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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
GÊNERO, POLÍTICA E MÍDIA: A DIMENSÃO DE GÊNERO NOS DISCURSOS
SOBRE O IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF
Alessandra Ghiorzi1
Resumo: A imagem construída pela mídia é um dos principais fatores para compor uma carreira política bem-
sucedida. No que se refere às mulheres políticas, entretanto, pesquisas sobre suas representações midiáticas
demonstram a prevalência de estereótipos de gênero inadequados para o exercício político, quando não ocorre
uma completa invisibilidade da presença feminina. Esses estudos revelam um importante desafio para as
mulheres na política, cujas implicações necessitam ser consideradas quando uma mulher de fato acessa posições
de poder na estrutura administrativa do Estado. Essa dinâmica pode ser observada no período que antecedeu o
impeachment da presidenta Dilma Rousseff no Brasil, um momento constituído por embates midiáticos de alta
profusão de discursos que acionavam compreensões de gênero. Buscando contribuir para a análise desse
fenômeno, o presente trabalho pondera como o gênero foi um elemento presente na composição desses
discursos, observando tanto aqueles favoráveis à presidenta quanto os que visavam desqualificar o seu governo.
O trabalho proposto resulta de pesquisa de mestrado realizada por meio de etnografia de tela nos sites de notícias
da grande imprensa, blogs feministas e redes sociais, entre 2015 e 2016. A partir de análise qualitativa, foi
possível perceber a existência de disputas para a construção da relação entre feminilidade e poder, com
narrativas sobre a competência pública de Dilma Rousseff, por um lado, e seu caráter honesto e idôneo, de outro.
Palavras-chave: Gênero. Política. Mídia.
Introdução
No dia 01 de setembro de 2016, a Presidenta da República Dilma Rousseff foi
destituída de seu cargo, após um processo de impeachment que durou cerca de nove meses,
desde que o presidente da Câmara Federal, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), colocou
na pauta do Congresso o pedido de impedimento de Dilma. O processo foi composto por duas
votações, uma na Câmara e outra no Senado, seguida da investigação realizada por esta última
casa que decidiu pela destituição de Dilma. Após meses de debates nos púlpitos e nas
comissões do Congresso Nacional, decidiu-se que Dilma Rousseff havia cometido crime de
responsabilidade quando contratou “operações de crédito com instituição financeira
controlada pela União” e editou “decretos de crédito suplementar sem autorização do
Congresso Nacional” (Lewandowski, 2016, p. 6).
Além da dedicação integral que o legislativo brasileiro consagrou ao tema, outros
espaços teceram esse fenômeno, contribuindo para o seu resultado. Entre eles, a ocupação das
ruas por manifestantes com diferentes posicionamentos políticos. Por um lado, desde 2015,
ocorreram manifestações organizadas principalmente pelo Movimento Brasil Livre (MBL)2,
1 Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa
Catarina (PPGAS/UFSC) e pesquisadora do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS),
Florianópolis, Brasil. 2 O MBL é um movimento político brasileiro em atuação desde 2014 que defende as liberdades individuais e o
livre mercado. Tem como principal centro de atuação as manifestações pró-impeachment, mas também conta
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que chegaram ao seu auge em 13 março de 2016, quando contou com 500 mil pessoas na
cidade de São Paulo. O perfil dos participantes foi formado majoritariamente por pessoas que
se declararam brancas (77%), do sexo masculino (57%), com uma idade média de 45,5 anos e
com ensino superior (77%). 15% se declararam pardos e 4% pretos (Datafolha, 2016a). Por
outro lado, ocorreram também manifestações contra o impeachment, ou melhor, contra o que
nomearam de golpe parlamentar, midiático e jurídico acusado de ser articulado por uma elite
financeira guiada principalmente pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(FIESP)3. Essas manifestações ocorreram em diversos momentos do processo de
impeachment e alcançaram também um grande número de participantes. Em São Paulo, foram
às ruas 95 mil pessoas no dia 18 de março de 2016. Desse total, 58% se declararam homens, a
idade média dos participantes foi de 39 anos, 78% estudou até o ensino superior, 62% se
declararam brancos, 20% pardos e 14% pretos (Datafolha, 2016b).
No decurso desse processo, o impeachment de Dilma foi consagrado como a questão
nacional de maior debate do período, fenômeno permeado pela concomitante “emergência do
ódio, da fúria e da intolerância”, como descreveu Rosana Pinheiro Machado (2016, p. 25),
chegando a provocar rompimentos, como os expostos por Gustavo Lins Ribeiro, nos quais
“amizades foram desfeitas, conflitos intrafamiliares se estabeleceram ou se agudizaram numa
expressão deprimente da polarização a que havia chegado a sociedade brasileira” (2016, p.
17).
Nesse fenômeno de múltiplas dimensões, as mídias se firmaram como o ambiente
fulcral, no qual convergiram opiniões, valores e conceitos que subsidiaram a construção dos
sentidos do impeachment. O processo tomou a pauta da maior parte dos programas televisivos
e dos canais de imprensa brasileiro, com grupos de interesse atuando nesses espaços para a
produção de uma verdade sobre o impeachment. O papel das mídias nesse processo foi tão
intenso, que Gustavo Lins Ribeiro o define como um “espetáculo” e chega a dizer que
“provavelmente a TV Câmara e a TV Senado nunca tiveram eventos mais assistidos por
telespectadores em aparelhos de televisão e na internet do que suas sessões de transmissão do
processo” (2016, p. 16). Na internet, a difusão e troca de informações se intensificou e o alto
fluxo de conteúdos sobre o impeachment alcançou sites jornalísticos da grande imprensa, que
tiveram suas notícias replicadas em redes sociais como o Facebook. Essa trama de
com deputados e vereadores eleitos por diversos partidos, sendo o principal deles o PSDB. Para mais
informações, ver: https://mbl.org.br/. 3 A FIESP é uma entidade que reúne indústrias e sindicatos patronais do Estado de São Paulo, buscando efetivar
os interesses dessa classe. Para mais informações, ver: http://www.fiesp.com.br/.
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informações também é composta pelas mídias alternativas, que tem na Mídia Ninja4 a sua
referência principal, bem como pelos portais de notícias da esquerda política e os canais de
comunicação feministas, como as Blogueiras Feministas5.
Diante desse cenário composto por embates midiatizados de alta profusão de
discursos, faz-se importante compreender o que era dito para justificar ou negar o
impedimento de Dilma nos meios de comunicação online. Por se tratar da primeira mulher a
ocupar a presidência brasileira, a busca por compreender as dimensões de gênero que
envolveram essa disputa discursiva se coaduna com a produção teórica feminista sobre gênero
e política. Compreender de que modo o gênero constitui os discursos sobre o impedimento de
Dilma Rousseff contribui para entender as relações entre gênero e poder e as barreiras que
sustentam a baixa participação feminina nos espaços de poder da sociedade e o avanço pleno
da democracia.
Mídias e Trabalho de campo
Para alcançar o objetivo proposto, optamos por desenvolver uma pesquisa6 com as
mídias online, um espaço crescente de propagação de discursos e locus importante do debate
público atual. Por meio de etnografia de tela (Rial, 2004) nos sites de notícias da grande
imprensa, blogs feministas e redes sociais, entre 2015 e 2016, foram recolhidas cerca de 2.500
páginas de matérias, postagens e comentários sobre o impeachment. Esse material foi
escolhido, em um primeiro momento, a partir de sua ligação com aspectos de gênero.
Entretanto, aqueles discursos que se repetiam e aparentemente não constavam qualquer
relação com os preceitos de gênero foram coletados.
O material empírico foi obtido a partir da navegação pela internet em sites como Folha
de S. Paulo, O Estado de São Paulo e Carta Capital, por se tratarem dos maiores veículos de
comunicação do país, tendo suas notícias comumente replicadas por jornais de menor alcance,
obedecendo ao padrão do caleidoscópio convexo. Segundo esse conceito, apesar de as notícias
parecerem ser uma variedade desconexa, infinita e em constante transformação, elas são
formadas “por uma pequena quantidade de fragmentos, multiplicada por um jogo de espelhos
que é o próprio sistema na mídia, em que cada veículo ecoa o outro” (Miguel e Biroli, 2011,
p. 3).
4 http://midianinja.org/ 5 http://blogueirasfeministas.com/ 6 O presente trabalho é um recorte da pesquisa de mestrado que compõe a dissertação a ser defendida no
PPGAS-UFSC, sob a orientação da professora doutora Miriam Pillar Grossi.
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Outro espaço de coleta de dados foi o Facebook. A partir de minha conta pessoal, fiz
inscrição em diversos grupos contra e pró-impeachment, coletando suas postagens e também
as reportagens compartilhadas. Muito do que percorria por minha time-line também é produto
de meu círculo de amizade, predominantemente composto por feministas e pessoas que se
assumiram contra o golpe. Então, várias reportagens compartilhadas por esses contatos
também compuseram o material coletado.
Essa inserção em campo foi nomeada de etnografia de tela por se aproximar do
trabalho desenvolvido pela antropóloga Carmen Rial (2012 e 2004), no qual a autora coleta
conteúdos postados pelos seus interlocutores de pesquisa em redes sociais, sugerindo também
o desenvolvimento de pesquisas sobre a programação televisiva. Segundo Rial (2004, p. 30),
a etnografia de tela é “uma prática de trabalho de campo, fundada em uma prática de coleta e
análise de dados extensa e longa, que permite aos pesquisadores atingirem um grau elevado
de compreensão do grupo social ou do texto estudado, mantendo uma reflexividade”. Esse
método se apropria de técnicas da etnografia clássica desenvolvida na antropologia, como o
uso de diário e imersão em campo, que nesse caso é em frente ao computador navegando na
internet.
É importante acrescentar que, assim como a antropologia clássica e a antropologia
urbana (Velho, 1981), longe de capturar a totalidade do conteúdo cultural (Magnani, 1996), a
pesquisadora online apenas vê uma dimensão dos acontecimentos. E, de acordo com parte da
epistemologia feminista, a pesquisa científica se afasta da ideia de neutralidade científica,
produto do racionalismo moderno (Flax, 1991). Por isso, o objetivo desse trabalho é
demonstrar apenas uma das possíveis dimensões do fenômeno do impeachment de Dilma.
Saliento que esta reflexão não é sobre Dilma Rousseff, mas sobre as disputas discursivas que
buscaram rotular, classificar e formar a personalidade de Dilma. Assim, é mais um discurso
sobre Dilma dentre vários outros que se cruzam sobre ela.
Feminilidade, competência e loucura: as críticas contra Dilma durante o processo de
impeachment
Desde que Dilma adentrou o universo da política nacional, sendo instituída Ministra
de Minas e Energia do Governo Lula em 2003, sua feminilidade foi objeto de agitada
discussão. Com óculos de lentes grossas, terninhos de tons opacos e peso acima do
considerado adequado, sua aparência foi analisada por especialistas de todos os tipos (Biroli,
2010). Essa avaliação se ampliou quando foi indicada candidata do Partido dos Trabalhadores
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(PT) para ocupar a presidência em 2011, o que também acarretou em transformações
cirúrgicas que, segundo algumas perspectivas jornalísticas, procuraram “dar traços delicados”
à candidata, ressaltando seus aspectos “femininos” e diminuindo a “severidade” de sua
expressão (Clemente e Leitão, 2009). Sua aparência foi cuidadosamente reformulada por
especialistas do mundo da moda e por João Santana, este responsável pelo marketing político
de Dilma durante as campanhas presidenciais de 2010 e 2014.
Quando os discursos pró-impeachment passaram a se difundir, no início do segundo
mandato de Dilma, essas normas e avaliações foram novamente acionadas nesse novo debate
nacional. Aqui, dois textos jornalísticos se destacaram: o editorial publicado pela Época em
20 de agosto de 2015, intitulado “Dilma e o Sexo” (Vieira, 2015), e o texto publicado pelo
Correio Popular em 21 de março de 2016, intitulado “Uma pessoa pra namorar a Dilma”
(Motta, 2016). Ambos os autores defendiam que o governo de Dilma seria mais próspero se
ela se apropriasse de alguns signos de feminilidade. Isso requereria que ela encontrasse um
parceiro amoroso e sexual para “nutrir” sua “expressão feminina”, sendo necessário também
transformar seu modo de se vestir e se comportar, que “tornou-a uma mulher assexuada”
(Vieira, 2015). Esse parceiro amoroso “mobilizaria a sua alma feminina e ela passaria a sentir
os brasileiros ao invés de os enfrentar”, saindo do círculo restrito ao qual se impôs, já que “só
se dedica ao trabalho de se manter no cargo”, contribuindo também para “sair um pouco desse
escafandro de guerrilheira e autoridade obstinada” (Motta, 2016).
Os textos jornalísticos descritos demonstram preocupação com a dedicação excessiva
de Dilma ao trabalho, resultando em pouco investimento em sua vida amorosa e sexual,
construindo uma vida de solidão e celibato, que culminaria no seu fracasso político. Mas
também ressaltam a preocupação com seu temperamento, problematizando a busca de Dilma
pela autoridade, rudeza e severidade em sua postura, colocadas em oposição à sensibilidade e
ao acolhimento, alocados no campo da feminilidade, aspecto do qual Dilma deveria se
investir. Esses discursos sobre celibato, solidão, severidade e autoridade podem ser
relacionados a outros bastantes difundidos pela imprensa durante o impeachment, que
buscaram descrever Dilma como uma política isolada, orgulhosa, arrogante e autoritária, que
age por conta própria, com falta de humildade para dialogar com políticos e empresários
(Dubeaux, et. al., 2015). Inúmeras foram as reportagens com fotos de Dilma sozinha ao lado
de uma cadeira vazia e tantas outras afirmaram que Dilma não possuía apoio político dentro e
fora do PT. A própria sentença do impedimento é a acusação de que ela tomou medidas
econômicas sem autorização do Congresso.
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Talvez seja possível problematizar se a definição de Dilma como uma mulher
orgulhosa e autoritária estaria também ligada a uma exigência de que ela deveria se limitar
aos parâmetros esperados para a feminilidade: humildade, colaboração, afetividade e
acolhimento. Nesse sentido, tornar-se menos severa, autoritária e orgulhosa em sua postura
política poderia significar se tornar mais feminina, isto é, ocupar uma postura de subordinação
ou colaborativa. Segundo Kathya Araujo (2007), Luiz Felipe Miguel e Flávia Biroli (2014),
muitas mulheres políticas encontram dificuldade em sua trajetória profissional em função da
expectativa de que elas se restrinjam aos comportamentos femininos de humildade e
afetividade, características de difícil conciliação com a autoridade esperada dos cargos
políticos, onde debates e defesas de ideias estão fundados em convicção e liderança.
A esses argumentos somaram-se reiteradas afirmações de que Dilma é “louca”, com
diversas reportagens questionando sua saúde mental de forma direta ou indireta a partir de
diferentes argumentos. Sobre a gestão econômica de Dilma, a Hora do Povo trouxe uma
crítica ao ajuste fiscal promovido pelo governo a partir de 2015, em reportagem intitulada
“Louca inicia 3º onda de cortes e impostos para engordar bancos: por menos que isso D.
Maria I foi internada” (Lopes, 2015).
Identificamos também a associação entre o esporte matinal praticado por Dilma,
pedalar, e a política de seu governo, abrindo a possibilidade de interpretar que muitos dos
atores sociais analisados defenderam a insanidade de Dilma por esse caminho narrativo.
Inúmeras foram as matérias publicadas com fotos de Dilma pedalando, com títulos e textos
que buscaram atribuir o estado de espírito de Dilma praticando o esporte como a expressão de
sua alienação ao momento político e econômico vivido pelo país. Os títulos de diversas
reportagens expressam essa interpretação: “Enquanto o país afunda, Dilma pedala em Porto
Alegre” (Folha Centro-Sul, 2016).
A ideia de que Dilma possui um “temperamento irascível” (Souza, 2016),
demonstrando abalar-se com as denúncias contra seu governo pela expressão de
“xingamentos” quando ficava “nervosa” (Dias, Uribe e Cruz, 2016) se disseminou na mídia,
atingindo o auge com uma reportagem da IstoÉ. Lançada 16 dias antes da votação no
Congresso que autorizaria o início das investigações pelo Senado, a publicação defendia que
Dilma estava “fora de si” e por isso não possuía mais a capacidade para presidir o país. Os
autores descreviam que ela estava medicada com calmantes e um medicamento para tratar
“esquizofrenia”, já que a presidente tinha “surtos”, tratando seus subordinados de forma
“agressiva”, “negando a realidade”. Os autores também repetem a ideia de que ela estaria
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isolada, descrevendo uma cerimônia do Palácio do Planalto em que “nenhum governador se
dignou a ir” (Pardellas e Bergamasco, 2016).
A busca de Dilma por utilizar o feminino genérico foi interpretada como uma falta de
inteligência e expressão da sua incapacidade de governar. O uso do feminino para “mosquita”,
“presidenta” e “mulher sapiens” entraram nesse meandro. Em entrevista à TV Veja (2016), o
autor do livro “Dilmês: o idioma da mulher sapiens”, Celso Arnaldo Araújo, defende que
Dilma tinha um “lapso mental” que criava um novo idioma, caracterizado pelo uso do
feminino, mas também por suas construções linguísticas. Outros autores apontam que Dilma é
“desprovida de lógica”, possuindo um “discurso absurdo” que revelaria os “problemas
mentais” da presidente (Canal Gama, 2015). Repetia-se a ideia de que havia “delírio” nas
falas de Dilma, uma conversa de “maluco de hospício” (Hasselmann, 2015).
Orgulho, celibato, solidão, alta dedicação ao trabalho e atitudes consideradas próprias
para os homens também foram características encontradas nos prontuários das mulheres
internadas em instituições psiquiátricas. Segundo a pesquisa realizada por Maria Clementina
Pereira Cunha (1989) no Hospício do Juquery, em São Paulo, no início do século XX, o perfil
dos prontuários de mulheres indicava que a sanidade feminina era condicionada ao
enquadramento nos papéis de dona de casa, mãe dedicada e esposa sensível. Os padrões de
normalidade e anormalidade estabelecidos a partir do século XIX pelas ciências médicas e
psiquiátricas, juntamente com a produção teórica dos clássicos da teoria política estabelecida,
definiram parâmetros de normalidade fundada em crenças de gênero (Laqueur, 2001). Esses
escritos desenvolveram um grupo de teses sobre a natureza feminina que deveria corresponder
ao comportamento das mulheres. Aquelas que não se enquadravam nesses parâmetros
enfrentaram as consequências das instituições totais. Atualmente, com a alta ocupação de
mulheres no espaço público, a subversão talvez ocorra quando elas não se mantêm em um
lugar subordinado diante dos homens de seu meio.
O contra discurso feminista: Dilma é mulher forte, honesta e injustiçada7
Durante o decurso do impeachment de Dilma Rousseff, uma das fortes correntes que
se posicionou contra o processo foi composta por mulheres que, organizadas ou não em
coletivos e movimentos feministas, se pronunciaram em jornais da grande imprensa, blogs de
esquerda e canais feministas. Buscando denunciar o impeachment como um golpe “machista”
7 As considerações que compõem este tópico fazem parte de uma primeira análise dos dados, por isso ainda se
encontram iniciais.
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e “misógino”, elas passaram a desvendar os “preconceitos” de gênero que Dilma vinha
sofrendo, o que também revelava as relações de poder às quais parte das mulheres estão
submetidas na organização social brasileira. Mulheres políticas, personalidades públicas,
artistas, pesquisadoras e militantes feministas, segundo a perspectiva de muitas reportagens,
assumiram um grande protagonismo na luta contra o golpe, organizando grandes marchas,
atos, encontros e ativismo online, movimento o qual foi chamado por muitas de “primavera
feminista” (Sputnik News, 2015).
Um dos momentos em que essa ofensiva foi bastante visível foi nos contrapontos às
reportagens “sexistas” disparadas pela imprensa que apoiava o golpe. Conforme foram sendo
publicadas reportagens como a da IstoÉ (Pardellas e Bergamasco, 2016), citada
anteriormente, e outras, como a da Veja, “Marcela Temer: Bela recata e ‘do lar’” (Linhares,
2016), um grande movimento de mulheres passou a questionar o conteúdo reportado. Esta
última – uma descrição da vida de Marcela Temer nos cuidados do lar, do filho, do marido e
da beleza juntamente com uma efusiva expectativa de que ela se tornasse primeira-dama em
breve – foi recebida por parte das brasileiras como um recado sobre o lugar social esperado
para elas. Em resposta, essas mulheres postaram imagens contendo mulheres bebendo e/ou
em poses sensuais, juntamente com os dizeres irônicos “Bela, recata e do lar”, demonstrando
que os papeis tradicionais atribuídos às mulheres não são consenso. Já no caso do editorial da
Época (Vieira, 2015), as contraofensivas foram tão fortes que levaram a revista a tirar do ar o
texto, alocando no espaço um pedido de desculpas. Esse fenômeno demonstra que na
contemporaneidade não são mais admitidas expressões jornalísticas abertamente pautadas em
discriminações de gênero, mas que, contudo, esses princípios ainda atuam na organização dos
discursos jornalísticos (Miguel e Biroli, 2011).
Assim, boa parte do conteúdo feminista produzido nesse momento político foi em
contraposição aos aspectos “machistas” do golpe, que, além das reportagens da grande
imprensa, contavam também com agentes políticos contrários aos avanços feministas que
buscavam derrubar Dilma para assumir o poder. Essa manobra foi claramente vista por essas
mulheres, que denunciaram que o inimigo dos direitos das mulheres estava em busca de
assumir o poder. Eduardo Cunha, que presidiu e guiou na Câmara Federal o processo de
impeachment, é uma dessas figuras reconhecidas. Em entrevista ao site de notícias Sputnik
News (2015), Talita Tanscheit, universitária e “destacada militante da Marcha Mundial das
Mulheres”, diz que “Cunha é um opositor antigo dos direitos das mulheres” e que a busca por
defender Dilma do processo de impeachment vem aliada à luta contra Cunha e o que ele
representa. Nesse sentido, quando o vice-presidente Michel Temer assumiu o governo
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provisório e nomeou apenas homens brancos para os ministérios, as mulheres saíram em
busca de denunciar que o golpe é feito por homens com interesses machistas.
Na produção dessa contraofensiva feminista, essas mulheres também produziram um
discurso sobre Dilma. Talvez o conceito mais difundido por elas seja este do caráter
“honesto” de Dilma. A ideia de que não havia nenhum crime contra ela foi várias vezes
repetida e comparada com a lista de denúncias contra os homens que buscavam derrubá-la. Na
mesma entrevista, Talita Tanscheit aponta que “é importante colocar que contra Dilma não
tem nenhuma denúncia [...] e no caso de Cunha é totalmente o oposto disso” (Sputnik News,
2015). Na quase totalidade dos pronunciamentos das mulheres, a honestidade de Dilma quase
nunca foi questionada, sempre a colocando como uma política “integra” e “digna”. Na mesma
medida, as críticas às políticas de seu governo foram sempre enfaticamente lembradas e
listadas, defendendo que Dilma deveria aprofundar as políticas pelos direitos reprodutivos e
outras pautas feministas que não foram implementadas.
O processo que ela enfrentava era visto com uma “injustiça” e até mesmo como uma
“violência contra a mulher”, pois essas mulheres identificavam que Dilma passava por
diversas violências de gênero. “Tchau querida não é uma expressão que se diga a um homem.
Há todo um discurso que eu não tenho dúvidas que é machista, sexista [...]. O sexo de Dilma,
o fato de ela ser mulher, contribuiu para toda essa animosidade. [...]” (Duarte, 2016).
A interpretação de que a postura da Dilma era produto de uma força feminina foi
amplamente difundida. Conforme as ofensas e os ataques contra Dilma aumentavam, sua
decisão de não renunciar e enfrentar todas as etapas do processo de impeachment foram
percebidas como demonstração de sua força. Multiplicavam-se questionamentos como o de
Rose Nogueira, coordenadora da organização Tortura Nunca Mais e companheira de cela de
Dilma durante a ditadura militar: “A gente se pergunta: como uma pessoa pode aguentar
tanto?” (Prazeres, 2016). Outra demonstração da difusão dessa perspectiva foi o
compartilhamento de um novo vocábulo, o verbo Dilmar: “lutar, se fazer escutar, enfrentar,
aturar, suportar, aguentar, falar sem medo, se defender incansavelmente de uma acusação.
(Pop) Não fazer mi mi mi. Dilmar é o oposto de temer” (Almeida, 2016).
Conclusões
No decorrer do presente trabalho, buscamos demonstrar que ambos os discursos sobre
o impedimento de Dilma Rousseff, tanto os favoráveis ao seu governo quanto as oposições,
acionaram preceitos de gênero. Por um lado, os apoiadores do impeachment defenderam a
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ideia de loucura, incompetência, falta de inteligência, autoritarismo e incapacidade para
articulação política para criticar o governo de Dilma. Por sua vez, os discursos feministas que
defenderam a continuidade da gestão da presidenta alegaram que as ofensivas pró-
impeachment eram “machistas”, construindo a defesa de Dilma a partir de outros significados
de gênero: honestidade e força feminina. Em ambas as frentes, o gênero de Dilma sempre
esteve em questão.
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Gender, politics and media: the gender dimension in the discourses about the
impeachment of Dilma Rousseff
Abstract: The image constructed by the media is one of the main factors for a well-succeeded
political career. When it comes to women politicians, however, researches about their
representation in the media demonstrate rather invisibility or the prevalence of gender
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
stereotypes that are considered to be inadequate for political activity. These studies reveal an
important struggle for women in politics, one whose implications need to be considered when
a woman actually accesses powerful positions in the state’s government administration. This
phenomenon could be observed during the time followed by Dilma Rousseff’s impeachment
in Brazil, a moment when media debates were highly triggering values and comprehensions
of gender. The following work is concerned with analyzing gender as an element present in
the composition of discourses about president Dilma’s impeachment, observing how it
operated in those which were favorable to the former president and in those which were
disqualifying her government. The proposed article results of cyber-ethnography in
mainstream news corporation’s websites, feminist blogs and social media online, a research
which took place between 2015 and 2016. Through qualitative analysis of the data, the
disputes to relate power and femininity were brought to evidence, as they became visible by
comparing the narratives about Dilma Rousseff’s incapacity for ruling the country and those
about her honest character, both attributes considered to be feminine in Brazil.
Keywords: Gender. Politics. Media.