GINÁSTICA: DIVERGÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS DESTA … · oficiais do Estado e como conhecimento...
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GINÁSTICA: DIVERGÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS DESTA MANIFESTAÇÃO DA CULTURA CORPORAL NO CONTEXTO ESCOLAR.
Leda Beatriz Laurensi1
Carmem Elisa Henn Brandl2
RESUMO
Este trabalho aborda a questão da prática pedagógica da ginástica na escola. Enfocar uma
concepção de ensino coerente com o currículo, articulando aspectos do trabalho na escola, embasado
nas diretrizes oficiais, através de sugestões que configuram a ginástica no ambiente escolar é, desde há
muito tempo uma questão importante para ser discutida. Precisamos ver a ginástica como conteúdo e
também como trabalhá-la na escola de forma adequada. É preciso enfatizar a modalidade como
conhecimento historicamente produzido, com significados culturais riquíssimos. Problematizo a
aplicação da ginástica, suas facilidades e dificuldades. Justifico-a pela presença nos documentos
oficiais do Estado e como conhecimento historicamente produzido. Fundamento a Educação Física no
âmbito escolar, a importância dos conteúdos e a situação das ginásticas na escola.Tenho por objetivo,
verificar se a ginástica está presente na escola, nos diferentes estilos e formas e como é aplicada.
Ainda, organizar um programa de atividades com os alunos desenvolvendo atitudes de criatividade,
criticidade, interesse e curiosidade, de forma prazerosa, assegurando a globalidade de ações.
Palavras-chave: Ginástica; Educação Física; Prática Pedagógica.
RESUMEN
Este documento aborda la cuestión de la práctica pedagógica en el gimnasia de la escuela. Centrarse en una concepción de la educación en consonancia con el plan de estudios, que combina aspectos del trabajo escolar, basado en las directrices oficiales, con notas que componen el gimnasia en el entorno escolar es mucho tiempo un tema importante a tratar.Tenemos que ver el gimnasia como el contenido y la forma de trabajar en la escuela apropiada. Cabe destacar el modo conocido como históricamente, con un significado cultural muy rica.Explora la aplicación de la gimnasia, sus instalaciones y dificultades. Justificada por la presencia en los documentos oficiales de Estado y como históricamente producción de conocimientos. Legal de la Educación Física en las escuelas, la importancia del contenido y el estado de la gimnasia en escola.Tenho pretende determinar si este es el gimnasia de la escuela, en diferentes estilos y formas y que se aplica. Sin embargo, la organización de un programa de actividades con los alumnos el desarrollo de habilidades de la creatividad, la crítica, el interés y la curiosidad, tan agradable, garantizando toda la población.
Palabras clave: Gimnasia, Educación Física, Práctica Pedagógica.
1 Professora de Educação Física da E. E. Cristo Rei e C. E. Tancredo Neves, Pós-graduada em Educação Motora /UNICENTRO.2 Professora do Curso de Educação Física da UNIOESTE, Doutora em Educação Física/Pedagogia do Movimento/UNICAMP. Líder do GEPEFE.
1. INTRODUÇÃO
No processo histórico da evolução do homem, este se faz movimentar ou movimenta-
se. O movimento possui importância biológica, psicológica, social e estrutural para o ser
humano é próprio desta evolução e é através dele que o homem interage com o meio
ambiente. Segundo Piaget (1971), esta interação acontece através da troca da matéria
(energia) e de informações. Ambas são fundamentais para a sobrevivência e o
desenvolvimento de todo e qualquer ser vivo. Ainda, a comunicação, a expressão da
criatividade e a dos sentidos, são feitos através dos movimentos. É por meio deles que nos
relacionamos com o outro, aprendemos sobre nós mesmos e sobre o meio em que vivemos.
Na Escola, é a Educação Física que proporciona possibilidades de movimento, pois é a
área de conhecimento que tem como objeto de estudo e intervenção o movimento humano.
As principais teorias da Educação Física, principalmente as que tratam das abordagens
pedagógicas, enfatizam que são os jogos, os esportes, as lutas, as danças e as ginásticas, os
conteúdos da Educação Física Escolar. Neste trabalho, estarei destacando a Ginástica,
conteúdo que consta no Currículo Básico para as Escolas Públicas do Paraná (PARANÁ,
1992) e, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998). Os PCNs conceituam a
Ginástica como:
(...) técnicas de trabalho corporal que de modo geral, assumem um caráter individualizado com finalidades diversas. Por exemplo, pode ser feita como preparação para outras modalidades, como relaxamento, para manutenção ou recuperação da saúde ou ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio social. Envolvem ou não a utilização de materiais e aparelhos, podendo ocorrer em espaços fechados, ao ar livre e na água (BRASIL, 1998, p.70)”.
A presença da ginástica aparece também nas Diretrizes Curriculares Estaduais -
DCEs (PARANÁ, 2008), construída coletivamente com discussão dos professores de
Educação Física da Rede Estadual. Este documento teve seu início de construção e reflexão
em 2003 e, em 2008, já finalizado. Nestas Diretrizes Curriculares a ginástica aparece como
conteúdo estruturante, junto com os jogos, esportes, brincadeiras e lutas. Este documento
descreve que “... a ginástica deve dar condições ao aluno de reconhecer as possibilidades de
seu corpo, sem que esteja atrelado a uma prática meramente competitiva, com movimentos
obrigatórios, presos à perspectiva técnica dos exercícios repetitivos” (PARANÁ, 2008). Toda
escola possui a sua Proposta Pedagógica e nesta, consta a organização curricular onde todas as
disciplinas são contempladas. Segundo as DCEs (PARANÁ, 2008, p.10) “A Educação Física
é parte do projeto geral de escolarização e, como tal, deve estar articulada ao Projeto Político
Pedagógico da escola.”
Sendo a Educação Física parte integrante da escola e de seus projetos, faz-se
legítima a presença dos mais diversos conteúdos, incluindo a ginástica. Estando presente nas
DCEs, nas Propostas Pedagógicas das Escolas, obviamente deverá a ginástica, estar
contemplada nos planejamentos dos professores de Educação Física e obviamente aplicada
aos alunos. No entanto, não é isso o que realmente se vê. Ayoub (2003, p.81), declara que “
atualmente, a ginástica, como conteúdo de ensino, praticamente não existe mais na escola
brasileira”. Já Schiavon e Nista-Piccolo (2006) colocam que existe um tímido
desenvolvimento das modalidades gímnicas realizadas na escola, mesmo que ela tenha um
longo caminho percorrido desde o surgimento do homem. Sua tradição e evolução é que a
legitima na Escola.
Enfocar uma concepção de ensino coerente com o contexto da escola,
operacionalizando diretrizes oficiais, através de sugestões, que configuram a ginástica no
ambiente escolar é, desde há muito tempo, uma questão importante para ser discutida.
Não basta somente incluir a ginástica como conteúdo da Educação Física Escolar, mas
também refletir sobre seu atual conceito e suas diferentes manifestações, bem como as formas
de trabalho, tendo em vista a compreensão equivocada que muitas pessoas têm desta
manifestação da cultura corporal. Russel (1980, p.11) escreve que a ginástica...
... não precisa ser uma atividade perigosa, complicada, frustrante, dolorosa e assustadora que, de preferência, você evitaria de imediato. Ao contrário, ela pode ser facilmente transformada em segura, descomplicada e recompensadora por tudo e, ainda, (...) conservar o elemento que causa “emoção” – aquela estimulação cinestésica que imediatamente leva os alunos a quererem mais!
É preciso enfatizar a ginástica como conhecimento historicamente produzido, com
significados culturais riquíssimos. Segundo Soares apud Venâncio e Carreiro (2004) a
ginástica foi uma das primeiras formas de encarar o exercício físico de forma diferenciada.
Ainda, a ginástica oferece às crianças e adolescentes, através da prática, a construção de um
vocabulário motor diferenciado. Segundo Schiavon e Nista-Piccolo (2006) alguns
profissionais da área não visualizam as oportunidades de aprimoramento motor que os
elementos fundamentais das modalidades gímnicas podem proporcionar.
Nista-Piccolo (1988, p.105) reforça este assunto da seguinte forma.
Em relação à ginástica, observou-se que há um desconhecimento da efetividade que seus fundamentos básicos propiciam à formação do educando. Permanece ainda a ideia de que este esporte e de alto nível técnico, composto de elementos de difícil execução, com finalidades de competição ou de demonstração.
Na prática da ginástica na escola, ainda, nos deparamos com outro fator relevante que
é a inexperiência e a preparação inicial com déficit na graduação dos profissionais que atuam
na escola após o término do período universitário.
Segundo Nista-Piccolo e Schiavon (2006) a ausência da ginástica na escola se dá
principalmente pela falta de conhecimento dos professores, embora a ginástica faça parte da
grade curricular nos cursos de Educação Física. O que distancia o professor da aplicação da
ginástica na escola é a dificuldade que eles têm de enxergar uma prática gímnica diferenciada,
para além das formas esportivizadas, complementam as autoras.
Outro fator que deve ser observado é que nem sempre encontramos espaço físico
adequado, nem materiais pequenos ou grandes, que poderiam facilitar a aplicação desta
manifestação cultural de movimento na escola. Segundo Nista –Piccolo e Schiavon (2006)
muitos professores da área alegam a falta de material específico e de como adaptar os
materiais disponíveis na escola para desenvolver a ginástica. Segundo Freire apud Nista-
Piccolo e Schiavon (2006) o que falta nas escolas na maioria das vezes, não é material, é
criatividade.
A ginástica, apesar de todas as dificuldades que encontramos para desenvolvê-la,
permanece nos documentos oficiais e referenciais teóricos como conteúdo da Educação Física
Escolar. No Estado do Paraná se percebe um movimento de mudanças nas aulas de Educação
Física, especialmente a partir da implantação das DCEs, neste sentido, e levando em
consideração a riqueza de possibilidades que este conteúdo oferece, considero necessário
investigar o cotidiano escolar e verificar se estas propostas se efetivam na prática pedagógica
dos Professores de Educação Física.
Diante do exposto, surgiu o seguinte questionamento: Será que a ginástica, como
conteúdo estruturante, é trabalhada em seus diferentes estilos de forma sistematizada nas aulas
de Educação Física das Escolas Estaduais da Educação Básica – 5ª a 8ª séries, do Município
de Francisco Beltrão?
Para buscar solucionar o problema proposto elencou-se como objetivos da pesquisa:
a) Verificar se a ginástica está inserida no planejamento do professor e se este planejamento é
seguido;
b) Verificar se o professor de Educação Física conhece o conceito de ginástica, se este é
reconhecido como conteúdo, quais os tipos de ginástica que conhece;
c) Verificar se o Professor teve contato com as ginásticas na graduação, quais delas e se hoje,
tem disponibilidade para participar de curso de formação;
d) Verificar se existe na escola espaços e materiais adequados para a prática da ginástica e quais
são eles.
Para dar suporte teórico e compreender de que forma a bibliografia atual trata o
conteúdo ginástica no contexto escolar, organizou-se o referencial teórico, inicialmente
abordando a Educação Física Escolar de forma geral, em seguida tratando da especificidade
do conteúdo Ginástica.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Contextualização da Educação Física na Escola
Situar a Educação Física no tempo e espaço escolar é fundamental para que possamos
no final das reflexões compreender as diversas manifestações abordadas hoje no currículo.
Originária do latim curriculum, currículo significa corrida, caminhada, percurso. Representa o
percurso do homem no seu processo de apreensão do conhecimento científico selecionado
pela escola (SOARES et all, 1993). A Educação Física em seu percurso histórico escolar se
consolida a partir da Constituição de 1937, com o objetivo de doutrinar o corpo para o
patriotismo, a hierarquia e a ordem (PARANÁ, 2008). Ainda, esta mesma Diretriz coloca que
em 1942, amplia-se a obrigatoriedade da Educação Física até os 21 anos, formando mão-de-
obra capacitada para o trabalho. A partir de 1964, o esporte passa a fazer parte da Educação
Física Escolar. Em 1971 com a promulgação da Lei 5692/71, a disciplina passou a ser
considerada como atividade escolar regular e obrigatória em todos os níveis e cursos
(PARANÁ, 2008).
Atualmente, consta na LDB – Lei 9394/96, no art. 26, parágrafo 3º que:
“ A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; maior de trinta anos de idade; que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; que tenha prole”. (Lei nº 10793 de 1º de dezembro de 2003 que altera o parágrafo 3º do art. 26 da LDB 9394/96).
A partir dessa lei, a Educação Física aparece nas matrizes curriculares na Base
Nacional Comum em todas as escolas paranaenses e passa por adaptações curriculares. Em
1996 surgem os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e a partir de 2006 no Estado do
Paraná organizou-se, de forma coletiva, as DCEs (Diretrizes Curriculares Estaduais) onde,
cada disciplina/área possui a sua diretriz.
Alguns aspectos importantes e positivos da presença da Educação Física na escola são
as contribuições que a disciplina traz para a escola e seus alunos. Encontramos, por exemplo,
nas DCEs (PARANÁ, 2008, p.08) “...resgatar o compromisso social da ação pedagógica da
Educação Física”.
Baseada no materialismo histórico dialético com princípios reflexivos e críticos
encontra-se nesta diretriz:
A Educação Física é parte do projeto geral de escolarização e, como tal, deve estar articulada ao projeto político-pedagógico da escola. Se a atuação do professor efetiva-se na quadra e em outros lugares do ambiente escolar, seu compromisso, tal como de todos os professores, é com o projeto de escolarização ali instituído, sempre em favor da formação humana (PARANÁ, 2008, p.10).
2.2 Conteúdos da Educação Física na Escola
Falar do processo histórico da Educação Física situando-a na escola,
automaticamente chama à necessidade de historicizar o que a compõe.
A função do currículo é organizar a reflexão pedagógica do aluno (Soares et all,
1993). O mesmo Coletivo de Autores coloca que fazem parte do currículo, as disciplinas,
matérias e as atividades curriculares. Apresenta-se então, a chamada dinâmica curricular, que
não é nada mais, que a forma como esse mesmo currículo se materializa na escola.
A articulação diversificada na horizontalidade das disciplinas e na verticalidade
dos níveis/séries de ensino constroem essa dinâmica curricular, buscando nos conhecimentos
historicamente produzidos, que chamamos de conteúdos, os meios para que o processo
ensino-aprendizagem se efetive.
Na Educação Física os conteúdos historicamente produzidos são mencionados nos
inúmeros documentos existentes ao longo da história. Hoje, considerando a documentação
vigente, as DCEs (Diretrizes Curriculares Estaduais) são citados os seguintes conteúdos
estruturantes: a ginástica, os jogos e brincadeiras, os esportes, a dança e as lutas.
Soares et al. (1993) define esses conteúdos como:
Ginástica: são técnicas de trabalho corporal que, de modo geral, assumem um caráter individualizado com finalidades diversas. Podem ser feitas como preparação para outras modalidades, como relaxamento, para manutenção ou recuperação da saúde ou ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio social. Envolvem ou não a utilização de materiais e aparelhos, podendo ocorrer em espaços fechados, ao ar livre e na água. (p.70 e 71)”. “Constituem-se fundamentos da ginástica: saltar, equilibrar, rolar/girar, trepar, balançar/embalar (p.78).
Jogos: podem ter uma flexibilidade maior nas regulamentações, que são adaptadas em função das condições de espaço e material disponíveis, do número de participantes, entre outros. São exercidos com um caráter
competitivo, cooperativo ou recreativo em situações festivas, comemorativas, de confraternização ou ainda no cotidiano, como simples passatempo e diversão (p.70).
Esportes: práticas em que são adotadas regras de caráter oficiais e competitivos, organizados em federações regionais, nacionais e internacionais, que regulamentam a atuação amadora e a profissional. Envolvem condições espaciais e de equipamentos sofisticados como campos, piscinas, bicicletas, pistas, ringues, ginásios etc. (p. 70).
Dança: uma expressão representativa de diversos aspectos da vida do homem. Linguagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos costumes, hábitos, da saúde, da guerra, etc. (p.82).
Lutas: são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade (p.70).
2.3 A Ginástica
A Ginástica surgiu no século XIX, e era vista como o corpo reto e o porte rígido.
Os estudos sobre o corpo, mostravam a sua utilização enquanto força de trabalho e para
constituir um corpo saudável. A partir daí surgem os métodos ginásticos. O movimento
Ginástico Europeu tomou grande dimensão histórica e englobou as Escolas Alemã,
Dinamarquesa, Sueca, Francesa e Inglesa (PARANÁ, 2006).
A ginástica no Brasil teve forte influência do método francês, com caráter militar
e desenvolve-se no ambiente escolar formando os primeiros instrutores escolares. O grande
responsável por implementar a Ginástica no Brasil foi Rui Barbosa e fora pensada para a
saúde coletiva com influência militar (PARANÁ, 2006).
Na década de 70 introduz-se na escola duas concepções: a gímnica e a esportiva
(TOLEDO, 2004). Já na década de 80, a ginástica desenvolve-se com mais força nos clubes
como modalidade competitiva e na escola de forma mais retraída.
Hoje, diferentemente do relato histórico, a ginástica na escola não possui mais a
padronização de movimentos, o desempenho e a performance. Nas DCEs (PARANÁ, 2008) a
ginástica é mencionada como conteúdo e tem por objetivo:
...explorar as diversas práticas corporais, decorrentes dessa modalidade, sejam elas: ginástica artística, ginástica rítmica, ginastica geral, ginástica localizada, ginástica aeróbica e suas variantes. (...) os modos atuais de fazer ginástica devem ser refletidos na forma como são produzidos e oferecidos socialmente, desmistificando-os para que atendam aos propósitos de uma formação crítica (PARANÁ, 2008, p.15).
Esta mesma diretriz traz como conceito de ginástica parte dos escritos do livro
Coletivo de Autores, e este nos coloca que...
... podemos entender a ginástica como uma forma de exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de atividades que provocam valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal das crianças, em particular, e do homem, em geral (SOARES et al., 1993, p.77).
Segundo Toledo (2004), a ginástica é dividida em várias possibilidades. Ginástica
de Condicionamento ou de academia (musculação, hidroginástica, aeróbica e suas
derivações); Ginástica Terapêutica; Ginástica Alternativa (antiginástica, RPG, eutonia,
bioenergética, biotonia...); Ginástica Competitiva (artística, rítmica, aeróbica, trampolim
acrobático, duplo-mini, minitramp, tumbling, roda ginástica); Ginástica Demonstrativa
(ginástica geral) e Ginástica Laboral.
Nas DCEs (PARANÁ, 2008) a ginástica aparece como conteúdo estruturante.
Deste conteúdo todos os tipos de ginástica são relacionados como conteúdos específicos. As
ginásticas mencionadas nestas diretrizes é que nortearão o trabalho dos profissionais de
Educação Física nas escolas do Estado do Paraná nos próximos anos. As ginásticas citadas
nas Diretrizes são: no Ensino Fundamental (Ginástica Rítmica, Ginástica Circense e Ginástica
Geral) e no Ensino Médio (Ginástica Artística, Ginástica de Academia e Ginástica Geral).
Entender o processo histórico da ginástica, situá-la nas diferentes formas/métodos,
percebê-la como conteúdo e ainda verificar as possibilidades da prática da ginástica na escola,
abordar a importância e os benefícios que a mesma traz para quem a executa são de suma
importância para dar a ginástica o lugar que lhe é cabível na cultura corporal de movimento.
Segundo Toledo (2004) as capacidades físicas presentes na ginástica são:
velocidade (de reação, de deslocamento, dos membros); resistência (aeróbica, anaeróbica,
muscular, localizada – RML); força (dinâmica, estática, explosiva); equilíbrio (dinâmico,
estático, recuperado); descontração (total, diferencial); coordenação; ritmo; agilidade e
flexibilidade.
As atividades gímnicas, por suas características próprias, podem ser o melhor
caminho para o desenvolvimento destas capacidades, sempre observando as leis de
crescimento orgânico da criança/adolescente.
Segundo o Coletivo de Autores (Soares et all, 1993), através das ginásticas todos
os movimentos básicos como correr, andar, saltar, trepar, subir, lançar, pegar e outras formas
de movimentos são desenvolvidas. As crianças/adolescentes devem ser levadas a pensar e
identificar-se no espaço. É necessário, por meio das diversas atividades, perceber os objetos,
organizar-se no ambiente e criar seus próprios movimentos. A ginástica permite que a criança/
adolescente sinta-se segura da necessidade de executar, por exemplo, um salto – perder o
contato com seu ponto de apoio na execução do mesmo e retornar ao solo certa de que seu
exercício estará completo sem o perigo de queda grave.
Através da ginástica o desenvolvimento motor poderá ser bem completo desde
que o trabalho siga a orientação segura dentro do processo educacional e pedagógico.
Observa-se hoje tentativas de uma prática pedagógica diferenciada, que parte da
realidade do educando, que busca desenvolvê-lo, que se preocupa com a sua formação,
adequando à sua conduta em situações particulares. Isto acarreta duas consequências
principais: primeiro uma análise mais sutil da destreza (aptidão) para melhor adaptar-se a esta
ou àquela circunstância; em segundo lugar, uma organização da prática pedagógica, que
permite a criança/adolescente dominar, com maior facilidade situações encontradas em
diferentes ocasiões, devido ao trabalho intenso de coordenação e equilíbrio.
A ginástica vem ao encontro com as necessidades que as crianças/adolescentes
apresentam de movimentos, aprimorando a análise do gesto permitindo um melhor domínio
corporal.
Com efeito, a ginástica põe o aluno em relação com seu próprio corpo,
permitindo-lhe descobrir diversos segmentos, exercer o jogo das articulações, sentir e realizar
melhor os vários movimentos que elas desencadeiam. É, sem sombra de dúvidas, uma
conscientização geral da existência do corpo, dos deslocamentos e do espaço, onde as
distâncias, os intervalos, as direções e os sentidos são avaliados e controlados.
Na ginástica, o corpo se encontra geralmente em situações e posições incomuns.
Mauss (1978) nos mostra possibilidades de enfrentar progressivamente, a partir de situações
seguras, situações mais perigosas, a luta para vencer sozinho a dificuldade do problema
proposto a superar e a sentir prazer de sair-se vitorioso. Para ele, a primeira preocupação é
colocar a criança/adolescente diante de uma situação problema fazendo com que esta
descubra sensações ligadas a uma resposta motora exata. Como todas as aquisições são
frutos de experiências vividas, devemos colocar as crianças em situações que possam ser
dominadas, obtendo assim, respostas de acordo com as suas possibilidades.
Se cada fase da atividade tem um significado e tem uma base, é necessário
imaginar diversas situações que, em diferentes contextos, levarão a criança a reencontrar e a
explorar, em novas circunstâncias, as aquisições motoras realizadas anteriormente.
Neste tipo de trabalho, o professor deverá colocar-se como observador. Hostal
(1982) nos diz: “... observar não significa simplesmente olhar. É questionar uma realidade: o
que deve ser observado e com que finalidade?”. Ainda, concentrar toda sua atenção em um
elemento da ação da criança/adolescente em dados momentos. A observação permite
descobrir se os objetivos estabelecidos foram atingidos. Entra então, o processo avaliativo que
servirá para a introdução imediata ou posterior de novas situações. Primeiro detectando erros
característicos e crianças com dificuldades. Depois, ajudando a criança com correções
coletivas e não individuais, para que não ocorra fracasso ou desinteresse por parte do aluno.
Passar segurança para o aluno neste período é de fundamental importância.
Levar em consideração ainda, a organização técnica, onde o exercício não é mais
analisado, descrito, demonstrado e imitado e sim, que o professor oriente a
criança/adolescente para as realizações de situações cada vez mais evoluídas e complexas.
Segundo Hostal (1982) na ginástica, o corpo apresenta constantes e variantes
conforme quadro abaixo:
Constantes VariantesAs posições do corpo no início e no fim da atividade
De pé (1 ou 2 pés), de cócoras, sentado decúbito dorsal/ventral;
Os elementos do corpo envolvidos antes durante e no fim da atividade
- papel dos pés/mãos- papel das pernas/braços- participação de um grupo muscular ou articulação;
Em busca de um novo padrão de referência Olhos abertos, olhos fechados;Esforço exigido durante a atividade Grande, pequeno por muito tempo uma ou
várias vezes.
Ainda, o autor nos coloca que variar o número de participantes visando a
cooperação, a luta e a oposição é providencial para que se estabeleça outros contatos
permitindo, além de tudo, a sociabilização.
Piaget (1971) nos coloca que um fator essencial do desenvolvimento da criança
está na experiência física e esta, deve ser variada. A ginástica se apresenta como uma das
atividades fundamentais para que isto aconteça, pois baseia-se tanto na conquista do
conhecimento motor, sensível e intelectual, quanto na construção da personalidade da criança/
adolescente. Não podemos esquecer também, que a criança não é um adulto em miniatura e
sim, um ser específico. As crianças/adolescentes possuem desenvolvimentos diferentes e
evoluem de modos variados. Cada uma tem um ritmo próprio, portanto, a maneira de ensinar
não pode ser padronizada e definitiva. O aluno se constitui o centro das atenções do professor.
As DCEs (PARANÁ, 2008) nos fornecem parâmetros que nortearão o trabalho
com a Ginástica no âmbito escolar. Com a mesma norteando os trabalhos e com a abertura do
professor para desenvolver novas formas de trabalho, fica mais fácil trabalhar a ginástica no
meio escolar.
2.4. METODOLOGIA DA PESQUISA
Este trabalho caracteriza-se como uma Pesquisa Descritiva que usa padrões
textuais como, por exemplo, questionários para identificação do conhecimento. Segundo
Carmo Neto (1996) a pesquisa descritiva tem por finalidade observar, registrar e analisar os
fenômenos sem, entretanto, entrar no mérito de seu conteúdo.
Nesta pesquisa descritiva não houve interferência minha como investigadora,
apenas procurei perceber, com o necessário cuidado, a frequência com que o fenômeno
acontece. A pesquisa foi sobre as ginásticas no ambiente escolar.
A população foi constituída por 32 professores de Educação Física da Rede
Estadual do Ensino Fundamental (séries finais) de Francisco Beltrão, que é composto por 12
Escolas, com 165 turmas de 5ª a 8ª série, totalizando em 4.817 alunos matriculados em 2008.
A amostra foi de 18 Professores, distribuídos nas 12 Escolas, que se dispuseram a
responder o questionário no prazo estabelecido.
Para a coleta das informações foi elaborado um questionário, contendo quatro
perguntas mistas, três abertas e uma fechada, que foi aplicado aos professores de Educação
Física da rede estadual da Educação Básica de 5ª a 8ª séries do Município de Francisco
Beltrão. Antes da aplicação do questionário, o mesmo, foi testado com alguns profissionais da
área, para verificar se as perguntas estavam bem elaboradas e seriam de fácil entendimento.
Ainda, passou pela avaliação de dois professores do Colegiado de Educação Física da
UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon, para verificar se o mesmo atendia os
critérios éticos de pesquisa e os objetivos da mesma. Depois de testado e validado, foi
aplicado aos professores da rede.
Após autorização do NRE/Francisco Beltrão para aplicar o questionário nas
Escolas Estaduais de 5ª a 8ª séries, o mesmo foi levado e entregue à Coordenação/Direção de
todas as escolas (12) e solicitado que entregassem aos professores de Educação Física para
que pudessem respondê-lo. O prazo para este preenchimento foi de 15 dias. Após este prazo
foram recolhidos todos os questionários para que se pudesse fazer a análise.
A análise que segue foi feita a partir de frequência e percentual das respostas
obtidas e complementada com análise qualitativa, a partir da elaboração de categorias.
2.5. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.
Neste capítulo estaremos apresentando os resultados da pesquisa realizada junto
aos professores de Educação Física do município de Francisco Beltrão. Estaremos
apresentando em forma de quadros, seguidos da análise e discussão.
As categorias apresentadas no quadro abaixo foram elaboradas a partir do
discurso dos professores. Na questão número 01, perguntou-se aos Professores o que eles
entendem por ginástica. O Quadro 01 representa o discurso dos mesmos.
Respostas dos Professores Fi1.Modalidade esportiva que trabalha o corpo e a mente 072.Movimentos corporais que surgiram a partir dos movimentos naturais 053.Exercícios sistematizados e construídos que desenvolvem o corpo 044.Movimentos com ritmos alternados e sincronizados com intensidades e frequências diferenciadas
03
5.Manifestação da linguagem corporal e que trabalha os aspectos afetivos, físicos e cognitivos
04
6.Movimentos expressivos e espontâneos do corpo 047.Atividade que busca e desenvolve postura, tônus muscular, elasticidade, potência, agilidade, flexibilidade, coordenação e outras capacidades físicas
02
8.Modalidade pouco conhecida e pouco trabalhada na escola 049.Atividade que faz parte da cultura corporal historicamente construída pelos homens
03
Quadro 1: Compreensão dos professores sobre o conceito de Ginástica.
Conforme o quadro acima, percebe-se que os professores apresentam diferentes
compreensões do conceito de Ginástica e que os conceitos apresentados por eles, estão muito
próximos de qualquer manifestação da cultura corporal trabalhada na disciplina de Educação
Física. Neste sentido, a compreensão do conceito de ginástica demonstrada no discurso da
maioria dos professores se confunde e representa também os outros conteúdos da Educação
Física.
Se tomarmos como referência a definição de ginástica apresentada nas DCEs,
onde aparece que “...a ginástica deve dar condições ao aluno de reconhecer as possibilidades
de seu corpo, sem que esteja atrelado a uma prática meramente competitiva, com movimentos
obrigatórios, presos à perspectiva técnica dos exercícios repetitivos” (PARANÁ, 2008, p.68).
Ainda, esta mesma diretriz cita que “ podemos entender a ginástica como uma
forma de exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de
atividades que provocam valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal
das crianças, em particular, e do homem, em geral (PARANÁ, 2008, p.67).
E a definição apresentada por Soares et al. (1993, p.78) que coloca que as
ginásticas:
“são técnicas de trabalho corporal que, de modo geral, assumem um caráter individualizado com finalidades diversas. Podem ser feitas como preparação para outras modalidades, como relaxamento, para manutenção ou recuperação da saúde ou ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio social. Envolvem ou não a utilização de materiais e aparelhos,
podendo ocorrer em espaços fechados, ao ar livre e na água. (p.70 e 71)”. “Constituem-se fundamentos da ginástica: saltar, equilibrar, rolar/girar, trepar, balançar/embalar (COLETIVO DE AUTORES, 1993, p.78)”;
Pudemos perceber que os professores possuem um vago entendimento do
conceito específico da ginástica. O que aparece nas respostas são fragmentos dos conceitos
apresentados pelos autores e documentos oficiais. Vamos analisar o item nove (9) do quadro
acima: “Atividade que faz parte da cultura corporal historicamente construída pelos homens”.
Sabemos que a ginástica faz parte da cultura corporal construída pelos homens, tanto que
aparece em todos os relatos históricos e que foi a primeira atividade incorporada nos
programas escolares, mas todas as outras manifestações da cultura corporal também foram
produzidas pelos homens ao longo da história, portanto, este conceito cabe tanto à ginástica,
como ao esporte, jogos, dança, brincadeiras e lutas.
Na sequencia, perguntou-se quais os tipos de ginástica os professores conhecem.
O quadro abaixo, organizado por categorias de análise baseadas na literatura, identifica as
respostas dos professores.
Categorias De Análise Respostas Citadas Fi Total1.Condicionamento Físico Natural 03
Localizada 05Academia 05Pilates 02Aeróbica 12
27
2.Competição Artística 18Rítmica 12Acrobática 03Trampolim 02
35
3.Fisioterápicas Compensação 01Corretiva 05Laboral 05Alongamento 01
12
5.Demonstração Geral 06Circense 03
09
6. Outras Manutenção 03Jazz 01Terceira Idade 01Escolar 02Formativa 03Recreativa 01
11
Total Geral de citações das Ginásticas 94Quadro 2: Tipos de ginástica conhecidas pelos professores.
O que se pode perceber nesta questão, é que os professores conhecem inúmeros
tipos de ginástica, mas o que não sabemos é se este conhecimento é aprofundado ou
superficial. Podem ter ouvido falar, lido em algum documento, visto na televisão. Ainda, as
ginásticas foram citadas aleatoriamente e não dentro de uma classificação específica, como
encontramos em alguns autores. Percebe-se nas respostas que a ginástica Artística e Rítmica,
que, segundo Toledo (2004), classificadas como Ginástica de Competição e a Ginástica
Aeróbica de Condicionamento Físico, são as que foram citadas com maiores frequências,
possivelmente por serem as mais populares, presentes frequentemente na mídia e também as
mais antigas, presentes na maioria dos currículos de graduação. Se levarmos em consideração,
a classificação da autora supra-citada, os professores demonstraram novamente dificuldade
em identificar o conceito das Ginásticas, pois os mesmos que citaram Ginástica Aeróbica,
citaram novamente a Ginástica de Academia como sendo atividades diferenciadas. Dentro da
classificação de Toledo (2004), Ginástica Aeróbica é uma das Ginásticas de Academia, assim
como a Ginástica Localizada.
A questão 03 abordou se os professores reconhecem a ginástica como um
conteúdo da Educação Física Escolar. Nesta questão, 100% dos pesquisados responderam que
sim, reconhecem a ginástica como um conteúdo da Educação Física Escolar.
Se tomarmos como referência a história da Educação Física, a Ginástica foi a
primeira manifestação dessa disciplina, tanto para os gregos no século IV a.C, como na
sistematização da Educação Física, no séc. XVIII na Europa, quando surgiram os métodos
Ginásticos, como também na história da Educação Física no Brasil, que surgiu a partir da
implantação das aulas de Ginástica, método sueco, alemão e francês, no início do século XX.
No decorrer dessa história foram acrescentados outros conteúdos, como por exemplo, o
esporte.
Atualmente as Escolas Estaduais do Paraná, tem como referência as DCEs
(Diretrizes Curriculares Estaduais), que constam a ginástica como conteúdo estruturante desta
disciplina. Neste sentido, todas as Escolas devem oferecer este conteúdo e, portanto,
reconhecer a ginástica no contexto escolar.
Tendo em vista que a Ginástica é um conteúdo da Educação Física, a questão
quatro (4) buscou compreender quais as contribuições que a aprendizagem da mesma pode
trazer aos alunos, solicitou-se aos professores que citassem pelo menos três (3).
Respostas dos Professores Fi1.Capacidades físicas: destreza, equilíbrio,flexibilidade, agilidade, velocidade, força, resistência aeróbica...
13
2. Conhecimento do próprio corpo / consciência corporal 093.Saúde e qualidade de vida 054. Respeito pelo corpo 045. Postura 036.Concentração 03
7.Socialização 038.Disciplina 029.Conhecimento da modalidade 0210.Conhecimento do espaço 0111.Trabalho em equipe 0112.relaxamento 01
Quadro 3: Contribuições da aprendizagem da Ginástica para os alunos.
As questões anteriores abordaram o conceito da ginástica, as modalidades que os
professores conhecem, se os mesmos reconhecem a ginástica como conteúdo escolar e agora
as contribuições que a mesma pode trazer aos educandos quando trabalhada na escola.
Pudemos perceber, que os professores tem noção das contribuições que a prática
da ginástica pode trazer aos alunos. O aprimoramento motor é um deles. Brandl (1999, p.46)
nos coloca que as ginásticas “... embora classificadas como desporto, são atividades feitas
para a aquisição de habilidades básicas com e sem material e com objetivos de formação
geral, envolvendo aspectos motores, cognitivos e afetivo-social”. Esta citação dá respaldo a
maioria das respostas que os professores colocaram no questionário, conforme podemos
verificar no quadro acima.
Apesar das respostas estarem em concordância com alguns autores, Nista-Piccolo
(1988, p.105) nos coloca que “Em relação à Ginástica, observou-se que há um
desconhecimento da efetividade que seus fundamentos básicos propiciam à formação do
educando”. Os pesquisados demonstraram conhecer as contribuições, no entanto ainda temos
dúvida se os mesmos efetivamente desenvolvem os elementos da ginástica na escola, para que
estas contribuições se efetivem nos alunos.
Na questão cinco (5), foi solicitado aos professores que respondessem se a
ginástica está presente no seu planejamento anual. A resposta foi positiva para dezesseis (16)
dos professores, ou seja, 88% responderam sim. Apenas dois (2) professores disseram que não
(12%). A vivência profissional na área e o contato com as Escolas pesquisadas nos levam a
pensar, que nem sempre aquilo que está planejado efetivamente se desenvolve. Os motivos
são diversos, entre eles, a falta de estrutura, de materiais e a falta de conhecimento do
professor por determinados conteúdos.
Nesta mesma questão, solicitou-se que se caso a resposta fosse positiva, deveriam
citar quais as modalidades ginásticas estavam presentes no planejamento. Para realizar a
análise desta questão, optou-se em organizar categorias a partir da literatura e enquadrar as
resposta dos professores nessas categorias, conforme demonstrado no quadro 4.
Categorias de Análise Respostas dos professores Fi1.Ginástica de Condicionamento Físico Academia 04
ManutençãoAeróbica
0104
2.Competição ArtísticaRítmicaAcrobática
100502
3.Fisioterápicas CorretivaCompensaçãoLaboral
020101
4.Conscientização Corporal Alongamento 025.Demonstração Geral
Circense0701
6. Outras FormativaEscolar
0201
Não Respondeu 01Quadro 4: Ginásticas presentes no planejamento anual dos professores.
O que se percebe é que os professores conhecem muitas modalidades ginásticas e
nos planejamentos abordam apenas algumas. As ginásticas não foram mencionadas conforme
as categorias acima descritas, apenas foram citadas aleatoriamente. Ainda, citam exemplos de
ginástica, que não são consideradas pela literatura como modalidades, como por exemplo, a
Ginástica Formativa e Escolar, que são diversas ginásticas adaptadas à Educação Física
Escolar.
Nas Diretrizes Curriculares Estaduais para a Educação Física, são citadas nos
conteúdos específicos a serem trabalhados, a Ginástica Artística, a Ginástica Rítmica, a
Ginástica de Academia, a Ginástica Circense e a Ginástica Geral, e são exatamente estas que
mais aparecem no Planejamento do Professor. O que se pode perceber é que os professores
abordam as modalidades de ginástica que nem mesmo as diretrizes comentam. Este aspecto
pode ser visto como positivo uma vez que o professor buscou outras fontes e possivelmente
adaptou seu conhecimento a situação de suas turmas, ao menos em seus planejamentos anuais.
Após este questionamento, perguntou-se aos professores se na formação
acadêmica (graduação), tiveram contato com as mais variadas ginásticas. Responderam
positivamente 94,44% (17) dos entrevistados. Apenas um profissional não teve a ginástica
contemplada na grade curricular no Ensino Superior.
Barbosa apud Nista-Piccolo e Schiavon (2006) nos coloca que as disciplinas
gímnicas sempre fizeram parte da formação profissional do professor de Educação Física. Ela,
a ginástica, aparece nas mais variadas formas nestes cursos, e, desta forma, também refletem
sua inconsistência conceitual no ambiente escolar. Muitos professores que responderam o
questionário são professores da rede estadual de ensino, graduados a mais de 10 anos.
Possivelmente esses professores obtiveram muito mais conhecimentos técnicos das
modalidades gímnicas ligadas aos esportes, ou seja, ginásticas de competição, do que de como
ensinar as mesmas na escola, talvez dificultando fazer a transposição didática e as adaptações
necessárias para que a ginástica possa ser aplicada da forma como deve na escola.
Nesta mesma questão, solicitou-se aos professores que respondessem quais as
modalidades ginásticas tiveram contato na graduação. Observe o quadro abaixo, que nos dá
clareza que, mesmo sendo cursos de graduação instituídos e aprovados pelo MEC, não
possuem uma mesma matriz curricular. Denota-se que a faculdade/universidade tem a
autonomia de montar seu próprio currículo podendo abordar este ou aquele conteúdo
(disciplina) com mais ênfase. Também neste quadro optou-se em elaborar categorias, de
acordo com a classificação de Toledo (2004) e enquadrar a resposta dos professores nessas
categorias.
Categorias De Análise Respostas Fi1.Condicionamento Físico Localizada
AcademiaAeróbica
030504
2.Competição RítmicaArtística
1311
3.Fisioterápicas LaboralAlongamento
0201
4.Demonstração GeralCircense
0401
5. Outras EscolarInfantil
0101
Quadro 5: Modalidades ginásticas presentes na graduação dos professores.
Em face ao quadro acima, observa-se que os professores aplicam o conteúdo que
tiveram maior carga horária na graduação, ou que praticou na adolescência/juventude. Quanto
a isto, Nista-Piccolo e Schiavon (2006) colocam que existe uma certa ineficácia na formação
profissional em relação à criação de alternativas pedagógicas para o desenvolvimento de uma
Ginástica possível. Modalidades diferentes, tempo de contato com as modalidades diferentes e
consequentemente entendimentos das modalidades gímnicas de forma diferenciadas, é que
darão legitimidade aos conteúdos na escola. Percebe-se também que os professores citaram as
ginásticas de competição, conforme a divisão proposta pela literatura, pois são as que mais
são ofertadas na mídia e também, as mais antigas nos cursos de graduação, como já havíamos
colocado anteriormente.
Perguntado na sequencia, ainda na questão seis (6), se os professores atualmente
tem participado de cursos de formação na área de ginástica aplicada à Educação Física
Escolar. Dezesseis dos pesquisados responderam não, ou seja, 88.89% dos professores não
tem tido nenhum tipo de atualização nesta área. Como podemos trabalhar um conteúdo
extremamente amplo e complexo na escola, se o único contato que o professor teve com o
mesmo, foi na graduação? Das respostas obtidas dois (2), ou seja, 11,11% dos professores
responderam que tem participado de cursos na área escolar. Ao serem questionados sobre
quais os cursos que tem participado, um professor respondeu Congressos, outro Jornada e os
dois responderam Cursos.
O que se pode entender é que após a graduação os professores tem tido um certo
acomodamento no trabalho escolar, não buscando aperfeiçoamento. Pode-se entender ainda,
que estes cursos, não são ofertados com muita frequência ou próximo ao município de
residência. A mantenedora (SEED) também não tem oferecido aperfeiçoamento nesta área
para que possam atuarem na escola com mais eficácia.
Na questão sete (7) perguntou-se aos professores se a ginástica é aplicada na
escola nas suas aulas de Educação Física. Dos dezoito pesquisados, dezesseis (16), ou seja,
88,89% responderam que sim, que a ginástica é aplicada na escola nas suas aulas de Educação
Física.
Nesta mesma questão perguntou-se: em caso de resposta positiva que
assinalassem as modalidades ginásticas trabalhadas nas aulas. Na própria questão foram
citadas as ginásticas de competição (Artística, Rítmica e Acrobática), de demonstração
(Geral) e de condicionamento físico (Aeróbica e Localizada), divisão retirada na literatura, e
uma alternativa “outras”, com espaço para que escrevessem ao lado quais eram as outras
possibilidades ginásticas que trabalhavam. Observe no quadro abaixo a freqüência com que
cada modalidade ginástica foi citada pelos professores.
Categorias de Análise Modalidades Ginásticas FiGinástica de Competição Artística 06
Rítmica 07Acrobática 02
Ginástica de Condicionamento Físico Aeróbica 09Localizada 05
Ginástica de Demonstração Geral 11Circense 01
Outras Laboral 01Alongamento 02Escolar 01
Quadro 6: Modalidades ginásticas trabalhadas na escola.
Observe que na ginástica geral apareceram onze (11) citações. Pelo tempo que os
professores não participam de cursos de aperfeiçoamento pode-se dizer que o entendimento
que eles têm de ginástica geral, é que esta trata-se de qualquer exercício, qualquer movimento
ou qualquer atividade realizada a mãos livres, que esteja presente, principalmente no
aquecimento, ou ainda qualquer tipo de ginástica, uma vez que era essa a nomenclatura que
era utilizada nos cursos de graduação, nas grades curriculares mais antigas.
A Ginástica Geral, segundo a CBG (2002) é uma modalidade esportiva, não
competitiva e tem seu conceito fundamentado pela FIG – Federação Internacional de
Ginástica.
Ginástica Geral é parte da ginástica que está orientada para o lazer, onde as pessoas de todas as idades participam principalmente pelo prazer que sua prática proporciona. Desenvolve a saúde, a condição física e a interação social, contribuindo desta forma para o bem-estar físico e psicológico de seus praticantes. Oferece um vasto campo de atividades, respeitando as características, interesses e tradições de cada povo, expressados através da variedade e beleza do movimento corporal.(CBG, 2002).
Também, Santos (2001) define a Ginástica Geral como:
Um campo bastante abrangente da Ginástica, valendo-se de vários tipos de manifestações, tais como danças, expressões folclóricas e jogos, apresentadas através de atividades livres e criativas, sempre fundamentadas em atividades ginásticas. ...havendo a preocupação de apresentar neste contexto aspectos da cultura nacional, sempre sem fins competitivos.
Outra observação interessante que se pode verificar no quadro acima, é de que a
Ginástica Aeróbica, também é trabalhada por grande parte dos professores participantes da
Pesquisa. A Ginástica Aeróbica classificada como Ginástica de condicionamento físico, está
bastante presente na mídia e vai ao encontro com as atividades físicas relacionadas à saúde,
que aparece como elemento articulador nas DCEs do Paraná. Também o elemento articulador
corpo, que pode suscitar o debate entre alunos e professores sobre questões de corporeidade,
bastante interessante para as faixas etárias pré-adolescência e adolescência.
Perguntou-se também, nesta mesma questão, a frequência com que a ginástica
está sendo trabalhada nas aulas de Educação Física. O quadro abaixo representa a resposta dos
Professores.
Categorias de Análise FiBimestralmente 08De vez em quando 05Semestralmente 02Anualmente 01Outra 0Não Responderam 02
Quadro 7: Tempo de trabalho da ginástica na escola no ano letivo.
Percebe-se que mesmo a maioria das respostas (8) foi de que o trabalho com a
ginástica é bimestral. Isso reflete um velho costume, ou cultura, das Escolas de trabalhar um
conteúdo por bimestre. Já os outros oito professores trabalham numa frequência bem menor,
ou seja, de vez em quando, semestralmente ou anualmente. Isto pode significar que não há
uma organização e/ou sistematização da ginástica, comparado com os outros conteúdos, como
por exemplo os esportes.
Para que pudéssemos saber como este conteúdo é de fato trabalhado na escola,
solicitamos na questão oito (8) para que respondessem se existe espaço adequado na escola
para a prática das ginásticas. Dez (10) dos pesquisados responderam não haver espaço
adequado para a prática da mesma, dão suas aulas em espaços não apropriados. Já oito (8) dos
professores disseram que sim, que há espaço para a prática da mesma. Aos professores que
responderam sim sobre o espaço adequado, foi solicitado para descrevessem estes espaços. Os
espaços citados foram: ginásio (02 professores), sala de aula (04), quadra de esportes (05) e
saguão da escola (02).
Mesmo os que responderam sim, colocam que os espaços que utilizam são
espaços adaptados. Portanto, nenhuma escola possui espaço específico para a prática da
ginástica. O que se pode entender é que os professores que aplicam a ginástica, a fazem de
forma criativa e adaptada. E que, mesmo com pouco espaço conseguem efetivar uma prática
tímida da mesma no espaço escolar.
Sobre a existência de materiais na escola, quatorze (14) professores responderam
não haver quaisquer tipos de materiais para a aplicação da ginástica na escola, ou seja,
77,78% não tem acesso a nenhum tipo de material ginástico para as aulas de Educação Física.
Somente quatro (4) responderam sim (22,22%). Entre eles 02 professores citaram
colchonetes, 04 citaram arcos, 03 citaram cordas e bolas e cada um citou: fitas, aparelho de
som, bancos, colchões, bastões e maças.
Com relação aos materiais, observa-se que mesmo tendo o mínimo de materiais e
que estes estão em apenas algumas escolas estaduais, os professores colocaram nas respostas
que desenvolvem a ginástica na escola. Nista-Piccolo e Schiavon (2006) citam nos seus
estudos, que nem sempre é a falta de material ou de espaço físico, que limita o professor em
aplicar a ginástica. Colocam que é muito mais pela falta de conhecimento do tema proposto,
do que as condições físicas e materiais que impedem que a ginástica seja aplicada com maior
efetividade nas aulas de Educação Física. Diante disto, ressaltamos que o professor precisa
conhecer a modalidade a fundo, para que consiga, adaptar espaços e materiais, criando
alternativas no trabalho com este conteúdo.
As DCEs (PARANÁ, 2008) nos coloca que a ginástica não precisa ocorrer em um
espaço específico, mas sim em espaços livres como pátios, campos, bosques e outros.
Também nos coloca que podemos usar materiais alternativos na busca de um trabalho
pedagógico amplo, utilizando-se o que a escola possui, tanto espaços, como materiais.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, da literatura pesquisada e da pesquisa efetuada com os
professores de Educação Física da rede estadual de ensino deste município, percebe-se que a
ginástica está sendo tratada de uma forma diferenciada nas escolas e que já é um conteúdo
que faz parte da prática pedagógica dos nossos professores, mas para tecer as considerações
finais deste trabalho, considera-se necessário retomar os objetivos do mesmo. Percebemos
ainda, que existem convergências e divergências nas respostas dos professores com a
literatura pesquisada.
No primeiro objetivo específico que foi de verificar se a ginástica está inserida no
planejamento do professor e se este planejamento é seguido conclui-se que a resposta foi
positiva. Com relação a esta pergunta percebe-se que os professores sabem que a ginástica
está nos documentos oficiais, que vem ao longo da história participando da realidade escolar e
automaticamente colocam nos seus planejamentos escolares, como um dos conteúdos a serem
aplicados na escola.
Na sequencia, com o objetivo de verificar se o professor de Educação Física
conhece o conceito de ginástica, se este é reconhecido como conteúdo e quais os tipos de
ginástica que conhece, obtivemos as seguintes respostas: percebe-se que os professores
apresentam diferentes compreensões do conceito de Ginástica e que os conceitos apresentados
por eles, estão muito próximos de qualquer manifestação da cultura corporal trabalhada na
disciplina de Educação Física. Neste sentido, a compreensão demonstrada no discurso da
maioria se confunde e representa também os outros conteúdos da Educação Física. Os
professores sabem que a ginástica está nos documentos oficiais, que vem ao longo da história
participando da realidade escolar e automaticamente colocam nos seus planejamentos
escolares, como um dos conteúdos a serem aplicados na escola. Ainda, conhecem muitas
modalidades ginásticas e nos planejamentos abordam apenas algumas. As ginásticas não
foram mencionadas conforme as categorias descritas pela literatura, apenas foram citadas
aleatoriamente. Citam exemplos de ginástica que não são consideradas pela literatura como
modalidades.
Quanto ao conceito de ginástica e a sua importância no plano docente: conhecem
parte do conceito da ginástica, ou seja, fragmentos do mesmo quando comparado à literatura.
Reconhecem a ginástica como conteúdo escolar e este está presente no planejamento anual
dos professores. O que se percebe, é que os professores não conhecem a ginástica na sua
totalidade, portanto colocam fragmentos do conceito nas suas respostas. Ainda, a ginástica
aparece nos planejamentos anuais, pois está nas diretrizes estaduais para a Educação Física e
todos os planejamentos devem adequar-se a este documento, principalmente por que aparece
nas propostas pedagógicas das escolas. Percebemos também, que a falta de conhecimento do
conteúdo, gera uma prática pedagógica ineficiente, pois é necessário conhecimento para que
se faça as adaptações necessárias e se trabalhe de forma organizada e sistemática a ginástica.
Quanto aos tipos de ginástica que conhecem e quais são aplicadas nas aulas de
Educação Física: conhecem inúmeras modalidades ginásticas, principalmente as que estão
mais presentes na mídia (competição), que fizeram parte do currículo na graduação
(competição) e as que estão relacionadas aos aspectos corporais e de saúde (condicionamento
físico). Desconhecem as divisões da ginástica citadas na literatura, portanto trabalham na
escola a ginástica presente na mídia e nas diretrizes, pois nem mesma esta coloca estas
divisões e nem cita todas as modalidades ginásticas existentes. Citam algumas que talvez,
seriam as possíveis de serem trabalhadas na escola.
Quanto aos benefícios que a prática da ginástica pode trazer aos alunos:
reconhecem os aspectos motores (capacidades físicas) e outras questões como postura,
questões corporais e trabalho coletivo. Não citam nas respostas o que os autores colocam
sobre os ganhos permanentes que os praticantes de ginástica tem quanto à criatividade,
movimentos amplos e fundamentais de locomoção, manipulação e estabilização corporal.
Ainda como ganho de um bom trabalho corporal citamos o menor gasto de energia quando o
gesto é aprimorado, melhoria dos resultados das ações motoras, prevenção de lesões, beleza
dos movimentos, desenvolvimento da saúde, interação social, superação dos próprios limites,
colaboração entre os colegas e outros. Denota-se que não há este conhecimento aprofundado.
Isto pode estar atrelado a falhas na formação profissional nas atividades gímnicas, falta de
aprimoramento (cursos), atualizando os professores neste conteúdo ou visualização de uma
modalidade totalmente técnica e competitiva na escola, não podendo aplicá-la de forma
adequada e adaptada à realidade escolar.
O terceiro objetivo tinha como meta verificar se o Professor teve contato com as
ginásticas na graduação, quais delas e se hoje, tem disponibilidade para participar de cursos
de formação. Os professores responderam positivamente. O que se percebe na prática é que os
professores aplicam mais, o conteúdo que teve maior carga horária na graduação, ou que
praticou na adolescência/juventude. Quanto a isto, Nista-Piccolo e Schiavon (2006) colocam
que “... existe uma certa ineficácia na formação profissional em relação à criação de
alternativas pedagógicas para o desenvolvimento de uma Ginástica possível”. Os professores
tiveram acesso a modalidades diferentes, com um tempo de contato com as modalidades
diferentes e consequentemente entendimentos das modalidades gímnicas de forma
diferenciadas. É este conhecimento que pode fazer a diferença na aplicação do conteúdo na
escola e que dará legitimidade à ginástica no ambiente escolar. Percebe-se também que os
professores não tem feito cursos de atualização na área da ginástica, mas gostariam de
aprimorar-se, pois o contato com as mesmas na graduação foi insuficiente para que possam
aplicar este conteúdo de forma sistemática.
No último objetivo específico queríamos verificar se existe na escola espaços e
materiais adequados para a prática da ginástica e quais são eles. Um pouco mais que a metade
dos pesquisados responderam não haver espaço adequado para a prática da mesma, ou seja,
dão suas aulas em espaços não apropriados. Já os outros professores disseram que sim, que há
espaço para a prática da mesma. Para aqueles que responderam sim, sobre o espaço adequado,
foi solicitado para descrevessem estes espaços. Os espaços citados foram ginásio, sala de aula,
quadra de esportes e o saguão da escola. Mesmo os que responderam sim, colocam que os
espaços que utilizam são espaços adaptados. Portanto, nenhuma escola possui espaço
específico para a prática da ginástica. O que se pode entender é que os professores que
aplicam a ginástica, a fazem de forma criativa e adaptada. E que, mesmo com pouco espaço
ou pouco material, conseguem efetivar uma prática da mesma no espaço escolar.
Os autores já colocam esta dificuldade existente na escola com relação aos
espaços e materiais, mas também colocam que isto não pode servir de desculpas para que o
conteúdo não seja aplicado na escola. Colocam ainda, que o que falta na verdade, é
conhecimento do assunto, dominar o conteúdo que irá trabalhar para que a transposição
didática aconteça na prática. O que não se pode mais conceber é que o professor tenha uma
visão da modalidade ginástica como uma modalidade técnica, competitiva. Caso isto
aconteça, não será possível trabalhá-la na escola da forma como deve e que, não sendo
trabalhada não proporcionará os benefícios que esta manifestação corporal pode trazer aos
alunos. É fundamental entender que a ginástica é um conteúdo da Educação Física (e isto os
professores reconhecem), deve ser colocado nos planejamentos anuais (isto, pela pesquisa
também está sendo feito), que o professor tenha formação atualizada para que veja este
conteúdo de forma diferenciada e consiga trabalhá-lo na escola (isto não está acontecendo),
conheça todas as modalidades ginásticas e relacione algumas delas para serem trabalhadas na
escola, faça a transposição didática, ou seja, as adaptações necessárias tanto de espaços
quanto de materiais, efetivando uma prática que envolva a todos, siga uma certa
sistematização e proporcione aos alunos mais esta vivência corporal e cultural.
Tendo em vista esses resultados parciais, em relação ao objetivo geral que foi de
verificar se a ginástica, como conteúdo estruturante, é trabalhada em seus diferentes estilos de
forma sistematizada nas aulas de Educação Física das Escolas Estaduais da Educação Básica
– 5ª a 8ª séries, do Município de Francisco Beltrão chegou-se à conclusão de que embora
timidamente e de forma aleatória a ginástica está sendo contemplada, nas aulas de Educação
Física nas Escolas Estaduais do Município de Francisco Beltrão. Esse resultado demonstra
que há uma preocupação por parte dos professores, em melhorar a prática pedagógica, tendo
em vista que em muitas pesquisas este conteúdo não é contemplado. No entanto, diante das
convergências e divergências apresentadas neste trabalho, concluímos que ainda há um longo
caminho a percorrer, lembrando que este caminho não pode ser trilhado isoladamente por
alguns professores, mas pelo coletivo que compõe o sistema educacional.
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