GIPSO – CaSO 4 .2H 2 OGIPSO – CaSO 4.2H 2O O gipso é o sulfato mais comum, um dos minerais mais...

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GIPSO – CaSO4.2H2O O gipso é o sulfato mais comum, um dos minerais mais abundantes em rochas evaporíticas. Constitui um minério muito importante para gesso, cargas minerais (“fillers”), fertilizantes e muito mais. No Brasil popularizou-se o nome “gipsita” para o mineral. Entretanto, considerando o nome do mineral em outras línguas (alemão: “Gips”, francês: “Gipse”, inglês: “Gypsum”, etc.) o termo correto é “gipso”. Quanto a variedades há a selenita, que é uma variedade transparente. “Satin spar” são formas fibrosas. Alabastro é uma variedade de grão muito fino, adequada para esculturas. Ordita são pseudomorfos de gipso sobre um outro mineral. 1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem Monoclínico prismático Incolor a branco, pode ser amarelo, azul, rosa, marrom, marrom avermelhado, cinza e outros. Maciço, tabular, cristais geralmente prismáticos longos, acicular, terroso, maciço, granular, etc. Muitos hábitos possíveis {010} perfeita {100} distinta. Tenacidade Flexível, não elástico Maclas Fratura Dureza Mohs Partição {110} muito comum, há várias outras. Conchoidal em {100} Estilhaçada // a {001} 1,5 - 2 não Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm 3 ) Branco Vítreo, sedoso, perláceo, gorduroso. Transparente 2,31 – 2,33 2. Geologia e depósitos: Gipso é o sulfato mais comum, geralmente encontrado em evaporitos formados pela evaporação de águas marinhas. Pode se formar por hidratação da anidrita, processo que implica em aumento de volume. A passagem de gipso para anidrita implica em redução de volume; pode formar cavernas. Ocorre em fumarolas vulcânicas, em fontes quentes e em solos a partir da anidrita. É encontrado em cavidades em geral, desde cavernas (Mina de Naica no México), em paredes de minas (eflorescências), em cavernas onde o ar é seco o suficiente (espeleotemas) e associado a outros minerais secundários em vesículas em rochas vulcânicas (Distrito Mineiro de Ametista do Sul, RS, Brasil). Outras formas de gipso incluem as “rosas do deserto”, que são agregados de cristais de gipso formados em subsuperfície, um pouco acima do nível do aquífero freático, as dunas com areia de gipso no White Sands National Monument (New México, USA) e as dunas de gipso na região polar norte de Marte. Sua associação com minérios sulfetados ou oxidados é rara. Pode ser hidrotermal, mas é algo mais comum em zonas de oxidação (gossans), formado pela oxidação de sulfetos como a pirita. 3. Associações Minerais: Em evaporitos associa-se a halita, anidrita, calcita, aragonita e dolomita. Em zonas de oxidação (gossans) ocorre com enxofre nativo, cobre nativo, celestina, pirita, azurita, siderita, argilominerais, e muitos outros. Também se associa a quartzo e fluorita.

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GIPSO – CaSO4.2H2O O gipso é o sulfato mais comum, um dos minerais mais abundantes em rochas evaporíticas. Constitui um minério muito importante para gesso, cargas minerais (“fillers”), fertilizantes e muito mais.

No Brasil popularizou-se o nome “gipsita” para o mineral. Entretanto, considerando o nome do mineral em outras línguas (alemão: “Gips”, francês: “Gipse”, inglês: “Gypsum”, etc.) o termo correto é “gipso”. Quanto a variedades há a selenita, que é uma variedade transparente. “Satin spar” são formas fibrosas. Alabastro é uma variedade de grão muito fino, adequada para esculturas. Ordita são pseudomorfos de gipso sobre um outro mineral.

1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem

Monoclínico prismático

Incolor a branco, pode ser amarelo, azul, rosa,

marrom, marrom avermelhado, cinza e

outros.

Maciço, tabular, cristais geralmente prismáticos longos, acicular, terroso,

maciço, granular, etc. Muitos hábitos possíveis

{010} perfeita {100} distinta.

Tenacidade

Flexível, não elástico

Maclas Fratura Dureza Mohs Partição

{110} muito comum, há várias outras.

Conchoidal em {100} Estilhaçada // a {001}

1,5 - 2 não

Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)

Branco Vítreo, sedoso, perláceo, gorduroso.

Transparente 2,31 – 2,33

2. Geologia e depósitos:

Gipso é o sulfato mais comum, geralmente encontrado em evaporitos formados pela evaporação de águas marinhas. Pode se formar por hidratação da anidrita, processo que implica em aumento de volume. A passagem de gipso para anidrita implica em redução de volume; pode formar cavernas.

Ocorre em fumarolas vulcânicas, em fontes quentes e em solos a partir da anidrita.

É encontrado em cavidades em geral, desde cavernas (Mina de Naica no México), em paredes de minas (eflorescências), em cavernas onde o ar é seco o suficiente (espeleotemas) e associado a outros minerais secundários em vesículas em rochas vulcânicas (Distrito Mineiro de Ametista do Sul, RS, Brasil).

Outras formas de gipso incluem as “rosas do deserto”, que são agregados de cristais de gipso formados em subsuperfície, um pouco acima do nível do aquífero freático, as dunas com areia de gipso no White Sands National Monument (New México, USA) e as dunas de gipso na região polar norte de Marte.

Sua associação com minérios sulfetados ou oxidados é rara. Pode ser hidrotermal, mas é algo mais comum em zonas de oxidação (gossans), formado pela oxidação de sulfetos como a pirita.

3. Associações Minerais:

Em evaporitos associa-se a halita, anidrita, calcita, aragonita e dolomita.

Em zonas de oxidação (gossans) ocorre com enxofre nativo, cobre nativo, celestina, pirita, azurita, siderita, argilominerais, e muitos outros.

Também se associa a quartzo e fluorita.

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4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA:

Índices de refração: nα: 1,519 – 1,521 nβ: 1,522 – 1,523 nγ: 1,529 – 1,530

ND Cor / pleocroísmo: incolor, não apresenta cor muito menos pleocroísmo.

Relevo: Baixo.

Clivagem: uma clivagem perfeita {010}, duas clivagens distintas em {100} e {011}.

Hábitos: normalmente cristais anédricos a subédricos. Prismas curtos a aciculares, tabular fino ou espesso, lenticular em rosetas, pode estar curvado, deformado, fibroso, terroso, concrescionário, granular ou maciço.

NC Birrefringência e cores de interferência:

birrefringência baixa, de 0,01: cores de interferência cinzentas a brancas, semelhantes a feldspatos e quartzo.

Extinção: tende a ser oblíqua, até 15º. Em seções paralelas ao eixo b é paralela.

Sinal de Elongação: SE(+) ou SE(-) pela clivagem, não é diagnóstico.

Maclas: maclas simples são muito comuns macroscopicamente: de contato em {011} formando cruzes e “V”s, de contato em {-101} formando maclas em forma de borboleta ou coração. Durante a preparação da lâmina delgada, o aquecimento pode formar maclas polisintéticas em (100), que podem ser curvas.

Zonação: sem informações.

LC Caráter: B(+) Ângulo 2V: 58º a 19º, decresce com aumento da temperatura.

Alterações: pode desidratar para anidrita. Por aquecimento, durante a preparação da lâmina delgada, pode se transformar em bassanita (CaSO4.½H2O).

Pode ser confundida com: anidrita possui clivagem pseudocúbica, extinção reta e birrefringência muito mais elevada, suas cores de interferência são muito coloridas, enquanto o gipso é cinzento. Em agregados finos o gipso pode ser confundido com calcedônia, mas calcedônia é U(+), um dado quase impossível de obter em função do tamanho diminuto dos cristais. Várias zeolitas são muito semelhantes ao gipso, quase indistinguíveis: estilbita, escolecita, phillipsita, laumontita e outras. É necessário considerar a paragênese para excluir ou não a possibilidade de haver zeolitas.

Agregado de gipso com anidrita a ND (à esquerda) e a NC (à direita). Ambos os minerais a ND são incolores e apresentam relevo baixo. A NC, a anidrita apresenta cores de interferência fortes, coloridas, intensas, enquanto o gipso apresenta cores cinzentas como quartzo e feldspatos.

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Cristais tabulares bem desenvolvidos de gipso (cinza) e anidrita (colorida) a NC.

Microcristais de gipso, quase fibrosos, em várias orientações, formando uma massa densa. NC, aumento de 10x + zoom.

Agregado em roseta de gipso (cinzento) e anidrita (colorida) a NC, aumento de 10x + zoom. São agrupamentos radiais de cristais tabulares.

Gipso em agregado denso de cristais tabulares finos. NC, aumento de 2,5x. Com este material são confeccionadas luminárias de gipso.

Minério de gipso do Pólo Gesseiro de Araripe (PE). NC, aumento de 2,5x. Trata-se de cristais aproximadamente tabulares, paralelos entre si, que formam bandas horizontais. Alternam-se bandas horizontais de cristais mais largos (em baixo na imagem) com cristais mais finos e menores (quase no topo da imagem). As bandas são algo irregulares, mas facilmente visíveis tanto ao microscópio como em amostra de mão.

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5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA:

A microscopia de Luz Refletida evidentemente não é o método analítico recomendado para a identificação do gipso. Entretanto, é importante a confecção de uma lâmina ou seção polida para a identificação dos minerais opacos que ocorrem associados ao gipso.

Preparação da amostra: a baixa dureza do gipso torna a confecção de seções polidas bastante difícil. O desbaste precisa iniciar diretamente com um abrasivo fino, no polimento deve-se evitar fazer pressão, em poucos minutos a seção está polida. A excelente clivagem {010} torna a confecção de seções perpendiculares à clivagem muito difícil. É quase impossível evitar sulcos de polimento. “Limpando” a superfície polida com um lenço de papel macio, a superfície já fica coberta com sulcos e o polimento precisa ser refeito. Em agregados poliminerálicos os cristais de gipso provavelmente apresentarão forte relevo negativo.

ND Cor de reflexão: Cinza escuro

Pleocroísmo: Não

Refletividade: ~5% Birreflectância: Não

NC Isotropia / Anisotropia: Não possui anisotropia

Reflexões internas: Generalizadas claras, leitosas, brancas a multicoloridas.

Pode ser confundido com: muitos outros minerais incolores, mas a baixíssima dureza é bastante diagnóstica.

Sulcos de polimento, muito comuns em ND, a NC não são mais visíveis.

Clivagem será visível em cristais bem formados se a clivagem for perpendicular à seção polida. Em blocos confeccionados paralelamente à clivagem {010} não se observa clivagem.

Versão de fevereiro de 2020

Esquerda: gipso a ND. A cor de reflexão é um cinza escuro e se destacam as reflexões internas mesmo a ND e a grande quantidade de sulcos de polimento, praticamente inevitáveis devido à baixa dureza do gipso. Direita: gipso a NC. As reflexões internas são incolores e, em função da excelente clivagem, surgem áreas com reflexões multicoloridas.