Glicerol de biodiesel

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44 Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento - n” 37 Glicerol de biodiesel EstratØgias biotecnolgicas para o aproveitamento do glicerol gerado da produªo de biodiesel Juan Daniel Rivaldi* Engenheiro Qumico, Mestre em Biotecnologia Industrial Escola de Engenharia de Lorena (EEL), Universidade de Sªo Paulo(USP) *Autor para correspondŒncia: [email protected] Boutros Fouad Sarrouh Licenciado em Qumica; Mestre em AnÆlise de Processos na Indœstria Qumica; Doutor em Biotecnologia Industrial Escola de Engenharia de Lorena (EEL), Universidade de Sªo Paulo (USP) Rodolfo Fiorilo Engenheiro Qumico Gerente Industrial DAFFER Qumica Ltda. Silvio SilvØrio da Silva Engenheiro de Alimentos; Mestre em CiŒncia e Tecnologia de Alimentos; Doutor em Tecnologia Bioqumico- FarmacŒutico Escola de Engenharia de Lorena (EEL), Universidade de Sªo Paulo (USP) RESUMO A intensiva busca por fontes alternativas de ener- gia e processos sustentÆveis visando a reduªo da poluiªo ambiental e o aquecimento global do planeta tem estimulado o mercado mundial de combustveis limpos. Os biocombustveis, como o biodiesel, representam uma alternativa renovÆvel e ambientalmente segura aos com- bustveis fsseis. Sua produªo encontra-se em crescimento acelerado, e como conseqüŒncia, a quantidade de subprodutos gerados de sua produªo, principalmente o glicerol bruto. Com o objetivo reduzir os futuros problemas ambi- entais por acumulaªo de glicerol e tornar a produªo de biodiesel mais rentÆvel, a imple- mentaªo de estratØgias biotecnolgicas que uti- lizam o glicerol como œnica fonte de carbono para obtenªo de produtos de maior valor agre- gado, vem sendo estudado como uma promis- sora alternativa e soluªo. Este trabalho des- creve estudos bem documentados sobre o me- canismo metablico de glicerol por microrga- nismos e pertinentes com a proposta de utiliza- ªo do glicerol em processos microbianos. Da mesma forma sªo apresentadas novas estratØgi- as que podem ser exploradas visando o apro- veitamento deste material e sua bioconversªo em bioprodutos de alto valor agregado. Palavras-chave: glicerol, fermentaªo, bioproduto. Biotechnological strategies for glycerol utilization derived from biodiesel produc- tion ABSTRACT The claim for reducing environment pollution stimulates the world market of clean fuels. Bi- ofuels as biodiesel, represents a renewable and environmentally safety alternative to fossil fuel. Nonetheless, its production is increasing consi- derably, and as a consequence, the amount of raw glycerol (byproduct) generated is growing exponentially. With the aim to reduce envi- ronment problems due to accumulation of glyce- rol, biotechnological strategies for its biocon- version in value-added products are being im- plementing. This work presents detailed argu- ments on the metabolic mechanisms of glyce- rol assimilation by microorganisms, as well as, a description of the most recent biotechnologi- cal processes applied to obtain bioproducts from glycerol. Keywords: glycerol; fermentation; bioproduct. INTRODU˙ˆO A utilizaªo de fontes alternativas de energia Ø umas das grandes prioridades atuais, que vem contribuir significativamente para con- tornar os graves problemas ocasionados pelo desenvolvimento tecnolgico. A preocupaªo atual pela reduªo da poluiªo e a crise ener- gØtica tŒm estimulado o mercado mundial de biocombustveis. A economia global mantØm- se em crescimento e a demanda por energia limpa e recursos renovÆveis encontra-se em contnuo aumento (BILGEN et al., 2006). Neste sentido, a busca intensiva por combus- tveis alternativos ao petrleo, como o biodi- esel, apresenta grande importncia principal- mente para os pases emergentes, uma vez que sua produªo auxilia conservaªo do meio ambiente, mediante a reduªo dos ga- ses responsÆveis pelo aquecimento global, e contribui para o desenvolvimento social me- diante a geraªo de empregos (OLIVEIRA et al., 2006). No Brasil, a produªo e comerci- alizaªo de biodiesel possui importantes van- tagens devido grande disponibilidade de matØria-prima para sua produªo e ao cresci- mento contnuo da indœstria de leos vege- tais e etanol (OLIVEIRA et al. 2006, OISTI, 2006). A produªo de biodiesel estÆ significativamente acelerada, uma vez que o governo brasileiro estabeleceu a obrigatoriedade da adiªo de biodiesel ao combustvel de petrleo medi- ante a lei 11097/2005. No ano 2013, a quan- tidade de biodiesel a ser adicionado deverÆ alcanar 5 % do volume total de diesel utili- zado (ANP, 2007). O glicerol Ø o principal subproduto gerado na produªo de biodie- sel, sendo que aproximadamente 10 % do volume total de biodiesel produzido corres- pondem a glicerol (DASARI et al., 2005). Es- tima-se que com o incremento do volume de biodiesel, o glicerol co-produzido aumentarÆ de 83 para 330 milhıes L/ano atØ o ano 2010 (MME, 2007). Com o intuito de evitar futuros problemas derivados da acumulaªo de gli- cerol e para tornar a produªo de biodiesel mais competitiva, torna-se necessÆrio a busca de alternativas para o uso do glicerol bruto gerado nesta produªo. Este subproduto, na forma pura, possui inœmeras aplicaıes indus- triais (aditivos para a indœstria de alimentos, qumica e farmacŒutica). O glicerol obtido re- sultante da transesterificaªo de triglicerdios com Ælcool apresenta impurezas como Ægua, sais, Østeres, Ælcool e leo residual, que lhe conferem um baixo custo (OOI et al.,2004). A rentabilidade de vÆrios processos qumicos Ilustraıes cedidas pelos autores Pesquisa

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Glicerol de biodieselEstratégias biotecnológicas para o aproveitamento do glicerol gerado da produção de biodiesel

Juan Daniel Rivaldi*Engenheiro Químico, Mestre emBiotecnologia IndustrialEscola de Engenharia de Lorena(EEL), Universidade de SãoPaulo(USP)*Autor para correspondência:[email protected]

Boutros Fouad SarrouhLicenciado em Química;Mestre em Análise de Processos naIndústria Química;Doutor em BiotecnologiaIndustrialEscola de Engenharia de Lorena(EEL), Universidade de São Paulo(USP)

Rodolfo FioriloEngenheiro QuímicoGerente Industrial � DAFFERQuímica Ltda.

Silvio Silvério da SilvaEngenheiro de Alimentos;Mestre em Ciência e Tecnologia deAlimentos;Doutor em TecnologiaBioquímico- FarmacêuticoEscola de Engenharia de Lorena(EEL), Universidade de São Paulo(USP)

RESUMO

A intensiva busca por fontes alternativas de ener-gia e processos sustentáveis visando a reduçãoda poluição ambiental e o aquecimento globaldo planeta tem estimulado o mercado mundialde combustíveis limpos. Os biocombustíveis,como o biodiesel, representam uma alternativarenovável e ambientalmente segura aos com-bustíveis fósseis. Sua produção encontra-se emcrescimento acelerado, e como conseqüência,a quantidade de subprodutos gerados de suaprodução, principalmente o glicerol bruto. Como objetivo reduzir os futuros problemas ambi-entais por acumulação de glicerol e tornar aprodução de biodiesel mais rentável, a imple-mentação de estratégias biotecnológicas que uti-lizam o glicerol como única fonte de carbonopara obtenção de produtos de maior valor agre-gado, vem sendo estudado como uma promis-sora alternativa e solução. Este trabalho des-creve estudos bem documentados sobre o me-canismo metabólico de glicerol por microrga-nismos e pertinentes com a proposta de utiliza-ção do glicerol em processos microbianos. Damesma forma são apresentadas novas estratégi-as que podem ser exploradas visando o apro-veitamento deste material e sua bioconversãoem bioprodutos de alto valor agregado.

Palavras-chave: glicerol, fermentação,bioproduto.

Biotechnological strategies for glycerolutilization derived from biodiesel produc-tion

ABSTRACT

The claim for reducing environment pollutionstimulates the world market of clean fuels. Bi-ofuels as biodiesel, represents a renewable andenvironmentally safety alternative to fossil fuel.Nonetheless, its production is increasing consi-derably, and as a consequence, the amount ofraw glycerol (byproduct) generated is growingexponentially. With the aim to reduce envi-ronment problems due to accumulation of glyce-rol, biotechnological strategies for its biocon-version in value-added products are being im-plementing. This work presents detailed argu-ments on the metabolic mechanisms of glyce-rol assimilation by microorganisms, as well as,a description of the most recent biotechnologi-cal processes applied to obtain bioproducts fromglycerol.

Keywords: glycerol; fermentation; bioproduct.

INTRODUÇÃO

A utilização de fontes alternativas de energiaé umas das grandes prioridades atuais, quevem contribuir significativamente para con-tornar os graves problemas ocasionados pelodesenvolvimento tecnológico. A preocupaçãoatual pela redução da poluição e a crise ener-gética têm estimulado o mercado mundial debiocombustíveis. A economia global mantém-se em crescimento e a demanda por energialimpa e recursos renováveis encontra-se emcontínuo aumento (BILGEN et al., 2006).Neste sentido, a busca intensiva por combus-tíveis alternativos ao petróleo, como o biodi-esel, apresenta grande importância principal-mente para os países emergentes, uma vezque sua produção auxilia à conservação domeio ambiente, mediante a redução dos ga-ses responsáveis pelo aquecimento global, econtribui para o desenvolvimento social me-diante a geração de empregos (OLIVEIRA etal., 2006). No Brasil, a produção e comerci-alização de biodiesel possui importantes van-tagens devido à grande disponibilidade dematéria-prima para sua produção e ao cresci-mento contínuo da indústria de óleos vege-tais e etanol (OLIVEIRA et al. 2006, OISTI,2006).A produção de biodiesel está significativamenteacelerada, uma vez que o governo brasileiroestabeleceu a obrigatoriedade da adição debiodiesel ao combustível de petróleo medi-ante a lei 11097/2005. No ano 2013, a quan-tidade de biodiesel a ser adicionado deveráalcançar 5 % do volume total de diesel utili-zado (ANP, 2007). O glicerol é o principalsubproduto gerado na produção de biodie-sel, sendo que aproximadamente 10 % dovolume total de biodiesel produzido corres-pondem a glicerol (DASARI et al., 2005). Es-tima-se que com o incremento do volume debiodiesel, o glicerol co-produzido aumentaráde 83 para 330 milhões L/ano até o ano 2010(MME, 2007). Com o intuito de evitar futurosproblemas derivados da acumulação de gli-cerol e para tornar a produção de biodieselmais competitiva, torna-se necessário a buscade alternativas para o uso do glicerol brutogerado nesta produção. Este subproduto, naforma pura, possui inúmeras aplicações indus-triais (aditivos para a indústria de alimentos,química e farmacêutica). O glicerol obtido re-sultante da transesterificação de triglicerídioscom álcool apresenta impurezas como água,sais, ésteres, álcool e óleo residual, que lheconferem um baixo custo (OOI et al.,2004).A rentabilidade de vários processos químicos

Ilustrações cedidas pelos autores

Pesquisa

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depende em parte, da venda dos subpro-dutos, permitindo a redução dos custos deprodução e conseqüentemente, do preçofinal do produto. Dessa forma, existe umgrande interesse na purificação do glicerolou no seu reaproveitamento direto, semtratamento, o que proporcionará à viabili-zação do processo de produção de biodie-sel, permitindo que este se torne competi-tivo no crescente mercado de biocombus-tíveis. Os processos para sua purificaçãoincluem filtração, destilação a vácuo, des-coloração e troca de íons para a remoçãoprincipalmente de K+ e Na+ utilizados comocatalisadores (YONG et al. 2001). No en-tanto, os tratamentos de purificação são decusto excessivamente elevados para peque-nos e médios produtores nacionais de bio-diesel. Devido a este fato, uma maior quan-tidade de efluentes contendo glicerol po-derá ser descartada no meio ambiente semnenhum tratamento, aumentando conse-qüentemente os problemas e riscos ambi-entais.A conversão microbiana de glicerol por pro-cessos biotecnológicos em produtos demaior valor agregado como biomassa e bi-omoléculas, é uma alternativa relevante paraa maior valorização da produção de biodi-esel (ITO et al., 2005). Neste sentido, abiotecnologia moderna, com todo seu avan-ço trará grandes contribuições e permitiráa obtenção de biomoléculas e produtos comimportantes propriedades.

NATUREZA E CARACTERÍSTICASDO GLICEROL

Glicerol é o nome comum do compostoorgânico 1,2,3-propanotriol, descoberto porCarl W. Scheele em 1779 durante a separa-ção de uma mistura aquecida de PbO pre-parada com óleo de oliva. Os seus sinôni-mos são glicerina, trihidroxipropano, glicilálcool, gliceril e 1,2,3-trihidroxipropano.Na natureza, o glicerol existe em vegetais(soja, mamona, babaçu, girassol, palma, al-godão, coco, dendê, pinhão manso) e ani-mais em formas combinadas de glicerinacom ácidos graxos. O glicerol é tambémum composto considerado fundamental den-tro do sistema metabólico de microrganis-mos; onde atua como precursor de nume-rosos compostos; e como regulador de vá-rios mecanismos bioquímicos intracelulares(LAGES, SILVA-GRAÇA, LUCAS, 1999).Em microrganismos eucarióticos, o glicerolconstitui o principal composto formado pararegular as variações de atividade de águaem ambientes altamente osmofíl icos(WANG et al., 2001).Em humanos, o glicerol participa na ter-mo-regulação do corpo, resistência a altastemperaturas, na resistência dos músculosem atividades físicas e na resposta neuralda variação da glicemia (YANG et al., 1999).O glicerol na sua forma pura apresenta-secomo um líquido viscoso, incolor, inodoroe higroscópico, com sabor doce, solúvelem água e álcool, insolúvel em éter e emclorofórmio.Devido às suas características físicas e quí-

micas e ao fato de ser inócuo, o glicerolpuro apresenta diferentes aplicações na in-dústria de cosméticos, farmacêutica, deter-gentes, na fabricação de resinas e aditivose na indústria de alimentos. Apesar de oglicerol apresentar estas aplicações na for-ma pura, poucos estudos estão sendo dire-cionados para a utilização de glicerol brutona forma direta.

OBTENÇÃO E TRATAMENTODO GLICEROL BRUTO

Subproduto natural do processamento deóleos e gorduras, o glicerol pode ser obti-do mediante reação de saponificação de áci-dos graxos (óleos, azeites ou sebo) comhidróxido de sódio ou hidróxido de potás-sio, como co-produto da fabricação de bio-diesel e em menor proporção, mediantesíntese microbiana. A produção sintética deglicerina a partir de cloreto de alil via epi-cloridrina encontra-se em declínio devidoao excesso no mercado de glicerol do pro-cesso de biodiesel. Dentro deste contexto,o glicerol constitui o maior subproduto ge-rado no processo de produção do biodieselvia esterificação de ácidos graxos vegetaisou gordura animal com álcool (metanol ouetanol) para produzir ésteres e glicerol napresença de catalisador (KOH ou NaOH)(DIECKELMANN e HEINZ, 1988)A equação global de transesterificação éapresentada na Figura 1a, onde são neces-sários três moles de álcool por cada mol detriglicerídeo utilizado. Esta reação global éconseqüência de um número de reaçõesreversíveis e consecutivas mostradas na Fi-gura 1b. A primeira consiste na conversãode triglicerídeos em diglicerídeos, seguidada conversão destes diglicerídeos em mo-noglicerídeos, e finalmente de glicerídeosa glicerol, rendendo uma molécula de és-

ter de álcool por cada glicerídeo em cadaetapa da reação.No final da etapa de transesterificação, oglicerol e ésteres formam uma massa líqui-da de duas fases, que são facilmente sepa-ráveis por decantação ou centrifugação. Afase superior, a mais leve ou menos densa,contém os ésteres metílicos ou etílicos cons-tituintes do biodiesel. A fase inferior oupesada encontra-se composta de glicerolbruto e impurezas.O valor do glicerol bruto obtido da produ-ção de biodiesel encontra-se entre 0,2 a0,4 R$/kg. Este baixo valor é atribuído aoconteúdo de aproximadamente 30 % (p/p)de impurezas e ao grande volume desteco-produto gerado pelas indústrias. O gli-cerol bruto apresenta-se na forma de líqui-do viscoso pardo escuro, que contém quan-tidades variáveis de sabão, álcool (metanolou etanol), monoacilglicerol, diacilglicerol,oligômeros de glicerol, polímeros e água(OOI et al., 2004). A porcentagem de gli-cerol na mistura varia entre 65 a 70 % (p/p), sendo a maior parte das impurezas sa-bão formado pela reação dos ácidos graxoslivres com excesso de catalisador (saponi-ficação). Dessa forma, o aspecto do glice-rol bruto encontra-se estreitamente relaci-onado ao conteúdo de sabão, que propor-ciona aparência de viscoso e escuro. Parareduzir o sabão gerado, recomenda-se con-duzir a reação de transesterificação commatérias primas (triglicerídeos) com baixoconteúdo em ácidos graxos livres e água,ao mesmo tempo de reduzir a quantidadede catalisador (OOI et al., 2004).A mistura residual resultante é submetidoao processo de acidulação com ácido con-centrado (HCl, H

2SO

4, ou H

3PO

4) para a se-

paração de glicerol e ácidos graxos do sa-bão (Figura 2a). No entanto, a maior partedos processos de tratamento de glicerol éconduzida utilizando HCl ou H

2SO

4, sendo

Figura 1. (a) Reação global e (b) Reações consecutivas detransesterificação de triglicerídeos. R

1, R

2, R

3 e R representam grupos alquilas

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o H3PO

4 restrito pelo alto custo. Durante a

acidulação, forma-se certa quantidade desal (reação do ácido inorgânico com íon dosabão) que se deposita na fase inferior deum líquido de três fases, estando a fase su-perior constituída pelos ácidos graxos li-vres, e a fase intermédia composta princi-palmente por glicerol e álcool (Figura 2b).O glicerol recuperado alcança concentra-ções superiores a 80 % (p/p), com quanti-dades variáveis de água, corantes e álcool.Posteriormente, o glicerol com excesso deácido é neutralizado com solução de NaOHe submetido a tratamento térmico (70oC)para eliminar os componentes voláteis (re-cuperação de álcool)(OOI et al., 2004;FUKUDA, KONDO, NODA, 2001). Nestaforma, parcialmente livre de impurezas, oglicerol pode ser utilizado como substratode fermentação por várias espécies de mi-crorganismos. As características físicas, químicas e nutri-cionais do glicerol bruto dependem do tipode ácido graxo (gordura animal ou óleovegetal) e do tipo de catálise empregadana produção de biodiesel. No entanto, aprocura pela glicerina purificada é muitomaior, devida ao seu valor econômico. A

aplicação do glicerol na indústria está con-dicionada ao grau de pureza, que deve serigual ou superior a 95%. Para obter graude pureza superior a 95% (p/p)(grau ali-mentício ou farmacêutico), o glicerol deveser submetido a destilação, mas sob custoelevado .Por outro lado, de acordo com a Tabela 2,o glicerol bruto contém elementos nutrici-onais, como, fósforo, enxofre, magnésio,cálcio, nitrogênio e sódio, e que são factí-veis de serem utilizados por microrganis-mos para o seu crescimento durante pro-cessos fermentativos (THOMPSON, HE,2006).

ASSIMILAÇÃO, METABOLISMO ECONVERSÃO MICROBIOLÓGICA DO

GLICEROL.

O glicerol é considerado uma fonte de car-bono altamente reduzida e assimilável porbactérias e leveduras sob condições aeró-bicas e anaeróbicas19 para a obtenção deenergia metabólica, como regulador do po-tencial redox e para a reciclagem de fosfa-to inorgânico dentro da célula (DILLIS etal., 1980).

Vários estudos foram desenvolvidos visan-do a utilização de glicerol como fonte decarbono por microrganismos, especialmen-te por bactérias. Muitos deles apontam prin-cipalmente a mecanismos de assimilação deglicerol por estes microrganismos para aprodução de compostos intermediários depolímeros, resinas e aditivos para combus-tíveis (PAPANIKOLAOU et al., 2002; ITOet al., 2005; CHENG et al 2007).O transporte do glicerol através da mem-brana celular constitui a primeira etapa parao seu metabolismo. De uma forma geral, aassimilação de glicerol por parte dos mi-crorganismos envolve o transporte passivo(GANCEDO, GANCEDO, 1968) e transporteativo (LAGES, SILVA-GRAÇA, LUCAS, 1999)através da membrana plasmática.O transporte passivo inclui a difusão sim-ples (permeação não específica) e a difu-são facilitada mediada por proteínas locali-zadas nas camadas mais internas da mem-brana plasmática (MIP), as permeases. Adifusão simples, sendo ATP não dependen-te, requer um gradiente de concentraçãopara o transporte do substrato através damembrana. Conseqüentemente, a concen-tração do substrato no interior da célula não

supera aquela encontrada no meio decultura(MOAT, FOSTER, SPECTOR, 2002).Na levedura Saccharomyces cerevisiae, es-tudos desenvolvidos por Luyten et al.(1995), assinalaram a existência de perme-ases FPS1, específicas para transporte deglicerol (Figura 3).O glicerol é um dos poucos substratos queatravessa a membrana celular por difusãofacilitada nas células procarióticas. Em bac-térias como Escherichia coli, a proteína do

Figura 2.(b)- Separação do glicerol apóstratamento com ácido concentrado,a fase superior corresponde aácidos graxos, fase intermédia:glicerol, fase inferior: glicerol + sais

Figura 2.(a) - Fluxograma de produção de biodiesel e tratamento de purificação do glicerol

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tipo poro-canal-G1pF atua por sensibilida-de mecânica sem gasto energético na pre-sença de glicerol. Este facilitador permite aassimilação, além de glicerol, de pequenasmoléculas de polihidroxi álcoois, uréia eglicina, mas exclui moléculas carregadascomo gliceraldeído-3-fosfato e dihidroxia-cetona fosfato(HOLST et al., 2000). E mquanto aos mecanismos genéticos, foramdescritos três genes responsáveis pela as-similação e regulação do conteúdo interce-lular de glicerol em Saccharomyces cerevi-siae, o GUP1 e GUP2 (HOLST et al., 2000)e FPS1(LUYTEN et al.,1995) associados di-retamente com o transporte facilitado e quesão expressas conforme estímulos provoca-dos nas células, como o estresse osmótico.Por outro lado, mecanismos de transporteativo simporte glicerol/H+ e simporte gli-cerol/Na+ (dependentes de ATP) foram des-critos em numerosas espécies de levedu-ras, entre elas Debaryomyces hansenii, Pi-chia sorbitophila, Saccharomyces cerevisi-ae, Zygosaccharomyces rouxii (LAGES, SIL-VA-GRAÇA, LUCAS, 1999). Tanto as acu-mulações de glicerol por estresse, como aexistência de mecanismos ativos, são co-muns em grande variedade de leveduras(LAGES, LUCAS, 1997).Após a passagem do glicerol através damembrana plasmática pelos possíveis me-canismos, o glicerol pode ser catabolisadopor várias rotas metabólicas independen-tes, apresentado na Figura 4.Uma das rotas, provavelmente a principalpara a oxidação de glicerol por leveduras,consiste na fosforilação do glicerol pela en-zima glicerol-quinase para formar glicerol-3-fosfato, que é reduzido a dihidroxiaceto-na fosfato pela enzima mitocondrial glice-rol fosfo-ubiquinona oxidoreductase (FADdependente)(GANCEDO, SERRANO, 1989).

Estudos demonstraram que, os genes quecontrolam a síntese das enzimas glicerol-quinase e fosfo-ubiquinona oxidoreductasesão GUT1 e GUT2, respectivamente (GRAU-SLUND, LOPES, RONNOW, 1999). A ex-pressão dessas enzimas é reprimida duran-te o crescimento celular em substratos fer-mentescíveis como glicose, mas desregula-do quando glicerol ou etanol é utilizadocomo a principal fonte de carbono (GRAU-SLUND, RONNOW, 2000).

Outra possível via catabólica do glicerol cor-responde à oxidação de glicerol e conseqüenteformação de dihidroxiacetona pela enzimaglicerol desidrogenase. Após, a dihidroxiace-tona é fosforilada a dihidroxiacetona fosfatopela enzima dihidroxiacetona quinase depen-dente de Adenosina Trifosfato (ATP). Gance-do e Gancedo (1968) reportaram que leve-duras da espécie Schizosaccharomyces pom-be, por exemplo, oxida glicerol mediante essavia sob condições de �stress� osmótico.A dihidroxiacetona fosfato é considerada umaimportante molécula intermediária para a gli-coneogênese (síntese de hexoses), assim comopara a obtenção de numerosos compostos atra-vés das vias oxidativas, incluindo, ácido cítri-co, ácido succínico, ácido acético, ácido fór-mico, ácido lático, etanol e outros compostosde interesse comercial (MOAT, FOSTER, SPEC-TOR, 2002). O crescimento de microrganis-mos em fontes de carbono alternativas aoscarboidratos, como L-malato, acetato, ou gli-cerol, requer a capacidade de sintetizar he-xoses necessárias para a produção de muco-peptideos da parede celular, armazenagem deglicogênio, e outros compostos derivados dehexoses, como as pentoses, envolvidos na bi-osíntese de ácidos nucléicos (MOAT, FOSTER,SPECTOR, 2002).Também, Hauge, King e Cheldelin (1955),fazem referência sobre a capacidade de algu-mas bactérias, entre elas Acetobacter suboxy-dans, de oxidar a molécula de dihidroxiace-tona fosfato pela via pentose-fosfato, incre-mentando o número de bioprodutos possíveisde serem obtidos por via biotecnológica a par-tir de glicerol.Em espécies de leveduras do gênero Yarro-wia sp., e em bactérias como Klebsiella pneu-moniae, Clostridium pasteurianum, Citrobac-ter freundii, Klebsiella pneumoniae, Clostri-dium pasteurianum, Clostridium butyricum,Enterobacter agglomerans, Lactobacillus bre-vis, Lactobacillus buchneri and Bacillus wel-chii (ZHAO, CHEN, YAO, 2006; GONZÁLEZ� PAJUELO et al., 2006; CHENG et al., 2007),observa-se que sob condições de anaerobio-se, o glicerol sofre desidratação pela enzimaglicerol desidratase para produzir 3-dihidro-xipropionaldeído.Posteriormente, este intermediário é transfor-mado pela enzima NADH dependente 1,3-propanodiol oxido-reductase para gerar 1,3-propanodiol, principal intermediário para pro-dução de polímeros, resinas e aditivos de im-portantes aplicações industriais (GONZÁLEZ� PAJUELO et al., 2006; CHENG et al., 2007).Uma vez que o glicerol é assimilado no inte-rior da célula, numerosos compostos são pro-duzidos como conseqüência do seu metabo-lismo.

BIOPRODUTOS OBTIDOS PORFERMENTAÇÃO MICROBIANA

DO GLICEROL

A extraordinária expansão da indústria de bi-odiesel no Brasil e no mundo vem originan-do grandes volumes do principal co-produto,o glicerol. A superprodução de glicerol afetanegativamente o preço do biodiesel no mer-cado, tornando imperiosa a busca de novas

Tabela 1. Composição do glicerol bruto obtido durante a produção de biodieselem função de diferentes matérias prima. (Adaptado de: THOMPSON, HE ,2006)

Figura 3. Tipos de transporte para aassimilação de glicerol pela leveduraSaccharomyces cerevisiae. FPS1 eYFLO54c são proteínas de transporte,GUT1 e GUT2 são genes para expressãode enzimas de assimilação de glicerol.(Baseado em: NEVES, LAGES, LUCAS,2004)

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aplicações para este co-produto. Neste con-texto, o glicerol vem sendo investigadocomo a futura fonte de carbono em proces-sos microbianos para a obtenção de bio-produtos de alto valor agregado.A continuação, detalham-se os recentes pro-cessos fermentativos aplicados nos labora-tórios de pesquisa científica para a obten-ção de bioprodutos a partir do glicerol, in-dependente do seu origem.

1,3-Propanodiol

O propanodiol é um composto intermediá-rio para a síntese de compostos cíclicos emonômeros para poliésteres, poliuretanos

e polipropileno tereftalato. É conhecido queos processos químicos tradicionais de pro-dução são altamente nocivos devido ao com-postos tóxicos formados. As pesquisas maisimportantes na utilização biotecnológica doglicerol bruto apontam principalmente àprodução do composto intermediário 1,3-propanodiol (GONZALEZ-PAJUELO et al.,2006; XIU et al., 2007). Atualmente, estescompostos são produzidos quase exclusiva-mente a partir de um derivado do petró-leo, o óxido de propileno, mediante pro-cessos químicos convencionais (SULLIVAN,2003).O campo de aplicação do composto 1,3-propanodiol é considerado amplamente

abrangente, diferentes setores comerciais, desdea produção de polimeros, tintas, resinas de poli-éster, lubrificantes, anti-cogelante, até produçãode cosméticos. Mediante fermentação de glicerolbruto por Klebsiella pneumoniae foram obtidosconcentrações de até 56 g/L em escala de labora-tório. No entanto, a produção de 1,3-propanodiola escala industrial encontra-se limitado devido aque os a maioria dos microrganismos produtores,Klebsiella, Citrobacter, Enterobacter, Clostridium,Propionibacterium and Anaerobiospirillum, sãoconsiderados patogênicos e requerem de condi-ções estritas de anaerobiose e nutrientes específi-cos para seu desenvolvimento (BARBIRATO et al.,1997). Uma solução futura para o scale-up consis-tiria na utilização de ferramentas da engenhariagenética para inserir genes que expressem enzi-mas geradoras de 1,3-propanodiol em microrga-nismos mais adaptados a condições industriais, comopor exemplo, a bactéria Escherichia coli (DHAR-MADI, MURARKA, GONZÁLEZ, 2006). Notoriamente, muitas espécies apresentam a ca-pacidade de fermentar o glicerol produzindo 1,3-propandiol, entre elas podem ser citadas Citro-bacter freundii, Klebsiella pneumoniae, Clostridiumpasteurianum, Clostridium butyricum, Enterobac-ter agglomerans, Lactobacillus brevis, Lactobaci-llus buchneri and Bacillus welchii (BARBIRATO etal., 1997; GONZALEZ-PAJUELO et al., 2006; XIUet al., 2007) . Atualmente, as bacterias Clostri-dium butyricum e Klebsiella pneumoniae são con-sideradas as de maior utilização e provavelmentesejam as melhores produtoras deste composto (XIUet al., 2007). Recentemente, González-Pajuelo etal. (2005) comparando uma espécie natural deClostridium butyricum VPI 3266 com outra gene-ticamente modificada Clostridium acetobutylicumDG1(pSPD5) (contendo genes para produção de1,3-propanodiol), observaram que no tempo de47 h de fermentação em batelada alimentada, acepa modificada alcançou maior produtividade(0,65 mol/mol de glicerol, 1,7 g/L h) que a cepanatural (0,69 mol/mol, 1,21 g/L.h). Em fermenta-ção contínua de glicerol bruto e comercial (pure-za: 80-90% ) em uma taxa de diluição (D) de 0,05h-1 (pH 6,5; 35 oC) com a mesma cepa modificada,foram obtidos valores de rendimento e produtivi-dade similares aos observados em batelada ali-mentada (0,61-0,64 mol/mol glicerol, 1,49-1,56g/L.h). Os mesmos autores reportaram alta produ-tividade em 1,3-propanodiol (10,3 g/L.h) em cul-tivo contínuo da bactéria Clostridium butyricum(GONZÁLEZ-PAJUELO, ANDRADE, VASCONCE-LOS, 2005).Outro aspecto considerado de importância é aimobilização de células em diferentes polímerospara sua re-utilização em fermentações consecuti-vas. O encapsulamento de células de Klebsiellapneumoniae em celulose-sulfato de sódio e poli-cloreto de metil dialil amônia desenvolvido porZhao, Chen e Yao (2006), permitiu executar fer-mentações em batelada repetida, batelada alimen-tada e processo contínuo para a obtenção de 1,3-propanodiol sob concentrações de glicerol tão ele-vadas quanto 120 g/L. A quantidade de produtoobtido foi de 63,1 g/L (5,7 g/L.h), 51,86 g/L(1,08g/L.h) e 13,6 g/L (4,5 g/L h) para fermentação embatelada simples, batelada alimentada e fermenta-ção contínua, respectivamente. Apesar dos valo-res de produtividade na fermentação por bateladaalimentada serem menores que na batelada sim-ples, os resultados sugerem a potencialidade da

Figura 4. Vias metabólicas de assimilação de glicerol pormicrorganismos e seus possíveis produtos. (Adaptado de: GANCEDO,GANCEDO, 1968; HAUGE, KING, CHELDELIN, 1955; XIU et al., 2007)

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reutilização de células imobilizadas, principal-mente por fornecer um ambiente estável paraa célula frente a altas concentrações de subs-trato. A co-fermentação de glicerol e glicosefoi avaliada por Xiu et al. (2007) para a pro-dução de 1,3-propanodiol por Klebsiella pneu-moniae DSM2026. Na relação glicose-glice-rol igual a 0,2 e sob condições de micro-aeração foram alcançados valores de produti-vidade igual a 1,95 g/L.h.Os primeiros estudos tecnológicos para o au-mento de escala foram desenvolvidos porCheng et al. (2007), utilizando reator em pro-cesso por batelada alimentada de 5000 L devolume total. Sob condições de baixo poten-cial de oxidação, alcançado mediante fluxode nitrogênio gás (0,15 vvm), foram fermen-tados 4000 L de meio contendo 40 g/L deglicerol a pH 6,8 ; 90 rpm e 37oC. Aconcentração máxima de produto foi de 58,8g/L, mas com uma produtividade ainda baixade 0,92 g/L.h. Estes resultados iniciais de-monstram a factibilidade da produção de 1,3-propanodiol a escala piloto, mas novas tenta-tivas deverão ser conduzidas para a sua oti-mização visando a projeção industrial.

Etanol

Etanol, butanol, e outros compostos são co-produzidos durante a fermentação de glicerol(DABROCK, BAHL, GOTTSCHALK, 1992). Itoet al. (2005) demonstraram a possibilidadede produzir etanol e hidrogênio por Entero-bacter aerogenes HU-101 utilizando efluentesda indústria de biodiesel contendo ate 41%(p/p) de glicerol. Convenientemente diluído(7,3 g/L), o efluente foi fermentado em formadescontínua em frascos anaeróbicos e em for-ma contínua utilizando reator de coluna em-pacotada. Na fermentação descontínua, os ren-dimentos em hidrogênio e etanol foram de0,89 mol/mol de glicerol e 1 mol/mol glice-rol, respectivamente. Rendimentos acima de10 g/L foram obtidos em processo contínuoempregando cerâmica porosa como suportede microrganismos. Neste processo, compa-rando meios contendo efluente de biodiesele glicerol comercial, os mesmos autores ob-servaram que produção de hidrogênio foimaior naquele meio com glicerol parcialmentepurificado (60 mmol/L.h) que utilizando eflu-ente (30 mmol/L h). Aparentemente, as im-purezas que acompanham o efluente aumen-taram a fragilidade dos flocos de microrganis-mos, facilitando o wash- out das células doreator na mesma taxa de diluição.Em outros trabalhos, etanol e ácido fórmicoforam os principais produtos da fermentaçãode glicerol pela bactéria Klebsiella plantico-la, em concentrações equimolar acima de 2g/L (JARVIS, MOORE, THIELE, 1997). Estesresultados estimulam a procura de novos mi-crorganismos para a fermentação de glicerolvisando a produção de etanol e hidrogênio.

Ácidos orgânicos

Também, existem numerosos trabalhos dire-cionados para a produção de ácido cítrico eácido succínico por fermentação de glicerol.Estes compostos são de ampla aplicação na

indústria de alimentos e constituem impor-tantes intermediários para a indústria de po-límeros e produção de compostos químicoscomo o 1,2-butanodiol e 2,4-butanodiol.Papanikolaou et al. (2002) obtiveram con-siderável quantidade de ácido cítrico, deordem de 35 g/L, mediante fermentaçãode glicerol por Yarrowia lypolitica. Por suaparte, Rymowicz et al. (2006) publicaramestudos de assimilação de glicerol desen-volvidos com três cepas mutantes de Yar-rowia lypolitica, obtendo concentrações deaté 124,5 g/L de ácido cítrico. A produçãode ácido succínico e ácido acético a partirde glicerol por Anaerobiospirillum succi-niciproducens resultou em concentrações6,5 vezes superiores a aquelas obtidas uti-lizando glicose como única fonte de carbo-no (LEE et al., 2001).A síntese de ácido propiônico por célulasde Propionibacteria acidipropionici e Pro-pionibacteria freudenreichii ssp. shermaniiimobilizadas em alginato de cálcio foi re-portado por Bories et al. (2004). Sob con-dições de alta concentração de glicerol ob-tiveram-se concentrações de ácido propio-nico de até 42 g/L.

Polihidroxialcanoatos

A preocupação pela redução dos contami-nantes ambientais vem acelerando novaspesquisas para a produção de polímerosbiodegradáveis. Espécies de Pseudomonasproduzem naturalmente polihidroxialcano-atos (PHA), poliésteres lineares de compa-tível com uma ampla faixa de potenciaisaplicações devido a suas propriedades físi-cas e biodegradabilidade (ASHBY, SOLAI-MAN, FOGLIA, 2005).Muitos microrganismos acumulam PHA sobcondições de estresse, principalmente quan-do submetidos à falta de nitrogênio, fósfo-ro ou oxigênio, e utilizam esse polímeroquando a fonte externa de carbono é limi-tada. Historicamente, os ácidos graxos fo-ram utilizados extensivamente para a sín-tese de PHA (ASHBY, SOLAIMAN, FO-GLIA, 2005). Glicerol proveniente da pro-dução de biodiesel apresenta-se como umaopção de substrato econômico para a pro-dução deste tipo de biopolímeros. Bormane Roth (1999) utilizaram Methylobacteriumrhodesianum para produzir polihidroxibu-tirato (PHB) na concentração de 10,5 g/Lem fermentação por batelada com meio con-tendo 5 g/L de glicerol e caseína peptona.Koller et al. (2005) obtiveram polihidroxi-alcanoatos numa concentração máxima de16,2 g/L, mediante fermentação em batela-da alimentada de soro de queijo e glicerolbruto por uma cepa selvagem de levedura.Para estressar as células, o cultivo foi con-duzido sob tensão de oxigênio (taxa de 10mL/min) e sem outra fonte de fósforo alémdaquela fornecida pelos 2,5 g/L de extratode levedura. Um ponto interessante nestapesquisa foi a capacidade da cepa selva-gem de produzir simultaneamente 3-hidro-xivalerato (8-10 % do total de PHA) semnecessidade dos precursores ácido propió-nico ou ácido valérico.

Ashby, Solaiman e Foglia (2005) utilizaramduas cepas, Pseudomonas oleovorans B-14682e Pseudomonas corrugata 388 para a produ-ção de PHA. Partindo de concentrações má-ximas de 50 g/L glicerol, as cepas P. oleovo-rans e P.corrugata produziram 0,97 g/L dePoli 3-hidroxibutirato (P3HB) e 0,67 g/L deacido hidroxidodecenóico, respectivamente.De igual forma, foi observada a capacidadede produção de blend de P3HB and PHA emdiferentes proporções por cultura mista dosmicrorganismos estudados.

Ácido graxo poliinsaturado ômega-3

De conhecidas propriedades terapêuticas con-tra numerosas enfermidades cardiovasculares,câncer e Alzheimer, os ácidos graxos poliin-saturados ômega-3 (AGPI ù-3) são geralmen-te obtido a partir de fontes naturais como óle-os vegetais ou de peixes.Recentemente foram desenvolvidos trabalhospara a produção de AGPIù-3 a partir da mi-croalga heterotrófica Schizochytrium limaci-num que possui capacidade produzir altos ní-veis de ácido docosahexaenóico (DHA). Pylee Wen (2007) observaram que após 5 dias decrescimento em frascos Erlenmeyer (pH 8,20 oC, 170 rpm), aproximadamente 18 g/L decélulas da microalga se formavam em meiosindependentes contendo glicose, glicerol puroe glicerol bruto na concentração de 90 g/L.Foram analisados alguns parâmetros cinéticoscomo a velocidade específica de crescimentoµ, 0,685/ h; rendimento em biomassa, 0,284g/g glicerol bruto; rendimento de DHA, 171,27mg/g glicerol bruto e rendimento volumétri-co de 3,08 g/L. Também, foi estudado o efei-to de diferentes concentrações de glicerolbruto contendo sabão sobre o crescimento damicroalga. Concentrações superiores a 40 g/Ldeste glicerol, influenciaram negativamenteno crescimento da microalga, sendo que naconcentração de 90 g/L observou-se a mortedas células após 2 dias de cultivo. Estes resul-tados podem ser considerados ótimos, desdeque não se necessitaria de uma etapa de pré-tratamento do glicerol para a separação dosabão, etapa geralmente longa e de custo ele-vado. O trabalho demonstra que um leque deoportunidades pode ser aberto com pesquisasutilizando exclusivamente algas heterotrófi-cas e glicerol como fonte de carbono.

Avanços tecnológicos noaproveitamento do glicerol no Brasil

Recentemente, no XVI Simpósio Nacional deBioprocessos (SINAFERM 2007) foram apre-sentados numerosos trabalhos na busca desoluções biotecnológicas para a utilização deglicerol originado da produção de biodiesel.Por exemplo, Meinicke, Vendruscolo e Ni-now (2007) compararam diferentes meioscontendo concentrações variáveis de glicerole glicose como fonte de carbono para a pro-dução de corantes naturais pelo fungo filma-mentoso Monascus ruber. A máxima produ-ção de pigmentos vermelhos em frascos Er-lenmeyer foi de 5,2 UDO

480 nm (1 unidade UDO

(Abs) corresponde a 15 mg/L de pigmento) eprodutividade de (0,0596 UDO

480nm./h) utili-

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zando fonte de carbono mista (5 g/L deglicose e 15 g/L de glicerol). Os autoresobservaram que variações no valor de pHpodem regular a proporção do tipo de pig-mentos encontrado no meio. Valores de pHinferiores a 5,5 encontram-se associados àformação de pigmentos amarelos, sendo queos valores superiores favorecem a produ-ção de pigmentos vermelhos.Também, o glicerol resultante da transes-terificação de óleo de mamona demons-trou ser uma fonte de carbono apropriadapara produção de biosurfactante ramnolipí-deo (uma ou duas moléculas de ramnose eácido graxo de cadeia longa) por Pseudo-mona aeruginosa59. A concentração da fon-te de nitrogênio (NaCO

3) representou ser

um fator preponderante na produção do bi-osurfactante, comprovado pela redução datensão superficial da água maior a 45,7 % eíndice emulsificação às 24 h superior a 56,1% para os diferentes hidrocarbonetos testa-dos (querosene, hexadecano e isso-octa-no). Prieto et al 2007 obtiveram resultadossimilares na produção de ramnolipídeos,comprovando a maior influência do NaNO

3

na produção de biosurfactante pela mesmaespécie de microrganismo, seguido porNH

4NO

3, uréia e NH

4SO

4.

Recentemente, em trabalhos de pesquisavisando a seleção de leveduras aptas paraa assimilação e crescimento em glicerol co-mercial, verificamos que algumas espéci-es, incluindo Kluyveromyces marxianus eCandida batistae, apresentaram elevada ca-pacidade de crescimento neste substrato.Dentre as leveduras estudadas, Hansenulaanomala e Candida tropicalis mostraramcapacidade de produzir etanol em concen-trações de 3,5 e 6,1 g/L, respectivamen-te61. Estes resultados, ainda preliminares, sãopromissores para produção de etanol a par-tir de glicerol por esses microrganismos.Por outro lado, Volpato et al (2007) isola-ram de ambientes amazônicos diferentescepas de Bacillus com capacidade de pro-duzir lípases utilizando glicerol como fontede carbono. A máxima atividade lipolíticaem glicerol (24,3 U/L) foi obtida com oisolado BL74.Destaca-se também a possibilidade da fer-mentação de glicerol de biodiesel por Strep-tomyces clavuligerus para a produção deácido clavulânico, potente inibidor de beta-lactamases, que junto com a penicilina ecefalosporina são utilizados contra infecci-ones bacterianas. O trabalho desenvolvidopor Gutierrez e Costa Araújo (2007) com-parou a suplementação continua de meiosde cultura contendo concentrações variá-veis de fonte de aminoácidos e glicerol paraa produção de ácido clavulânico. Após 120h de fermentação, a máxima concentraçãode ácido clavulânico obtido foi de 60 mg/L.Na busca de novas cepas fermentadoras deglicerol, Silva e Contiero (2007) isolaram abactéria GLC29 produtora de 10,8 g/L de1,3-propanodiol a partir de 20 g/L de gli-cerol. Este estudo soma-se às numerosaspesquisas desenvolvidas em outros paísespara a produção deste glicol com impor-

tantes aplicações industriais (GONZALEZ-PAJUELO et al., 2006; XIU et al., 2007).Estes e outros estudos demonstraram a po-tencialidade da utilização do glicerol, pro-veniente da produção de biodiesel, comofonte de carbono para a produção de com-postos químicos de interesse comercial.Embora, em etapas iniciais, novas linhas depesquisas estão sendo definidas para obtercompostos de maior valor agregado, queincluam principalmente moléculas bioati-vas, como proteínas e ribonucleotídeos, paraa indústria alimentícia e farmacêutica.A utilização de biorefinarias para conver-são de glicerol bruto apresenta-se como umaestratégia promissora para evitar futuros pro-blemas de acumulação deste subproduto,ao tempo de aumentar a rentabilidade daprodução de biodiesel.

Aspectos econômicos

O excesso de glicerol proveniente da pro-dução de biodiesel associado à baixa de-manda mundial (0,5 bilhões ton/ano) e baixocusto, projetam um desequilíbrio econômi-co nas indústrias oleoquímicas e de refinode glicerol, ao tempo de pôr em risco asustentabilidade econômica de usinas de bi-odiesel no mundo (HGCA, 2007). No Bra-sil, a maioria das plantas industriais de bio-diesel não valoriza efetivamente o glice-rol. A projeção do volume de glicerol nopaís para o ano 2013 é de 488 milhões eas perspectivas, nesse sentido, não são aus-piciosas, devido a que poucas apresentamplanos futuros para sua conversão em pro-dutos de maior valor agregado.O uso intensivo deste co-produto é essen-cial para a sustentabilidade econômica daindústria de biodiesel no país. A queda brus-ca do preço do glicerol no cenário interna-cional nos últimos 5 anos tem obrigado àparalisação da produção da glicerina sinté-tica a partir de propileno. O excesso devolume de glicerol, o alto preço do propi-leno e as vantagens de produzir compostosderivados da indústria petroquímica demaior valor, conspiraram para o severodeclínio das indústrias de glicerina sintéti-ca (HGCA, 2007). Nos Estados Unidos, ovalor do glicerol diminuiu de 1048 R$/tem 2004 para aproximadamente 125 R$/tno ano 2006 (YAZDANI, GONZALEZ,2007). No Brasil, atualmente o preço FOB(Free on Board) do glicerol bruto varia de200 a 400 R$/t, sendo o valor do glicerolloiro (parcialmente tratado para remoçãode impurezas) de 600 a 800 R$/t. Estima-se que na próxima década, sempre que semantenha a tendência favorável para o bi-odiesel, o preço do glicerol co-produzidopoderia diminuir ainda mais.

Considerando a situação e a proje-ção para os próximos anos, a utilização doglicerol como substrato para fermentaçãopoderia torna-se vantajoso em relação aopreço de outros resíduos tradicionalmenteutilizados como fonte de carbono para aobtenção de bioprodutos. Por exemplo, opreço do melaço de cana de açúcar no mer-cado internacional varia entre os 120 e 170

R$/t, outro exemplo corresponde ao va-lor do bagaço de cana que oscila entre9,5 e 24 R$/t. Neste último caso, o baga-ço deve ser submetido a tratamentos físi-cos, químicos ou enzimáticos para dispo-nibilizar a glicose, o que elevaria o preçofinal do substrato. A produção industrialde biomoléculas por fermentação de gli-cerol economizaria custos de processos tra-dicionais que requerem etapas de eleva-do consumo energético para extração eacondicionamento do substrato (sacarosede cana de açúcar ou glicose de amido demilho).

O grande desafio no Brasil seráincentivar as pesquisas biotecnológicas que,timidamente, vem sendo desenvolvidas nopaís. Alem disso, facilitar a imediata trans-ferência tecnológica dessas descobertas naprópria usina de biodiesel, permitindo re-duzir custos de transporte para convertero biodiesel em um biocombustível de altarentabilidade econômica.

CONCLUSÃO

Desde que alguns governos estipularamnormativas que obriga a adição de biodi-esel ao combustível de petróleo, grandequantidade de glicerol vem sendo gera-da, tornando-se necessária a busca de al-ternativas para sua utilização. Numerosaspesquisas estão sendo desenvolvidas nes-se sentido, no entanto, os esforços aindaconstituem uma solução em longo prazopara a acumulação de glicerol. A biotec-nologia apresenta alternativas para a ob-tenção de produtos de alto valor agrega-do como bio-pesticidas, pigmentos, aro-mas, polímeros, antibióticos e proteínas re-combinantes. No entanto, é preciso estu-dar com maior detalhe aspectos de enge-nharia bioquímica como agitação, aeração,cinética de crescimento e obtenção de pro-dutos, e transferência de massa e energia.Estes parâmetros são considerados essen-ciais para entender os mecanismos de uti-lização de microrganismos assim como paraa otimização de processos, objetivando afutura ampliação de escala. Estratégias maisdetalhadas para a utilização biotecnológi-ca do glicerol são esperadas em poucosanos, de forma a reduzir os impactos am-bientais e tornar o biodiesel um produtoaltamente competitivo no mercado mun-dial de biocombustíveis.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiroda CAPES e o CNPq para o desenvolvi-mento de projetos de pesquisas.

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