Giordano Bruno

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1. INTRODUO

Filippo Bruno, mais conhecido comoGiordano Bruno, foi filsofo, astrnomo e matemtico. Nasceu na cidade de Nola, uma provncia localizada em Npoles, Itlia, no ano de 1.548. Seus pais foram Juano Bruno e Fraulissa Savolino. O nome Giordano lhe foi dado quando ingressou no convento de So Domingos, mesmo convento em que foi ordenado sacerdote, em 1.572..Morreu em Roma, a 17 de fevereiro de 1600. Discpulo do filsofo Franscesco Patrizi, membro da Academia Florentina, ingressou na Ordem dos Pregadores aos 17 anos de idade, l permanecendo por dez anos, chegando a ser ordenado sacerdote e a receber o grau de doutor em Teologia em 1575.

2. DESENVOLVIMENTOGiordano Bruno comeou a ter diversos problemas com superiores ainda no convento. Em 1.567, foi iniciado um processo contra Giordano, por insubordinao, porm esse foi logo suspenso. A grande viso de Bruno e sua percepo dos erros do pensamento intelectual da poca em que vivia fizeram que, em 1.576, tivesse de sair de Npoles para Roma, pois estava sendo perseguido. Depois, teve de fugir novamente, porm o destino desta vez o levou Sua, onde freqentou locais calvinistas. Passou-se pouco tempo para concluir que o pensamento sobre teologia que tinham os protestantes era to retrgrado quanto o dos catlicos.Em 1579, Bruno mudou-se para Frana, e pouco depois de chegar, atraiu a simpatia do rei Henrique III. Na dcada seguinte, Giordano mudou-se para Inglaterra, porm entrou em atrito com professores de Oxford. Voltou por um curto tempo para a Frana, e, depois, foi para Alemanha protestante onde viveu com luteranos. Recebeu ento um convite para ensinar as artes combinatria e mnemnica ao veneziano Giovanni Mocenigo. Giordano aceitou o convite, e foi Itlia em 1.591. Neste mesmo ano, Mocenigo se decepcionou com Giordano, pois desejava que ele lhe ensina-se a arte da magia, com a finalidade de adquir, atravs da magia, riquezas e poder. Como Giordano se recusou a ensin-lo, Mocenigo o trancou em um quarto e o denunciou ao Tribunal da Inquisio.

2.1 InflunciasSo muitas as influncias apontadas que Giordano Bruno teria sofrido durante o perodo de sua formao. especialmente atrado pelas novas correntes de pensamento, entre as quais as obras de Plato e Hermes Trismegistus, ambos muito difundidos na Itlia ao incio do Renascimento. a poca dos mais acesos debates no Conclio de Trento (1545-1563), convocado pelo papa Paulo III para discutir estratgias na contra reforma protestante. Possivelmente as discusses ousadas que ocorriam em Trento, sobre temas controversos da religio e da filosofia, das quais com certeza tinha notcias no convento, influram no esprito de Giordano Bruno. Ficou impressionado com as aulas de G. V. de Colle, filsofo de tendncia averrosta (Aristotlico segundo a interpretao de Aristteles pelo muulmano Averroes) como tambm com o que leu sobre mtodos de memorizao (Mnemotcnica).botnica e zoologia, por volta de 1868, seus deveres administrativos no convento cresceram tanto, que ele abandonou por completo os trabalhos cientficos.

Esttua de Bruno em Roma2.1.1 Raimundo LlioQuanto aos mtodos de memorizao, Giordano Bruno foi muito influenciado pelo pensamento de Raimundo Llio (1235-1316), de Maiorca, mstico catalo e poeta autor de um manual da cavalaria, Ars Magna ("A grande Arte"), "A rvore da Cincia", Liber de ascensu et descensu intellectus ("O Livro da subida e da descida do intelecto") descrevendo estgios do desenvolvimento intelectual no entendimento na compreenso de todos os seres atravs do mtodo da sua arte. Assim como Santo Agostinho, Llio fez corresponder os trs poderes da alma como imagens da trindade no homem. Como intelecto, era a arte de conhecer, como vontade a arte de amar e como memria a arte de recordar. Teve vises de Cristo que o levaram a deixar a vida de casado e da corte, e adepto de So Francisco pregou no norte da frica e oriente tentando converter muulmanos ao catolicismo. Llio viu o universo inteiro refletindo os atributos de Deus. Teve ento a idia de reduzir todo o conhecimento a princpios simples com uma convergncia de unidade. Teria sido martirizado a pedradas no norte da frica.Raimundo Llio 2.1.2 Giovanni Battista Della PortaOutra influncia sobre Bruno, versando o mesmo campo, supe-se que foi a de Giovanni Battista Della Porta, um erudito napolitano que publicou um livro importante sobre mgica natural. Nessa rea, porm, talvez a influncia predominante sobre Giordano Bruno tenha sido a da antiga religio egpcia do culto ao deus Toth, escriba dos deuses, inventor da escrita e patrono de todas as artes e cincias, e identificado com o deus grego Hermes Trismegisto (Trs vezes grande) pelos neoplatnicos. As obras de Plato e tambm a Hermtica, que o conjunto dos segredos revelados por Hermes-Toth que constituem as cincias ocultas e astrologia a nvel popular, e certos postulados de filosofia e teologia a nvel erudito, - introduzidos em Florena por Marsilio Ficino ao final do sculo anterior. Giovanni Battista Della Porta

2.2 Tendncias Heterodoxas

Suas tendncias heterodoxas provocaram censuras e admoestaes e por fim chama a ateno da Inquisio em Npoles. Em 1576 deixou a cidade para escapar a um processo de heresia instaurado pelo Provincial da ordem. Fugiu para Roma onde foi vtima de uma acusao improcedente de assassinato. Um segundo processo de excomunho em Roma fez com que fugisse novamente. Deixou o hbito dominicano e perambulou pelo norte da Itlia por mais de um ano. Em 1578, viajou para a Frana e Suia, onde, em Genebra, ganhava a vida fazendo reviso de textos. Abraou o calvinismo, talvez apenas por convenincia por se achar em um pas calvinista, porque logo publicou um escrito em que criticava um professor calvinista. Discorda da tese calvinista da justificao por meio da f e no das obras, o que significa desvalorizao e desprezo de toda caridade, misericrdia e justia. A reao dos calvinistas foi rigorosa: foi preso e excomungado, porm retratou-se e assim lhe foi permitido deixar a cidade. Vai para a Frana. Passa 2 anos (1579-1581) em Toulouse, onde consegue nomeao para uma ctedra de filosofia; l tentou, sem sucesso, ser absolvido pela Igreja Catlica. A esta altura um homem sem ptria e sem Igreja.2.3 arte LulianaUm dos interesses de Bruno a Arte Combinatria Luliana. A arte luliana busca construir um sistema de relaes entre as idias as quais diz Llio, apoiando-se em Plato, que existem e so interligadas na construo da realidade. Atua por meio de tboas e figuras. Determina os elementos primeiros do pensamento: sujeitos e predicados, e os representa por meio de letras que constituem "o alfabeto da grande arte". Dispe essas letras em uma espcie de tbua pitagrica, e as escreve em tringulos, crculos que se sobrepe e faz rodar para conseguir todas as diferentes combinaes possveis. As combinaes formam o silabrio e o dicionrio da grande arte. Acreditava-se que, depois de conhecidas todas as maneiras de combinar os sujeitos com os predicados, se teria a possibilidade de responder a todas as perguntas que a mente humana pode fazer. Mas toda a sua construo gira em torno dos gonzos de um princpio filosfico platnico, isto , que as nossas idias por serem sombras das idias eternas, esto vinculadas reciprocamente, como essas, em cadeias cujos elos so partes de um sistema nico total e por isso podem iluminar-se mutuamente, pois uma s a luz que resplandece em todas. (Leibniz depois retoma essa linha).Fiel a sua primeiras leituras sobre a teoria luliana, quando professor na universidade de Toulouse Bruno escreve um livro: Clavis Magna ("A grande chave") sobre o assunto. De Toulouse seguiu para Paris, em 1581. Em Paris comeou a dar aulas de filosofia. No era incomum para os eruditos vagar de lugar para lugar, buscando alunos e protetores abastados. Ele fazia contactos facilmente e podia interessar qualquer grupo que encontrasse com o fogo de suas idias.

2.4 Perodo na Frana

Em Paris Bruno encontrou ambiente favorvel para trabalhar e lecionar. Reina Henrique III (n.1574-89), filho de Henrique II e Catarina de Medici, nascido em 1551 e falecido assassinado em 1589. Era o filho favorito, o que melindrava seu irmo que veio a ser Charles IX. A me Catarina de Medici planejou a noite de So Bartolomeu (24 de agosto de 1572), um massacre de protestantes. Foi por breve tempo rei eleito da Polnia, voltando para a Frana (1574) para assumir o trono aps a morte do irmo Charles IX. Casou dois dias depois de coroado (1575) com Louise de Vaudmont, mas no teve filhos.A corte francesa era bastante livre, quanto aos costumes. O rei tinha um grupo de amigos (rapazes bonitos) que chamava meus pequenos (mignons) com os quais se entregava a divertimentos suspeitos. Extravagante, Henrique III levou as finanas do reino runa; por todo o seu reinado a Frana esteve mergulhada na guerra das religies, catlicos contra huguenots (simplesmente protestantes, no se sabe a origem do nome). A reputao de Bruno chegou ao conhecimento Henrique III, que ficou curioso de conhecer essa nova atrao filosfica e descobrir se a arte de Bruno era de um mgico ou de um bruxo. Bruno gozava a reputao de um mgico que podia dotar a pessoa de uma grande reteno de memria, mas demonstrou ao rei que seu sistema era baseado em conhecimento organizado. Bruno encontrou um verdadeiro protetor em Henrique III. A corte era dominada por uma faco de catlicos tolerantes, simpatizantes do rei de Navarra, o protestante Henrique de Bourbon, sucessor presuntivo do rei.

A posio religiosa de Bruno afinava com o grupo, motivo de ser bem aceito na corte e receber a proteo de Henrique III. As artes combinatria e mnemnica so objeto de curiosidade. O rei se interessa pela arte combinatria. Bruno desperta a inveja dos professores por ser popular e admirado. O rei concede-lhe uma renda especial, nomeando-o um de seus "Leitores reais".

2.5 Sua Obra2.5.1 Primeiro e Segundo TrabalhosFoi por essa ocasio na Frana, que um dos primeiros trabalhos de Bruno foi publicado De Umbris Idearum, ("A sombra das idias") logo seguido por Ars Mernoriae ("Arte da memria"). Nestes livros ele sustentava que a idias eram somente sombras da verdade.

2.5.2 Terceiro LivroNo mesmo ano um terceiro livro surgiu: De architetura et commento artis Lulli ("Sobre a Arte de Llio e comentrio"). Llio havia tentado provar os dogmas da Igreja por meio da razo. Bruno nega o valor desse esforo mental. Ele argumenta que o Cristianismo inteiramente irracional, que contrrio filosofia e que contraria outras religies. Salienta que nos o aceitamos pela f, que a assim chamada revelao no tem base cientfica.

2.5.3 Quarto TrabalhoNo seu quarto trabalho Bruno escolhe a feiticeira de Homero, Circi, que mudava homens em bestas e faz Circi discutir com sua criada o tipo de erro que cada besta representa. O livro Cantus Circaeus mostra Bruno trabalhando com o princpio da associao de idias, e continuamente questionando o valor dos mtodos de conhecimento tradicionais.

2.5.4 II CandelajoEm 1582, na idade de 34 anos, ele escreveu uma comdia em italiano, Il Candelajo , um fabricante de velas que sai a anunciar seus produtos com gritos e estardalhao: "... as velas que fiz nascer, as quais iluminaro certas sombras de idias...O tempo d tudo e tudo toma, tudo muda mas nada morre... Com esta filosofia meu esprito cresce, minha mente se expande. Por isso, apesar de quanto obscura a noite possa ser, eu espero o nascer do dia... Alegrem-se, portanto, e mantenham unio, se puderem, e retribuam o amor com amor." Nessa pea faz uma representao eloqente da sociedade napolitana contempornea, como um protesto contra a corrupo social e moral da poca.Na primavera de 1583, no obstante a cordial acolhida que lhe fora dispensada em Paris pelo rei e pelos espritos desvinculados do aristotelismo, Bruno resolve sair da Frana. Seja porque no pudesse mais sustentar sua popularidade em Paris, ou por que a cada dia se tornava mais grave a ameaa de uma renovao da guerra civil, em abril de 1583 Bruno mudou-se para Londres, com uma carta de apresentao de Henrique III para seu embaixador para as ilhas britnicas, Michel de Castelnau.

2.6 Perodo Elisabetano

Sob a rainha Isabel, a Inglaterra vivia um Renascimento tardio. A rainha, filha de Henrique VIII e Ana Bolena, nasceu 1533. Terceira na linha de sucesso de seu pai Henrique VIII, reinou de 1558 a 1603, depois de seu irmo doente Eduardo VI e depois de sua irm mais velha Maria I, que foi casada com Felipe II de Espanha. possvel que o brilho do perodo elisabetano tenha atrado Giordano Bruno Inglaterra. Pronunciou em Oxford uma srie de conferencias no vero do mesmo ano nas quais expunha a teoria de Coprnico mantendo a realidade do movimento da terra. Oxford, como as demais universidades europeias da poca, cultivava a reverncia escolstica pela autoridade de Aristteles. Bruno, ao seu modo impetuoso, pregava que no se deveria acreditar no que Aristteles havia afirmado, quando a simples observao da natureza demonstrasse o contrrio. Devido recepo hostil dos professores oxfordianos s suas idias, ele voltou para Londres onde permaneceu como hospede do embaixador da Frana Castelnau.

Freqentou a corte e tornou-se ligado a figuras influentes tais como Sir Philip Sidney e Robert Dudley, o duque de Leicester. Em 1584 foi convidado por Fulke Greville, um membro do crculo de Sidney, para discutir sua teoria do movimento da Terra com alguns doutores de Oxford. A discusso degenerou em querela. Ao final do sculo XVI aparentemente no havia um nico professor que ensinasse o universo segundo Coprnico, exceto Giordano Bruno. Galileu apresenta suas provas no incio do sculo seguinte, e mesmo ento obrigado a abjurar a teoria. Galileu nunca encontrou Bruno em pessoa e no o menciona em seus trabalhos, sendo bastante esperto de sua parte evitar citar um herege condenado, em suas obras.

2.7 Dilogos ItalianosPouco depois Bruno comeou a escrever seus dilogos italianos, que constituem a primeira exposio sistemtica de sua filosofia. So seis dilogos, trs cosmolgicos - sobre a teoria do universo - e trs sobre moral. Na Cena de le Ceneri (1584: "A Ceia da Quarta Feira de Cinzas"), com local simulado em Paris e Veneza, ele no apenas reafirma a realidade da teoria heliocntrica mas ainda sugere que o universo infinito, constitudo de inumerveis mundos substancialmente similares ao do sistema solar. a histria de um jantar de que participam convivas ingleses, e nele Bruno difunde a teoria de Coprnico, a qual ainda era objeto de riso e, como dito acima, de descrena por no coincidir com os ensinamentos de Aristteles.

Afirmava que no havia posio absoluta no espao, como dissera Aristteles, mas que a posio de um corpo "era relativa dos outros corpos". Em toda parte ocorre mudanas relativas incessantes de posio por todo o universo, e o observador est sempre no centro das coisas". Porm, o movimento dos astros no seria esfrico como Coprnico havia apresentado. Bruno suprime a esfera das estrelas fixas conservada por Coprnico e alarga o universo ao infinito. O mundo no tem limites nem referncia absoluta e, portanto, as vrias imagens dele so relativas: qualquer ponto centro - periferia. Infinidade e relatividade. Os astros giram tambm sobre seu prprio eixo para perpetuar em si a vida, para expor sucessivamente todas as suas partes ao sol (como seres que tem vida, animismo). So afirmaes ousadas em uma poca em que o pensamento teolgico filosfico medieval era ainda predominante, e tinha como uma de suas peas bsicas a astronomia de Ptolomeu que afirmava ser a Terra um ponto imvel privilegiado, centro do movimento circular de todos os corpos celestes, teoria que afinava tanto com os textos bblicos quanto com o pensamento racional aristotlico que a escolstica integrava num todo unitrio.

Seguindo dedues tipicamente aristotlicas, diziam os mestres escolsticos que, se a terra se movesse, as nuvens seriam deixadas para trs, as folhas mortas voariam sempre no mesmo sentido; uma pedra solta do alto de uma torre se afastaria do p da torre. A esse pensamento juntava-se a concepo de que, excetuando-se o movimento circular uniforme, impresso por Deus aos corpos celestes, todos os demais movimentos so imperfeies, constituindo transgresses ou reparaes de transgresses da ordem divina. A refutao de Bruno a esse argumento, em "O Banquete das Cinzas", que a terra e tudo que nela se encontra formam um sistema. Os objetos de um navio se movem com ele. Do mesmo modo, as nuvens, os pssaros, as pedras so levados com a terra. No mesmo dilogo ele se antecipa ao seu colega italiano o astrnomo Galileu Galilei sustentando que a Bblia devia ser seguida pelos seus ensinamentos morais e no por suas implicaes astronmicas. Ele tambm criticou fortemente os costumes da sociedade inglesa e o pedantismo dos doutores de Oxford.

2.8 Causa, Principio e UnoEm De la causa, principio e uno (tambm de 1584) ele elabora a teoria fsica na qual estava baseada sua concepo do universo: "forma" e "matria" esto intimamente unidas e constituem o "Uno". Assim o tradicional dualismo dos fsicos aristotlicos foi reduzido por ele a uma concepo monstica do mundo, implicando a unidade bsica de todas as substancias e a coincidncia dos opostos na unidade infinita do Ser. Bruno animista. Em sua filosofia o universo um sistema em permanente transformao, um todo no qual nada existe imvel. No apenas um movimento mecnico e passivo, segundo as leis da fsica, mas um movimento anmico que o faz transformar-se permanentemente. Tudo que existe estaria reduzido a uma nica essncia material provida de animao espiritual.

2.9 Infinito Universo e MondiO universo no finito e limitado como pretendia a concepo medieval, mas infinito e ilimitado. O universo no contem apenas o nosso sistema (nosso mundo) mas um sistema de mundos infinitos que nascem e decaem movidos pela divina fora universal. Existiriam possivelmente inumerveis mundos habitados. Sendo Deus, criador do mundo, necessariamente um ser infinito; seria contraditrio que a uma causa infinita no correspondesse um efeito infinito. O universo, pois, como efeito de uma causa infinita no pode conceber-se seno como infinito.

No De l infinito universo e mondi ("Sobre o Infinito, Universo e Mundos") ele desenvolveu sua teoria cosmolgica criticando sistematicamente os fsicos aristotlicos. Argumentava que o universo era infinito e continha um nmero infinito de mundos, e que estes eram todos habitados por seres inteligentes. Ele tambm formula sua viso averrosta da relao entre filosofia e religio, de acordo com a qual existe a religio dos ignorantes e a religio dos doutos. A primeira considerada como um meio para instruir e governar o povo ignorante. um conjunto de supersties contrrias razo e a natureza, "til para governar os povos incultos", que vlido enquanto a humanidade no atingir um grau superior de evoluo. A religio dos doutos ou dos telogos, que o processo histrico enriquece, esclarecida, na qual se integra a filosofia como a disciplina dos eleitos que esto aptos a se controlar e governar os outros.

2.10 Trilogia Moral2.10.1 Espaccio de la bestia trionfanteO Espaccio de la bestia trionfante ("Expulso da besta triunfante") o primeiro dilogo da sua trilogia moral, uma stira sobre os vcios e supersties de sua poca, e ao o pedantismo que encontra na cultura Catlica e Protestante. Faz uma forte crtica da tica Crist - particularmente o princpio calvinista da salvao exclusivamente pela f, qual Bruno opunha uma viso exaltada da dignidade de todas as atividades humanas.

2.10.2 Cabala del cavallo PegaseoA Cabala del cavallo Pegaseo ("Cabala do cavalo Pgaso"), de 1585, com o anexo "O asno cilnico", semelhante aos anteriores, porm mais pessimista, inclui a discusso da relao da alma humana e a alma universal, concluindo com a negao da individualidade absoluta do primeiro. Nele faz da religio uma stira amarga, apresentando-a como "santa ignorncia" que condena a curiosidade mpia da pesquisa, preferindo fechar os olhos, reprovar qualquer pensamento humano e renegar todo sentimento natural, acusando-a de renuncia e proibio do livre exerccio do pensamento e da investigao filosfica. uma discusso irnica das pretenses da superstio. O "asno", diz Bruno, pode ser encontrado em toda parte, no apenas na Igreja mas nas cortes de justia e mesmo nas universidades.

2.10.3 De gli eroici furoriNo De gli eroici furori ("Dos hericos furores"), tambm de 1585, Bruno, fazendo uso da simbologia neoplatnica, trata da obteno da unio com o infinito Uno pela alma humana e exorta o homem conquista da virtude e da verdade.

2.11 Frana versus InglaterraEnquanto na Inglaterra, Bruno teve uma audincia pessoal com Elizabete I, a quem teria bajulado com superlativos, inclusive chamando-a "sagrada" e "divina", o que serviu, mais tarde, para alimentar seu processo como infiel e herege. Consta porem que a rainha no o levou em grande conta, achando-o rude, radical, subversivo e perigoso, enquanto Bruno considerava os ingleses um tanto primitivos. Suas crticas, no entanto, haviam atrado a antipatia dos mestres ingleses ainda aferrados a Aristteles, e Bruno se v obrigado a acompanhar Castelnau de volta quando este chamado pelo Rei de volta a Frana em 1585. No caminho ambos so roubados de tudo que possuam.

Em Paris encontrou uma atmosfera poltica mudada. Henrique III havia revogado o edito de pacificao com os protestantes, e o Rei de Navarra havia sido excomungado. Longe de adotar uma linha de comportamento cauteloso, no entanto, Bruno entrou em polmica com um protegido do partido catlico, o matemtico Fabrizio Mordente, a quem ridicularizou em quatro Dialogi, e em maio de 1586 ele ousou atacar Aristteles publicamente em seu Cento e vinti articuli de natura et mundo adversos Peripatetiso ("120 artigos sobre a natureza e o mundo contra os peripatticos") proclamadas em junho por seu discpulo Joo Hennequin em desafio aos doutores da Universidade de Paris. O desafio audaz provoca um tumulto grande e violento. Os catlicos moderados ento o desautorizaram, em consequncia do que Bruno se acha ameaado de perigos to graves que se v obrigado a sair logo da Frana. Muda-se para Praga (Reino da Bomia, hoje Checoslovquia), onde freqenta a corte do rei Rodolfo II, filho de Maximilian II e Maria, filha de Carlos V, Imperador do Sacro Imprio de 1576 a 1612.

2.11.1 Guerra dos Trinta AnosRudolf II, impopular e doente, se diz que nada fez para conter a Reforma ou para evitar a Guerra dos Trinta Anos. Sucedeu seu pai como imperador do Sacro Imprio Romano em 1576. Sujeito a crises de depresso, deixou Viena, a capital oficial do Imprio e retirou-se para Praga, onde vivia em recluso, ocupado com artes e cincia. Giordano Bruno encontra em Praga um ambiente propcio a suas pesquisas matemticas e astronmicas. No foi o nico a beneficiar-se do apoio de Rudolf II. O Imperador haveria de apoiar em 1599 o astrnomo holands Tycho Brahe cujos trabalhos ajudaram a convencer os europeus ainda duvidosos da teoria de Coprnico, e que, brigado com a Igreja, refugiou-se em Praga. Posteriormente ainda apoiaria o astrnomo Johannes Kepler, que sucedeu a Tycho como matemtico imperial do Santo Imprio Romano em 1601.2.12 PragaEm Praga, Bruno escreve uma crtica contra a intolerncia e sectarismo religioso, que diz contrariar a lei divina do amor. Faz uma reivindicao da dignidade prpria da liberdade espiritual humana (sem liberdade no haveria essa dignidade) doutrina certamente do agrado de Rudolf II que pouco fez para reprimir os protestantes. Mas Praga no lhe convm muito. De l Bruno vai para a Alemanha, onde perambulando de uma cidade universitria para outra, consegue ser professor em Wittenberg (1588).Ensinou e publicou uma variedade de trabalhos menores, incluindo o Articuli centum et sexatinta ("160 Artigos") contra os filsofos e matemticos contemporneos, no qual ele exps sua concepo de religio - uma teoria da coexistncia pacfica de todas as religies baseada no conhecimento mtuo e liberdade recproca de discusso. uma crtica contra a intolerncia e o sectarismo religioso, que diz contrariar a lei divina do amor. Faz uma reivindicao da dignidade prpria da liberdade espiritual humana (sem liberdade no haveria essa dignidade). Muda-se para Helmstadt, onde o Duque Henrique Jlio dispensa-lhe acolhida favorvel e cordial.

2.13 Sua Maior ObraEscreve a que considera sua maior obra: De imaginum signorum et idearum compositione ("Sobre a Associao de imagens, os signos e as idias") sobre mnemnica. Mas os calvinistas no toleram sua doutrina. Em Helmstadt, em Janeiro de 1589, ele foi excomungado pela Igreja Luterana local. Permaneceu em Helmstadt at a primavera, completando trabalhos em mgica natural e matemtica (publicado postumamente) e trabalho em trs poemas latinos - De minimo, De monade, e De innumerabilibus sive de immenso - os quais relembrava as teorias expostas nos dilogos italianos e desenvolvia o conceito de uma base atmica da matria e do ser. Para publicar estes, ele foi em 1590 a Frankfurt sobre o Maine, onde o senado rejeitou sua solicitao de permanecer. No obstante, ele conseguiu residente no convento Carmelita, lecionando para doutores protestantes e adquirindo uma reputao de ser um "homem universal" que, o Prior pensou, "no possua um trao de religio" e que estava ocupado principalmente em escrever e na quimrica e v imaginao de novidades".Em Frankfurt um editor veneziano que o encontra traz-lhe os chamados insistentes de um patrcio, Joo Mocenigo, que desejava aprender suas tcnicas mnemnicas. Bruno estava saudoso da Itlia. Aceita o convite acreditando na independncia da Repblica Veneziana. O risco no pareceu muito grande: Veneza era de longe a mais liberal dos estados italianos; a tenso europeia tinha afrouxado temporariamente aps a morte do intransigente papa Sixtus V em 1590; Henrique III desaparecera do cenrio poltico. Todo o seu reinado fora marcado pela guerra entre catlicos e protestantes, sempre em dificuldades com a Santa Liga fundada pelos catlicos e liderada por Henrique, duque de Guise, devido a concesses feitas aos protestantes. Fugiu de um levante da Liga em Paris, refugiando-se em Chartres. Mandou assassinar o Duque de Guise e o irmo dele, o cardeal de Lorraine em 1588. Uniu-se a Henrique de Navarra, lder protestante, fazendo com ele o cerco a Paris em 1589, que era uma fortaleza da Liga. Ento foi assassinado a facadas por Jacques Clment, um frade Jacobino fantico que conseguiu uma audincia. Ao morrer reconheceu Henrique de Navarra seu sucessor.O protestante Henrique IV, originalmente Henrique de Bourbon e Navarra, estava ento no trono da Frana e a pacificao religiosa parecia estar iminente. Alm do mais, Bruno ainda estavaprocurando por um estrado acadmico do qual pudesse expor suas teorias, e ele deve ter sabido que a cadeira de matemtica da Universidade de Pdua estava ento vaga. Regressou Itlia em agosto de 1591. Foi imediatamente para Pdua e durante o vero de 1591 iniciou uma srie de cursos privados para estudantes alemes e escreveu o Praelectiones geometricae e Ars deformationum . No incio do inverno, quando parecia que ele no iria receber a ctedra (ela foi oferecida a Galileu em 1592) retornou a Veneza, como hspede de Mocenigo, e tomou parte nas discusses dos aristocratas venezianos progressistas que, como Bruno, favoreciam a investigao filosfica independentemente de suas implicaes teolgicas.

2.14 Deus e matria: uma mesma substncia

Segundo as palavras do prprio Bruno sobre suas leituras, ele ficara fascinado porHerclito, Parmnides,Demcrito,Lucrcioe Plotino, entre os antigos; e, entre os modernos, pelo "onisciente" Raimundus Lullus, o "magnnimo" Nicolau Coprnico e o "divino" Nicolau Cusano (ou Nicolau de Cusa).Bruno defende a infinitude do universo, como um conjunto dinmico que se transforma continuamente, do inferior ao superior, e vice-versa, num movimento constante, por ser tudo uma s e mesma coisa, como manifestao da vida infinita e inesgotvel. Como o universo, tambm Deus infinito, sendo-lhe imanente e transcendente ao mesmo tempo, sem nenhuma contradio, pois os opostos acabam por coincidir no infinito.Para Bruno, o universo uma coisa viva, todo ele regido por uma mesma lei, sendo Deus a mnada das mnadas (espcies de tomos orgnicos e viventes), que compem o organismo do mundo. Deus est presente por toda parte, como poder infinito, sabedoria e amor, cabendo aos homens adorar toda essa infinitude com entusiasmo, numa unidade das crenas religiosas, alm de qualquer dogma positivo.A metafsica de Bruno pode ser denominada de monista, pampsiquista e para-materialista, sendo que ele concebe Deus como alma e princpio ativo do mundo - e a matria como princpio passivo. Deus e matria nada mais so, portanto, do que dois aspectos da mesma substncia.

2.15 Perseguio de MocenigoEm maio de 1592, Bruno havia terminado um outro trabalho e preparava-se para viajar a Frankfurt para publica-lo, quando se viu preso por Mocenigo no sto da sua casa. Desapontado com as lies privadas de Bruno sobre as tcnicas mnemnicas que em nada ajudaram sua precria memria, alm de considerar-se atraioado por no conseguir o milagre esperado, Mocenigo tambm ficou ressentido com a inteno de Bruno de voltar para Frankfurt para publicar seu novo trabalho. Depois de prend-lo, Mocenigo denunciou-o Inquisio Veneziana por suas teorias herticas. Levado pelo Santo Ofcio com todos os seus papeis, Bruno defendeu-se admitindo alguns erros teolgicos menores, insistindo, no entanto, nos seus postulados bsicos. O palco do julgamento veneziano parecia proceder de modo favorvel a Bruno, quando ento a Inquisio Romana pediu sua extradio.

2.16 O martrio de Giordano Bruno

Por solicitao insistente do Papa, curioso sobre a personalidade de Bruno e o contedo do processo com respeito a suas idias, o tribunal de Veneza encaminha o prisioneiro para Roma, e em janeiro de 1593 Bruno entrou na cadeia do palcio romano do Santo Ofcio. Em Roma, um frade, Celestino de Verona, junta novos testemunhos acusadores. Inicia-se um novo processo em 1593, este mais srio, acompanhado de torturas, e que haveria de prolongar-se por sete anos. O papa Clemente VIII (1592-1605) viria a ter papel decisivo no julgamento de Bruno. Apesar de engajado em refregas polticas com Veneza e Npoles, ocupava-se zelosamente da doutrina da Igreja. Foi responsvel pela publicao da vulgata (Verso standard da bblia latina) e muitos outros livros litrgicos (valendo-se do recente invento da imprensa). Criou uma comisso para resolver a querela entre Jesutas e Dominicanos sobre a graa divina e a liberdade da vontade.

O papa encarregou o cardeal Belarmino (1542-1621) de analisar e acompanhar o processo de Giordano Bruno. O Cardeal, originalmente Roberto Francesco Romolo Bellarmino, cardeal e telogo (veio a ser canonizado So Roberto Belarmino) foi um dos maiores defensores do catolicismo contra os protestantes. Jesuta em 1560, estudou em Roma e Pdua, ordenou-se em Louvain, Blgica, onde lecionou teologia. Voltando Itlia, foi feito cardeal em 1599 pelo papa Clemente VIII, a quem ajudou na preparao da vulgata da Bblia (159l-92) expurgando os erros da vulgata anterior de Sixtus V. Grande telogo, dedicou-se ao estudo das controvrsias religiosas: escreveu entre 1586-93 "Lies Relativas s Controvrsias da F Crist contra os Hereges Contemporneos". Mais tarde salvou Galileu da condenao aconselhando-o, privadamente, - antes do processo -, que tomasse a doutrina de Coprnico como hiptese. Dedicou-se grandemente aos pobres a quem destinava todos os seus rendimentos, vindo a morrer pobre.

O cardeal Belarmino extraiu das obras de Bruno 8 heresias; as quatro mais graves so duas teolgicas e duas filosficas: Teolgicas: (a) negaria a transubstanciao; (b) prioridade ideal e real do Pai e da subordinao do Filho, este originado de um ato da vontade do Pai, que lhe preexistente. Filosficas: (a) pluralidade dos mundos (os atos divinos devem corresponder potncia infinita de Deus) implicaria tambm vrias incarnaes de Cristo um nmero infinito de vezes...(raciocnio tipicamente escolstico), e (b) alma presente no corpo como o piloto no barco.Durante os sete anos do julgamento romano, Bruno a princpio desenvolveu sua linha defensiva prvia, negando qualquer interesse particular em questes teolgicas e reafirmando o carter filosfico de suas especulaes. Essa distino no satisfez os inquisidores, que pediram uma retratao incondicional de suas teorias. Em certa poca lhe foram dados quarenta dias para reconsiderar sua posio; ele prometia retratar- se mas renovava suas "tolices". Bruno ento fez uma tentativa desesperada de demonstrar que seus pontos de vista no eram incompatveis com a concepo crist de Deus. Ento conseguiu mais quarenta dias para deliberar mas no fez mais que confundir o papa e a inquisio.

2.16.1 O processo da InquisioO Santo Ofcio prendera-o oito anos antes em Veneza, onde respondeu ao primeiro processo que a Inquisio lhe moveu. Sabe-se com detalhes deste episdio porque a documentao chegou a ser publicada em 1933 por Vicenzo Spampanato. Para os seus admiradores, Giordano Bruno, que h anos vivia no exterior, teria retornado Itlia em razo de um embuste. Uma dupla de livreiros, atendendo a um desejo de um nobre veneziano chamado Giovanni Mocenigo, ao encontrar Bruno na Feira do Livro de Frankfurt (que j existia naquela poca) na Alemanha em 1590, convidou-o para vir a Veneza a pretexto de ensinar a mnemotcnica, a arte de desenvolver a memria, na qual ele era um perito. Uns tempos depois da sua volta, devido a um spero desentendimento, Mocenigo trancou-o num quarto da sua manso e chamou os agentes do ttrico tribunal para levarem-no preso, acusado de heresia. Encarceraram-no na priso de San Castello no dia 26 de maio de 1592.Documenti della vita di Giordano Bruno, Florena.Nesta primeira vez em que o interrogaram, Bruno conciliou. De nada lhe serviu. O Santo Ofcio de Roma, alegando soberania sobre o de Veneza em casos de heresia, exigiu que o Doge, mesmo a contragosto, enviasse Bruno preso. Enquanto no se deu o translado, alm de terem-no torturado, colocaram-no num espantoso calabouo, um poo imundo, mido e escuro como breu, cavado num fosso a beira do canal. A viagem a Roma, ainda que a ferros, deve ter-lhe sido um alivio.

2.16.2 Sua DefesaBruno faz sua defesa sempre tentando convencer os inquisidores 1.) da legitimidade das suas idias filosficas e da possibilidade de concilia-las com a revelao religiosa, e 2.) alegando que a acusao toma peas isoladas do contexto de seu trabalho, e 3.) que no sabe sobre o que se emendar. Bruno finalmente declarou que no tinha nada de que retratar-se e que ele nem sabia de que se esperava que retratasse. Os inquisidores rejeitaram seus argumentos e o pressionaram para uma retrataro formal. A esta altura o Papa Clemente VIII ordenou que ele deveria ser sentenciado como um impenitente e herege pertinaz. A 20 de janeiro de 1600 Bruno condenado. Ao final foi levado, a oito de fevereiro, ao palcio do Grande Inquisidor para ouvir sua sentena de joelhos, diante dos aclitos assistentes e do governador da cidade. Quando a sentena de morte foi lida para ele, ele dirigiu-se aos juzes dizendo: "Talvez vocs, meus juzes, pronunciem esta sentena contra mim com maior medo que o meu em recebe-la." Lhe foram dados mais oito dias para ver se ele se arrebentai. No adiantou. Em 17 de fevereiro ele foi trazido ao Campo di Fiori, sua boca com uma mordaa, para ser queimado vivo. Foi levado ao poste e quando estava morrendo um crucifixo lhe foi apresentado, mas ele empurrou-o para longe com marcado desdm. Seus trabalhos foram colocados no ndex em agosto de 1603 e seus livros tornaram-se raros.

2.16.3 O interrogatrio e o ultimatoEm 27 de fevereiro de 1593 ele chegou priso papal. Seguiu-se ento um longo e morosssimo processo, onde os inquisidores no sabiam bem o que fazer com ele. Interrogou-o o jesuta Roberto Bellarmino que anos depois, em 1616, j cardeal, iria acusar Galileu Galilei. Sujeitaram-no a vinte e uma entrevistas. Ocorreu que nestes anos em que passou encarcerado, Bruno mudou sua posio. O confinamento, a m comida, o frio permanente, e a constante espionagem dos seus vizinhos de cela (nos processos encontram-se citados mais de cinco testemunhos deles), ao invs de enfraquecerem-lhe o nimo, tiveram um efeito contrrio. Alm de aumentar o seu desprezo pela Igreja, endureceu-lhe a posio: "no creio em nada e no retrato nada, no h nada a retratar e no serei eu quem ir se retratar!". Infelizmente no foi esse o entender definitivo da Congregao do Santo Ofcio que reuniu-se em 21 de dezembro de 1599, presidida pelo papa Clemente VIII."Os padres telogos", determinava o documento final, "devero inculcar no dito frade Giordano (Bruno era frei dominicano, mas no mais vinculado a ordem), que suas proposies so herticas e contrrias f catlica... Se as rechaar como tais, se quiser abjur-las, que seja admitido para a penitncia com as devidas penas. Se no, ser fixado um prazo de 40 dias para o arrependimento que se concede aos hereges impenitentes e pertinazes. Que tudo isso se faa da melhor maneira possvel e na forma devida".Clemente VIII2.16.4 SentenaExigia-se a sua rendio final: abjurava e o deixavam vivo, ou o excomungavam e o entregavam ao brao secular para que o executassem, "sem que o sangue fosse derramado", isto , o queimassem. O papa esperava um triunfo. A capitulao de Bruno teria um notvel efeito propagandstico num ano da "graa"como o de 1600. Ele rejeitou. Conduziram-no ento praa Navone para escutar a sentena no dia 8 de fevereiro. Ajoelhado em frente a nove inquisidores e ao governador da cidade, disse-lhes: "vocs certamente tm mais medo em pronunciar esta sentena do que eu em escut-la!"

2.17 A Redescoberta de BrunoAo final do sculo XIX intelectuais italianos redescobriram Bruno, tomando-o como smbolo do tipo de filsofo de vanguarda ousado e livre, e mrtir da cincia e da filosofia. Para muitos no entanto no passou de um ocioso, um filsofo andarilho, um poeta vadio, e ficou longe de merecer ser chamado um cientista. Foi, sem dvida, um pioneiro que acordou a Europa de um longo sono intelectual. Ele cunhou a frase "Libertas philosophica", o direito de pensar, sonhar e filosofar, e foi martirizado devido ao seu excessivo entusiasmo. A idia do universo infinito foi uma das mais estimulantes idias do Renascimento.3. CONCLUSOMuitos dizem que Giordano Bruno viveu na poca errada. Tivesse nascido algumas dcadas antes, teria encontrado uma Europa em um estado de maior tolerncia religiosa, e no no meio do intolerante perodo da contra-reforma. Tivesse nascido algumas dcadas depois, teria se beneficiado de todas as descobertas cientficas do sculo XVII e teria sido reconhecido pelo menos entre os mais iminentes de seus pares.J ns dizemos que Giordano Bruno nasceu exatamente na melhor poca para a suas idias (talvez no para sua vida pessoal). Tivesse Bruno nascido algumas dcadas antes, no teria encontrado o sistema heliocntrico de Coprnico, e no teria chegado a sua bela viso de universo. Tivesse nascido algumas dcadas depois, sua viso de mundo no seria aceita pelo novo rigor cientfico que surgia.Bruno nunca foi um cientista ou um astrnomo, tinha at um certo desprezo pela matemtica. Ele foi sim um filsofo. Algum que com uma grande imaginao conseguiu alargar a nossa viso de universo. Os mtodos pelos quais ele chegou a suas concluses foram muito diferentes dos de Galileu, Coprnico ou Newton, mas todos eles foram movidos pela mesma fora e pela mesma determinao. Eles queriam descobrir o Universo. E no caso de Bruno a tarefa se torna ainda mais herclea, j que ele queria descobrir um Universo que era infinito.Devemos louvar Giordano Bruno e no a imagem de "mrtir da cincia" que os historiadores do sculo XIX criaram para ele. Bruno no foi condenado por defender o sistema heliocntrico. A Igreja ainda no tinha uma posio sobre esse sistema na poca em que Bruno o defendeu. Coprnico, criador da teoria heliocntrica, no sofreu com a Inquisio. Foi a sua viso de mundo baseada nas tradies hermticas e na crena na magia e na possibilidade do homem chegar at Deus que o condenaram. Em nenhum ponto do que nos chegou do processo da Inquisio contra Bruno se menciona a teoria heliocntrica, mas sim as implicaes que Bruno via nela. Para Bruno, o heliocentrismo era um sinal de reformas na religio catlica, que se tornaria mais tolerante, e a volta aos tempos ureos egpcios, representados pelo sacerdote Hermes. Se Bruno foi um mrtir, podemos dizer que ele foi um mrtir da liberdade de pensamento.

4. REFERNCIAS BIOGRFICAS

http://educacao.uol.com.br/biografias/giordano-bruno.htmhttp://www.infoescola.com/filosofos/giordano-bruno/http://www.antroposmoderno.com/antro-articulo.php?id_articulo=78http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/giordano.htm

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