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GINÁSTICA SE APRENDE NA ESCOLA? 1

Andreia Salette Zanin*

Christine Vargas Lima** RESUMO O presente artigo é parte integrante do Projeto de Desenvolvimento Educacional (PDE), resultado da Implementação Pedagógica, quando planejou-se e aplicou-se 32 aulas aos alunos dos 6º anos de uma escola da rede pública estadual da cidade de Rio Bonito do Iguaçu. O objetivo deste estudo foi oportunizar uma forma interessante e desafiadora de trabalhar e de refletir sobre o conteúdo de Ginástica nas aulas de educação física. A realização deste trabalho justificou-se pela necessidade em diversificar, ampliar e re-significar, ou seja, repensar as práticas tradicionais nas aulas de Educação Física. A proposta, que incluiu em torno de quarenta alunos, preocupou-se em abordar questões relativas à concretização da ginástica na escola, como pesquisas, trabalhos em grupos e, através de práticas que desenvolvessem a consciência corporal, buscou-se possibilitar ao educando reconhecer as possibilidades e limites do corpo. Na análise e avaliação entre alunos e professor, constatou-se a valorização e consolidação da Educação Física e, principalmente, da Ginástica na escola, mostrando assim vivências diferenciadas que podem levar a efetivação do ensino aprendizagem e não só a prática pela prática. Palavras-chave: Educação Física. Ginástica. Alunos.

INTRODUÇÃO

A Educação Física tem passado por muitos processos de mudanças e

inovações, especialmente em relação a sua Metodologia de ensino. As

mudanças são necessárias, mas para que ocorram é preciso que os educadores

tenham domínio dos conteúdos e de diferentes metodologias, que saibam

motivar, promovendo a participação, respeitando as diferenças e também

intervenham e orientem sempre que necessário.

1Artigo elaborado como exigência parcial para a conclusão do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. * Professora da rede pública estadual do Paraná, lotada no Colégio Estadual de Ludovica Safraider, Especialista em Didática e Metodologia do Ensino – UNOPAR e em Educação Especial - ESAP, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). **Mestre em Educação – Unicamp/Unicentro. Professora do Departamento de Pedagogia da UNICENTRO e do Programa EAD, Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).

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Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, as relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se, de agir. São um poço inesgotável de descobertas (MORAN, 2000, p.17).

O sucesso na ação de educar, não depende só de o professor mudar a

metodologia, mas é importante que a direção, equipe pedagógica e demais

funcionários da escola estejam comprometidos com a qualidade da educação.

Além disso, os educandos precisam e devem colaborar: participando,

questionando e interagindo com professores e colegas.

Neste viés, as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE’s)

orientam que a Educação Física seja fundamentada nas reflexões sobre as

necessidades atuais do ensino perante os alunos, na superação de contradições

e na valorização da educação.

Propõe-se que a Educação Física atue sempre em favor da formação

humana, tendo como objetivo desenvolver a atitude crítica perante a Cultura

Corporal.

[...] procura-se possibilitar aos alunos o acesso ao conhecimento produzido pela humanidade, relacionando-o às práticas corporais, ao contexto histórico, político, econômico e social (PARANÁ, 2008, p.51).

Considerando a ginástica como objeto de estudo do currículo de Educação

Física, buscou-se desenvolver práticas pedagógicas relacionadas à Ginástica

Geral com aproximadamente 48 alunos na faixa etária de 10 a 12 anos, do 6º ano

do Ensino Fundamental, no período vespertino do Colégio Estadual Ludovica

Safraider. Esta instituição de ensino comporta 700 alunos que frequentam o

Ensino Fundamental – Anos Finais e Médio nas modalidades Regular e Educação

de Jovens e Adultos, e está situado no município de Rio Bonito do Iguaçu – PR. O

eixo que norteia o estudo consiste na relação e articulação do conhecimento

vivenciado com as práticas corporais e o conhecimento específico do conteúdo,

possibilitando uma reflexão-ação-reflexão.

Contudo, a prática reflexão-ação-reflexão está sendo esquecida, conforme

uma pesquisa realizada com professores do Núcleo Regional de Educação de

Laranjeiras do Sul (NRE), na qual constatou-se que a desarticulação desta prática

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ocorre justificada, entre outros, pela ausência de recursos, falta de orientação e

despreparo docente; estes fatores foram elencados como os maiores entraves

encontrados pelos docentes para contextualizar o conteúdo de Ginástica.

Normalmente, a ginástica, prevista no planejamento, garante seu espaço

para cumprir o que estabelecem as Diretrizes Curriculares da Educação Básica

para a Educação Física do Estado do Paraná, constando desta forma, como

elemento presente para fins de cumprimentos burocráticos, sem efetivar-se na

prática cotidiana dos alunos.

Ao abordar a cultura da arte e do corpo, tomando a Educação Física como

disciplina escolar, ressalta-se a necessidade e a importância em despertar nos

professores reflexões que possibilitem a alteração ou adequação de suas práticas

pedagógicas, principalmente no âmbito da ginástica.

Portanto, este artigo visa mostrar os resultados de um trabalho

desenvolvido com vivências pedagógicas relacionadas às Ginásticas, possíveis

de serem aplicadas dentro da escola pública, que é o foco principal deste

trabalho, levando em conta um movimento corporal não apenas motor, mas

histórico e social.

Deste modo pretende-se contribuir efetivamente para o desenvolvimento

da Educação Física Escolar na atualidade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA

De acordo com as Diretrizes Curriculares (PARANÁ, 2008, p. 14), é preciso

“dar ênfase à escola como lugar de socialização do conhecimento”, de acesso ao

mundo letrado, do conhecimento científico, das filosofias e do contato com a

cultura da arte e do corpo.

Neste sentido, é importante retomar a história da Educação Física no

Brasil, relembrando a essência e os significados das questões que envolvem a

problemática da pesquisa.

As primeiras sistematizações do conhecimento sobre as práticas corporais

em solo nacional ocorrem a partir de teorias oriundas da Europa no final do século

XVIII e início do Século XIX. Esse modelo pautava-se em conhecimentos médicos

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e da instrução militar. A preocupação consistia em desenvolver capacidades e

habilidades físicas como a força, a destreza, a agilidade e a resistência, além de

visar a formação do caráter, da autodisciplina e, principalmente, do sentimento

patriótico.

É nestas condições que a Educação Física ganha espaço na escola, uma

vez que o físico disciplinado era exigência da nova ordem de formação. Essa

prática era confundida com a Ginástica, pois baseava-se nos moldes médico-

higiênicos.

Com a Proclamação da República, iniciou-se uma discussão sobre a

escola e as políticas educacionais. No ano de 1882, Rui Barbosa emitiu o Parecer

n° 224, sobre a Reforma Leôncio de Carvalho, decreto n° 7.247, de 19 de abril de

1879, da Instrução Pública. Entre outras exposições, o parecer evidenciou a

importância da ginástica para a formação de corpos fortes e cidadãos preparados

para defender a Pátria, equiparando-a, em reconhecimento, às demais disciplinas

(SOARES, 2004). Ressalta-se que a prática da educação física, mesmo no

âmbito escolar, ainda estava fortemente relacionada com os aspectos militares.

[...] com a medida proposta, não pretendemos formar nem acrobatas nem Hércules, mas desenvolver na criança o quantum de vigor físico essencial ao equilíbrio da vida humana, à felicidade da alma, à preservação da Pátria e à dignidade da espécie (QUEIRÓS apud CASTELLANI FILHO, 1994, p. 53).

No início do século XX, especificamente a partir de 1929, a disciplina de

Educação Física tornou-se obrigatória nas instituições de ensino para crianças a

partir de seis anos de idade e para ambos os sexos, por meio de um anteprojeto

publicado pelo então Ministro da Guerra, General Nestor Sezefredo Passos.

Segundo Soares (2004, p. 69):

[...] a Educação Física no Brasil se confunde em muitos momentos de sua história com as instituições médicas e militares. Em diferentes momentos, essas instituições definiram seu caminho, delineando e delimitando seu campo de conhecimento, tornando-a um valioso instrumento de ação e de intervenção na realidade educacional e social.

Os métodos militares influenciaram sobremaneira a Educação Física nas

escolas brasileiras. Este fato encontra-se presente em diversos marcos históricos,

entre eles: a criação do “Regulamento da Instrução Física Militar” (Método

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Francês), em 1921; a obrigatoriedade da prática da ginástica nas instituições de

ensino, em 1929; a adoção oficial do método Francês, em 1931, no ensino

secundário; a criação da Escola de Educação Física do Exército, em 1933, e a

criação da Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do

Brasil, em 1939.

O método ginástico francês contribuiu para legitimar a Educação Física nas

escolas brasileiras, pois priorizava o desenvolvimento da mecânica corporal. Esse

modelo vinha de encontro com as prioridades da época.

[...] melhorar o funcionamento do corpo e a eficiência do gasto energético dependia de técnicas que atribuíam à Educação Física a tarefa de formar corpos saudáveis e disciplinados, possibilitando a formação de seres humanos aptos para adaptarem-se ao processo de industrialização que se iniciava no Brasil (SOARES, 2004, p. 92).

Por volta de 1940, inicia-se um processo de “desmilitarização” da

Educação Física no Brasil, surgindo outras formas de conhecimento sobre o

corpo. Finalmente, com o fim da II Guerra Mundial, ocorreu um intenso sistema de

difusão do esporte.

As aulas de Educação Física assumiram as práticas de rendimento,

competição e técnicas. Isto é, os professores de Educação Física se

encarregaram de reproduzir códigos esportivos nas aulas, sem se preocuparem

com a reflexão crítica desse conhecimento. A escola tornou-se um celeiro de

atletas, a base da pirâmide esportiva (BRACHT, 1992, p. 22).

Com a promulgação da Nova Constituição e a instalação efetiva do Estado

Novo, em 10 de novembro de 1937, a prática da atividade física passou a ser

obrigatória em todas as instituições de ensino.

Atendendo o contexto das reformas educacionais, a Lei Orgânica do

Ensino Secundário de 09 de abril de 1942, alterou um cenário onde até então

predominava a autoridade militar, para um contexto de práticas esportivas na

escola. Com tais reformas, a Educação Física passou a ter carga horária

estipulada de três sessões semanais para meninos e duas para meninas. Essa

Lei Orgânica permaneceu em vigor até 1961.

Com o golpe militar no Brasil, em 1964, o esporte passou a ser tratado com

maior ênfase nas escolas, especialmente durante as aulas de Educação Física.

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(PARANÁ, 2008). Com isso, o esporte consolidou sua hegemonia como objeto

principal das aulas Educação Física. A escola deveria então funcionar como um

celeiro de atletas.

Muitos professores foram levados a fazer cursos de pós-graduação nos

Estados Unidos trazendo para o Brasil uma visão positivista das ciências naturais,

pautada na prática esportiva e na aptidão física.

Com a Lei 5692/71, a Educação Física se manteve em caráter obrigatório

nas escolas, conforme consta no Capítulo I, Art. 7º da Lei n. 5692/71:

será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programa de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, observado quanto à primeira o disposto no Decreto-lei n. 869, de 12 de setembro de 1969 (BRASIL, 1971).

Mas, ainda neste período, o regime militar concebia a Educação Física

como meio de obter melhores resultados nas competições esportivas com o

objetivo de elevar o país a uma potência olímpica.

Nesse mesmo período, surgia uma corrente pedagógica voltada à

psicomotricidade que pensava na formação integral da criança. Entretanto, essa

linha não se estabeleceu, pois continuou pautada na “disciplinação” dos corpos.

Com o movimento de abertura política e o fim do regime militar, a educação

passou por um processo de reformulação e houve um movimento de renovação

do pensamento pedagógico da Educação Física, suscitando várias dúvidas sobre

a legitimidade da disciplina.

Por um longo período, debateram-se as ideias de uma Educação Física

Desenvolvimentista que defendia o movimento como principal elemento e, outra

abordagem, Construtivista, que incluía as dimensões afetivas e cognitivas ao

movimento humano.

Em 1980, surgiram as concepções Críticas da Educação Física, que

elevaram a Cultura Corporal como objeto principal de estudo.

O conceito de Cultura Corporal tem como suporte a ideia de seleção, organização e sistematização do conhecimento acumulado historicamente, acerca do movimento humano, para ser transformado em saber escolar (PARANÀ, 2008, p. 45)

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A partir deste viés crítico, eclodiu a abordagem crítico-superadora e, nesta

perspectiva, o movimento humano em sua expressão é considerado significativo

no processo ensino-aprendizagem (PARANÁ, 2008). Buscava-se trabalhar uma

Educação Física que possibilitava um novo entendimento em relação ao

movimento humano, como expressão da identidade corporal, como prática social

e como uma forma do homem se relacionar com o mundo. Os conteúdos

voltavam-se para a valorização da produção histórica e cultural dos povos.

Entretanto, os avanços teóricos sofreram retrocesso na década de 1990

quando surgiu o Parâmetro Curricular Nacional - PCN para a disciplina de

Educação Física, com a introdução de temas transversais, acarretando um

esvaziamento dos conteúdos próprios da disciplina. Temas como ética, meio

ambiente, saúde e educação sexual tornaram-se prioridade no currículo.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física apresentavam

uma redação aparentemente progressista, mas dentro de sua proposta real

valorizava o individualismo e a adaptação do sujeito à sociedade, ao invés de

construir e oportunizar o acesso a conhecimentos que possibilitassem aos

educandos a formação crítica.

No Estado do Paraná, as Diretrizes Curriculares de Educação Física

trazem como objeto de estudo e de ensino a Cultura Corporal que busca, de

forma geral, contribuir para a formação de um ser humano crítico e reflexivo.

Neste contexto, procura-se possibilitar aos alunos o acesso ao conhecimento

produzido pela humanidade, relacionando-o às práticas corporais, ao contexto

histórico, político, econômico e social.

2.2 CONTEXTUALIZANDO A GINÁSTICA

Entende-se que a ginástica deve dar condições ao aluno de reconhecer as

possibilidades de seu corpo. Com isso, abordar-se-á especificamente a Ginástica

e a sua importância para o desenvolvimento corporal do ser humano num todo.

Para isso, é necessário reportar-se à Civilização Grega, pois sabe-se que a

Educação Física foi identificada com o jogo por um longo período que antecedeu

a Civilização Grega.

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O termo “ginástica” é originário do grego Gymnastik que, segundo Ferreira

(2004), é o ato de exercitar o corpo para fortificá-lo ou dar-lhe agilidade.

Os gregos fizeram da Ginástica um mito e os poetas gregos cantaram nas

suas óperas os fatos e as peripécias dos jogos. Então, na Grécia desde o período

arcaico (850 a 750 a.C), o exercício físico teve uma importância que perdurou,

permitindo à ginástica um lugar de destaque no sistema educativo grego a partir

do séc. VI a.C. em diante (GRIFI, 1989).

A ginástica servia para tornar o cidadão forte e resistente, enquanto a

música servia para sensibilizar a alma, satisfazendo os preceitos filosóficos. Grifi

(1989) cita as escolas destaques da Ginástica:

ESCOLA ALEMÃ: a ginástica alemã mirou potencializar nos jovens o

espírito nacionalístico, sobretudo com fins militares.

ESCOLA SUÉCA: a ginástica do século XIX deriva todo o seu endereço

racional e científico, sobretudo por aquilo que diz respeito ao valor

preventivo e curativo da saúde; a Ginástica Sueca ocupou-se, além da

ginástica própria e verdadeira, da ginástica pedagógica e estética.

ESCOLA FRANCESA: deve-se a decisiva contribuição que trouxe a

ginástica moderna com os seus estudos metodológicos primeiro e,

fisiológicos após.

ESCOLA INGLESA: deve-se reconhecer o retorno da atividade

esportiva às tradições da antiguidade clássica, favoreceu

primordialmente, a evolução da Educação Física Moderna e a criação

do esporte agonístico.

Segundo Grifi (1989), o ensino da Educação Física, tem a sua

complementação pedagógica em Henrique Pestalozzi (1746 – 1827). Inspirado no

pensamento de Rousseau e de outros ligados ao Iluminismo em geral, Pestalozzi

expõe a Ginástica sob o aspecto intelectual:

[...] promove na criança a faculdade de controlar, com adestramento e reflexão, as suas ações, isto é, uma espécie de autocontrole moderno. Sob o aspecto estético, confere uma presteza física e uma boa postura. Sob o aspecto moral, assegura o domínio da vontade sobre o corpo, permitindo a criança estar sempre pronta para seguir os preceitos estético-sociais do dever. Sob o aspecto prático-profissional enfim, permite a criança desfrutar, habitualmente, do corpo e das suas forças

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internas que sejam solicitadas por qualquer profissão ou posição social (PESTALOZZI apud GRIFI, 1989, p.220).

Ling (1776 - 1839), considerado o promotor da educação física moderna e

idealizador da ginástica sueca baseada sobre as finalidades científico-

pedagógicas, propôs que a ginástica deve ser praticada por todos os indivíduos,

pois esse tipo de atividade motora torna-se uma ciência voltada ao

desenvolvimento do corpo inteiro.

É importante entender que a Ginástica compreende uma gama de

possibilidades e deve oportunizar a participação de todos fazendo com que os

alunos se movimentem, descubram e reconheçam as possibilidades e limites do

próprio corpo.

De acordo com as Diretrizes Curriculares (PARANÁ, 2008, p.67) espera-se

que os alunos tenham subsídios para questionar os padrões estéticos, a busca

exacerbada pelo culto ao corpo e aos exercícios físicos, bem como os modismos

que atualmente estão presentes nas diversas práticas corporais, inclusive na

ginástica.

A presença da ginástica no programa se faz legítima na medida em que permite ao aluno a interpretação subjetiva das atividades ginásticas, através de um espaço amplo de liberdade para vivenciar as próprias ações corporais. No sentido da compreensão das relações sociais a ginástica promove a prática das ações em grupo onde, nas exercitações como “balançar juntos” ou “saltar com os companheiros”, concretiza-se a “co-educação”, entendida como forma de elaborar/praticar formas de ação comuns [...] (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 77).

Sendo assim, os professores devem procurar elaborar suas aulas com o

objetivo de que os alunos se movimentem e ampliem suas referências no que diz

respeito à cultura corporal.

Neste sentido, será abordada cada uma das ginásticas vivenciadas.

Ginástica Para Todos: Segundo Ayoub (2003) a origem da Ginástica para

Todos - denominada anteriormente como Ginástica Geral (GG) - está

relacionada com a trajetória da Federação Internacional de Ginástica (FIG),

a qual “é a mais antiga dentre todas as associações esportivas

internacionais e foi desenvolvida em uma base democrática”.

A sua origem foi em 1881 com a denominação de Federação Européia de

Ginástica, após a filiação dos EUA em 1921, passou a ser chamada de

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FIG. À frente da presidência, o belga Nicolas J. Cuperus, “demonstrava

mais interesse pelos festivais de ginástica do que pelas competições”. Tal

interesse foi de fundamental importância para que, em 1953, realizasse o

Festival Internacional de Ginástica inspirada nas “Lingiádas” que acontecia

na Suécia. Este festival teve o nome de “Gymnaestrada” (atualmente

“World Gymnaestrada”). Após este festival

vários representantes de diferentes países da faixa central da Europa, que tem muita tradição no campo de Ginástica, começaram a pressionar mais intensamente a FIG, a fim de que essa instituição voltasse a olhar com mais dedicação para a ginástica fora do âmbito competitivo (AYOUB, 2003, p.44).

Sendo assim, a partir destas discussões, as manifestações apresentadas

são relacionadas com a esfera da ginástica orientada para lazer e engloba

programas de atividades no campo da ginástica (com e sem aparelhos),

dança e jogos, conforme as preferências nacionais e culturais (FIG apud

AYOUB, 2003, p.46).

Ginástica Artística: A Ginástica Artística (Olímpica) é um conjunto de

exercícios corporais sistematizados, aplicados com fins competitivos, em

que se conjugam a força, a agilidade e a elasticidade. Foi na Grécia que a

ginástica alcançou um lugar de destaque na sociedade, tornando-se uma

atividade de fundamental importância no desenvolvimento cultural do

indivíduo.

Os exercícios físicos eram motivo de competição entre os gregos, prática

que caiu em desuso com o domínio dos romanos, mais afeitos aos

espetáculos mortais entre homens e feras. Durante a sangrenta Idade

Média, houve um desinteresse total pela ginástica como competição e o

seu aproveitamento esportivo ressurgiu na Europa apenas no início do

século XVIII. Foram então criadas as escolas Alemã (caracterizada por

movimentos lentos e rítmicos) e Sueca (à base de aparelhos). Elas

influenciaram o desenvolvimento do esporte, em especial o sistema de

exercícios físicos idealizado por Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852), o

Turnkunst, matriz essencial da ginástica olímpica hoje praticada.

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Ginástica Rítmica: A fase embrionária da ginástica rítmica desportiva se

deu por conta do educador suíço Jacques Dalcroze (1865-1950), no século

XIX. Ele tentou expressar o ritmo musical por movimentos corporais. Sua

ginástica denominou-se euritmia e tratava da educação rítmica. Porém,

Dalcroze não conseguiu dar aos movimentos características próprias da

ginástica, porque se aproximavam mais da dança. O verdadeiro criador de

um sistema que caracterizou diferenças entre ginástica e dança foi um

aluno de Dalcroze chamado Rudolf Bode (1881-1970). A introdução de

aparelhos manuais na ginástica moderna foi obra de Heinrich Medau

(1890-1970), um alemão discípulo de Bode. Medau reforça o

desenvolvimento e princípios técnicos-metodológicos relativos ao ritmo, na

concepção de que existe a mais íntima conexão entre o movimento e a

música, sendo esta o mais importante de todos os meios para ensinar a

arte do movimento (BREGOLATO, 2006, p.177).

Ginástica Circense: Foi na Europa que o circo ganhou força e se

desenvolveu. Os espetáculos tomaram impulso no Império Romano, em

anfiteatros cujas apresentações mais tarde seriam classificadas como

atividades circenses. A importância e a grandiosidade desses espetáculos

podem ser demonstradas pelo Circo Máximo de Roma (40 a.C). No lugar

em que esse Circo se instalava, foi criado, mais tarde, o Coliseu, que

comportava mais de 87 mil espectadores e apresentava excentricidades

como gladiadores, animais exóticos, engolidores de fogo, entre outros.

Porém, os espetáculos realizados no Coliseu tornaram-se sangrentos, com

cristãos jogados às feras e isso teve como consequência uma redução no

interesse pelas artes circenses. No final do Império Romano, os artistas

circenses passaram a se apresentar, então, em locais públicos, como

praças e feiras (CASTRO, 1997). De acordo com Soares (1998), o circo no

Renascimento deslocava os habitantes das vilas e cidades de suas rotinas

simples que envolviam apenas trabalho e descanso. O circo rompia com a

ordem estabelecida ao proporcionar, sobretudo, diversão e encantamento

ao público. Era uma arte do entretenimento. O circo se apresentava como

uma atividade de grande fascínio na sociedade europeia do século XIX. O

corpo era o centro do espetáculo das “variedades” apresentadas pela

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múltipla atuação de seus artistas. Pode-se dizer que o circo surgia como a

encarnação do espetáculo moderno e seu sucesso era inegável nas

diferentes classes sociais que assistiam ao mesmo espetáculo, embora em

dias e horários diferentes.

A exposição destas modalidades das ginásticas vivenciadas fez-se

importante para a compreensão da sequência deste artigo, na medida em que

serão explicitadas as vivências práticas que foram desenvolvidas no decorrer da

implementação da Produção Didático Pedagógica.

3 METODOLOGIA

No que se refere a metodologia de ensino, a Educação Física trata

pedagogicamente de uma área denominada Cultura Corporal. Segundo Soares

et. al. (1992) é a “reflexão sobre a cultura corporal”, sendo que as expressões do

corpo são entendidas como linguagem universal que necessitam ser trabalhadas

com os alunos a fim de que entendam a realidade em sua totalidade e, portanto,

como algo dinâmico e que precisa de transformações.

O Coletivo de Autores (2009, p.62) expõe que o homem se apropria da

cultura corporal dispondo sua intencionalidade para o lúdico, o artístico, o

agonístico, o estético; trata-se de representações, ideias ou conceitos produzidos

pela consciência social. Isso significa que o aluno dá sentido próprio às atividades

que lhe são propostas.

A proposição pedagógica crítico-superadora, sugere meios didático-

pedagógicos que viabilizem, ao se tematizarem as formas culturais do

movimentar-se humano, propiciar um esclarecimento crítico a seu respeito,

apresentando ligações com os elementos atuantes, desenvolvendo

simultaneamente, as competências para tal, compreendendo assim a lógica

dialética. Dessa forma, conscientes e possuidores de uma consciência crítica, os

sujeitos poderão agir autônoma e criticamente no campo da cultura corporal ou do

movimento e também atuar de forma transformadora como cidadãos políticos.

(COLETIVO DE AUTORES, 2009).

O referido artigo é resultado da implementação pedagógica que foi aplicada

no Colégio Estadual Ludovica Safraider, o trabalho de implementação iniciou-se

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com a apresentação do projeto aos professores, funcionários e direção do colégio

na Semana Pedagógica em fevereiro de 2013. Posteriormente, ao iniciar o ano

letivo de 2013, apresentou-se o projeto e a produção aos alunos dos 6º anos do

colégio já citado.

Inicialmente aplicou-se um questionário que segundo Severino (2007,

pg.125) “destina-se a levantar informações escritas por parte dos sujeitos

pesquisados”, para verificar o conhecimento prévio dos alunos sobre a ginástica.

Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa e de cunho etnográfico que de acordo

com Severino (2007 pg.119) a etnografia visa compreender, na sua cotidianidade,

os processos do dia-a-dia em suas diversas modalidades, em se tratando de

educação, Wolcott (1975) ressalta que a pesquisa “deve envolver uma

preocupação com o pensar o ensino e a aprendizagem dentro de um contexto

cultural amplo” (apud MENGA,1986 p.14).

Em seguida, os dados coletados com os 48 alunos foram sistematizados.

Percebeu-se que a maioria dos alunos sabe que a ginástica auxilia no melhor

desenvolvimento dos movimentos corporais e na coordenação motora, bem como

possibilita melhor agilidade, flexibilidade e força. Autores como G. Demeny, E.

Marey, F. Lagrange (apud SOARES, 2005, p.23), elegem a Ginástica “como

instrumento privilegiado para treinar o gesto harmônico e econômico”.

Entretanto, os educandos não demonstraram conhecimento específico

deste conteúdo; revelaram que o pouco que conhecem foi através dos meios de

comunicação.

Partindo deste contexto, iniciou-se a segunda etapa do cronograma,

nominada de “Conhecendo as Ginásticas”. Mostrou-se aos alunos vídeos de

apresentações artísticas como “ginastrada2”, trabalhos realizados em escolas e

imagens da Ginástica na Antiguidade3.

2 Ginastrada ou A Gymnaestrada é tida como o maior evento de ginástica não competitiva do

mundo. Seu surgimento deu-se em decorrência do desejo do presidente da entidade (FIG) em ver apresentações focadas apenas nos benefícios das modalidades. Idealizada, a primeira Gymnaestrata - denominada Festival Internacional - teve sua primeira edição realizada em 1953 e contou com treze sequências. 3 SOARES, C. L. Imagens da Educação no corpo: estudo a partir da ginástica Francesa no

século XIX. 3 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

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Na sequência, organizou-se visitas ao Centro de Treinamento de Ginástica

Rítmica na cidade de Toledo, o que ocorreu nas datas de 21/03/13 e 04/04/13, os

alunos foram divididos em dois grupos de 20 integrantes. No projeto de

intervenção, estava previsto visitar os Centros de Treinamento de Toledo e

Curitiba, locais em que se praticam as ginásticas rítmica e artística, mas, por

motivos de forças maiores a visita a Curitiba não ocorreu. Então, realizaram-se

duas visitas a Toledo. A visita a Curitiba tornou-se inviável, pois foi disponibilizada

somente uma hora para permanecer no local, sendo negado o ato de fotografar

ou filmar os atletas e nem mesmo o espaço.

Em Toledo, no espaço Sesi/Sadia, pôde-se acompanhar os treinamentos,

percorrer por todos os espaços e conhecer os recursos disponíveis aos atletas,

bem como filmar e fotografar os treinos. Os alunos tiveram a oportunidade de

conhecer atletas que fazem parte da elite da Ginástica Rítmica Paranaense e

Brasileira.

Ao retornar à escola, solicitou-se aos alunos um relato da experiência da

visita ao centro de treinamento. As exposições dos educandos revelam o

encantamento pelo espaço e pelos atletos, bem como a decepção de alguns

alunos por não ter um espaço próximo de suas casas e adequado para

praticar/treinar a ginástica:

Aluno 1: “Dia 04-04-13 nós fomos na viagem, foi muito legal e eu aprendi muita coisa legal. E também as colegas da minha sala e da outra desserão lá para aprender a fazer foi meio dificil mais eu não dessi. A Ginástica Ritimica e o nome do ginásio lá em Toledo, as meninas que apresentão lá elas fazem ballé e eu gostei muito de lá. Elas são da Seleção Brasileira e elas apresentam com arco, maça, fita, bola e corda.” Aluno 2: “[...] A ginástica que nós vimos foi as meninas que elas fazem bale. Elas também se aquecem. As meninas que tinha lá elas participam da Selesão Brasileira. Nós aqui será que tem possibilidade o que elas fazem? Eu acho que nóis podiamos fazer. Mas tem que ter muito cuidado para fazer se não pode se machucar. [...]

Observa-se nos alunos 1 e 2 a compreensão das dificuldades enfrentadas

pelas atletas para encontrar a perfeição nos seus movimentos, bem como a

possibilidade dos mesmos praticarem essa modalidade no contexto escolar.

Aluno 3: “Eu entendi que lá no centro de ginastica é que pra fazer aquilo precisa de muinta habilidade e pratica e foi muito legal. [...] aqui no Rio Bonito podia ter um centro de ginastica para a gente tentar fazer uma especialidade muito

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legal tem umas atletas que vam até para os outros paises tem a Angelica e um monte de meninas e a Ginastica delas é Ritimica e eu adorei ir lá.” Aluno 4: “Foi muito divertido, conheci a ginastica ritimica, vi as atletas, elas tinham que treinar todo o dia para não perder a elasticidade do corpo. A tecnica disse que elas só iam embora quando ela permitisse,e também disse que elas tinham que estar no Centro de Treinamento de ginástica ritimica as 6:00 da manhã e elas tinham que ter um peso ideal. Tinha a ginastica com a corda, a bola, o arco, a fita e a maça, esses são os 5 elementos da ginástica. A técnica nos convidou para fazer alguns aquecimentos.” Aluno 5: “A nossa viagem foi muito boa, quando cheguei fiquei muito surpresa com o que elas fizeram. Elas fizeram ginástica ritimica, eu pensei que lá em toledo era só com bolas e bambole mas era com bolas, bambole, dança com malabarismo e etc. A técnica falou que uma atleta iria a Grécia e outra era pentacampeã do Brasil. Tinha as meninas mais novas e fizeram muitos aquecimentos. [...].” Aluno 6: “Chegando lá nos encontramos com a equipe de ginástica. Tinham varias meninas que estavam fazendo aquecimento, já aquelas que ganharam vários campeonatos, estavam treinando para ir para a Grécia, logo depois nós tiramos fotos com elas, elas estavam usado a fita, arco e maça.Foi muito legal eu gostei muito depois de uma delas nos deu autógrafo e depois fomos embora. Eu acho que a nossa escola podia práticar isso e acho que com esforço a nossa escola terá condição.”

Os alunos 3, 4, 5 e 6 visualizam a possibilidade deles e os colegas da

escola serem ginástas; estes discentes visualizam a potencialidade humana e

acreditam na possibilidade da escola subsidiar essa prática. Também pode-se

observar que o aluno 3 demonstra-se motivado a “fazer uma especialidade”; esse

aspecto já vem sendo elencado pelo Governo do Estado do Paraná desde 2012,

estando fundamentado na Instrução Nº 021/2012 que trata da “ampliação de

jornada visando ampliar as oportunidades de aprendizagem e de formação dos

alunos [...]”.

Aluno 7: “[...] no Centro de Treinamento agente conheceu as atletas, elas treinavam a G. artisticas com fitas, bolas, bastãos e bambole. Foi muito interessante porque nós estamos aprendendo a Ginástica, perto do Colégio não tem nenhum lugar de treinamento, nas aulas da professora Andreia Zanin nós vamos fazer ginásticas. Nós temos condições de fazer as coisas”.

Percebe-se, através do depoimentos acima, a importância de se trabalhar

os conteúdos contextualizando e vivenciando a realidade da comunidade em que

a escola está inserida, possibilitando aos alunos o vivenciar a teoria, despertando

neles o interesse pela busca do conhecimento.

Após a reflexão sobre a visita com os alunos, iniciaram-se os trabalhos da

terceira etapa do cronograma proposto no projeto.

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Os educandos foram divididos em grupos para fazer uma pesquisa sobre

as diferentes Ginásticas: Artística, Rítmica, Para Todos e Circense. Finalizada a

pesquisa, os educandos elaboraram dois trabalhos: um cartaz com parte da

pesquisa e outro com recortes de jornais e revistas de pessoas executando algum

tipo de ginástica. Nessa atividade, objetivou-se perceber se os alunos, após os

trabalhos realizados, conseguiram reconhecer as diversas formas de Ginásticas.

O resultado foi positivo pois constatou-se que, após os vídeos e visitas, os alunos

demonstraram intenso interesse pela Ginástica. Segundo Moreira (1999, p. 178),

“O ensino se consuma quando o significado do material que o aluno capta é o

significado que o professor pretende que esse material tenha para o aluno”. Por

isso, dentro da aprendizagem significativa tratada por Auzubel, é importante o

professor investigar o que o aluno conhece sobre o assunto e com isso fazer a

inter-relação.

Encerrando os trabalhos de visitas e pesquisas, parte esta mais teórica do

projeto, deu-se ínicio às atividades práticas. Nessa etapa, programou-se nove

aulas para serem desenvolvidas as atividades práticas, no entanto, foram

necessárias 16 horas-aulas, quando os alunos puderam vivenciar as mais

diversas práticas corporais e reconhecer as possibilidades do próprio corpo. De

acordo com Vago (2002) as aulas de Educação Física devem constituir um

espaço de circulação e apropriação de culturas e têm como responsabilidade

proporcionar o direito de conhecer, usufruir e vivenciar diferentes práticas

corporais. O mesmoa autor alerta ainda propõe que a escola não pode ser

confundida com um centro de treinamento esportivo.

Ao iniciar os trabalhos práticos, a primeira forma de ginástica aplicada foi a

Ginástica para Todos. Pretendeu-se fazer com que os alunos vivenciassem juntos

diversas formas de colaboração, desafios e de estímulo à consciência corporal. A

princípio houve um pouco de resistência por parte dos educandos, pois os

mesmos não estavam habituados com o ato de tocar e abraçar seus colegas. Aos

poucos essas barreiras foram rompidas, conforme a aplicação das atividades. Ao

final de cada etapa os educandos realizavam, em grupos, um pequeno relato

sobre as atividades desenvolvidas, o que permitiu verificar a satisfação dos

alunos e mensurar o alcance dos objetivos:

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Aluno 1: “...Nos executamos atividades muito legais foi uma forma simples e concreta de se exercitar....”. Aluno 2: “....Praticamos muitas coisas legais como: dar as mãos, caminhar de joelhos, inventamos a ginástica e apresentamos aos demais...”

Percebe-se, nos relatos dos alunos 1 e 2, a necessidade de diversificar as

aulas de Educação Física com atividades que promovam a interação com o outro.

De acordo com Carmem Soares (2005, p. 17), “o corpo é o primeiro lugar onde a

mão do adulto marca a criança, ele é o primeiro espaço onde se impõe limites

sociais e psicológicos que foram dados a sua conduta [...]”.

Sendo assim, promover atividades que trabalhem o respeito, a

socialização, a aceitação do diferente é fundamental para se garantir o processo

de ensino-aprendizagem.

Aluno 3: “....Foi muito legal e divertido fizemos cada ginástica...eu aprendi muita coisa, agora posso fazer estas ginásticas em casa e ir treinando, teve gente com dificuldade de fazer ginástica mas aprendeu alguma coisa.....Nós brincamos bastante fazendo ginástica.....” Aluno 4: “ O dia de hoje aprendemos muita coisa legal e se divertimos muito com a ginástica para todos. E esperamos aprender muito mais.” Aluno 5: “A aula de hoje foi muito boa, fizemos grupos, andemos e fizemos exercícios com a música e foi muito divertido.”

Nos relatos acima compreende-se que as dificuldades foram sendo

superadas e a aprendizagem ocorreu de forma prazerosa conforme as atividades

foram desenvolvidas.

Em seguida, abordou-se a Ginástica Artística. Os alunos foram

direcionados para várias atividades elaboradas sobre aspectos da coordenação

motora e, logo após, demais ações específicas da ginástica, tais como giros,

rolamentos, pelar cela, parada de cabeça, roda, avião, entre outras. Nesta etapa

observou-se intensa superação dos discentes quanto à participação nos

exercícios e também no espírito de colaboração entre eles, pois os mesmos

procuraram auxiliar-se entre si para superar as dificuldades de execução.

Ao desenvolver os trabalhos de Ginástica Rítmica visualizou-se um

interesse maior dos alunos, pois, a partir da visita a Toledo, pode-se

contextualizar a prática pelo conhecimento e pela consciência corporal. Observou-

se um entusiasmo diferenciado, pois muitos alunos, ao executarem os

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exercícios/atividades, citavam nomes de atletas que tiveram o contato através do

passeio.

A última Ginástica que foi apresentada foi a circense. Organizou-se

atividades de imitação, equilíbrio, coordenação motora, lateralidade e também de

expressão corporal.

Após a apresentação de todas as etapas, constatou-se grande interesse

dos alunos em continuar participando das ginásticas. Por isso organizou-se três

grupos com seis alunas e as mesmas estão construindo coreografias com arco.

Em relação ao Grupo de Trabalho em Rede (GTR), na primeira

participação dos professores, os mesmos fizeram contribuições em relação ao

Projeto de Intervenção. Nas postagens ficou explícito que os mesmos também

encontram dificuldades em desenvolver a Ginástica de forma satisfatória, como

expõe a professora M.C.S.F. “Vejo a ginástica pouco trabalhada nas aulas de

educação física, pois a maioria não tem experiências com a mesma e acaba

priorizando outros conteúdos...”. Observou-se que, de modo geral, a maioria dos

docentes estão preocupados em trabalhar uma Educação Física que desenvolva

no aluno a consciência corporal, que pode ser evidenciada através da

estruturação do esquema corporal, tratado por Wallon como:

um elemento básico indispensável na construção da sua própria personalidade, para a criança, é a representação mais ou menos global, específica e diferenciada que ela tem de seu próprio corpo (WALLON apud PIC & VAYER, 1988, P.24).

Desenvolvendo assim todas as habilidades motoras fundamentais que o

indivíduo necessita para ter autonomia no processo de formação ao longo da

vida.

Na sequência dos trabalhos com o GTR, indagou-se sobre o Projeto de

Intervenção Pedagógica e verificou-se que o mesmo atingiu positivamente a

maioria dos professores, salvo alguns que avaliaram a proposta um tanto extensa

para o número de aulas que a disciplina possui nas escolas públicas do Paraná.

Sobre a contribuição e aplicação das atividades na escola, todos os

professores do grupo pontuaram ser passível de aplicação, talvez com algumas

adaptações em relação à realidade de cada escola.

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Percebeu-se também, através da participação dos professores no GTR,

que os mesmos têm consciência da importância do fundamento da Ginástica no

dia a dia da escola, desenvolvendo no aluno melhor expressão corporal, o que

consequentemente irá auxiliá-lo na sua vida futura.

Gostaria de finalizar essa etapa com a contribuição de um colega de

profissão que participou do grupo de trabalho em rede:

[...] O Professor deve ter a ciência de que a prática da ginástica deve ser aplicada de forma harmônica e prazerosa ao aluno e que também possamos alcançar os nossos objetivos com bons resultados estimulando assim a consciência corporal e o gosto pela sua prática, procurando aplicar as atividades de forma clara para que os alunos possam entender o que se deseja. Devemos procurar resgatar atividades que eram praticadas nas ruas e que tinham como protagonistas nossos pais que tinham a liberdade de brincar e se divertir (M.S.B.O. GTR – 2013).

Ao deter-se nessa contribuição, salienta-se a relevância do projeto que foi

desenvolvido, ao procurar elevar e conscientizar alunos e professores sobre a

importância da Ginástica para o movimento corporal, a descoberta e o

reconhecimento por parte do educando, sobre as possibilidades e limites do seu

corpo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho realizado com os alunos atenta para o fato de que, embora a

ginástica se apresente no planejamento como prática corporal, juntamente com os

esportes, as lutas, os jogos e a dança, ela não se faz presente legitimamente.

Partindo desta constatação, houve, portanto, o interesse em apresentar práticas

pedagógicas que sanassem possíveis dificuldades encontradas pelos educadores

para trabalhar o conteúdo da Ginástica.

Assim, considera-se que as atividades selecionadas contribuíram para

reflexão e reconhecimento da ginástica como prática possível de ser trabalhada

na escola, contribuindo, então, para afastar conceitos “tecnicistas” que ainda

estão presentes na Educação Física.

Espera-se que, por meio dessa implementação, tenha ocorrido o despertar

de atitudes de inovação dessa prática e de todas as outras que compõem o

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currículo escolar no âmbito da educação física. Pois vislumbra-se uma Educação

Física que propicie espaços de culturas onde os alunos possam vivenciar práticas

corporais

Espera-se investimentos por parte dos Governos Federal, Estaduais e

Municipais em cursos que proporcionem trocas de experiências, interação com

outras escolas do Brasil, reflexão teórica e vivências práticas. Estas foram

sugestões dos professores pesquisados inicialmente e também dos cursistas do

GTR, para dar continuidade a esse trabalho realizado na implementação,

assegurando a prática permanente da ginástica nas aulas de educação física.

Entende-se, nesse momento, ter contribuído para o despertar de outra visão e

concepção da ginástica nas escolas do estado do Paraná.

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