A teoria genética de Piaget Professora Cibelle Celestino Silva IFSC – USP.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA
Glessa Heryka Celestino de Santana
FOLKSONOMIA: A REPRESENTAÇÃO COLABORATIVA DA
INFORMAÇÃO
Natal/RN
2010
GLESSA HERYKA CELESTINO DE SANTANA
FOLKSONOMIA: A REPRESENTAÇÃO COLABORATIVA DA
INFORMAÇÃO
Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pela Profª Maria do Socorro de Azevedo Borba, para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para a conclusão do curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Orientadora: Profª. Msc. Monica Marques Carvalho
Natal/RN 2010
GLESSA HERYKA CELESTINO DE SANTANA
FOLKSONOMIA: A REPRESENTAÇÃO COLABORATIVA DA
INFORMAÇÃO
Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pela professora Maria do Socorro de Azevedo Borba para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para a conclusão do curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
MONOGRAFIA APROVADA EM: ______/______/2010
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________ Profª. Msc. Monica Marques Carvalho
(Orientadora)
______________________________________________ Profa. Drª. Nádia Aurora Vanti Vitullo
(Membro)
______________________________________________ Msc. Jacqueline de Araújo Cunha
(Membro)
Dedico este trabalho a Fernanda, Gessyka, Guiomar (in memoriam), Igor, Patricia e Sandra, pelo amor compartilhado.
A André, Caio, Eduardo, Jucilene e Salézia, pelas horas mais significativas e divertidas da graduação.
A minha orientadora, professora Monica Carvalho, pela competência e delicadeza.
Todas as classificações são, em última análise, arbitrárias. (MANGUEL).
RESUMO
A atualização contínua das tecnologias de informação e comunicação vem proporcionando modificações na configuração social até então inimagináveis, o que acarretou a transição de uma época pautada na produção e consumo de bens materiais para um período permeado pela informação como subsídio básico de sua existência. Assim, a Sociedade da Informação é vista como dependente dessas novas tecnologias, bem como de seu produto mais significativo, a informação. O surgimento da Internet, advindo desse momento histórico, trouxe a possibilidade de que informações fossem produzidas e disponibilizadas intensamente na rede mundial de computadores, constituindo-se um espaço propício para o compartilhamento entre usuários. Tal cenário aponta para o estabelecimento de uma nova forma de categorização da realidade que usuários comuns da web encontraram, denominada folksonomia. Nesse sentido, esta pesquisa exploratória, que se utiliza de levantamento bibliográfico, tem por objetivo analisar as práticas de usuários não especialistas voltadas para a representação e categorização da informação em ambiente digital enquanto modalidade que se contrapõe a sistemas de classificação tradicionais. Para tanto, indaga acerca da maneira como as informações são representadas por usuários não especialistas, questionando-se a respeito de sua motivação. Conclui que mediante a existência das novas tecnologias de informação e comunicação e o volume crescente de informações na web, a categorização por seus usuários torna-se uma prática inevitável que pode trazer contribuições significativas para esse ambiente no tocante à recuperação da informação.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Delicious: social bookmarks................................................61
Figura 2 – Clusters do Flickr.................................................................62
Figura 3 – Catálogo da Biblioteca de Danbury.....................................63
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ARPA Advanced Research Projects Agency
ARPANet Advanced Research Projects Agency Network
CDD Classificação Decimal de Dewey
CDU Classificação Universal Decimal
DCs Distributed Classification Systems
GED Gestão Eletrônica de Documentos
LCC Classificação da Biblioteca do Congresso
LD Linguagens Documentárias
NLS oN Line System
SI Sociedade da Informação
TICs Tecnologias de Informação e Comunicação
UIs Unidades de Informação
WWW World Wide Web
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................11
2 A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO: UMA NOVA ECONOMIA ..................14
3 A REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO ...................................................30
3.1 A TRÍADE: DADO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO ...........................30
3.2 AS LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS ......................................................42
4 FOLKSONOMIA: "PODER ÀS PESSOAS"..................................................49
4.1 TAGGING: ETIQUETANDO O CONTEÚDO ..............................................57
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................67
REFERÊNCIAS................................................................................................................69
11
1 INTRODUÇÃO
À medida que o uso intensivo das novas Tecnologias de Informação e
Comunicação permitiu que a produção de informação fosse impulsionada e que
sua inserção na rede mundial de computadores alcançasse quantidades cada
vez maiores a partir do final do século XXI, percebe-se que esse montante de
conteúdo informacional não é passível de ser recuperado em sua totalidade.
Para que isso possa ocorrer, a preocupação com sua representação deve
permear as iniciativas de acesso e recuperação da informação em meios
eletrônicos.
Devido ao seu caráter de multiplicidade de experiências e de contínuas
modificações ocasionadas pela possibilidade que oferece às pessoas de
acrescentar seus pontos de vista a respeito de como percebem a realidade,
complementando as percepções de outros indivíduos que já expuseram sua
posição diante das coisas do mundo, a web, no atual estágio em que se
encontra, isto é, em sua segunda geração, tem seu conteúdo aumentado
enormemente todos os dias.
As práticas colaborativas de produção de conteúdo na web são assim
incentivadas, enfatizando-se o uso de ferramentas e aplicativos digitais, de
maneira que os seus usuários contribuam para a formação de uma inteligência
coletiva. A construção de uma coletividade em rede se dá por meio da
exposição das idiossincrasias de cada usuário, bem como da transmissão de
suas culturas, carregadas de tradições, juízos de valor etc.
Nessa direção, esse ambiente virtual sugere uma tendência de
representar a informação relativa à livre expressão do entendimento dos
usuários da web a respeito de determinado conteúdo. A esse fenômeno, dá-se
o nome de folksonomia ou tagging. Enquanto a representação da informação
em âmbito digital passa a não estar condicionada a procedimentos de
12
representação tradicional, vem a propósito considerar a forma como usuários
não especialistas têm atribuído características aos documentos para fins de
recuperação.
A partir desse entendimento, questiona-se: a representação da
informação por não especialistas traz vantagens em relação à representação
da informação tradicional? De que maneira a informação está sendo
representada na web por seus usuários?
Diante dessas indagações, a pesquisa tem a finalidade analisar as
práticas da representação da informação relacionadas ao fenômeno das tags
presentes em ambiente web, tendo como suas especificidades destacar a
folksonomia como tendência na representação da informação em contextos
eletrônicos, tratar da contribuição de usuários não especialistas para a
representação da informação na web, dentre outros aspectos.
A identificação com disciplinas, ao longo da graduação em
Biblioteconomia, que em sua ementa considerassem aspectos de análise,
tradução, representação, classificação da informação, tanto no viés tradicional
quanto numa abordagem contemporânea ligada às tecnologias digitais, trouxe
consigo a determinação para a realização desta pesquisa.
Como metodologia, esta pesquisa é de caráter exploratório, pautando-
se em levantamento bibliográfico de material de relevância, notadamente
fontes de informação bibliográficas presentes em suportes analógicos e
digitais, a saber, livros, periódicos, anais de eventos, endereços eletrônicos etc.
Assim, no capítulo dois, seguinte a esta introdução, destaca-se a
evolução do papel da informação nos contextos socioeconômicos, desde a Era
Medieval até chegar à atual configuração denominada Sociedade da
Informação.
O capítulo três trata da necessidade que o homem sempre apresentou
em representar o mundo ao seu redor, utilizando-se da linguagem para esse
fim. Traz ainda conceitos de dado, informação e conhecimento e discorre
acerca das linguagens documentárias e sistemas de classificação tradicionais.
13
O capítulo quatro ressalta a folksonomia como um modelo de
representação e categorização da informação inserido e construído
colaborativamente na web por usuários não especialistas.
As considerações finais demonstram que as práticas colaborativas de
representação da informação apresentam-se como uma tendência que traz
contribuições significativas para a categorização do conhecimento humano.
14
2 A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO: UMA NOVA ECONOMIA
A configuração da sociedade em curso nessa primeira década do
século XXI, em uma esfera que comporta países, sejam eles desenvolvidos,
sejam em desenvolvimento, pertencentes a todos os continentes, é
caracterizada como uma fase em que o recurso basilar para o exercício das
atividades que permeiam seus diversos setores é substituído pela informação,
bem como pelo conhecimento.
Esse período, no qual a informação passa a ser de fundamental
importância para a execução e desenvolvimento das práticas concernentes aos
âmbitos que compõem determinada dinâmica social, faz parte de um
paradigma denominado Sociedade da Informação (SI).
A Sociedade da Informação carrega consigo uma transformação que
diz respeito a mudanças na essência das relações sociais em todos os seus
campos de atuação, sem que haja exceção.
Ao conceituar uma época originada e desenvolvida em torno da
produção de bens de informação em oposição à ênfase dada a uma produção
de bens materiais anteriormente vivenciada, Albagli (1999, p. 291) demonstra
que
entende-se por Era da Informação e do Conhecimento a configuração de um padrão sociotécnico-econômico, hoje emergente, em que as atividades humanas estão centralmente baseadas e organizadas em torno das atividades de geração, recuperação e uso de informações e conhecimentos.
Por apresentar-se como uma conjuntura apenas recentemente
desenhada, diferentes autores têm contribuído, cada um com suas
perspectivas, para a discussão das causas e implicações futuras dessa nova
sociedade ainda em conformação, elaborando assim um corpo teórico que
reúne diversas e, por vezes, divergentes correntes de pensamento.
15
Reconhecidamente pós-industrial, esse tipo de sociedade difere de
seus predecessores no tocante ao elemento básico que, ao ser manipulado e
explorado, conduz e determina os processos envolvidos nos setores tanto da
economia e da política quanto da educação e da cultura, dentre outros.
O elemento informação toma o lugar antes ocupado por insumos, como
materiais naturais e mão de obra, respectivamente principais recursos
impulsionadores da sociedade agrícola e da sociedade industrial.
Baseada essencialmente no cultivo da terra, a sociedade agrícola,
iniciada por volta de 800 a.C., tem como característica predominante a
atividade de extração, na qual o solo é explorado em sua potencialidade no
intuito de se conseguir matérias-primas que terão sua forma modificada por
artesãos, categoria que reproduz as relações de trabalho da época.
A vinculação entre homem e natureza pode ser apontada como uma
representação do modelo em que essa configuração social era estabelecida,
quando os indivíduos que a compunham se encontravam empenhados em
atividades voltadas para a agricultura, de maneira que a propriedade da terra
constituía tanto um bem quanto um valor a ser perseguido, pois determinava a
posição social de um indivíduo, o seu status.
Segundo Toffler (1992), até que a sociedade predominantemente
agrícola se estabelecesse como uma realidade, há mais de dez mil anos, os
grupos humanos da época tinham na migração um traço marcante de sua
cultura, o que determinava formas de alimentação, relações entre membros de
diferentes e do mesmo grupo, bem como arranjos familiares etc. O nomadismo
se justificava pela dependência das condições climáticas, sendo inviável a
constituição de colônias permanentes, já que as chuvas determinavam a
fertilidade dos campos, o que incentivava a atividade de pastoreio.
No momento em que a noção de agricultura avançava, houve a
necessidade do estabelecimento desses grupos, no sentido de que o cultivo da
terra exigia de seus integrantes a permanência duradoura em determinados
espaços, pois, a partir dessa fixidez do homem no solo, a terra – enquanto
16
provedora potencial de condições favoráveis para aquele indivíduo que se
propunha a plantar e mais tarde colher frutos que seriam a base de sua
subsistência –, na sociedade agrária, era a infraestrutura que intermediava a
vida de seus participantes no que tange à cultura, à política, à família, numa
organização voltada para a aldeia. (TOFFLER, 1992).
Na Era Medieval, depois da queda do Império Romano em
consequência da invasão da Europa pelas tribos bárbaras, instaurou-se o
feudalismo, sistema hierárquico que tinha em sua base o servo camponês, cuja
relação de troca com os senhores feudais era desigual, estando o servo à
mercê das determinações impostas pelos seus senhores como contrapartida
pela proteção militar frente às invasões. (HUNT; SHERMAN, 1986).
Na Idade Média, o comércio era incipiente devido principalmente aos
costumes que prevaleciam na época e que consideravam as transações
comerciais um modo de estimular a ganância proveniente da acumulação de
bens e de promover rupturas no status existente na sociedade feudal, que não
permitia mudanças na posição que seus membros ocupavam socialmente,
configurando-se um modelo estamental.
Ao ser traçada uma linha evolutiva entre um tipo de sociedade e outro,
percebe-se que todas as instâncias da vida de um ser humano são
englobadas, em se tratando de partes que se constituem um todo. Da mesma
forma que o aspecto social não pode ser dissociado da totalidade, o aspecto
econômico de um sistema social é também determinante para o funcionamento
dos mecanismos que o regem. No entanto, nota-se que é comum que o viés
econômico seja preponderantemente considerado quando se avaliam os
processos aos quais uma sociedade é submetida, na medida em que a
economia tem se mostrado hegemônica desde as civilizações mais antigas.
Conforme Hunt e Sherman (1986), a partir do momento em que
excedentes na agricultura tornaram-se comuns devido a mudanças nas
técnicas de cultivo com a introdução do sistema de rodízio que veio a substituir
a monocultura nos espaços inteiros das terras, a comercialização desses
produtos em excesso passou a ser inevitável, podendo-se atribuir a esse fato a
17
responsabilidade pelo fim do sistema feudal, dando lugar ao capitalismo
emergente.
A sociedade medieval era essencialmente agrária. A hierarquia social baseava-se nos vínculos que os indivíduos mantinham com a terra; as atividades agrícolas sustentavam todo o sistema social. Paradoxalmente, contudo, o crescimento da produtividade agrícola desencadeou uma série de mudanças profundas que se prolongaram por vários séculos, culminando na dissolução do feudalismo medieval e no surgimento do capitalismo. (HUNT; SHERMAN, 1986, p. 23).
A sociedade industrial se seguiu à sociedade agrícola em final do
século XIX, partindo de um padrão social atrelado à produção maciça de bens
de consumo, possível graças ao surgimento de tecnologias, responsáveis pela
mudança no enfoque, sobrepujando a noção de artesanato e a intensa
valorização da terra presentes na sociedade com base na agricultura. Assim, a
fabricação desses bens se apresenta como um fator determinante para o
arranjo social nesse período.
O sistema capitalista foi desencadeado principalmente pelas mudanças
ocorridas no campo, que impulsionaram a migração de suas populações cada
vez mais numerosas para as cidades, onde as pessoas se viram impelidas a
fazer uso de sua força de trabalho em troca de salário.
Iniciada na Inglaterra no século XVIII em decorrência do aumento
crescente na produção de bens materiais, a Revolução Industrial surgiu como
representação da produtividade voltada para alimentar a necessidade de
consumo de mercados externos que vinha superando incomparavelmente a
demanda do mercado interno.
A descoberta do Novo Mundo impulsionou o dinamismo do sistema
fabril, já que as possibilidades de comércio foram expandidas além-mar. Em
razão de o capitalismo ter se tornado o sistema econômico desse paradigma, a
acumulação de capital e a propriedade privada se mostravam objetivos a
18
serem perseguidos, em que pese o lucro como subsídio dessas ações. (HUNT;
SHERMAN, 1986).
Já Toffler (1992) considera que enquanto na sociedade agrícola
aqueles que produziam eram os consumidores dos produtos, na sociedade
industrial a separação entre produtor e consumidor tornou-se evidente. Esse
cenário é consequência da impossibilidade de se manter a forma com que as
pessoas costumavam se utilizar daquilo que produziam, quando o número de
produtos transpõe a capacidade de consumo, ao contrário do sistema anterior,
voltado somente para o sustento da vida em harmonia com a natureza.
É conveniente salientar, baseando-se em Drucker (1999), que quando
o motor a vapor teve sua funcionalidade detectada como um recurso potencial
de energia, em substituição ao uso da água para esse fim, a Revolução
Industrial chegava a seu auge. Desse momento em diante, o motor a vapor
passou a influenciar sobremaneira os sistemas fabris, pois, se a água já não
era a fonte energética que movia a manufatura, as fábricas podiam estar
localizadas em quaisquer espaços geográficos, não somente próximas aos
rios. Portanto, as indústrias passaram a ser construídas principalmente em
centros urbanos, atraindo as pessoas para eles, de forma que cresceriam
imensamente.
Drucker (1999, p. 11) assinala que na Revolução Industrial houve “[...]
uma transformação, pela tecnologia, da sociedade e da civilização do mundo
inteiro”, complementando ao se referir a “[...] uma mudança da produção,
quase da noite para o dia, do artesanato para a tecnologia”.
A Revolução Industrial atribuía um valor preponderante aos bens
materiais e à intensidade na sua produção com vistas a promover, a partir
dessa oferta em larga escala, o consumo, preferencialmente irrestrito. Inserida
na fase histórica da modernidade, a Revolução Industrial tinha por
componentes principais para a sua realização materiais, como petróleo em
abundância, energia elétrica e a tecnologia do motor a vapor, que davam
fundamentação à infraestrutura requerida para seu funcionamento,
19
acreditando-se que a natureza estava disponível para a exploração ilimitada
em prol do progresso.
Apoiada na exploração de recursos de energia naturais a baixos
custos, de combustíveis fósseis, como carvão, gás e petróleo abundantes, a
produção em massa pode ser vista como a principal característica do
industrialismo, juntamente com a divisão do trabalho, adaptando os homens às
máquinas em contraposição à dependência dos povos agrícolas aos
fenômenos naturais.
Diante desse quadro, veem-se as mudanças de perspectiva ocorridas,
gerando, assim, novos paradigmas, reflexo das transformações que as
sociedades experimentam em todos os âmbitos.
De uma sociedade feudal autossustentável, passa-se a uma economia
baseada na produção industrial em larga escala com fins de competição na
venda de bens de consumo até chegar à sociedade em curso, cuja
preocupação primeira não está centrada na exigência de uma alta
produtividade de bens materiais, mas no incentivo à produção e uso da
informação com vistas a promover inovação na sociedade como um todo,
provocando, dessa maneira, modificações em cada uma de suas esferas.
(MASUDA, 1980).
A sociedade pré-industrial é do tipo agrário, estruturada em moldes tradicionais, onde o poder está em regra associado à propriedade da terra. A sociedade industrial apoia-se na produção de bens industriais e o poder nela instituído pertence aos capitalistas. A sociedade pós-industrial tem por base os serviços e a fonte do poder nela existente radica na informação. Esta sociedade pauta-se, pois, pela ascensão dos serviços, que se tornam hegemônicos e, inversamente, pelo declínio das atividades industriais. (BERTERO, 2010)1.
Essa sociedade pós-industrial, ainda que por ser globalizada possa
apresentar a noção de estreitamento de relações e, portanto, de acessibilidade
1 Documento online, não paginado.
20
de todos a bens materiais e imateriais em sua completeza, muitas vezes põe à
prova essa ideia, pois é permeada por ambiguidades. Em se tratando de
conjuntos de seres humanos, a sociedade (ou sociedades) está a todo o
momento sendo movida pelas relações entre indivíduos, notadamente relações
de interesse, carregando em si, portanto, distinções sociais. A
De acordo com Demo (2000)2, enquanto países desenvolvidos e seus
cidadãos usufruem de maneira mais igualitária as benesses de cada setor, seja
econômico e político, seja cultural e educacional, há também aqueles países,
em sua maioria subdesenvolvidos, nos quais as desigualdades tornam-se
patentes, criando diferenças de oportunidades no que tange aos direitos dos
cidadãos.
Em uma alusão ao Livro Verde para a Sociedade da Informação em
Portugal, Tarapanoff, Araújo Júnior e Cormier (2000)3 comentam que
o modus operandi da sociedade pós-industrial identifica-se com o da sociedade da informação. Trata-se de um modo de desenvolvimento social e econômico em que a aquisição, armazenamento, processamento, valorização, transmissão, distribuição e disseminação da informação conducente à criação de conhecimentos e à satisfação das necessidades dos cidadãos e das organizações desempenham um papel central na atividade econômica, na criação de riqueza, na definição da qualidade de vida dos cidadãos e das suas práticas culturais.
Ainda que no senso comum a globalização tenha seu significado
relacionado a uma cooperação entre países que os torna participantes de uma
única rede mundial, na qual cada um deles tem a oportunidade de competir
igualitariamente no mercado global, ela pode ser também encarada sob
diferentes pontos de vista.
Uma vez que as novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TICs) tiveram suas funcionalidades incorporadas no cotidiano das sociedades
2 Documento online, não paginado. 3 Documento online, não paginado.
21
em geral, especialmente às rotinas das organizações políticas e privadas, de
maneira tal que seu uso passou a ser imprescindível, as fronteiras existentes
entre países e entre continentes tornaram-se, a partir de fins do século XX,
apenas geográficas, no sentido de que os limites dizem respeito aos domínios
das nações, mas que, em se tratando de intercâmbio de informações, foram
transpostas.
Assiste-se, a partir da década de 1970, à conformação de uma nova dinâmica tecnológica internacional, com a substituição paulatina de tecnologias intensivas em material e energia e de produção estandardizada e de massa, características do ciclo de desenvolvimento anterior baseado no petróleo abundante e barato, para as tecnologias intensivas em informação, flexíveis e computadorizadas, associadas ao paradigma baseado na microeletrônica. (MALDONADO, 1999, p. 105).
Lastres e Albagli (1999, p. 12) reconhecem o tecnoglobalismo como
uma “ampla difusão das tecnologias de informação e comunicação, as quais
proveram os meio técnicos que possibilitaram a ruptura radical na extensão e
velocidade dos contatos e de trocas de informações entre diferentes atores
individuais e coletivos”.
Face ao exposto, Miranda (2000)4 chama a atenção para o papel das
tecnologias de informação e comunicação na atualidade, salientando que
na sociedade da informação, a comunicação e a informação tendem a permear as atividades e os processos de decisão nas diferentes esferas da sociedade, incluindo a superestrutura política, os governos federal, estaduais e municipais, a cultura e as artes, as finanças, o comércio e a agricultura, a proteção do meio ambiente, as associações comunitárias, as sociedades profissionais, sindicatos, as manifestações populares, as minorias, as religiões, os esportes, lazer, hobbies etc. A sociedade passa progressivamente a funcionar em rede.
4 Documento online, não paginado.
22
Nesse cenário globalizado, a valorização do potencial intelectual dos
indivíduos como estratégia de competitividade se faz notória. Assim, para o
alcance dessa potencialidade, é preciso capacitação contínua através da
educação. Nesse caso, priorizar a formação de cidadãos faz sentido à medida
que o aprendizado passou a ser considerado um processo-chave em um
sistema no qual o conhecimento é passível de se constituir vantagem
competitiva.
Particularmente no aspecto econômico, o capital, os recursos naturais
e a mão de obra não são tão sobressalentes, na medida em que é dado
destaque especial ao conhecimento, produto da apreensão da informação
utilizada, encarado como um valor na contemporaneidade intimamente
relacionado à inovação e à produtividade, principais metas a serem atingidas
no período em curso. (DRUCKER, 1999).
Uma inovação pode revolucionar completamente uma determinada
situação, modificando até o paradigma atual, bem como garantir a melhoria de
processos e produtos que representem benefícios tanto para as empresas
quanto para o consumidor de bens e serviços, estimulando o crescimento da
economia de um país.
Os produtos e bens sofrem contínuo desenvolvimento devido a rápidas
mudanças na configuração das tecnologias capazes de subsidiar as inovações
que a sociedade requer enquanto inserida num contexto dinâmico onde a
informação, acompanhada dessas tecnologias, permite que as demandas em
pesquisa e desenvolvimento de bens e serviços sejam supridas, alimentando,
dessa forma, o mercado com produtos cujo valor será determinado por essa
mesma dinâmica. Nessa direção, configura-se um ciclo, no qual interesses
individuais e de mercado podem ser detectados.
A Sociedade da Informação, segundo Demo (2000)5, caracteriza-se por
um maior interesse pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia, em que a
“produtividade econômica é alimentada essencialmente não mais pela força
física do trabalhador, mas por sua inteligência”. Ainda assim, o lucro continua a
5 Documento online, não paginado.
23
ser visado, influindo sobremaneira nas pesquisas em ciência e tecnologia, em
que a informação é peça fundamental.
As tecnologias de informação e comunicação potencializam o
crescimento dos setores econômico e social. Para acompanhar as demandas
da SI no estágio em que ela se encontra, faz-se necessária não somente a
compreensão das técnicas elementares de informática, mas também,
principalmente, a aplicação desse entendimento de maneira crítica em prol da
geração de novos conteúdos que tragam alguma contribuição para a população
em geral.
Essas tecnologias, de acordo com Lastres (1998)6, “além de
possibilitarem a rápida comunicação, processamento, armazenamento e
transmissão de informações a nível mundial a custos decrescentes, encontram-
se na base técnica do que se convencionou denominar ‘revolução
informacional’ [...]”.
Complementando esse raciocínio, ao inserir o conhecimento como um
valor passível de ser formado mediante a apropriação significativa das
informações disponíveis a todo o tempo, Robredo (2003, p. 20) diz que “a
condição do conhecimento ganhou impulso nos últimos anos devido ao
crescente potencial das tecnologias da informação e comunicação, para tornar
possível o processamento, comunicação e armazenamento de quantidades de
informação cada vez maiores”.
Contudo, proporcionar conectividade e acesso às TICs – bancos e
bases de dados, correio eletrônico, livro eletrônico, mecanismo de busca de
informação, videoconferência, gerenciamento eletrônico de documentos (GED),
entre outros – não implica necessariamente seu uso apropriado, no sentido de
construção de conhecimento, pois, em boa parte, a população não tem a
compreensão de que a Internet, para citar um exemplo, pode ser uma
ferramenta valiosa para seu crescimento tanto pessoal quanto profissional e,
consequentemente, para a sociedade em que está inserida.
6 Documento online, não paginado.
24
Ao passo que a globalização proporciona que um número significativo
de bens de consumo, assim como de produtos culturais e informacionais, tenha
alcance mundial devido à utilização maciça das TICs, não escapa de permitir
que somente uma pequena parcela dos membros de uma sociedade concentre
em seu poder o acesso a esses bens, constituindo-se o grande paradoxo das
relações sociais da contemporaneidade.
Às sociedades do presente século são exigidos novos e mais complexos
conhecimentos que geralmente requerem o domínio, ao menos parcial, das
tecnologias de informação e comunicação, as quais se encontram em
constante modificação e/ou aperfeiçoamento, o que pode vir a ser um fator de
exclusão ou infoexclusão.
A globalização é um processo desigual que, em certa medida, pode ser considerado como a ocidentalização dos valores culturais de nossos tempos. Mas, paradoxalmente, a globalização vem fortalecendo a proliferação de identidades locais e, ainda que pareça utópico, a sociedade da informação que estamos ajudando a construir também pode dar espaço para culturas geograficamente isoladas [...]. (MIRANDA, 2000)7.
A informação, força motriz da nova ordem mundial – alcançando a
posição que antes a energia gerada pela natureza ocupava e, mais tarde,
particularmente os combustíveis fósseis –, ao ser intermediada pelas TICs,
mostra-se o insumo básico do novo paradigma, mas agora, diferentemente dos
outros períodos da história, a capacidade intelectual dos seres humanos é
requerida para elevar a informação ao patamar de conhecimento, gerando
preferencialmente inovação, no intuito de alavancar a economia local.
Sobre a inovação como objetivo de destaque a ser atingido, Albagli
(1999, p. 293, grifo do autor) demonstra que
7 Documento online, não paginado.
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as então chamadas novas tecnologias compreendem um conjunto de aplicações de descobertas científicas, cujo núcleo central consiste no desenvolvimento de uma capacidade cada vez maior de tratamento da informação, bem como de sua aplicação direta no processo produtivo e na dinâmica econômica de modo geral [...]. Tais desenvolvimentos têm atuado como fatores de alavancagem de inovações produtivas, técnicas, organizacionais e comunicacionais, caracterizando a existência de uma verdadeira ‘revolução informacional’ [...], cujos impactos se fazem sentir em todos os níveis de vida em sociedade, bem como nos diferentes espaços geográficos do planeta, ainda que de forma desigual e diferenciada.
No que Freire e Freire vêm a reforçar tal compreensão:
Na verdade, o que caracteriza a atual revolução promovida pelo desenvolvimento industrial e inovações tecnológicas das tecnologias digitais de informação e comunicação não é propriamente sua centralidade na informação e no conhecimento, mas a transformação destes em forças produtivas. (FREIRE; FREIRE, 2009, p. 17).
Há de se ter em mente que se a informação veio a preencher um lugar
central na nova dinâmica social, foi necessário que ela fosse acompanhada de
uma infraestrutura – as telecomunicações, os computadores pessoais, o
acesso à Internet – que permeia uma indústria voltada para suprir as
demandas de hardware, software, conteúdos e serviços de telecomunicações.
Esse processo ganha impulso durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, o mundo passava por um momento de grandes conflitos, e os países centrais, notadamente os Estados Unidos, URSS e Inglaterra, perceberam a importância da informação para a criação e desenvolvimento de estratégias de produção que lhes permitissem ganhar a guerra. Nessa época, foi empregado um grande número de pessoas que passaram a trabalhar em processos de coleta, seleção, processamento e disseminação de informações que fossem relevantes para as estratégias de guerra. (FREIRE; FREIRE, 2009, p. 14).
26
A chegada dos microcomputadores mudou a relação das pessoas da
sociedade em geral, uma vez que o manejo das tecnologias se fez presente no
dia a dia. A intimidade homem-máquina é intensificada quando do
estreitamento consequência da exigência dos mecanismos sociais
experimentada nas últimas décadas.
Nessa época de grande velocidade de informações, o amplo acesso
aos computadores pessoais por causa da redução nos custos de mercado
possibilitou à parte da população a utilização dos recursos que essas máquinas
proporcionam. Todavia, ao tempo em que diferentes e inúmeras TICs surgem e
se aperfeiçoam, tornam-se obsoletas em uma curta periodicidade, quando são
substituídas por outras tecnologias mais potentes e, em geral, mais
apropriadas para as demandas dos indivíduos em relação às ferramentas de
informação e comunicação.
Paralelamente aos aspectos da obsolescência e da impossibilidade
que algumas pessoas têm de adquirir esses equipamentos em razão dos
preços, há também o fator do desnível tecnológico entre nações – e ainda entre
regiões dessas nações –, já que sua inserção faz-se amplamente presente em
umas enquanto em outras é incipiente, apesar do contínuo crescimento do
setor.
Na contemporaneidade, dá-se maior ênfase ao aspecto do aprendizado
das técnicas voltadas para o manuseio das tecnologias em detrimento do uso
criativo e reflexivo dessas ferramentas que, nesse sentido, estariam a serviço
de inovações trazidas para a comunidade. A esse respeito, Barreto (1994)8
afirma que
democratizar a informação não pode, assim, envolver somente programas para facilitar e aumentar acesso à informação. É necessário que o indivíduo tenha condições de elaborar este insumo recebido, transformando-o em conhecimento esclarecedor e libertador, em benefício próprio e da sociedade onde vive.
8 Documento online, não paginado.
27
As iniciativas de âmbito governamental, da iniciativa privada, bem
como do terceiro setor, nomeadamente as Organizações Não Governamentais
(ONGs), têm demonstrado que capacitar as pessoas para lidar com os
equipamentos eletrônicos e de comunicação não implica apenas as habilidades
técnicas que elas devem possuir, mas principalmente estabelecer
competências nesses atores com o intuito de desenvolver uma postura crítica
frente às exigências sociais, acarretando na observância da cidadania.
Na ideia de cidadania, encontra-se o preceito básico de inclusão,
envolvimento nas variadas instâncias socialmente constituídas. Quando se
trata de Sociedade da Informação e suas características particulares, a
inclusão digital torna-se uma das condições para o exercício da cidadania
plena, no momento em que, a partir do aprendizado das tecnologias de
informação e comunicação, a pessoa obtém conhecimentos acerca de como
exigir seus direitos e de exercer seus deveres perante a sociedade em que se
insere.
Leva-se em consideração que quando a população em geral tem
acesso a uma gama de informações, ela estará apta a garantir maiores direitos,
promovendo a seus membros status de cidadão, em que pese o conhecimento
de leis que lhes assegurem esses direitos. (TAKAHASHI, 2000).
Em resumo, constata-se que por intermédio da difusão em escala
mundial das novas tecnologias de informação e comunicação uma sociedade
distinta das anteriores vem sendo estruturada.
Diferentemente das dinâmicas sociais anteriores – firmadas ao se lidar
com a natureza enquanto provedora da subsistência dos povos, quando se
remete à sociedade agrícola, e na produção massiva de bens de consumo que
demandavam recursos naturais em profusão, no caso da Revolução Industrial
–, a Sociedade da Informação, iniciada em meados do século XXI e ainda em
desenvolvimento, tem na informação (e em sua relação com as tecnologias de
informação e comunicação) sua condição indispensável para o funcionamento
de todas as suas instâncias.
28
A prestação de serviços, notadamente os serviços em informação, ao
incrementar o setor terciário, representa a principal modalidade da força de
trabalho nesse momento, no qual se considera o capital intelectual humano um
recurso exigido por órgãos institucionais e empresas.
A automação da maior parte das atividades que os setores da
sociedade desempenham expandiu a capacidade de memória e ocasionou a
alta velocidade dos cálculos, realizando-se funções em tempo real. Diante
desse fato, habilitar e qualificar os indivíduos, para torná-los profissionais
capacitados, apresenta-se como uma exigência dos novos tempos.
Quando não são dadas as oportunidades, seja através de políticas
governamentais, seja por iniciativa das próprias associações comunitárias
locais e ONGs, a obrigatoriedade da habilidade em tecnologias eletrônicas
pode vir a ser um fator de desemprego. Em muitos casos, percebe-se que
pessoas sem esse perfil são subempregadas, em uma forma de exclusão
digital que estabelece uma hierarquização pautada no acesso às informações
necessárias para a aquisição do conhecimento.
A evolução tecnológica permitiu que o fenômeno da globalização
atingisse todos os continentes. Desse modo, a desterritorialização é desde
então uma realidade à medida que já não existem barreiras físicas entre países
que não consigam ser transpostas pela comunicação em rede. As maneiras de
se comunicar, em sua nova forma, são facilitadas pelo uso das TICs, que
promovem livre acesso a registros documentais, sonoros, audiovisuais etc. em
quantidades bastante superiores em comparação a períodos precedentes,
estimulando o desenvolvimento dos indivíduos e seus grupos.
Enquanto as tecnologias de informação e comunicação propiciaram
acesso universal a uma parcela da população, configurando-se ferramentas
essenciais nesse contexto da Sociedade da Informação, puseram à disposição
os meios para a educação continuada e deram ensejo à liberdade de
expressão, entre outros benefícios, trouxeram também desafios no que tange a
questões sobre privacidade, confidencialidade e segurança das informações
disponibilizadas na rede e suas implicações na propriedade intelectual, sendo
29
preciso viabilizar políticas públicas de proteção à autoria e aos cidadãos que se
utilizam da virtualidade.
30
3 A REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO
3.1 A TRÍADE: DADO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO
Dada a relevância da apropriação da informação na Sociedade da
Informação, recurso intangível de alto valor agregado, há uma tentativa de
teóricos de variados campos científicos de definir, conceituar, a informação
com o intento de delimitar esse termo, diminuindo a ambiguidade acarretada
por seu uso em todos os âmbitos da vida, em um sentido prático – na medida
em que é requerida para a consecução das ações que ocorrem no dia a dia
das pessoas, mas não somente, pois é sabido que a informação constitui
processos biológicos de outras categorias de seres vivos – e teórico, no que
tange aos estudos científicos que buscam delimitar seus objetos. (LE COADIC,
2004).
Costuma-se fazer uma distinção entre os conceitos de dado, informação
e conhecimento, elementos indissociáveis uns dos outros que formam uma
tríade de relevância para o entendimento dessa relação. Nesse conjunto, o
dado é visto como uma informação em estado latente, já que se encontra em
seu formato bruto ainda destituído de significação, condição de que a
informação não pode prescindir para que como tal seja considerada. O
conhecimento, nessa interdependência, toma o lugar do elemento que
representa a identificação da informação em um determinado contexto,
enquanto lócus conveniente para a apreensão e mudança da informação em
conhecimento.
É recorrente o julgamento, por parte da população, de que a informação
é semelhante ao conhecimento. Vê-se com certa frequência a menção a uma
aquisição de conhecimento pelo simples fato de alguém estar acompanhando o
noticiário televisivo, na qualidade de veiculador de informações. No entanto,
essa ideia que relaciona diretamente informação e conhecimento traz consigo
equívocos, ainda que um esteja necessariamente ligado ao outro.
31
Dito isso, vale salientar que informação é determinado tipo de
conhecimento inscrito e que para haver a apreensão de uma informação por
um indivíduo faz-se necessário que ele possua um repertório prévio de
conhecimentos. A partir desse conhecimento de mundo, é possível
compreender uma parcela das informações ofertadas, exigindo-se, desse
momento em diante, uma seleção que dependerá dos conhecimentos
preexistentes, pois para a assimilação de determinada informação são
requeridas outras interpretações pertencentes à bagagem de cada pessoa em
suas experiências. Assim, dentre uma gama de informações disponíveis,
procede-se à seleção, à escolha, determinada por aquilo que já se conhece.
Shannon, citado por McGarry (1999, p. 3), complementa esse
pensamento ao dizer que “recebemos informação quando o que conhecemos
se modifica”. Com o intuito de ressaltar a contribuição dessa trindade no
desenvolvimento das práticas humanas, destaca-se a função da informação e
do conhecimento em todas as esferas sociais.
Um conceito de informação é trazido por Silva e Ribeiro (2002, p. 37
apud SILVA, 2006, p. 25), quando dizem que ela se configura um
conjunto estruturado de representações mentais e emocionais codificadas (signos e símbolos) e modeladas com/pela interacção social, passíveis de serem registradas num qualquer suporte material (papel, filme, banda magnética, disco compacto, etc.) e, portanto, comunicadas de forma assíncrona e multi-direccionada.
No campo da Ciência da Informação e áreas afins, como
Biblioteconomia, Arquivologia e outras, a noção de informação costuma seguir
uma linha que traça um paralelo entre a informação e o significado que lhe é
atribuído, com vistas, de preferência, à construção do conhecimento.
Enquanto portadora de sentido, persegue-se a informação para fins de
conhecer os fenômenos do mundo sem maiores pretensões reflexivas ou ainda
ao se pretender que dúvidas a respeito de determinado problema sejam
32
minimizadas ou solucionadas, reduzindo assim, segundo Barreto (1994), as
incertezas. Acerca desse ponto de vista, Le Coadic (2004, p. 39) indaga:
[...] o que leva uma pessoa a procurar informação? A existência de um problema a resolver, de um objetivo a atingir e a constatação de um estado anômalo do conhecimento, insuficiente ou inadequado. A necessidade de informação pareceria pertencer então à categoria das necessidades humanas fundamentais.
Dessa maneira, para esse autor, existem dois tipos de necessidade
que levam à busca pela informação, a saber: a necessidade de informação em
função do conhecimento, que “é uma necessidade derivada do desejo de
saber” que as pessoas carregam ao longo da vida; e a necessidade de
informação em função da ação, ligada às práticas cotidianas, nas quais a
informação exerce função de subsidiá-las, sendo
derivada de necessidades materiais determinadas pela realização de atividades humanas, profissionais e individuais: trabalhar, ir de um lugar para outro, comer, dormir, reproduzir-se. A informação permanece sendo o meio de desencadear uma ação com objetivo; é a condição necessária à eficácia dessa ação. (LE COADIC, 2004, p. 40).
Miranda (2000)9 reforça esse entendimento ao considerar os recursos
informacionais “insumos fundamentais para a capacitação, a atualização, a
solução de problemas e para a recreação, ou seja, poderão ser transformados
em oportunidades e em utilidade para as pessoas em escala exponencial e
inesgotável [...]”.
À informação são atribuídas certas propriedades que vêm reforçar o
seu caráter essencial, especialmente na Sociedade da Informação. Desse
modo, a informação é considerada: ubíqua, pois tem a capacidade de ser
9 Documento online, não paginado.
33
acionada em qualquer tempo e lugar simultaneamente por inúmeras pessoas;
anônima, por se tratar de uma expressão da coletividade; dependente, quando
se refere à subordinação ao poder institucionalizado (GONZÁLEZ DE GÓMEZ,
1995); inesgotável, à medida que seu uso não diminui a quantidade disponível;
partilhável, o que aumenta seu alcance; armazenável, podendo ser recuperada
em estoques, dentre outras características.
No processo de seleção de uma informação, costuma-se levar em
conta sua pertinência, isto é, se dada informação irá contribuir para reunir as
informações necessárias para a aquisição de um tipo de conhecimento. O
indivíduo, segundo Robredo (2003, p. 12, grifo do autor), é peça indispensável
nesse processo, já que
a conversão da informação em conhecimento, sendo este um ato individual, requer a análise e a compreensão da informação, as quais requerem, por sua vez, o conhecimento prévio dos códigos de representação dos dados e dos conceitos transmitidos num processo de comunicação ou gravados num suporte material. Ou seja, a incorporação de novas informações recebidas ao acervo individual de conhecimentos, mediante a mobilização dos recursos psicossomáticos adequados, é um ato (ou processo) individual, natural, humano, que independe da tecnologia.
No que Barreto (1994)10 vem complementar:
A informação, quando adequadamente assimilada, produz conhecimento, modifica o estoque mental de informações do indivíduo e traz benefícios ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento da sociedade em que ele vive. Assim, como agente mediador na produção do conhecimento, a informação qualifica-se, em forma e substância, como estruturas significantes com a competência de gerar conhecimento para o indivíduo e seu grupo.
10 Documento online, não paginado.
34
Nesse viés, ao situar a informação num contexto de experiências, em
uma interação contínua, identifica-se o conhecimento como o resultado de uma
ação em que são colocados em jogo tanto a informação quanto fatos,
vivências, a memória individual propriamente dita.
A apropriação da informação, portanto, gera conhecimento, motor do
desenvolvimento das sociedades. Robredo (2003, p. 17) afirma que o
“conhecimento é definido como a aplicação e o uso produtivo da informação. O
conhecimento é mais do que a informação, pois implica uma consciência do
entendimento adquirido pela experiência, pela intimidade ou pelo aprendizado
[...]”. E continua, ao expor que, “[...] comparado à informação, o conhecimento
implica um processo muito mais amplo que, pela sua vez, envolve estruturas
cognitivas capazes de assimilar a informação e de situá-la num contexto mais
amplo, permitindo ações que podem ser apreendidas a partir dela”.
O conhecimento é costumeiramente dividido em três tipos, quais
sejam, o cultural, o tácito e o explícito. Por conhecimento cultural, entende-se
aquele submetido a uma visão holística da existência, envolvendo os valores e
a visão que cada pessoa tem das coisas. O conhecimento explícito ocorre
quando é possível que seja convertido em informação, que, por sua vez, pode
vir a tornar-se conhecimento, porém diferente. Já o conhecimento tácito tem a
ver com as idiossincrasias determinantes da identidade de um indivíduo,
sendo, dessa forma, não reproduzível. (LE COADIC, 2004).
Ao passo que o conhecimento tácito sugere uma internalização que é
somente expressa por meio de ações – realizadas singularmente por um
indivíduo em particular –, o conhecimento explícito pode ser registrado
tomando a forma de um documento. Quando codificado, esse conhecimento
apresenta condições de ser representado, modificado, organizado.
A quantidade de conhecimento codificado foi potencializada a partir de
seu registro como informação, propiciado pelas tecnologias digitais de
comunicação, de maneira a ser acessível por uma maior fração de pessoas
interessadas em extrair novos conhecimentos, em diferentes áreas do saber.
35
No entanto, a codificação do conhecimento tem sido realizada pelo
homem desde sempre. Pinho (2009, p. 22) reforça esse entendimento ao se
referir que
o ser humano inicia as tentativas de organizar e representar o conhecimento desde os primórdios da sua própria existência, transformando as formas de sociabilidade e as relações. Portanto, organizar e representar não são uma necessidade atual, sim, uma preocupação que surge com a própria evolução da sociedade, que anseia pelo compartilhamento, decifração e uso do conhecimento registrado.
À medida que é exteriorizado, o conhecimento passa a ser inscrito em
um suporte, que, de modo geral, trata-se de documento. Por documento,
compreende-se o suporte convencional em que é registrado e preservado o
conhecimento, onde há a representação das ideias, pensamentos, de um
conjunto de indivíduos responsáveis pela produção do saber como um todo.
O conceito de documento, de acordo com Robredo e Cunha (1994, p. 3),
“tem sido ampliado a todo tipo de suporte físico da informação que permita seu
armazenamento. Assim, um documento pode ser um disco, um filme
cinematográfico, uma revista, um livro, um artigo de uma publicação periódica
[...]”. Em suma, o documento tem sido um veículo apropriado para tornar as
abstrações humanas em algo concreto e cognoscível.
Os estudos históricos voltados para a evolução da humanidade, ao se
reportarem às inscrições, fazem constante referência ao desejo de perpetuação
da memória dos grupos humanos. Carvalho e Carvalho (2005)11
complementam esse enunciado quando expressam que
a necessidade do homem em registrar sua vivência, suas lembranças, vem de períodos remotos. Desde que o homem apareceu na terra, existem indícios de formas de registros de sua vida, a exemplo dos tempos das cavernas através das
11 Documento online, não paginado.
36
inscrições rupestres, como um legado das gerações que nos antecederam. A maneira como se registra, o meio, não importa. O que importa é que haja algo a contar, seja em cavernas, oralmente, em papel ou através de uma tela de computador.
A possibilidade de estabelecer vínculos com gerações futuras através
de alguma forma de comunicação denota a vontade do indivíduo e seu grupo
de se fazer lembrado em razão de seus feitos e aprendizados. Para esses
integrantes, suas realizações, por se tornarem motivo de orgulho de uma
coletividade, devem ser expressas para não se perderem ao longo do tempo.
Se na origem da existência humana já havia a necessidade de que a
memória coletiva de determinados agrupamentos de indivíduos fosse mantida
em tempos do porvir, as técnicas de registro ainda estavam ensaiando seus
estágios iniciais. No que tange à transmissão dos conhecimentos adquiridos
por determinado agrupamento com a finalidade de que não se percam com a
passagem do tempo, Orrico e Oliveira (2006, p. 158) consideram:
A memória mantém a unidade e a coesão entre os elementos dos grupos sociais, não só apresentando o que fomos para melhor consolidar as nossas construções acerca do que somos, mas também trabalhando seletivamente ao arregimentar os acontecimentos que constituirão “aquilo que fica e que vale” para o grupo no qual ela se constrói.
Antes mesmo que essas técnicas fossem desenvolvidas e servissem
de fragmentos da memória dos povos, a mais profunda motivação do homem,
que é o impulso de se comunicar com o seu semelhante, desde sempre se
configurou um imperativo.
Diante do exposto, a linguagem, ao se configurar como “o veículo
fundamental da comunicação humana”, conforme McGarry (1999, p. 17, grifo
do autor), possibilita ao ser humano a capacidade de transmitir mensagens
carregadas da apreensão realizada por ele do mundo que o rodeia, de maneira
que seja possível governá-lo e modificá-lo de acordo com suas pretensões.
37
Segundo Dahlberg (1978, p. 101), “a linguagem constitui a capacidade
do homem de designar os objetos que o circundam assim como de comunicar-
se com seus semelhantes”. Nesse sentido, vendo-se impelido a se expressar,
enquanto ser dependente da comunicação, cada indivíduo utiliza a linguagem
com o intuito de deixar reconhecer suas crenças, realizações, necessidades,
expressões artísticas etc.
Tomando essa compreensão, quando o homem se deparou com a
percepção de que deveria transmitir sua obra a seus sucessores na linha
evolutiva, tornando-a exemplo a ser considerado, e ainda com a necessidade
de se comunicar com os seus pares, tomou a linguagem como um meio para a
efetivação desse intento. A linguagem oral, enquanto gênese da
expressividade humana, foi a forma que os primeiros seres humanos
encontraram para, principalmente, estabelecer a manutenção daquilo que
consideravam merecedor de se tornar conhecido, compondo a memória de um
povo.
A linguagem oral é mostrada por Katzenstein (1986, p. 16) como
instrumento original utilizado na construção da memória coletiva quando afirma
que
antes do advento da escrita, a transmissão oral era o único meio de preservar a memória coletiva. Ela capacitava o homem a transmitir os mitos sobre a criação do Universo ou sobre as catástrofes cíclicas e ainda informações e fatos sobre a própria história, tais como nomes e realizações de potentados, senhores de guerra, heróis e fundadores de religiões. A transmissão dos mitos e lendas satisfazia o desejo inato do homem de investigar o próprio passado, tornando-o acessível às gerações futuras.
Por um tempo, os mitos e tradições eram repassados oralmente por
pessoas encarregadas de memorizar os grandes feitos da comunidade, os
chamados “homens-memória”, que, através de técnicas de memorização,
fixavam a história da qual faziam parte. (LE GOFF, 2003). Nessas sociedades
38
sem o recurso da inscrição gráfica, particularmente a escrita, esses indivíduos
ficavam responsáveis por comunicar o saber de seu povo a outros.
A evolução dos sistemas de sinais gráficos está atrelada ao fato de o
homem, com o desenvolvimento das sociedades, sentir uma imposição no que
diz respeito a registrar os acontecimentos, contabilizar suas posses,
homenagear seus mortos, entre outras necessidades da vida diária. McGarry
(1999, p. 14) chama a atenção para a imprescindibilidade da sinalização dos
acontecimentos quando diz que “a criação de um mundo de experiências
registradas implica compartilhar experiências. Esta experiência não pode ser
compartilhada a não ser que seja comunicada por meio de signos ou
símbolos”.
Levando essa premissa em consideração, pode-se dizer que uma das
primeiras manifestações envolvendo o registro gráfico que se pretendia
orientado para a posteridade, no sentido de que diferentes gerações pudessem
ter acesso a ele e àquilo que representava, foi a pictografia.
O sistema pictográfico, como uma forma de representação gráfica dos
primórdios, era bastante elementar em seus traços, porém já esboçava a
preocupação de retratar por meio dos desenhos a realidade dos grupos sociais.
Mais tarde, os desenhos tornaram-se mais nítidos, provocando a mudança
para uma nova maneira de sinalizar graficamente: a ideografia. Os ideogramas,
diferentemente da pictografia, apresentavam a ideia por um único signo, o que
vai novamente ser modificado quando do surgimento da representação
silábica. (MCGARRY, 1999).
É pertinente dizer que a informação, no momento em que permeia todo
o mundo dos sentidos do qual o homem faz parte, não somente é suscetível de
ser registrada para posterior consulta, mas também é sua condição básica. Em
outras palavras, à informação exige-se a sua documentação para que possa
ser utilizada inúmeras vezes e a qualquer momento por quem se interessar.
Do ponto em que a representação silábica é constituída,
particularmente o alfabeto, tem início o desenvolvimento da escrita, que passa
39
a ser cada vez mais importante nas sociedades antigas, prolongando-se até a
contemporaneidade o papel fundamental que ela desempenha em todas as
esferas da vida. A esse respeito, McGarry (1999, p. 73-74) aponta que “a
invenção do alfabeto não somente permitiu à humanidade comunicar ideias por
meio de signos visuais, mas também criar um registro permanente destes
signos e assim criar uma memória externa”.
Vale salientar que os tipos de escrita não ocorreram um após o outro,
em uma sequência linear. Há casos em que pode ser observada a existência
paralela de mais de uma forma de escrita. Assim, concomitantemente à
presença das inscrições rupestres das primeiras civilizações, os sumérios
desenvolvem, na Mesopotâmia, há mais ou menos 3.500 a.C., a escrita
cuneiforme. (KATZENSTEIN, 1986).
O processo de representação gravada dos objetos, ações e ideias pelo
homem só foi possível mediante a utilização de variados suportes. Cada
sociedade escolheu, diante das possibilidades que a natureza oferecia ou das
restrições das técnicas presentes em dado momento histórico, determinado
tipo de suporte que fosse mais adequado ao registro de sua escrita.
Esse cenário leva ao entendimento de que se a escrita tornou-se parte
integrante da maioria das configurações sociais – tendo em vista a motivação
de seus membros ao perceberem que, por exemplo, transações comerciais
precisavam ser gravadas em um documento de forma a manterem-se
disponíveis –, os suportes, e os materiais de que eram constituídos, também
representam uma importante ferramenta para a continuação da informação.
Nessa perspectiva, Katzenstein (1986, p. 105, grifo do autor) revela:
Desde os tempos pré-históricos a natureza tem provido o homem com material em abundância para registrar fatos e pensamentos: pedra, areia, mineral, madeira, casca e folha de árvore. Os animais contribuíram com cera, chifre, osso e marfim e, às vezes, os seres humanos têm pintado e escrito em sua própria pele. O homem usou primeiro estes materiais brutos e mais tarde modificou-os para servir seus propósitos. Começou a cobrir sua superfície com desenhos e caracteres.
40
[...] o homem percebeu que aquilo que gravava na superfície das pedras podia ser preservado para sempre; isso significa que podiam ser registrados contratos legais e códigos de leis, feitos heroicos, textos e pinturas religiosas e transmitidas à posteridade.
Do uso de tabuinhas de argila pelos sumérios até chegar ao texto em
formato digital, a escrita veio ocupando espaço inevitável no dia a dia das
pessoas, caracterizando-se uma das mais essenciais maneiras de expressão e
revolucionando as atividades humanas. Desse modo, durante a passagem dos
séculos, técnicas de inscrição sucederam-se umas às outras.
No Oriente antigo, era comum se utilizar de monólitos denominados
estelas para fins comemorativos de vitórias, fins funerários, dentre outros, com
o objetivo de imortalizar passagens e figuras consideradas importantes. Já os
pergaminhos e papiros serviram de suporte às atividades dos escribas,
pessoas de grande importância à época da civilização mesopotâmica. Devido
ao insuficiente conhecimento dos indivíduos em geral naquela sociedade, aos
escribas cabiam todas as funções relacionadas a anotações de leis,
mensagens, receitas e diagnósticos médicos etc., isto é, tarefas diretamente
voltadas para o funcionamento de todas as instâncias. (MANGUEL, 1997).
Em um momento posterior ao surgimento do papel, a invenção da
imprensa de tipos móveis atribuída a Johannes Gutenberg no século XV é
encarada como a responsável por potencializar a escrita na forma impressa,
atribuindo um valor imensurável ao documento, que passa a ser reproduzido
indiscriminadamente, mais tarde, em todas as regiões do globo.
Com o documento e, para além desse aspecto, a partir do surgimento
do ato de colecionar livros, uma organização passa a ser demandada, pois,
diante do volume crescente de materiais informacionais, sente-se a exigência
de que eles sejam ordenados e condensados de tal forma que possam ser
recuperados com maior facilidade e rapidez.
A ordenação desses materiais desempenhava uma função meramente
física, no sentido de que seus suportes poderiam ser localizados nas estantes
41
de uma biblioteca, por exemplo, consistindo na maior preocupação dos
profissionais encarregados de facilitar sua recuperação pelos interessados.
Contudo, foi-se reconhecendo que visualizar certo documento em divisões
imprecisas não era suficiente, que o desejado era aquilo que ele continha em
sua imaterialidade.
Localizar os conteúdos, de maneira mais agilizada, com fins de
entretenimento, de realizar pesquisas sobre determinados assuntos, de
solução de problemas cotidianos, de reflexões científico-filosóficas etc., isto é,
aspectos da vida em geral relacionados ao processo de leitura, interpõe-se
como uma atividade constante e especializada a partir desse momento.
Portanto, cabe acrescentar que o uso metodológico da organização do
conhecimento surgiu com o objetivo de suprir a demanda de leitores
interessados em obter prontamente a resposta às suas necessidades de
conhecer sobre as coisas da natureza.
Salienta-se, em contrapartida, a preexistência do ato de classificar
executado pelo homem, na medida em que ele tem como característica
intrínseca a motivação para distinguir os objetos em classes.
Essa distinção dos elementos constituintes da natureza em classes é
tomada pelos indivíduos como princípio para um entendimento das coisas em
redor. Agindo desse modo, poderia haver um arranjo mental desses objetos,
contribuindo não somente para dar conta das tarefas do dia a dia, como
também para a construção da memória individual, considerando-se sua função
na fixação da realidade.
Antes de qualquer coisa, para que a divisão de assuntos em classes
seja realizada, parte-se da representação das informações, entendida,
conforme San Segundo Manuel (2003, p. 395 apud Pinho, 2009, p. 44), como
“uma forma de apreender um objeto ou conceito, tratando-se de uma
significação, simbolização ou referência a uma coisa distinta de si mesma,
estabelecendo uma relação com aquilo que se representa ou substitui”.
42
Seguindo essa linha de raciocínio, a representação da informação diz
respeito à criação de imagens para pôr no lugar das próprias coisas – ou
documentos – ao atribuir-lhes características singulares, o que vem a ocasionar
sua manipulação. Dessa maneira, uma informação representada faz referência
ao conteúdo original, contudo em um novo molde.
As informações documentárias são [...] paráfrases seletivas formuladas com base na hierarquização do conteúdo informacional de textos. O processo de condensação de um texto requer sua compreensão e a hierarquização das informações neles presentes, a fim de que o produto final obtido represente o seu nível informacional mais elevado [...]. (GOMES, 1996, p. 65).
O processo de representação da informação e dos documentos é visto
por Novellino (1996, p. 93) envolvendo “dois passos principais: análise do
assunto de um documento e a colocação do resultado desta análise em uma
expressão linguística; atribuição de conceitos ao documento com uma
linguagem documentária”.
3.2 AS LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS (LDs)
Diante dessa percepção, referente ao uso de linguagens específicas
para a representação da informação contida nos documentos, instrumentos
que visam à organização dos conteúdos inseridos nos documentos são
criados.
Assim, as linguagens documentárias surgem com o propósito de
sistematizar através de metodologias o desenvolvimento da representação dos
conteúdos para fins de pronta recuperação. Ainda que esteja
irremediavelmente associada à linguagem natural, as linguagens
documentárias destacam-se pelo uso de instrumentos científicos estabelecidos
para o alcance das finalidades para as quais foram criados.
43
Se a experiência de categorização da realidade – seja material, seja
metafísica – permeia a vivência do homem ao longo dos séculos pelo motivo
de ele estar permanentemente conferindo significado às coisas, agrupando-as
em classes de acordo com suas propriedades em comum, é natural que tenha
sentido falta de sistemas que correspondessem a essa expectativa.
A História mostra que são antigas as iniciativas tomadas nessa direção
e que célebres pensadores dedicaram-se a organizar em sistemas formas de
categorização do conhecimento.
Como exemplo das origens das ações voltadas para tal propósito,
destaca-se o sistema em forma de catálogo que Calímaco procurou
desenvolver com vistas à organização dos materiais pertencentes à biblioteca
de Alexandria em meados do século III a.C. Nesse intuito, Calímaco,
reconhecido como um dos primeiros bibliotecários, foi um dos precursores na
idealização dos sistemas de organização e representação do conhecimento,
sob influência de Aristóteles, que distribuiu o saber em cinco categorias a partir,
segundo ele, de suas finalidades teóricas, práticas e poéticas, abrangendo:
Gênero, Espécie, Diferença, Propriedade e Acidente.
Alguns proeminentes pensadores da Filosofia voltaram parte de seus
esforços de reflexão para a mais pertinente forma, em seu julgamento, de
separar o saber a partir de critérios minuciosos. Dentre eles, Aristóteles, já
mencionado, Platão e Francis Bacon. A divisão do conhecimento de autoria de
Platão é feita em três categorias, quais sejam, Física, Ética e Lógica. Francis
Bacon, por sua vez, estabelece uma categorização das ciências em memória,
imaginação e razão. (SAN SEGUNDO, 1996 apud PINHO, 2009, p. 25).
Seguindo esse caminho traçado por célebres autoridades no
pensamento filosófico, deu-se continuidade à organização do conhecimento
com a finalidade de que ele pudesse ser acessado em prol da construção
contínua de novos conhecimentos baseados em registros anteriores.
Corroborando essa linha de raciocínio, Ribeiro (2005, p. 3) diz que
44
para além da organização material, que por si só já potencializava a localização dos documentos (mas nem sempre da informação neles contida), a necessidade do acesso aos conteúdos, em tempo útil, determinou o aparecimento de outros viabilizadores de recuperação da informação. Desde muito cedo os sistemas organizados começaram a criar formas de representação da informação, as quais serviam como meio de acesso e substituíam a pesquisa direta sobre as espécies materiais. Os catálogos, os repertórios, os inventários, as listas de referências ordenadas, enfim, todos os tipos de índices constituem aquilo a que modernamente chamamos “instrumentos de acesso à informação” e não são mais do que representações (imagens) da informação, que servem de intermediárias entre os pesquisadores e o produto informacional que é processado.
Estudos científicos direcionados à classificação de assuntos foram
intensificados mediante a emergência que pesquisadores, notadamente
advindos das áreas de Biblioteconomia e Documentação, identificavam no que
tange à criação de linguagens documentárias. Nessa direção, são
demonstradas as principais classificações desenvolvidas.
Melvil Dewey foi um dos que iniciaram esses estudos, por volta do fim
do século XIX, tendo em mente a base que filósofos trouxeram para o campo,
especificamente a contribuição de Francis Bacon. A Classificação Decimal de
Dewey (CDU) utiliza-se de uma notação numérica que divide o conhecimento
humano em dez classes. Por sua vez, essas dez classes podem ser
expandidas em subclasses, de modo que os mais variados aspectos das
disciplinas sejam contemplados, visando à acessibilidade dos livros nas
estantes, de forma que se encontrem próximos aqueles que tratam do mesmo
assunto.
A Classificação da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos (LCC)
apresenta semelhanças com a Classificação Decimal de Dewey, e, planejada
com a intenção de oferecer uma organização prática àquela biblioteca – cujo
acervo contém materiais informacionais em profusão, em se tratando de uma
instituição que inclui no desenvolvimento de sua coleção documentos
provenientes de todas as partes do globo – é uma classificação alfanumérica,
dividida em vinte e uma classes.
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Compartilhando o posto de classificações mais utilizadas nas unidades
de informação (UIs) ao redor do mundo, a Classificação Universal Decimal
(CDU), juntamente com a CDD, teve como propósito, quando da sua
concepção, não somente a organização dirigida prioritariamente à organização
dos materiais nas estantes das bibliotecas, pois intentava abranger aquilo que
os documentos representavam por si, isto é, a totalidade do conhecimento que
continham.
Ranganathan é visto como o autor da teoria inserida na idealização da
CDU: a Teoria da Classificação Facetada. A Colon Classification, ou
classificação de dois pontos, prevê diferentes níveis para que se classifiquem
os assuntos em facetas a partir do uso de dois pontos separando diferentes
aspectos ou assuntos, indefinidamente. O matemático, bibliotecário e filósofo
indiano Raganathan os distingue da seguinte forma: plano ideacional, referente
a ideias e conceitos; plano verbal, que diz respeito à expressão verbal desses
conceitos; e plano notacional, representado pelos sinais e símbolos que têm a
função de fixar tais conceitos. Assim, identifica os assuntos através das
categorias Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo.
Todos esses empreendimentos, concebidos no sentido de criar
linguagens artificiais e suas notações, dão sustentação tanto à organização do
conhecimento quanto à representação da informação, principalmente a essa
última. De acordo com Romani e Borszcz (2006, p. 39-40), as classificações,
portanto,
consistem em determinar os assuntos e os códigos alfanuméricos que os representam, possibilitando sua recuperação por assunto ou tipo. O número de chamada atribuído aos documentos das unidades de informação tem por finalidade a identificação da localização física dos documentos, através da utilização de códigos de classificação e outros mecanismos da área de biblioteconomia.
Os sistemas de classificação até o momento explicitados encarregam-
se de uma representação dos materiais informacionais com a finalidade de que
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sejam encontrados mais facilmente pelos usuários das UIs. A indexação, em
contraposição, configura-se uma maneira de traduzir o conteúdo dos
documentos, portanto, estabelecendo sua representação temática. No entanto,
também visa à recuperação a contento da informação.
Baseada intensamente na utilização de conceitos, a indexação, como
um instrumento dependente de metodologias científicas, faz uso de linguagens
documentárias específicas, como os vocabulários controlados e os tesauros. A
respeito do processo de indexar, tem-se que na
indexação: identificam-se os conceitos de que trata o documento, expressando-os na terminologia usada pelo autor (linguagem natural) ou com ajuda de vocábulos ou termos de significação unívoca ou, ainda, por meio de códigos (linguagens documentárias, descritores, sistemas de classificação, etc.). (ROBREDO, 1994, p. 8).
No que se refere à pertinência dos conceitos como unidades do
conhecimento na representação temática da informação, teorias vêm subsidiar
a sua utilização consciente, de modo que eles traduzam o mais fielmente
possível os assuntos de que tratam os documentos.
A Teoria Geral da Terminologia de Wuester, a Teoria da Classificação
Facetada de Ranganathan e a Teoria do Conceito de Dahlberg são
denominadas as principais teorias que vêm sendo utilizadas por tratarem da
categorização de entidades da realidade, numa sistematização das áreas do
saber.
Nessas teorias, a categorização se dá através de relações entre
conceitos e, ainda, entre objetos. A delimitação de conceitos, que vem sendo
motivo de reflexão, decorre da importância que se dá em diferenciar coisas,
objetos, fenômenos etc., estabelecendo um determinado “lugar” para cada um
deles, de forma que não se confundam entre si e que haja uma valoração,
tornando-os únicos, quando inseridos variados contextos.
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Em sua Teoria do Conceito, Ingetrant Dahlberg detém-se no estudo da
demarcação do conceito, tendo em vista uma maior clareza acerca do que ele
representa, principalmente no tocante a instrumentos documentários. Assim,
afirma:
Tratando-se da comunicação do dia a dia tal imprecisão pode não acarretar grandes consequências. Tais conceitos podem ser já suficientemente conhecidos ou podem também ser analisados com maior precisão. Quando, porém, se trata de linguagens documentárias as consequências podem ser desagradáveis. Neste caso deve-se fazer todo esforço para que os conceitos sejam definidos com toda precisão. (DAHLBERG, 1978, p. 102).
A conceituação dos objetos e fenômenos do mundo é válida na medida
em que se torna possível atribuir uma identidade a cada um deles,
diferenciando-os – bem como chamando a atenção para as semelhanças
existentes – e permitindo que se criem relações hierárquicas ou não entre si.
Essas relações são baseadas nas atribuições que dado conceito possui, isto é,
um conceito é assim reconhecido devido às suas características intrínsecas,
formando um conjunto exclusivo. Assim, em relações hierárquicas do tipo
gênero-espécie, os conceitos que apresentam características a mais daquelas
idênticas presentes no conceito mais geral encontram-se abaixo na relação,
por serem uma subdivisão de uma classe mais abrangente, nesse caso, do
gênero. Além de hierárquicas, as relações podem ainda ser, entre outras,
partitivas, quando têm a ver com os elementos que compõem um objeto, e
funcionais, ao se referirem aos processos envolvidos em determinado conceito.
(DAHLBERG, 1978).
Profissionais especialistas, fundamentando-se nos produtos
informacionais resultantes de pesquisas realizadas por autores da área de
classificação, têm se esforçado, no seu lidar com as atividades práticas
cotidianas, em seguir os preceitos considerados nos sistemas de classificação
tradicionais, cujas linguagens documentárias substituem a linguagem natural
com a pretensão de que a liberdade peculiar da comunicação humana seja
48
controlada para fins de uniformização, objetivando uma recuperação da
informação mais eficiente.
Em especial, na configuração social denominada Sociedade da
Informação, sistemas de classificação tradicionais, tais como CDD e CDU,
continuam a ser utilizados. Em contraste, o contínuo crescimento da
quantidade de informações produzidas e digitalizadas em ambiente em linha
introduziu uma nova modalidade de representação da informação, dessa vez,
atrelada à linguagem natural.
49
4 FOLKSOMIA: “PODER ÀS PESSOAS”
A contemporaneidade é intrinsecamente permeada pelas tecnologias
de informação e comunicação e pelo uso que as pessoas fazem dela.
Decorrem dessa utilização das novas tecnologias produtos e serviços que vêm
modificando de forma patente as relações dos indivíduos frente a si mesmos,
aos outros e às instituições tradicionalmente reconhecidas.
O desenvolvimento da virtualidade é visto como o maior responsável
pelas mudanças recentes em todos os âmbitos da vida do homem, sendo suas
ações muitas vezes motivadas pelas diferenças causadas por essas
tecnologias em apenas poucas décadas, o que leva pensadores a
questionarem o rumo que a realidade vem seguindo, respeitante tanto aos
benefícios quanto às más consequências dessas transformações.
Quando se trata do virtual, convém trazer à tona a existência do
ciberespaço, ambiente propulsor do desenvolvimento do conhecimento em
uma esfera não física, imaterial, apoiado em computadores. O ciberespaço
apresenta-se como um não lugar, possibilitando, dessa maneira, a
desterritorialização, que transpõe barreiras físicas existentes entre países,
entre grupos etc.
Brevemente, Lévy (1999, p. 92) conceitua ciberespaço como o “espaço
de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das
memórias dos computadores”, chamando a atenção para umas de suas
características primordiais, quando diz que
este novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação da informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva de digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte da memória da humanidade. (LÉVY, 1999, p. 93).
50
Pode-se perceber que para que o ciberespaço fosse destacado como
um núcleo onde é permitido o acesso por qualquer pessoa que esteja munida
de equipamentos adequados a uma conexão e a virtualidade passasse a fazer
parte do cotidiano de milhões de pessoas, foram necessários o
desenvolvimento e evolução de um veículo popular que propiciasse uma
acessibilidade prática e simplificada, da qual, em princípio, todos pudessem
fazer uso.
Ao expandirem-se o ramo da microeletrônica – e dos computadores
pessoais –, bem como o das telecomunicações, iniciou-se uma sequência
evolutiva que desemboca na rede global de computadores, a Internet.
O surgimento da Internet remonta à criação da ARPANet (Advanced
Research Projects Agency Network), em 1969, uma rede de computadores,
projeto pertencente à agência ARPA (Advanced Research Projects Agency),
que, formada por cientistas universitários, tomou para si a preocupação de
concorrer através de instrumentos superiores aos dos inimigos, já que o
lançamento do Sputinik, pela União Soviética, em 1957, gerou mal-estar e
desejo de superação por parte dos Estados Unidos. Seu intuito era o de
possibilitar uma rede de computadores interligada, porém de forma
descentralizada, evitando assim que todo o sistema fosse atingido em caso de
ataque militar de países oponentes. (CASTELLS, 1999).
Na criação da ARPANet, inicialmente estavam envolvidas
necessidades militares presentes na corrida armamentista da Guerra Fria, já
que o desenvolvimento desse projeto tinha a intenção de permitir uma
comunicação entre variados pontos, nos quais se encontravam diferentes
bases do exército, dificultando a interceptação de informações sigilosas pelos
países em oposição durante o conflito. Ao mesmo tempo, estudantes de
renomadas universidades norte-americanas aficionados por programação de
computador e tecnologias, num movimento contracultural, tiveram seus
esforços apontados para o uso por pessoas comuns, abrangendo uma
população além dos circuitos de cientistas e militares.
51
A Internet, pode-se afirmar, é um produto dessa movimentação em prol
de mais acessibilidade a pessoas de fora do âmbito acadêmico-militar. Essa
visão partiu dos primeiros usuários da rede que, por um lado, mostravam-se
insatisfeitos com a abertura por ela proporcionada, dando oportunidade de que
qualquer um interviesse na forma que viria a tomar, abrindo terreno, segundo
eles, para conteúdos considerados inúteis. Em contrapartida, havia a
compreensão de uma maior liberdade de expressão que essa tecnologia
carregava naturalmente, o que conferia a seus usuários, em número crescente,
uma carga de poder de instigar mudanças em seu meio. (BRIGGS; BURKE,
2006).
Contudo, para que fosse criada, houve um processo de evolução de
projetos muitas vezes visionários até chegar à atual configuração, a da web.
Tim Berners-Lee desenvolveu a Internet em fins da década de 1980 e
foi responsável, juntamente com Robert Cailliau, pelo desenvolvimento do
browser, programa adequado à navegação na World Wide Web (WWW) da
forma como se concebe a partir do final do século XX. Anteriormente a
Berners-Lee, Vannevar Bush, em artigo intitulado As we may think, de 1945, já
pretendia desenvolver um mecanismo que à época não era sequer imaginado.
Segundo Bush (1945)12 “um MEMEX é um dispositivo que permitirá a uma
pessoa armazenar todos os seus livros, arquivos, e comunicações, e que é
mecanizado de tal forma que poderá ser consultado com grande velocidade e
flexibilidade”.
Ted Nelson, criador do projeto Xanadu, foi quem cunhou a palavra
hipertexto, pois estava interessado, quando do desenvolvimento de seu
sistema prototípico, no gerenciamento das ligações ocorridas entre os textos.
(ALVARENGA, 2006). Douglas Engelbart, partindo dos pressupostos de Ted
Nelson e seu projeto Xanadu, idealizou o NLS (oN Line System), sistema que
invocava o hipertexto na forma de interação entre textos, imagens e vídeos.
Nele, era possibilitado aos usuários o acesso a esses elementos numa
sequência não linear e colaborativa. (XAVIER, 2009).
12 Documento online, não paginado.
52
Mais tarde, por volta do final da década de 1970, enxergou-se a
potencialidade do uso da rede para propósitos econômicos por parte de
grandes conglomerados. A capacidade de se oferecer serviços online
despertou rápido interesse nessas empresas, pois até então as transações
eram limitadas à dinâmica das relações espaço-tempo. Sobre esse aspecto,
Briggs e Burke (2006, p. 263, grifo do autor) remetem-se à fala de Masuda,
autor do célebre The Information Society as Post-Industrial Society (1980), que
chamou a atenção dizendo que “‘diferentemente do espaço geográfico
convencional, o espaço de informação global será conectado por redes de
informação’”.
Após uma década desse despertar, o pesquisador Tim Berners-Lee foi
um visionário no momento em que considera que a rede tem muito mais a
oferecer, idealizando uma conexão entre usuários locados em todos os
recantos do globo. Ainda, tinha a intenção de que essa rede fosse de livre
acesso e uso, como um meio de comunicação de massa.
A Internet aparece então, de acordo com Castells (1999, p. 40), como
“[...] um novo sistema de comunicação que fala cada vez mais uma língua
universal tanto [...] promovendo a integração global da produção e distribuição
das palavras, sons e imagens de nossa cultura como personalizando-os ao
gosto das identidades e humores dos indivíduos”. Nesse contexto virtual, a
comunicação, que ocorre simultaneamente, isto é, de maneira síncrona, entre
os usuários da Internet, é dinâmica e interativa.
A presença do hipertexto foi essencial para que a conexão em escala
global entre computadores apresentasse essa configuração, tal como é
conhecida na atualidade. A World Wide Web, ou simplesmente web, diferencia-
se da Internet propriamente dita, porque essa última utiliza-se da primeira para
que tenha seus documentos transmitidos através das redes. Por web, segundo
Xavier (2009, p. 103), identifica-se “uma aplicação dos recursos de hipermídia
à Internet, combinando as mais variadas linguagens (palavras, imagens,
animações, vídeos, sons) em cenários tridimensionais exibidos em ‘páginas
web’”.
53
Como introduzido anteriormente, a ideia de hipertexto foi prevista
mesmo antes do aparecimento da web, com as propostas advindas de projeto
importantes – por serem embrionários e oferecerem os princípios científicos
para posterior consecução – como o Memex e o Xanadu, que não puderam
concretizar-se devido aos impedimentos tecnológicos de suas épocas.
Compreende-se por hipertexto um vínculo entre documentos presentes
na virtualidade, cuja ligação incentiva o acesso numa disposição desordenada
dos sites. Vale salientar que essa desordem não faz referência a algo adverso,
necessariamente. À medida que o hipertexto tem a ver com uma sequência
alternada de páginas da web, configura-se uma dimensão não hierárquica de
leitura dos documentos eletrônicos. Nesse contexto, à escrita dos sites
comumente são acrescentados links que transformam a condição sequencial
da leitura de documentos analógicos. A não linearidade vem a ser, portanto,
condição básica das páginas contidas no meio digital.
Em uma referência ao hipertexto, Lima (2006, p. 103, grifo nosso)
aponta, como seus componentes elementares,
o nó: cada uma das unidades de informação em uma base de hipertexto. Cada nó corresponde a uma ou mais exibições de tela. Essas unidades de informação em um hiperdocumento podem conter diferentes tipos de dados, textos, figuras, fotos, sons e são conectados por vínculos em uma variedade de estruturas [...]; vínculo: o conceito mais importante do hipertexto é o vínculo também denominado link, elo, ligação, âncora ou botão [...]. Vínculos são marcas que conectam um nó com outro. A ativação desses vínculos implica abertura de uma nova janela contendo o documento referenciado. Assim, é possível deslocar-se fácil e rapidamente, de um ponto a outro, no conteúdo das páginas.
Seguindo a expansão e o aprimoramento das TICs, no momento em
que imagens, sons, vídeos, dentre outras formas de comunicação, inseriram-se
em ambiente web, o hipertexto passou a ser considerado hipermídia. No
campo da Educação, os hipertextos/hipermídia têm sido frequentemente
54
estudados devido à mudança que eles ocasionaram no aprendizado das
pessoas, até mesmo em seu aspecto biológico-cognitivo, já que seu uso instiga
a curiosidade, impulsionando a vontade de aprender, de saber mais, numa
rede de associações.
Visto como uma conexão reticular, portanto não linear, o hipertexto
promove – através de seus nós – uma navegação imprevisível. Essa
imprevisibilidade do caminho a ser percorrido pelo internauta durante a leitura
das páginas é denominada serendipidade, provocada pela remissão de um link
a outro link, de um assunto a outro, talvez completamente diferente daquele
que o usuário buscou inicialmente, frente às suas necessidades informacionais.
Os nós desempenham importante papel nessa configuração na qual o
acesso à Internet é caracterizado por uma rede de relações associativas que
impelem o usuário da plataforma web a fazer a leitura de temas, os quais, em
um primeiro momento, não tinha a intenção de consultar. Para se ter acesso a
esses nós, parte-se dos links, pontos de associação, o que provoca a
construção de esquemas mentais nos indivíduos. A esse respeito, Campos
(1996, p. 74) expressa: “nó nada mais é do que uma unidade de informação
contendo um conceito ou uma ideia, que, com ligação com outros nós, formam
uma rede de relações conceituais”.
Partindo desse entendimento, desde o princípio, a web teve como
procedimentos elementares os links, utilizados para que se pudesse ter acesso
aos nós, cujos conteúdos eram documentos textuais, audiovisuais, sonoros etc.
No entanto, a percepção de intensa interatividade que se tem da Internet no
século XXI nem sempre foi realidade, pois, quando do seu surgimento, era
denominada Web 1.0, caracterizada notadamente pela presença de
organizações com fins lucrativos, a maioria comandada por pessoas do ramo
da computação, visando um novo meio de realizar comércio.
A Web 1.0 tinha um modelo estático que não permitia maiores
interações, pois seus conteúdos e sites eram avessos a uma relação dialógica
entre seus membros. A segunda geração, a Web 2.0, traz consigo inovações
acerca do modo como os usuários da rede reagem a determinados conteúdos,
55
já que, de agora em diante, torna-se possível uma comunicação mais efetiva
entre os participantes. As redes sociais foram uma consequência natural da
influência que essa comunicação vinha imprimindo no dinamismo da nova
geração web.
Nas redes sociais, a comunicação de “todos-com-todos” foi
estabelecida como uma constante, de forma que o nível de interatividade fosse
colocado em tal patamar que permitisse a cada usuário um diálogo com os
demais, podendo interferir no conteúdo gerado por outros membros da mesma
comunidade, bem como de grupos externos a ele.
As redes sociais, tais como o Facebook e o Flickr, fazem parte,
juntamente com outras manifestações de interatividade, por exemplo, os
weblogs (blogs) e as plataformas wikis, das ferramentas que bem representam
esse universo das redes colaborativas. Nesses ambientes, há um foco
intensivo no usuário, principal ator dessa dinâmica, na medida em que
continuamente contribui para a construção e aprimoramento de uma
inteligência coletiva, seja através de posts em diários virtuais, blogs –
complementados por comentários de seus leitores –, seja por intermédio de
edições em modelos wikis, ao passo que usuários realizam acréscimos na
escrita produzida por membros anteriores, podendo também retirar trechos
com os quais não concorde sobre um dado assunto.
Entretenimento é visto como grande atrativo na esfera da World Wide
Web, pois antes de seu estabelecimento e acesso popular a diversão tinha
outra conotação, relativa ao contato físico e a suportes analógicos. Tais
limitações foram transpostas, possibilitando aos usuários, inseridos na
virtualidade, explorar o lúdico, através de jogos em linha, de chats, bem como
ao postar e assistir vídeos de diversas temáticas no Youtube, por exemplo.
Nessa direção, o contexto é o espaço que suscita as formas de
comunicar, mais do que qualquer outro aspecto, pois é nele que se dá o
contínuo engajamento dos sujeitos, em se tratando das trocas realizadas entre
si, configuradas no compartilhamento de mensagens por esses sujeitos,
processo passível de constante reconstrução, a depender de cada cultura.
56
(LÉVY, 1999b). A inteligência desses grupos é construída coletivamente e
assemelha-se a “uma memória coletiva, resultante de interações entre
indivíduos. São interações que decorrem da presença dos indivíduos nos
mesmos grupos sociais, que a partir de experiências vividas em conjunto
recorrem às memórias uns dos outros para construir suas próprias memórias”.
(HALBWACHS; BARTLETT, 2004 apud AQUINO, 2008, p. 315-316).
Assim, essas práticas coletivas podem ser entendidas como uma
expressão da cultura de grupos humanos, tanto vistos como um arranjo mais
generalizado quanto em suas particularidades, no caso das subculturas,
especificamente as tribos. Os indivíduos participantes de uma dada cultura
costumam reconhecer-se mutuamente, já que um sentimento de pertencer ao
grupo é continuamente sugerido por meio das práticas a que são submetidos.
Aí estão presentes a tradição e todos os elementos nela incorporados, tais
como crenças e pontos de vista, muitas vezes compartilhados, até mesmo sem
que haja uma reflexão a respeito das ações que deles decorrem, pois a cultura
influencia sobremaneira a forma de agir de seus membros, que podem vir a se
comportar apenas seguindo o fluxo, acriticamente.
Castells (2001, p. 56) reafirma essa compreensão ao enxergar cultura
como “uma construção colectiva que transcende as preferências individuais e
influencia as actividades das pessoas que pertencem a essa cultura [...]”,
complementando quando diz que “[...] são esquemas de comportamento
repetitivos [que] geram costumes que se impõem perante as instituições assim
como perante as organizações sociais informais”.
A cultura da sociedade em rede vem alterando as relações
interpessoais, que por sua vez interferem nas ações da cultura de seu grupo.
Essa perspectiva diz respeito, em especial, à cibercultura, que estimula
particularmente o compartilhamento entre usuários que se encontram a
distância, sendo, na maioria das vezes, desconhecidos. Martins (2008, p. 103)
traz sua colaboração acerca desse tema quando diz que “hoje, sob a atmosfera
da cibercultura, além de nosso tempo e nosso espaço, vivemos de modo
virtual, algo como estar em outro tempo e em outro lugar, sem estar, mas com
a sensação de realmente estar nestes outros ‘aqui e agora’”. Esse tipo de
57
cultura virtual também se configura, entre outras motivações, num ambiente
favorável à organização do conhecimento, que vem compondo um amplo e
irrefreável volume de informações introduzidas na Internet.
4.1 TAGGING: ETIQUETANDO O CONTEÚDO
Ao passo que a cibercultura exerce influência nas mais variadas
instâncias da realidade física, não virtual, aqueles que nela estão envoltos
passam a expressar-se seguindo práticas e modelos previamente
institucionalizados. Nota-se, em contrapartida, uma resposta dada a essa
construção simbólica, que é a cultura, no momento em que a cada indivíduo,
em sua interação, é permitida a participação no desenrolar das experiências
culturais. Partindo dessa abordagem, Eagleton (2005, p. 14) afirma: “os seres
humanos não são mero produtos de seus ambientes, mas tampouco são esses
ambientes pura argila para a automoldagem arbitrária daqueles”.
Uma maior participação das pessoas em âmbitos até então restritos a
uma pequena parcela de privilegiados foi alcançada graças à popularização
dos computadores pessoais e ao desenvolvimento da web, principalmente.
Assim, anteriormente à chegada dessa fase, havia, por um lado, aqueles que
produziam informações, representados por instituições que detinham o poder
sobre a sua oferta, e, por outro, aqueles que consumiam e faziam uso dessas
informações.
A partir da presença da cibercultura, usuários de todas as classes
sociais, credos, gêneros, sem distinção, desde que munidos das ferramentas
requeridas para o acesso à virtualidade, puderam constituir maciçamente o
conjunto de produtores e consumidores das informações inseridas no
ciberespaço.
A organização do conhecimento não se exclui dessa nova perspectiva
globalizada e imaterial. Se categorizar o mundo em derredor através de
representações é elemento sine qua non do ser humano, enquanto
58
possibilidade de trazer ordem às coisas, essa importante ação passa a
adaptar-se a essa nova realidade.
Tradicionalmente, sistemas hierárquicos de classificação, fazendo uso
de linguagens artificiais, objetivam realizar uma tradução dos conteúdos
identificados em documentos variados. Sistemas desse espécime, por
exemplo, a Classificação Decimal Universal e a Classificação Decimal de
Dewey, apresentam um modelo top-down, ou seja, realizam-se por
profissionais capacitados, na medida em que são especialistas em determinado
métier. Contudo, outro modelo, concernente à propagação do meio virtual,
surge, qual seja, o bottom-up. Nele, quaisquer pessoas têm o direito de intervir
na representação, bem como na categorização, dos conteúdos da rede.
A folksonomia, termo cunhado por Thomas Vander Wal, cuja origem
vem da combinação das palavras folks (povo) e taxonomy (taxonomia), pode
ser considerada, dessa forma, uma classificação bottom-up. Enquanto
classificação realizada por conjuntos de pessoas, pertencentes a inúmeras
culturas e subculturas, pode-se afirmar que grande parte delas não possui
maiores conhecimentos acerca dos procedimentos indicados para extrair os
assuntos que representam os documentos. No entanto, a contribuição de
muitos, ao representarem a informação de acordo com seu conhecimento
prévio do mundo, pode somar no que tange a divisão e construção do
conhecimento, que se atualiza continuamente.
Nas páginas da web que comportam as folksomias, a linguagem
natural é utilizada na aplicação das tags que tratem desse ou daquele assunto.
Comparando-se com os sistemas de classificação tradicionais, que se utilizam
de instrumentos rígidos de controle das terminologias com a finalidade de
mitigar problemas concernentes à linguagem natural, as folksonomias, por
serem estabelecidas em um espaço anárquico por natureza – pois tem um
aspecto de livre expressão, em que a censura de certa forma não se impõe
significativamente –, em oposição, são construídas baseadas na linguagem
natural, sobretudo pelo motivo de fazer parte da vivência de todos os seres
humanos, tenham expertise ou não.
59
A linguagem natural, portanto, é o veículo para a transmissão do
conhecimento da população em geral nas suas atividades do dia a dia.
Lancaster (1993, p. 200, grifo do autor) considera “a expressão linguagem
natural como sinônimo de ‘discurso comum’, isto é, linguagem utilizada
habitualmente na escrita e na fala, e que é o contrário de ‘vocabulário
controlado’”.
À medida que os taggers13 põem etiquetas nas páginas da web que
lançam mão das tags valendo-se da linguagem natural em detrimento de uma
metalinguagem, a ambiguidade, peculiar a esse tipo de linguagem, sobressai-
se, podendo causar, muitas vezes, confusão durante a busca e recuperação
das informações. Tal perspectiva é vista como a principal fonte de críticas a
esse método de categorização do saber. A ambiguidade, nessa ótica, está
relacionada à variação presente na linguagem natural, a saber, o uso
polissêmico de termos, a descrição de um mesmo termo no plural e no
singular, em caixa alta e em caixa baixa, erros de ortografia, entre outras
representações que taggers fazem sem se preocuparem com uma
uniformização.
No tagging14, em se tratando de método muito particular de organizar o
conhecimento, um indivíduo deixa transparecer suas particularidades. Nesse
conjunto idiossincrático, estão incluídas formas subjetivas de enxergar a
natureza, bem como a construção social realizada a partir dela, através do
olhar dos próprios indivíduos.
O fato de um grupo de usuários com objetivos, afinidades e
características em comum se propor a categorizar de acordo com seus
conhecimentos, levando em consideração a familiaridade e por que não dizer
afetividade que tem em relação a esses conteúdos, implica uma codificação da
informação possivelmente mais completa no sentido da abrangência das
classes a eles ligadas, pois carrega um sentimento de “fazer parte”.
13 Taggers são considerados quaisquer indivíduos que se propõem a representar informações por meio
de tags. 14 Nesta pesquisa, são utilizados os termos folksonomia e tagging com a mesma conotação.
60
É justamente por permitir uma livre etiquetagem dos sites aos quais
têm acesso que a folksonomia desperta tanto interesse nas pessoas que
costumam imergir no universo online. Além dessa vantagem, há outras
pertinentes: a independência dos membros em relação aos outros, isto é, cada
pessoa tendo seu próprio modo de etiquetar; a flexibilidade e facilidade na
atualização dos descritores, caso haja mudanças nas palavras, gírias,
expressões ou jargões de tribos específicas;
Seguindo essa abordagem, a folksonomia vem ganhando terreno
notadamente por estimular usuários a organizar tematicamente a informação
que guardam para si, representando-a para que possam recuperá-la quando
desejarem ou precisarem, através de Sistemas de Classificação Distribuída
(Distributed Classification Systems – DCs). Acerca desse aspecto, diz-se que
ele denota uma motivação pessoal. Uma segunda e importante motivação é
essencialmente pública. Por se inserir na Web 2.0, esses sites incentivam o
compartilhamento entre as pessoas, desse modo, tagging apresenta-se como
uma prática instigante.
Na história da folksonomia, destacam-se dois sites precursores que
ainda mantêm sua representatividade nessa primeira década do século XXI,
são eles: Delicious e Flickr. Lançado em 2004, o Flickr é um site que comporta
o upload e o compartilhamento de fotografias, cuja organização realiza-se
através das tags inseridas no sistema pelos próprios usuários, num limite de
até 75 descritores por fotografia. O Delicious constitui-se um serviço de social
bookmarks destinado a salvar endereços “favoritados” pelos usuários.
Ao mesmo tempo em que salvam suas páginas favoritas no Delicious,
aqueles que fazem uso de seu serviço também podem atribuir-lhes palavras-
chave, personalizando o conteúdo. Assim, esses mesmos usuários encontrarão
com mais facilidade sites relacionados a tópicos de que precisa no momento;
ainda, outros participantes desconhecidos terão acesso a essas páginas
quando clicarem em um dos descritores nelas presentes.
61
Figura 1 – Delicious: social bookmarks Fonte: RECENT..., 2010.
No Flickr é possível a adição de tags de maneira totalmente livre, mas
há uma preocupação quando dessa etiquetagem, pois o acesso às fotografias
postadas Esse serviço tem a vantagem de, através de seu sistema
computacional, enxergar vínculos entre os descritores, formando clusters, ou
agrupamentos de tags estatisticamente relacionadas.
62
Figura 2 – Clusters do Flickr Fonte: SOMETAITHURTS..., 2010. Na visão de Maness (2006)1516,
o tagging essencialmente torna o usuário capaz de criar cabeçalhos de assunto para o objeto de informação em questão. De acordo com Shanhi (2006), o tagging está relacionado à Web 2.0 na medida em permite aos usuários adicionar e mudar não só conteúdos (dados), mas também a descrição desses conteúdos (metadados). No Flickr, os usuários fazem o tagging de fotos. No LibraryThing, de livros. Na Biblioteca 2.0, os usuários podem atribuir tags à coleção da biblioteca e então se tornam participantes do processo de catalogação.
Outras iniciativas no setor de Sistemas de Classificação Distribuída
dizem respeito a veículos de informação mais formais, ultrapassando a esfera
das redes sociais. Apresentam-se como exemplos a Biblioteca de Danbury, nos
Estados Unidos, que em seu catálogo tags são adicionadas não por sua equipe
15 Documento online, não paginado. 16 Tradução do original: “Tagging essentially enables users to create subject headings for the object at hand. As Shanhi (2006) describes, tagging is essentially Web 2.0 because it allows users to add and change not only content (data), but content describing content (metadata). In Flickr, users tag pictures. In LibraryThing, they tag books. In Library 2.0, users could tag the library's collection and thereby participate in the cataloging process”.
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de bibliotecários, mas advêm da página da LibraryThing, cujas tags são
alimentadas por membros que descrevem os livros de sua biblioteca virtual; e
portal de acesso a artigos científicos CiteULike.
Figura 3 – Catálogo da Biblioteca de Danbury Fonte: SARAMAGO..., 2010. Em se tratando de sistemas de classificação baseados em categorias
hierarquizadas, a representação das informações objetiva a divisão do
conhecimento em compartimentos predeterminados e únicos, isto é, cada
conceito pertence a uma categoria própria. As tags proporcionam uma
mudança radical nesse viés, pois, como um documento pode ser descrito por
inúmeras etiquetas, consequentemente, ele poderá ser visualizado e
encontrado em variados locais ou assuntos. Desse modo, ao se adicionar
múltiplas palavras-chave, criam-se múltiplos caminhos para a recuperação.
(SMITH, 2008).
A capacidade e desenvolvimento da computação caminham para o
fortalecimento de conexões entre metadados, nesse caso as tags, com a
finalidade de detectar e estabelecer inferências entre inúmeras e distintas
formas de representação que usuários da rede mundial de computadores dão
às informações digitais. Nessa direção, tags que aparentemente não se
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relacionam umas com as outras têm seus vínculos detectados pelo sistema
computacional, baseando-se em estatísticas que revelam a quantidade de
vezes que uma tag insere-se num conjunto específico, que por sua vez contém
outras tags que fazem referência de alguma maneira a diversas outras e assim
por diante. Tais elos formam um percurso com bifurcações infindáveis,
possibilitadas pelo caráter de não linearidade próprio da Internet, notadamente
pela sua essência hipertextual. (WEINBERGER, 2007).
Dito de outro modo, se alguém etiqueta um site que em seu conteúdo
refere-se a, entre outras coisas, moda com uma tag “tendência”, ela pode vir a
formar um hipertexto com sites indicados por tags, tais como “verão”, biquínis”,
“praias” “nordeste”, “turismo”, “teatro”, “artes cenicas”, “intervencao urbana” etc.
Assim, constroem-se redes de associações ilimitadas, pois cada tag pode levar
o internauta a diferentes pontos de vista de uma inteligência coletiva. Vale
salientar que cada uma dessas tags sempre possui ao menos uma
característica em comum que as agrupe.
Esse aspecto de imprevisibilidade, de serendipidade na navegação
leva o internauta a descobrir coisas sem que tivesse a intenção – por mero
acaso – pode ser comparado ao browsing de estantes numa biblioteca,
implicando a recuperação de informações que podem vir a fortalecer o
conhecimento de mundo de um indivíduo. Complementando, McGarry (1999, p.
132) sugere que “as pessoas não pensam seguindo linhas retas, passando de
uma coisa a outra: saem por milhões de tangentes porque estão interessadas
em milhões de coisas. O pensamento humano compreende uma intricada rede
de associações e conexões”.
Do ponto de vista do usuário dos tagging systems, considera-se que a
folksonomia apresenta quatro diferentes perspectivas, quais sejam:
a) perspectiva egocêntrica: ao descrever um conteúdo, o usuário
está preocupado somente consigo mesmo e com a recuperação no momento
em que lhe for necessário. Em geral, a etiquetagem visa exercer o papel de
auxílio à memória. A popular tag “toread” exemplifica bem essa prática;
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b) perspectiva amigável: nela, pequenas tribos que apresentam
afinidades de interesses esforçam-se para chegar a um consenso sobre a
linguagem que o grupo deve utilizar quando da descrição de itens;
c) perspectiva altruísta: o escopo de atuação e convenção é
aumentado em relação à perspectiva amigável, objetivando melhorias na
recuperação da informação; e
d) perspectiva populista: abordagem prioritariamente utilizada por
organizações que atentam para o uso recorrente de tags, visando a
identificação de tendências de consumo. (MOURA, 2009).
À guisa de conclusão, fundamentando-se na exposição deste capítulo,
compreende-se que as folksonomias possuem características peculiares
quando comparadas aos sistemas hierárquicos de classificação. Ao se
configurar um sistema de representação e categorização da informação
construído de baixo para cima, isto é, no qual pessoas não especialistas
descrevem de maneira particular os documentos a que têm acesso na rede, ele
pode ser encarado como uma forma, mesmo que inconsciente, de
afrouxamento do poder de um restrito grupo de instituições que costumam
tomar para si a demanda de informação.
Lévy (1999, p. 120) traz sua contribuição ao revelar que “talvez
cheguemos à conclusão de que será preciso inventar os mapas e instrumentos
de navegação para esse novo oceano. Mas não é necessário congelar,
estruturar a priori, cimentar uma paisagem que é por natureza fluida e variada:
uma vontade excessiva de domínio não pode ter poder durável no
ciberespaço”.
Os opositores vêm ressaltando a influência das idiossincrasias dos
taggers, que, segundo eles, ocasionam uma arbitrariedade nesse tipo de
classificação. No entanto, é sabido que até mesmo nas linguagens artificiais
não pode haver uma total neutralidade, pois, enquanto seres humanos, os
especialistas são regidos por influências cognitivas ou externas, a saber,
culturais, políticas, sociais etc. Dewey, por exemplo, como adepto da religião
cristã, determinou seu sistema de acordo com essa ideologia. Portanto, a
folksonomia é representativa ao passo que partícipe da nova ordem mundial,
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carregada de contradições, mas também de flexibilidade e cooperação entre os
indivíduos.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se a informação sempre fez parte do cotidiano das sociedades desde a
origem da humanidade, pode-se dizer que tem sido de fundamental
importância para a realização das atividades concernentes a todas as esferas,
tanto públicas quanto privadas. No que se refere à sua influência nos
indivíduos, esse elemento é capaz de, quando assimilado, transformar-se em
conhecimento, potencializando a criação de técnicas que tragam mudanças,
muitas vezes benéficas, ao dia a dia das pessoas.
O desenvolvimento das técnicas vem ocorrendo com regularidade em
todas as épocas de maneira que afeta as relações humanas em sua totalidade.
Contudo, devido à rápida velocidade dos aprimoramentos e atualizações das
tecnologias de informação e comunicação, a Sociedade da Informação é
considerada uma época peculiar, no sentido de que se diferencia das demais
no que tange à sua necessidade de produção e disseminação constantes de
informação com a finalidade de trazer à tona inovações para todos os setores
sociais.
Nessa direção, surge uma nova ordem mundial caracterizada pela
presença e uso intensivos das novas tecnologias digitais, inseridas
principalmente no ambiente virtual denominado ciberespaço. Por apresentar
um caráter fragmentário, esse espaço é tido, por vezes, como um ambiente de
desordem, de caos.
Tal visão tem a ver com a quantidade informações que compõe o
ciberespaço, crescente a cada segundo, em se tratando de um ambiente que
estimula e promove a produção de novos conteúdos, irrefreavelmente. A web
tem se apresentado como importante propulsora do aumento no volume de
informações destinadas ao acesso em linha.
A Web 2.0, segunda geração da World Wide Web, tem a
particularidade de incentivar práticas colaborativas dos usuários com a rede,
bem como entre si, através dela. Entre suas possibilidades de
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compartilhamento e troca, destacam-se as redes sociais, na medida em que
são destinadas à comunicação e colaboração de “todos-com-todos”
A partir do estabelecimento de um lugar em que fosse possível
interferir no conteúdo e consequentemente no status quo, em contraposição a
uma relação de poder na qual uma elite costumava ser responsável por
determinar que tipo de informação as pessoas teriam acesso, documentos
passam a ser gerados em profusão por indivíduos comuns. Daí, surge a
necessidade de um novo tipo de classificação que se adaptasse às
transformações em curso e que correspondesse a expectativas requeridas nas
atividades cotidianas em voga no século XXI. A folksonomia, enquanto modelo
de classificação que se realiza de baixo para cima em contraste com as
classificações tradicionais realizadas por especialistas, portanto, de cima para
baixo, vem atender a esses requisitos ao passo que adota procedimentos
simples e a linguagem natural, em substituição às linguagens artificiais
utilizadas nos sistemas tradicionais, de modo que qualquer usuário da rede
torna-se habilitado a categorizar e representar a informação com a qual lida
diariamente.
Nesse sentido, pode-se considerar a folksonomia como mais uma das
tentativas que o homem vem realizando com a intenção de representar
conteúdos de documentos com vistas a categorizá-los para posterior
recuperação, já que o sucesso nessa recuperação oferece os subsídios para a
reconstrução do saber, que pode vir a trazer inovações e melhorias para a
sociedade.
A continuidade e o desenvolvimento dessa prática construída através
da “sabedoria das multidões” são ainda incertos, pois ela pode, com o tempo,
caracterizar-se somente como um modismo, potencializado pela cibercultura,
que é afeita a permanentes transformações. No entanto, pelo contrário,
também pode vir a ser um sistema continuamente aprimorado, destinando-se
às trocas culturais entre usuários, cujas necessidades são levadas em
consideração, e contribuindo para a formação de uma inteligência coletiva.
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