Gis Ps America Po

80
PÁGINA 1 GISP SUMÁRIO 2 AGRADECIMENTOS 3 PREFÁCIO 4 INTRODUÇÃO ÀS INVASÕES BIOLÓGICAS 6 INTRODUÇÃO 14 AMÉRICA DO SUL INVADIDA 15 ÁRVORES 16 Pinus 18 Acácias 20 Cinamomo 21 Uva-do-Japão 21 Nêspera 22 Dendezeiro 23 Tamariscos 24 Algarobeiras 25 Leucena 26 ARBUSTOS 26 Mamona 27 Alfeneiros 28 Amoreira-preta 28 Madressilva 29 Rosas 30 Giestas 31 Tojo 32 GRAMÍNEAS 35 ANIMAIS 35 Ratos 36 Castor americano 37 Visão 37 Ratão-do-banhado 38 Coelho europeu 39 Lebre-européia 39 Mangusto indiano 40 Cervo colorado 41 Porcos asselvajados e javalis 42 Animais asselvajados em Galápagos 44 Pardal 44 Pombos 45 Estorninho-europeu 46 Caturrita 47 Codorna-da-Califórnia 48 Tartaruga-de-orelha-vermelha 49 Teiú 50 Caramujo-gigante-africano 51 Formiga-cabeçuda 51 Formiga-de-fogo 52 Abelha-africanizada 53 Vespa-européia 54 INVASORES AQUÁTICOS 54 Água de lastro e sedimentos 56 Mexilhão-dourado 58 Berbigão-asiático 59 Alga-gigante-japonesa 60 Rã-touro 61 Rã-africana 62 Carpa-comum 64 Tilápia 66 Salmonídeos 67 Barrigudinho 68 PRAGAS DE INSETOS 68 Broca-do-café 69 Bicudo-do-algodão 69 Cochonilha-dos-cítricos 70 Vespa-da-madeira-européia 71 Mariposa-da-maçã 72 AMÉRICA DO SUL INVASORA 73 • Aguapé 73 • Erva-de-jacaré 74 • Mikania micrantha 74 • Erva-do-Sião 75 • Camarinha 75 • Aroeira-vermelha 76 • Ratão-do-banhado 76 • Tamoatá 77 • Sapo-cururu 78 • Caramujo-dourado 78 • Formiga-argentina 79 • Ácaro-verde-da-mandioca 80 • Besouro-do-milho 80 • Minadora-das-folhas

Transcript of Gis Ps America Po

Page 1: Gis Ps America Po

PÁGINA 1

G I S P

SUMÁRIO

2 AGRADECIMENTOS

3 PREFÁCIO

4 INTRODUÇÃO ÀS INVASÕES BIOLÓGICAS

6 INTRODUÇÃO

14 AMÉRICA DO SUL INVADIDA

15 ÁRVORES16 Pinus 18 Acácias20 Cinamomo21 Uva-do-Japão21 Nêspera22 Dendezeiro23 Tamariscos24 Algarobeiras25 Leucena

26 ARBUSTOS26 Mamona 27 Alfeneiros28 Amoreira-preta28 Madressilva29 Rosas30 Giestas31 Tojo

32 GRAMÍNEAS

35 ANIMAIS35 Ratos36 Castor americano37 Visão37 Ratão-do-banhado38 Coelho europeu39 Lebre-européia39 Mangusto indiano40 Cervo colorado41 Porcos asselvajados e javalis42 Animais asselvajados em

Galápagos44 Pardal

44 Pombos45 Estorninho-europeu46 Caturrita47 Codorna-da-Califórnia48 Tartaruga-de-orelha-vermelha49 Teiú50 Caramujo-gigante-africano51 Formiga-cabeçuda51 Formiga-de-fogo52 Abelha-africanizada53 Vespa-européia

54 INVASORES AQUÁTICOS54 Água de lastro e sedimentos56 Mexilhão-dourado58 Berbigão-asiático59 Alga-gigante-japonesa60 Rã-touro61 Rã-africana62 Carpa-comum64 Tilápia66 Salmonídeos67 Barrigudinho

68 PRAGAS DE INSETOS68 Broca-do-café69 Bicudo-do-algodão 69 Cochonilha-dos-cítricos 70 Vespa-da-madeira-européia71 Mariposa-da-maçã

72 AMÉRICA DO SUL INVASORA

73 • Aguapé 73 • Erva-de-jacaré74 • Mikania micrantha 74 • Erva-do-Sião 75 • Camarinha 75 • Aroeira-vermelha76 • Ratão-do-banhado76 • Tamoatá77 • Sapo-cururu78 • Caramujo-dourado78 • Formiga-argentina79 • Ácaro-verde-da-mandioca 80 • Besouro-do-milho80 • Minadora-das-folhas

Page 2: Gis Ps America Po

AGRADECIMENTOS

PÁGINA 2

© Programa Global de Espécies Invasoras

Primeira publicação em 2005, pela Secretaria do GISP

ISBN 1-919684-48-4(Edição em inglês: ISBN 1-919684-47-6)(Edição em espanhol : ISBN 1-919684-49-2)

O GISP agradece às organizações parceiras, ao Banco Mundial e às inúmeraspessoas que colaboraram para fazer desta publicação uma realidade, doandoseu tempo e conhecimento, a despeito de agendas de trabalho lotadas e deoutros compromissos.

Autor líder e co-editor: Sue Matthews

Editor e gerente de projeto: Kobie Brand

Principais colaboradoresSílvia R. ZillerSergio ZalbaAugustin IriarteMaria Piedad BaptisteMaj de PoorterMariana CattaneoCharlotte CaustonLynn Jackson

Por contribuições adicionais, o GISP agradece às seguintes pessoasArturo MoraCarola WarnerJeffrey McCraryGeoffrey HowardAna SanchoTom PaulsomAlan TyeAlex BrownEvangelina NataleJohn GaskinImene MelianeMarnie CampbellPaul DowneyDiego Gil-AgudeloHector Rios AlzatePaul Ouboter

Capa: Adrian Warren – www.lastrefuge.co.uk

Fotografias O GISP agradece às diversas pessoas e organizações que gentilmente disponibi-lizaram suas fotos, em especial Sílvia R. Ziller, Sergio Zalba, Carlos RomeroMartins, Caio Borghoff, Sue Matthews, Charlie Griffiths, Working for Water(África do Sul), bem como às muitas organizações que disponibilizam suas fotospara organizações sem fins lucrativos através da Internet.

Design e arte final Runette Louw y Jenny Young

Tradução para o português Gisele Bolzani

IlustradoresIzak VollgraaffDoug Powell

Suporte financeiroBanco Mundial, através de seu Mecanismo de Fundos para Desenvolvimento, ePrograma de Parcerias do Banco dos Países Baixos

Agradecimentos especiais a Sílvia R. ZillerSergio ZalbaAugustin IriarteMaj de PoorterPrograma GloballastConselho do GISP e SecretariaInstituto Nacional de Biodiversidade da África do SulAutores de publicações anteriores do GISP, em especial da Estratégia Global,Caixa de Ferramentas do GISP e Anais da Oficina de Espécies Exóticas Invasorasda América do Sul e relatórios nacionais sobre Cooperação na América do Sul.

Segundo os conhecimentos mais atualizados disponíveis no momento destapublicação, as informações aqui contidas estão corretas, porém o GISP não seresponsabiliza por qualquer informação incorreta publicada. Deve ser observadoque as opiniões expressadas nesta publicação não refletem, necessariamente, asdo GISP ou das organizações que o compõe.

Page 3: Gis Ps America Po

Da mesma forma que muitos países em outros continentes, aAmérica do Sul tem ignorado a presença e os impactos deespécies exóticas invasoras sobre a biodiversidade e os ecossis-temas naturais. O diferencial está em que o continente sulamericano detém mais de 20% de todas as espécies de plantase animais do planeta e muitos dos ambientes mais conser-vados, portanto tem também mais a perder.

Embora estejam camufladas como apenas mais uma plantaou animal para olhos leigos, espécies exóticas invasoras estãoestabelecidas em toda a parte, desde ratos em áreas urbanas

até o caramujo gigante africano e gramíneas africanas em pontos remotos da FlorestaAmazônica. Não temos ainda avaliações suficientes para visualizar o tamanho desseproblema. No meio tempo, programas de desenvolvimento promovem o cultivo de maisespécies exóticas através de novas introduções e da intensificação de uso de espécies jáconsagradas como invasoras, sem prever manejo adequado ou medidas preventivas aoprocesso de invasão. Essas atitudes denotam falta de uso da base científica para o desen-volvimento, assim como falta de bom senso no manejo de ecossistemas naturais e do usodo princípio da precaução em que se fundamenta a Convenção Internacional sobreDiversidade Biológica.

Há danos a ecossistemas naturais que são irreversíveis e agravados na presença deespécies exóticas invasoras. As conseqüências vão além da disponibilidade de recursos finan-ceiros para resolver esses problemas: invasões biológicas causam impactos de longo prazoque podem levar à extinção de espécies. A melhor opção é não deixar que sejam criados.

Poucos países do mundo já tomaram medidas concretas para prevenir a expansão deespécies exóticas invasoras. A América do Sul precisa aprender dessas experiências. Ospaíses precisam agir com rapidez para impedir novas introduções de espécies de risco,adotando protocolos de análise de risco que incluam parâmetros ambientais, estabelecendosistemas de prevenção eficientes, criando capacidade para responder com rapidez àdetecção precoce de espécies e desenvolvendo marcos legais e políticas públicas para tratarde problemas e soluções em sistemas naturais e de produção. Esses esforços levarão amelhores resultados positivos se forem ligados a um trabalho de conscientização pública emtodos os níveis, atingindo desde o público leigo até a área científica.

Esperamos que esta publicação seja de utilidade para tomadores de decisão e ajudema fazer realizar essas tarefas. Este livro não foi concebido para representar todas as espéciesexóticas invasoras do continente, já que, infelizmente, há muito mais espécies estabelecidasno continente do que as que são retratadas aqui. Procurou-se incluir exemplos dos gruposmais diversos de espécies, contando com ajuda de técnicos de diversos dos países sul-ameri-canos, com vistas a criar uma referência o mais abrangente possível.

Também esperamos que quem receber esta publicação tenha condições de perceber aamplitude dos problemas já criados e compreender que essa invasão massiva só pode serresolvida com cooperação pública em todos os níveis. Precisamos que as pessoas deixem decarregar plantas e sementes de um ambiente para outro, que não cultivem espécies exóticasinvasoras sem critério, que não libertem animais de estimação na natureza. Precisamos queos produtores controlem as espécies exóticas invasoras que utilizam, assim como precisamosencontrar alternativas compatíveis com a sustentabilidade ambiental e social em longoprazo. Muitas soluções são possíveis, simples e baratas em termos técnicos, porém setornam complexas ao envolver interesses humanos conflitantes e, acima de tudo, falta deconhecimento científico e de cuidado com a biodiversidade.

Gostaríamos que este livro tivesse ao menos um pouco de efeito na sua visão danatureza e do futuro, assim como na sua compreensão de que você também pode ajudara impedir a perda de espécies preciosas e dos serviços prestados pelos ecossistemas naturaispara todos nós.

Dra. Sílvia R. Ziller

Fundadora e Diretora Executiva, Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental

Coordenadora do Programa de Espécies Invasoras para a América do Sul, The Nature Conservancy

PREFÁCIO

PÁGINA 3

Page 4: Gis Ps America Po

Todavia, nos últimos anos, especialmente nos últimos doisséculos, uma força sem precedentes tem mudado de formadefinitiva a distribuição de espécies no planeta. Nesta novadinâmica biogeográfica, os seres humanos desempenhamo papel principal. Ao longo de sua história, a humanidadetem transportado milhares de espécies para fora de suasregiões de ocorrência natural. Muitos animais e plantasforam e são movidos propositalmente, com intenção deassegurar segurança alimentar, disponibilidade de com-bustível e materiais de construção ou atender a outrasnecessidades associadas a diferentes atividades humanas.Outras espécies, todavia, viajam desapercebidas em carrega-mentos de sementes ou madeira, ou na água de lastro denavios. Freqüentemente também, a introdução de espécies

exóticas é promovida por projetos econômicos baseadosem argumentos técnicos questionáveis, que prometemgrandes retornos, mas não consideram, ou evitam apontar,os riscos potenciais da introdução em relação a outrosvalores, culturais, econômicos e ambientais.

A crescente movimentação de espécies para fora dosseus ambientes naturais levou ao surgimento de um conjuntode termos utilizados para definir as diferentes variantesdeste fenômeno provocado pela ação humana.

Assim, exótica ou introduzida é qualquer espécieproveniente de um ambiente ou de uma região diferente.Algumas vezes esta definição coincide com as fronteiraspolíticas de um país e neste caso uma espécie é consideradaexótica se trazida do exterior. Este conceito é adequadopara o estabelecimento de políticas e regulamentações,mas comporta restrições importantes do ponto de vista domanejo de invasões biológicas, porque a movimentação deespécies dentro de um país pode constituir um problematão sério quando a importação de novas espécies.

Assim, o tucunaré (Cichla ocellaris), trasladado da baciaAmazônica para o rio Paraná, no sul do Brasil, trans-formou-se em uma espécie invasora no novo hábitat, mesmonão tendo jamais transposto a fronteira nacional. Processosemelhante ocorreu com o sansão-do-campo ou sabiá,Mimosa caesalpiniifolia, planta nativa da Caatinga, áridoecossistema do nordeste brasileiro. Usada para construçãode cercas em outros ecossistemas, transformou-se eminvasora, principalmente na Floresta Atlântica. Do pontode vista biológico, faz, portanto, muito mais sentidoprevenir o movimento de espécies entre ecossistemas ou

INTRODUÇÃO ÀS INVASÕES BIOLÓGICAS

Conceitos e definições

A movimentação de espécies é um dos fenômenos que determinaram a história da vida na Terra.Cavalos, mastodontes e bisões vieram da Sibéria para a América através do estreito de Bering,provavelmente seguindo a mesma rota utilizada por nossos ancestrais humanos. Da mesma forma, asAméricas do Norte e do Sul intercambiaram conjuntos inteiros de espécies nos sucessivos afloramentose afundamentos do istmo do Panamá. Deste modo, a distribuição de espécies em um dado período dahistória resulta de um equilíbrio entre migrações e extinções.

PÁGINA 4

Page 5: Gis Ps America Po

regiões biogeográficas do que se preocupar apenas com atransposição de fronteiras nacionais.

À medida que as espécies exóticas introduzidasconseguem estabelecer populações auto-sustentáveis,passam a ser chamadas espécies estabelecidas.

Finalmente, algumas das espécies estabelecidastornam-se aptas a avançar sobre ambientes naturais ealterados, transformando-se em espécies exóticasinvasoras (invasive alien species – IAS). De acordo com aConvenção sobre Diversidade Biológica, uma espécieinvasora é “uma espécie introduzida que avança, semassistência humana, e ameaça hábitats naturais ou semi-naturais fora do seu território de origem”, causandoimpactos econômicos, sociais ou ambientais.

Estas definições estabelecem um quadro dinâmicopara o processo de crescimento de uma espécie invasora.Neste sentido, uma espécie introduzida pode sobreviver semcausar danos por um período indeterminado de tempo atéque esteja habilitada a ultrapassar certas restriçõesambientais, reproduzir-se e formar uma população, tornando-se estabelecida. Com o tempo, esta espécie pode avançarde forma significativa sobre ambientes naturais e mesmosobre sistemas produtivos, transformando-se, assim, eminvasora. O período de tempo necessário para que issoaconteça depende da espécie e das condições locais, nãosendo possível prevê-lo. Fase de latência (lag phase) é otermo técnico empregado para nomear o períodonecessário para que uma espécie, sob determinadascondições, se adapte, passe a reproduzir e a disseminar-se.Portanto, é importante considerar que a avaliação dasituação de uma espécie exótica invasora não pode serfeita tendo-se como base apenas o momento presente,pois há sempre uma tendência evolutiva de adaptação,estabelecimento e invasão, especialmente se a espécie emquestão já tem um histórico de invasão em outro local.

A principal razão pela qual as invasões biológicas sãoatualmente mais visíveis, produzindo impactos de grandeamplitude, reside na facilidade com que as espécies podem

transpor barreiras naturais que antigamente limitavam suadisseminação. A movimentação humana no planetaaumentou significativamente com o desenvolvimento dotransporte aéreo, fluvial, marítimo e rodoviário em todomundo. O trânsito comercial facilita o traslado de espéciesinvasoras, e as vias através das quais isto ocorre são tecni-camente chamadas de rotas de dispersão (pathways).Entre outras, rodovias, rotas comerciais e o tráfego ligadoao comércio ornamental, florestal, de pesca e agrícola. Asmaneiras ou materiais através dos quais as espécies sãotransportadas são denominados vetores. Exemplos devetores são a água de lastro dos navios, responsável peloestabelecimento na Argentina do mexilhão-dourado(Limnoperna fortunei), cascos de barcos e navios, amostrasde solos, animais, madeira e outros materiais utilizados emembalagens, equipamentos de pesca e de mergulho, lixo,máquinas e pneus, entre muitos outros.

É importante notar que embora nem todas as espéciesexóticas se tornam invasoras, e que os impactos variam deacordo com as espécies e os ambientes, algumas destasespécies causam impactos sérios e de amplas conseqüências,principalmente se não controladas. Portanto, espéciesexóticas invasoras, consideradas a segunda causa de perdade biodiversidade no planeta, precisam ser tratadas deacordo com o princípio da precaução que fundamenta aConvenção sobre Diversidade Biológica.

Dr. Sergio M. Zalba (em colaboração com Sílvia R. Ziller)GEKKO, Grupo de Estudos em Conservação e ManejoUniversidade Nacional do SulBahía Blanca, Argentina

PÁGINA 5

Page 6: Gis Ps America Po

INTRODUÇÃO

PÁGINA 6

A Questão Global dasEspécies Exóticas Invasoras

A dispersão de espécies exóticas invasoras é hojereconhecida como uma das maiores ameaças ao bem-estar ecológico e econômico do planeta. Estas espéciesvêm causando enormes danos à biodiversidade e aosvaliosos sistemas naturais e agrícolas dos quais depen-demos. O dano à natureza é muitas vezes irreversível, e osefeitos diretos e indiretos sobre a saúde tornam-se cadavez mais sérios. Os impactos de espécies exóticas invasorassão agravados por mudanças globais e por perturbaçõesquímicas e físicas sobre as espécies e ecossistemas.

A globalização contínua, com comércio crescente edeslocamento contínuo de pessoas e bens através dasfronteiras, trouxe benefícios tremendos para muitos paísese pessoas. Entretanto, ela também tem facilitado adispersão de espécies invasoras e o aumento significativodos impactos negativos por elas provocados. Este é umproblema de amplitude global, que requer cooperaçãointernacional para complementar as ações desenvolvidasem nível nacional e local por governos, setores econômicose instituições do terceiro setor.

Espécies invasoras ocorrem em todos os principaisgrupos taxionômicos, incluindo vírus, fungos, algas,musgos, samambaias, plantas superiores, invertebrados,peixes, anfíbios, répteis, pássaros e mamíferos. Emboraapenas uma pequena percentagem das espécies trans-portadas através das fronteiras se torne invasora, osimpactos destas podem ser extensos.

Custos Ambientais

Espécies exóticas invasoras podem transformar a estruturae a composição das espécies de um ecossistema porrepressão ou exclusão de espécies nativas, seja de formadireta, pela competição por recursos, ou indiretamente,pela alteração na forma com que nutrientes circulamatravés do sistema. Espécies invasoras podem afetarsistemas inteiros; por exemplo, quando insetos invasoresameaçam espécies nativas de insetos, podem provocar umefeito-cascata negativo sobre espécies de pássaros que sealimentam dos insetos nativos e sobre plantas de depen-dem deles para polinização ou disseminação de sementes.

A crescente dominação global por parte de umnúmero relativamente pequeno de espécies invasorasameaça acabar com a grande diversidade biológica doplaneta, repleta de peculiaridades locais, criando ummundo relativamente homogêneo.

Ainda não foram acordados critérios relativos ao danomínimo, dispersão ou tamanho de população necessáriospara caracterizar uma espécie como invasora. Todavia, jáestá claro que um número muito pequeno de indivíduos,representando uma pequena fração da variação genéticada espécie em seu ambiente natural, pode ser suficientepara gerar, através de sua reprodução e dispersão, danosambientais massivos em um novo ambiente.

Thunbergia grandiflora Foto: Sílvia R. Ziller

Page 7: Gis Ps America Po

Podr

anea

ric

caso

liana

Foto

: Sílv

ia R

. Zill

er

Leuc

aena

leuc

ocep

hala

Foto

: Sí

lvia

R. Z

iller

Acácia-negra Foto Sue Matthews

Page 8: Gis Ps America Po

INTRODUÇÃO

PÁGINA 8

Custos Econômicos

Espécies exóticas invasoras provocam muitos impactosnegativos sobre os interesses econômicos, sejam eleslocais, nacionais ou globais. Diminuem o rendimento deplantações, aumentam os custos de manejo e reduzem osuprimento de água ao degradarem ecossistemas ereservas de água doce. Turistas inadvertidamente intro-duzem plantas exóticas em parquesnacionais, onde elas degradamecossistemas protegidos e aumentamos custos de manutenção. Pragas eagentes patogênicos que atacamplantações, criações e florestasdestroem-nos completamente oureduzem a produtividade e aumentamos custos de controle. A descarga deágua de lastro introduz organismosaquáticos perigosos, incluindo bac-térias e vírus, tanto em ecossistemasmarinhos quanto de água doce,degradando, desta forma, importantes atividades comer-ciais como as associadas à pesca. E organismos causadoresde enfermidades recentemente disseminados matam ouincapacitam milhões de pessoas a cada ano, comprofundas implicações sociais e econômicas. O ProgramaGlobal de Espécies Invasoras não tem uma estimativa docusto global agregado das invasões biológicas, mas umestudo conduzido pelos Estados Unidos avalia em 137bilhões de dólares só nos Estados Unidos o custo anualassociado a uma gama de espécies exóticas invasoras.

Entretanto, embora ainda permaneça uma consi-derável incerteza em relação ao custo total das invasões,estimativas quanto ao impacto econômico de espéciesinvasoras sobre setores específicos da economia indicam aseriedade do problema. Um ácaro, praga que afeta abelhasmelíferas, invadiu recentemente a Nova Zelândia e estima-

se que acarretará um prejuízo econômico entre 260 e 600milhões de dólares, forçando os produtores de mel amudar a forma de manejo das colméias. Os produtoresargumentam que se as regras de importação tivessem sidoseguidas ou se o serviço de vigilância tivesse detectado oácaro precocemente, o problema poderia ter sido inteira-mente evitado. Agora parece ser muito tarde paraerradicá-lo, e o plano requerido para mitigar o problemadeverá custar, apenas em sua primeira fase, um milhão e

trezentos mil dólares. Em 1992, um relatório da Weed

Science Society of America estimavao custo total gerado por plantasexóticas invasoras entre 4,5 e 6,3bilhões de dólares anuais nosEstados Unidos. Embora a amplitudeda variação dos números revele suafalta de exatidão, os mesmos apon-tam para a magnitude dos impactose demonstram a necessidade deinvestimentos significativos paraprevenir a disseminação e a prolifera-

ção dessas espécies.Além dos custos diretos associados ao manejo de

invasoras, os custos econômicos também incluem asconseqüências ambientais indiretas das invasões eoutros valores que não integram o mercado. Porexemplo, espécies invasoras podem provocar alteraçõesnos serviços ecológicos ao causar distúrbios no ciclohidrológico, incluindo controle de cheias e suprimento deágua, na assimilação de dejetos, na reciclagem de nutri-entes, na conservação e regeneração de solos, na poli-nização de plantações e disseminação de sementes. Taisserviços têm tanto valor atual quanto valor potencial nofuturo. No Reino Florístico da região do Cabo da BoaEsperança, na África do Sul, o estabelecimento de espéciesinvasoras arbóreas provocou diminuição do suprimento deágua para as comunidades próximas, aumento do risco de

Aca

cia

man

gium

Foto

: Sílv

ia R

. Zill

er

Page 9: Gis Ps America Po

PÁGINA 9

incêndios e ameaças à biodiversidade nativa, justificandogastos governamentais de 40 milhões de dólares anuaiscom o controle manual e químico.

Embora as perdas nas colheitas provocadas por ervasdaninhas e outras pragas exóticas possam refletir-se nospreços de mercado de produtos agrícolas, tais custosraramente são pagos pela fonte de introdução da espécieinvasora. Antes, são considerados “externalidades”negativas, isto é, custos que uma atividade impõe a outrade forma não intencional, sem que a segunda seja capazde receber compensações pelos danos sofridos. Umaspecto característico das invasões biológicas enquantoexternalidades é que os custos das mesmas, têm grandepropensão a se auto-sustentar. Mesmo se a introduçãocessa, os danos provocados pelas invasoras já estabele-cidas se mantêm e podem mesmo aumentar.

A maior parte das evidências dos impactos eco-nômicos provocados por espécies exóticas invasorasprovém de regiões desenvolvidas. Entretanto, háfortes indícios que as regiões em desenvolvimentoestão experimentando perdas similares, quando nãoproporcionalmente maiores.

Pragas relacionadas a insetos exóticos invasores, comoa cochonilha da mandioca e o besouro-do-milho, naÁfrica, constituem ameaças diretas à segurança ali-mentar. Plantas nocivas invasoras, por sua vez, implicamem esforços para restaurar terras degradadas, regenerarflorestas e melhorar a utilização de água para irrigação oupiscicultura. O aguapé e outras espécies nocivas de plantasaquáticas invasoras que afetam o uso da água custamatualmente a países em desenvolvimento mais de 100milhões de dólares por ano.

Além disso, muitas introduções são não intencionais,caso que inclui a maioria dos invertebrados e agentespatogênicos. Preços ou mercados não podem refletir deimediato os custos destas introduções. Mas mesmo nocaso de introduções envolvendo importações deliberadaspara promover a agricultura, horticultura, silvicultura ou

piscicultura, os preços de mercado para sementes, plantasou alimentos geralmente não refletem os riscos ambientaisassociados ao seu uso. Assim, os produtores têm poucoincentivo financeiro para levar em consideração os custospotenciais associados à perda de espécies nativas ou àperturbação do funcionamento dos ecossistemas. Aspolíticas desenvolvidas para lidar com externalidadesconvencionais envolvidas no problema geral da perda debiodiversidade – ferramentas econômicas como taxas,subsídios, licenças e assim por diante – podem nemsempre ser adequadas para lidar com o problema causadopor invasões. Este ponto põe em evidência a necessidadeurgente de novas abordagens econômicas para lidar comas espécies exóticas invasoras.

Custos à saúde humana

O dinamismo entre agentes patogênicos invasores,comportamento humano e desenvolvimento econômico écomplexo e depende da interação entre a virulência dadoença, as populações infectadas e as suscetíveis, opadrão dos assentamentos humanos e o seu nível dedesenvolvimento. Grandes obras, tais como represas,projetos de irrigação, recuperação de terras, construção deestradas e programas de reassentamento têm contribuídopara a invasão de doenças como a malária, o dengue,a esquistossomose e a tripanossomíase.

Em regiões tropicais, a derrubada de florestas paraaumento das terras agriculturáveis tem facilitado a trans-missão mais abrangente de vírus propagadores de febreshemorrágicas que até então circulavam de forma benignaem hospedeiros selvagens. Exemplos incluem a febrehemorrágica argentina e os vírus Guaranito, Machupo eBasia. Algumas rotas de dispersão de invasões biológicassão complicadas. Por exemplo, no Egito, a prevalência deelefantíase ao sul do delta do Nilo aumentou vintevezes desde a construção do reservatório de Aswan, na

Page 10: Gis Ps America Po

PÁGINA 10

INTRODUÇÃO

década de 1960. Este aumento deveu-se principalmenteao aumento de locais para procriação do mosquito trans-missor, decorrente da elevação do lençol freático causadapela extensão da irrigação. Oproblema tem se agravado com aresistência aos pesticidas desenvolvidapelos mosquitos, decorrente do usointenso de pesticidas na agricultura, ecom fluxo contínuo dos trabalhadoresrurais entre o campo e a cidade. Destemodo, espécies invasoras, variaçõesnas precipitações pluviais anuais,temperatura, densidade populacionalhumana, mobilidade das populaçõese uso de pesticidas são todos fatorescontributivos, que combinados geramum dos mais profundos desafiosassociados às espécies invasoras: aameaça à saúde humana.

Agentes causadores dedoenças infecciosas são comfreqüência – e talvez tipicamente –espécies exóticas invasoras. Agentes infecciososdesconhecidos, transmitidos aos seres humanos poranimais ou importados inadvertidamente por viajantes,podem ter efeitos devastadores sobre populações humanas.Pragas e agentes patogênicos também podem consumircom produções locais de alimentos de origem agrícola oupecuária, provocando privações individuais e fome coletiva.

Entre os efeitos indiretos sobre a saúde associados aespécies exóticas invasoras está o uso crônico de um largoespectro de pesticidas contra pragas e espécies exóticasinvasoras Livres dos fatores naturais de controle, estesorganismos freqüentemente alcançam níveis sustentadosde surto que encorajam a difusão e o uso crônico de pesti-cidas.

Abordando a questão dasespécies exóticas invasoras

A dispersão de espécies invasorasestá criando desafios complexos e degrande extensão, que ameaçamtanto as riquezas biológicas naturaisquanto o bem-estar das populaçõeshumanas. Embora o problema sejaglobal, a natureza e a severidade dosimpactos sobre a sociedade, aeconomia, a saúde e a herançanatural variam entre diferentesregiões e países. Assim, algunsaspectos do problema global dasinvasoras requerem soluçõesadaptadas aos valores, necessidadese prioridades específicos de cadanação afetada, enquanto outrosdemandam ações consolidadas emnível internacional.

A prevenção da movimentação de espécies invasorasentre países e a coordenação de respostas pontuais eefetivas requerem cooperação entre governos, setoreseconômicos, organizações não-governamentais eorganizações de tratados internacionais. Em nívelnacional, as ações também precisam ser consolidadas ecoordenadas. Idealmente, elas devem fazer parte daestratégia e do plano de ação nacionais para a biodiver-sidade, que devem prever um acompanhamento efetivopelos setores econômicos e a identificação de pessoasresponsáveis por operações envolvendo espécies invasoraspotencias, entre outros pré-requisitos. É igualmente impor-tante que sejam claramente definidas as responsabilidadesem cada setor relevante.

Vírus da AIDS

Page 11: Gis Ps America Po

Mecanismos de seguro e a regulamentação depassivos para os casos de disseminação de espéciesexóticas invasoras são quase inexistentes, configurandouma das maiores deficiências para o controle do problema.Portanto, os governos devem ser encorajados a cooperarcom o setor de seguros para encontrar soluções perti-nentes, começando por estudos de viabilidade.

Muitos países não dispõem de conhecimento e decapacitação para lidar com a questão das espécies invasoras.Pesquisa e capacitação adicionais sobre a biologia e ocontrole de invasoras e sobre biossegurança precisamreceber atenção e prioridade. Isto também diz respeito ainstituições financeiras e outras organizações envolvidas emquestões ambientais e no desenvolvimento de cooperação,tanto em nível nacional quanto internacional.

Também é de necessário um sistema global de infor-mação relativo à biologia e ao controle de invasoras. Ferra-mentas, mecanismos, melhores práticas de gestão, técnicasde controle e recursos precisam ser desenvolvidos e inter-cambiados. Um sistema com estas características está sendodesenvolvido como parte da Rede Global de Informaçãosobre Espécies Invasoras (Global Invasive Species InformationNetwork – GISIN) e deverá ser ligado ao clearing housemechanism da Convenção sobre Diversidade Biológica.

O aumento de conscientização e a educação sobreespécies invasoras devem ser considerados pontos priori-tários nos planos de ação, bem como o desenvolvimentode ferramentas econômicas e incentivos para prevenção deinvasões.

PÁGINA 11

FORM

IGA

CA

BEÇ

UD

A F

oto:

ww

w.m

yrm

ecos

.net

ALF

ENEI

RO-D

A-C

HIN

A F

oto:

ww

w.p

iant

e-e-

arbu

sti.i

t

Page 12: Gis Ps America Po

A Convenção sobre Diversidade Biológica

PÁGINA 12

Inúmeros mecanismos internacionais, que geram obrigações ou não, têm sido desen-

volvidos para lidar com as questões relacionadas a espécies exóticas invasoras. O mais

abrangente deles é a Convenção sobre Diversidade Biológica (Convention on Biological

Diversity – CBD), que convoca seus integrantes a “prevenir a introdução de, controlar

ou erradicar espécies exóticas que ameacem ecossistemas, hábitats ou espécies”

(Artigo 80).

A CBD representa um dos mais importantes resultados da Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Em vigor

desde 1993, é atualmente a maior convenção ambiental, com 188 países membros.

A CBD impele os governos a:

• tomar medidas apropriadas para conservar a diversidade biológica;

• assegurar o uso sustentável dos recursos biológicos e

• promover a distribuição justa e eqüitativa dos benefícios provenientes da utilização de

recursos genéticos.

Em função da CDB, os governos concordam em:

• elaborar estratégias e planos de ação relativos à biodiversidade nacional;

• identificar genomas, espécies e ecossistemas cruciais para a conservação e o uso

sustentável;

• monitorar a biodiversidade e os fatores que afetam os sistemas biológicos;

• estabelecer sistemas de gerenciamento efetivos para as áreas protegidas;

• recuperar ecossistemas degradados;

• trocar informações;

• conduzir programas de informação pública e

• realizar várias outras atividades para implementação dos objetivos da CBD.

O Órgão Subsidiário de Aconselhamento Tecnológico e Técnico-Científico

(Subsidiary Body on Scientific Technical and Technological Advice – SBSTTA) da CDB

promove reuniões periódicas e trata de questões-chave, incluindo espécies exóticas

invasoras. A CBD também estabeleceu um mecanismo financeiro interino, o Fundo Global

para o Meio-Ambiente (Global Environment Facility – GEF), que disponibiliza mais de 100

milhões de dólares por ano para projetos voltados à implementação da Convenção sobre

Diversidade Biológica nos países em desenvolvimento. (http://www.biodiv.org)

www.biodiv.org

Page 13: Gis Ps America Po

O Programa Global de Espécies Invasoras tem como missão conservar abiodiversidade e sustentar os meios de subsistência humana, mini-mizando a disseminação e o impacto das espécies exóticas invasoras.

O GISP é um programa de parcerias, composto pelo grupo de membros, por um conselho e

uma secretaria, bem como pelas diversas organizações internacionais, nacionais e regionais

associadas. O programa visa criar sinergia não apenas entre os diferentes programas de

trabalho de seus membros e seus escritórios e centros regionais, mas também com uma

ampla gama de parceiros globais.

Os membros fundadores do GISP incluem as seguintes instituições:

• World Conservation Union, também conhecida por IUCN – The International Union for

Conservation of Nature and Natural Resources (União Internacional para a Conservação

da Natureza e dos Recursos Naturais);

• CAB International – CABI;

• The Nature Conservancy – TNC;

• South African National Biodiversity Institute – SANBI (Instituto Nacional de

Biodiversidade da África do Sul).

O SANBI também hospeda uma associação voluntária e fornece suporte administrativo e

logístico para a Secretaria do GISP, que funciona nos escritórios do SANBI, localizados no

Jardim Botânico de Kirstenbosch, na Cidade do Cabo, África do Sul.

Objetivos institucionais do GISP

O objetivo primeiro do GISP é facilitar e fornecer assistência na prevenção, controle e manejo de espécies invasoras em todoo mundo.

Para alcançar este objetivo, o programa prevê:1. aumentar a conscientização global quanto aos impactos

ecológicos e sócio-econômicos das espécies invasoras;2. contribuir para o desenvolvimento de um sistema global

de informações sobre espécies invasoras e manter um website para facilitar a troca de informações;

3. coletar, avaliar e disseminar informações sobre impactosde espécies invasoras, os recursos e métodos disponíveispara prevenção de introduções e para o controle e manejo, quando essa já houver ocorrido;

4. melhorar o embasamento técnico para a avaliação de impactos e para prevenção, controle e manejo das invasões biológicas;

5. capacitar entidades e órgãos responsáveis pelo gerenciamento da questão das invasões biológicas;

6. informar o desenvolvimento de políticas tanto nacionaisquanto multilaterais;

7. construir parcerias e redes internacionais para alcançaros vários objetivos listados acima.

O Programa Global de Espécies Invasoras

(The Global Invasive Species Programme – GISP)

PÁGINA 13

www.gisp.org

Page 14: Gis Ps America Po

PÁGINA 14

A AMÉRICA DO SULi n v a d i d aU m a p u b l i c a ç ã o d o G I S P

Esta publicação é um produto da secretaria do GISP, estabelecida na África do Sul em junho

de 2003, com generosa contribuição de inúmeros especialistas em espécies invasoras, organi-

zações e governos. Participaram de sua elaboração técnicos sul-americanos e de diversas

outras partes do mundo. Ela foi concebida como parte de uma série abrangente de publi-

cações similares focando várias regiões, continentes e/ou ecossistemas específicos em todo o

mundo, com forte ênfase nas regiões em desenvolvimento. Esta publicação também deve ser

vista como parte de um programa mais amplo de informação e conscientização levado a

cabo pelo GISP, complementar a outros projetos e documentos, como a Estratégia Global do

GISP (GISP Global Strategy) e a Caixa de Ferramentas do GISP (GISP toolkit), ambos disponi-

bilizados em diversos idiomas no site do programa (www.gisp.org).

A publicação almeja aumentar a consciência geral, na América do Sul e fora dela, sobre

algumas das questões mais proeminentes relacionadas às espécies invasoras que afetam o

continente hoje. Não é um documento técnico, mas antes visa demonstrar a diversidade da

questão das invasoras a uma grande audiência, que inclui tomadores de decisão e legis-

ladores, agências governamentais e o público em geral. Ao não estabelecer uma lista das

principais invasoras, mas ao invés disso destacar espécies diversas que afetam diferentes

ecossistemas e regiões da América do Sul, esta publicação mostra apenas uma pequena

porcentagem das espécies que invadem o continente hoje. O que fica evidente, entretanto,

é que o problema das espécies invasoras na América do Sul é enorme, tanto em termos de

número e diversidade de espécies, quanto em termos dos impactos dessas invasões sobre a

saúde e meios de subsistência das populações humanas da região.

Tratar da questão das espécies invasoras na América do Sul claramente requer ação tanto

nacional quanto internacional e é objetivo do GISP auxiliar a região a aumentar seu nível de

conscientização em relação a esta necessidade premente.

Mais informações sobre as publicações, programas e material educacional do GISP

podem ser obtidas através de: • Website: www.gisp.org • Telefone: +27 (21) 799 8836

• Fax: +27 (21) 797 1561 • E-mail: [email protected]

Page 15: Gis Ps America Po

PÁGINA 15

ÁRVORES

Durante séculos, as árvores têm sido transplan-tadas de seus hábitats originais para outros paísesou para outras regiões em um mesmo país. Estemovimento tipicamente foi motivado por suasqualidades enquanto fonte de alimento, celulose,madeira, tanino e medicamentos, pelo seu usoornamental ou como quebra-vento.

Infelizmente, as mesmas características que contribuempara sua produtividade – como um curto período dematuração, semeadura precoce, rápido crescimento evigor competitivo – são também as que contribuem para opotencial invasor das árvores. Em cada caso, uma análisede risco abrangente deve ser conduzida para assegurarque o benefício da introdução de uma espécie para cultivonão seja suplantado por seus impactos negativos. Porexemplo, o nim indiano Azadirachta indica está sendoamplamente promovido na América do Sul como espéciepara agrofloresta, uma vez que suas sementes contêmsubstâncias que podem ser utilizadas na produção depesticidas naturais, não-agressivos ao meio-ambiente.Entretanto, a espécie mostrou-se altamente invasora emoutras partes do mundo onde foi introduzida. Em Gana, naÁfrica Ocidental, as perdas na agricultura e os impactos

ambientais provocados por esta espécie aparentementeexcedem qualquer benefício obtido.

Entre as incontáveis espécies introduzidas na Américado Sul que se tornaram invasoras, estão árvores ornamentaiscomo a tulipa-africana Spathodea campanulata – cujasflores são tóxicas para pequenos pássaros – e árvoresfrutíferas tais como a mangueira Mangifera indica, nativado sul da Ásia, que agora está invadindo áreas ciliares doárido nordeste brasileiro.

Nas próximas páginas são apresentadas algumasespécies-chave relacionadas a invasões biológicas porespécies arbóreas.

Leuc

aena

leuc

ocep

hala

. Fot

o: S

ílvia

R. Z

iller

NIM

Aza

dira

chta

indi

ca F

oto:

htt

p://m

embe

rs.c

hello

.be

MANGUEIRA Foto: www.hear.org

Page 16: Gis Ps America Po

Desde o século 19, numerosas espécies de Pinustêm sido introduzidas em países do hemisfério sul,principalmente para fins florestais. As espéciesque se mostraram mais bem adaptadas e maisprodutivas em cada hábitat foram usadas emplantações comerciais, e os governos realizaraminvestimentos para desenvolver as indústriasnacionais de celulose, papel e madeira.

Varias espécies

Hoje, várias espécies de pinus são invasoras namaioria dos países onde o gênero foi intro-duzido, incluindo os países sul-americanos.As espécies causadoras dos maioresproblemas são aquelas estabelecidas hámais tempo e em áreas extensas, umavez que estas tiveram mais tempo emaior diversidade de hábitat para seadaptarem se aos novos ambientes. Osimpactos dos pinus invasores são particu-larmente evidentes em ecossistemas abertoscomo campos e savanas, onde reduzem avazão e baixam o lençol freático, desalojamespécies nativas, modificam a paisagem, aumentam o riscode incêndios e impedem a regeneração dos ambientesnaturais.

No Brasil, os campos sulinos, as áreas de restinga, assavanas e muitas áreas desflorestadas estão fortementeameaçadas pela invasão dos pinus, especialmente P. elliottiie P. taeda. Na Argentina, diversas espécies, entre as quaisP. radiata e P. halepensis, invadiram áreas de grande valorem termos de biodiversidade, na região dos pampas, nafloresta andina da Patagônia, na estepe da Patagônia e nasflorestas do nordeste. Os impactos observados incluemalterações nas propriedades do solo, assim como nacomposição de comunidades de plantas, pássaros e inver-tebrados. No Uruguai, a espécie P. pinaster foi introduzidapara estabilização de areia, mas tornou-se invasora em

áreas de restinga no sul e sudeste do país. Na Colômbia,uma área estimada de 52 mil hectares de plantio florestalde P. patula está concentrada na região andina, onde aespécie foi inicialmente plantada em áreas de proteçãoambiental. A invasão ocasionou o desalojamento de espéciesnativas, mudanças nos padrões de sucessão com reduçãoda diversidade estrutural de comunidades de plantas, aalteração do ciclo de nutrientes e um acréscimo na cargade combustíveis, resultando em incêndios mais freqüentes

e intensos. Na Venezuela, a espécie maiscomum utilizada para reflorestamento é P.caribaea. No Chile, onde mais de vinteespécies foram introduzidas, P. radiata é aespécie dominante, compreendendo maisde um 1,5 milhão de hectares de plantação.Apesar de esta ser, no hemisfério sul, umadas espécies mais agressivas de pinus, suacondição de invasora ainda é discutida

naquele país.Uma vez que a importância do pinus para

as economias sul americanas é inegável, éimportante assegurar que a produção florestal seja

compatível com os requisitos necessários para aproteção ambiental e a conservação da biodiversidade. A

localização das plantações deve ser cuidadosamenteplanejada e o manejo deve ser continuamente aperfeiçoadopara prevenir a dispersão das árvores para além das áreascultivadas, com estabelecimento de critérios paradistribuição de mudas com propósitos ornamentais ou dequebra-vento. Ações de controle devem ser consideradasonde o pinus tenha invadido sistemas naturais, especial-mente em áreas de proteção ambiental.

Em países como a Nova Zelândia e a África do Sul, ocontrole de invasões a partir de plantios é prática comum.Métodos mecânicos são suficientes para este controle,uma vez que o pinus não rebrota quando cortado rente aosolo. O anelamento é outro método efetivo, embora lento,para destruir as árvores, enquanto as mudas pequenas podemser arrancadas manualmente quando o solo está úmido.

ÁRVORES PINUS

PÁGINA 16

Em 1995, a área total com florestasplantadas na América do Sul era esti-mada em 8,2 milhões de hectares.Três países respondiam por 82%desse montante: Brasil (4,2 milhõesde hectares), Chile (1,7 milhão) eArgentina (0,8 milhão). Entretanto,grandes áreas de florestas plantadaspodem ser encontradas ao longo detodo o continente, sendo que oito dostreze países do continente contamcom áreas de plantações florestais superiores a100 mil hectares.

Da área total plantada com espéciesflorestais em 1995, o pinus correspondiaa cerca de 3,5 milhões, enquanto espé-cies de eucalipto ocupavam 3,9 milhõesde hectares, constituindo os gênerosmais comumente utilizados nas áreastropicais e subtropicais do continente.Estes gêneros representam 65% da áreade plantação florestal do Brasil, 90% doPeru e 80% do Uruguai. Algumas espé-cies – como Eucalyptus robusta no Brasil

e Eucalyptus camaldulensis na Argentina – têmescapado das plantações e se tornado invasoras.

Eucalyptus robusta

Foto

: ww

w.h

ear.o

rg

Fonte: Brown, C. The global outlook for future wood supply from forest plantations. FAO Working Paper No: GFPOS/WP/03

Page 17: Gis Ps America Po

PÁGINA 17

Pinu

s pa

tula

Foto

: ww

w.c

uyam

aca.

net

Pinu

s ca

ribae

aFo

to: w

ww

.virt

ualh

erba

rium

.org

Pinu

s ra

diat

aFo

to: w

ww

.hea

r.org

Pinu

s el

liott

iiFo

to: w

ww

.fore

stry

imag

es.o

rg

Pinu

s pi

nast

erw

ww

.kom

sta.

net

“Esc

apes

” de

pla

ntaç

ão d

e pi

nus

Fot

o: S

ílvia

R. Z

iller

Con

trol

e de

Pin

us h

alep

ensis

na A

rgen

tina.

Fot

o: S

ergi

o M

. Zal

baPi

nus

hale

pens

is F

oto:

htt

p://p

erso

nale

s.ya

.com

Page 18: Gis Ps America Po

O gênero Acacia compreende cerca de mil equinhentas espécies, sendo quase mil delas nativasda Austrália, onde são chamadas de wattle. Muitasdessas espécies foram introduzidas e se tornaraminvasoras em outras partes do mundo, com umasérie de conseqüências negativas.

Os principais problemas de invasão de acácias são aperda de biodiversidade, em função da expulsão deespécies nativas e da alteração do funcionamento naturaldos ecossistemas. Acácias são plantas fixadoras denitrogênio, que aumentam o teor de nitrogênio no solo.Uma vez que muitas espécies nativas não conseguemsobreviver nesses solos alterados, as invasoras formamrapidamente mono-culturas uniformes.

Densos agrupamentos de acácia podem reduzir opotencial produtivo da terra ao tomarem conta de áreasagrícolas valiosas, e aumentam o risco e a intensidade deincêndios em função do acréscimo na carga de combustíveis.As altas temperaturas do fogo destroem as sementes dasespécies nativas, comprometendo a regeneração posterior.

Acácias exóticas em geral exigem mais água do que avegetação nativa que elas substituem, de forma que invasõesem áreas de reservatórios ou ao longo de cursos d’águapodem reduzir o escorrimento e, conseqüentemente, a vazãodos rios. Isto não apenas causa impactos negativos sobreos sistemas ribeirinhos e zonas úmidas, mas acaba, emúltima instância, por traduzir-se em menos água disponívelpara agricultura, indústria e uso doméstico. Capões impen-etráveis ao longo dos cursos d’água bloqueiam o acesso depessoas e animais de criação à água, e obstruem o fluxo –particularmente durante enchentes, quando árvores caídasformam barreiras que aumentam os danos das inundações.A ausência de cobertura de solo nos capões pode tambémresultar em aumento da erosão do solo.

As acácias produzem grandes quantidades de sementes,que são amplamente disseminadas por pássaros e pelovento. As sementes germinam facilmente em uma variedadede ambientes distintos, embora também possam permanecerviáveis no solo por longos períodos.

Algumas das acácias invasoras presentes na Américado Sul são descritas a seguir:

Acácia-negra

A acácia-negra A. mearnsii é uma árvore perene australianafreqüentemente cultivada como ornamental. Entretanto,também é cultivada comercialmente em muitos países emfunção do alto teor de tanino de sua casca, usado naindústria do couro, e da sua madeira, fonte de cavacos,lenha e material de construção. Infelizmente, houvedispersão da espécie a partir das plantações e a mesma éconsiderada invasora na África do Sul, na Tanzânia, nasIlhas Reunião e nos Estados Unidos (Havaí e Califórnia),assim como em diversos países mediterrâneos. Tipicamente,esta espécie invade chaparrais, campos, clareiras, beira deestradas e de cursos d’água.

O cultivo comercial da acácia-negra está em expansãoem diversos países sul-americanos. No Brasil, por exemplo,a planta tem sido amplamente promovida como fonte detanino e lenha, mas não há regulamentação ou medidasde controle em vigor para prevenir a dispersão da espécie.Na Argentina, a mesma está invadindo as áreas montanho-sas dos pampas, provocando, nos últimos anos, a adoçãode medidas de controle.

ÁRVORES ACÁCIAS

PÁGINA 18

AC

ÁC

IA-N

EGRA

O A

ROM

O F

oto:

Sílv

ia R

. Zill

er

ACÁCIA-NEGRA Foto: Sue Matthews

Page 19: Gis Ps America Po

PÁGINA 19

A acácia-negra rebrota vigorosamente, de forma queseu controle exige que o toco seja tratada com produtosquímicos ou a planta seja removida inteira. Usualmente, asárvores de grande porte são cortadas tão junto ao soloquanto possível, aplicando-se em seguida um herbicidaregistrado na cepa. Mudas e árvores novas podem serarrancadas manualmente com solo úmido, mas o controlequímico é em geral preferível quando a infestação é muitodensa, pois arrancar raízes em larga escala provocadistúrbios no solo que desencadeiam a germinação dassementes de acácia existentes no mesmo. É importanteque herbicidas seletivos sejam utilizados quando existe apresença de gramíneas e que seja evitado o uso de herbi-cidas a base de diesel ao longo de cursos d’água, de formaa evitar contaminação da mesma.

Acacia mangium

Acacia mangium é uma árvore perene originária da Austrália,Papua Nova Guiné, Indonésia e Ilhas Molucas. Tem sidoplantada em muitas regiões úmidas como fonte de polpapara papel, lenha, madeira para construção e para fabri-cação de móveis e também para controle de erosão.

Na América do Sul, a introdução da espécie e feitaprincipalmente com fins florestais, mas algumas vezestambém em projetos de recuperação, sendo freqüente-mente encontrada em áreas urbanas. Na Colômbia e naVenezuela, tem sido usada como fonte de forragem para ogado. Em algumas regiões, entretanto, a espécie teminvadido ecossistemas de restinga, zonas úmidas, campos eflorestas. No Brasil, por exemplo, ela é invasora nos estados

do Amapá e de Roraima, na região amazônica, bem comona Floresta Atlântica e em áreas de restinga, nos estadosda Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

A acácia-marítima

A acácia-marítima, ou acácia longifolia, A. longifolia foitrazida da Austrália para a América do Sul, assim comopara outras regiões do mundo, com o objetivo de estabi-lizar dunas. Agora, a espécie está avançando ao longo dacosta norte da Argentina, Uruguai e sul do Brasil.

Além da região costeira, a espécie pode invadir outrosambientes. Na África do Sul, por exemplo, sua rápidadispersão ocorreu nas encostas de montanhas e ao longodos rios do bioma de fynbos, de vegetação herbáceo-arbustiva, bem como em ambientes florestais e de campos.Em função disso, foi considerada uma grande ameaça paraa biodiversidade, até que se obteve êxito no seu controlebiológico. Este controle foi obtido com o emprego de doisagentes de controle biológico – a vespa Trichilogasteracaciaelongifoliae, que parasita os brotos da planta, e ogorgulho Melanterius ventralis – que reduz tanto a taxa deinvasão quanto a densidade das infestações existentes.

Outras acácias introduzidas na América do Sul incluem:

• A mimosa A. dealbata, espécie resistente à geada, quese aclimatou no Chile e na Argentina.

• A acácia A. melanoxylon, introduzida em todo o continente e valorizada como espécie ornamental e florestal – particularmente como fonte de madeira paramóveis –, mas uma ameaça para os campos nativos remanescentes nos pampas da Argentina e do Chile.

• A acácia A. decurrens encontrada na Colômbia, nos estados de Cundinamarca, Huila e Antióquia, e na costa da Venezuela.

• A acácia Acacia neriifolia, introduzido como espécie ornamental na Venezuela, onde é encontrada em áreasurbanas.

• A acácia-do-nilo Acacia nilotica, nativa da África e do Oriente Médio, encontrada nas Ilhas Galápagos, no Equador.

ACÁCIA-DO-NILO Foto: www.virtualherbarium.org

Acacia mangium Foto: www.nparks.gov.sg

AC

AC

IA L

ON

GIF

OLI

A F

oto:

ww

w.tr

open

gart

en.d

e

MIMOSA Foto: www.abc.net.au ACÁCIA Foto: www.rakuten.co.jp

Page 20: Gis Ps America Po

O cinamomo Melia azedarach – também conhecidocomo paraíso – é originário do sudeste asiático.Tem sido introduzido em muitos países comoárvore ornamental ou de sombra, e é freqüente-mente encontrada em alamedas. O cinamomoviceja em climas tropicais, mas sobrevive tambémem áreas com baixas precipitações (600 – 1.000mm). Tornou-se invasor na África do Sul, em diver-sas ilhas do Pacífico e no sul dos Estados Unidos,bem como na maior parte da América do Sul.

A espécie ocorre em todos os países do continente,porém só é invasora em certos ambientes. Por exemplo,embora seja comum nos pampas sulinos, ela não é invasoraem campos, que crescem sobre solos arenosos. Parecepreferir solos argilosos e áreas às margens de rios, e é umainvasora agressiva em florestas subtropicais ao longo de rios,tanto no Uruguai quanto no sudoeste do Brasil. Na Argentina,a espécie avançou sobre as florestas montanhosas úmidas(yungas) e invadiu o Parque Nacional El Palmar, onde umaampla estratégia de controle está sendo implementada.

As sementes de cinamomo são disseminadas porpássaros e morcegos, que se alimentam de seus pequenosfrutos. Entretanto as sementes podem ser tóxicas paraporcos e causar náusea e convulsões em humanos. Apesar

disso, a árvore é valorizada por suas propriedades medi-cinais. Na Amazônia equatoriana, por exemplo, membrosda tribo Quíchua consomem folhas cozidas de cinamomopara aliviar dores de cabeça. No Suriname, extrato obtidodas folhas é usado no tratamento de sarna ou de irritaçõesda pele, enquanto na Guiana Francesa é usado emgargarejos para tratar problemas de dentes e gengiva.

Nas áreas onde é invasora, esta espécie deve sergradualmente substituída por espécies nativas ou, pelomenos, por exóticas não invasoras. Áreas próximas acursos d’água são alvos prioritários de controle, paraproteger o funcionamento do ecossistema, o equilíbrio daágua e a biodiversidade. As árvores rebrotam de formavigorosa quando cortadas, portanto o controle físico só ésatisfatório se utilizado juntamente com o controlequímico. Herbicidas triclopyr, a base de óleo, são efetivosquando usados em tratamentos de corte e aplicação deherbicida no toco ou aplicação de herbicida na base dotronco, sobre a casca, porém são mais eficientes quandousados em forma de aspersão nas folhas.

ÁRVORES CINAMOMO ou PARAÍSO

PÁGINA 20

Foto

: ww

w.p

iant

e-e-

arbu

sti.i

tFo

to: w

ww

.bha

rian.

com

.my

Page 21: Gis Ps America Po

PÁGINA 21

ÁRVORES UVA-DO-JAPÃO

ÁRVORES NÊSPERA

A nêspera Eriobotrya japonica é nativa dosudoeste da China, porém tem sido amplamenteintroduzida em outros lugares em função de seusfrutos suculentos. É uma planta popular dejardim e também comercialmente cultivada emvários países, sendo que a China e o Japãodominam o mercado mundial. Seus frutos sãoapreciados por pássaros e outros animais, quedisseminam as sementes através de suas fezes.

Isto tem facilitado a dispersão da espécie, que setornou invasora em alguns lugares, incluindo aÁfrica do Sul, Nova Zelândia, Havaí e partes daAmérica do Sul.

No Brasil, a nêspera pode ser vista no jardim de quasetodas as casas em algumas cidades do sul do país, tendose dispersado nas florestas próximas. Na Argentina, aárvore é invasora nas yungas – florestas montanhosasúmidas do noroeste do país, de grande valor para a conser-vação. Na Venezuela, a nêspera é encontrada principal-mente em áreas urbanas, mas também ocorre em áreasnaturais, incluindo o Parque Nacional de Ávila, quemargeia as encostas da Cordilheira da Costa.

A espécie é de difícil erradicação, em função doextenso cultivo; portanto o foco usual é seu controle emambientes naturais e áreas protegidas. O controle físicoapenas é ineficaz, uma vez que a planta rebrota quandocortada, mas bons resultados têm sido obtidos com o usode triclopyr éster em aplicações sobre o toco, após o corte,ou aplicações na base do tronco, sobre a casca.

A uva-do-Japão Hovenia dulcis é nativa doJapão, da China e da Coréia. Foi introduzida emvários países sul-americanos como ornamental,quebra-vento ou ainda com propósitos florestais,tendo se tornado uma árvore comumentecultivada em jardins e ruas. Mais recentemente, aespécie tem sido usada na produção de mel, nosul do Brasil. Seus frutos atraem pássaros eoutros animais, que contribuem para a dispersãoda planta ao disseminarem suas sementes.

A uva-do-Japão tornou-se extremamente invasora emecossistemas florestais de climas úmidos e é uma dasmaiores ameaças à biodiversidade na bacia do Rio Uruguai,entre o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Aodesalojar espécies da floresta nativa, ela altera a cadeiaalimentar, produzindo um efeito dominó que atinge toda acomunidade florestal e leva, em última instância, à reduçãoda biodiversidade.

Se deixada sem controle, a espécie torna-se rapida-mente dominante. Porém, o controle é difícil, pelo fato deque a árvore rebrota vigorosamente se cortada e regeneraa partir do banco de sementes existente no solo. O uso deherbicidas apropriados e um contínuo trabalho deacompanhamento são, portanto, necessários.

Foto

: ww

w.fl

orid

ata.

com

Foto

: ww

w.tr

opic

amen

te.it

Page 22: Gis Ps America Po

ÁRVORES DENDEZEIRO

PÁGINA 22

O dendezeiro Elaeis guineensis é nativo dasflorestas tropicais da costa oeste da África, ondeprefere áreas ciliares. Foi largamente introduzidopara cultivo em regiões tropicais, e atualmente aprodução comercial do seu valorizado óleo ocorreem mais de 40 países. Infelizmente, a espécietornou-se invasora em muitas ilhas do Pacífico,bem como em partes da América do Sul.

Ganhos e perdas

O dendezeiro foi introduzido inicialmente na Américado Sul por portugueses e espanhóis durante o séculoXVI, e seu óleo continua sendo ingrediente típico dacozinha tradicional do nordeste brasileiro, princi-palmente no Estado da Bahia. Muito mais tarde –começando em meados da década de 1950 –plantações de dendezeiro foram estabelecidasem várias partes do continente, e hoje aColômbia e o Equador estão entre os dez maiores produ-tores mundiais de óleo de dendê.

Entretanto, as plantações reduzem o ambiente natural edesalojam espécies nativas de flora e de fauna. Um efeitoindireto do uso da espécie é o lançamento de óleo de dendêsem tratamento por indústrias processadoras, poluindocórregos e rios. Além disso, o dendezeiro tornou-se umaagressiva invasora na Floresta Atlântica do sul da Bahia. Nasáreas próximas às margens de rios, ele vem substituindo avegetação natural a ponto de tornar-se dominante, trans-formando o dossel em uma camada homogênea de folhasde palmeira. Isto não resulta apenas em perda de hábitatpara fauna e flora, mas também afeta os animais que nãopodem explorar a nova fonte de alimento, levando a alte-rações na estrutura da comunidade.

A preservação de remanescentes de florestas nativastorna necessário o controle do dendezeiro. Suas sementessão disseminadas por mamíferos e grandes pássaros, o quetorna mais complexos os esforços para seu controle.Todavia, como a planta não rebrota quando cortada, osmétodos mecânicos são efetivos. Palmeiras pequenaspodem ser eliminadas pela destruição do broto de cresci-mento apical, enquanto árvores adultas podem ser cortadas.Alternativamente, para evitar que a queda da palmeiracause dano às espécies nativas do seu entorno, pode-seaplicar glifosato através de injeção no tronco, o que provocaa morte da planta em poucos meses.

Page 23: Gis Ps America Po

PÁGINA 23

ÁRVORES TAMARISCOS

Os tamariscos Tamarix spp. sãonativos da Ásia, da África do Nortee do sudeste europeu, mas setornaram altamente invasoras nosEstados Unidos, México e Austrália,depois de terem sido introduzidascom propósitos ornamentais, comoquebra-vento ou para controle deerosão. Na América do Sul, algu-mas espécies estabeleceram-seem regiões áridas e semi-áridas daArgentina e do Peru, bem comoem algumas partes do litoral sul do Brasil e doUruguai. Esta informação deve ser cuidadosa-mente analisada, dado o histórico de invasão dogênero em outras regiões

Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de dez espéciesforam introduzidas no início do século XIX. Na década de1920, T. ramosissima invadiu vales de rios e passou a serconsiderada praga. Por volta de 1950, a espécie invadiugrandes cursos d’água e lagos, desde o nível do mar até aaltitude de 2.500 metros. Ocupou algo em torno de650.000 hectares, em 23 estados, e tornou-se a espéciemais abundante nas áreas ciliares do sudeste do país.

Fogo e sal

Os tamariscos têm uma série de características que fazemdelas invasoras altamente bem sucedidas. Podem sobreviverem uma ampla variedade de ambientes e são aptas a tolerarsolos salinos e escassez de água. Suas raízes descem atélençóis freáticos profundos, enquanto as folhas acumulamo excesso de sal, até caírem. As folhas, à medida que seacumulam no solo sob as árvores, aumentam a salinidade domesmo, impedindo a germinação e o crescimento de espéciesnativas. Além disso, as folhas mortas são altamente inflamá-veis, o que aumenta a freqüência de incêndios. Isto dá ostamariscos uma vantagem competitiva, já que após o fogoelas rebrotam com mais facilidade que as espécies nativas.O gênero tem também uma notável capacidade repro-dutiva, cada planta sendo capaz de produzir mais de meiomilhão de sementes por ano. As sementes germinamprontamente em solos úmidos e as plantas jovens crescemrapidamente, excedendo 30 centímetros por ano.

Invasões de tamariscos causamprofundas alterações na dinâmica da águae na comunidade biótica. Por estabele-cerem-se ao longo de margens de rios, elasfreqüentemente obstruem o curso daágua, provocando inundações. Bosquesmaduros destas invasoras transpiramgrandes volumes de água, o que podebaixar o nível do lençol freático abaixo doalcance das espécies nativas. Com otempo, a desertificação e a salinização dasáreas invadidas resultam na extinção das

espécies de plantas nativas e na sua substituição poragrupamentos homogêneos de tamariscos. Uma vez nacondição de dominante, as invasoras parecem tomar contados processos ao nível do ecossistema e o restabeleci-mento da vegetação nativa é inibido.

Estratégias de controle

Até o presente, três espécies de tamariscos foram detec-tadas em ambientes naturais na Argentina: T. gallica, T.ramosissima e T. chinensis. As áreas invadidas incluemquatro parques nacionais: Las Quijadas, San Guillermo,Tlampaya e El Leoncito – bem como uma zona úmida deRamsar, a laguna Llancanelo. Todas são consideradas áreasde grande interesse para a conservação da biodiversidade,o que faz delas alvos prioritários de ações de controle.

Pequenas invasões de tamariscos podem ser contro-ladas através dos métodos mecânicos e químicos conven-cionais. Infestações menores que dois hectares sãocomumente controladas triclopyr ou imazapyr, aplicadossobre o toco, após o corte, ou sobre a casca, na base dotronco. O controle de grandes invasões é consideradomuito difícil e caro, e o risco de reincidência é elevado. Osmelhores resultados são obtidos com a aplicação foliar deimazapyr, algumas vezes em combinação com glifosato. Apulverização aérea é efetiva para grandes agrupamentoshomogêneos, mas não deve ser utilizada no caso dapresença de agentes de controle biológico. O besouroDiorhabda elongate tem sido liberado em alguns estadosnorte-americanos, e outros agentes de controle biológicoestão sendo pesquisados.

Tamarix gallica Foto: www.jtosti.com

Tamariscos no reservatório El Chocón, na Patagônia Argentina. Foto: John F. Gaskin

Page 24: Gis Ps America Po

O gênero Prosopis, cujas espécies são comumenteconhecidas como algarobeiras ou algarobas,inclui mais de 40 espécies, a maioria das quaisoriginárias de uma área que vai da Argentina aosul dos Estados Unidos. Diversas dessas espéciestornaram-se invasoras fora de seu ambientenatural, particularmente as tropicais P. juliflora eP. pallida e as sub-tropicais P. glandulosa e P.velutina. Estas espécies têm sido largamenteintroduzidas como forragem e fontes de lenha esão também usadas para estabilização de solosarenosos, melhoria de solos, ou para construçãode cercas para o gado.

Fonte de forragem de crescimento rápido

As algarobeiras são árvores de crescimento rápido,fixadoras de nitrogênio, e toleram bem a aridez e os solossalinos. São espécies valorizadas como fonte de forragemporque permanecem verdes o ano todo e as vagens quecontém as sementes constituem, quando maduras, umalimento nutritivo para o gado. Entretanto, vagens verdessão amargas e podem envenenar o gado se consumidasem grandes quantidades, enquanto as folhas não sãopalatáveis em função do alto teor de tanino.

Embora isoladamente a algaroba seja uma árvorepequena, populações invasoras tendem a formar capõesdensos, impenetráveis, constituídos de plantas arbustivasgalhadas, com muitos brotos, que provêm pouca sombra eproduzem poucas sementes. Os capões reduzem a coberturade gramíneas, limitando o pastoreio natural e conseqüen-temente o índice de lotação do campo. Eles também

podem restringir amovimentação do gado eobstruir seu acesso à água,uma vez que freqüentementeinvadem os cursos d’água.Raízes longas permitem àsplantas atingir lençóis freáticosprofundos e as taxas de transpiraçãopodem ser excessivas. Em funçãodisso, as algarobeiras podem exaurirreservas vitais de água em ambientesonde este recurso é escasso. Finalmente, asinvasões afetam negativamente a biodiversidade pelaexclusão da vegetação nativa e da fauna a elaassociada.

O sucesso das espécies de Prosopis como invasoraspode ser largamente atribuído à produção massiva desementes – em torno de 60 milhões por hectare, por ano– e à sua eficiente dispersão. As sementes podem serlevadas para longe de sua origem por águas correntes, emespecial durante inundações. Em escala local, entretanto,são os animais, tanto de criação quanto selvagens, quedisseminam as sementes após comerem as vagens que ascontém. A dura casca das sementes é amaciada durante apassagem pelo trato digestivo, o que facilita a germinação,enquanto o esterco dos animais é aproveitado como supri-mento de nutrientes para a muda em desenvolvimento. Seas condições não forem propícias à germinação, assementes podem permanecer dormentes no solo até dezanos. Freqüentemente, a destruição da vegetação pré-existente e a exposição do solo estimulam a germinaçãoem massa do banco de sementes existente no mesmo,resultando em súbitas infestações.

ÁRVORES ALGAROBEIRAS

PÁGINA 24

Prosopis pallida Foto: www.botany.hawaii.edu

Page 25: Gis Ps America Po

Uma abordagem controlada

As algarobeiras são bastante valorizadas em muitas regiõesda América do Sul onde poucas outras árvores são capazesde sobreviver, razão pela qual a erradicação das espéciesinvasoras não é, em geral, uma opção. Uma soluçãopossível para o conflito de interesses em torno das alga-robeiras é o controle das populações invasoras e o seumanejo através de plantações agroflorestais.

Além de forragem e lenha, as algarobeiras podemproduzir madeira de qualidade para produção de móveis eassoalhos, enquanto as vagens, ricas em proteínas, podemser usadas na produção de inúmeros produtos alimentares.Infelizmente, as plantas típicas dos agrupamentosinvasores em geral produzem apenas pequenas quanti-dades de madeira de baixa qualidade, com grandequantidade de refugo. Ainda assim, esta madeira pode seraproveitada para fabricação de cabos para utensílios eferramentas, bem como para produção de carvão e deprodutos feitos com cavacos de madeira.

O controle destas invasoras é particularmente difícilporque as plantas podem crescer novamente a partir degemas que ficam logo abaixo do nível do solo. Se as partessuperiores da planta forem danificadas, estas gemas dãoorigem a novos brotos, de forma que um único arbusto podese transformar em um denso arvoredo se as tentativas decontrole forem ineficazes. Por esta razão, o método decontrole usual consiste no corte das plantas junto ao solo,preferencialmente abaixo do ponto de ramificação. Emseguida, é borrifado um herbicida registrado apropriadosobre a superfície cortada. As algarobeiras devem sercontroladas com uso de herbicida; no caso de plantasadultas com aplicação do mesmo sobre o toco, após ocorte, e na forma de aspersão foliar no caso de mudas.

Dois agentes de controle biológico – Algarobiusprosopis e Neltumius arizonensis – têm sido introduzidosem algumas regiões do mundo com objetivo de controlarestas espécies invasoras. Ambos são besouros que sealimentam de sementes e assim reduzem o potencialinvasor das plantas sem afetar seus atributos positivos.Diversos fungos também têm sido estudados com objetivode avaliar sua aplicabilidade no desenvolvimento demicoherbicidas.A distribuição natural de Prosopis pallida vai dosul do Peru ao Equador e sul da Colômbia. Aespécie, entretanto, é altamente invasora no nor-deste brasileiro, especialmente ao longo decursos d’água na região semi-árida da Caatinga.Ela também se aclimatou – e em alguns locais éconsiderada uma invasora nociva – na Austrália,África do Sul, Cabo Verde, Senegal e Mauritânia.

A leucena Leucaena leucocephala é outra espécie arbórea que é aomesmo tempo promovida por organizações agroflorestais interna-cionais como fonte de forragem e lenha e amplamente denegridacomo espécie nociva. Chamada de “árvore milagrosa” nos primeirosanos de seu cultivo global, a leucena é uma árvore de crescimentorápido, fixadora de nitrogênio e tolerante à seca, nativa do Méxicoe da América Central. Atualmente, ocorre na maior parte das áreastropicais e sub-tropicais do planeta, constituindo umafonte de alimentação nutritiva para animais decriação. Tanto as folhas como as sementescontêm, entretanto, o aminoácido mimo-sina, que pode ser tóxico quando consu-mido em grandes quantidades.

A leucena tende a invadir margens deflorestas, beira de estradas, áreas degradadas, margens de rios e algumas vezesaté mesmo terras cultivadas, formando densos capões de difícil erradicação, umavez que as plantas rebrotam vigorosamente depois do corte. Está amplamentedisseminada na América do Sul, tendo sido introduzida na maioria dos países docontinente. A espécie é considerada nociva na Argentina, Bolívia e Brasil, onde éparticularmente problemática no arquipélago de Fernando de Noronha, loca-lizado na costa nordeste do país.

“Árvore milagrosa” ou ameaça?

PÁGINA 25

Page 26: Gis Ps America Po

A mamona Ricinus communis é nativa daÁfrica tropical, mas atualmente é encon-trada no mundo todo, após ter sido ampla-mente introduzida como planta de jardim.Sua aparência é muito variável – desdearbustos até pequenas árvores com maisde 4 metros de altura – com grandesfolhas em forma de estrela. Seus frutossão recobertos com espinhos flexíveis e

divididos em três compartimentos, cadaum contendo uma semente faviforme.

Embora em algumas regiões as sementessejam usadas para confecção de colares, averdadeira razão pela qual a planta é

valorizada é o óleo contido nas mesmas.O óleo de mamona ainda é utilizado na

medicina tradicional como purgativo, mas seumaior uso é na fabricação de cosméticos, lubri-

ficantes, plásticos, colas, tintas e corantes, entreoutras várias aplicações técnicas. Em função disso, a

planta tem sido cultivada comercialmente em muitospaíses. No Brasil – atualmente o terceiro produtor

mundial, depois da Índia e da China – a mamonatem sido, inclusive, promovida como fonte potencial

de biodiesel. O Equador e o Paraguai tambémcontribuem para o mercado global de óleo de mamona, e

a planta é comum em grande parte da América do Sul,mesmo em países onde não é comercialmente cultivada.

Pioneira em nocividade

A mamona é uma espécie pioneira com tendência a invadirambientes degradados, particularmente beira de rodovias,margens de rios e terras agriculturáveis. Em algumas situa-ções, é um transtorno em plantações como de cana-de-açúcar, e freqüentemente substitui a vegetação nativa aolongo de cursos d’água. Afora seus impactos sobre a biodi-versidade, a planta é também uma ameaça para as pessoase os animais, embora normalmente não seja pastejada. Aplanta inteira é venenosa, e suas sementes, que contêmricinina, uma potente toxina, são letais. Uma semente,quando mastigada, pode matar uma criança, enquantoduas ou três são suficientes para matar um adulto.

O sucesso desta planta como invasora é devido àefetividade da disseminação de suas sementes por pássaros,que comem os frutos e excretam as sementes sem serem

afetados pela toxidade das mesmas, e pela água, quetransporta as sementes correnteza abaixo.

Até o momento, nenhum agente de controle biológicoestá disponível para esta espécie, mas ela pode ser contro-lada através do uso combinado de métodos mecânicos equímicos. Para tanto, a planta deve ser cortada e emseguida a cepa deve receber aplicação deherbicida apropriado, como oImazapyr SL. Como em qualquerprograma de controle, um trabalho deacompanhamento contínuo é vital para prevenirreincidência. Sempre que possível, a área deveser reabilitada para assemelhar-se ao seuestado natural, e assim conservar seusprocessos ecológicos.

GUERRA BIOLÓGICA

As sementes de mamona contêmricinina. Em 1978, em Londres, agentescomunistas usaram esta toxina para assassinar ojornalista Georgi Markov, um dissidente búlgaro.A ricinina foi administrada em uma cápsula demetal perfurada, aparentemente introduzida emsua coxa com a ponta de um guarda-chuva,enquanto ele esperava o ônibus.

Mais recentemente, em janeiro de 2003, apolícia britânica promoveu uma busca em umapartamento em Londres e prendeu novepessoas sob a acusação de produção de ricininacom propósitos terroristas. Naquela época, aimprensa sustentou que os detidos – a maiorparte deles argelinos – faziam parte de umacélula da Al Qaeda, cujo objetivo era envenenarcentenas de pessoas através da contaminação dealimentos ou passando a toxina em maçanetasde portas. O governo britânico usou o incidente– e a ameaça potencial em relação aos seuscidadãos – para justificar a “guerra ao terrorismo”e suas ações no Iraque. Todavia, em abril de2005, quando o caso finalmente foi concluído,todos os envolvidos foram absolvidos da acusaçãode conspiração terrorista. Evidentemente, osrelatórios iniciais estavam incorretos, sendo quenenhuma ricinina fora de fato encontrada noapartamento.

ARBUSTOS

PÁGINA 26

Tipicamente, arbustos têm sido levados para fora das suas regiões de ocorrência natural compropósitos ornamentais, e, freqüentemente, como plantas para sebes e cercas. Alguns também foramintroduzidos como estabilizadores de dunas, em projetos de controle de erosão, ou como plantasprodutoras de alimentos – muitas produzem frutos que são consumidos frescos ou em conserva, ouusados no preparo de geléias e tortas. Sendo plantas arbustivas e de densa galhada, com múltiplosrebrotes, tendem a formar densos capões e são, em geral, mais difíceis de controlar do que espéciesarbóreas.

ARBUSTOS MAMONA

Page 27: Gis Ps America Po

PÁGINA 27

ARBUSTOS ALFENEIRO ou LIGUSTRO

Os alfeneiros Ligustrum spp. são arbustos oupequenas árvores pertencentes à famíliaOleaceae, da qual faz parte a oliveira. Há cercade 50 espécies de alfeneiros, a maioria das quaisé originária da Ásia. Alguns exemplos comunssão o alfeneiro-do-japão Ligustrum japonicum, oalfeneiro Ligustrum lucidum, o alfeneiro-da-china ou ligustro chinês L. sinense e o ligustrocomum, L. vulgare.

Estas espécies têm sido amplamente introduzidas compropósitos ornamentais, e são particularmente popularescomo plantas de sebe e árvores de rua. Sendo, entretanto,espécies altamente adaptáveis, tornam-se freqüentementeinvasoras. Na América do Sul, sua ocorrência em áreasnaturais tem sido relatada em diversos países, incluindoArgentina, Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai, Uruguai eVenezuela. Os alfeneiros preferem ambientes úmidos e locaisdegradados, sendo encontrados com freqüência em zonase florestas úmidas e zonas arbustivas, beira de rodovias eterras de cultivo degradadas. No Brasil, eles são particular-mente problemáticos nas florestas temperadas de araucária,no sul do país. Na Argentina, L. lucidum é a árvore exótica

mais abundante em trechos de florestas secundárias dasyungas montanhosas, no noroeste, e também é invasoranas florestas ciliares do sudeste argentino.

Os alfeneiros produzem pequenos frutos escuros que,embora prejudiciais aos seres humanos – se ingeridos causamnáusea e dores de cabeça, pressão baixa e hipotermia – sãoatrativos para os pássaros. Estes consomem os frutos semsofrer efeitos negativos e disseminam as sementes, muitasvezes excretando-as em áreas naturais. Nos ambientesinvadidos, os alfeneiros podem formar densos capões queexpulsam a vegetação nativa. Os capões dominam rapida-mente a camada subjacente de arbustos nas florestas esombreiam as plantas herbáceas mais baixas, alterando acomposição de espécies e a estrutura da comunidade.

O controle efetivo destas invasoras requer o uso deprodutos químicos para impedir a rebrota, o que usual-mente é possível com herbicidas à base de triclopyraplicados em base oleosa sobre as cepas, após o corte.Como medida preventiva, os alfeneiros não devem maisser usados para fins ornamentais, e as plantas existentesdevem ser gradualmente substituídas por outras espécies,nativas ou pelo menos por exóticas não invasoras.

ALFENEIRO EUROPEU Foto: www.kulak.ac.be

ALF

ENEI

RO-D

O-J

APÃ

O F

oto:

htt

p://c

ricke

t.bio

l.sc.

edu

ALF

ENEI

RO C

OM

UM

Fot

o: e

nviro

nnem

ent.e

cole

s.fr

ee.fr

Page 28: Gis Ps America Po

PÁGINA 28

A madressilva Lonicera japonica é uma trepadeira lenhosa apta a se desenvolver em uma gama variadade ambientes. Introduzida na América do Sul para fins de horticultura, foi disseminada através delongas distâncias por pássaros e outros animais que comem seus frutos e excretam as sementes emsuas fezes. Hoje a espécie é invasora em algumas regiões do Brasil, Argentina e Uruguai, particular-mente na bacia do Rio Paraná.

A madressilva cresce rapidamente, emitindo ramos que se entrelaçam ao redor de estruturasverticais e formam capões emaranhados. A planta sobe em pequenas árvores e arbustos, privando-osde luz e algumas vezes fazendo-os desabar sob seu peso. Poucas plantas conseguem sobreviver naespessa sombra sob sua cobertura, de forma que em última instância a invasora altera a estrutura dafloresta, eliminando a camada de ervas e arbustos mais baixos e inibindo a regeneração das árvores.

Uma vez estabelecida, a planta irá rebrotar se cortada ou queimada; assim, a forma mais efetiva decontrole é a aspersão foliar com glifosato.

A amoreira-preta é um arbusto escandentepertencente à família Rosaceae, da qual tambémfazem parte as rosas. Há um número tão grandede espécies aparentadas, subespécies e varie-dades, que por conveniência elas são agregadassob o nome de Rubus fruticosus. Espécies prove-nientes da Europa e da América do Norte foramintroduzidas na América do Sul como plantasfrutíferas, uma vez que as amoras são popular-mente utilizadas na produção de geléias e tortas.Muitas das espécies introduzidas aclimataram-seou sofreram hibridação com outras espécies deRubus, inclusive nativas.

Uma vez introduzidas, as plantas foram disseminadaspor pássaros e mamíferos, que comem os frutos e expelemas sementes em suas fezes. Atualmente, as amoreiras sãoconsideradas como espécie invasora em muitos países domundo. No continente sul-americano, elas são particular-mente problemáticas no Chile, onde cerca de seis milhõesde hectares estão infestados.

Invasoras com grande capacidade deadaptação

As amoreiras são plantas altamente adaptáveis, aptas ainvadir tanto áreas naturais quanto áreas degradadas,incluindo campos, margens de rios, bordas de florestas,plantações, pastagens e beira de rodovias. Tendem a formarcapões densos e espinhosos, que funcionam como barreiraimpenetrável e aumentam o perigo de fogo durante aestação seca. Em plantações florestais, os capões atra-palham as operações por restringirem o movimento depessoas e equipamentos. Em áreas de pecuária, elesbloqueiam o acesso do gado às pastagens e à água. Nasáreas naturais, os bosques de amoreiras ameaçam a biodi-versidade em função do desalojamento da vegetaçãonativa e da redução de hábitats para os animais selvagens.

ARBUSTOS AMOREIRA-PRETA

ARBUSTOS MADRESSILVA

Page 29: Gis Ps America Po

PÁGINA 29

Foto

: ww

w.fl

orid

anat

ure.

org

Beija-flor endêmico ameaçado

Alguns impactos destas espécies invasoras são menosóbvios. Nas ilhas chilenas de Juan Fernandez, por exemplo,a silva Rubus ulmifolius, também conhecida comozarzamore, é uma das maiores ameaças para a flora e afauna nativas. Estas ilhas – localizadas a mais de 660quilômetros da costa do Chile – têm uma riqueza deespécies e de endemismos maior do que qualquer outrailha oceânica. O beija-flor coroa de fogo Sephanoidesfernandensis de Juan Fernandez é o único beija-florendêmico insular conhecido no mundo, porém suapopulação vem declinando. Uma hipótese levantada é queo mesmo esteja sendo afetado pela competição com ocoroa de fogo de costado verde S. sephanoides, que temmaior distribuição e está melhor adaptado para alimentar-se do néctar da amoreira invasora.

As amoreiras são difíceis de controlar, uma vez que asplantas crescem novamente se simplesmente cortadas.Herbicidas à base de glifosato podem ser utilizados emaplicações sobre a cepa, após o corte, ou em aspersõesfoliares sobre o rebrote. Alguns bons resultados têm sidoobtidos com o fungo Phragmidium violaceum, introduzidono Chile e em inúmeros outros países como agente decontrole biológico.

Rosas prolíficas

Inúmeras outras espécies da família das rosas sãoinvasoras na América do Sul. Por exemplo, a rosaamarela Rosa rubiginosa foi trazida da Europa nocomeço do século XX, tendo se espalhado porgrande parte da Patagônia andina, na Argentinae no Chile. É uma espécie que prefere ambientesalterados, sendo comum ao longo das rodoviaspróximas a Buenos Aires. Entretanto, ela tambémocorre em clareiras e nas estepes adjacentes, e jáinvadiu várias unidades de conservação, incluindoo famoso Parque Nacional Nahuel Huapi.

AMOREIRA Foto: www.tintazul.com.pt

Page 30: Gis Ps America Po

PÁGINA 30

ARBUSTOS GIESTAS

As giestas são arbustos pertencentes à família legu-minosa Fabaceae. Um de seus nomes populares,vassoura, reflete o fato de que suas finas hastes,cortadas e amarradas em feixes, são empregadasna fabricação de vassouras usadas para varrer ochão. Nativas de várias partes da Europa, asgiestas foram introduzidas no mundo inteirocomo espécies ornamentais para paisagismo ecomo estabilizadoras de solos, freqüentementeutilizadas para restauração de áreas degradadas eestabilização de dunas. Porém, a partir dessasáreas elas se dispersaram para invadir outras áreasdegradadas, como locais desmatados ou quesofreram queimadas, encostas erodidas, beira derodovias, margens de rios e terras agrícolas, etambém ambientes naturais abertos comocampos, restingas, florestas abertas e bordas deflorestas em bom estado de conservação.

Invasoras agressivas

Dentre as espécies de giesta encon-tradas na América do Sul, a maiscomum é a giesta espanhola Spartiumjunceum, espalhada em todo o conti-nente. A giesta escocesa Cytisusscoparius e a giesta francesa Genistamonspessulana não estão tão dissemi-nadas, mas nos locais onde ocorremsão mais agressivas como invasoras. Damesma forma que outros arbustos,

tendem a formar capões densos e impenetráveis quesubstituem a vegetação nativa e aumentam o risco de fogona estação seca. Uma vez que suas folhas são levementetóxicas e não palatáveis para a maioria dos animais, tantode criação quanto selvagens, as giestas reduzem opotencial produtivo da terra para alimentar animais depasto. A maior quantidade de toxina – composta dealcalóides quinolizidine – está concentrada nas flores esementes, que podem ser perigosas se ingeridas.

A efetividade das giestas como invasoras pode seratribuída a vários fatores. Como a maioria das demaisinvasoras, elas são aptas a se desenvolver de forma invasivaem função da ausência dos inimigos naturais que refreiamsua dispersão nas áreas de ocorrência originais. Comooutras leguminosas, elas mantêm uma relação simbióticacom bactérias fixadoras de nitrogênio, o que lhes conferegrande vantagem competitiva em solos pobres em nutri-entes. Porém, é a extrema eficácia na disseminação dassuas sementes que realmente propicia a rápida expansãoda sua área de ocorrência. No final do verão, as cápsulasde sementes estouram, espalhando as sementes a poucosmetros da planta. A partir desse ponto, elas são levadaspara outras áreas por cursos d’água, carregadas com ocascalho retirado dos leitos dos rios e utilizado emconstruções, com o barro que adere a máquinas e veículos,bem como por formigas, pássaros e outros animais.

Controle

As sementes de giesta são resistentes epodem permanecer dormentes no solo pormuitos anos, até que alguma alteração dosolo, fogo ou remoção da cobertura vegetalestimule sua germinação. O grande banco desementes complica os esforços de controle edetermina a necessidade de monitoramentocontínuo e ações de manutenção. Além disso,as giestas são reprodutoras vigorosas, deforma que um controle ineficaz pode resultarem infestações mais densas.

Vários métodos são utilizados no controle da giesta, eos melhores resultados são obtidos através de sua combi-nação em uma abordagem integrada. Plantas jovens, deaté um metro de altura, podem ser removidas manual-mente, embora o procedimento exija grande quantidadede mão-de-obra. Esta atividade é melhor conduzida depoisda ocorrência de chuva – quando o solo está menoscompactado – de forma a assegurar a retirada de todas asraízes, uma vez que a planta rebrota a partir de qualquerpedaço deixada no solo. Enxadões são efetivos na extraçãode plantas inteiras com hastes de até seis centímetros dediâmetro, mas devem ser tomados cuidados para minimizaro distúrbio do solo, limitando, assim, a germinação dassementes nele existentes.

As giestas rebrotam quando cortadas, a menos que ostocos sejam tratados com herbicida apropriado, como oglifosato. O glifosato também pode ser usado na forma deaspersão foliar para grupos densos de mudas e rebrotes,enquanto a aplicação de injeções de herbicida à base detriclopyr em base oleosa, na base do tronco, sobre a casca,é um método de controle efetivo para plantas adultas.

Algumas vezes o fogo é utilizado no controle degiesta, porém isto pode estimular a germinação do bancode sementes. As altas temperaturas matam as partessuperiores da planta e impedem a rebrota. Provavelmentealgumas sementes de giesta também são destruídas, maso processo atinge principalmente sementes de espéciesnativas, inibindo a regeneração posterior. Da mesmaforma, a utilização de cabras pode ser efetiva na reduçãoda rebrota depois de um trabalho inicial de controle,porém estes animais também devoram espécies nativas.

A mariposa Leucoptera spartifoliella e o gorgulhoApion fuscirostre foram liberados para controle biológicoda giesta escocesa nos Estados Unidos. Contudo, seusucesso foi limitado, além de não consumirem as giestasfrancesa e espanhola.

GIESTA ESPANHOLA Foto: Sílvia R. Ziller

GIESTA FRANCESA Foto: bahiker.com

Page 31: Gis Ps America Po

PÁGINA 31

ARBUSTOS TOJO

Parente próximo das giestas, o tojo Ulexeuropaeus é um arbusto espinhoso nativo dasregiões central e oeste da Europa. Foi largamenteintroduzido em diversas partes do mundo, apartir da virada do século XIX, como plantapara sebes e cercas e para controle deerosão. Atualmente, é consideradoespécie invasora em regiões temperadascomo a Austrália, Nova Zelândia e costa lestedos Estados Unidos, e também em áreastropicais montanhosas, como no SriLanka, Ilhas Reunião e Havaí. NaAmérica do Sul, onde a espécie étambém conhecida como retamoespinoso, é invasora em inúmerospaíses, incluindo Argentina, Brasil, Chile,Colômbia, Equador, Peru e Uruguai.

Praga espinhenta

O tojo é uma espécie bastante adaptável, que se estabelececom facilidade em áreas degradadas como beira de estradas,terras cultivadas e margens de rio, e que também invadeambientes naturais. É considerado como praga na agriculturae na silvicultura, por formar capões densos que reduzem aspastagens e agem como barreira impenetrável para pessoase animais. Suas invasões também aumentam o risco defogo, em função de ser uma planta altamente inflamável.

Por desalojar as espécies nativas, o tojo é também umaameaça à biodiversidade. Na Colômbia, por exemplo, estáinvadindo a vegetação montanhosa dos Andes, atingindoaltitudes de 3.500 metros. Na Argentina, está avançandosobre ambientes naturais nos pampas e na Patagônia, en-quanto no Brasil a espécie tem sido citada como problemáticaem dois parques nacionais e em diversas áreas rurais doscampos sulinos.

O tojo produz quantidades imensasde sementes, que são

ejetadas das vagens e caem apoucos metros da planta adulta.

Tipicamente, as sementes sãodispersas pela água e pelo

barro que adere a veículos,pessoas e animais, embora emalgumas áreas pássaros e

formigas também tenham um papel nadisseminação. As sementes podem

permanecer dormentes no solo porpelo menos 50 anos, e fogo ou outra

alteração do solo podem estimular agerminação em massa. Esta característica

pode ser explorada no controle dasinvasões – capões freqüentemente são

queima-dos de forma a possibilitar que a rebrotae as novas mudas possam ser aspergidas com herbicida,

embora esta técnica também cause impacto sobre asplantas nativas. A aplicação de herbicida sobre as cepas,após o corte, é um método de controle efetivo, mas muitotrabalhoso, de forma que grandes infestações são às vezesremovidas mecanicamente por máquinas de terra-planagem ou por tratores equipados com subsoladores.

A re-infestação de tojo pode ser inibida com o plantiode espécies nativas e não invasoras adequadas ou com autilização de cabras para pastejo da rebrota. No Chile,alguns bons resultados têm sido alcançados através docontrole biológico com Agonopterix ulicetella, um insetoherbívoro, embora outros agentes biológicos sejamnecessários para complementar a efetividade do método.Os melhores resultados são atingidos quando se utilizauma abordagem integrada, com a combinação de váriosmétodos de controle. Quaisquer que sejam os métodosutilizados, entretanto, a realização de um trabalhocontínuo de acompanhamento é de vital importância.

TOJO Foto: Sílvia R. Ziller

Page 32: Gis Ps America Po

Um número considerável de espécies de gramíneas originárias da África foi introduzido em diversaspartes do mundo com objetivo de fornecer pastagem para o gado, ou recuperar áreas de pastodegradadas por seca ou por sobre-pastoreio. Na América do Sul, aproximadamente 53 milhões dehectares de floresta tropical úmida foram convertidos em pastagens apenas na Bacia Amazônicabrasileira, assim como cerca de 40 milhões de hectares de savana tropical nativa, na Colômbia,Venezuela e Brasil.

Além da conversão de florestas e savanas em pastagens dominadas por gramíneas africanas tercomo conseqüência direta uma dramática perda de vegetação nativa, em muitos casos as forrageirasexóticas se alastraram e invadiram ambientes naturais, onde causam alterações nos processos ecológicose representam uma séria ameaça para a biodiversidade.

Mesmo antes de serem correntemente utilizadas para formação de pastagens, as forrageirasafricanas já haviam sido inadvertidamente introduzidas no continente americano, quando suaspequenas sementes, escapando da detecção, entraram junto com outros produtos importados. Assim,por exemplo, considera-se que o capim-colonião e o capim-angola tenham sido introduzidos nas ÍndiasOcidentais e no Brasil através dos navios negreiros; sua introdução remontaria a 1684.

O capim-angola Brachiaria mutica é atualmente uma dasespécies mais disseminadas no Brasil, onde também éconhecido como capim-bengo. Embora não tolere altaspressões de pastejo, a espécie resiste bem em áreasinundadas. Em função de sua afinidade com a água, estecapim é particularmente eficaz na invasão de cursosd‘água. Por ser comumente utilizado para estabilizar erevestir escarpas ao longo de rodovias, sua dispersão temsido facilitada, uma vez que as sementes podem ser trans-portadas a longas distâncias por veículos.

Mais recentemente, várias outras espécies de braquiáriasforam introduzidas na América do Sul para estabeleci-mento de pastagens. No Cerrado, área de savana do BrasilCentral, elas compreendem cerca de 85% da área

GRAMÍNEAS

PÁGINA 32

CAPIM-ANGOLA Foto: http://evergreen.asn.au

Brac

hiar

ia. F

oto:

Sílv

ia R

. Zill

er

Page 33: Gis Ps America Po

plantada com gramíneas exóticas. Porém estas espéciescomeçaram a escapar das áreas de pastagem e passaram ainvadir ambientes naturais, onde tendem a substituir eexcluir gramíneas nativas superiores em termos dequalidade da forragem produzida. Como resultado, essasinvasões podem representar perdas na produtividadeagrícola, bem como de biodiversidade.

O capim-colonião Panicum maximum é outra espéciecomum ao longo de rodovias, bem como em outras áreasdegradadas. Forma infestações densas, que constituemrisco de incêndio. E em função de ser mais tolerante aofogo do que as espécies nativas, tende a dominar as áreasqueimadas. Entretanto, é uma espécie com menorpotencial invasor em pastagens, uma vez que não suportapressão constante de pastejo.

O capim-búfalo Cenchrus ciliaris é a mais popular dasforrageiras africanas utilizadas para incrementar aprodução pecuária nas áreas tropicais e subtropicais secasdas Américas. Nas áreas circundantes às pastagens, paraonde tem a tendência de se alastrar, ele costuma alimentarincêndios não tolerados pelas espécies nativas.

O capim-kikuyu Pennisetum clandestinum tem sido larga-mente utilizado nas regiões mais úmidas do mundo, para

formação de pastagens e gramados. Sua elevada taxa decrescimento é considerada um benefício para o pastejo,mas com isso a espécie desaloja uma variedade de outrasespécies benéficas, incluindo leguminosas fixadoras denitrogênio, que mantêm o nível de nutrientes no solo. Emdecorrência disso, há necessidade de maiores aplicaçõesde fertilizantes, o que não apenas eleva o custo deprodução, mas também gera impactos ambientaissecundários, como o enriquecimento dos cursos d’águacom nutrientes e o conseqüente surgimento de flores-cências de micro-algas tóxicas e infestações de plantasaquáticas daninhas. Em algumas regiões, o capim-kikuyutambém exige muita irrigação e alta manutenção. Estálistado como espécie nociva em diversos países, uma vezque rapidamente se alastra em ambientes naturais e excluia vegetação nativa. Na Colômbia, ela já invadiu áreas friasem altitudes elevadas.

O capim-annoni Eragrostis plana foi introduzido naArgentina durante a década de 1940 e posteriormente,nos anos 1960, no Brasil, onde é assim chamado em refe-rência a Ernesto Annoni, fazendeiro que o trouxe ao país.Como outras similares, esta espécie é alelopática, ou seja,capaz de inibir a germinação e o crescimento de outrasplantas em sua vizinhança através da liberação desubstâncias químicas no solo. Esta característica permite-lhe

PÁGINA 33

CAPIM-KIKUYU Foto: http://tncweeds.ucdavis.edu

CAPIM-BÚFALO Foto: www.tarleton.edu CAPIM-CHORÃO Foto: www.tarleton.edu

CAPIM-COLONIÃO Foto: www.hear.org

Page 34: Gis Ps America Po

formar densas monoculturas à medida que rapidamenteinvade pastagens e ambientes naturais. Desta forma, nãoapenas destrói a biodiversidade como também reduz aquantidade de forragem disponível, uma vez que o capimé muito fibroso para ser consumido pelo gado. Em 1978,o governo brasileiro proibiu a venda de sementes decapim-annoni, mas àquela altura a espécie já havia sedispersado por 20 mil hectares no sul do país. Suassementes dispersaram-se a longas distâncias, com auxíliodo tráfego de veículos pelas rodovias próximas às áreas decultivo ou infestadas. Em 1997, 500 mil hectares estavamtomados pela espécie nos estados sulinos do Brasil, naArgentina e no Uruguai. Hoje se estima em cerca de 2milhões de hectares a área invadida pelo capim-annoni epor outra espécie aparentada, o capim-chorão Eragrostiscurvula. As infestações ocorrem preferencialmente emáreas abertas degradadas por cultivo agrícola, silviculturaou fogo.

O capim-jaraguá Hyparrhenia rufa estabelece-se comfacilidade em áreas tropicais, invadindo agressivamenteambientes naturais. A espécie expulsa e sufoca outraservas daninhas e prontamente substitui plantas nativasapós incêndios, dada sua maior resistência ao fogo.

O capim-gordura Melinis minutiflora é usado comopastagem, mas também para revestir encostas de rodoviasem áreas tropicais da América do Sul. Tem invadido beiras

de rodovias, terras agrícolas e plantações florestais, bemcomo ambientes naturais, onde substitui espécies nativas.Ao aumentar a carga de combustível, provoca incêndioscom temperaturas superiores à média, que destroem assementes nativas existentes no solo.

O capim-bermuda, Cynodon dactylon, tem sido intro-duzido em grande parte das regiões temperadas quentes esubtropicais do planeta, sendo usado principalmente paraforragem e formação de gramados. No Brasil, está ampla-mente distribuído em lugares abertos de solo arenoso ousalino, como beiras de rodovias, campos agrícolas,pomares, canais de irrigação e áreas degradadas.

PÁGINA 34

CAPIM-JARAGUÁ Foto: www.hear.org GRAMA-SEDA Foto: www.hear.org

CAPIM-GORDURA Foto: www.hear.org

CAPIM-GORDURA Foto: Carlos Romero Martins

Page 35: Gis Ps America Po

PÁGINA 35

Os ratos são, inegavelmente, os mamíferos inva-sores mais disseminados pelo mundo, e os quegeram maior impacto econômico. Nos EstadosUnidos, por exemplo, o custo associado aosaproximadamente 250 milhões de ratos existentesno país é estimado em 19 bilhões de dólares porano. Além do impacto econômico, entretanto, osratos também causam significante impactoambiental, tendo contribuído para a extinção deinúmeras espécies de em ambientes naturais.

Preto versus marrom

As duas espécies mais comuns de ratos exóticos invasoresem todo o mundo são o rato preto Rattus rattus e o ratomarrom Rattus norvegicus. O rato preto é o mais amplamentedistribuído. Considerado originário do subcontinete indiano,este invasor dispersou-se no mundo através de navios,razão pela qual também é conhecido por rato de navio.

O rato marrom, também conhecido por rato norueguês,é o maior dos ratos. Acredita-se que seja originário donorte da China, mas disseminou-se na Europa no início doséculo XVIII, depois do quê foi provavelmente transportadoem navios para o resto do mundo. É um bom nadador e sedesenvolve bem em redes de esgotos, assim como emedifícios, onde tende a habitar porões. Em contraste, o ratopreto prefere andares superiores e coberturas, sendo porisso conhecido em muitas regiões como rato de telhado.

Alimentação indiscriminada

Os ratos causam uma variedade de impactos sócio-econômicos, atacando cultivos e grãos estocados, conta-minando os suprimentos de alimentos com seus dejetos, eroendo cabos elétricos e de telefonia. Por viverem em asso-ciação muito próxima com os seres humanos, os ratostambém desempenham um papel importante na dispersãode doenças, incluindo a leptospirose e a síndromeprovocada pelo hantavírus.

Seu impacto sobre a biodiversidade também édestrutivo. Ambas as espécies de ratos são onívoras e suadieta inclui ampla variedade de alimentos, incluindo sementese mudas, frutas, ovos e pequenos animais. Ao se alimen-tarem de outras espécies ou competirem com elas porcomida, os ratos causaram o declínio de muitos mamíferospequenos, pássaros, répteis e invertebrados. O impacto desua presença tem sido particularmente severo em ilhas,onde têm sido responsáveis por mais extinções de pássaros,cobras e lagartos do que qualquer outro predador. EmGalápagos, por exemplo, os ratos tiveram efeito deletériosobre as populações de Pterodroma phaeopygia e Mimuspolyglottos, pássaros da Ilha de Floreana.

Os programas de controle mais bem sucedidos fizeramuso de iscas envenenadas, em geral contendo brodifacoumcomo ingrediente ativo. No passado, gatos foram ocasional-mente soltos em ilhas visando o controle de populaçõesde ratos, porém com efeitos devastadores sobre espéciesde pássaros e de outros pequenos animais.

Os ratos e a Peste Negra

Doenças associadas a ratos ceifaram mais vidas humanasdo que todas as guerras da história juntas! Comohospedeiro da bactéria Yersinia pestis, causadora da pestebubônica, o rato preto foi responsável por cerca de 200milhões de mortes apenas na Idade Média.

A peste bubônica é transmitida dos ratos para aspessoas pelas pulgas, mas a seguir se dissemina rapida-mente, por ser altamente infecciosa. Um surto ocorreu naChina no início dos anos 1330, mas a doença não foi intro-duzida na Europa até 1374, quando inúmeros naviosmercantes italianos retornaram de uma viagem ao MarNegro – elo fundamental da ligação comercial com aChina. Muitos dos tripulantes já haviam morrido quandoos navios aportaram na Sicília, e a doença rapidamente seespalhou através das áreas rurais próximas. No anoseguinte, ela atingiu a Inglaterra, onde foi chamada dePeste Negra em função das manchas negras que provocana pele, um de seus principais sintomas. Ao final daepidemia, a doença havia provocado a morte de quase umterço da população européia da época.

Surtos de peste bubônica continuam a ocorrer – princi-palmente em áreas rurais –, sendo que a OrganizaçãoMundial de Saúde relata entre mil e três mil casos por anoem todo o mundo. Durante a última década, o Peruapresentou a maior incidência de peste bubônica entre ospaíses da América do Sul. Felizmente, hoje a doença étratável com antibióticos.

ROEDORES RATOS

Foto

: htt

p://w

fcb.

ucda

vis.

edu

Page 36: Gis Ps America Po

O castor americano Castor canadensis é o maiorroedor da América do Norte. Ocorre natural-mente na maior parte das regiões de floresta dosEstados Unidos e Canadá, embora em algumasáreas as populações tenham sido dizimadas pelacaça, em função do valor comercial de sua pele.Visando participar deste lucrativo comércio, em1946 a Argentina importou do Canadá 25 casaisda espécie, introduzindo-os na Terra do Fogo. Aabundância de florestas e cursos d’água, a simi-laridade do clima e a ausência de predadoresnaturais permitiram aos castores sentirem-se emcasa e multiplicarem-se.

Peles versus inundações

Os castores introduzidos foram soltos no lado argentino doLago Fagnano, e em 1964 eles haviam se dispersadoatravés dos tributários do lago, bem como em seu ladochileno. Pouco tempo antes disso, entretanto, eles jáhaviam invadido o território chileno nadando setequilômetros através do Canal de Beagle, para colonizar aIlha Navarino. No início dos anos 1990, os castoreschegavam a 20 mil na Ilha Navarino e 41 mil no ladochileno da Terra do Fogo, onde as densidades médias eramde seis colônias por km2. Na Terra do Fogo argentina, ondea atividade de caça era mais intensa, cerca de 25 milcastores povoaram 90% de todos os cursos d’água.

Àquela época já havia sido constatado que os bene-fícios da introdução dos castores como fonte de peles haviamsido ultrapassados pelo seu impacto negativo sobre os cursosd’água e as florestas. Estes animais derrubam árvores para

represar riachos e rios, criando em torno de sua toca umapiscina profunda que funciona como proteção contrapredadores terrestres e fonte de alimentação submersa.Tipicamente, estas represas provocam inundações que danifi-cam as florestas nativas de faias Nothofagus, afogandoárvores nos locais mais baixos e alterando a ciclagem denutrientes. A regeneração florestal também é inibida, umavez que as dentadas dos castores na casca e nos brotos dasárvores jovens acabam provocando a morte das mesmas.Além disso, ao reduzir a velocidade dos cursos d’águarápidos, as represas alteram o hábitat ribeirinho e podemcontribuir para o aumento da sedimentação.

Já estão em andamento programas de controle daspopulações de castor na Terra do Fogo e ilhas do Canal deBeagle adjacentes. Porém, existe a preocupação de que osmesmos tenham cruzado recentemente o Estreito deMagalhães e atingido o continente, onde o seu controleseria muito mais difícil. E com a abundância de cursosd’água disponíveis e florestas para colonizar, os castorespoderiam causar grandes danos no frágil ecossistema daPatagônia.

ROEDORES CASTOR AMERICANO

PÁGINA 36

CA

STO

R F

oto:

htt

p://d

nr.s

tate

.il.u

s

Diq

ue d

e ca

stor

es n

a Ilh

a da

Ter

ra d

o Fo

go.

Foto

: ww

w.a

nsw

ers.

com

Page 37: Gis Ps America Po

O visão americano Mustela visontem ampla distribuição naAmérica do Norte. A espécie foiintroduzida pela primeira vez naAmérica do Sul durante a décadade 1930, quando foi importandopela Argentina e pelo Chile paracriação comercial. As primeirastentativas de produção de pelesfalharam em ambos os países. Em 1960, entre-tanto, mais de 50 fazendas de produção de pelede visão americano estavam em operação naArgentina, fornecendo, inclusive, animais paranovas tentativas de estabelecimento de criaçõesno Chile. Porém, quando neste segundo país oretorno econômico da atividade mostrou-se incom-patível com as expectativas, muitos dos animaisforam simplesmente soltos. Alguns também esca-param das fazendas argentinas, dispersaram-seatravés de corpos d’água interconectados eutilizaram passagens montanhosas de menor

altitude para cruzar os Andes eentrar no Chile. Atualmente aespécie está amplamente distri-buída pela Patagônia, tendorecentemente atingido a Terrado Fogo e a Ilha Navarino.

O visão americano é umpredador oportunista, capaz deexplorar uma ampla gama de

alimentos, razão pela qual é considerado umapeste na maioria das regiões invadidas domundo. Na Argentina, ele freqüentemente mataaves domésticas e é conhecido por atacar atémesmo ovelhas recém-nascidas. Sua presençatem sido relacionada com o declínio de inúmerasespécies aquáticas e de mamíferos, incluindo anutria, ou ratão-do-banhado nativo, Myocastorcoypus. O visão também se alimenta de peixes,aumentando a preocupação com relação ao seupossível impacto sobre áreas de pesca recreativaonde há introdução de salmão.

Da mesma forma que o castor, oratão-do-banhado foi trazido doCanadá para a Terra do Fogo tendoem vista a produção de peles. Em1948, 75 machos e 150 fêmeasforam soltos no lado argentino dailha, e se multiplicaram tão rapida-mente que em 1954 foramdeclarados animais daninhos. Aespécie logo invadiu o ladochileno da Terra do Fogo, bemcomo a Ilha Navarino. Felizmente, até omomento não há indícios de que eles tenham

alcançado o continente.O ratão-do-banhado alimenta-

se principalmente de plantasaquáticas, mas também consomecrustáceos e moluscos. Emborapouco seja conhecido sobre seusimpactos sobre a fauna nativa, aespécie é considerada danosa paraa flora local. Isto se deve aosdanos que suas escavaçõescausam a represas e canais de irri-

gação, que podem levar a inundações que, por suavez, levam à degradação do ambiente natural.

Ratão-do-banhado

PÁGINA 37

VISÃO Foto: www.biopix.dk

RATÃO-DO-BANHADO Foto: www.astronomy-images.com

CASTOR Foto: http://www.fcps.k12.va.us

Visão americano

Page 38: Gis Ps America Po

O coelho europeu Oryctolaguscuniculus é o ancestral detodas as variedades domés-ticas de coelho. Originário daEspanha e de Portugal, foiintroduzido em toda a Europadurante a Idade Média. Maistarde, colonizadores desejososde reproduzir o ambiente desua terra natal levaram-nopara outros continentes. Ocoelho também foi levadopara o estrangeiro em navios à vela, como supri-mento de carne fresca, e freqüentemente soltoem ilhas, para servir de fonte de alimentaçãopara marinheiros em trânsito ou náufragos. NaAmérica do Sul, o coelho europeu é uma espécieexótica invasora no Chile e na Argentina.

Uma praga de coelhos

Em terra firme, o coelho europeu foi introduzido naAmérica do Sul em 1884, quando um grupo deles foi soltoem uma ilha da Lagoa Cauquenes, no Chile Central.Quando o nível das águas baixou, depois de uma longaseca, os coelhos escaparam da ilha e começaram adispersar-se para o norte e o para o sul. Em 1950, eleshaviam cruzado os Andes e entrado na Argentina, ondecontinuaram a expandir-se ainda mais, ocupando, emmeados da década de 1980, algo em torno 50 mil km2.

Antes da sua introdução no Chile, entretanto, coelhosjá haviam sido soltos, em 1880, no lado argentino da Ilhada Terra do Fogo, bem como em diversas ilhas do Canal deBeagle. Em 1936, dois casais foram soltos no lado chilenoda Terra do Fogo. Isto desencadeou uma explosão popula-cional que atingiu seu pico no início dos anos 1950,quando a densidade era em média de 30 coelhos porhectare, com mais de um milhão de hectares invadidos. Osanimais cruzaram o Estreito de Magalhães e atingiram ocontinente, expandindo sua distribuição para o norte.

Como acontece com a maioria das espécies invasoras,o coelho foi capaz de se proliferar com tanto sucesso emfunção da ausência de inimigos naturais. Nas áreas ondeocorre naturalmente, o coelho é presa natural de águias eraposas, além de servir de alimento para os seres humanos,razão pela qual é intensamente caçado. Já os predadoresdo Chile e da Argentina, acostumados a perseguir presasque correm em linha reta até o abrigo mais próximo, foraminicialmente confundidos pelo comportamento de fugados coelhos, que incluem rápidos zigue-zagues, desvios,pulos e recuos. Além disso, a maior parte das áreasinvadidas era escassamente habitada por pessoas, para asquais a carne de coelho era um alimento pouco familiar, deforma que a pressão de caça também era muito baixa.

Dadas as reduzidas ameaças, os coelhos passaram a seaventurar fora da vegetação arbustiva, onde tipicamentehabitam em sua área de origem, para alimentar-se da abun-dante grama de seu novo hábitat. Com o suprimento

ilimitado de comida, eles tornaram-se capazes de procriar mais cedo ede se dispersar por novas áreas.

Passado o tempo, predadoresnativos adaptaram seu comporta-mento de caça e adquiriram habili-dades que lhes permitem apanhar anova espécie de presa. Atualmente,os coelhos são uma parte impor-tante da dieta de muitos dessespredadores, em particular da raposaandina Pseudalopex culpaeus e da

águia-chilena Geranoaetus melanoleucus, no ChileCentral, e da coruja Bubo magellanicus, na Patagôniaargentina. Adicionalmente, as pessoas também desco-briram o valor comercial do invasor e começaram a caçá-lo, principalmente para exportação de carne, pelica e pelepara a Europa.

Entretanto, os coelhos ainda são malquistos por causados danos que causam, tanto em áreas agrícolas como emambientes naturais. Eles comem uma grande variedade devegetais e grãos cultivados e concorrem com os animais decriação pela forragem, reduzindo, desta forma, a capa-cidade das pastagens. Em plantações de pinus, elesconsomem os novos brotos, impondo a necessidade deprogramas de controle antes do plantio das mudas. Emfunção do seu elevado consumo de ervas perenes,arbustos e mudas, os coelhos alteram as comunidadesnaturais de plantas, ameaçando o hábitat de outrosanimais, ao mesmo tempo em que concorrem com elespor comida. Ao consumir excessivamente a coberturavegetal e escavar buracos, aumentam a erosão do solo, oque pode, por sua vez, causar a sedimentação de córregose rios. Todos estes impactos colocam as espécies nativasem risco, fato já comprovado na Austrália, onde os coelhostêm sido responsáveis por inúmeras extinções.

Controle

Uma variedade de métodos tem sido experimentada paracontrolar invasões de coelhos, com graus diferentes desucesso. O exemplo mais conhecido é o do controlebiológico com utilização do vírus mixoma, causador damixomatose. Este vírus foi liberado pela primeira vez naAustrália, em 1950 e como se mostrou eficaz, devastandoa população de coelhos, foi introduzido na Terra do Fogoem 1953. Entretanto, os coelhos rapidamente desen-volveram resistência à doença, tornando-se imunes empoucas gerações. Felizmente, a imunidade diminui aolongo do tempo, quando o vírus está ausente, de modoque novos surtos ocorrem periodicamente, ajudando alimitar o crescimento da população.

Durante os anos 1990, um segundo vírus foi intro-duzido na Austrália como agente de controle biológico, ea seguir na Nova Zelândia, ilegalmente. O calicivírus causaa doença hemorrágica do coelho (rabbit haemorrhagicdisease – RHD), que resulta em mortalidade elevada emalgumas áreas, embora tenha se mostrado menos efetivo

ROEDORES COELHO EUROPEU

PÁGINA 38

Page 39: Gis Ps America Po

A área de ocorrência natu-ral do mangusto indiano oumangusto de Java Herpes-tes javanicus – tambémconhecido por H. auro-punctatus – se estende doPaquistão à costa sul daChina, incluindo a Penín-sula da Malásia e Java. Apartir da década de 1870,a espécie foi amplamenteintroduzida nas Índias

Ocidentais e no continente sul-americano, bem como naIlhas Maurício, Havaí e muitas outras ilhas, para controlede ratos e cobras em plantações de cana e outros cultivos.O sucesso em relação a este objetivo foi apenas parcial; o

mangusto, porém, dispersou-se rapidamente e logo setransformou em espécie invasora.

Além de matar aves domésticas, o mangusto começou aatacar animais nativos. Pássaros que nidificam no solo eseus ovos tornaram-se presas fáceis, mas pequenos mamí-feros e répteis – especialmente cobras e lagartos – tambémpassaram a ser ameaçados. O invasor já foi consideradoresponsável pela extinção de duas espécies de pássaros naJamaica e sete espécies de répteis e anfíbios em Porto Rico.Nas Ilhas Virgens, em Barbados e em Guadalupe, é um dosprincipais predadores de filhotes das tartarugas de couro,verde e hawksbill. Finalmente, a espécie é vetor ehospedeiro de raiva e leptospirose.

Na América do Sul o mangusto está bem estabelecidoem Suriname, na Guiana e na Guiana Francesa, mas ocorretambém nas ilhas oceânicas.

em regiões mais frias e úmidas.Algumas vezes, a introdução de predadores tem sido

adotada como método de controle biológico rudimentar,em geral de conseqüências desastrosas, com os coelhossendo preteridos em favor de espécies que os predadoresconseguem capturar mais facilmente. De forma semelhante,programas de envenenamento, se não conduzidos demaneira bastante cuidadosa, podem matar outras espéciesnão visadas. Estes programas costumam usar iscas como

aveia, cenouras ou farelo impregnados com o veneno1080 (monofluoracetato de sódio) ou os anticoagulantespindone ou brodifacoum. A fumigação das tocas tambémé efetiva, enquanto a destruição de tocas e dos refúgios aoredor, caça a tiro e armadilhas podem ser medidas demanutenção, depois que as populações tenham sido signi-ficativamente reduzidas através de outros métodos. Maiorsucesso é alcançado quando se emprega uma abordagemintegrada, combinando diversos métodos diferentes.

ROEDORES MANGUSTO INDIANO

PÁGINA 39

Lebre-Européia

Nativa da Europa e de certas regiões da Ásia, a lebre-européia Lepuseuropaeus foi introduzida pela primeira vez na América do Sul em 1888,quando três dúzias delas foram importadas da Alemanha e soltas em umrancho particular, na Argentina. Em 1896 elas foram igualmente intro-duzidas no Chile, vindas também da Alemanha. Hoje em dia a espécie estádisseminada por todo território de ambos os países, Argentina e Chile, comexceção da Terra do Fogo. Por volta de 1983, a lebre-européia invadiu oUruguai, o Paraguai e o sul da Bolívia e do Brasil, chegando ao Peru na

segunda metade da década de 1990.A despeito de ser uma comodidade natural lucrativa – mais de seis milhões de indivíduos são

abatidos anualmente, apenas na Argentina, e a carne, pelica e pele são exportadas para a Europa – alebre-européia é considerada uma espécie nociva tanto na Argentina quanto no Chile. Trata-se de umherbívoro generalista, de hábitos preferencialmente noturnos, que se alimenta de uma grande variedadede plantas verdes no verão e de galhos, botões, mudas e cascas de arbustos e árvores jovens noinverno. Como resultado, as invasões causam extensos danos a campos, culturas, pomares e plantaçõesflorestais, além de concorrerem com o gado pelas pastagens.

As lebres também têm sido acusadas de desalojar herbívoros nativos como o tapiti e a lebre-da-patagônia, em função de concorrência por alimento. Entretanto, há um aspecto em relação ao qual suapresença parece trazer algum benefício para outros animais: a espécie aumenta o suprimento de presaspara os predadores. Ao constituir uma parte importante da dieta de pumas, raposas, furões e algumasaves de rapina, as lebres contribuem para a diminuição da pressão de predação sobre o gado e asespécies nativas.

Foto

: ww

w.it

tiofa

una.

org

Page 40: Gis Ps America Po

PÁGINA 40

MAMÍFEROS CERVO COLORADO

O cervo colorado Cervus elaphus, originário daEurásia, foi introduzido na Argentina há cerca deum século. À medida que a população cresceuem tamanho e distribuição, a espécie entrou noChile, embora algumas introduções locaistambém tenham sido feitas naquele país. Hoje ocervo colorado ocupa uma área de cerca de 50mil km2, em ambos os lados dos Andes, ondeocorre em todos os tipos de ambientes – deflorestas úmidas densas a estepes abertas eáridas. A espécie invadiu inúmeros parquesnacionais, alcançando densidades elevadas emvários locais.

Ungulado indesejado

Embora seja valorizado por caçadores como espécie paratroféu, o cervo colorado é em geral considerado invasorpelos conservacionistas, em função de seu impactonegativo sobre ambientes naturais. Seu pastejo seletivo dasespécies preferidas de plantas pode alterar a estrutura e

composição das comunidades vegetais, ou mesmo,quando em altas densidades, inibir a regeneração florestal.O pisoteio e o pastejo excessivo da cobertura do solopodem aumentar a erosão e destruir hábitats de outrasespécies. Por exemplo, o roedor Euneomys petersoni, queevidentemente prefere viver em capinzais densos eúmidos, era abundante nas áreas onde agora ocorre ocervo colorado, porém praticamente desapareceu emfunção de seu hábitat ter sido destruído pelo sobre-pastoreio da espécie invasora.

O cervo colorado também pode competir por alimentocom ungulados nativos como o guanaco Lama guanicoe, ohuemul da Patagônia Hippocamelus bisulcus e o puduPudu pudu, bem como com o gado. Além disso, ele repre-senta uma ameaça adicional para o gado, uma vez quepode facilitar a disseminação de tuberculose bovina eoutras doenças, devido à sua capacidade de se dispersar alongas distâncias.

Page 41: Gis Ps America Po

PÁGINA 41

MAMÍFEROS PORCOS ASSELVAJADOS E JAVALIS

Porcos asselvajados são descendentes dojavali Sus scrofa, originalmente nativo daEurásia e do Norte da África. Os javalisforam levados para outras partes domundo por antigos migrantes, que tantosoltavam os animais para caçá-los quandohouvesse necessidade de alimento, quantoos mantinham presos, domesticados. Maistarde sua dispersão continuou, através dosexploradores europeus, imigrantes e coloni-zadores. Tipicamente, os porcos domésticoseram deixados soltos, o que inevitavel-mente levou ao estabelecimento depopulações asselvajadas.

Os descendentes destes porcos são agoraencontrados na maioria dos países das AméricasCentral e do Sul. Em muitas áreas houve cruzamentocom javalis, introduzidos mais recentemente para caçaesportiva ou produção de carne. Os javalis, por sua vez, ouforam soltos intencionalmente, como estoquesfundadores para formar populações nativas, ou escaparamde cativeiros. Por volta de 1906, por exemplo, o propri-etário de uma fazenda argentina importou javalis daEuropa. Os animais logo se dispersaram e em vinte anoscruzaram os Andes, entrando no Chile. Hoje os javalis sãoencontrados em uma grande área da zona de florestastemperadas em ambos os países.

Em geral, os javalis e seus primos asselvajados causamdanos à vegetação, em função da grande quantidade defrutas, sementes, brotos, raízes e bulbos que consomem.Também comem invertebrados, como minhocas e cobras,e provavelmente outros pequenos animais. Assim, estesinvasores não apenas reduzem os alimentos disponíveispara outros animais, como também impedem a rege-

neração da vegetação, arrancando mudas e escavando osolo. São considerados praga na agricultura porquedanificam áreas de cultivos, alimentando-se deles episoteando-os, e são conhecidos por atacarem cordeiros,cabras e bezerros jovens. Finalmente, eles tambémdisseminam doenças como a leptospirose e a febre aftosa.

Porcos asselvajados têm um impacto maior em ilhas,principalmente por atacarem ovos e filhotes de pássarosque nidificam no solo. Felizmente, sucessos recentes têmsido alcançados na erradicação dos porcos de algumasilhas, incluindo as do arquipélago equatoriano deGalápagos (ver quadro pág. 42).

Foto: www.wildpark-rolandseck.de

Page 42: Gis Ps America Po

O maior esforço mundial de restauração está emcurso nas ilhas Galápagos, no Equador. Por maisde um século, plantas e animais especialmenteadaptados, que influenciaram Charles Darwin nodesenvolvimento de sua teoria da evolução, têmsido ameaçados por uma variedade de espéciesexóticas invasoras. Agora, estes hóspedesindesejáveis receberam suas ordens de despejo,e as ilhas poderão retornar à sua antiga glória.

Cabras

A cabra Capra hircus é considerada o herbívoro maisdestrutivo introduzido nas ilhas do planeta. A espécie éoriginária da Ásia, mas foi domesticada e disseminada nomundo inteiro, sendo freqüentemente solta em ilhas paraconstituir uma fonte fácil de carne e leite. Populaçõesferais podem causar massiva degradação ambiental. Apastagem intensa e o pisoteio tendem a aumentar a erosãoe provocar a destruição de hábitats, reduzindo a coberturavegetal necessária para abrigar outros animais depredadores ou das intempéries. Elas também impactam ascomunidades nativas em função da concorrência comoutros herbívoros.

Durante três décadas, a partir do final dos anos 1970,caçadas terrestres permitiram erradicar as cabras das ilhasEspañola, Marchena, Rábida e Santa Fé, e a recuperaçãoda vegetação natural restabeleceu alguns dos hábitatsoriginais destas ilhas. Em Pinta, mais de 41 mil cabrasforam removidas entre 1971 e 1982. A campanha foiretomada em 1999, e em 2003 foram eliminadas asúltimas cabras. Esta foi a maior remoção de cabras de umailha com utilização de métodos terrestres de captura járealizada no mundo.

Em Pinta, um fator crítico para o sucesso da remoçãodas últimas cabras, quando a densidade populacional jáera bastante baixa, foi o uso das assim chamadas “cabrasJudas”. Foram utilizadas algumas cabras munidas de rádio-coleiras, que uma vez soltas logo se associavam às poucasremanescentes, delatando sua localização aos caçadores.

As técnicas de caça empregadas durante a campanhade erradicação em Pinta foram aperfeiçoadas quandoimplementadas na ilha Santiago, em dezembro de 2001. Apartir de 2004, helicópteros foram utilizados para trans-portar caçadores altamente treinados e cães de caça atéáreas remotas da ilha. Em três semanas, a densidade de

cabras foi significativamente reduzida. Em junho daqueleano, 90% das cabras e todos os asnos selvagens haviamsido eliminados e espera-se que a ilha seja declarada livrede cabras até o final de 2005. Nas áreas elevadas, já épossível observar uma dramática recuperação davegetação nativa.

Atualmente, o foco do trabalho de erradicação estádirigido para Isabela, a maior ilha do arquipélago e a quepossui maior concentração de espécies endêmicas. Muitasdestas espécies – incluindo cinco espécies de tartarugasgigantes – estão ameaçadas pela presença de umapopulação massiva de cabras. A ilha é dividida em duaspartes por um campo de lava que funciona como umabarreira para a movimentação de animais. Apenas na partenorte da ilha, a população estimada de cabras em meadosdos anos 1990 era de cerca de 100 mil indivíduos. Em2004, teve início a caça aérea com helicópteros. Logo queas densidades foram reduzidas, os caçadores e seus cãescomeçaram o trabalho por terra. No início de 2005, doisterços da parte norte de Isabela já estavam no nível deutilização das “cabras Judas”, e espera-se que os últimosindivíduos sejam erradicados dentro de um ano.

Porcos

Acredita-se que porcos asselvajados tenham desem-penhado um papel importante na extinção de inúmerasespécies das ilhas Galápagos. Uma das principais preocu-pações é a predação dos ovos de tartarugas gigantes, detartarugas marinhas e de pássaros que constroem seusninhos no solo. De fato, nos anos de 1970, na ilha SantaCruz, observou-se que um único casal de porcos destruiu23 ninhos de tartaruga no período de um mês!

Provavelmente os porcos foram introduzidos na ilhaSantiago pouco tempo depois da visita de Darwin em1831, e em 1875 já eram abundantes por lá. O controleteve início em 1968, com caça esporádica, armadilhas eenvenenamento com 1080 (monofluoracetato de sódio).Em 1995, o esforço de caça foi intensificado, assim comoo emprego de cães de caça e o uso de veneno, desta vezempregando carcaças de cabra como isca.

Em 1998, o programa de erradicação de porcos foireestruturado e adaptado para incorporar novos métodos,baseados, por exemplo, no uso de GPS e SIG (sistema deinformações geográficas) e no uso de 1080 em combi-nação com um anti-emético. Este último visava retardar o

ANIMAIS ASSELVAJADOS EM GALÁPAGOS

PÁGINA 42

Foto

: ww

w.d

lwc.

nsw

.gov

.au

Foto

: ww

w.m

eyer

s-na

turf

oto.

de

Page 43: Gis Ps America Po

surgimento da náusea e dos vômitos provocados peloveneno, aumentando desta forma a chance de ingestão deuma dose letal do mesmo. Contudo, os porcos tornaram-se refratários às iscas – provavelmente por sentirem ocheiro do anti-emético. Assim, a partir de dezembro de1999, foi feita a substituição do 1080 por warfarin, venenoutilizado comumente para matar ratos e que tem inúmerasvantagens sobre o 1080. Entre elas, a mais importante é ofato de ser um veneno de ação lenta, de forma que ossintomas aparecem bem depois da ingestão da dose letal,reduzindo as chances de os porcos associarem a isca aomal-estar. Adicionalmente, o warfarin é menos tóxico paraos seres humanos, cães e outras espécies, e tem antídotodisponível. Além dos porcos, a única espécie que se sabeter sido morta pelo programa de envenenamento é o ratopreto, também uma espécie invasora das ilhas.

Os caçadores não mais encontraram porcos na ilhadepois de abril de 2000. Em julho daquele ano, umprograma intensivo de monitoramento foi iniciado, comobjetivo de verificar a existência de possíveis remanes-centes. Carcaças de cabra sem veneno foram distribuídasde forma eqüidistante em torno da ilha, e quando umadelas mostrou sinais de haver servido de alimento paraporco, foi substituída por outra tóxica. Duas semanas maistarde, um porco foi encontrado morto nas proximidades. Adespeito do monitoramento contínuo, nenhum outroindivíduo foi encontrado na ilha nos 18 meses seguintes, eem maio de 2002 a ilha de Santiago foi declarada livredesta espécie invasora pela primeira vez em pelo menos127 anos. Quase 19 mil porcos foram removidos duranteos 30 anos de campanha, e Santiago é agora a maior ilhado mundo onde uma população estabelecida de porcos foicompletamente erradicada.

Gatos

Em ilhas, gatos Felis catus asselvajados têm efeito devastadorsobre a biodiversidade. No passado, eles foram freqüente-mente introduzidos nesses ambientes para controlar infes-tações de ratos, mas em vez disso passaram a atacar outrospequenos mamíferos, répteis e pássaros. Em função doaumento da conscientização quanto aos impactos por elesprovocados, gatos asselvajados estão sendo atualmenteremovidos de mais de 40 ilhas em todo mundo.

Em 2001, foi iniciado um projeto de erradicação degatos em Baltra, pequena ilha de Galápagos controlada

pela força aérea equatoriana. Ótimos resultados foramobtidos a partir da combinação de armadilhas, envenena-mento (1080 em iscas de peixe) e caçadas noturnas comrifles e lanternas. No final de 2003, os gatos aparente-mente haviam sido eliminados, ou pelo menos reduzidos aum número muito pequeno. O projeto abriu caminho paraa intensificação dos esforços de re-introdução de iguanasterrestres – levadas à extinção quando a ilha foi utilizadacomo base militar, durante a Segunda Guerra Mundial.

Os gatos asselvajados estão agora sendo controladosem Santa Cruz, enquanto outras ilhas estão sendomonitoradas para identificação dos locais onde os mesmosestejam ameaçando a fauna nativa.

Pombos

O pombo Columba livia foi introduzido no arquipélago deGalápagos no início dos anos 1970, e em meados da décadaseguinte estabeleceu-se em três ilhas – Santa Cruz, SanCristóbal e Isabela. Em 2000, a população havia crescidosignificativamente, aumentando a preocupação quanto aopotencial da espécie para transmitir doenças aos pássarosnativos, incluindo um pombo endêmico do arquipélago.

Em 2001, foi iniciado um programa de erradicação emSanta Cruz. Ao longo de 18 meses, foram removidos 429pássaros através de caça, do uso de iscas contendo oestupefaciente alfa-clorase e dacaptura manual. O programa foiestendido a seguir para SanCristóbal, de onde 802 pombosforam removidos entre 2002 e2004. Em setembro de 2004, aerradicação foi iniciada em Isabela,e em três meses foram eliminados347 pássaros, restando apenascerca de 70. A remoção destesremanescentes durante o ano de2005 representará a erradicaçãodesta espécie invasoras do arquipélagode Galápagos.

OUTRAS ESPÉCIES INVASORAS

Outros animais invasores também estão sendoalvo de esforços de erradicação, especialmente orato preto Rattus rattus (ver página 35). Insetoscomo a pequena formiga-de-fogo Wasmanniaauropunctata (página 51) e o pulgão branco doscítricos, Icerya purchasi (página 69) têm sidocontrolados com sucesso. Da mesma forma,plantas invasoras também estão sendo removidasde Galápagos. Por exemplo, três espécies deamoreiras, Rubus adenotrichus, R. megaloccocuse R. Ulmifolius, já foram erradicadas e agoranove outras espécies estão sob a mira dosprogramas de erradicação.

PÁGINA 43

Foto

: ww

w.fo

rest

ryim

ages

.org

Page 44: Gis Ps America Po

A pior praga de pássaros urbanos do mundo

Em todo o mundo, a principal praga urbana de pássaros é o pomboasselvajado Columba livia, descendente de um pombo europeu domes-ticado. Encontrada em todos os continentes, esta espécie está larga-mente disseminada na América do Sul, mas concentrada nas cidades,onde causa consideráveis danos a construções e monumentos devidoaos seus excrementos corrosivos. Os pombos também representamuma ameaça à saúde, uma vez que são transmissores de uma variedadede doenças, tanto às pessoas – incluindo histoplasmose e ornitose –quanto para criações de aves e para a vida selvagem em geral. Sãopássaros que se alimentam de sementes, grãos e insetos, mas tambémde restos de comida. Em todo o mundo, poucos esforços têm sido feitospara controlar as populações urbanas de pombos; em vez disto, o focoé centrado no manejo dos problemas que eles causam. Edifícios, porexemplo, muitas vezes são “à prova de pombos”, guarnecidos componteiras metálicas ou linhas de nylon regularmente espaçadas deforma a impedir o pouso destes pássaros.

O pardal Passer domesticus é originário da Eurásiae norte da África, porém hoje se encontra larga-mente distribuído em outras partes do mundo. Éprovável que sua introdução inicial na Américado Sul tenha ocorrido em Buenos Aires, em 1872,e a espécie agora é encontrada em todo o conti-nente. Sua distribuição, entretanto, é limitada àsáreas ocupadas pelos seres humanos, uma vez quea espécie depende grandemente das pessoas paraobtenção de comida. Como seu nome sugere,este pássaro é comum em torno das casas, ondeele pode se alimentar de migalhas e de restos decomida. É comum observar pardais comendo emcantinas internas a edifícios, havendo relatos decasos em que eles aprenderam a acionar portasautomáticas para poderem ter acesso às mesmas.Com freqüência eles também são encontradosem estábulos e celeiros, onde comem sementes egrãos. Esta espécie também se alimenta de umavariedade de insetos, aranhas, pequenas frutas ebotões de flores. Na verdade, foi sua dieta gene-ralista que lhe permitiu estabelecer-se fora desua área de ocorrência natural.

Infelizmente, o sucesso do pardal como invasor ocorreàs custas dos pássaros nativos das regiões onde a espéciefoi introduzida. Os pardais constroem seus ninhos emedifícios, mas também em cavidades naturais encontradasem árvores mortas, postes de construção e estacas decercas, e têm sido acusados de causar o declínio deinúmeras outras espécies que também constroem seusninhos nestas cavidades. O invasor compete com taispássaros pelos locais para construção de ninhos e atacaagressivamente aqueles que tentam nidificar em seuterritório. Para tanto, os machos podem destruir os ovos,matar os filhotes e mesmo as fêmeas incubadoras.

VOCÊ SABIA?

O pardal foi acusado de ser o principalhospedeiro para o vírus do Nilo transmitido pormosquitos nos Estados Unidos. Este vírus éamplamente distribuído na África, mas nuncahavia sido identificado no hemisfério ocidentalaté agosto de 1999, quando houve um surto emNova York.

PÁGINA 44

PÁSSAROS PARDAL

Foto: www.ixobrychus-drustvo.si

Page 45: Gis Ps America Po

O estorninho-europeu, ou comum, Sturnusvulgaris é nativo da Eurásia, de onde migra parao norte da África durante o inverno. Foi inten-cionalmente introduzido na América do Norte,Austrália, Nova Zelândia e África do Sul princi-palmente por razões estéticas, mas algumasvezes para controle de pragas de insetos – sendoagora, ironicamente, considerado uma praga emsi. Mais recentemente, foi introduzido naAmérica do Sul, onde se teme que ele sedisperse por grande parte do continente semedidas urgentes não forem tomadas.

Pequenos começos

No momento, o estorninho é encon-trado apenas em uma pequenaparte da Argentina, onde éconhecido como estornino pinto.Acredita-se que tenha sido intro-duzido em Buenos Aires por voltade 1987, estando estabelecido na zona costeirapróxima, entre Tigre e La Plata. A prioridade imediata é aprevenção de sua dispersão Rio da Prata acima até o deltado Paraná e a província vizinha de Entre Ríos, renomadapor sua biodiversidade e alta produtividade. É de vitalimportância aproveitar para erradicar do continente estaespécie invasora enquanto ela está em estágio inicial decolonização e restrita a uma área limitada.

A experiência norte americana ilustra claramente oquão rapidamente esta espécie pode se dispersar a partirde um grupo relativamente pequeno, introduzido em umúnico local. O estorninho foi introduzido nos EstadosUnidos pela primeira vez em 1890, quando 100 indivíduosforam soltos no Central Park, em Nova York, aparente-mente na esperança de que todos os pássarosmencionados nas obras de Shakespeare se estabelecessemno Novo Mundo. Atualmente, o estorninho está ampla-mente distribuído nos Estados Unidos e Canadá, com umapopulação estimada de 200 milhões de pássaros.

O sucesso da espécie como invasora pode ser atribuídoao fato de ser generalista em termos de hábitat, sendo capazde explorar uma grande variedade deles, assim como de locaispara estabelecimento de ninhos e de fontes de alimentos.Sua habilidade para conviver com seres humanos lhepermite estabelecer-se em áreas de agricultura, cidades,estações de tratamento de esgoto e depósitos de lixo.

Risco à saúde e praga agrícola

Os estorninhos-europeus são altamente gregários, juntando-se para comer, pernoitar e migrar, em bandos que podemchegar a milhares de pássaros, porém tendem a fazer ninhosde forma solitária. Seus dejetos causam problemas sani-tários em edifícios e nos seus arredores, são corrosivos parapinturas e gesso e propiciam um meio de cultura para fungosque causam a histoplasmose, doença respiratória humana.

A espécie também causa perdas econômicas na agri-cultura. Constituem uma ameaça potencial para os animaisdomésticos, uma vez que seus excrementos podem trans-mitir doenças por contaminação de fontes de alimentação ede água em currais e galinheiros. Algumas vezes, tambémimpactam a colheita, por comerem frutas cultivadas, especial-

mente amoras e uvas, por arrancaremplantas recém germinadas ecomerem grãos em campos

recém semeados.Os estorninhos têm efeito

negativo sobre a biodiversidade em funçãodas grandes quantidades de insetos,aranhas, caramujos, minhocas, pequenoslagartos e anfíbios que consomem, além de

competir com outros pássaros por estesrecursos. Além disso, competem agressivamente

com pássaros nativos por locais de reprodução,freqüentemente expulsando os demais pássaros

de seus ninhos, destruindo ovos e matando filhotes.Finalmente, podem causar impactos secundários

sobre a biodiversidade ao dispersarem sementes deplantas exóticas invasoras.

Controle

A maioria dos países invadidos não realiza esforçossistemáticos para controlar os estorninhos europeus, sendoque as ações visam unicamente a mitigação dos seusimpactos. Por exemplo, o fechamento de aberturas ou ouso de redes resistentes para cobri-las pode impedir aentrada dos pássaros nas construções, enquantorepelentes disponíveis no comércio, arame afiado outábuas com protuberâncias como pregos podem serutilizados para desencorajar seu pouso em saliências oubeirais de telhados.

Tiras de plástico ou borracha penduradas nasaberturas das construções de fazendas têm sido utilizadascom sucesso para impedir a entrada dos pássaros, sematrapalhar a circulação de pessoas, animais de criação emáquinas. Uma grande variedade de práticas de manejotambém pode ser aplicada nas fazendas, para limitar adisponibilidade de alimento e água para os estorninhos eassim tornar as áreas de produção menos atrativas para osmesmos. Quando economicamente viável, redes podemser empregadas para proteger a produção de frutas comouvas e amoras.

Espantalhos são efetivos para afastar estorninhos degalinheiros, pequenos cultivos de frutas e algumas outrassituações problema, incluindo aeroportos. Entretanto, oenvenenamento com o produto starlicide é o único meioefetivo para exterminar estes pássaros. Os animais envene-nados experimentam uma morte não violenta, morrendo,em geral, entre 24 e 36 horas após a ingestão do veneno.Pré-iscas, não envenenadas, devem ser utilizadas por algunsdias antes do envenenamento, para acostumar os pássarosa alimentarem-se das iscas em um local determinado.

PÁSSAROS ESTORNINHO-EUROPEU

PÁGINA 45

Page 46: Gis Ps America Po

A caturrita Myopsitta monachus é nativa daArgentina, Uruguai, Paraguai e sul do Brasil. Foiamplamente introduzida em outros continentespelo comércio de animais de estimação e esta-beleceu populações que estão se reproduzindoem algumas destas áreas, depois de escaparemdo cativeiro ou de serem deliberadamentecolocada em liberdade. Em 1972, foi solta emSantiago, no Chile, e a partir daí disseminou-sepela maior parte do país.

Animais de estimação que se tornam peste

Como em outros países, milhares de caturritas foramimportadas pelo Chile como animais de estimação, até queisto fosse proibido pelo governo, em 1997. Sendo pássarosmuito adaptáveis, elas rapidamente adaptaram-se ao seunovo lar quando colocados em liberdade. Hoje existemgrupos estabelecidos em mais de 20 cidades de todo opaís, embora a maioria localizada na região central.

PÁSSAROS CATURRITA

PÁGINA 46

Foto

: htt

p://h

omet

own.

aol.c

om

Page 47: Gis Ps America Po

PÁGINA 47

Enquanto a maior parte dos papagaiosfaz seus ninhos em ocos de árvores, ascaturritas constroem com gravetos seusninhos fechados. São aves altamentegregárias, que nidificam próximas umas dasoutras, formando grandes complexossociais. São também muito barulhentas, eseus incessantes gritos provocam, comfreqüência, reclamações de pessoas quemoram nas proximidades.

Em seu hábitat natural estes pássarosnormalmente constroem seus ninhos emárvores, mas nas cidades eles em geral ofazem em postes de eletricidade e torres de comunicação.Algumas vezes isto resulta em cortes de energia, quandoninhos ficam molhados, causando curtos-circuitos, ousobrecarregam transformadores até que eles se incen-deiem. Nos Estados Unidos, companhias elétricas daFlórida, Texas e Chicago se referem a estes pássaros como“ratos com penas”, por considerá-los uma praga tãodestrutiva.

No Chile, onde as caturritas se alimen-tam de frutas de árvores e arbustos de jardinse pomares domésticos, a espécie também éconsiderada um estorvo. Teme-se que ela possavir a causar perdas significativas em plantaçõescomerciais de frutas, caso se disperse domeio urbano para as áreas rurais. E uma vezque grãos e sementes compõem a maiorparte de sua dieta, estes pássaros tambémpoderão se transformar em um problemapara culturas como o milho, a aveia, o sorgo,o arroz e o girassol. De fato, na Argentina aespécie está há muito tempo rotulada como

peste, embora sua reputação possa ser indevida, uma vezque o dano provocado nas colheitas pelas caturritas é emgeral leve, com impactos econômicos menores.

Por este motivo, é ainda incerto se a invasão destaespécie deve ser motivo de preocupação no Chile. Dequalquer maneira, em 2000 o governo implementou umprograma de monitoramento e está investigando possíveismétodos de controle.

Codorna-da-Califórnia

Como o nome sugere, a codorna Callipepla californica éoriginária da costa oeste dos Estados Unidos. É um pássaroque nidifica no solo, popular como espécie de caça, emboraseja às vezes adotado como animal de estimação. Foi intro-duzida pela primeira vez no Chile nos anos 1860, quandoum imigrante trouxe uma dúzia delas da Califórnia e asmanteve em cativeiro em sua fazenda. Os animais esca-param e se estabeleceram em ambiente selvagem. Outrasintroduções se seguiram e hoje a codorna é abundante naregião árida do centro do país. É uma espécie que prefereviver em áreas agrícolas e de vegetação arbustiva, onde sealimenta principalmente desementes, mas também defrutas e insetos. Acredita-seque sua disseminação impactea perdiz chilena Nothoproctaperdicaria, em função decompetição por alimento.

Foto: http://personal.inet.fi

PERD

IZ C

HIL

ENA

Fot

o: w

ww

.ism

.ac.

jp

Foto

: htt

p://s

teve

met

zpho

togr

aphy

.com

Page 48: Gis Ps America Po

PÁGINA 48

A tartaruga-de-orelha-vermelha Trachemysscripta elegans é uma tartaruga de água docenativa do vale do Rio Mississipi, nos EstadosUnidos. Seu nome se deve às listas vermelhas quepossui nos lados da cabeça. Em inglês, o nometambém faz referência ao seu hábito de mer-gulhar rapidamente na água quando perturbada,deixando atrás de si apenas uma ondulação.

Esta tartaruga foi introduzida no mundo todo – princi-palmente pelo comércio de animais para aquário e paraestimação – e tem estabelecido populações no meionatural, depois de escapar e ou ser solta de cativeiros. NaAmérica do Sul, sua presença tem sido reportada eminúmeros corpos d’água em áreas urbanas ou próximasdelas. Há preocupação de que a invasora possa competircom tartarugas e outros animais nativos por comida eespaço.

Animal de estimação popular

A tartaruga-de-orelha-vermelha é um animal de estimaçãopopular, relativamente fácil de criar e que come umagrande variedade de alimentos. As tartarugas jovens, comseu colorido brilhante, são particularmente procuradas.Porém, como elas escurecem com a idade e podem ficargrandes demais para serem mantidas em aquários domés-ticos, muitas pessoas as soltam em corpos d’águapróximos. Outras vezes, são as próprias tartarugas quefogem dos tanques de jardim. Na Ásia, elas também sãofreqüentemente soltas durante cerimônias budistas.

As tartarugas são capazes de se adaptar a uma grandevariedade de ambientes, e se estabelecem com facilidadeem rios de curso lento, lagos rasos, pântanos, tanques, canaisde drenagem e reservatórios. Elas preferem águas calmas,com fundo barrento e vegetação abundante, e têm umadieta onívora generalista. Indivíduos jovens tendem a serprioritariamente carnívoros, tornando-se mais herbívoros à

medida que envelhecem, embora tanto jovens quantoadultos se alimentem, de forma oportunista, de insetosaquáticos, caramujos, pequenos anfíbios e crustáceos e deplantas aquáticas e algas. A espécie se alimenta durante anoite, e passa a maior parte do dia tomando sol, expostasobre pedras, cepos, vegetação ou nas margens. Algumasvezes estas tartarugas inundam ninhos flutuantes de avesao subirem neles, e há relatos de predação de filhotes.

Transmissores de salmonela

Em 1975, a Administração de Alimentos e Drogas (Foodand Drug Administration – FDA) dos Estados Unidos inter-ditou a venda no país de tartarugas-de-orelha-vermelhacom tamanho menor que quatro polegadas. Esta medidadeveu-se ao fato de que os animais estavam sendo criadosem alta densidade, em condições sanitárias inadequadas,cercados de comida em decomposição contaminada comSalmonella. As tartarugas não eram afetadas pelasbactérias, mas funcionavam como vetor de salmonelose,causando milhares de casos da doença em crianças que ascompraram como animal de estimação.

Entretanto, estas tartarugas continuaram a ser criadaspara venda em outros países, e entre 1988 e 1994, apro-ximadamente 26 milhões delas foram exportadas para omercado internacional. Para controlar as infecções bacteri-ológicas, os criadouros passaram a utilizar antibióticos deforma intensiva, o que levou ao surgimento de cepas deSalmonella resistentes a antibióticos. Além da ameaça aosseres humanos resultante, existe o risco de que tartarugasfugitivas ou intencionalmente colocadas em liberdadepossam disseminar doenças e parasitas no ambiente.

Muitos países baniram a importação destas tartarugas,em função principalmente de preocupações com ospossíveis impactos da espécie sobre os ecossistemasnaturais. Entretanto, de três a quatro milhões de filhotessão ainda exportados anualmente pelos Estados Unidos.Em alguns países da Ásia, incluindo China, Malásia eFilipinas, as tartarugas são criadas para servirem dealimento humano.

RÉPTEIS TARTARUGA-DE-ORELHA-VERMELHA

Page 49: Gis Ps America Po

No final da década de 1950, o lagarto teiú Tupinambis merianae,que ocorre naturalmente na área continental do Brasil, Uruguaie Argentina, foi introduzido na pequena ilha de Fernando deNoronha, localizada a 300 km da costa nordeste do Brasil.Naquela época a ilha era usada como base militar, e dois casaisde lagarto foram soltos na expectativa de que, juntamente comseus descendentes, ajudariam a controlar ratos e rãs.Infelizmente, não foi considerado o fato dos lagartos seremanimais de hábitos diurnos, enquanto os ratos são ativos durantea noite!

O teiú, todavia, encontrou uma abundante fonte de alimento nos ovosdos pássaros marinhos que nidificam na ilha. Seu impacto sobre os pássarosque fazem seus ninhos no solo foi tão severo que os mesmos foramobrigados a mudar-se para outras ilhas do arquipélago. O efeito combinadoda predação seguida de redução do espaço de nidificação pode ter causadoo declínio da população de algumas espécies de pássaros. Neste meio tempo,entretanto, a população de lagartos cresceu de forma constante, e em 2004foi estimada entre dois e oito mil indivíduos, em 17 km2 de ilha.

Este exemplo evidencia o impacto que uma espécie pode ter uma vezcruzadas as fronteiras de seu ambiente natural, independentemente defronteiras políticas.

RÉPTEIS TEIÚ

Foto: Caio Borghoff / Proyecto BIOPHOTO

PÁGINA 49

Page 50: Gis Ps America Po

INVERTEBRADOS CARAMUJO-GIGANTE-AFRICANO

PÁGINA 50

O caramujo-gigante-africano Achatina fulica tem, tipicamente, cercade sete centímetros de altura, mas pode chegaraté os 20 centímetros e pesar um quilo. Nativodo leste da África, agora está amplamentedistribuído no sul e no leste da Ásia, bem comoem muitas ilhas da região do Indo-Pacífico e nasÍndias Ocidentais. Durante a década de 1980, aespécie foi introduzida no Brasil para criação de“escargot”, e atualmente encontra-se dissemi-nado em pelo menos em 15 dos 26 Estadosbrasileiros.

Incômodo público

Longe de seus inimigos naturais, o caramujo-gigante-africano multiplica-se rapidamente, tendo se tornado umapraga destrutiva para inúmeras culturas e plantas dejardim. Como também se alimenta de vegetação nativa,algumas vezes este invasor causa problemas ambientaispor alterar hábitats e competir com outros caramujos poralimento. Às vezes podem ocorrer explosões populacionaisque transformam a espécie em incômodo público, aocobrir rodovias e caminhos e perturbar a movimentaçãohumana. Adicionalmente, o caramujo é um vetor paradoenças como a meningite eusinofílica, causada por umorganismo parasita do pulmão de ratos que passa para os

seres humanos através de caramujos consumidos crus ouimpropriamente cozidos.

Embora seja uma espécie tropical, o caramujo-gigante-africano é capaz de sobreviver a condições adversas –mesmo neve - por hibernação. Em função disto, também éuma ameaça potencial para áreas de climas mais frios esecos. Embora em muitos casos este caramujo tenha sido

introduzido intencionalmente como alimento, para usomedicinal ou como espécie ornamental, ele tambémpode ser acidentalmente importado via comércio

agrícola ou de viveiro, quando solo, plantas ou materialde embalagem estão contaminados com seus ovos. Umavez introduzidos, os ovos são comumente dispersadosatravés de resíduos de jardins e do solo aderido aosequipamentos utilizados.

Controle

Os caramujos são hermafroditas – possuem órgãos sexuaisfemininos e masculinos – e após um único acasalamentopodem colocar até 1.200 ovos em um ano. A eficáciadesta estratégia reprodutiva é destacada por um estudo decaso sobre a introdução e subseqüente erradicação daespécie na Flórida, Estados Unidos. Em 1966, um rapazcontrabandeou três caramujos-gigantes-africanos do Havaípara Miami, e sua avó solto-os no jardim. Três anos depois,as autoridades estaduais lançaram uma campanha deerradicação – que custou, ao final, mais de um milhão dedólares – sendo que em 1973 mais de 18 mil caramujosforam encontrados!

O sucesso da campanha de erradicação na Flóridapode ser atribuído à detecção precoce do invasor, uma vezque depois de estabelecida a espécie é extremamentedifícil de erradicar. A coleta manual seguida de disposiçãoadequada permanece sendo o método de controle maisseguro. Alguns programas advogam o uso de armadilhascom utilização de cerveja como isca. Outros introduziram oenvenenamento com produtos específicos para moluscos emesmo a utilização de lança-chamas para queimar oscaramujos vivos, porém existem preocupações em relaçãoà segurança destes métodos. O controle biológico tambémnão obteve sucesso no caso deste invasor. O caramujocarnívoro Euglandina rosea foi introduzido como agentede controle em mais de 20 ilhas oceânicas e em diversospaíses da Ásia, com conseqüências desastrosas. Além denão haver evidências de que esta introdução tenhacontrolado com sucesso o caramujo-gigante-africano, elaprovocou a extinção ou o declínio de várias espéciesnativas de caramujos em todos os lugares onde foirealizada.

Em agosto de 2004, uma campanha pública deconscientização e coleta foi lançada na cidadebrasileira de Manaus. Funcionários municipais,com ajuda de escolares e de ONGs, disseminaraminformações sobre a necessidade de controle docaramujo-gigante-africano e demonstraramtécnicas apropriadas de coleta.Fo

to: w

ww

.aph

is.us

da.g

ov

Page 51: Gis Ps America Po

A formiga-cabeçuda Pheidole megacephala éuma formiga pequena, mas que possui, comoseu nome indica, uma cabeça desproporcional-mente grande. Acredita-se que seja originária dosul da África, porém hoje se encontra distribuídapor todas as zonas temperadas e tropicais domundo, em função de ser uma “espécieandarilha” dispersada através do tráfego e docomércio internacionais.

Na América do Sul, um levantamento realizado em trêscidades brasileiras revelou que a formiga-cabeçuda era aespécie de formiga dominante em ambientes residenciais.Esta formiga é considerada uma praga doméstica porqueinvade depósitos de alimentos e rói cabos telefônicos e fioselétricos. Em áreas agrícolas, freqüentemente danificatubulações plásticas utilizadas na irrigação. A espécietambém impacta negativamente a agricultura ao comersementes e promover surtos de peste de insetos, como acochonilha, que reduzem a produtividade das colheitas.Em troca da secreção adocicada produzida por estesinsetos ápodos, a formiga-cabeçuda os protege depredadores como vespas e aranhas, e os transporta paraoutras plantas hospedeiras, onde podem formar novaspopulações. Em altas densidades, as cochonilhasenfraquecem a planta por sugarem sua seiva, além depossibilitarem a presença dos fungos que colonizam asolução açucarada. Associados, este fatores causam mortedas copas ou mesmo da planta inteira. Em algumas áreas,entretanto, a formiga-cabeçuda é usada como agente decontrole biológico. Em Cuba, por exemplo, os agricultoresdistribuem as formigas em suas plantações de batata doce

e de banana para controlar gorgulhos e outros insetosconsiderados pragas.

A formiga-cabeçuda é uma séria ameaça para a biodi-versidade. Seu comportamento agressivo provoca o deslo-camento de espécies nativas de formigas e de outros inver-tebrados, freqüentemente inibindo polinizadores naturaise eliminando itens importantes da dieta de populaçõesvertebradas. Estas invasoras devoram invertebrados epodem até mesmo matar pequenos vertebrados, comofilhotes de pássaros. Em um estudo realizado em umafloresta tropical no norte da Austrália, foi constatada aimplicação da formiga-cabeçuda na redução dramática daabundância de invertebrados nativos.

Medidas de controle contra esta espécie invasoraconsistem tipicamente na utilização de iscas tóxicas ebarreiras. O uso controlado do fogo também pode serefetivo, pois torna o ambiente desfavorável para a formiga,podendo destruir colônias inteiras.

A formiga-de-fogo em Galápagos

A formiga-de-fogo Wasmannia auropunctata é originária das Américas Centrale do Sul, mas invadiu inúmeros grupos de ilhas do Pacífico – incluindo oarquipélago equatoriano de Galápagos – bem como o Gabão e Camarões, paísesdo costa oeste da África. É também considerada uma peste em estufasde regiões temperadas como a Inglaterra e o Canadá.

Nas Ilhas Galápagos, esta formiga devora insetos e aranhas,reduzindo de tal forma a abundância e a diversidade destes que outros predadores,como pássaros e lagartos, acabam sendo negativamente impactados. Ela tambémcontribui para o aumento das populações de espécies invasoras de insetos, uma vez que protegemestas pragas sugadoras dos predadores, em troca da excreção açucarada. Esta formiga invasora podeaté mesmo afetar o comportamento reprodutivo e reduzir a taxa de reprodução de répteis e aves,sendo conhecida, por exemplo, por atacar os olhos e a cloaca de tartarugas quando estas estão pondoseus ovos, e por comer seus filhotes.

Em 2001, foi iniciado um programa de erradicação dessas formigas na Ilha de Marchena, ao norte doarquipélago. Transectos distantes aproximadamente dez metros um do outro foram abertos na vegetaçãode uma área infectada de 20 hectares e em outros 6 hectares de uma zona tampão. Entre março eoutubro daquele ano foram feitas três aplicações de iscas específicas para a formiga, usando Amdro®

(Hydramethylnon). Desde então, foram realizados seis levantamentos de monitoramento, sendo quenos últimos três não foram encontradas formigas-de-fogo. O monitoramento, que envolve uso demilhares de estacas lambuzadas com manteiga de amendoim para servirem como isca, vai continuarpor mais dois anos, para assegurar a erradicação de qualquer população remanescente. O programa deGalápagos representa a maior campanha de erradicação desta espécie invasora já realizada no mundo.

PÁGINA 51

INVERTEBRADOS FORMIGA-CABEÇUDA

Page 52: Gis Ps America Po

A abelha-africanizada Apis mellifera L. scutellataé um híbrido resultante do cruzamento entrelinhagens européias e africanas. Esta abelhadisseminou-se rapidamente após ter sido intro-duzida no Brasil, na década de 1950, avançandosobre as Américas do Sul e Central a taxas de até450 quilômetros por ano. Esta rápida expansãofoi possível porque a espécie tende a formarenxames mais rapidamente que as demaisabelhas, e é menos seletiva na escolha do localpara estabelecimento das colméias.

Origens

Em 1956, o Ministério da Agricultura do Brasil importou daÁfrica do Sul algumas rainhas de abelhas africanas, comobjetivo de criar, por seleção e melhoramento genético,uma abelha que fosse melhor adaptada ao clima quente eúmido do país. A abelha-européia, introduzida na Américado Sul algumas décadas antes, não havia se adaptado àscondições locais de forma plenamente satisfatória.

As rainhas africanas foram colocadas em quarentenaem uma estação de pesquisa, onde foram cruzadas comzangões europeus. As 29 colônias de abelhas híbridas

resultantes foram mantidas em caixas de colméiaequipadas com dispositivo para exclusão da rainha –

precaução para evitar a fuga da rainha e assimeliminar o perigo de disseminação. Em outubro de

1957, os dispositivos foram removidos por um criador deabelhas que passava pelo local, e as abelhas fugiram e seestabeleceram numa floresta próxima. Dentro de poucosanos, começaram a surgir registros de ataques de abelhasa pessoas e animais da área rural do entorno.

Em pouco tempo, a abelha-africanizada disseminou-setanto para o norte como para o sul do continente. Seulimite de invasão está em torno de 34 graus de latitude sul,embora condições periódicas de clima ameno permitam-lhe expandir esse limite de forma temporária ainda umpouco mais para o sul. Ao norte, o primeiro enxame foidetectado nos Estados Unidos, em Hidalgo, no Texas, em1990. Desde então, a abelha expandiu-se para o NovoMéxico, Arizona, Califórnia e Nevada, porém seuprogresso diminuiu nos últimos tempos, sugerindo que ainvasão possa ter atingido seu limite norte.

Abelhas assassinas

As abelhas-africanizadas foram apelidadas de “abelhas assassinas” pela mídia, devido aos seus agres-sivos ataques terem com freqüência resultado na morte das vítimas. Estes insetos reagem defensiva-mente a qualquer barulho ou vibração nas vizinhanças da colméia, saindo em grande número paraferroar os intrusos. Além do perigo que representam para o público em geral, estas abelhas perturbamas atividades em áreas rurais, ameaçando trabalhadores e animais de criação. Há também preocupaçãode que possam competir com polinizadores nativos, ameaçando perturbar ecossistemas inteiros.

Entretanto, é a produção de mel que tem sido mais afetada por estas invasoras. As abelhas-africa-nizadas tendem a investir mais na geração de descendentes do que em estocar mel e provavelmentelevam as abelhas-européias a produzir menos, ao competirem com elas pelas fontes de néctar. Outroaspecto negativo é que as invasoras abandonam com maior freqüência as colméias, uma vez que semovem mais do que as demais abelhas. Na Venezuela, por exemplo, a taxa de abandono de colméiasde abelhas-africanizadas é da ordem de 10%, o que se reflete em maiores custos para os produtoresde mel. Além disso, as abelhas utilizadas para polinização devem ser levadas para campo à noite,quando ficam mais calmas e, portanto, menos sujeitas a atacarem ou fugirem. Como compensação porterem de trabalhar à noite, vestirem pesadas roupas de proteção e enfrentarem grande risco de serempicados, os trabalhadores demandam maiores salários, compondo mais um aspecto do impactoeconômico destas invasoras.

Foto

: ww

w.in

vasiv

e.or

g

INVERTEBRADOS ABELHA-AFRICANIZADA

PÁGINA 52

Page 53: Gis Ps America Po

A vespa-européia Vespula germanica é um insetosocial nativo da Europa, norte da África e Ásiatemperada, mas que alcançou uma distribuiçãoquase global, estando hoje estabelecida naÁfrica do Sul, Nova Zelândia e Austrália, bemcomo nas Américas do Norte e do Sul. Nestaúltima, a espécie foi introduzida inadvertida-mente no início dos anos 1970, no Chile, e umadécada mais tarde foi observada pela primeiravez na Argentina, na província de Neuquén.Agora ela ocorre em todo norte da Patagônia,onde as condições climáticas são semelhantes àsde sua área de ocorrência natural, e tem possi-bilidade de invadir outras áreas do continente.

Peste

Em muitas das regiõesinvadidas, a vespa-européia é uma pestedestrutiva. Isto se deveem parte à sua naturezaagressiva – tem a tendência deatacar intrusos, picando-os repetida-mente – mas também por causa da abrangênciade sua dieta. Esta vespa come praticamentequalquer alimento à base de carboidrato oude proteína, incluindo néctar, frutas e carne –tanto morta como viva. Alimenta-se decarcaças de animais, inclusive peixes, mastambém caça vorazmente insetos earanhas. Seus hábitos predatórios, junta-mente com sua habilidade na competição comespécies nativas por alimento, causam preocupação emrelação ao seu impacto sobre a biodiversidade.

A vespa-européia também provoca impactoseconômicos, uma vez que causa perdas para produtores defrutas e de mel. Ela ataca colméias para alimentar-se dasabelhas e roubar pólen e mel, e danifica alguns tipos defrutas, reduzindo seu valor de mercado e deixando-as maissuscetíveis a infecções. Adicionalmente, esta invasora éuma ameaça para as pessoas que trabalham na colheitadas frutas, que podem ser violentamente picadas ao esbar-rarem em seus ninhos. Animais de criação e de estimaçãotambém correm o risco de serem atacados. Em áreasurbanas, as vespas são um incômodo para as pessoas quecomem ao ar livre e são particularmente perigosas paraaquelas alérgicas à sua picada.

Novos começos

Tipicamente, a vespa-européia tem um ciclo de vida anual.A colônia de cerca de 5 mil operárias morre no final dooutono e a rainha passa o inverno hibernado em um localprotegido e bem isolado termicamente. Isto temcontribuído para a dispersão da espécie pelo mundo, umavez que as rainhas algumas vezes são inadvertidamentetransportadas para novos locais junto com cargas. Com a

chegada do calor, a rainha emerge para fundar uma novacolônia nas proximidades, em cavidades do solo,folhagem, troncos de árvores, material empilhado ou nacobertura ou em paredes de construções. Os ninhos sãoconstruídos com madeira picada, tarefa assumida poste-riormente pelas operárias.

Em algumas regiões quentes, na Nova Zelândia eAustrália, a colônia não morre ao final do outono, mas viveo ano todo e torna-se polígama, composta por inúmerasrainhas e milhares de operárias.

Controle

Inseticida na forma de spray ou pó pode ser aplicado nosninhos, com uso de equipamentos de proteção individual

para o caso da colônia se dispersar.Armadilhas elétricas com ultra-violetamatam as vespas individualmente, mas a

maior parte dos pro-gramas de controle ébaseado no uso de iscas

envenenadas. O venenoFipronil é adicionado a iscas

protéicas, como carne ou peixepicado, evitando-se assim atrair abelhas. Asestações com as iscas são posicionadas adistâncias regulares, em disposição de rede.

Uma pequena vespa parasita,Sphecophaga vesparum, foi introduzida naAustrália como agente de controlebiológico, mas não parece ter se esta-belecido. Esta vespa parasita deposita seusovos nas células contendo as pupas da

vespa-européia; uma vez rompidos os ovos, as larvasalimentam-se das pupas, matando-as.

VOCÊ SABIA?

No Chile, a vespa-européia causa perdas na pro-dução de uva da ordem de 10 a 30%. Ela tambémgera preocupações com segurança nas reservasflorestais que são importantes para o turismo.

INVERTEBRADOS VESPA-EUROPÉIA

PÁGINA 53

Foto

: ww

w.fu

net.f

i

Page 54: Gis Ps America Po

PÁGINA 54

A navegação é a principal rota de dispersão paraintrodução de espécies exóticas invasorasmarinhas. Vetores associados incluem água delastro e sedimentos, água de porão e incrus-tações no casco e em outras partes da embar-cação.

Nos últimos anos, esforços de regulação têm sidodirecionados para água de lastro e sedimentos a elaassociados. Estima-se que mais de 14 bilhões de toneladasde água de lastro são transferidas anualmente em todo omundo, sendo que a qualquer momento entre 7 a 10 milorganismos marinhos podem estar presentes. E uma vezque o ciclo de vida da maior parte das espécies marinhasinclui um estágio planctônico, estes organismos incluemexemplos de virtualmente todas os táxons, de vertebradosa micro-organismos. Adicionalmente, os sedimentosassociados à água de lastro comumente abrigam cistos deespécies como dinoflagelados, que podem permanecer emestado de latência até serem depositados em ambienteadequado para seu desenvolvimento.

No início da década de 1990, em um esforço paralimitar a transferência de espécies marinhas via água delastro, a Organização Marítima Internacional (InternationalMaritime Organisation – IMO) constituiu um grupo detrabalho para tratar do tema. Isto resultou, em 1993, naadoção de um conjunto de diretrizes para o manejo daágua de lastro, com uma versão revisada em 1997. Estasdiretrizes recomendam diversas medidas destinadas areduzir o risco de introdução de espécies exóticas,incluindo a troca da água de lastro no oceano, remoçãoregular dos sedimentos contidos nos tanques de lastro etratamento da água de lastro e dos sedimentos antes dadescarga. Posteriormente, a IMO desenvolveu um instru-mento legal, a Convenção Internacional para Controle eManejo da Água de Lastro e Sedimentos de Navios. AConvenção foi adotada em fevereiro de 2004, mas aindanão está implementada.

A IMO também iniciou, em colaboração com oPrograma de Desenvolvimento das Nações Unidas e comfundos do Mecanismo Global de Facilitação (Global

INVASORES AQUÁTICOSÁGUA DE LASTRO E SEDIMENTOS

Page 55: Gis Ps America Po

PÁGINA 55

Environment Facility – GEF), um programa denominadoPrograma Global de Manejo de Água de Lastro (GlobalBallast Water Management Programme, ou Globallast). Oprograma visa assistir países em desenvolvimento naimplantação das Diretrizes Voluntárias e prepará-los para aimplementação da Convenção. A primeira fase doGloballast (2002 – 2004) incluiu seis países piloto: Áfricado Sul, Brasil, China, Índia, Iran e Ucrânia. As atividadesdesenvolvidas incluíram revisão da legislação, melhoria daconscientização, treinamento técnico, inspeções de portose análise de risco em áreas demonstrativas.

No Brasil, a área de demonstração escolhida foi a Baia deSepetiba, no Estado do Rio de janeiro. As inspeções no portoforam realizadas entre novembro e dezembro de 2001, eidentificaram inúmeras espécies introduzidas e criptogênicas.

Atividades regionais viram o estabelecimento, em

dezembro de 2003, de um grupo regional ad-hoc paralidar com as questões relacionadas à água de lastro.

A primeira Oficina Regional Sul-Americana sobre Con-trole de Água de Lastro e Manejo de Espécies AquáticasInvasoras foi realizado em Brasília, Brasil, de 26 a 28 deabril de 2004, para estabelecimento de um plano de açãoestratégico regional, bem como para preparação dostermos de referência do grupo regional ad-hoc. Partici-param representantes da Argentina, Brasil, Paraguai eUruguai, bem como observadores do Chile e da Colômbia.

Uma segunda fase do Globallast foi iniciada em 2005.Sugere-se que as atividades iniciais sejam construídas apartir das ações já realizadas para serem então expandidasa áreas novas.

Mais informações podem ser obtidas no sitehttp://www.mma.gov.br/aguadelastro

IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HUMANA

Afora os impactos ecológicos e econômicos, diver-sas espécies transportadas em águas de lastro ede porão têm impactos sobre a saúde humana,incluindo espécies que causam florações tóxicasde algas e agentes patogênicos humanos respon-sáveis por doenças como o cólera.

Várias cepas da bactéria causadora do cóleraforam introduzidas na América do Sul, Golfo doMéxico e em outras áreas através deste vetor. Em1991, um cargueiro proveniente do sul da Ásiaesvaziou seus tanques de lastro na costa do Peru.

Junto com as águas servidas foi liberada uma cepaque reproduziu-se bem nas águas costeirasexcepcionalmente quentes e muito poluídas. Aepidemia começou simultaneamente em três dife-rentes portos. A bactéria Vibrio cholerae passoupara moluscos e crustáceos e destes para os sereshumanos, matando cerca de cinco mil pessoas.Além disso, o suprimento de água não tratadalevou o cólera para dentro das casas das cidadesperuanas. Esta epidemia devastadora estendeu-se pela América do Sul, afetando mais de ummilhão de pessoas e registrando, até 1994, maisde dez mil mortes.

Foto

: ww

w.fl

ying

chai

r.net

Page 56: Gis Ps America Po

O mexilhão-dourado Limnoperna fortuneié um molusco de água doce nativo daChina e do sudeste asiático. Duranteos anos 1960 a espécie tornou-seestabelecida em Hong Kong, e aseguir no Japão e em Taiwan. Em1991, foi detectada na América doSul, na foz do Rio da Prata, entre aArgentina e o Uruguai, muito pro-vavelmente trazido com a água delastro dos navios que circulam nosportos de Buenos Aires e Montevidéu.Auxiliado pela movimentação humana e pelotráfego de embarcações, o mexilhão rapidamentese dispersou rio acima, avançando a taxasmédias de 240 quilômetros por ano. Atualmente,sua ocorrência é constatada em toda a bacia doRio Paraná, que liga Argentina, Uruguai, Paraguai,Brasil e Bolívia.

Jogo sujo

Como invasor, o mexilhão-dourado tem impacto muitosemelhante ao causado pelo mexilhão zebra Dreissenapolymorpha nos Grandes Lagos e hidrovias adjacentes, naAmérica do Norte. Em alguns locais, causa problemas deincrustação massivos, sendo o principal deles a obstruçãode tubulações e filtros de água de estações de tratamento,indústrias e usinas de energia elétrica. A redução da vazãode água decorrente compromete a eficiência dos processose constitui um risco para os sistemas de resfriamento. Alémdisso, o aumento de hábitat para micro-organismos resultaem aumento de corrosão das superfícies. Mexilhõesmortos poluem os sistemas de água potável, enquantoconchas vazias agravam os problemas de obstrução.

O mexilhão também pode afetar estações deaqüicultura, incrustando gaiolas e redes e competindo comoutros consumidores de plâncton. Além disso, o mexilhãocostuma ser um passageiro indesejado nos barcos depesca, turismo ou comerciais que circulam em rios infes-tados. Ao se incrustarem nos cascos dos barcos, além dorisco de danos às superfícies dos mesmos, aumentam oatrito, reduzindo a velocidade e aumentando o consumode combustível, enquanto a obstrução das tubulações deágua pode causar o superaquecimento do motor, comconseqüências de alto custo.

Os impactos econômicos produzidos pelas obstruçõese pelas contínuas ações paliativas que elas demandam nãosão os únicos causados pelo mexilhão-dourado. Igualmentepreocupantes são os impactos ambientais provocados poresta espécie invasora. Sua elevada capacidade reprodutivaimplica em crescimentos populacionais rápidos, comformação de colônias densas e homogêneas, que acabamprovocando a redução da biodiversidade bêntica (dosanimais que vivem no fundo dos corpos d’água). Moluscosnativos são sufocados e morrem de fome à medida que osmexilhões se instalam em cima deles e competem poralimento. Outros invertebrados e plantas aquáticas são

desalojados em função de modificações noambiente. Ao menos uma espécie de

peixe já alterou sua dieta, trans-formando os abundantes mexilhões noitem principal de sua alimentação, e

outros predadores vertebrados sem dúvidatambém alteraram sua preferência

alimentar em resposta às invasões. O efeito-cascata desta espécie

invasora na cadeia alimentar é especial-mente perturbador dado que o mexilhão-

dourado atingiu o Pantanal, planície inundávelque se espalha pelo Brasil, Bolívia e Paraguai. Com umaárea que chega a aproximadamente 150 mil km2 durante aestação das chuvas, o Pantanal é a maior área úmida doplaneta, e é reconhecido pela ONU como Patrimônio daHumanidade, em função da riqueza de sua biodiversidadee da abundância de vida selvagem. Por sorte, o fenômenonatural conhecido por “dequada” pode limitar o esta-belecimento do mexilhão-dourado no Pantanal. Estefenômeno leva à diminuição anual das concentrações deoxigênio na água durante a estação das cheias, e omexilhão invasor não é capaz de sobreviver a condiçõesextremas de baixo oxigênio.

Cooperação regional e experiência inter-nacional

Em resposta às ameaças trazidas pelo mexilhão-dourado, oMinistério do Meio Ambiente brasileiro criou uma forçatarefa para combater o invasor, ao mesmo tempo em quelançou um plano de ação emergencial para prevenir oaumento de sua dispersão.

O Brasil também juntou forças com a Argentina, oParaguai e o Uruguai, para troca de conhecimento e expe-riência. O projeto mexilhão-dourado dentro do Programade Água de Lastro Globallast reuniu uma equipe multi-nacional de pesquisadores e marcou o início, na Américado Sul, de cooperação regional com relação às questões daágua de lastro e das invasões biológicas em meio aquático.

Os trabalhos estão sendo conduzidos a partir da exper-iência da América do Norte com o mexilhão-zebra, einúmeros métodos de controle estão sendo avaliados paraposterior adoção contra o mexilhão-dourado. Estesmétodos incluem limpeza mecânica, tratamento químico etérmico, explosão de bolhas de dióxido de carbono,aplicação de tintas anti-incrustantes, congelamento edissecação. O tratamento com solução de cloro aquecidamata mexilhões incrustados em sistemas de água e podeser utilizado posteriormente como medida de manutençãopara prevenir novas infestações. Neste caso, é importanteo tratamento da água residual, que não deve ser lançadano ambiente dada sua toxidade para outros organismos.

Vários métodos para tratamento de água de lastro têmsido igualmente propostos, incluindo filtração para remoçãode organismos clandestinos, ou aplicação de biocida,ozônio, luz ultravioleta ou corrente elétrica. Entretanto, atéo presente, a maior parte desses métodos é impraticável

MOLUSCOS MEXILHÃO-DOURADO

PÁGINA 56

Page 57: Gis Ps America Po

ou economicamente inviável na América do Sul.Cuidados especiais devem ser tomados quando do

transporte de pequenos barcos, como lanchas e iates, deuma área para outra. Todos os organismos incrustados nocasco e trailer devem ser raspados bem longe da água eapropriadamente dispostos. A exposição do barco em terradurante uma semana, com tempo quente e seco, mata amaior parte dos mexilhões, fazendo com que os mesmosse soltem ou sejam mais facilmente raspados. O casco,porão e trailer podem também ser enxaguados com umasolução diluída de cloro (meio litro de cloro em 10 litros deágua), tomando-se cuidado para que esta não contaminenenhum corpo d’água próximo. Finalmente, nunca deveser transportada água ou areia de um corpo d’água a

outro, em caso de haver possibilidade da presença dasmicroscópicas larvas de mexilhão-dourado na mesma.

EXPLOSÃO POPULACIONAL!O primeiro registro sul americano da presença demexilhão-dourado ocorreu em Bagliardi, pertode Buenos Aires, em 1991. Naquela oportunidade,a densidade populacional era de apenas 5mexilhões por m2, porém um ano depois jáatingia 36 mil por m2. Em 1993, este número jáhavia mais do que dobrado, chegando a 80 milpor m2 e por volta de 1998 alcançou a incrívelcifra de 150 mil mexilhões por m2!

PÁGINA 57

Outras invasões marinhas na costa sudeste da América do Sul são:

• O invertebrado Balanus glandula, originário da região nordeste do Pacífico, que colonizou o Rio daPrata nos anos 1960 e atualmente ocorre como um cinturão entre as zonas de maré alta e baixa emcostas rochosas.

• A minhoca australiana Ficopomatus enigmaticus, que forma extensos recifes e com isso modifica osecossistemas estuarinos, e

• A ostra Crassostrea gigas, também do Pacífico, que está se dispersando rapidamente em baías rasas.

MINHOCA Foto: www.californiabiota.com

BERB

IGÃ

O F

oto:

ww

w.n

wm

arin

elife

.com

OST

RA F

oto:

htt

p://h

ome.

plan

et.n

l

Page 58: Gis Ps America Po

PÁGINA 58

O berbigão-asiático Corbicula fluminea é ummolusco de água doce nativo do sudeste da Ásia,mas que hoje se encontra bem estabelecido naEuropa, Austrália, África e Américas do Norte edo Sul. Sua introdução no continente sul-americano provavelmente ocorreu no final dadécada de 1960 ou no começo da seguinte,através da água de lastro de naviosmarítimos que visitaram os portosestuarinos da costa atlântica. Naseqüência, a espécie expandiu-secontinente adentro através debarcos que percorrem os riosdestas regiões. Atualmente,ocorre desde a Patagônia argen-tina até o sul da Venezuela,incluindo o extremo sul da BaciaAmazônica, no Brasil.

Incrustração biológica

Em sua área de ocorrência natural, o berbigão-asiático écoletado e cultivado para consumo humano e para alimen-tação em criadouros de aves. De fato, sua introdução naAmérica do Norte, na segunda metade do século XIX, éatribuída aos imigrantes chineses relutantes em abandonarum de seus alimentos prediletos. Longe de seus inimigosnaturais, este molusco invasor foi capaz de crescer e sedispersar rapidamente, em grande parte devido à excep-cional capacidade reprodutiva. A espécie é hermafrodita –possui, ao mesmo tempo, órgãos sexuais femininos e

masculinos – é pode se auto-fecundar, o que significa queum único indivíduo jovem pode iniciar a formação de umanova colônia. Colônias com 10 ou 20 mil mariscos por m2

não são incomuns, sendo que na Califórnia foram repor-tadas densidades que chegaram a 131 mil indivíduos por

m2. Estes números demonstram claramente o elevadopotencial de competição do berbigão-asiático com

moluscos nativos por espaço e comida.Mais preocupante, do ponto de vista

econômico, é o problema de incrustaçãobiológica causado por este invasor. Em

muitas das áreas onde se estabeleceu,o berbigão-asiático entope tubulaçõesde água e obstrui canais de irrigação edrenagem, algumas vezes com conse-

qüências desastrosas. Medidas mitigatóriassão caras, consomem tempo e são, com

freqüência, ambientalmente impactantes.Por exemplo, o controle térmico – uso de água

aquecida para matar os berbigões – é freqüentemente im-praticável, enquanto o controle químico com uso de cloro oubromo pode matar muitos outros organismos não visadosexistentes no mesmo ambiente. Telas e armadilhas podemser utilizadas nos sistemas de água para inibir a entrada deberbigões adultos e o acúmulo de conchas, mas o métodomais efetivo para evitar problemas de incrustação éprevenir a introdução e a dispersão da espécie em novasáreas. Neste sentido, ações preventivas incluem implemen-tação de medidas de controle de água de lastro e de águade porão dos navios, assim como limitação do transportede berbigões como fonte de alimento ou iscas vivas.

MOLUSCOS BERBIGÃO-ASIÁTICO

ATAQUE NUCLEAR!

Em 1980, berbigões-asiáticos obstruíram o sistema de água de uma planta de energia nuclear noArkansas, comprometendo seu sistema de proteção contra incêndios. A Comissão Regulatória deEnergia Nuclear dos Estados Unidos determinou a parada da planta, bem como a inspeção de todas asplantas da região, para avaliação do risco à segurança provocado pelas incrustações desta espécieinvasora. Os berbigões foram encontrados em 19 das 32 plantas, com outras 11 em risco devido àproximidade dos mesmos. O cumprimento desta diretiva custou cerca de 4,5 milhões de dólares.Durante a década de 1980, perdas associadas à presença destes moluscos invasores em sistemas deabastecimento de água e plantas industrias provocaram custos estimados em um bilhão de dólares por ano.Fonte: www.sgnis.org/publicat/nespp_4.htm

Foto

: ww

w.ii

sgcp

.org

Foto

: ww

w.d

igisc

hool

.nl

Page 59: Gis Ps America Po

A alga-gigante-japonesa Undaria pinnatifida énativa do noroeste do Pacífico, mais precisa-mente das costas do Japão, Coréia, Rússia eChina. No Japão – onde é conhecida por wakame–é comercialmente explorada e intensivamentecultivada, por ser um alimento muito apreciado eum dos ingredientes principais da sopa de missô.Em função de introduções para fins deaqüicultura ou inadvertidas via navios, esta algaagora ocorre em Taiwan, na Austrália, na NovaZelândia, na Europa, na costa oeste da Américado Norte e na costa leste da América do Sul.

Indesejada na Argentina

Na América do Sul, a alga-gigante-japonesa foidetectada pela primeira vez em dezembro de1992, em pilares do cais do porto de PuertoMadryn, no Golfo de Nuevo, na Argentina. Suaintrodução provavelmente ocorreu através daágua de lastro ou do casco de algum naviocargueiro ou de pesca proveniente do Japão ouda Coréia. Em 1999, a alga já havia se dispersado pormais de 30 quilômetros ao longo da costa do Golfo deNuevo, tendo sido encontrada também em CaletaMalaspina, 500 quilômetros ao sul.

Esta alga prefere águas protegidas, como as debaias e enseadas, e ocorre da zona de entre-marésaté profundidades de 15 a 20 metros, em águasclaras. Cresce rapidamente – até 10 vezes maisrápido que a maioria das algas – e gera densasformações com densidades até 250 plantas por m2. Oespesso dossel dessas formações reduz a penetração de luze o movimento da água, levando à exclusão ou ao desalo-jamento de espécies nativas de plantas e animais, emfunção de modificação do hábitat. No Golfo de Nuevo, asestruturas pelas quais as algas se fixam nas rochassofreram hipertrofia e se emaranharam nas pequenas algastípicas da região, de forma que a retirada de qualquer algaprovoca distúrbios significativos na comunidade bêntica.Algas levadas pelas ondas para a praia refletem o impactodesta invasora na composição das espécies – a presença dealgas nativas decresceu dramaticamente na composição dealgas encontradas nas praias, que agora é dominadas pelaalga-gigante-japonesa.

Além destes efeitos sobre a biodiversidade, estainvasora pode gerar impactos econômicos negativos.Sendo uma espécie oportunista, é capaz de se fixar empraticamente qualquer substrato, em especial naquelespróximos à linha d’água. A limpeza de cascos de embar-cações, bóias, estruturas de atracadouros e tubulações de

água exige procedimentos demorados e caros. Pela mesmarazão, a alga-gigante-japonesa ameaça também asoperações de aqüicultura, uma vez que pode incrustar-senas estruturas utilizadas – gaiolas de peixes, gaiolas deostras e cordas de mexilhões - restringindo a circulação deágua e aumentando a demanda de mão-de-obra.

Ameaça microscópica

A aqüicultura é o maior vetor de introdução da alga-japonesa – acredita-se, por exemplo, que a espécie foiintroduzida pela primeira vez na Europa através de ostrasjaponesas importadas pela França. Portanto, é de vitalimportância para a prevenção de novas invasões que otransporte relacionado à aqüicultura seja acompanhado deprocedimentos rigorosos de quarentena, uma vez que acontaminação por esta invasora é de difícil detecção.

A alga-japonesa é uma espécie anual, cujo ciclo devida é composto por dois estágios. A planta adulta, deno-minada esporófito, cresce durante o inverno, alcançando de uma três metros de comprimento. À medida que o verão se

aproxima, o esporófito começa a liberar esporos – cerca de100 milhões por planta – que se dispersam antes de seestabelecerem. Uma vez que todos os esporos

tenham sido liberados, o esporófito morre. Osesporos, por sua vez, germinam emmicroscópicos gametófitos masculinos e

femininos. Quando as condições são favoráveis,os gametófitos produzem esperma e esporos,que uma vez fertilizados se desenvolvem emnovos esporófitos.

Os minúsculos gametófitos não são visíveisa olho nu, de forma que sua presença em produtos eequipamentos para aquacultura pode facilmentepassar desapercebida. Os gametófitos sobrevivempor meses na ausência de luz, e podem formar

paredes espessas durante estágios de dormência paralongas viagens como clandestinos em água de lastro.

Os gametófitos são também bastante tolerantes àdessecação, o que lhes permite sobreviver nas

fendas de botes ou trailers enquanto uma embar-cação permanece em doca seca ou é transportada porterra, ou ainda em redes ou cordas de barcos de pesca oude lazer, quando estes se deslocam de uma área paraoutra. O esporófito pode igualmente ser transportado porlongas distâncias, aderido ao casco de navios – a alga-gigante-japonesa é conhecida por sobreviver a viagens demais de 4 mil quilômetros!

A natureza críptica do estágio de gametófito complicao controle desta invasora e torna sua erradicaçãoimprovável. As prioridades, portanto, devem ser a restriçãode sua dispersão e a prevenção da introdução em novasáreas, através de procedimentos adequados de quarentenae limpeza. Algumas tintas anti-incrustrantes são efetivascontra a alga-japonesa, enquanto o tratamento compressão e elevada e água quente destrói os gametófitos.Esporófitos devem ser removidos manualmente, antes daliberação de esporos, e dispostos bem longe da água.Sempre que possível, a remoção das algas aderidas deveser feita em terra, uma vez que partes de esporófitos que

PLANTAS AQUÁTICAS ALGA-GIGANTE-JAPONESA

PÁGINA 59

Foto

: ww

w.th

ecoo

kery

scho

ol.o

rg

Page 60: Gis Ps America Po

PÁGINA 60

A rã-touro Rana catesbeiana é uma rã de grandetamanho, chegando a pesar 500 gramas e amedir 20 centímetros de comprimento. Nativa daregião leste da América do Norte, tem sido ampla-mente introduzida em outras partes do mundocomo fonte de alimento, tanto para criação emcativeiro como para caça em ambientes naturais.Em algumas áreas sua introdução aconteceuvisando o controle biológico de pestes agrícolas,ou mesmo como animal de estimação de aquáriosdomésticos ou tanques de jardins.

Rã touro problema

Uma vez introduzida, a rã-touro invariavelmente esta-belece populações no meio natural. Escapando do cativeiro,ela é capaz de atravessar grandes distâncias em terra atéalcançar algum corpo d’água, onde se estabelece ereproduz. Pode se desenvolver bastante bem em áreasdegradadas pela ação humana, uma vez que toleratemperaturas elevadas e abundante vegetação aquática,típica de águas poluídas. Além disso, seus ovos e girinos

não são apreciados por peixes, e os adultos são, em geral,inativos o suficiente para passarem desapercebidos parapredadores.

Uma vez estabelecida, a espécie pode provocarimpactos negativos sobre a biodiversidade local. Além decompetir com rãs e sapos nativos, a rã-touro é tambémuma predadora voraz, comendo qualquer coisa que possaengolir – outros anfíbios, cobras, tartarugas e mesmopequenos pássaros e mamíferos – e é considerada respon-sável pelo declínio populacional de muitas espécies. Osgirinos, por sua vez, podem alterar significativamente aestrutura da comunidade aquática, em função doconsumo de algas bênticas.

Também causa preocupação a possibilidade dedispersão, a partir de criações comercias da rã-touro, dedoenças que podem afetar populações nativas de anfíbios.Um exemplo disto ocorreu em 1999, quando se verificou amorte em massa de rãs criadas em uma fazenda noUruguai, em função de um surto de quitridiomicose. Estadoença é causada pelo fungo Batrachochytrium dendroba-tidis, responsável pela dizimação de populações deanfíbios em diversas áreas do mundo.

À noite, a rã-touro tende imobilizar-se diante dobrilho da luz, razão pela qual é usualmente apa-nhada com auxílio de lanternas potentes. Já osgirinos podem ser exterminados com uso deprodutos químicos licenciados. Os ovos podemser coletados enquanto flutuam, mas comopassam a depositar-se no fundo depois de um oudois dias da postura, este método de controle égeralmente impraticável.

As rãs touro na América do Sul

• Durante as últimas décadas, diversos países sul americanos iniciaram criações de rã-touro visando olucrativo comércio de pernas de rãs para abastecer restaurantes nos Estados Unidos e na Europa. Brasil,Uruguai e Argentina são atualmente os maiores produtores do continente.

• A rã-touro foi introduzida na Colômbia em 1986, para fins de pesquisa que visava avaliar seupotencial para aquacultura, tendo sido criada em cativeiro em Calda e Buga. Em 1990 – quando o riscoque a rã representava para espécies nativas foi plenamente compreendido – o Instituto Inderena, dogoverno colombiano, promulgou decreto proibindo a criação da espécie no país e determinando adestruição das coleções experimentais. Porém já era tarde demais, pois a rã-touro já havia se estab-elecido em ambientes naturais. Densas populações podem ser encontradas atualmente na LagoaSonso, no Vale de Cauca, e em áreas próximas a Buga. O grande número de represas e canais deirrigação existentes na região oferece hábitat adequado e abundante, enquanto o Rio Cauca temdesempenhado um papel importante na dispersão da invasora, ao transportar até outras áreas os ovosdepositados em plantas aquáticas flutuantes. A rã-touro compete com o sapo-cururu Bufo marinus poralimentos, além de devorar seus girinos, bem como os de outros anfíbios.

ANFÍBIOS RÃ-TOURO

Page 61: Gis Ps America Po

PÁGINA 61

ANFÍBIOS RÃ-AFRICANA

A rã-africana Xenopus laevis é nativadas regiões mais frias da Áfricasubsaariana. Durante a década de1940, a espécie foi introduzidaem diversas partes do mundo,para uso em testes de gravidez,depois de descoberto que as rãsliberavam ovos quando injetadascom urina de mulheres grávidas.A partir de então, laboratórioscomeçaram a criar estas rãs em grandes quanti-dades para atender a elevada demanda, e comoelas se mostraram muito fáceis de seremmantidas em cativeiro, foram amplamentecomercializadas como animais de estimação nosanos 1950 e 1960.

No final da década de 1950, o desenvolvimento denovas tecnologias para diagnóstico da gravidez fez comque muitos laboratórios simplesmente soltassem suas rãsem ambientes naturais. No entanto, a espécie manteve-secomo importante elemento de pesquisa biológica, uma vezque produz grande número de ovas e seus embriõestransparentes permitem fácil observação das etapas dedesenvolvimento. Assim, a soltura intencional de animaisindesejados e os escapes, tanto de laboratórios como deaquários domésticos, permanecem como prováveis modosde introdução.

A rã-africana é uma espécie altamente adaptável, comgrande tolerância para variações de salinidade e temper-atura, podendo habitar praticamente qualquer corpod’água, natural ou artificial. Atualmente encontra-se bemestabelecida em toda a África subsaariana, bem como empartes dos Estados Unidos, Europa e América do Sul. Suaalimentação consiste principalmente de invertebradosaquáticos, mas também come ovas, larvas e adultos deoutras espécies de rãs e de peixes. No sul da Califórnia,

Xenopus é considerada umaameaça para espécies nativas depeixes e anfíbios.

O comércio internacionaldesta espécie é também tido como o

responsável pela disseminação global dequitridiomicose, doença causada pelopatógeno fúngico Batrachochytrium

dendrobatidis e associada ao declínio depopulações de rãs no Equador, Venezuela, Panamá,Austrália, Nova Zelândia e Espanha.

A rã-africana Xenopus laevis foi introduzida noChile em 1973, quando um número indeter-minado de delas foi lançado em uma lagoapróxima ao Aeroporto Internacional de Santiago.Desde então, a espécie tem se dispersado porconta própria – por terra ou através dos canais deirrigação – e também transportada por pessoas.Ela atualmente ocorre em 13 das regiões doChile, principalmente nas regiões IV, V, VI eMetropolitana. Felizmente, esta rã parecepreferir corpos d’água artificiais ao invés desistemas naturais, e até o momento não mostrouevidências de alimentar-se de espécies nativas derãs; ao contrário, ela devora suas próprias larvase é devorada por pássaros nativos.

Esta espécie invasora ainda é vendida em petshops no Chile, mas há reivindicações para que ocomércio seja banido. Muitas rãs são provavel-mente soltas quando ficam muito grandes paraserem mantidas em aquários domésticos – ouquando seus donos se tornam adultos!

Lobos, G & Jaksic, FM 2005.The ongoing invasion of African clawed frogs(Xenopus laevis) in Chile: causes for concern. Biodiversity andConservation 14: 429-439.

• Na Venezuela, a espécie invasora estabeleceu-se em 1998, a partir de solturas ilegais em corposd’água andinos. No estado de Mérida, sua área de distribuição está próxima ao hábitat da rã-amarelaAtelopus carbonerensis, espécie venezuelana criticamente ameaçada. Em 2003, em um esforço paracontrolar a dispersão crescente da rã-touro, o Ministério do Meio Ambiente estabeleceu um sistema derecompensa para encorajar caçadores licenciados a combaterem a invasora. Foram oferecidos 1.000bolívares – equivalentes a 50 centavos de dólar – por fêmea morta, 500 bolívares por macho e cerca de15 centavos de dólar por quilo de girinos. No final daquele ano, mais de U$ 1.640,00 dólares haviamsido pagos, por cerca de 4.700 rãs.

Page 62: Gis Ps America Po

PÁGINA 62

Nativa da Europa, a carpa-comum Cyprinus carpiofoi uma das primeiras espécies a ser levada parafora da sua área de ocorrência natural, e hoje seencontra globalmente difundida. Há muitasvariedades para a espécie e entre as mais popu-lares estão a carpa-comum C. carpio communis, acarpa-espelho C. carpio specularis e a carpaencouraçada C. carpio nudus.

A carpa-comum foi introduzida na América do Sulcomo peixe ornamental e como fonte de alimentação, e oregistro mais antigo de introdução data de 1875, no Chile.Hoje em dia ela é amplamente cultivada em estações deaqüicultura comerciais, mas encontra-se também esta-belecida em ambientes naturais, em relação aos quaisgeralmente é considerada invasora, em função do danoque causa aos ambientes de água doce. Além disso, suaintrodução indiscriminada resultou na disseminação dediversos parasitas de peixes.

Campeadora do fundo das águas

A carpa-comum é um membro da família Cyprinidae,parente próxima do peixinho dourado. Entretanto, podeatingir tamanhos impressionantes – mais de um metro decomprimento, com peso superior a 35 kg – e, em casosexcepcionais, pode viver mais de 50 anos.

É um peixe de fundo, que prefere viver em grandescorpos d’água, com águas paradas ou de curso lento, ondeexistam sedimentos leves de fundo. A espécie tolera baixasconcentrações de oxigênio, sendo capaz de engolir ar na

superfície, bem como variações e extremos de temper-atura. Desenvolve-se particularmente bem em riosbarrentos e em represas.

A carpa é onívora, preferindo plantas aquáticas e algasfilamentosas, mas consome também insetos, caramujos,crustáceos, minhocas e ovócitos de outros peixes. Elaencontra seu alimento no sedimento depositado no fundo,introduzindo o lodo em sua boca aspiradora e expelindo-oapós o alimento ter sido extraído.

Águas barrentas

A carpa é considerada uma espécie invasora indesejáveldevido aos seus hábitos alimentares. Ao desenraizarplantas e revolver os sedimentos de fundo, ela causagraves danos ao hábitat, em detrimento de peixes nativose de outros animais. Seu comportamento torna a águabarrenta, o que reduz a penetração da luz e, em conse-qüência, inibe o crescimento de plantas submersas. Istolibera o fósforo normalmente presente nos sedimentos, oque pode resultar em florescências de fitoplâncton. Oaumento da turbidez reduz a visibilidade, o que tantoprejudica os peixes que dependem da visão para sealimentarem quanto reduz a disponibilidade de alimentos,uma vez que organismos bênticos são soterrados pela re-acomodação dos sedimentos. Os sedimentos revolvidostambém obstruem as brânquias e o sistema de alimen-tação por filtragem dos organismos aquáticos. Em seuconjunto, estes impactos tornam o ambiente inadequadopara a sobrevivência de outras espécies.

PEIXES CARPA-COMUM

Page 63: Gis Ps America Po

O sucesso da carpa como invasora pode ser atribuídoà sua grande tolerância fisiológica, à dieta onívora, aorápido crescimento e à elevada fecundidade – uma únicafêmea pode pôr bem mais de 100 mil ovos por estação dedesova. Além disso, ela reduz o número de outros peixespredadores que poderiam atacar seus filhotes, tantocomendo seus ovos quanto tornando o ambiente desfa-vorável para os mesmos. Como resultado, a carpa geral-mente monopoliza os corpos d’água onde é introduzida.

Controle

As carpas constituem uma importante fonte de alimentos,e são base para criações comerciais e de subsistência emvárias partes do mundo. Todavia, em função de seusimpactos destrutivos, algumas regiões têm realizadoesforços para controle da espécie, com graus variáveis desucesso. O método mais básico de controle físico consisteno incentivo à captura do peixe, tanto com anzol quanto comrede. O controle através de manipulação do nível da água,armadilhas e pesca elétrica também tem sido tentado, masem geral estes métodos demandam intensa mão-de-obrae não apresentam uma relação custo-benefício satisfatória.

O método de prevenção de infestações mais comum éo uso de barreiras, como telas metálicas, barreiras elétricase dutos por onde a água desemboca em alta velocidade,bloqueando, assim, a entrada de carpas em cursos d’águanaturais. Porém, o custo inicial destas estruturas é elevado,além de as mesmas poderem obstruir a corrida paradesova de outros peixes, bem como o tráfego de barcos.No caso das grades metálicas, a eficácia também écomprometida pelo fato de que elas retêm os peixes adultos,mas não seus alevinos.

O controle químico em geral envolve o uso de

rotenona, substância natural extraída de caules e raízes deinúmeras plantas tropicais, que é absorvida através dasbrânquias, inibindo a transferência de oxigênio ao nívelcelular e resultando em sufocação. Porém, a rotenona énão seletiva e mata outras espécies de peixes, além demuitos invertebrados. Este é um método que pode serefetivo para o controle de pequenas populações isoladasde carpa, uma vez que os efeitos não são ambientalmentepersistentes, e o repovoamento com peixes nativos podeacontecer na mesma estação do tratamento.

Na tentativa de aumentar a seletividade da ação de con-trole, nos últimos anos tem sido experimentada a utilizaçãode rotenona aplicada em de iscas. Previamente são utilizadasiscas não contaminadas para atrair as carpas para o localde alimentação, de forma a maximizar o número de peixesenvenenados. Entretanto, assim que a rotenona é adicionada,as carpas detectam sua presença e param de comer.

Cientistas australianos estão agora trabalhando emum método de controle biológico que limita a reproduçãoda espécie. O método “genes sem filhas” visa modificargeneticamente as carpas de forma que elas não maisproduzam descendentes fêmeas. Desta forma, espera-seque a população tenda para um a predominância demachos e ao longo do tempo acabe por declinar.

VOCÊ SABIA?

A carpa-comum tem sido particularmente eficazna invasão da província argentina de BuenosAires. Estima-se que atualmente a mesma ocorraem mais de 90% dos ambientes de água doce daregião. É a única espécie de peixe invasora a seestabelecer na bacia do Rio Salado, onde pre-domina na composição da biomassa de peixes.

PÁGINA 63

Primas Carpas

Algumas outras espécies de carpa, todas originárias da China ou da antiga União Soviética, têm sidointroduzidas na América do Sul, estabelecendo populações em ambientes naturais.

• A carpa-capim Ctenopharyngodon idella tem sido amplamente introduzida para aqüicultura e tambémcomo agente de controle biológico de plantas daninhas aquáticas. Impactos nocivos decorrem da sua con-corrência com peixes nativos por alimento, e de sua capacidade, quando em altas densidades, de dizimara vegetação aquática, destruindo o hábitat natural e provocando dramáticas alterações no ecossistema.

• A carpa-prateada Hypophthalmichthys molitrix é uma espécie que se alimenta de plâncton, desen-volvendo-se nas camadas intermediária e superficial das águas de lagos e reservatórios. É uma espécieimportante para a aqüicultura, responsável por mais de 65% da produção de carpa na América Latina,em 1995. Em algumas áreas, a espécie tem sido introduzida para controle de fitoplâncton, porémconcorre com outros peixes que se alimentam do mesmo e também com moluscos filtradores.

• A carpa Hypophthalmichthys nobilis é uma espécie filtradora que parece preferir zooplâncton,embora eventualmente possa consumir fitoplâncton e também detritos. Às vezes, esta carpa é intro-duzida para manejo da qualidade da água em lagoas de decantação e tanques de aqüicultura.Populações invasoras, todavia, representam um risco potencial para as populações de zooplâcton, e,por extensão, para as espécies que se alimentam dele, incluindo todas as larvas de peixes, algunspeixes adultos e mexilhões.

Page 64: Gis Ps America Po

Tilápias são peixes de água doce pertencentes àfamília dos Ciclídeos. Algumas são originárias dediferentes partes da África e do Oriente Médio, eum grande número delas foi introduzido emoutras partes do mundo, onde estabelecerampopulações invasoras em ambientes naturais. Emalguns casos, as tilápias foram introduzidas parapesca esportiva, como peixe de aquário, oumesmo como agente de controle biológico deervas daninhas aquáticas ou de algas filamen-tosas. Na maior parte das vezes, porém, suaintrodução teve como objetivo a aqüicultura.Muitos peixes, entretanto, escaparam dos tanquesde cultivo ou foram deliberadamente soltos,dando origem a populações invasoras.

As tilápias estão largamente distribuídas naAmérica do Sul, havendo crescentes preocu-pações com seu impacto sobre a biodiversidadeaquática do continente.

Maturidade precoce

As tilápias são a segunda espécie de peixe de água docemais intensamente cultivada no mundo – perdendoapenas para as carpas – sendo que em 2000 sua produçãoglobal excedeu 1,2 milhão de toneladas. A espécie éconsiderada ideal para criação em cativeiro por ser umpeixe resistente, com grande tolerância às condiçõesambientais, e por alcançar a maturidade sexual relativamentecedo, o que possibilita rápido crescimento das populações.Entretanto, em condições desfavoráveis, como limitaçãode alimento ou de espaço, as tilápias amadurecem e sereproduzem com tamanho muito menor que o usual. Estefenômeno, indesejável na aqüicultura, leva à produção deum número elevado de peixes com tamanho inadequadopara o mercado. Os esforços para eliminação deste problema

têm incluído a hibridação entre diferentes espécies detilápia, visando a produção apenas de machos ou de prolesestéreis. Os híbridos resultantes destes experimentos sãocomumente denominados “tilápias vermelhas”. Entretanto,nenhuma das tentativas de produzir populações com umsexo apenas, ou inférteis, tem atingido plenamente estesobjetivos, de forma que a espécie continua sendo umainvasora agressiva.

Em ambientes naturais, as elevadas taxas de repro-dução significam que as tilápias rapidamente se tornam opeixe mais abundante onde quer que sejam introduzidas.Outras características que contribuem para seu sucessocomo invasoras são a variedade de sua dieta, que incluipeixes, invertebrados e plantas aquáticas e lhe permite tirarvantagem das fontes de alimento disponíveis, e a baixataxa de mortalidade de filhotes, em função de cuidadospaternos. As tilápias são incubadoras de substrato – prote-gendo seus ovócitos de predadores e oxigenando-os comsuas nadadeiras – ou incubadoras bucais, caso em queovócitos e alevinos são incubados na boca de um ou deambos os pais.

As tilápias impactam a biodiversidade em nível localporque dominam a massa de peixes das águas em que setornam estabelecidas, e competem como as espécies depeixes nativos por comida, hábitat e locais de desova. Elastambém desalojam outros peixes em função da agres-sividade com que defendem seus ninhos. Finalmente, aintrodução de tilápias em todo o mundo tem facilitado adispersão de parasitas de peixes.

Tilápia do Nilo

Como o nome sugere, a área de ocorrência natural datilápia-do-Nilo Oreochromis niloticus inclui a bacia doBaixo Nilo, embora a espécie também ocorra naturalmenteem alguns lagos do Vale do Rift, em alguns rios do oeste

PEIXES TILÁPIA

PÁGINA 64

Page 65: Gis Ps America Po

PÁGINA 65

do continente e em Israel. Entretanto, sua distribuiçãoatual é muito ampla, uma vez que esta espécie foi larga-mente introduzida em outras áreas da África, do sudesteda Ásia, em partes da Europa e nas Américas, com conse-qüências negativas para as populações nativas de peixes.

A tilápia-do-Nilo é a espécie mais comumente utilizadapara criação. Taiwan é o maior exportador mundial detilápia, destinado cerca de 70% de sua produção para oJapão, na forma de filés para o mercado de sushis, e paraos Estados Unidos, como peixe congelado. Na América doSul, sua produção está mais concentrada na Colômbia e naVenezuela.

Tilápia-de-Moçambique

A tilápia-de-Moçambique Oreochromis mossambicus éoriginária do sul da África. Porém, a espécie tem sidoamplamente dispersada para além desta região, tendo sidointroduzida no mundo todo, em áreas tropicais ou de climaquente, para atividades de aqüicultura, criação desubsistência e pesca esportiva.

Esta espécie pode atingir mais de 36 centímetros, demaneira que em ambientes naturais há poucos predadoresque podem atacar peixes adultos. Por outro lado, a tilápia-do-Nilo pode eventualmente predar outros peixes, emboraseja uma espécie onívora que coma o que estiver disponívele pareça preferir detritos e matéria vegetal. Estes peixestêm grande tolerância à salinidade, sendo capazes de vivere mesmo se reproduzir em água do mar, além de suportar

baixas concentrações de oxigênio. As tilápias-de-Moçambique reproduzem prolifica-

mente e são capazes de se reproduzir diversas vezes noano, quando em condições favoráveis. A fêmea incubaovos e alevinos em sua boca, o que assegura altas taxas desobrevivência. Esta eficiente estratégica de reprodução,juntamente com a flexibilidade quanto às condições dohabitat, permitiram à espécie invadir uma grandevariedade de ambientes, incluindo represas, tanquesornamentais, canais de irrigação e de drenagem, lagos, riose partes altas de estuários. Uma vez que inevitavelmentedominam esses ambientes e aumentam a turbidez da águaem função de revolverem o fundo para se alimentarem –em detrimento das populações nativas – as tilápias-do-Nilosão, geralmente, consideradas como praga.

Foto

: ww

w.in

foag

ro.g

o.cr

Foto

: ww

w.ri

sda.

gov.

my

Page 66: Gis Ps America Po

PÁGINA 66

PEIXES SALMONÍDEOS

Membros da família Salmonidae – todos nativosdo hemisfério norte – foram amplamente intro-duzidos em diversas regiões do mundo,incluindo boa parte da América do Sul. AArgentina, por exemplo, iniciou a introdução desalmonídeos em 1904, para pesca esportiva.Foram estabelecidos criadouros locais, de formaa abastecer numerosos rios e lagos com filhotes.A truta arco-íris Oncorhynchus mykiss tornou-separticularmente popular, e foi introduzida empraticamente todos os corpos d’água comcondições adequadas para recebê-la. Atualmente,esta é a espécie de salmonídeo mais amplamentedisseminada na Argentina, encontrada desde aregião tropical – onde habita córregos e riosmontanhosos, mais frios – até o extremo sul daTerra do Fogo. Na província de Santa Cruz, estaespécie chegou mesmo a estabelecer populaçõesque descem para o mar para reproduzir e depoisvoltam a subir os rios, de forma que não é maisnecessário abastecer os rios com peixes jovens. Omesmo aconteceu com a truta marrom Salmotrutta, espécie particularmente apreciada napesca esportiva mundial.

A truta arco-íris é nativa da América do Norte, enquantoa truta marrom ocorre naturalmente na Europa e nos Atlas,cadeia montanhosa do noroeste da África. Estas espéciesagora ocorrem em mais de 80 países em todo o mundo, esão amplamente acusadas de impactar populações depeixes nativos, devido à competição e à predação.

Outros salmonídeos que estabeleceram populações noambiente natural na Argentina são a truta-de-riachoSalvelinus fontinalis, a truta-de-lago Salvelinus namaycush,o salmão atlântico Salmo salar e o salmão-chinookOncorhynchus tschawytscha.

Além da pesca esportiva, os salmonídeos também têmsido introduzidos para criação, para suprir o lucrativomercado de exportação de peixe fresco e congelado,salmão defumado e sushi. O Chile é o principal produtormundial, e respondia, em 1995, por 90% da produção sul-americana e 15% da produção mundial. As principaisespécies cultivadas são a truta arco-íris, o salmão-do-atlântico e o salmão-do-pacífico Oncorhynchus kisutch. Asfazendas de criação estão concentradas na costa sul dopaís, em função da existência de muitas áreas abrigadas.Como em outros países, existem preocupações comrelação a impactos ambientais desta atividade, entre eles aeutrofização e as modificações bênticas.

1. TRUTA MARROM Foto: http://users.aber.ac.uk • 2. SALMÃO-DO-PACÍFICO Foto: http://en.arocha.org • 3. TRUTA-DE-RIACHO Foto: www.animalpicturesarchive.com4. SALMÃO-CHINOOK Foto: www.campbeale.org • 5. TRUTA-DE-LAGO Foto: www.huntingandfishingjournal.org • 6. SALMÃO-ATLÂNTICO Foto: http://training.fws.gov

� �

� �

� �

Page 67: Gis Ps America Po

PÁGINA 67

PEIXES BARRIGUDINHO

Os barrigudinhos Gambusia affinis e G. holbrookisão originários do norte do México e sudeste dosEstados Unidos. Por volta de 1900, entretanto,eles começaram a ser distribuídos por todo omundo, para controle biológico das larvas demosquito. Atualmente, populações bem estabe-lecidas de uma ou de ambas as espéciesocorrem em cerca de 70 países, incluindo muitossul-americanos.

Reprodução eficiente

O barrigudinho é um peixe pequeno, porém resistente,capaz de sobreviver em águas com baixos teores deoxigênio, alta salinidade e altas temperaturas. Estatolerância a condições muito variadas, juntamente comsua eficiente estratégia reprodutiva, permite à espéciemultiplicar-se rapidamente e dominar os ambientes ondetenha sido introduzida. Assim, há registro de populaçõesque passaram de 7 mil para 120 mil indivíduos em apenascinco meses! A fêmea incuba os ovos internamente, atéparir os filhotes, assegurando, assim, melhores taxas desobrevivência. Além disso, várias ninhadas podem sergeradas por ano, cada uma com 50 a 100 filhotes. Estaelevada taxa de reprodução torna difícil a erradicação dopeixe, uma vez que ele tenha se estabelecido.

O barrigudinho é visto como invasor em muitos países,uma vez que ele não apenas compete por zooplânctoncom espécies nativas de peixes, mas também devora seusovócitos e larvas. Devido a estas tendências, ele é tidocomo responsável pelo declínio de várias destas espécies.Além disso, há evidências de que ele prefere alimentar-sede macro-invertebrados do que de larvas de mosquito.Desta forma, por reduzir as populações de peixes e demacro-invertebrados nativos, que ajudam a controlarnaturalmente as larvas, o barrigudinho pode na realidadeexacerbar o problema dos mosquitos.

VOCÊ SABIA?

Em 1943, 20 mil barrigudinhos foram intro-duzidos na Argentina para controle do mosquito.Eles se reproduziram rapidamente e foramdispersados por enchentes e por seu uso comoisca viva. Hoje se encontram amplamentedistribuídos nas áreas centrais do país.

Gam

busia

aff

inis

Foto

: ww

w.c

anal

-mar

tinie

re.o

rgA

ffin

isFo

to: w

ww

.bish

opm

useu

m.o

rg

Page 68: Gis Ps America Po

A broca-do-café Hypothenemus hampei é um minúsculobesouro preto, provavelmente originário da África Central.Sua distribuição atual compreende a maioria dos grandesprodutores de café da África, Ásia, América Central e doSul.

A fêmea do besouro perfura os frutos de café aindaverdes para depositar os ovos, dos quais saem larvas quese alimentam do conteúdo do grão. Os frutos afetadostornam-se marrons e alguns caem, enquanto outrospermanecem fixados nos galhos até a colheita. Ambas assituações provocam queda de rendimento, uma vez que osfrutos afetados que são colhidos acabam inadvertida-mente misturados com o restante do café e resultam emperda da qualidade.

O controle da broca-do-café alcança melhores resul-tados com o emprego de uma abordagem integrada demanejo de pragas, que inclui a utilização de agentes decontrole biológico, incluindo fungos patogênicos, junta-mente com práticas apropriadas de cultivo e, se necessário,uso prudente de agroquímicos. As vespas parasitas Cepha-lonomia stephanoderis e Prorops nasuta – nativas da África– têm sido amplamente introduzidas na América Latina comoagentes de controle biológico, enquanto Beauveria bassiana

tem se mostrado o fungo patogênico mais promissor,especialmente nos ambientes úmidos da Colômbia. Muitosprodutores pulverizam o café com o inseticida endosulfun,embora o mesmo não apresente uma relação custo-benefício satisfatória, dado que o inseto fica protegidodentro do grão de café durante boa parte de seu ciclo devida. Em algumas áreas, a peste desenvolveu resistênciaquímica ao inseticida, além do que o mesmo apresentariscos para a saúde dos trabalhadores agrícolas.

PRAGAS DE INSETOS

PRAGAS DE INSETOS BROCA-DO-CAFÉ

PÁGINA 68

Grãos atacados por besouroColheita de café Foto: www.toursnicaragua.com

Na América do Sul, algumas das mais importantes espécies invasoras são insetos tidos como pragaspara a agricultura, cujos hábitos alimentares destrutivos podem causar perdas massivas nas colheitas,com desastrosas conseqüências sócio-econômicas.

Beauveria bassiana Foto: www.biocontrol.ucr.eduFoto: www.ars.usda.gov

Page 69: Gis Ps America Po

PÁGINA 69

O bicudo-do-algodão Anthonomus grandis énativo do México e América Central, porémbeneficiou-se do comércio de algodão para sedispersar pelas Américas do Norte e do Sul. Obicudo pode ser transportado para novasregiões dentro das sementes ou cápsulas de algodão,no algodão cru ou em vários outros produtos dealgodão. Os adultos são capazes de voar longasdistâncias, facilitando a disseminação da espéciedepois da introdução.

A fêmea deposita seus ovos nos botões dasflores do algodão e, depois de saírem dos ovos, as larvasalimentam-se dentro do botão ou da cápsula por umperíodo de até duas semanas. A seguir, transformam-seem pupa e depois em indivíduos adultos, que cavam suasaída comendo o algodão. Os indivíduos adultos sealimentam das plantas de algodão por um período de atéuma semana, antes de acasalarem e depositarem novosovos. Em condições ideais, o ciclo completo dura cerca de

17 dias, o que corresponde a seis ou setegerações por ano.

Os estragos causados pelas larvasfazem com os botões das flores escureçam

e caiam. Além disso, a planta fica vulnerávelao ataque de fungos, que penetram pelos buracosproduzidos pelo bicudo. Como resultado, a praga

tem um impacto significativo sobre a produçãode algodão, tanto por perda de produtividade

quanto por comprometimento da qualidadeda fibra.

Nos Estados Unidos, o controle desta praga custa emtorno de 75 milhões de dólares por ano. Melhores resul-tados são obtidos com o uso de abordagem integrada quereúne vários métodos de controle, incluindo práticas decultivo adequadas, plantio de variedades resistentes,captura com ferormônios, soltura de machos estéreis,controle biológico e aplicação cuidadosa de desfolhantes einseticidas químicos.

A cochonilha-dos-cítricos Icerya purchasi é nativa daAustrália, mas atualmente está disperso pelas regiõestropicais e subtropicais do mundo, podendo também ocorrerem estufas de países mais frios. Esta praga ataca mais de200 espécies de plantas, incluindo acácias e giestas, mas éparticularmente prejudicial para os cítricos. Os danoscausados por estes insetos que sugam a seiva provocam odesfolhamento e a queda dos frutos, enquanto suasexcreções açucaradas são colonizadas por mofo fuliginoso.

A cochonilha-dos-cítricos está amplamente dissem-inada pela América do Sul e em 1982 sua presença foireportada pela primeira vez no Arquipélago das Galápa-gos, na ilha de San Cristóbal, tendo sido introduzido complantas ornamentais trazidas do continente. A espécieespalhou-se por várias outras ilhas, mas foi apenas em1996 – quando ocorreram graves surtos da praga – que asorganizações ligadas à conservação foram alertadas para aameaça. Levantamentos realizados posteriormenterevelaram que a cochonilha matou plantas ameaçadas deextinção e pode ter causado extinções locais de diversasmariposas e borboletas endêmicas que dependiam especi-ficamente daquelas plantas.

A joaninha-australiana Rodalia cardinalis já foi usada

com sucesso em muitas outras partes do mundo comoagente de controle biológico da cochonilha-dos-cítricos,sem qualquer efeito adverso. Mesmo assim, foi realizadoum programa de pesquisa de seis anos para garantir queeste agente de controle biológico não iria se alimentar deoutras espécies, ou ter qualquer outro impacto ambientalnegativo em Galápagos. Em 2002, as primeiras joaninhasforam soltas e até o presente mais de 1.500 foramdistribuídas em áreas prioritárias do arquipélago. Osprimeiros resultados do programa de monitoramento pós-introdução sugerem que eles controlaram a cochonilhacom sucesso em diversas ilhas.

Foto

: ww

w.in

vasiv

e.or

gFo

to: h

ttp:

//im

aged

b.ca

lsnet

.ariz

ona.

edu:

8080

Cam

po d

e al

godã

o F

oto:

ww

w.a

mal

thys

.com

PRAGAS DE INSETOS BICUDO-DO-ALGODÃO

PRAGAS DE INSETOS COCHONILHA DOS CÍTRICOS

Page 70: Gis Ps America Po

A vespa-da-madeira Sirexnoctilio é a maior ameaçaàs plantações de pinusda América do Sul. Foi detectada pela primeiravez no continente em 1986, no Uruguai, eatualmente ocorre não apenas naquele país,mas também nos três maiores produtoresdo pinus – Brasil, Chile e Argentina. Áfricado Sul, a Austrália e a Nova Zelândia sãooutros países invadidos por esta praga.

A fêmea da espécie usa seu ovipositor para perfurar amadeira do pinus e de outras coníferas. Juntamente comos ovos, ela deposita uma mistura de muco e fungo. Omuco inibe a circulação de açúcar e água no tronco, o quefaz as folhas murcharem e cria as condições necessáriaspara a proliferação do fungo. O fungo, Amylostereumareolatum, seca a madeira, tornando-a de digestão maisfácil para as larvas, à medida que elas abrem túneis notronco. O fungo também serve de alimento nutritivo paraas larvas em crescimento, até que elas se transformem empupa, dentro da árvore. Mais tarde, as vespas adultascavam sua saída, deixando grandes buracos redondos nacasca da árvore.

Além do dano causado à madeirapelos túneis abertos pelas larvas, omuco e o fungo enfraquecem a

árvore e causam uma drástica reduçãono crescimento do tronco. As acículasamarelecem e eventualmente podemcair, e sob ataque severo a árvore podeinclusive morrer. Danos mais significa-

tivos geralmente ocorrem em plantaçõescom alta densidade, uma vez que árvores

dominadas e mal formadas são particularmente suscetíveisa pragas. As práticas de manejo recomendadas incluemdesbaste regular para reduzir a competição entre asárvores e fortalecer o seu crescimento, assim como apronta remoção de árvores caídas que poderiam atrairvespas em oviposição. E uma vez que a poda pode tempo-rariamente enfraquecer as árvores, esta deve ser evitadano verão, quando as vespas da madeira são abundantes.

Em algumas áreas, inimigos naturais e agentes decontrole biológico introduzidos são efetivos contra avespa-da-madeira. Estes agentes incluem o nematódeoDeladenus (Beddingia) siricidicola e vespas parasitas comoIbalia leucospoides e Megarhyssa nortoni.

PRAGAS DE INSETOSVESPA-DA-MADEIRA-EUROPÉIA

PÁGINA 70

FUNGOS Amylostereum areolatum Foto: http://houby.humlak.cz VESPA-DA-MADEIRA Foto: Charles Griffiths

Megarhyssa nortoni Foto: www.uq.net.auNEMATÓDEO Foto: www.inta.gov.arLARVA DE VESPA-DA-MADEIRA Foto: www.invasive.org

Page 71: Gis Ps America Po

PÁGINA 71

PRAGAS DE INSETOS MARIPOSA-DA-MAÇÃ

A mariposa Cydia pomonella é nativa da Eurásia, mas hojeocorre na maior parte das regiões produtoras de maçã domundo. Sua larva é o popular “bichinho-da-maçã”, queataca a polpa da fruta. Além da maçã, esta praga tambémataca a pêra, a ameixa, o pêssego, o damasco e a noz. NaAmérica do Sul, é particularmente problemática no Chile ena Argentina e normas de controle sanitário foram insti-tuídas para evitar sua disseminação para os países vizinhos.

A fêmea desta mariposa deposita os ovos nas folhaspróximas aos frutos ou nos frutos em si, dos quais aslarvas, depois de saírem dos ovos, perfuram a superfície.Por um tempo elas se alimentam perto da superfície edepois cavam em direção ao centro da fruta. À medida quese alimentam, seus excrementos são empurrados para tráse se acumulam em torno da entrada do buraco. Durante

cerca de um mês, as larvas alimentam-se das sementes eda polpa ao redor delas, até emergirem da fruta para tecerum casulo, em local protegido.

Os danos causados pelas larvas escavadoras reduzemsignificativamente o valor de mercado das frutas e suaqualidade de estocagem, muitas vezes resultando narejeição de cargas inteiras no momento da entrega.Algumas vezes a superfície das frutas parece estar cobertacom numerosos ferrões – produzidos por larvas quetenham perfurado apenas uma pequena distância antes demorrer ou de emergir para recomeçar a perfurar em outroponto.

Existem inúmeros métodos para controle destamariposa, sendo que os melhores resultados são obtidoscom o emprego de uma abordagem integrada. Em muitospaíses, esta praga desenvolveu resistência aos inseticidasorganofosfatados, razão pela qual a interrupção doacasalamento com uso de iscas de ferormônio é, usual-mente, a estratégia de controle preferida. Práticas melho-radas de cultivo e controle biológico também são efetivos.A vespa parasita Trichogramma platneri ataca os ovos damariposa, de forma que sua soltura deve ser programadapara coincidir com a postura dos ovos, o que pode serconseguido com ajuda de armadilhas de ferormônio paramonitorar a população da praga.

Foto

: ww

w.h

lase

k.co

mFo

to: w

ww

.rode

land

.de

VESPA PARASITA Trichogramma platneri Foto: http://internt.nhm.ac.uk Foto: www.invasive.org

Page 72: Gis Ps America Po

AMÉRICA DO SUL

i n v a s o r aEspécies exóticas invasorasoriginárias da América do Sul

Enquanto numerosas espécies exóticas invasorasprovenientes de outros continentes ocorrem naAmérica do Sul, muitos dos animais e plantas daregião têm invadido outras partes do mundo. Aspróximas páginas destacam uma pequena seleçãodestes “itens de exportação”.

PÁGINA 72

Page 73: Gis Ps America Po

O aguapé Eichhornia crassipes é consid-erado a espécie invasora aquática maisnociva em todo o mundo. Originária daBacia Amazônica, esta planta se desen-

volve em águas paradas ou de cursolento que se tornaram ricas emnutrientes em função da eutro-

fização. A espécie foi amplamenteintroduzida como ornamental ehoje ocorre em mais de 50 países,nos cinco continentes, onde densasmantas de aguapé cobrem muitos

corpos d’água, naturais ou artificiais.Infestações de aguapé estão

associadas a uma série de impactos sócio-econômicos e ambientais. A densidade das redes provocao bloqueio dos cursos d’água e impede o tráfego debarcos, atrapalhando o comércio, a pesca e atividadesrecreativas. A produção agrícola também pode ser afetada,uma vez que a espécie é daninha em culturas de áreasúmidas, como o arroz e a juta, além de obstruir freqüente-mente canais de irrigação e sistemas de bombeamentod’água. As redes põem em risco estações de geração deenergia hidrelétrica e aumentam a sedimentação em rios ereservatórios, impedindo a vazão da água e retendopartículas em suspensão. As redes de aguapés também

constituem um risco à saúde, afetando negativamente aqualidade da água potável e criando condições favoráveisà proliferação de mosquitos e outros vetores de doenças.

As espessas mantas reduzem a penetração de luz naágua, o que causa o declínio das concentrações de fito-plâncton que sustentam a cadeia alimentar que vai dozooplâncton aos peixes, provocando, em conseqüência,mudanças no ecossistema. Material vegetal em putrefaçãodiminui os níveis de oxigênio na água, gerando umimpacto adicional sobre a biodiversidade aquática. Alémdisso, quando em grandes quantidades, aguapés levadosrio abaixo durante inundações podem danificar rodovias epontes ferroviárias.

Aguapé

Alternanthera philoxeroides é uma erva perene decrescimento rápido, capaz de se desenvolver tantona terra como na água. Nativa da região dorio Paraná, entre o Brasil, o Paraguai e aArgentina, tornou-se invasora em inúme-ros países asiáticos, bem como empartes dos Estados Unidos, NovaZelândia e Austrália.

A forma aquática deAlternanthera possui caules ocos,flutuadores, que se entrelaçam paraformar densas redes na superfície daágua. Estas redes obstruem hidrovias erestringem o fluxo em sistemas de irrigação e drenagem,resultando em aumento de sedimentação e risco deinundações. Freqüente-mente, danificam equipamentos debombeio e algumas vezes afetam a produção dehidrelétricas. Também impedem a pesca e as atividades derecreação nos corpos d’água afetados, fornecem hábitatpara mosquitos e são esteticamente pouco atraentes. Seusimpactos ambientais são variados, uma vez que a espéciesobrepuja e desaloja espécies nativas de plantas, dificulta apenetração da luz na água e inibe as trocas gasosas nainterface desta com o ar.

Alternanthera cresce abundantemente em ambientesricos em nutrientes, e em sistemas correntes pode toleraráguas com salinidades tão elevadas quanto a da água do

mar. A espécie coloniza novas áreas à medidaque as redes se rompem e flutuam

correnteza abaixo, e pode dispersar-seem meio terrestre quando seuscaules horizontais formam bancose espraiam-se para o solo úmido.

A forma terrestre deAlternanthera produz mais

caules sólidos do que ocos, bemcomo rizomas subterrâneos que

podem atingir um metro de compri-mento. Em condições desfavoráveis as partes superiores daplanta podem perecer, mas os rizomas e caules podempermanecer viáveis e rebrotar posteriormente.

Em terra, Alternanthera é uma séria ameaça para aagricultura. Provoca grandes danos em plantações dearroz, sendo capaz de reduzir a produção em taxas de 20a mais de 60%, como já verificado na China. Tambémcausa perdas significativas em outras culturas, incluindo asda batata doce, alface, trigo, milho, algodão, soja eamendoim. Infesta pomares, plantações de chá, camposde amora e cultivos de ervas, enquanto o denso cresci-mento ao longo das margens dos corpos d’água poderestringir o acesso do gado aos mesmos. Além disso, aespécie é tóxica e pode causar cegueira em animais efotossensibilização em gado de pigmentação clara, resul-tando em lesões cancerígenas.

PÁGINA 73

Foto

: Cha

rles

Grif

fiths

Erva-de-jacaré (ou tripa-de-sapo, bredo-d’água, perpétua, pé-de-pomba)

Page 74: Gis Ps America Po

PÁGINA 74

O nome popular em inglês de Mikania micrantha, “uma-milha-por-minuto”, é uma referência à impressionantetaxa de crescimento desta espécie. Existem relatos debrotações com até 27 milímetros de crescimento diário, eem poucos meses uma única planta pode cobrir mais de25 m2. A espécie é hoje problemática na região úmida equente do sudeste asiático, em muitas das ilhas circun-dantes do Pacífico e no oeste da África.

Mikania foi amplamente introduzida para fins decobertura e para ornamentar jardins, dispersando-serapidamente em função da eficiência com que se repro-duz. Apenas uma planta pode produzir até 40 milsementes por ano. As sementes, pequenas e pretas,possuem um tufo de cerdas brancas em uma desuas extremidades, para facilitar a dispersãopelo vento ou para aderir a roupas e a pêlosde animais. A planta também se reproduzvegetativamente, desenvolvendo raízesa partir dos nódulos do caule, o quepermite sua regeneração a partir depequenos fragmentos.

Mikania viceja em áreas abertas degradadas, tomandoconta rapidamente de áreas abandonadas e sendo freqüente-mente encontrada ao longo de rodovias. Mais importante,porém, é sua presença em plantações e florestas, onde éconsiderada uma grande praga. Ela sobe em outras plantaspara atingir a cobertura ensolarada das árvores, sufocandoas plantas hospedeiras ao privá-las da luz necessária para arealização de fotossíntese e competindo por nutrientes eágua. A espécie também possui propriedades alelopáticas,liberando substâncias que inibem o crescimento de outrasplantas. Como resultado, a espécie tem impactos negativostanto sobre ambientes naturais, onde afeta a biodiver-sidade, quanto em áreas de cultivo agrícola ou florestal,onde reduz a produtividade.

A planta é particularmente problemáticanos campos de chá da Índia e da Indo-

nésia, e nos seringais do Sri Lanka eda Malásia. Entretanto, tambémaumenta os custos de produção dedendê, abacaxi, banana e cacau,uma vez que seu controledemanda esforços contínuosintensivos de mão-de-obra. Aprodução de madeira e decelulose de teca e outrasoperações florestais comer-ciais também é negativa-mente impactada pelapresença desta invasora.

Mikania micrantha

Chromolaena odorata – comumente conhecida por erva-do-Sião – é uma das mais nocivas espécies vegetaisinvasoras nas regiões tropicais e sub-tropicais do planeta.Sua área nativa estende-se da Flórida, nos Estados Unidos,até o norte da Argentina; a espécie, entretanto, já invadiuo sudeste asiático, partes da Oceania e as regiões oeste,central e sul da África, representando uma séria ameaçapara a biodiversidade, para a agricultura e para o bem-estar humano.

A erva-do-Sião ocorre tanto sob a forma de arbustosde no mínimo três metros de altura, quando em áreasabertas, como na forma de trepadeiras de até 10 metrosde altura, quando entre árvores. A espécie cresce rapida-mente e produz quantidades massivas de sementes leves,penugentas – mais de um milhão por planta – que são

disseminadas pelo vento e pela água ou ao aderir emanimais, pessoas, veículos e equipamentos. A planta sedesenvolve bem em áreas degradadas e forma capõesdensos que sufocam a vegetação nativa, reduzindo, emconseqüência, a biodiversidade. Além disso, os capõesrepresentam um risco adicional de incêndio, uma vez queas folhas da erva-do-Sião contêm óleos altamente inflamá-veis e alcalóides que aumentam a intensidade do fogo.

A espécie diminui a produtividade agrícola ao invadiráreas de cultivo, incluindo plantações de tabaco, cacau,coco, dendê e seringais. Em algumas regiões, também temimpacto sobre operações florestais comerciais, tanto porinibir, por concorrência, o crescimento das mudas culti-vadas, quanto por possibilitar a penetração mais profundade fogo nas plantações. Além disso, ao invadir pastagensa planta reduz o pastejo e suas folhas causam aguda diarréiano gado, se consumidas. Em algumas pessoas, o contatocom as folhas pode ocasionar alergia e irritação na pele.

Na África do Sul, a erva-do-Sião é considerada umaameaça principalmente para a conservação e o ecot-urismo, uma vez que invade preferencialmente ambientesnaturais, reduzindo a biodiversidade de campos, savanas eflorestas e comprometendo as expedições de observaçãode animais nas reservas naturais e parques nacionais.

Erva-do-Sião

Page 75: Gis Ps America Po

PÁGINA 75

Lantana camara é nativa da AméricaCentral e do Sul, mas foi

largamente introduzidacomo espécie ornamentale hoje é consideradacomo invasora em maisde 50 países ao redor do

mundo. Ela forma densosaglomerados que desalo-jam as comunidades

naturais e comprometem aprodutividade agrícola.

A camarinha é uma espécie comcentenas de variedades, que diferem emaparência e na tolerância a condições

ambientais. A planta pode ocorrer comoum arbusto compacto ou como uma trepadeira com maisde cinco metros de altura. Freqüentemente é utilizada naformação de cercas, uma vez que forma uma barreiraimpenetrável. Esta mesma característica a transforma emameaça quando invade áreas agrícolas ou de plantaçõesflorestais, onde seus adensamentos interrompem o acessodo gado à água, interferem nas atividades agrícolas eflorestais e aumentam a intensidade do fogo. Ao alastrar-se para as pastagens, esta invasora reduz o potencialprodutivo e a produtividade de terras agrícolas, sendo

considerada praga para uma variedade de culturas,incluindo café, algodão, coco, dendê, borracha, banana,abacaxi e cana-de-açúcar.

Além disso, a planta toda é tóxica e a ingestão de suasfolhas e os frutos podem envenenar o gado bovino eovino, causando um aumento de sensibilidade à luz. A peledo nariz, dos olhos, das orelhas e dos lábios fica coberta deferidas que tornam a respiração e a alimentação dolorosas,provocando a deterioração das condições dos animais emesmo sua morte. Em algumas áreas, formações decamarinha geram ambientes propícios à procriação demosquitos e moscas tsé-tsé, vetores de doenças como amalária e a doença do sono.

Em função de suas propriedades alelopáticas, que lhepossibilitam lançar ao solo substâncias químicas inibidorasda germinação de outras espécies, os adensamentos decamarinha reduzem a biodiversidade e alteram a composiçãodas comunidades animais associadas. Além disso, a conse-qüente ausência de cobertura de solo resulta em aumentode erosão, principalmente em escarpas íngremes.

Uma vez introduzida em um ambiente, a camarinhadispersa-se rapidamente, pois suas sementes são larga-mente disseminadas pelos pássaros que comem suasfrutas. Algumas vezes, durante inundações as sementessão carregadas das áreas infestadas, causando súbitasinvasões em áreas à jusante.

Camarinha

A aroeira-vermelha Schinus terebinthifolius é nativa doBrasil, Paraguai e Argentina, mas aclimatou-seem pelo menos 20 países ao redor domundo, depois de introduzida comoespécie ornamental. É um arbusto ouárvore pequena, e seu efeitodecorativo é devido às folhas escuras elustrosas e aos frutos vermelho-vivo.Quando amassadas, suas folhasproduzem um odor apimentado – daíseu nome em inglês, Brasilian pepper-tree – e a planta pode causar reaçõesalérgicas em pessoas sensíveis à seivaou ao pólen. Os frutos são consumidospor pássaros e mamíferos, o quefacilita a disseminação das sementes.

A aroeira é uma invasora agressiva, que seestabelece rapidamente em áreas degradadas, comomargens de rodovias e de canais e campos abandonados,desenvolvendo-se especialmente bem áreas abertas oudrenadas para agricultura. Entretanto, a espécie tambéminvade ambientes naturais, incluindo manguezais,planícies costeiras e ilhas de barreiras de recifes. Formaaglomerados densos, que sobrepujam outras plantas nadisputa por espaço e luz e desalojam animais. Nos

manguezais do sul da Flórida, por exemplo, infes-tações de aroeira-vermelha vêm destruindo

áreas de alimentação de garças eoutros pássaros aquáticos.

A aroeira foi introduzida naFlórida na metade do séculoXIX, mas somente um séculomais tarde tornou-se umaespécie problemática. No finaldos anos 1950, foi reportada apresença de uma única plantano Parque Nacional dos Ever-glades. Três décadas depois, aespécie cobria algo em tornode 90 mil acres – cerca de 10%

da área do parque – principalmenteem zonas de pinheirais e manguezais. Atualmente, 800mil acres estão infestados naquele estado norte-americano, em uma extensão que vai do norte do LagoOkechobee aos Everglades.

Nos Estados Unidos, a espécie é considerada invasorana Flórida, no Texas e no Havaí, onde está amplamentedifundida em áreas baixas, além de estar presente nosestados da Califórnia, Luisiana e Arizona. A aroeira ocorretambém em Porto Rico e nas Ilhas Virgens.

Aroeira-vermelha

Page 76: Gis Ps America Po

O ratão-do-banhado Myocastor coypu é um roedor degrande porte, semi-aquático, cujas patas traseiras têmmembranas. Originário da América do Sul, foi introduzidona América do Norte, Europa, Ásia e leste da África emfunção de sua pele espessa e macia. A espécie estabeleceugrandes populações selvagens em algumas dessas áreas,onde é considerada nociva por causa de suas escavações ede seus hábitos alimentares.

Uma vez introduzidos, os ratões-do-banhado foramdeixados soltos para serem recapturados posteriormenteou foram criados em fazendas, de onde provavelmentealguns indivíduos escaparam. Muitos também foram delib-eradamente soltos das fazendas depois que a demandapor pele declinou. Capazes de se adaptarem a uma grandevariedade de condições ambientais, estes animais rapida-mente ficam à vontade em tanques, rios, pântanos ecanais de drenagem.

Os ratões-do-banhado vivem em buracos que elesmesmos cavam em bancos cobertos de vegetação, próximosà água, embora algumas vezes possam utilizar covasabandonadas por outros animais. Trata-se de uma espécieherbívora voraz, cada indivíduo consumindo diariamente o

equivalente a cerca de 25% de seu peso. Quando emgrandes números, este consumo pode impactar de formasignificativa as comunidades naturais de plantas. Emalguns locais, densas formações de junco foram completa-mente eliminadas, destruindo o hábitat de pássarosaquáticos. Os ratões-do-banhado também intensificamprocessos de erosão ao consumir raízes e tubérculos queajudam a manter o solo coeso.

Adicionalmente, a espécie causa danos consideráveisem culturas como a do arroz, cana-de-açúcar, milho, sojae legumes, bem como em algumas árvores frutíferas. Suasescavações também fragilizam as margens de rios, reser-vatórios e canais de irrigação, e podem minar as fundaçõesdo leito de estradas. Nos Estados Unidos, o ratão-do-banhado é mais abundante na costa da Luisiana e doTexas, onde freqüentemente danifica as barragens emáreas de produção de arroz ou de criação de crustáceos,bem como os diques de prevenção contra inundação queprotegem as terras baixas. Os animais também tendem aroer estruturas de madeira com seus grandes incisivos,danificando construções e molhes.

Usualmente conhecido pelo seu nome inglês, armouredcatfish, o tamoatá Hoplosternum littorale é amplamentedifundido na América do Sul, ocorrendo em muitos corposd’água parados ou de curso lento ao leste dos Andes enorte de Buenos Aires, na Argentina. Em 1995, a espéciefoi descoberta nos Estados Unidos, mais precisamente naFlórida, possivelmente introduzida através da aqüicultura.Desde então, o tamoatá tem se espalhado por diversos

canais de drenagem, e existe a preocupação de que possavir a invadir muitas das zonas úmidas naturais. A espécietem grande tolerância à salinidade e pode sobreviver emáguas poluídas ricas em sulfeto de hidrogênio, já que suaocorrência natural típica se dá em águas quentes, combaixos teores de oxigênio, nas quais estes peixes sãocapazes de complementar a absorção de oxigênio “respi-rando” através do epitélio intestinal.

O impacto da invasão do tamoatá ainda não é muitoconhecido, mas o comportamento agressivo dos machosem procriação pode desalojar espécies nativas de peixes.Além disso, consomem grandes quantidades de inverte-brados, algas e detritos de fundo, podendo desta formaalterar a estrutura da comunidade e concorrer com outrospeixes por comida.

Tamoatá

Ratão-do-banhado

PÁGINA 76

Foto: http://jonahsaquarium.com

Page 77: Gis Ps America Po

PÁGINA 77

A área natural de ocorrência do sapo-cururu Bufo marinusestende-se do sul do Texas, nos Estados Unidos, à BaciaAmazônica. A espécie foi largamente introduzida emoutras regiões como agente de controle biológico depragas de insetos em cultivos de cana-de-açúcar e outros,e dispersou-se rapidamente devido à sua ampla tolerânciaambiental, à sua capacidade de comer quase de tudo e àexistência de poucos inimigos naturais. Atualmente éconsiderada espécie invasora nos Estados Unidos (Flórida),na Austrália, no Japão, nas Filipinas e na Papua Nova-Guiné, além de em muitas outras ilhas, particularmente noCaribe e no Pacífico.

O sapo-cururu é um dos maiores sapos do mundo,com um comprimento médio em torno de 10 a 15 centí-metros, embora exista registro de indivíduos queatingiram até 24 centímetros. Come principalmenteinsetos, mas também minhocas, caracóis, pequenosanfíbios, répteis e mamíferos, animais em decomposição emesmo restos de alimentos e comida de animais deestimação. A espécie vive em terra seca, mas necessita deáguas rasas, paradas ou de curso lento para reproduzir-se.A capacidade de reproduzir-se em águas altamente salinaslevou ao acréscimo de marinus ao nome científico daespécie, bem como ao nome popular alternativo de “sapomarinho”.

Este sapo só é ativo à noite; durante o dia, e quandoo tempo está frio ou seco, ele se abriga em áreas úmidas,debaixo de folhas, pedras ou entulhos, ou em buracos emsolo fofo. Embora seu hábitat natural seja a florestatropical, nas áreas onde foi introduzido ele parece preferirviver em associação próxima com as pessoas. Nas áreasrurais é usualmente encontrado em vilas e em áreasdesmatadas, enquanto nos ambientes urbanos costumaresidir em jardins, tanques, canos de esgoto e pilhas decascalho. Geralmente é um visitante não muito bemvindo, em parte porque seu coachar alto impede aspessoas de dormirem à noite.

Mais importante do que isso, entretanto, é o fato deque o sapo-cururu pode envenenar animais domésticos.No Havaí, mais de 50 cães morrem anualmente depois de

morderem sapos desta espécie. Quando ameaçado, estesapo produz uma secreção venenosa que pode provocarparada cardíaca, se ingerida; também pode esguichar estasecreção em atacantes até um metro de distância. Oveneno é absorvido pelas mucosas dos olhos, nariz e boca,causando inflamações dolorosas e mesmo cegueiratemporária. Os ovos e girinos também são venenosos;houve casos de pessoas que morreram aparentemente porterem ingerido sopa feita com seus ovos gelatinosos.

Aparte a ameaça às pessoas e aos animais deestimação, o sapo-cururu pode envenenar e causarproblemas a outros animais que se alimentem dosindivíduos adultos, girinos ou ovos, tais como cobras,iguanas e crocodilos, embora a maioria deles pareça capazde tolerar níveis baixos da toxina. Alguns pássaros rasgamo ventre macio dos sapos e comem apenas os órgãosinternos, que são apenas levemente venenosos.

Com seu enorme apetite por insetos, esta espécie desapo provavelmente também tem impacto sobre outrasformas de vida selvagem nativas, concorrendo com outrosanimais insetívoros – na Austrália, a espécie consomequantidades tão elevadas de abelhas, que representa umproblema para os produtores de mel. Finalmente, o sapo-cururu ataca e concorre com espécies nativas de rãs esapos por comida e locais para reprodução.

Sapo-cururu

Page 78: Gis Ps America Po

PÁGINA 78

Pomacea canaliculata é um caramujo deágua doce nativo da América do Sul, eseu nome em inglês, golden applesnail, é devido à semelhança de suagrande concha com uma maçãdourada. A espécie invadiu o suldos Estados Unidos e o Havaí,onde é uma das principaispragas no cultivo de inhame.Entretanto, seus impactos sãomais severamente sentidos nosudeste asiático, onde é ampla-mente conhecido como kuholdourado.

Acredita-se que a intro-dução do caramujo-dourado naÁsia ocorreu primeiramente emTaiwan, em 1980, através da aqüicultura. Subseqüente-mente, o animal foi promovido como alimento altamenteprotéico para pessoas e animais de criação. Em 1982, aespécie foi introduzida nas Filipinas, tendo se dispersadorapidamente após escapar das fazendas de criação atravésdos cursos d’água. Adicionalmente, muitos criadourosforam abandonados quando se verificou que o sabor docaracol não foi bem aceito pelo mercado. Em poucosanos, o caracol tornou-se uma das principais pragas docultivo de arroz, e mesmo a maior delas, segundo agricul-tores ouvidos em 1992. Atualmente, cerca da metade dos3 milhões de hectares cultivados com arroz no país estãoinfestados, com enormes perdas de produção.

A espécie espalhou-se através do sudeste asiático eestá em vias de entrar na Índia, representando séria

ameaça às grandes áreas de cultivo extensivode arroz existentes naquele país. O

caramujo-dourado alimenta-se dasmudas jovens do cereal, sendo

que indivíduos adultos podemconsumir até 25 mudas pordia. Esta situação impõe anecessidade de dois a quatroreplantios de mudas porcolheita, o que eleva oscustos, exige muita mão-de-obra e implica em signi-ficativas reduções deprodutividade.

Este caramujo tambémcome uma grande

variedade de outras plantas– preferindo as partes mais

tenras – bem como matéria orgânica em decomposição.Ao alimentar-se intensamente de vegetação aquática, aespécie provavelmente impacta a fauna nativa em funçãoda concorrência por comida e modificações nos hábitats,já tendo sido implicada no declínio das populações de pila,espécie de caramujo nativa do sudeste asiático.

Este invasor é uma espécie resistente, capaz de toleraráguas poluídas e baixas concentrações de oxigênio. Tambémpode permanecer em estado de latência durante a estaçãoseca, enterrado em solos úmidos, com seu opérculofechado. Seus ovos cor-de-rosa brilhante são depositadoslogo acima a superfície da água; as pessoas freqüente-mente os recolhem e levam para casa, como uma iguaria,o que facilita ainda mais a dispersão da espécie.

Caramujo-Dourado

A partir de sua área de ocorrência natural na América doSul, a formiga-argentina Linepithema humile espalhou-se portodos os outros continentes com exceção da Antártida.Devido a sua tendência de associar-se aos humanos, elatem sido transportada por longas distâncias junto com ali-mentos, lixo, material de construção e contêineres detransporte. Assim, muitas das introduções na América doNorte, Europa e África aconteceram no início do século XX,quando a formiga viajou clandestinamente em navios carre-gados de café e açúcar provenientes do Brasil e da Argentina.

A presença da formiga foi reportada pela primeira vezna Cidade do Cabo, África do Sul, em 1908, onde podeter sido introduzida junto com forragem para cavalosimportada da Argentina pela cavalaria britânica durante aGuerra dos Boers. A espécie invadiu o mundialmente famosobioma fynbos, impactando negativamente a biodiversidadeao interferir na polinização e na disseminação desementes. Muitas espécies vegetais deste bioma contamcom as formigas nativas para disseminar suas sementes,provendo-as, em troca, com uma parte externa rica emnutrientes e óleos – chamada elaiossoma. As formigas

Formiga-argentina

Page 79: Gis Ps America Po

PÁGINA 79

carregam as sementes expostas na superfície do solo paradentro de seus ninhos subterrâneos, onde consomem aelaiossoma, deixando as sementes intocadas.

A formiga-argentina, entretanto, consome a elaiossomasem levar as sementes para baixo da terra, deixando-as nasuperfície, expostas ao fogo e aos roedores. Além disso, asinvasoras desalojam duas espécies de formigas nativascapazes de disseminar grandes quantidades de sementes.A regeneração de plantas que produzem sementesgrandes está, desta forma, mais sujeita a ser afetada pelofogo e pela predação após a invasão da formiga-argentina,resultando em uma alteração na composição das comuni-dades de plantas do bioma em questão. Adicionalmente,a formiga invasora tem se mostrado capaz de intimidaralguns insetos envolvidos na polinização das flores deProtea, em função de seu comportamento agressivo.

Invasões de formiga-argentina têm apresentado con-seqüências igualmente nefastas para ecossistemas deoutras regiões do planeta. Na Califórnia, por exemplo, aespécie desenvolve-se em áreas costeiras úmidas etemperadas, e apesar de ter um tamanho médio de

apenas 2 a 3 milímetros, ela mata ou desaloja formigasnativas até dez vezes maiores. Esta parece ser uma dasprincipais razões pelas quais as populações de lagartoscorníferos da costa têm declinado em 50% ou mais emáreas invadidas por formiga-argentina. Este lagartoprefere se alimentar das grandes formigas nativas, e tendea morrer de fome onde estas foram substituídas pelapequena invasora.

As invasões provocam também inúmeros impactoseconômicos. Em pomares e vinhedos, a formiga-argentinadissemina e protege pragas homópteras sugadoras deseiva, tais como pulgões e cochonilhas, de forma a poderabsorver a substância rica em açúcares secretada por estesinsetos. Ao possibilitar o aumento das infestações dehomópteras, a formiga-argentina provoca uma diminuiçãona qualidade dos cultivos e facilita a transmissão dedoenças entre as plantas. Além disso, as formigas causamperdas ao fazer buracos em tubulações plásticas para irri-gação, ao estressar galinhas poedeiras e matar os pintinhosrecém-nascidos, ao roubar mel das colméias, atacando asabelhas, e ao contaminar produtos alimentícios.

O ácaro-verde Mononychellus tanajoa é uma das maiorespragas da mandioca, raiz originária da América do Sul eintensamente cultivada na África subsaariana, onde constituifonte importante de alimento para mais de 200 milhõesde pessoas. Naquele continente, o ácaro é um invasorexótico, também originário da América do Sul. Na África,o primeiro surte desta praga aconteceu em 1970, emUganda, depois do qual ela se disseminou rapidamentepor mais de 25 países, causando perdas de produçãoestimadas entre 30 e 50%.

Felizmente, o ácaro-verde está agora sendo mantidosob controle biológico com auxílio do ácaro predatórioTyphlodromalus aripo, proveniente do nordeste brasileiroe introduzido no Benin em 1993, estando atualmenteestabelecido em uma área de mais de 400 mil km2, princi-

palmente no oeste do continente. Este agente de controlebiológico cobre cerca de 12 quilômetros na primeira safradepois de introduzido, e chega a 200 quilômetros nasegunda. Uma vez estabelecido, ele reduz pela metade apopulação de do ácaro-verde e aumenta a produção demandioca em até um terço. A espécie aparentada T.Manihoti tem se mostrado promissora como agente decontrole biológico em regiões úmidas, à medida que seestabelece e se dissemina no Benin, no Burundi, em Ganae na Nigéria. Enquanto isso, prosseguem pesquisas comoutros inimigos naturais – incluindo patógenos fúngicos –na esperança de se encontrarem agentes de controlebiológico melhor adaptados às diferentes condiçõesambientais existentes no cinturão africano da mandioca.

Ácaro-verde da mandioca

Page 80: Gis Ps America Po

PÁGINA 80

O besouro-do-milho Prostephanus truncates éuma praga que destrói o milho e a mandiocaseca estocados em fazendas da África sub-saariana. Nativo das Américas Central e doSul, este inseto invasor foi detectado pelaprimeira vez na África nos final dos anos1970, na Tanzânia. Naquela oportunidade,as perdas de milho provocadas no país pelobesouro-do-milho chegaram a ser cinco vezesmaiores do que as verificadas normalmente.Em 1984, ocorreu o primeiro surto na ÁfricaOcidental, no Togo. A seguir, a praga espalhou-se através das partes ocidental e oriental docontinente e começou a propagar-se em direçãoao sul, atingindo a África do Sul em 1999.

O besouro-do-milho é um pequeno besouro escuro,que ataca o milho tanto no campo quanto depois decolhido e é particularmente prejudicial para o milho arma-zenado em espigas. O besouro perfura o grão, comendotudo o que pode e deixando uma trilha de poeira de milhoatrás de si. Os ovos são depositados em câmaras lateraisescavadas a partir do túnel principal e, depois de rompero ovo, a larva alimenta-se da poeira de milho deixadapelos insetos adultos.

A praga também ataca a mandioca seca –causando perdas de até 70% depois de apenasquatro meses de estocagem – bem comocereais, legumes, outras raízes secas, tubér-culos, amendoim, cacau e café.

Em 1991, foi lançada uma campanhade controle biológico, através da introduçãodo besouro predatório Teretriosomanigrescens, porém relatórios recentessugerem que este agente não é tão efetivoquanto o esperado. Até o momento, inseti-cidas piretróide – principalmente o ActellicSuper Dust, contendo permetrin e pirimifós-metil – têm constituído a principal linha dedefesa contra o besouro-do-milho. Os inseti-

cidas, entretanto, impõem a necessidade de mudança naspráticas tradicionais de estocagem, uma vez que o controlequímico eficiente requer que o milho seja removido daespiga para tratamento e estocagem. Em função daspreocupações quanto à segurança de tais inseticidas,atualmente estão sendo exploradas técnicas integradas demanejo de pragas e métodos de manejo pós-colheita, queapresentam menores riscos para o meio ambiente e paraa saúde humana e animal.

Besouro-do-milho

Liriomyza sativae, L. trifolii e L. huidobrensis sãopequenas moscas consideradas praga parauma ampla gama de vegetais e plantasornamentais. Todas as três espécies sãonativas das Américas, mas o comércioglobal de produtos hortifruti-granjeiros e a produção em largaescala de flores, principalmente docrisântemo, possibilitou às espéciesdifundir-se no mundo inteiro.

No final dos anos 1990 suacondição de praga cresceu de formaalarmante no sudeste asiático. A moscaadulta deposita seus ovos nas plantashospedeiras e as larvas alimentam-se desuas folhas. Embora uma única larva causedanos mínimos, grandes populaçõesdestroem as folhas e afetam o crescimentodas plantas. Em altas densidades, as moscasreduzem significativamente as produções dos cultivos. Emalgumas áreas da Indonésia, por exemplo, há indicaçõesde perdas de produção da ordem de 100% para a batatae de 70 % para outros cultivos atingidos pela L. huido-brensis.

As minadoras desenvolveram resistência à maioria dosinseticidas, de forma que técnicas de manejo integrado de

pragas estão agora sendo aplicadasno sudeste asiático. Estas técnicas

incluem o controle biológico, ouso de variedades de plantasresistentes ou tolerantes, o usode pega-moscas para capturar asinvasoras e a implementação detécnicas de manejo que minimizemas infestações. Inseticidas seletivosdevem ser utilizados apenas comoúltimo recurso.

Minadora-das-folhas

Mosca-minadoraLiriomyza trifolii

Besouro-do-milhoProstephanus truncates