-
rente mesmo. Acabar com a fome, crimes,
guerras... , seria legal!
E vocs podem mesmo, a fora dos
jovens unidos entre si faz toda diferena. Pode
crer! Voc tem que saber um pouco deste meio
de comunicao exatamente para que no o
bloqueie como uma coisa ruim. Existe a partir dos
vegetais, uma planta reconhece o ambiente em
torno de si e se comunica com outras, com entes
dvicos, com insetos, com animais e com o
homem. No reino animal, principalmente nas
espcies que possuem sistema nervoso mais
elaborado, caso do cavalo, cachorro, gato, gol-
finho e por a afora, predominam a telepatia ins-
tintiva e a emocional. Nos humanos existem res-
qucios da telepatia animal e mental, e a pos-
sibilidade de desenvolvimento de uma telepatia
superior, em nvel de alma; vocs atuam nessa
ltima.
Ento tudo bem! Quando comea meu
treinamento, no adianta s falar no. Gosto de
atitude.
-
90
Como acha que estamos no comunicando
desde que chegou aqui Mi