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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 6, Edição número 25, Abril/Setembro 2017 - p 1 GÍRIAS NOS QUADRINHOS: ADAPTAÇÕES DO INGLÊS PARA O PORTUGUÊS Gracyella Gonzaga Arantes * Nataniel dos Santos Gomes ** RESUMO: Desde o início da história, o meio de comunicação utilizado foi a imagem além da fala. Os primeiros desenhos que eram encontrados expostos nas paredes das cavernas eram desenhos que contavam suas histórias, o que faziam, como viviam, o que pensavam, narravam suas caças e suas crenças perpetuando para a geração seguinte. O mercado de quadrinhos brasileiro era dominado pelas HQs estrangeiras e com isso se faz necessário as traduções e adaptações do inglês para o português a fim de atingir os leitores brasileiros. Neste sentido a gíria não empobrece a língua, mas sim enriquece a cultura de um povo. É um código bastante difundido entre os povos. Como por exemplo, o mecanismo encontrado na tradução para a manutenção de expressões como o pronome possessivo “thy” e o pronome objeto “thee”, já em desuso, foi a utilização dos pronomes “teu” e “te”, respectivamente. A opção por esses pronomes visa manter o tom formal e poético do original. A estrutura sintática da sentença utilizada na tradução visa igualmente reproduzir as inversões do original, tais como “while I thy amiable cheeks do coy”, que foi traduzido por “enquanto eu teu amável rosto aliso”. (Shakespeare, 2011) ABSTRACT: Since the beginning of history, the medium used was the image beyond speech. The first drawings were found on the walls of the caves were drawings that told their stories, what they did, how they lived, what they thought, narrated their fighters and their perpetuating beliefs to the next generation. The Brazilian comic market was dominated by foreign comics and it is necessary translations and adaptations from English to Portuguese in order to achieve the sense brazilians. In this readers slang does not impoverish the language, but enriches the culture of a people . It is a code widespread among people. For example, the engine found in the translation for the maintenance of expressions like the possessive pronoun "thy" and the object pronoun "thee", already in disuse, was the use of the pronouns "your" and "you", respectively. The choice of these pronouns is intended to maintain the formal and poetic tone of the original. The syntactic structure of the sentence used in translation also aims to reproduce the inversions of the original, such as "while I thy amiable cheeks of coy," which was translated "while I thy amiable face aliso" PALAVRAS-CHAVE: Tradução gírias Histórias em Quadrinhos KEYWORDS: Translation - slang Comics INTRODUÇÃO Desde o início da história, o meio de comunicação utilizado foi a imagem além da fala. Os primeiros desenhos que eram encontrados expostos nas paredes das cavernas eram desenhos

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GÍRIAS NOS QUADRINHOS:

ADAPTAÇÕES DO INGLÊS PARA O PORTUGUÊS

Gracyella Gonzaga Arantes*

Nataniel dos Santos Gomes**

RESUMO: Desde o início da história, o meio de comunicação utilizado foi a imagem além da fala. Os primeiros

desenhos que eram encontrados expostos nas paredes das cavernas eram desenhos que contavam suas histórias,

o que faziam, como viviam, o que pensavam, narravam suas caças e suas crenças perpetuando para a geração

seguinte. O mercado de quadrinhos brasileiro era dominado pelas HQs estrangeiras e com isso se faz

necessário as traduções e adaptações do inglês para o português a fim de atingir os leitores brasileiros. Neste

sentido a gíria não empobrece a língua, mas sim enriquece a cultura de um povo. É um código bastante

difundido entre os povos. Como por exemplo, o mecanismo encontrado na tradução para a manutenção de

expressões como o pronome possessivo “thy” e o pronome objeto “thee”, já em desuso, foi a utilização dos

pronomes “teu” e “te”, respectivamente. A opção por esses pronomes visa manter o tom formal e poético do

original. A estrutura sintática da sentença utilizada na tradução visa igualmente reproduzir as inversões do

original, tais como “while I thy amiable cheeks do coy”, que foi traduzido por “enquanto eu teu amável rosto

aliso”. (Shakespeare, 2011)

ABSTRACT: Since the beginning of history, the medium used was the image beyond speech. The first

drawings were found on the walls of the caves were drawings that told their stories, what they did, how they

lived, what they thought, narrated their fighters and their perpetuating beliefs to the next generation. The

Brazilian comic market was dominated by foreign comics and it is necessary translations and adaptations

from English to Portuguese in order to achieve the sense brazilians. In this readers slang does not

impoverish the language, but enriches the culture of a people . It is a code widespread among people. For

example, the engine found in the translation for the maintenance of expressions like the possessive pronoun

"thy" and the object pronoun "thee", already in disuse, was the use of the pronouns "your" and "you",

respectively. The choice of these pronouns is intended to maintain the formal and poetic tone of the original.

The syntactic structure of the sentence used in translation also aims to reproduce the inversions of the

original, such as "while I thy amiable cheeks of coy," which was translated "while I thy amiable face aliso"

PALAVRAS-CHAVE: Tradução – gírias – Histórias em Quadrinhos

KEYWORDS: Translation - slang – Comics

INTRODUÇÃO

Desde o início da história, o meio de comunicação utilizado foi a imagem além da fala. Os

primeiros desenhos que eram encontrados expostos nas paredes das cavernas eram desenhos

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que contavam suas histórias, o que faziam, como viviam, o que pensavam, narravam suas

caças e suas crenças perpetuando para a geração seguinte.

Vergueiro (2009) afirma que o homem primitivo desenhava na parede das cavernas como uma

forma de se comunicar e são essas pinturas rupestres que nos permitem entender como os

nossos ancestrais viviam. Os símbolos gráficos, os números e letras utilizados por nós,

atribuídos aos sons representam palavras e nos permitem contar as nossas histórias.

Por volta do século XIX, começa a surgir uma nova maneira de se contar histórias, juntando

imagens e diálogos com linguagens próprias e fazendo relação com produções do passado.

Essas são as Histórias em Quadrinhos (HQs) que receberam essa denominação quando foram

introduzidos balões com fala de personagens nos desenhos e com o passar dos anos foram se

multiplicando e se popularizando.

O aumento do número de leitores das histórias em quadrinhos (HQ) proporcionou um canal

de comunicação viável para as histórias em quadrinhos, além de altamente lucrativo para os

empresários do ramo. (Vergueiro, 2004). Os Estados Unidos foram o contexto apropriado

para o desenvolvimento das HQ, devido a todas as vantagens, sejam as tecnológicas, sejam as

de amparo econômico e social para a consagração total que existe em torno das histórias em

quadrinhos.

O mercado de quadrinhos brasileiro era dominado pelas HQs estrangeiras e com isso se faz

necessário as traduções e adaptações do inglês para o português a fim de atingir os leitores

brasileiros transpondo a linguagem utilizada de acordo com a época junto com os demais

códigos linguísticos utilizados pelos autores, tal quais as gírias, para aproximação do leitor

geralmente jovem, que permite ao autor das histórias segundo Burke (1997) fazer uma relação

entre língua e sociedade.

Neste sentido a gíria não empobrece a língua, mas sim enriquece a cultura de um povo. É um

código bastante difundido entre os povos. Assim, verifica-se que esta linguagem é um código

linguístico engajado, que vem conquistando espaço na sociedade brasileira, entre os falantes

mais jovens, pois se trata de uma forma de a juventude marcar a linguagem do grupo a que

pertence (PRETI, 1984).

A produção das histórias em quadrinhos, como produto de massa, preocupa-se com o

acompanhamento das mudanças na sociedade, se é possível supor que a função primária da

linguagem é a comunicação, então, a noção de uma linguagem particular ou até mesmo

secreta é, sem dúvida, paradoxal. (BURKE,1997)

Utilizando-se da inclusão de novos recursos linguísticos de acordo com o período em questão

se faz necessário a adaptação de gírias quando traduzimos os quadrinhos do inglês para o

português.

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O desenvolvimento e o fornecimento da sensibilidade cultural por meio da tradução dos

quadrinhos do inglês para o português mantêm a identidade dessas histórias como forma de

expressão em relação ao uso da língua, expondo características típicas e originais das HQs,

como por exemplo, os significados da língua com a presença de gírias para demonstrar

expressões populares, culturais e marcantes que se fazem presentes nas histórias em

quadrinhos estrangeiras quando traduzidas para a realidade do Brasil.

Essas noções inseridas nas HQs e na composição de seus personagens por meio da linguagem

utilizada demarcam os aspectos culturais e pragmáticos da utilização de gírias como

características de um contexto estrangeiro que permite as traduções desse gênero literário e se

torna um importante objeto de análise por sua ordem linear e sua linguagem clara e objetiva.

Como por exemplo, o mecanismo encontrado na tradução para a manutenção de expressões

como o pronome possessivo “thy” e o pronome objeto “thee”, já em desuso, foi a utilização

dos pronomes “teu” e “te”, respectivamente. A opção por esses pronomes visa manter o tom

formal e poético do original. A estrutura sintática da sentença utilizada na tradução visa

igualmente reproduzir as inversões do original, tais como “while I thy amiable cheeks do

coy”, que foi traduzido por “enquanto eu teu amável rosto aliso”. (Shakespeare, 2011)

O gênero textual das HQs vai muito além das variedades de temas, gêneros, público-alvo e

têm uma grande dimensão nacional e internacional, pois com a evolução da tecnologia é

necessário destacar o importante e imprescindível papel da internet na popularização,

distribuição e divulgação desses quadrinhos, sendo assim é bem possível encontrar

publicações de quadrinhos feitos e compartilhados por grupos e fãs de determinado gênero

preferido que se reúnem para fazer traduções de histórias publicadas semanalmente pelas

revistas especializadas e transformam em sua língua materna para serem disponibilizadas

depois na web.

Segundo Calvet (2007, p.11), “a intervenção humana na língua ou nas situações linguísticas

não é novidade: sempre houve indivíduos tentando legislar, ditar o uso correto ou intervir na

forma da língua” e isso se torna mais uma mania desses jovens que muitas vezes optam por

fazer a tradução com nomes e termos da língua de origem ao invés de adaptar ao seu idioma,

o que acaba caracterizando uma tendência estrangeirizadora. (Venuti, 2002).

Portanto, se faz necessário uma pesquisa mais aprofundada desses textos das Histórias em

Quadrinhos traduzidos sem que percam sua verdadeira identidade e intenção de sentido das

palavras do autor que as escreve e nos permite perceber que o uso desses termos na escrita

denominado jargão, permite o seu uso por um grupo social se tornando um dos meios mais

potentes de inclusão e exclusão social, ligando as tendências que as pessoas seguem com as

impressões que elas tentam criar. (BURKE, 1997)

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1 REVISÃO DA LITERATURA

As reflexões deste artigo têm como preocupação analisar HQs de origens norte-americanas e

suas respectivas traduções que trazem expressões políticas, ideológicas, éticas, sociais e

filosóficas de acordo com as traduções para a Língua Portuguesa que ocorriam na época pelos

jornais locais do estado do Rio de Janeiro e que nos demonstram por meio das traduções a

identidade inserida do brasileiro, com a presença de tradições, gírias e expressões idiomáticas

presentes nos quadrinhos traduzidos, demonstrando assim a impossibilidade de uma tradução

fidedigna das histórias, pois de acordo com Burke (1997) a linguagem, da mesma forma que

as relações sociais, é uma via de mão dupla, na qual os transeuntes se encontram e interagem.

Usa-se as gírias nas HQs como uma representação da fala de um grupo.

Burke (1997, p.87) afirma que:

A gíria do submundo constituía um dialeto social, que poderia ser usado para

fins defensivos, com o intuito de manter uma realidade alternativa, ou para fins

ofensivos, para protestar contra a ordem vigente. [...] Um estudo recente sobre a

gíria entre estudantes (principalmente brancos) secundaristas sul-africanos cita

seu uso comum no interior de um grupo social para desafiar a convenção

linguística ou social.

Quando falamos em linguagem como código de comunicação, temos que dar ênfase a grande

influência que as gírias têm no meio social, que durante algum tempo era mal vista pela

sociedade por geralmente serem utilizadas por grupos que sofriam rejeições, como

presidiários, prostitutas, entre outros, Burke (1997) acrescenta que a gíria era um código

particular de identificação e um passaporte social para mundos e práticas ocultas, mas que

depois ganhou uma amplitude na sociedade onde qualquer grupo social atualmente faz uso de

gírias independente de padrões sócio-econômicos.

Preti (2006, p. 242) afirma que:

[...] quando se trata da história da gíria, conhecê-la significa penetrar no mundo

da marginalidade, na vida dos grupos excluídos da sociedade pela sua própria

condição de pobreza ou pelas suas atividades peculiares (não raro ilícitas), os

quais buscam com a criação de um vocabulário criptológico uma forma de defesa

de suas comunidades restritas. Mas, por outro lado, historicamente, são os

mesmos motivos de preservação e segurança que fizeram com que comerciantes

ambulantes, mascates, na Idade Média, criassem seus próprios códigos secretos

de identificação. E essa gíria da marginalidade e do comércio se mistura também

à de um povo surgido na Índia, historicamente discriminado, os ciganos, que,

com sua vida nômade, espalharam seu vocabulário em várias áreas da Europa e,

posteriormente, da América.

Apesar da normalidade da utilização das gírias presente na comunicação do dia-a-dia, é muito

difícil encontrar uma definição suficiente sobre o seu significado. Para tanto, Preti (1984, p.

67) aponta para uma compreensão de gíria em dois níveis: a “gíria de grupo”, de uso mais

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restrito, que se caracteriza como uma linguagem de identificação e de defesa, buscando

comunicação e, ao mesmo tempo, a preservação de um grupo. E o segundo nível que é a

“gíria comum”, amplamente difundida.

É o caso de palavras encontradas diariamente na conversação, na mídia, até na

imprensa escrita, perdida a própria consciência de sua origem gíria: legal,

bárbaro, bronca, grana, etc. Em outras épocas elas estiveram ligadas ao

vocabulário de grupos restritos e, hoje, vulgarizaram-se, banalizaram-se na

linguagem espontânea do dia a dia. Tornaram-se o que poderíamos chamar de

gíria comum. (PRETI, 2000, p. 214)

De acordo com Bulhões (2007, p. 58) “a gíria é derivada de contribuições variadas da

língua comum, abrangendo arcaísmos, neologismos, aspectos estilísticos, mudanças

sintáticas e outros recursos que, a princípio, teriam o objetivo de tornar uma linguagem

irreconhecível”

Quanto ao processo de formação das gírias, há basicamente dois, segundo Preti (1984,

p. 5-6): 1. alteração do sentido original por meio de processo metafórico. Ex.: piranha

(sentido original: tipo de peixe carnívoro; sentido metafórico: prostituta). 2. deformação

dos significantes dos vocábulos. Ex.: mulherengo (pessoa do sexo masculino afoita por

mulheres).

Urbano (2001, p. 182) acrescenta que podem ocorrer concomitantemente os dois

processos, o de alteração (ou desvio semântico) e o de deformação, Urbano (2001, p.

197), após análise de mil palavras gírias, reconheceu a dificuldade de se obterem

conclusões definitivas pelo fato de ser uma "área muito movediça de explicação

etimológico-semântica".

A gíria é a chave para uma subcultura, para uma antilinguagem de uma anti-sociedade,

a chave para um submundo (Burke, 1997)

Trask (2004, p. 124) assinala que a gíria é “uma forma linguística informal e

frequentemente efêmera”. Além disso, é exposto que “as expressões de gíria costumam

ser introduzidas por membros de um grupo social particular; podem continuar sendo

típicas desse grupo e servir como uma de suas marcas de identidade ou, ao contrário,

tornar-se mais amplamente conhecidas e usadas”. Outro aspecto abordado por Trask

(2004, p. 125) é que a gíria “tem sido descrita como língua em estado de jogo, isto é, as

melhores gírias são pitorescas, exuberantes, espirituosas e fáceis de lembrar”.

Segundo Santos (2007, p. 13) existem fatores que podem facilitar a passagem de

gíria para a língua comum. Como a língua é um sistema em constante evolução,

algumas gírias comuns podem se tornar mais expressivas do que as palavras já

cristalizadas dentro da língua comum, fazendo com que essas gírias, futuramente

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migrem para o âmbito da língua comum e tornem-se mais usuais do que as antigas

formas da escrita e da fala de determinadas expressões.

As HQs são expressões culturais populares que envolvem a língua e a linguagem que

demonstram grande influência em relação ao uso de gírias, expressões que caracterizam

os personagens e também demonstram por meio do diálogo através de balões de fala a

época da história, as condições sociais dos personagens e suas principais características.

As HQs tinham um conteúdo repleto de mensagens americanizadas, nas quais se notava

a veemente glorificação norte-americana e a valorização dos costumes e cultura daquela

nação. Observa-se a questão da ideologia, fortemente arraigada nas HQs e vendida para

todos os países em uma forma de se mostrar a potência que exerciam os Estados Unidos

na época. (Vergueiro, 2004, p.10)

Diante disso, quando as HQs foram disseminadas pelos países a fora, foi necessário

fazer as traduções para as línguas de origem no qual se tornaria um público-alvo dos

possíveis leitores, e as dificuldades, a princípio não imaginadas pelos tradutores,

começam a se apresentar no momento em que este, após a leitura atenta do texto, tenta

colocar em prática a tradução levando em consideração a cultura, a diferente forma de

expressão por meio da fala dos personagens que assim como os diálogos, devem

também sofrer o processo de tradução.

Considerando a visão de Britto (2012, p. 55):

Em suma: cabe ao tradutor, dentro dos limites do idioma com que trabalha, e de

suas próprias limitações pessoais, produzir na língua-meta um texto que seja tão

próximo ao texto-fonte, no que diz respeito às suas principais características

enquanto obra literária, que o leitor de sua tradução possa afirmar, sem estar

mentindo, que leu o original. Sabemos que, estritamente falando, isso não é

verdade; mas não nos devemos preocupar com esse fato. Como já vimos, quando

afirmo que li uma obra originariamente redigida numa língua que desconheço,

pressupõe-se que eu a tenha lido em tradução e nesses casos presume-se também

que ler a tradução é ler o original.

Arrojo (1996, p.10) nos traz uma reflexão sobre essa complexa interação entre os

mecanismos da tradução, a natureza da linguagem e a produção de significados:

[...] ao tentarmos refletir sobre os mecanismos da tradução, estaremos lidando

também com questões fundamentais sobre a natureza da própria linguagem, pois

a tradução, uma das mais complexas de todas as atividades realizadas pelo

homem, implica necessariamente uma definição dos limites e do poder dessa

capacidade tão “humana” que é a produção de significados. Afinal, não é por

acaso que até hoje, em nosso mundo cada vez mais computadorizado, não há

nem a mais remota possibilidade de que uma máquina venha substituir

satisfatoriamente o homem na realização de uma tradução.

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Nessa tentativa de traduzir o texto de partida, o tradutor se depara com duas estratégias: a

domesticação e a estrangeirização. Segundo Venuti (2002), domesticação seria o “processo

em que todo o conteúdo é aproximado do ambiente cultural do leitor da tradução.”. Por sua

vez, a estrangeirização se daria quando a estratégia de tradução permite que um leitor seja

levado para o texto estrangeiro.

Venuti (2002) afirma que podem ser domesticadoras as estratégias de tradução que

naturalizam o exótico ou o estranho da cultura estrangeira e estrangeirizadoras as que

preservam as diferenças culturais e linguísticas, desviando-as dos valores domésticos.

Considerando a Língua Portuguesa utilizada como idioma no Brasil, nos permite vivenciar a

enorme variação fonética e escrita identificando e diferenciando os diferentes grupos sociais e

étnicos que existem em nosso país no qual se tornam ainda mais difícil a possibilidade de

tradução simultânea e fidedigna de HQs estrangeiras com tantas variantes regionais e

significativas que caracterizam a riqueza de identidade cultural brasileira dificultando ainda

mais a tradução sem levar em consideração essa heterogeneidade linguística.

2 METODOLOGIA

Foram coletados dados a partir de um corpus de revistas da Marvel, O Quarteto Fantástico

(The Fantastic Four) publicadas no Brasil por volta de novembro de 1961, traduzidas pela

primeira vez pela editora EBAL (Editora Brasil-América Limitada) que tem sua sede carioca

na cidade do Rio de Janeiro desde 1945. Em tais revistas os tradutores optaram por gírias

comuns do Rio de Janeiro. Como naquele momento a circulação das HQs era grande em todo

o Brasil, tal tradução e adaptação ajudou a popularizar gírias do Rio. Assim, compararemos

com a versão em inglês e mostraremos como elas ajudaram a levar um modelo linguístico

para o resto do país.

A análise em específico dessa HQ da Marvel verifica a qualidade da tradução em aspectos

linguísticos, morfossintáticos e semânticos como expressões e gírias que foram criadas pelos

tradutores brasileiros a fim de tentar reproduzir da maneira mais fidedigna possível do

original, para citar alguns exemplos:

Exemplo 1 :

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Começamos a nos deparar com as barreiras da tradução já na primeira folha da introdução

da HQ:

1-Narrator: A realm of nightmare, a place

of utter, unending madness dominated by

the temple of despair

1-Narrador: tão real quanto um pesadelo

Nesse primeiro exemplo é perceptível que o tradutor quis resumir a escrita do original que

se fosse corretamente traduzido teria a tradução de: (Um reino de pesadelo, um lugar de

absoluta loucura, interminável dominado pelo templo do desespero) e com isso ele já nos

demonstra a criação suscinta da expressão demosntrada acima com a diferença da

morfossintaxe (vocabulário e expressões) utilizada na tradução para o português.

2- As much real as a dream, there is

nowhere more terrible, because it mixes

what was with what is…

2-Este lugar mescla passado e presente para dar

forma ao que virá...

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No segundo exemplo vemos novamente o caso de resumir as expressões do original para o

traduzido para o português que se fosse traduzido de forma fiel ao original teria como

tradução: (Tanto real como um sonho, não há lugar mais terrível, porque mistura o que era

com o que é) e o tradutor prefere utilizar a palavra mesclar ao invés de misturar que seria a

tradução fiel.

3- Dad! You killed her! 3- Papai! Como o senhor teve coragem!

Nesse terceiro exemplo é possível perceber que além de uma tradução totalmente diferente

da fiel que seria: ( Papai! Você a matou!) ou ainda de forma informal também poderia ser

representado como: ( Papai! Você matou ela!) e o tradutor trás a forma senhor que é muito

utilizado na língua portuguesa como pronome de tratamento quando nos referimos aos pais

como uma forma de educação e talvez devido a dificuldade em saber como utilizar a

escrita do pronome se na forma formal ou informal por acreditar que leitores de HQs

geralmente tem como uso do vocabulário uma linguagem mais informal, optou por trocar o

verbo matar junto ao pronome pelo substantivo coragem demonstrando aqui novamente

uma diferença morfossintática, semântica ( mudança de significado) e pragmática ( a

linguagem no contexto da comunicação) com o uso da informalidade na fala do narrador.

Exemplo 2:

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4- You killed mommy! 4- O senhor matou a mamãe!

Nesse exemplo vemos novamente a troca do pronome você pelo pronome de tratamento

senhor demonstrando uma maneira de respeito e educação quando crianças se reportam a

falar com os seus pais.

5- No, I won’t leave... not till you explain!

Dad you killed then all! 5- Eu não vou embora, o senhor matou todo

mundo! Por quê papai?

Nesse exemplo percebemos a troca dos verbos no futuro e na forma negativa (não partirei)

por (não vou embora) pelo fato de sabermos que na língua portuguesa não temos

expressões para representar o futuro como no caso do inglês (will ou na forma negativa

Will + not = won’t) e só se torna possível com as conjugações do verbo no futuro, uma

tradução totalmente diferente de ( não até que você me explique) por ( Por quê papai? ) e

a mudança da troca da expressão (then all) por (todo mundo) que na sua tradução fiel

significa (então todos) demonstrando novamente a necessidade que o tradutor encontra de

tornar mais informal a linguagem da HQ para os leitores brasileiros.

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6- How could you know? How could you

be certain? 6- Como o senhor pode ter tanta certeza?

Nesse exemplo percebemos a preocupação do tradutor em não utilizar os tempos verbais

corretos do original devido a presença de verbos auxiliares como é o caso do could e que

sabemos que não acontece na língua portuguesa, a tradução fiel deveria ser: (como você

poderia saber? Como você poderia estar certo?) e o tradutor usa novamente o pronome de

tratamento senhor e reduz a oração modificando os verbos e o adjetivo de certo para certeza.

7- This time bub, you are wrong! 7- Dessa vez cara, tu tava errado!

Nesse exemplo percebemos o uso de gírias pelo fato de não existir uma palavra que possa

traduzir fielmente o termo em inglês (bub) que o tradutor preferiu traduzir como (cara), uma

gíria muito utilizada no Brasil criado provavelmente pelos cariocas quando quer se referir a

um amigo próximo ou mesmo ao ouvinte do sexo masculino, mas que tem entendimento em

qualquer canto do país, e faz a troca do pronome you (você) por tu junto com a redução do

verbo estava por (tava) apresentando aqui marcas de expressões idiomáticas transcritas da

fala para a escrita que é uma característica muito usal na linguagem informal.

8- Only it didn’t just cost the lives of your

own… the fantastic four…

8-Mas isso não custou somente a vida da sua

moçada... O quarteto fantástico...

Este exemplo também demonstra a inversão da linguagem pelo uso mais fácil da gíria,

pois a oração que deveria apresentar como tradução fiel: (Só que não apenas custou a

vida de seu próprio) foi traduzida por sua moçada que também é uma gíria nomalmente

utilizada pelos cariocas quando fala das pessoas mais próximas e a palavra quarteto que

foi utilizada por não ter uma outra palavra em inglês para representar e se usa a escrita

do número 4 (four).

3 RESULTADOS ESPERADOS

Com a organização das gírias e das expressões adaptadas do inglês para o português foi

demonstrado que não há tradução fidedigna quando traduzidas de um idioma para o

outro principalmente quando o tradutor tenta modificar o tipo de linguagem utilizada

pelo autor transformando a linguagem em informal e também fazendo uso de marcas da

oralidade (fala) quando transcritas nas HQs.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Através da análise proposta nesse artigo, é evidente percebermos a grande influência

das características da oralidade que se manifestam nos textos das HQs com a intenção

de tornar a linguagem escrita tão informal quanto a linguagem falada para disseminar a

todo tipo de leitor no território brasileiro independente de idade.

Quando quadrinhos são traduzidos uma mudança de gênero, público, formato de

publicação (ou uma combinação dos três) podem estar envolvidos, e o tradutor decide

qual é a melhor forma de fazer as traduções.

Em se tratando de quadrinhos, essa avaliação significa concentrar-se principalmente

sobre as especificidades para avaliar a quantidade de jogos de palavras, onomatopéias,

expressões recém-criadas pelo país que será traduzido a HQ e para avaliar as possíveis

dificuldades que possam surgir a partir de conteúdos gramaticais e orais das histórias

em quadrinhos originais.

Dentro deste questionamento entram ainda duas questões entre o original e a fidelidade

da tradução. Para Arrojo (1996, p. 22-23), "(...) traduzir não pode ser meramente o

transporte, ou a transferência, de significados estáveis de uma língua para outra, porque

o próprio significado de uma palavra, ou de um texto, na língua de partida, somente

poderá ser determinado, provisoriamente, através de uma leitura". A mesma autora

continua, abordando o conceito de fidelidade: "O texto, como o signo, deixa de ser a

representação 'fiel' de um objeto estável que possa existir fora do labirinto infinito da

linguagem e passa a ser uma máquina de significados em potencial". (ARROJO, 1996,

p. 23)

Assim que a questão do que é redundante para o tradutor para traduzir está resolvido, e

a questão do grau de adaptação também está, o tradutor prossegue com a tradução

acreditando está fazendo da melhor maneira possível a fim de agradar os seus fiéis

leitores que podem se acharem necessário procurar as histórias originais caso consiga

dominar a língua de origem para fazer a leitura.

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*Professora Especialista da Universidade para O Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal –

UNIDERP. **

Professor Doutor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS.