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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS Fernando Lisboa Pinto de Figueiredo Gnaisse Turvo Registro de Magmatismo Paleoproterozóico no Terreno Paraguá Sudoeste do Cratón Amazônico em Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso. Orientador Amarildo Salina Ruiz Co-orientadora Maria Zélia Aguiar de Souza CUIABÁ 2010

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

Fernando Lisboa Pinto de Figueiredo

Gnaisse Turvo – Registro de Magmatismo Paleoproterozóico no

Terreno Paraguá – Sudoeste do Cratón Amazônico em Vila Bela

da Santíssima Trindade, Mato Grosso.

Orientador

Amarildo Salina Ruiz

Co-orientadora

Maria Zélia Aguiar de Souza

CUIABÁ

2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

REITORIA

Reitora

Profa. Dra. Maria Lúcia Cavalli Neder

Vice-Reitor

Prof. Dr. Francisco José Dutra Souto

PRÓ-REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO

Pró-Reitora

Profa. Dra. Leny Caselli Anzai

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

Diretor

Prof. Dr. Edinaldo de Castro e Silva

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

Chefe

Prof. Dr. Paulo Cesar Correa da Costa

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

Coordenador

Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz

Vice-Coordenadora

Profa. Dra. Maria Zélia Aguiar de Souza

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Nº14

Gnaisse Turvo – Registro de Magmatismo Paleoproterozóico no

Terreno Paraguá – Sudoeste do Cratón Amazônico em Vila Bela

da Santíssima Trindade, Mato Grosso.

Fernando Lisboa Pinto de Figueiredo

Orientador

Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz

Co-Orientadora

Profa. Dra. Maria Zélia Aguiar de Sousa

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Geociências do

Departamento de Recursos Minerais da

Universidade Federal de Mato Grosso

como requisito parcial à obtenção do

Título de Mestre em Geociências.

CUIABÁ

2010

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Universidade Federal de Mato Grosso – http://ufmt.br

Instituto de Ciências Exatas e da Terra – http://ufmt.br

Curso de Geologia – http://ufmt.br

Departamento de Recursos Minerais – http://ufmt.br

Programa de Pós-Graduação em Geociências – [email protected]

Campus Cuiabá – Avenida Fernando Corrêa, s/nº - Coxipó

78.060-900 – Cuiabá, Mato Grosso

Fone: (65) 3615-8000 – Fax: (65) 3628-1219 – E.mail: – http://ufmt.br

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Nenhuma parte desta publicação poderá ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada ou reproduzida por meios mecânicos ou eletrônicos, ou utilizada sem a observância das normas de direito autoral.

Depósito Legal na Biblioteca Nacional

Edição 14a

Catalogação elaborada pela Biblioteca Central do Sistema de Bibliotecas e Informação – SISBIB –

Universidade Federal de Mato Grosso

Figueiredo, Fernando Lisboa Pinto de

ORTOGNAISSE TURVO – REGISTRO DE MAGMATISMO PALEOPROTEROZÓICO NO TERRENO PARAGUÁ – SW DO CRÁTON AMAZÔNICO, VILA BELA DA SANTÍSSIMA TRINDADE, MATO

GROSSO.

[manuscrito]. / Fernando Lisboa Pinto de Figueiredo – 2010

xiv, 59f.; il. Color. (Contribuições às Ciências da Terra, n. 14).

Orientador: Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz

Co-Orientadora: Profa. Dra. Maria Zélia Aguiar de Sousa

Dissertação (Mestrado): Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Ciências Exatas e da Terra.

Departamento de Recursos Minerais. Programa de Pós-Graduação em Geociências.

Área de Concentração: Geologia Regional e Recursos Minerais.

1. Geologia – Dissertação. 2. SW do Cráton Amazônico – Dissertação. 3. Ortognaisse Turvo –

Dissertação. 4. Estudo petrológico – Dissertação. I. Universidade Federal de Mato Grosso.

Departamento de Recursos Minerais. II. Título.

CDU:

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Gnaisse Turvo – Registro de Magmatismo Paleoproterozóico no

Terreno Paraguá – Sudoeste do Cratón Amazônico em Vila Bela

da Santíssima Trindade, Mato Grosso.

Dissertação de Mestrado aprovada em 23 de Setembro de 2010.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz

Orientador (UFMT)

Prof. Dr. Carlos Humberto da Silva

Examinador Interno (UFMT)

Prof. Dr. Moacir José Buenano Macambira

Examinador Externo (UFPA)

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Dedicatória

À Deus e à minha família (amor incondicional!!!)

“Aprendi o silêncio com os falantes, a tolerância com os intolerantes e a gentileza com os rudes.

Ainda, por estranho que possa parecer, sou ingrato a esses professores.”

(Kalil Gibran).

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Agradecimentos

Agradeço o crédito, o apoio e a confiança a mim proporcionados pelas pessoas que participaram

na construção e finalização desse trabalho.

Em especial agradeço o amigo e orientador Professor Doutor Amarildo Salina Ruiz pela sua

inesgotável paciência, além, é claro, da enorme contribuição no incremento do meu ainda limitado

conhecimento a respeito das ciências geológicas.

Não menos importante, agradecimento muito especial merece a amiga e co-orientadora

Professora Doutora Maria Zélia Aguiar de Sousa pela sua enorme habilidade em expressar idéias e

conceitos na forma de palavras e pela gigantesca contribuição na melhora deste trabalho.

Agradeço todos os colegas pela parceria e amizade se destacando, entre eles, a minha amiga

Patrícia Alves Nalon por proporcionar companheirismo e suavidade na dureza do caminho.

Ao laboratório PARÁ-ISO (UFPA) pelo uso, apoio e orientação no procedimento de datação

pelo método Pb-Pb, em especial aos professores Moacir José Buenano Macambira e Marco Antônio

Galarza.

A CAPES pela concessão de bolsa durante todo o mestrado e ao PROCAD nº. 096/2007 pelo

custeio das análises químicas e geocronológicas.

Obrigado!

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Sumário

Agradecimentos ................................................................................................................... vii Sumário .............................................................................................................................. viii

Lista de Figuras..................................................................................................................... ix Resumo .................................................................................................................................. x

Abstract ................................................................................................................................ xi Capítulo 1 ............................................................................................................................. 1

Introdução .............................................................................................................................. 1 1.1 – Apresentação do Tema .................................................................................................. 1

1.2 – Objetivo ........................................................................................................................ 2 1.3 – Localização e Vias de Acesso ........................................................................................ 2

1.4 – Materiais e Métodos de Pesquisa ................................................................................... 3 1.5 – Etapa de Preparação ...................................................................................................... 3

1.6 – Etapa de Aquisição dos Dados ....................................................................................... 4 1.6.1 – Trabalho de Campo .................................................................................................... 4

1.6.2 – Trabalho de Laboratório ............................................................................................. 4 1.6.2.1 – Análises Petrográficas ............................................................................................. 4

1.6.3 – Geoquímica de Rocha ................................................................................................. 5 1.6.4 – Geocronologia ............................................................................................................ 5

1.7 – Etapa de Tratamento e Sistematização dos Dados .......................................................... 7 1.8 – Etapa de Elaboração da Dissertação............................................................................... 8

1.9 – Contexto Geológico Regional ........................................................................................ 8 1.9.1 – Sudoeste do Cráton Amazônico .................................................................................. 9

1.9.1.1 – Província Rondoniana-San Ignacio .......................................................................... 9 1.9.1.2 – Terreno Paraguá .................................................................................................... 10 Capítulo 2 ........................................................................................................................... 13

Artigo .................................................................................................................................. 13 Resumo ................................................................................................................................ 14

Abstract ............................................................................................................................... 15 Introdução ............................................................................................................................ 16

Contexto Geológico Regional .............................................................................................. 16 Cráton Amazônico ............................................................................................................... 16

Terreno Paraguá ................................................................................................................... 20 Geologia e Petrografia ......................................................................................................... 23

Deformação ......................................................................................................................... 28 Primeira Fase de Deformação (F1)........................................................................................ 28

Segunda Fase de Deformação (F2)........................................................................................ 32 Geoquímica.......................................................................................................................... 37

Geocronologia ..................................................................................................................... 48 Metodologia Pb-Pb em Evaporação de Zircão ...................................................................... 48

Resultados Analíticos ........................................................................................................... 49 Capítulo 3 ........................................................................................................................... 52

Discussões e Considerações Finais ....................................................................................... 52 Discussões ........................................................................................................................... 52

Agradecimentos ................................................................................................................... 55 Referências Bibliográficas ................................................................................................... 55

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Lista de Figuras

Figura 1.1 - Mapa de localização da área de estudo. .............................................................. 3

Figura 1.2 - Compartimentação geotectônica do Cráton Amazônico (Tassinari & Macambira

2000, 2004) modificada por Ruiz (2005). ............................................................................... 9

Figura 1.3 - Mapa geotectônico do sudoeste do Cráton Amazônico (Ruiz 2009) com indicação

da localização da área de estudo. .......................................................................................... 11

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x

Resumo

O Gnaisse Turvo, objeto deste trabalho, corresponde a um ortognaisse polideformado exposto

na região de Vila Bela da Santíssima Trindade, sudoeste do estado de Mato Grosso. Do ponto

de vista geotectônico, está inserido no Cráton Amazônico e representa o embasamento

paleoproterozóico do Terreno Paraguá, um dos blocos crustais que formam a Província

Rondoniana-San Ignácio (1550 – 1300 Ma). Duas fácies foram identificadas a partir do estudo

petrográfico: granada-anfibólio-biotita gnaisse formada por rochas de composição

granodiorítica e anfibólio-biotita gnaisse, mais abundante, de composição granodiorítica a

sienogranítica. A paragênese identificada caracteriza o metamorfismo responsável por esses

gnaisses como da fácies anfibolito. A análise estrutural caracteriza duas fases de deformação

em nível crustal dúctil. A mais antiga (F1) é responsável pelo desenvolvimento do bandamento

gnáissico, enquanto as estruturas da fase (F2), orientadas segundo a direção N30–60W indicam

esforços compressivos com transporte tectônico de SW para NE. A idade de cristalização do

Gnaisse Turvo, definida pelo método Pb-Pb em evaporação de zircão, corresponde a 1651 ± 4

Ma, sendo interpretada como idade de colocação do protólito ígneo. Os dados litogeoquímicos

indicam que significativo magmatismo cálcio-alcalino de alto K, metaluminoso a

peraluminoso, associado à evolução de arcos magmáticos em ambiente de subducção (Orogenia

Lomas Manechi – 1700 a 1600 Ma), dominava o período estateriano no Terreno Paraguá. A

unidade ortognáissica estudada foi posteriormente retrabalhada metamórfica e tectonicamente,

durante a Orogenia San Ignácio (1400 a 1300 Ma).

Palavras-chave: Gnaisse Turvo, Cráton Amazônico, Terreno Paraguá, Geocronologia (Pb-Pb)

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Abstract

The Turvo Gneiss, object of this work, corresponds to a polideformed orthogneiss exposed in

the region of Vila Bela da Santíssima Trindade, southwestern of state of Mato Grosso. From

the tectonic point of view, is inserted into the Amazonian Craton and represents the

Paleoproterozoic basement of the Paraguá Terrain, one of the crustal blocks that form the

Rondonian-San Ignacio Province (1550 – 1300 My). Two facies were identified from

petrographic study: garnet-amphibole-biotite gneiss of granodiorite composition and biotite-

amphibole gneiss, more abundant, with granodioritic to syenogranitic composition. The

identified metamorphic paragenesis is characterized as responsible for these gneisses of

amphibolite facies. The structural analysis recorded two stages of deformation in ductil crustal

level. The oldest (F1) is responsible for developing of the gneissic banding, whereas the

structures of F2 phase oriented according to N30-60W, indicated compressive stress with

tectonic transport from SW to NE. The age of crystallization of the Turvo Gneiss defined by

Pb-Pb method on zircon evaporation corresponds to 1651 ± 4 My and is interpreted as

emplacement age of igneous protolith. The data indicate that the significant lithogeochemical

calcium-alkaline magmatism of high K, metaluminous to peraluminous, associated with

magmatic evolution in a subduction environment (Lomas Manechi Orogeny – 1700 to 1600

My), dominated the period Estaterian in the Paraguá Terrain. The study orthogneissic unit was

later reworked, metamorphic and tectonically, during the San Ignacio Orogeny (1400 to 1300

My).

Keywords: Turvo Gneiss, Amazonian Craton, Paraguá Terrain, Geochronology (Pb-Pb)

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Capítulo 1

Introdução

1.1 – Apresentação do Tema

O Terreno Paraguá tem sido descrito como um fragmento crustal alóctone, acrescido

à margem do proto-cráton Amazônico durante o Mesoproterozóico e Neoproterozóico (Boger

et al. 2005, Ruiz 2009, Bettencourt et al. 2010, inicialmente descrito e denominado de “Cráton

Paraguá” por Litherland et al. 1986). Segundo Boger et al. (2005) sua aglutinação teria ocorrido

durante a Orogenia Sunsás (1000 a 900 Ma), enquanto Ruiz (2005, 2009) e Bettencourt et al.

(2010) sugerem a Orogenia San Ignácio (1370 a 1300 Ma) como responsável pela colisão do

Terreno Paraguá ao Cráton Amazônico. Santos et al. 2008 descrevem o Terreno Paraguá e

interpretam uma evolução “in situ” para este bloco crustal.

A partir dos trabalhos pioneiros de Litherland et al. (1986) se reconhece em território

boliviano uma configuração geológica que inclui um embasamento metamórfico

paleoproterozóico composto por complexos gnáissico-granulíticos e faixas de supracrustais

metassedimentares intrudidos por expressivo magmatismo de natureza plutônica ácida

mesoproterozóico retrabalhados durante atuação da Orogenia San Ignácio.

Na região de Vila Bela da Santíssima Trindade, sudoeste do estado de Mato Grosso,

aflora a porção extremo oriental do Terreno Paraguá limitada a leste pelo Terreno Rio Alegre e

as unidades litoestratigráficas que constituem este terreno nessa região são representadas pelo

embasamento gnáissico, objeto deste trabalho, que serve de encaixante para o Granito Fronteira,

Gnaisse Shangri-lá e para as rochas do Complexo Granitóide Pensamiento que é constituído

pelo Batólito Guaporeí (Nalon et al. no prelo), plugs e diques do Granito Passagem (Jesus et

al. no prelo). O Grupo Aguapeí, representado por conglomerados e arenitos da Formação

Fortuna, depositou-se em discordância erosiva sobre as unidades intrusivas gabróicas,

graníticas e gnáissicas do embasamento, sem apresentar, de acordo com os afloramentos

encontrados, evidências de deformação dúctil e/ou metamorfismo.

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1.2 – Objetivo

O propósito deste trabalho é caracterizar o Ortognaisse Turvo do ponto de vista

petrográfico e estrutural e, com o emprego de geoquímica (elementos maiores, traços e terras

raras) e geocronologia pelo método Pb-Pb em evaporação de zircão, definir seu significado

petrológico e idade. Buscar-se-á também identificar seu posicionamento tectônico na evolução

do Terreno Paraguá em território brasileiro.

1.3 – Localização e Vias de Acesso

A área de estudo está localizada no município de Vila Bela da Santíssima Trindade,

Mato Grosso, na porção sudoeste da Serra de Ricardo Franco; contida nos domínios da Folha

Casalvasco (SD - 20 - Z - D – II), na escala de 1:100.000 elaborada pela Diretoria de Serviço

Geográfico do Ministério do Exército, delimitada pelas seguintes coordenadas geográficas: 14º

45’ 00’’ S e 60º 26’ 10” W; 15º 35’ 10” S e 59º 36’ 00” W. A área do corpo perfaz cerca de 200

km2 e o acesso é feito, a partir de Cuiabá pela BR-070 até Cáceres, em seguida pela BR-174 até

Pontes e Lacerda e pela MT-246 até a sede do município de Vila Bela da Santíssima Trindade

(Fig.1.1). O trajeto à área é realizado por estradas secundárias não pavimentadas que permitem

o acesso às fazendas da região. As condições de tráfego durante a estação de seca são boas,

porém, no período das chuvas a locomoção em alguns trechos fica comprometida.

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Figura 1.1 – Mapa de localização da área de estudo.

1.4 – Materiais e Métodos de Pesquisa

Os métodos empregados na realização desta pesquisa são os mesmos utilizados em

mapeamentos geológicos sistemáticos e podem ser subdivididos em quatro fases: etapa de

preparação; etapa de aquisição de dados (em campo e laboratório); etapa de tratamento e

sistematização de dados e etapa de elaboração da dissertação.

1.5 – Etapa de Preparação

Nesta etapa, fez-se o levantamento bibliográfico de trabalhos geológicos realizados na

região sudoeste do cráton Amazônico, tendo por base, o Proyeto Precambrico, artigos

científicos e, principalmente, monografias de conclusão do curso de geologia da Universidade

Federal de Mato Grosso desenvolvidas na área de estudo. Posteriormente, realizou-se o

levantamento quantitativo das amostras de mão, seções delgadas e pontos de afloramento

disponíveis a fim de se gerar um banco de dados.

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Elaborou-se o mapa base a partir da interpretação de imagens de satélite, com o auxílio

dos softwares ArcMap, versão 9.3 e Corel Draw, versão 14.

1.6 – Etapa de Aquisição dos Dados

Este item descreve as atividades realizadas para a obtenção dos dados em campo e em

laboratório (análise petrográfica, geoquímica de rocha e geocronologia Pb-Pb).

1.6.1 – Trabalho de Campo

Corresponde à complementação do mapeamento geológico sistemático, na escala de

1:100.000, realizado em anos anteriores através de trabalhos de conclusão do curso de geologia.

Os novos trabalhos de campo foram realizados em duas etapas, uma em abril e outra em

dezembro de 2009, buscando detalhamento de afloramentos-chave com coleta de amostras para

análises petrográficas e químicas além da caracterização das variações petrográficas

classificadas na unidade. Os pontos amostrados e descritos foram registrados por um aparelho

GPS (Global Position System) GARMIN e-Trex H e as medidas de foliações foram obtidas

com uma bússola do tipo CLAR, da marca Krantz.

1.6.2 – Trabalho de Laboratório

1.6.2.1 – Análises Petrográficas

A realização do estudo qualitativo envolveu descrições de 84 amostras e 20 seções

delgadas com o intuito de se caracterizar detalhadamente os tipos petrográficos, enfatizando

feições mineralógicas, texturais e paragêneses das rochas do Gnaisse Turvo.

As seções delgadas foram confeccionadas e estudadas nos laboratórios de Laminação

e Pesquisa Petrográfica do Departamento de Recursos Minerais (DRM) da Universidade

Federal de Mato Grosso (UFMT), com o auxílio de um microscópio petrográfico Olimpus BX

41. Para as fotomicrografias e captura de imagens das seções delgadas utilizou-se o

equipamento Infinity 1 e o software de mesma denominação, além do Corel Draw, versão 14.

As análises modais foram realizadas em macroscopia e ao microscópio de luz

transmitida com auxílio de um vernier e um contador e o número de pontos determinados por

seção variou em função da textura e granulação apresentada. Os critérios adotados quanto à

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granulação (em mm) para a caracterização petrográfica foram os sugeridos pela International

Union of Geological Science (IUGS): muito fina (Ø ≤ 0,1); fina (0,1 < Ø ≤ 1,0); média (1,0 <

Ø ≤ 5,0) e grossa (5,0 < Ø ≤ 20,0).

1.6.3 – Geoquímica de Rocha

Para as análises geoquímicas foram selecionadas 9 amostras de rocha como as mais

representativas do Gnaisse Turvo considerando sua distribuição na área de estudo, bem como

sua diversidade textural e mineralógica.

Inicialmente, estes exemplares foram serrados para eliminação de “capas” de

alteração, britados, pulverizados e peneirados nos laboratórios de Laminação e Preparação de

Amostras do DRM-UFMT e, em seguida, fez-se a separação individual de cerca de 50g de

amostra, sendo todas enviadas ao Acme Analytical Laboratories (Acmelab) em Vancouver,

Canadá para determinações através dos métodos ICP (Inductively Couple Plasma) e ICP-MS

(Inductively Couple Plasma Mass Espectrometry) para elementos maiores e menores (SiO2,

TiO2, Al2O3, FeOtotal, MnO, MgO, CaO, Na2O, K2O e P2O5) e elementos traços (Rb, Sr, Cr, Ni,

Zr, Y, Ce, Ba, Be, Nb, Cu,Lu, Dy, Gd, Er, Yb, Y, La, Eu, Nd, Ce e Sm).

1.6.4 – Geocronologia

A manipulação e tratamento das amostras foram feitos no Laboratório de Preparação

de Amostras, do DRM-UFMT. As datações Pb-Pb em evaporação de zircão foram realizadas

no Laboratório de Geologia Isotópica (Pará-Iso), da Universidade Federal do Pará, analisadas

em espectrômetro de massa da marca Finnigan modelo MAT 262. Os zircões datados

correspondem à amostra PA-003 pertencente à fácies anfibólio-biotita gnaisse.

As amostras selecionadas para datação foram cominuídas em um britador de

mandíbulas, moídas em moinho de disco, lavadas para o deslamamento, posteriormente secas

em estufa a 180º C e, em seguida, peneiradas em diferentes intervalos de granulometria,

reservando-se o concentrado das frações menores que 80 mesh.

Este concentrado foi levado a um separador magnético do tipo Frantz, cuja finalidade

é separar a fração não magnética (zircão) para posterior processamento em líquidos densos

(Bromofórmio d=2,6). O concentrado de zircão resultante é então lavado com HNO3 para

eventual remoção de capa de alteração.

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Os cristais de zircão foram escolhidos manualmente entre as frações granulométricas

0,170 mm e 0,250 mm da fração menos magnética, com o auxílio de uma lupa binocular e

dispostos em um filamento de rênio sob a forma de canoa. As fotomicrografias dos melhores

cristais, incluindo os analisados foram também realizadas.

Fez-se o uso de mais de um grão de zircão por canoa, devido a suas baixas

concentrações de Pb.

A técnica analítica empregada no espectrômetro FINNIGAN MAT 262 utiliza dois

filamentos posicionados frente a frente, como preconizado por Kober (1986, 1987), sendo um

filamento de evaporação, o qual contém o zircão, e um filamento de ionização, a partir do qual

o Pb é analisado. O filamento de evaporação é aquecido gradativamente em temperaturas pré-

estabelecidas, constituindo três etapas de evaporação: 1450oC, 1500oC e 1550oC. Mais

raramente, dependendo da quantidade de Pb que o zircão contém, podem ser realizadas até

cinco etapas de evaporação. Durante cada etapa de aquecimento, que dura aproximadamente 5

minutos, ocorre à liberação do Pb do retículo cristalino do zircão. Esse Pb deposita-se

imediatamente no filamento de ionização, o qual é mantido em temperatura ambiente.

Em seguida, após desligar o filamento de evaporação o filamento de ionização é

aquecido a uma temperatura em torno de 1050oC quando o Pb ali depositado é ionizado. As

intensidades das emissões dos diferentes isótopos de Pb podem ser medidas de duas formas: a

primeira, quando se tem baixa intensidade de sinal, com monocoletor (um contador de íons)

segundo uma varredura na seguinte seqüência de massa: 206, 207, 208, 206, 207 e 204. A

segunda, quando se tem alta intensidade, é feita em multicoletor (contador de íons e caixas de

Faraday) segundo uma varredura na seguinte seqüência de massa: 206, 207, 208 e 204. Em

ambos os modos, cada conjunto de 10 varreduras define um bloco. Um bloco obtido no contador

de íons fornece 18 razões 207Pb/206Pb e no multicoletor 10 razões 207Pb/206Pb. A cada etapa de

evaporação são obtidos, em geral, até cinco blocos de dados nas análises em monocoletor, e

dez, nas análises em multicoletor.

A média das razões 207Pb/206Pb desses blocos define uma idade correspondente para

cada etapa. Esses dados são representados em um diagrama Idade (Ma) versus Etapas de

evaporação. As idades obtidas nas várias etapas de evaporação podem apresentar diferentes

valores, sendo que, normalmente observa-se um aumento nas idades no sentido das etapas de

mais alta temperatura. Quando isso ocorre, são consideradas apenas as idades obtidas em

temperaturas mais altas, pois nesse caso, o Pb analisado é proveniente das porções mais

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retentivas do cristal de zircão e, portanto, mais representativas da idade de cristalização do

mineral.

Os resultados são apresentados com desvios a 2 e as correções do Pb comum são

feitas mediante uso do modelo de evolução do Pb em estágio duplo proposto por Stacey &

Kramers (1975), utilizando a razão 204Pb/206Pb.

Os dados obtidos são tratados estatisticamente segundo princípios metodológicos

estabelecidos no Pará-Iso (Gaudette et al. 1998). Resultados de blocos, etapas ou cristais podem

ser eliminados do cálculo final da idade segundo alguns critérios. Entre eles destacam-se os

seguintes:

Os blocos com razões isotópicas 204Pb/206Pb superiores a 0,0004 são desprezados, para

tornar mínima a correção de Pb de contaminação ou inicial.

São eliminados blocos com desvios superiores a 2 em relação à média das idades dos

cristais de zircão.

Faz-se, além disso, a eliminação subjetiva, onde são desprezados blocos, etapas de

evaporação, ou cristais que apresentem idades discordantes da média das idades obtidas

nas temperaturas mais altas da maioria das análises.

1.7 – Etapa de Tratamento e Sistematização dos Dados

Nesta fase da pesquisa foram confeccionados os mapas de localização de afloramentos

e geológico (preliminares e final) com o auxílio dos softwares ArcMap, versão 9.3 e CorelDraw,

versão 14.

Os resultados geoquímicos obtidos foram tratados com o auxílio de softwares para

processamento de dados petrológicos Minpet for Windows (versão 2.02) e Newpet for DOS

(versão 7.10, Clarke 1992). Os gráficos obtidos foram posteriormente tratados no software

CorelDraw, versão 14. As idades Pb-Pb foram tratadas no software Isoplot.

Os dados estruturais foram tratados no software Stereonet for Windows para a

confecção de estereogramas.

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1.8 – Etapa de Elaboração da Dissertação

A partir dos dados obtidos, tratados e interpretados, foi possível confeccionar a

presente dissertação e a elaboração de um artigo científico, pré-requisitos necessários para

obtenção do título de mestre no programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade

Federal de Mato Grosso.

1.9 – Contexto Geológico Regional

No decorrer do tempo, muitas pesquisas e discussões foram feitas objetivando a

compreensão do Cráton Amazônico. A idéia mais aceita atualmente é de que a evolução

proterozóica do Cráton Amazônico foi dada pela acresção de cinturões móveis que se

amalgamaram sucessivamente ao núcleo arqueano do proto-cráton Amazônico.

Estes cinturões foram definidos como províncias tectono-geocronológicas e suas

compartimentações quanto à definição de limites temporais e físicos assim como nomenclatura

não são coincidentes e encontram-se propostas de diversos autores, dentre eles, Tassinari &

Macambira (1999), Santos et al. (2000, 2008), Tassinari et al. (2000), Ruiz (2005), Cordani &

Teixeira (2007), Cordani et al. (2009).

Neste trabalho utiliza-se a proposta de Tassinari & Macambira (2004) onde foram

individualizadas seis províncias geocronológicas, a saber: Província Amazônia Central (2500

Ma), Província Maroni-Itacaiúnas (2250 – 2000 Ma), Província Ventuari-Tapajós (1950 – 1800

Ma), Província Rio Negro–Juruena (1800 – 1550 Ma), Província Rondoniana-San Ignácio

(1550 – 1300 Ma) e Província Sunsás (1300 – 1000 Ma) (Fig. 1.2).

Santos et al. (2000) redenominaram as unidade geocronológicas do Cráton Amazônico

em sete principais províncias geocronológicas e um cinturão de dobramento que se dispõem da

seguinte maneira: Província Carajás e Imataca (3100 – 2530 Ma), Província Transamazônica

(2250 – 2000 Ma), Província Tapajós-Parima (2100 – 1870 Ma), Província Amazônia Central

(1880 – 1700 Ma), Província Rio Negro (1860 – 1520 Ma), Província Rondoniana-Juruena

(1760 – 1470 Ma), Província Sunsás (1330 – 990 Ma) e o cinturão K’Mudku e, ainda,

consideram o Terreno Paraguá um bloco composto em quase sua totalidade por rochas

pertencentes ao Complexo Granitóide Pensamiento (Litherland et al. 1986), apresentando

evolução autóctone.

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Figura 1.2 – Compartimentação geotectônica do Cráton Amazônico (Tassinari & Macambira

2000, 2004) modificada por Ruiz (2005).

1.9.1 – Sudoeste do Cráton Amazônico

1.9.1.1 – Província Rondoniana-San Ignacio

A porção sudoeste do Cráton Amazônico está representada por quatro províncias

proterozóicas sub-paralelas (Cordani & Teixeira 2007, Cordani et al. 2009), dentre elas está a

Província Rondoniana-San Ignácio (1500 – 1300 Ma) onde se encontra inserido o Gnaisse

Turvo, objeto deste estudo.

Segundo Cordani & Teixeira (2007), a evolução da Província Rondoniana-San Ignácio

ocorreu através da amalgamação de arcos magmáticos intra-oceânicos e prismas acrescionários

formados durante uma colisão continental desenvolvida ao longo do limite sudoeste da

Província Rio Negro-Juruena. Sua cratonização teria ocorrido por volta de 1300 Ma (Ar-Ar) e

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1250 Ma (K-Ar), sendo seguida por reativação tectônica, deformação, sobreposição termal e

magmatismo relacionado ao Orógeno Sunsás (Bettencourt et al. 2010).

Inserido nesta província está o Cinturão Acrescionário Rondoniano-San Ignácio que

corresponde ao evento mais jovem e mais difundido ocorrido no Mesoproterozóico. Este

cinturão compreende o arco continental San Ignácio (Bolívia) e os Complexos Colorado e

Mamoré (Brasil).

O arco San Ignácio (1370 – 1280 Ma) caracteriza-se por volumosas suítes meta-ígneas,

de caráter subalcalino e natureza cálcio-alcalina de alto-K, denominadas de Complexo

Granitóide Pensamiento, localizadas na região do Paraguá, na Bolívia (Teixeira et al. 2009). As

maiores unidades tectônicas que compõem esta província são, segundo Ruiz (2009), os terrenos:

Paraguá, Rio Alegre, Jauru, Alto Guaporé e Nova Brasilândia.

1.9.1.2 – Terreno Paraguá

A denominação “Cráton Paraguá” foi inicialmente usada por Litherland et al. (1986)

para se reportarem às unidades geológicas pré-cambrianas do escudo boliviano, que

permaneceram tectonicamente estáveis durante as deformações meso a neoproterozóicas dos

cinturões Sunsás e Aguapeí. Posteriormente, Saes e Fragoso César (1996) propuseram o termo

terreno e subdividiram o escudo pré-cambriano em dois, o Terreno Paraguá e Terreno San

Pablo. Tohver et al. (2004) expandiram os limites desse cráton e definiram que o trend E-W do

cinturão Nova Brasilândia marca o limite entre os crátons Paraguá e Amazônico.

Segundo Santos et al. (2008) a idéia de que a unidade Paraguá seja um cráton é

questionável, controversa e alvo de grandes discussões devido ao fato de ser composto em quase

que sua totalidade por rochas intrusivas mesoproterozóicas do Complexo Granitóide

Pensamiento colocadas em encaixantes paleoproterozóicas tendo, assim, uma evolução

intrusiva autóctone.

O termo Terreno Paraguá é utilizado para se referir a uma área complexa sob o ponto

de vista geológico contendo uma entidade tectônica que configura grande parte do escudo pré-

cambriano boliviano (Fig. 1.3).

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Figura 1.3 – Mapa geotectônico do sudoeste do Cráton Amazônico (Ruiz 2009) com indicação

da localização da área de estudo.

A área de estudo está contida no Terreno Paraguá que é representado por um

embasamento paleoproterozóico (Complexo Gnáissico Chiquitania, Grupo de Xistos San

Ignácio e Complexo Lomas Manechi), além de granitóides cálcio-alcalinos mesoproterozóicos

(Complexo Granitóide Pensamiento) amalgamados ao proto-cráton Amazônico durante a

Orogenia San Ignácio (Litherland et al. 1986).

Novas informações sobre a cronoestratigrafia das rochas do Terreno Paraguá são

fornecidas por Boger et al. (2005) e Matos et al. (2009). Estes últimos autores sugeriram uma

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cronoestratigrafia para este terreno disposta da seguinte forma: Complexo Chiquitania (1790

Ma), Grupo San Ignácio (<1760 Ma), Suíte Lomas Manechi (1680 Ma) e Complexo Granitóide

Pensamiento. No estado de Mato Grosso, o Terreno Paraguá aflora próximo à região da Serra

de Santa Bárbara e Serra de Ricardo Franco, sendo limitado a leste pelo Terreno Rio Alegre.

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Capítulo 2

Artigo

ORTOGNAISSE TURVO – REGISTRO DE MAGMATISMO

PALEOPROTEROZÓICO NO TERRENO PARAGUÁ – SUDOESTE DO CRÁTON

AMAZÔNICO EM VILA BELA DA SANTÍSSIMA TRINDADE, MATO GROSSO.

Fernando Lisboa Pinto de Figueiredo(1,4), Amarildo Salina Ruiz(1,3,4), Maria Zélia Aguiar

de Sousa(1,2,4), Moacir José Buenano Macambira(5,6)

(1) Programa de Pós-Graduação em Geociências, Instituto de Ciências Exatas e da Terra

– (ICET), Universidade Federal de Mato Grosso – (UFMT) – Avenida Fernando Corrêa, s/n,

Coxipó. CEP: 78060-900. Cuiabá-MT, Brasil. E-mail: [email protected]

(2) Departamento de Recursos Minerais, ICET, UFMT. E-mail:

[email protected]

(3) Departamento de Geologia Geral, ICET, UFMT. E-mail: [email protected]

(4) Grupo de Pesquisa em Evolução Crustal e Tectônica – Guaporé

(5) Departamento de Geoquímica e Petrologia (UFPA) E-mail: [email protected]

(6) Laboratório de Geologia Isotópica (Pará-Iso) UFPA

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Resumo

O Gnaisse Turvo, objeto deste trabalho, corresponde a um ortognaisse polideformado exposto

na região de Vila Bela da Santíssima Trindade, sudoeste do estado de Mato Grosso. Do ponto

de vista geotectônico, está inserido no Cráton Amazônico e representa o embasamento

paleoproterozóico do Terreno Paraguá, um dos blocos crustais que formam a Província

Rondoniana-San Ignácio (1550-1300 Ma). Duas fácies foram identificadas a partir do estudo

petrográfico: granada-anfibólio-biotita gnaisse formada por rochas de composição

granodiorítica e anfibólio-biotita gnaisse, mais abundante, de composição granodiorítica a

sienogranítica. A paragênese identificada caracteriza o metamorfismo responsável por esses

gnaisses como da fácies anfibolito. A análise estrutural caracteriza duas fases de deformação

em nível crustal dúctil. A mais antiga (F1) é responsável pelo desenvolvimento do bandamento

gnáissico, enquanto as estruturas da fase (F2), orientadas segundo a direção N30–60W indicam

esforços compressivos com transporte tectônico de SW para NE. A idade de cristalização do

Gnaisse Turvo, definida pelo método Pb-Pb em evaporação de zircão, corresponde a 1651 ± 4

Ma, sendo interpretada como idade de colocação do protólito ígneo. Os dados litogeoquímicos

indicam que significativo magmatismo cálcio-alcalino de alto K, metaluminoso a

peraluminoso, associado à evolução de arcos magmáticos em ambiente de subducção (Orogenia

Lomas Manechi – 1700 a 1600 Ma), dominava o período estateriano no Terreno Paraguá. A

unidade ortognáissica estudada foi posteriormente retrabalhada metamórfica e tectonicamente,

durante a Orogenia San Ignácio (1400 a 1300 Ma).

Palavras-chave: Gnaisse Turvo, Cráton Amazônico, Terreno Paraguá, Geocronologia (Pb-Pb)

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Abstract

The Turvo Gneiss, object of this work, corresponds to a polideformed orthogneiss exposed in

the region of Vila Bela da Santíssima Trindade, southwestern of state of Mato Grosso. From

the tectonic point of view, is inserted into the Amazonian Craton and represents the

Paleoproterozoic basement of the Paraguá Terrain, one of the crustal blocks that form the

Rondonian-San Ignacio Province (1550-1300 My). Two facies were identified from

petrographic study: garnet-amphibole-biotite gneiss of granodiorite composition and biotite-

amphibole gneiss, more abundant, with granodioritic to syenogranitic composition. The

identified metamorphic paragenesis is characterized as responsible for these gneisses of

amphibolite facies. The structural analysis recorded two stages of deformation in ductil crustal

level. The oldest (F1) is responsible for developing of the gneissic banding, whereas the

structures of F2 phase oriented according to N30-60W, indicated compressive stress with

tectonic transport from SW to NE. The age of crystallization of the Turvo Gneiss defined by

Pb-Pb method on zircon evaporation corresponds to 1651 ± 4 My and is interpreted as

emplacement age of igneous protolith. The data indicate that the significant lithogeochemical

calcium-alkaline magmatism of high K, metaluminous to peraluminous, associated with

magmatic evolution in a subduction environment (Lomas Manechi Orogeny – 1700 to 1600

My), dominated the period Estaterian in the Paraguá Terrain. The study orthogneissic unit was

later reworked, metamorphic and tectonically, during the San Ignacio Orogeny (1400 to 1300

My).

Keywords: Turvo Gneiss, Amazonian Craton, Paraguá Terrain, Geochronology (Pb-Pb).

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Introdução

O conhecimento geológico do ocidente do estado de Mato Grosso na região fronteiriça

com a Bolívia vem sendo, ao longo dos últimos anos, ampliado, principalmente em função da

incorporação de novos dados geológicos, estruturais, geoquímicos e geocronológicos (Queiroz

2006, Guedes & Alcântara 2007, Nogueira & Oliveira 2007, Ruiz et al. 2007, Figueiredo &

Ribeiro 2008, Figueiredo et al. 2009, Jesus et al. submetido, Nalon et al. submetido).

As informações atuais confirmam o prolongamento do Terreno Paraguá em território

brasileiro e indicam que o mesmo é constituído por unidades gnáissicas e granulíticas

paleoproterozóicas afetadas pelas orogenias San Ignácio (1400 a 1300 Ma) e Sunsás (1000 a

900 Ma).

Com o propósito de contribuir para a compreensão da evolução geológica do Terreno

Paraguá (Ruiz 2009, Bettencourt et al. 2010) no Brasil, será apresentado e discutido um acervo

de dados geológicos, petrográficos, geoquímicos, geocronológicos (Pb-Pb) e estruturais do

Gnaisse Turvo, que constitui importante registro magmático paleoproterozóico na região de

Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso.

Contexto Geológico Regional

Cráton Amazônico

O extremo ocidente do estado de Mato Grosso está inserido no contexto geológico da

Província Rondoniana-San Ignacio que representa um fragmento crustal descrito como parte

de um conjunto de cinturões móveis acrescidos a um núcleo proto-cratônico contextualizando

o Cráton Amazônico no âmbito da tectônica global (Cordani et al. 1979).

Estudos posteriores (Tassinari 1996, Tassinari & Macambira 1999 e 2004),

principalmente de cunho geocronológico, definiram o Cráton Amazônico como o resultado da

acresção continental, a partir de um proto-cráton arqueano (Província Amazônia Central – 2500

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Ma), composto por microcontinentes amalgamados em orogenias colisionais associado a outras

cinco províncias geocronológicas denominadas de Maroni-Itacaiúnas (2200-1950 Ma),

Ventuari-Tapajós (1950-1800 Ma), Rio Negro-Juruena (1800-1550 Ma), Rondoniana-San

Ignacio (1550-1300 Ma) e Sunsás (1300-1000 Ma).

As províncias Ventuari-Tapajós e Rio Negro-Juruena são compostas por material

derivado do manto evoluído em uma sucessão de arcos magmáticos enquanto as outras

apresentam retrabalhamento associado a processos colisionais (Tassinari et al. 2000 e Tassinari

& Macambira 2004) (Fig. 1).

Santos et al. (2000) propuseram uma configuração para o Cráton Amazônico

abrangendo as províncias geocronológicas Carajás-Imataca (3100-2530 Ma), Transamazônica

(2250-2000 Ma), Tapajós-Parima (2100-1870 Ma), Central Amazônica (1880-1700 Ma), Rio

Negro (1860-1520 Ma), Rondônia-Juruena (1760-1470 Ma), K’Mudku (1330-1100 Ma) e

Sunsás (1330-990 Ma).

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Figura 1. Configuração das províncias geocronológicas do Cráton Amazônico incluindo a

Província Rio Apa, modificado por Ruiz (2005).

A Província Rondoniana-San Ignacio, onde se insere a unidade estudada, é limitada a

norte e leste pela Província Rio Negro-Juruena, a sul pela Província Sunsás e a oeste por

seqüências sedimentares fanerozóicas e é caracterizada por um fragmento formado por

amalgamação de arcos magmáticos em colisão continental ao longo do limite com a Província

Rio Negro-Juruena (Cordani & Teixeira 2007).

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Segundo Bettencourt et al. (2010) a cratonização da Província Rondoniana-San Ignacio

foi seguida por reativação tectônica, deformação, superimposição termal e magmatismo

relacionados com eventos orogênicos, estes efeitos são observados em feições como zonas de

cisalhamento, faixas milonitizadas, riftes, bacias sedimentares e intrusões pós-tectônicas e

anorogênicas. Ruiz (2009) subdividiu essa província em Terreno Paraguá (1820-1320 Ma),

Terreno Jauru (1780-1420 Ma), Terreno Rio Alegre (1510-1380 Ma) e Cinturão Alto Guaporé

(Fig. 2).

Figura 2. Configuração tectônica do SW do Cráton Amazônico no ocidente do estado de

Mato Grosso (Modificado de Ruiz 2009).

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Terreno Paraguá

O Terreno Paraguá está inserido no contexto da Província Rondoniana-San Ignácio

sendo primeiramente estudado por Litherland et al. (1986), que o descreveram, no extremo

oriente boliviano, como “Cráton Paraguá” e o definiram como um embasamento composto

pelos complexos gnáissico-granulíticos Chiquitania e Lomas Manechi e por rochas

supracrustais metassedimentares do Grupo San Ignácio, intrudidos pela granitogênese de

afinidade cálcio-alcalina do Complexo Granitóide Pensamiento.

Boger et al. (2005) a partir de novos dados estruturais e isotópicos acrescentados aos

dados de trabalhos anteriores, reinterpretaram as unidades do oriente boliviano e configuraram

a deposição dos protólitos do Complexo Gnáissico Chiquitania e Grupo San Ignacio

simultaneamente à colocação da Suíte Lomas Manechi em 1690 Ma. Posterior deformação e

metamorfismo destas unidades ocorreram durante a Orogenia San Ignacio (1340-1320 Ma)

com aglutinação do Terreno Paraguá ao Cráton Amazônico durante a Orogenia Sunsás.

Santos et al. (2000 e 2008) estabeleceram a evolução cronológica da Província

Rondônia-Juruena e do Orógeno Sunsás entre os períodos 1840-1540 Ma e 1460-1110 Ma,

respectivamente, e definiram uma evolução in situ para este orógeno contrariando, assim, a

idéia de microcontinente alóctone para o Cráton Paraguá.

A área de estudo (Fig. 2) está inserida na porção do Terreno Paraguá que não apresenta

evidência de atuação da Orogenia Sunsás onde as rochas sedimentares do Grupo Aguapeí

ocorrem sem características de deformação dúctil e/ou metamorfismo. Os mapeamentos

geológicos e as informações geocronológicas disponíveis (Ruiz et al. 2007 e 2009, Figueiredo

et al. 2009, Jesus et al. (submetido) e Nalon et al. (submetido) para a porção oeste do município

de Vila Bela da Santíssima Trindade, sugerem o seguinte empilhamento estratigráfico em

ordem cronológica decrescente: Complexo Metamórfico Ricardo Franco, Ortognaisse Turvo,

Granito Fronteira, Ortognaisse Shangri-lá, Granito Cascata, Complexo Granitóide

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Pensamiento composto pelos granitos Guaporeí e Passagem, Suíte Intrusiva Guará, Granito

Vila Bela, Grupo Aguapeí e Suíte Intrusiva Huanchaca (Tab. 1; Fig. 3).

Tabela 1. Unidades mapeadas na área de estudo e algumas idades (*Litherland et al. 1986,

**Santos et al. 2008, ***Jesus et al. (submetido), ****Nalon et al. submetido), *****este

trabalho).

Suíte Intrusiva Huanchaca

*888±20 (K-Ar)

*845±19 (K-Ar)

sills e diques de diabásio

Grupo Aguapeí

**1149±7 (U-Pb) ruditos e psamitos basais da Formação Fortuna

Granito Vila Bela biotita-muscovita-granada granito

Suíte Intrusiva Guará

(complexo máfico-ultramáfico)

gabro, hornblenda gabro, diabásio e piroxênio

hornblendito

Complexo Granitóide Pensamiento

Granito Passagem

***1284±20 (U-Pb)

stocks e plugs de granito

fino equigranular pós-

orogênico

Granito Guaporeí

****1314±2 (Pb-Pb)

TDM 1,76 Ga

εNd(t)=(-14) (Sm-Nd)

batólito sin-orogênico de

composição variada

Granito Cascata granodiorito foliado rico em máficos e opacos

Ortognaisse Shangri-lá

granada-

biotita gnaisse

(tonalítico)

anfibólio-

biotita gnaisse

(granodiorítico)

anfibólio-biotita

gnaisse

(monzogranítico)

Granito Fronteira monzogranito foliado com porfiroclastos de feldspato

potássico e lineação de máficos e opacos

Ortognaisse Turvo

*****1651±4 (Pb-Pb)

granada-anfibólio-

biotita gnaisse

(granodiorítico)

anfibólio-biotita gnaisse

(granodiorítico a

sienogranítico)

Complexo Metamórfico Ricardo Franco hornblenda anfibolito, sillimanita-granada gnaisse,

granada quartzito

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Figura 3. Mapa geológico do Terreno Paraguá na área de estudo.

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Geologia e Petrografia

O Gnaisse Turvo representa um corpo orientado na direção NNW com cerca de 200

km2 de extensão. Ocorre em uma área aplainada, em grande parte oculto por coberturas

lateríticas e sedimentos inconsolidados. Boas exposições, na forma de blocos, matacões e

lajedos, são encontradas principalmente nas imediações do Granito Guaporeí. O Gnaisse Turvo

é recoberto, a sul e oeste, pelos sedimentos inconsolidados, a leste faz contato tectônico com o

Granito Guaporeí e a nordeste é intrudido pelo Granito Fronteira.

Duas fácies petrográficas foram individualizadas com base na constituição

mineralógica: a mais abundante, de composição granodiorítica a sienogranítica, corresponde à

fácies anfibólio-biotita gnaisse e a outra, que se restringe à área próxima ao Granito Guaporeí,

compreende a fácies granada-anfibólio-biotita gnaisse de composição essencialmente

granodiorítica.

A fácies anfibólio-biotita gnaisse é representada por rochas anisotrópicas, leucocráticas,

de cor cinza-esbranquiçado, granulação média a grossa, inequigranulares a raramente

porfiroclásticas, apresentando natureza polideformada com transposições de foliações e

estruturas de redobramentos, bem como xenólitos máficos. Exibe bandamento milimétrico a

centimétrico, descontínuo, com leitos félsicos de cor cinza-esbranquiçado a cinza-rosado

formados por agregados de quartzo, feldspatos alcalinos e plagioclásio permeados por biotita

e anfibólio; e leitos máficos de cor cinza-escuro, onde predominam agregados orientados de

biotita e anfibólio (Fig. 4A).

A fácies granada-anfibólio-biotita gnaisse consiste de litotipos orientados, meso a

leucocráticos de cor cinza-escuro, granulação média a grossa, bandados, sendo comum a

segregação de leitos quartzo-feldspáticos ricos em granada, apresentando transposição do

bandamento gnáissico (Fig. 4B). Presença de xenólitos de metagabros e anfibolitos e

microestruturas magmáticas reliquiares em ambas as fácies, caracteriza a natureza ortoderivada

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da unidade (Fig. 4C). Encontram-se ainda, principalmente na fácies granada-anfibólio-biotita

gnaisse, bolsões estirados, dobrados e transpostos formados essencialmente por quartzo,

feldspatos e raros cristais de biotita e anfibólio e grande quantidade de cristais neoformados de

granada de cor marrom-avermelhado-claro constituindo poiquiloblastos/porfiroblastos de

dimensões médias entre 0,5 e 3 mm (Fig. 4D).

Figura 4. Ilustrações de afloramentos: A e B Feições típicas das fácies anfibólio-biotita gnaisse

e granada-anfibólio-biotita gnaisse, respectivamente; C. Xenólito de anfibolito em rochas da

fácies anfibólio-biotita gnaisse; D. Bolsões hololeucocráticos representando o leucossoma com

porfiroblastos de granada da fácies granada-anfibólio-biotita gnaisse.

Opticamente, as rochas do Gnaisse Turvo apresentam texturas granoblástica,

lepidoblástica e nematoblástica formadas pelo alinhamento de cristais de biotita e anfibólio em

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associação com o arranjo, por vezes, em mosaico dos grãos de quartzo e feldspatos.

Ambas as fácies são constituídas, essencialmente, por quartzo, feldspatos alcalinos,

plagioclásio, biotita e anfibólio, tendo titanita, zircão, rutilo, apatita, allanita e opacos como

fases acessórias e clorita, sericita, muscovita, argilo-minerais, epidoto e opacos como minerais

de alteração.

O granada-anfibólio-biotita gnaisse apresenta como máficos além da biotita e anfibólio

cristais neoformados de granada. Os feldspatos alcalinos estão representados principalmente

pela microclina com geminação em grade e pelo ortoclásio não geminado ou com macla

Carlsbad, mostrando por vezes, alteração para sericita, muscovita e argilo-minerais; ocorrem

em grãos de tamanho médio ou localmente como porfiroclastos anédricos, às vezes

poiquilíticos, com inclusões de quartzo, plagioclásio (oligoclásio), biotita e titanita, localmente

envolvidos por grãos menores neoformados de quartzo, microclina e plagioclásio com textura

mirmequítica (Fig. 5A).

Texturas pertíticas são freqüentes, onde a fase hóspede ocorre em chamas, filmes e em

grãos que se apresentam com núcleo mais alterado e borda mais límpida, sugerindo zonação

normal, respectivamente mais cálcica e sódica (Fig. 5B); intercrescimentos gráfico e

granofírico são observados, principalmente, na fácies anfibólio-biotita gnaisse.

O plagioclásio apresenta-se intercrescido com a microclina ou constitui cristais

isolados, tendo sido classificado como oligoclásio; seus raros porfiroclastos ocorrem,

geralmente, com formas tabulares subédricas exibindo geminação albita ou periclina e lamelas

fraturadas; mostra intercrescimento mirmequítico, até mesmo quando constitui fase hóspede

das pertitas e, invariavelmente, apresenta-se saussuritizado, sericitizado ou argilizado.

O quartzo ocorre em grãos anédricos recristalizados em suas bordas e com contatos

lobados e localmente poligonizados ou como intercrescimento de aspecto vermicular e

cuneiforme, no plagioclásio e feldspatos alcalinos constituindo, respectivamente, texturas

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mirmequítica e gráfica; exibe, comumente, efeitos de deformação e recristalização

evidenciados através de extinção ondulante, lamelas de deformação e formação de subgrãos

localmente apresentando texturas em tabuleiro de xadrez (Fig. 5C).

A biotita é o componente máfico primário dominante das duas fácies e ocorre em

lamelas isoladas ou como palhetas e plaquetas anédricas a subédricas, com pleocroísmo

castanho-claro a marrom-escuro, podendo constituir, por vezes, agregados orientados que

configuram os níveis finos lepidoblásticos. Inclui, freqüentemente, titanita, apatita e cristais de

zircão que nela desenvolve halos pleocróicos e, por vezes, encontra-se oxidada com exsolução

de minerais opacos ou também, parcialmente, transformada em muscovita ou clorita.

O anfibólio, identificado como hornblenda, ocorre em prismas subédricos a anédricos,

de pleocroísmo verde-escuro a marrom, intimamente associado à biotita, ao epidoto e à titanita

(Fig. 5D).

Na fácies granada-anfibólio-biotita gnaisse, em amostras do contato com o Granito

Guaporeí, a hornblenda constitui textura coronítica da granada indicando um processo de

retrometamorfismo (Fig.5E). A granada apresenta-se em agregados granulares constituindo

níveis poiquiloblastos/porfiroblastos, subédricos a anédricos, arredondados, muito fraturados

de cor marrom-avermelhado (Fig. 5F), associados ao arranjo granoblástico ou às estruturas

orientadas, sejam elas as texturas lepidoblásticas ou nematoblásticas (Fig. 5G e 5H).

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Figura 5. Fotomicrografias de rochas do Gnaisse Turvo: A. Porfiroclasto de microclina

pertítica associado a grãos neoformados de microclina, quartzo e plagioclásio mirmequítico;

B. Detalhe de microclina apresentando textura pertítica em grãos que exibem zonação normal;

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C. Pertita, mirmequitas e quartzo deformado com extinção ondulante e textura em tabuleiro de

xadrez; D. Detalhe de banda máfica com seção basal de hornblenda associada a palhetas de

biotita; E. Agregado de granada e textura coronítica de hornblenda; F. Feição típica dos

poiquiloblastos de granada; G. Parte de nível máfico formado por palhetas de biotita e grão

poiquilítico de granada; H. textura granoblástica do neossoma constituído por quartzo,

microclina, plagioclásio e grão poiquilítico neoformado de granada.

Deformação

A natureza polideformada das unidades gnáissicas e granulíticas do Terreno Paraguá é

apontada em levantamentos estruturais realizados em território boliviano (Litherland et al.

1986, Boger et al. 2005) e brasileiro (Matos & Ruiz 1991 e Ruiz 2005).

A análise estrutural em escala de semi-detalhe demonstrou que pelo menos duas fases

de deformação dúctil afetaram o Gnaisse Turvo.

As fases de deformação serão designadas como F1 e F2, e os elementos estruturais,

dobras, foliações e lineações, serão referidos como D, S e L, seguidos do número da fase de

deformação em que foi gerado, por exemplo, a foliação S1, refere-se à foliação gerada na

primeira fase de deformação F1.

Primeira Fase de Deformação (F1)

O registro deformacional mais antigo, gerado durante a Fase F1, é definido pelo

bandamento gnáissico (S1), tanto no anfibólio-biotita gnaisse quanto no granada-anfibólio-

biotita gnaisse.

No anfibólio-biotita gnaisse o bandamento é caracterizado pela segregação das bandas

bem definidas pela orientação preferencial de máficos, representados por biotita e anfibólio

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alinhados de acordo com a direção do bandamento, e félsicos, representados por quartzo e

feldspatos arranjados em uma textura granoblástica (Fig. 6A, 6C e 6D).

O granada-anfibólio-biotita gnaisse apresenta as mesmas características, porém, nesta

fácies é notada a presença de cristais neoformados de granada associados às texturas

granoblástica, lepidoblástica e nematoblástica (Fig. 6B, 6E e 6F). Os cristais de granada

apresentam-se bastante fraturados e não exibem inclusões indicativas de orientação interna.

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Figura 6. A. Aspecto do bandamento gnáissico no anfibólio-biotita gnaisse; C e D. Seção

delgada do anfibólio-biotita gnaisse ilustrando o alinhamento dos cristais de biotita associados

à textura granoblástica; B. Feição do bandamento no granada-anfibólio-biotita gnaisse; E e F.

Seção delgada do granada-anfibólio-biotita gnaisse destacando o alinhamento félsico e máfico

com cristais de granada associado aos cristais de biotita.

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A intensa ação da segunda fase de deformação F2 determina uma acentuada

reorientação do bandamento gnáissico S1 provocando seu dobramento e transposição ao longo

de superfícies discretas de cisalhamentos dúcteis.

O estereograma para pólos da foliação S1 mostra a orientação dominante das medidas

em torno de N45º-75ºW com mergulhos variando de 65º a 85º para NE e SW (Fig. 7). A

superfície envoltória das dobras D2 apresenta orientação preferencial entre N30º-70ºE como

ilustrado na figura 8A e 8B.

Figura 7. Estereograma para pólos das atitudes dos flancos das dobras (vermelho) e atitudes

das linhas de charneira (preto), diagrama de igual-área, hemisfério inferior.

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Figura 8. A. Padrão de dobras apertadas a isoclinais; B. Padrão de atitude para a superfície

envoltória das dobras com direção preferencial NE. Em planta.

Segunda Fase de Deformação (F2)

A segunda fase de deformação F2 é responsável pela formação de estruturas tectônicas

que indicam um evento de deformação dominado pelo comportamento dúctil das rochas

afetadas.

Foram identificadas as seguintes estruturas nesta fase de deformação: dobras D2,

foliação S2, lineações L2 e bandas de cisalhamentos discretas relacionadas às superfícies de

transposição. As dobras D2 são apertadas a isoclinais comumente rompidas, classificadas de

acordo com Fleuty (1964) como sendo dobras inclinadas com caimento e são marcadas pela

reorientação do bandamento gnáissico.

Em relação à foliação S1 essa nova foliação S2 é ortogonal nas zonas de charneira das

dobras, comumente rompidas e paralela nos flancos e orienta-se principalmente segundo a

direção N30º-60ºW com mergulhos altos variando entre 75° e 85° para os quadrantes NE e SW

(Fig. 9).

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Figura 9. Estereograma para pólos da foliação S2, diagrama de igual-área, hemisfério inferior.

A foliação S2, classificada como foliação de transposição, apresenta caráter plano-axial

em relação às dobras D2 (Fig. 10A e 10B), marcada pelo rearranjo e reorientação da estrutura

bandada (S1).

No granada-anfibólio-biotita gnaisse os porfiroblastos de granada ocorrem tanto no

leucossoma dobrado e transposto por D2 quanto no melanossoma associados aos minerais

máficos (Fig. 10E e 10F). As lineações L2, definida como eixo de microdobras D2 e lineação

de estiramento e lineação mineral, são caracterizadas principalmente pelo alinhamento de

minerais máficos e estiramento de cristais de quartzo e feldspato, visualizados nas linhas de

charneira e nos flancos das dobras e apresentam caimento entre 15º e 45º no intervalo entre

N16W e N8E.

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Figura 10. Fotos orientadas (A a D em planta, E em corte subvertical e F em planta). A e B.

Caráter plano-axial da foliação S2; C. Bandas de cisalhamento sinistrais formando ângulo com

a foliação S2 no anfibólio-biotita gnaisse; D. Bandas dobradas no granada-anfibólio-biotita

gnaisse; E. Leucossomas estirados, dobrados e transpostos representando a foliação S2; F.

Detalhe da feição em “cabo de guarda chuva”.

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O mapa de elementos estruturais (Fig. 11A) e o bloco diagrama (Fig. 11B) ilustram as

principais estruturas tectônicas observadas no Gnaisse Turvo e os estereogramas indicam a

orientação preferencial das respectivas estruturas.

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Figura 11-A. Mapa de elementos estruturais na área de estudo incluindo o Gnaisse Turvo.

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Figura 11-B. Bloco diagrama destacando os elementos estruturais que configuram o Gnaisse

Turvo.

Geoquímica

A caracterização geoquímica do Gnaisse Turvo está fundamentada nos resultados

analíticos de nove amostras selecionadas visando à abrangência das duas fácies petrográficas

identificadas na tentativa de relacionar as diferenças faciológicas com os respectivos

comportamentos químicos, sendo assim, seis amostras da fácies anfibólio-biotita gnaisse e três

amostras da fácies granada-anfibólio-biotita gnaisse foram estudadas.

Essas amostras foram selecionadas de forma a não conter fraturas ou veios e não

apresentam indícios petrográficos e químicos de alteração hidrotermal/intempérica, mostrando

valores de perda ao fogo, em geral, menores do que 1%.

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Os dados litoquímicos estão dispostos na tabela 2 e foram obtidos no laboratório ACME

Analytical Laboratories (ACMELAB), Canadá, pelos métodos de Fusão ICP (Inductively

Coupled Plasma) e ICP – MS (Inductively Coupled Plasma – Mass Espectrometry) para

elementos maiores e menores (SiO2, TiO2, Al2O3, Fe2O3(T), MnO, MgO, CaO, Na2O, K2O e

P2O5) e elementos traços, incluindo terras raras (Sc, Ba, Be, Co, Cs, Ga, Hf, Nb, Rb, Sn, Sr,

Ta, Th, U, V, W Zr, Y, Mo, Cu, Pb, Zn, Ni, As, Sb, Bi, Ag, Au, Tl, La, Ce, Pr, Nd, Sm, Eu,

Gd, Tb, Dy, Ho, Er, Tm, Yb, Lu).

Tabela 2. Composição química de elementos maiores, menores (% em peso), traços e ETR

(ppm) de rochas do Gnaisse Turvo.

Granada-anfibólio-

biotita Gnaisse

Anfibólio-biotita Gnaisse

Amostras AT41 AT50 AT50A AT40 AT43 FL83 FL91 PA03 PA03A

Elementos

SiO2 69,25 66,74 67,04 74,09 73,84 75,13 72,58 72,81 72,8

TiO2 0,41 0,74 0,91 0,3 0,31 0,22 0,31 0,18 0,16

Al2O3 14,85 15,09 13,73 13,36 12,92 12,85 13,7 13,91 14,02

Fe2O3(T) 3,63 5,85 7,72 2,03 2,63 1,21 2,1 1,85 1,43

MnO 0,07 0,1 0,11 0,05 0,06 0,04 0,05 0,05 0,04

MgO 0,73 1,5 1,8 0,32 0,41 0,29 0,54 0,36 0,33

CaO 2,79 2,96 2,36 1,46 1,58 1,02 1,84 1,95 1,88

Na2O 3,81 2,85 2,36 3,87 3,17 2,72 3,26 3,54 3,52

K2O 3,38 3,25 3,49 3,83 4,38 5,54 4,48 4,23 4,3

P2O5 0,14 0,12 0,07 0,05 0,09 0,04 0,09 0,05 0,05

LOI 0,5 0,5 0,1 0,3 0,3 0,7 0,8 0,8 1,1

Total 99,57 99,68 99,71 99,65 99,66 99,79 99,79 99,71 99,67

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Sc 14 16 20 4 6 3 3 4 4

Ba 2189 778 734 1849 1271 830 759 1184 1225

Be 3 2 1 2 1 1 2 1 2

Co 40,1 91,4 91,0 36,9 86,2 95,2 95,9 71,7 153,6

Cs 0,4 3,4 4,3 0,3 0,4 1,8 1,2 0,5 0,5

Ga 16,1 19,9 16,8 14,3 13,7 11,4 12,8 12,3 12,9

Hf 8,1 6,7 5,3 6,7 6,0 4,7 4,9 3,3 3,8

Nb 5,9 13,5 17,2 9,9 7,8 7,7 7,6 4,4 4,4

Rb 92,1 161,7 178,5 101,6 131,0 181,1 132,9 120,0 110,7

Sn 1 3 4 1 1 1 1 1 1

Sr 307,2 149,8 118,8 162,9 177,6 202,4 196,4 217,5 218,3

Ta 0,3 0,9 1,1 0,8 0,6 0,8 0,6 0,5 0,6

Th 6,5 20,7 10,5 19,6 18,5 13,5 18,6 10,2 9,2

U 0,6 2,0 1,1 0,9 0,6 1,6 0,6 0,9 0,7

V 26 96 106 16 15 15 26 16 135,2

W 218,2 472,8 469,5 225,6 485,5 489,4 487,3 427,4 801,9

Zr 314,0 255,6 176,7 238,5 217,8 151,3 171 131,4 135,2

Y 26 51,2 41,4 31,3 32,6 19,2 22,3 20,0 17,5

Mo 0,4 0,5 8,8 0,4 0,4 0,2 0,2 0,2 1,9

Cu 7,5 19,0 21,6 2,8 2,1 0,4 6,2 1,8 3,2

Pb 2,0 3,1 3,0 3,4 3,8 3,3 3,2 4,0 3,9

Zn 50 62 70 20 31 16 25 20 20

Ni 3,1 15,5 56,0 6,5 3,2 1,6 4 4,4 12,5

As 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5

Sb 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1

Bi 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1

Ag 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1

Au 0,5 0,5 2,1 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5

Tl 0,1 0,3 0,4 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1

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La 49,4 53,2 33,9 92,0 71,9 51,7 42,3 36,9 29,1

Ce 102,5 115,1 78,0 189,2 147,4 97,9 86,7 71,2 55,0

Pr 11,04 13,11 7,28 17,90 15,16 10 8,96 6,80 5,43

Nd 40,6 46,6 27,0 54,8 49,5 31,9 30,5 22,5 18,5

Sm 7,81 9,60 4,50 7,97 8,47 4,02 5,1 3,67 3,24

Eu 2,22 1,60 1,12 2,00 1,38 0,8 0,89 0,86 0,88

Gd 6,87 8,61 4,28 6,36 7,03 2,97 4,39 3,47 2,72

Tb 1,04 1,43 0,85 0,94 1,05 0,45 0,7 0,56 0,47

Dy 5,41 7,85 5,74 5,09 5,52 2,45 3,94 3,04 2,72

Ho 1,19 1,72 1,41 1,04 1,13 0,51 0,76 0,68 0,59

Er 3,24 5,01 4,22 3,16 3,02 1,55 2,15 2,11 1,80

Tm 0,47 0,76 0,67 0,47 0,46 0,25 0,3 0,33 0,28

Yb 2,83 4,87 4,27 2,98 2,63 1,74 1,75 2,03 1,67

Lu 0,42 0,74 0,62 0,45 0,38 0,3 0,25 0,28 0,26

Eu/Eu* 0,93 0,54 0,78 0,86 0,55 0,71 0,58 0,74 0,91

La/Yb 11,62 7,28 5,29 20,58 18,23 19,81 16,11 12,12 11,64

Zr/Y 12,07 4,99 4,26 7,61 6,68 7,88 7,66 6,57 7,72

Rb/Ba 0,04 0,2 0,24 0,05 0,1 0,21 0,17 0,1 0,09

As amostras selecionadas foram analisadas com o objetivo de investigar as afinidades

geoquímicas, a ambiência tectônica e natureza do magmatismo que originou seus protólitos.

Nos diagramas de Harker observa-se que estas rochas caracterizam-se como ácidas,

com valores de SiO2 entre 66,74% e 75,13%, e que o comportamento da maioria dos elementos

maiores, expressos em óxidos (Al2O3, Fe2O3, CaO, MgO, TiO2 e P2O5) e dos traços V e Y (em

ppm), em relação à sílica indicam uma evolução contínua normal com correlações lineares

negativas típicas de cristalização fracionada com empobrecimento em plagioclásio e minerais

máficos primários, tais como hornblenda, óxidos de Fe-Ti como ilmenita, titanita e apatita.

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41

Em relação aos álcalis, não se observa resultado entre o índice de diferenciação

utilizado e o Na2O, no entanto é encontrada uma nítida correlação positiva com o K2O

sugerindo que a evolução é caracterizada também por enriquecimento em feldspato potássico

e biotita (Fig. 12).

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Figura 12. Diagramas de Harker para elementos maiores e traços para as amostras do Gnaisse

Turvo, os círculos representam o granada-anfibólio-biotita gnaisse e os losangos representam

o anfibólio-biotita gnaisse.

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Geoquimicamente as rochas da unidade classificam-se essencialmente como

granodioritos e granitos em diagramas que utilizam parâmetros diversos, tais como, álcalis

versus sílica (Fig. 13A; Le Maitre 1989), R1 e R2, onde R1 = 4Si - 11(Na + K) - 2(Fe + Ti) e

R2 = 6Ca + 2Mg + Al (Fig. 13B; La Roche 1980) e SiO2 versus Zr/TiO2 (Fig. 13C; Winchester

& Floyd 1977).

Figura 13. Diagramas de classificação de rocha para as amostras do gnaisse Turvo. A. Le

Maitre (1989); B. La Roche (1980) e C. Winchester & Floyd (1977).

Os diagramas Na2O+K2O versus SiO2 e AFM propostos por Irvine & Baragar (1971)

sugerem que o magmatismo que originou os protólitos do Gnaisse Turvo sejam de afinidades,

respectivamente, subalcalina e cálcio-alcalina (Fig. 14A e 14B), mostrando neste último uma

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44

evolução marcada por enriquecimento em álcalis, especialmente K2O como ilustrado na figura

14B, com duas amostras do granada-anfibólio-biotita gnaisse deslocadas para o campo toleítico

devido a um incremento de ferro total em processos pós-magmáticos provavelmente associados

à neoformação de cristais de granada ricos em ferro (almandina).

A natureza cálcio-alcalina do magmatismo responsável pelas rochas da unidade

estudada é evidenciada também pelo diagrama de Peacock (1931) que utiliza, além dos álcalis,

os valores de CaO (Fig. 14C); pelos valores de Zr/Y geralmente maiores do que 7 ilustrados

no gráfico Zr versus Y proposto por Barret & MacLean (1999; Fig. 14D); bem como através

do diagrama de Le Maitre (1989; Fig. 14E) com todos os pontos que representam as rochas

analisadas distribuindo-se no domínio da série alto K com grau de diferenciação bem marcado

separando as amostras menos diferenciadas daquelas com teor de sílica maior consideradas

como mais evoluídas.

Vale ressaltar que o deslocamento das duas amostras do granada-anfibólio-biotita

gnaisse para o limite dos campos transicional/toleítico na figura 14D, provocado pelo

incremento do teor de Y, está relacionado com a presença dos porfiroblastos de granada.

No diagrama de Maniar & Piccoli (1989) os pontos que representam os litotipos do

Gnaisse Turvo se posicionam no limite dos domínios definidos por estes autores para termos

metaluminosos e peraluminosos sugerindo uma filiação levemente peraluminosa para os

protólitos das rochas estudadas (Fig. 14F).

Este caráter peraluminoso é visto também em duas amostras portadoras de granada da

série piralspita (possivelmente almandina) sendo atribuído à presença destes porfiroblastos o

maior índice de saturação em alumina para esta fácies do Gnaisse Turvo.

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45

Figura 14. Diagramas classificatórios de séries magmáticas para as rochas do Gnaisse Turvo.

A e B Irvine & Baragar (1971); C. Peacock (1931); D. Barret & MacLean (1999); E. Le Maitre

(1989) e F. Maniar & Piccoli (1989).

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46

Apesar da mobilidade de Elementos Terras Raras (ETR) em eventos metassomáticos, é

comum a pouca modificação nos padrões de distribuição desses elementos no metamorfismo

permitindo, assim, a partir do seu estudo a inferência dos protólitos das unidades metamórficas.

Os resultados dos Elementos Terras Raras das amostras do Gnaisse Turvo normalizados

pelos valores condríticos de Nakamura (1977) e, ilustrados separadamente nas duas fácies

previamente identificadas (Fig. 15A e 15B), evidenciam um forte fracionamento de Elementos

Terras Raras Pesados (ETRP) em relação aos Elementos Terras Raras Leves (ETRL).

É nítida a correlação entre o conteúdo de sílica e as razões (La/Yb)N das amostras, bem

como se observa que o aumento desse óxido (que expressa a diferenciação magmática em suítes

graníticas) é proporcional ao aumento dessa razão, constatando-se dessa maneira, que os

litotipos da fácies granada-anfibólio-biotita gnaisse, de composição granodiorítica (SiO2 entre

66,74% e 69,25%), têm razões (La/Yb)N entre 5,29 e 11,62 (Fig. 15A); enquanto que, os da

fácies anfibólio-biotita gnaisse, considerada mais diferenciada (SiO2 entre 72,58% e 75,13%),

apresentam razões (La/Yb)N bem maiores variando entre 11,64 e 20,58 (Fig. 15B). Isso sugere

que as amostras correspondem a protólitos cogenéticos com evolução a partir de processos de

cristalização fracionada com padrões de ETR semelhantes aos de séries cálcio alcalina.

Independentemente do tipo faciológico, apenas três amostras apresentam pronunciadas

anomalias negativas de Eu (razões Eu/Eu* entre 0,54 e 0,58) e todas as outras mostram fracas

anomalias negativas de Eu com razões Eu/Eu* entre 0,71 e 0,93, sugerindo, para essas últimas,

diferenciação sem envolvimento importante de plagioclásio.

Alguns elementos traços, estudados em base a normalização de seus teores, associados

aos dados de K2O, contra os valores dos granitos de cordilheira meso-oceânica de Pearce et al.

(1984; Figura 15C e D) evidenciam, para ambas as fácies, um enriquecimento dos elementos

litófilos de íons grandes (LILE) principalmente Rb, Ba e Th em relação aos de alta carga

(HFSE) Ta, Nb, Ce, Hf, Zr, Sm, Y e Yb. Observa-se também que, excetuando o Ce, os HFSE

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47

apresentam valores normalizados, em geral inferiores a 1, feição típica de magmatismo cálcio-

alcalino de alto-K (Scheepers 1995) como os granitóides de arco magmático da Cordilheira

dos Andes.

Figura 15. Padrões de distribuição dos elementos traço do Gnaisse Turvo nas fácies granada-

anfibólio-biotita gnaisse e anfibólio-biotita gnaisse, respectivamente, à esquerda e à direita. A

e B. ETR normalizados pelos valores condríticos de Nakamura (1977). C e D. Elementos traço

e K2O normalizados pelos valores de granitos de cordilheira meso-oceânica.

Para caracterização da ambiência tectônica dos protólitos do Gnaisse Turvo foram

utilizados os diagramas Nb versus Y e Rb versus Y+Nb de Pearce (1984; Fig. 16A e 16B) que

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48

indicam geração em arco magmático corroborada pelo diagrama Hf-Rb/30-Ta*3 proposto por

Harris et al. (1986; Fig. 16C).

Figura 16. Diagramas de classificação tectônica para o Gnaisse Turvo. A e B. Pearce et al.

1984; C. Harris et al. (1986).

Geocronologia

Metodologia Pb-Pb em Evaporação de Zircão

O método de evaporação de chumbo em monocristais de zircão foi utilizado para definir

a idade de formação dos protólitos do Gnaisse Turvo.

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Os cristais de zircão foram extraídos da amostra após britagem, moagem e

peneiramento, pré-concentração por elutriação, posterior separação com o emprego de líquido

denso (bromofórmio) e separador magnético Frantz.

A seleção dos cristais de zircão foi feita com o auxílio de lupa binocular e utilizou-se o

intervalo entre 0,125mm e 0,250mm.

Os procedimentos relatados foram realizados no Laboratório de Preparação de

Amostras para Estudos Geocronológicos e Isotópicos da Universidade Federal de Mato Grosso.

Uma segunda fase, realizada no Laboratório de Geologia Isotópica (Pará-Iso) da Universidade

Federal do Pará, consistiu na obtenção de fotomicrografias e seleção de cristais de zircão em

microscópio petrográfico.

Para a análise Pb-Pb em zircão foi empregada a técnica de filamento duplo proposta

por (Kober 1986, 1987), a qual utiliza a razão 207Pb/ 206Pb para determinar a idade do cristal de

zircão. Os dados foram obtidos utilizando-se o contador de íons do espectrômetro FINNIGAN

MAT 262. A intensidade dos isótopos de Pb foi medida seguindo a seqüência de massa 204,

206, 207 e 208, ao longo de varreduras que definem um bloco de dados com razões 207Pb/206Pb.

A razão 207Pb/206Pb foi medida em três etapas de evaporação nas temperaturas de

1450ºC, 1500ºC e 1550oC. A média das idades foi calculada segundo Gaudette et al. (1998) e

os erros analíticos das idades são apresentados com precisão de 2σ (± 95% de precisão). As

idades foram calculadas usando as constantes de decaimento e abundâncias isotópicas listadas

por Steiger & Jäger (1977).

Resultados Analíticos

Os zircões analisados do Gnaisse Turvo, amostra PA-003, (coordenadas 795213,

8316019 UTM WGS 84; Fig. 3) foram extraídos da fácies anfibólio-biotita gnaisse. Os dados

analíticos encontram-se na tabela 3 e as características morfológicas dos zircões datados são

apresentadas na figura 17A.

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50

Os zircões da amostra (PA03) exibem cor castanha, formas prismáticas e alongadas.

Alguns cristais mostram bordas sobrecrescidas e outros zoneamento oscilatório e feições de

metamictização sendo descartados para análise, quando possível. Em dezoito cristais, quatro

não emitiram Pb suficiente (cristais 4, 5, 6, 9), um apresentou razão 204Pb/206Pb superior a

0,0004 (1) e oito foram eliminados por apresentarem idade muito inferior às dos cristais

aproveitados (10, 11, 12, 13, 15, 16, 17, 18) provavelmente devido a metamictização que causa

perda de Pb radiogênico.

Foram aproveitados os resultados de cinco cristais de zircão (2, 3, 7, 8 e 14) os quais

forneceram idades aparentes 207Pb/206Pb entre 1649 ± 3 Ma e 1657 ± 5 Ma sendo a idade média

de 1651 ± 4 Ma calculada para estes cristais (Fig. 17A e B). A idade obtida interpretada como

a época de formação do protólito ígneo do Gnaisse Turvo, concordando com a idade de

colocação do corpo.

Tabela 3. Resultados analíticos de evaporação de Pb em cristais de zircão do Gnaisse Turvo.

O desvio analítico é calculado em 2σ.

Grã

o

Temp.

Evap. Razões

204Pb

/206Pb

Desvio

208Pb

/206Pb

(c)

Desvio

207Pb

/206Pb

(c)

Desvio

Idad

e

Desvi

o

PA0

3

(2)

1550º

C 40/106

0,00011

2

0,00000

2

0,1278

5

0,0021

6

0,1013

9

0,0001

8 1649 ± 3

PA0

3

(3)

1500º

C 4/56

0,00011

7

0,00000

4

0,1168

4 0,001

0,1013

2

0,0002

6 1648 ± 4

PA0

3

(7)

1450º

C 30/38 0,00008 0,00001

0,1216

7 0,0008

0,1016

3

0,0003

8 1654 ± 7

PA0

3

(8)

1500ºC

6/48 0,00005

9 0,00005

2 0,1180

3 0,0020

9 0,1015

7 0,0010

0 1653 ± 9

PA0

3

(14)

1500º

C 30/68

0,00007

2

0,00000

7

0,1193

6 0,0024

0,1017

9

0,0002

9 1657 ± 5

110/63

0

Idade

média 1651 ± 4

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Figura 17. A. Feição morfológica dos cristais de zircão datados. B. Idade média dos cristais.

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52

Capítulo 3

Discussões e Considerações Finais

Discussões

Situada no SW do Cráton Amazônico, a Província Rondoniana-San Ignácio, conforme

definição de Ruiz (2009) e Bettencourt et al. (2010), é constituída por um amálgama de terrenos

aglutinados ao longo de episódios orogênicos no Mesoproterozóico. O Terreno Paraguá,

inicialmente definido como Cráton Paraguá por Litherland et al. (1986), corresponde a vasta

área que se estende do oriente boliviano até o oeste do estado de Mato Grosso, no Brasil, sendo

delimitado a leste por remanescente de crosta oceânica representada pelo Orógeno Rio Alegre

(Matos et al. 2004), Domínio Tectônico Rio Alegre (Ruiz 2005) ou Terreno Rio Alegre

(Geraldes 2000, Ruiz 2009 e Bettencourt et al. 2010) e recoberta a oeste, norte e sul, por

sedimentos fanerozóicos.

Desde o trabalho pioneiro de Litherland et al. (1986) até recente revisão de Bettencourt

et al. (2010), são reconhecidas as seguintes unidades litoestratigráficas no Terreno Paraguá: o

embasamento paleoproterozóico composto pelo Complexo Gnáissico Chiquitania, o Complexo

Granulítico Lomas Manechi e o Supergrupo San Ignácio.

As manifestações ígneas mesoproterozóicas, relacionadas à Orogenia San Ignácio, são

representadas pelo Complexo Granitóide Pensamiento e intrusivas menores associadas e

completam o substrato do Grupo Aguapeí, depositado no período Esteniano.

A Orogenia Sunsás (1000 a 900 Ma) retrabalha parcialmente o Terreno Paraguá, nas

áreas afetadas pelos cinturões móveis Sunsás e Aguapeí, gerando metamorfismo de baixo grau

e granitogênese de natureza ácida dominante.

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53

O Gnaisse Turvo corresponde a um corpo intrusivo alojado em uma associação de

rochas ortoderivadas, metabásicas e anfibolitos representados por xenólitos, e paraderivadas

representadas por uma seqüência de unidades supracrustais constituída por granada quartzitos,

sillimanita-granada gnaisses e granada gnaisses exposta na forma de blocos e estreitas faixas

alongadas com direção preferencial NW-SE em suas imediações.

A caracterização petrográfica do Gnaisse Turvo permitiu a individualização de duas

fácies, a mais abundante compreende a fácies anfibólio-biotita gnaisse formada por rochas

leucocráticas, cinza-claro, bandadas, de granulação média a grossa, classificadas como

granodioritos a sienogranitos, tendo biotita e hornblenda como máficos principais.

Subordinadamente ocorre a fácies granada-anfibólio-biotita gnaisse sendo constituída

por rochas meso a leucocráticas, cinza a cinza-escuro, bandadas, de granulação média,

composição granodiorítica e apresenta como máficos, além de biotita e anfibólio, cristais

neoformados de granada.

A paragênese constituída por quartzo + microclina/ortoclásio + plagioclásio

(oligoclásio) + hornblenda + biotita indica que a unidade passou por atuação de metamorfismo

de fácies anfibolito com posterior retrometamorfismo representado por textura coronítica em

cristais de granada que apresentam mantos ou auréolas de hornblenda.

Dissolução e reprecipitação de aglomerados microcristalinos de quartzo e feldspato e

presença de mirmequita confirmam condições de alta temperatura e contatos retos formando

mosaicos quartzo-feldspáticos indicam condição de alta pressão em ambiente inicialmente

anidro, segundo os critérios definidos por Vernon (1991).

A superposição de estruturas tectônicas atesta a natureza policíclica da unidade, cujo

bandamento gnáissico (S1), formado durante a primeira fase de deformação, é intensamente

dobrado e transposto pela segunda fase de deformação, de caráter dúctil, que gera mesodobras

simétricas à assimétricas, inclinadas, com caimento variando entre 15º e 45º principalmente

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54

para NW. Esta fase gera foliação plano-axial de transposição (S2), levemente ondulada que

exibe variação de direção entre N30-60W e mergulhos entre 75º e 85º para NE e SW com

lineação de estiramento/mineral L2, sugerindo um movimento reverso, com pequeno

componente oblíquo, ou direcional dextral.

A primeira fase de deformação e metamorfismo, responsável pela geração do

bandamento é atribuída à Orogenia Lomas Manechi, segundo a definição de Boger et al. (2005)

e corresponde às estruturas Do2 de Litherland et al. (1986); enquanto a fase de deformação e

metamorfismo mais jovem (F2) é atribuída a Orogenia San Ignácio, a qual gera estruturas com

orientação similar a foliação S2 nos granitóides sin a tardi orogênicos como os granitos

Guaporeí e Passagem. As estruturas relacionadas à fase F2 no Gnaisse Turvo são

correlacionáveis à deformação Do3 definida por Litherland et al. (1986).

O estudo litogeoquímico do Gnaisse Turvo revela que seus protólitos representam uma

seqüência ácida, formada por um magmatismo subalcalino, de afinidade cálcio-alcalina de alto

K, metaluminoso a peraluminoso principalmente no granada-anfibólio-biotita gnaisse, onde

este caráter deve estar relacionado à presença de cristais de granada da série das piralspitas

(almandina), sugere também, a colocação deste magmatismo em ambientes de arco magmático,

tendo uma evolução através de processos de cristalização fracionada com fraco

empobrecimento em plagioclásio e minerais máficos primários, tais como hornblenda, óxidos

de Fe-Ti como ilmenita, titanita e apatita, bem como por enriquecimento em feldspato potássico

e biotita.

A idade de cristalização do corpo, definida pelo método Pb-Pb em evaporação de zircão,

de 1651 ± 4 Ma, é interpretada como idade de colocação do protólito ígneo do Gnaisse Turvo,

indicando um episódio magmático cálcio-alcalino de alto-K no Terreno Paraguá. As idades U-

Pb SHRIMP em zircões de 1641 ± 4 Ma para o Granito Refúgio (Santos et al. 2008) e 1673 ±

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55

21 Ma para o Granito La Cruz (Matos et al. 2009), sugerem que o Gnaisse Turvo foi gerado

neste evento ígneo de idade estateriana.

Os dados geológicos, geoquímicos e geocronológicos obtidos sugerem que a intrusão

foi gerada em um episódio magmático paleoproterozóico, provavelmente em um ambiente

tectônico convergente, do tipo arco magmático continental, desenvolvido no proto-Terreno

Paraguá, durante a Orogenia Lomas Manechi (1700 a 1600 Ma).

Os dados estruturais, as relações de campo e as informações geocronológicas dos

granitos Guaporeí e Passagem pertencentes ao Complexo Granitóide Pensamiento, indicam que

o Gnaisse Turvo foi intensamente afetado pela Orogenia San Ignácio (1400 a 1300 Ma),

responsável pela aglutinação do Terreno Paraguá ao proto-cráton Amazônico.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao PROCAD (Proc. 096/2007), à FAPEMAT (Proc. Nº.

004/2009) e à CAPES, respectivamente, pelo custeio das análises geocronológicas/químicas e

pela concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor.

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