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Guia de Estudos

Conferência de Berlim

São Paulo Model United Nations

Conferência de Berlim (1885)

Jéssica Gazolini (Diretora)

Camila Santos (Diretora)

Elon Herrera (Sub-Secretário Acadêmico)

Bernardo Fico (Secretário Geral Acadêmico)

São Paulo, 15 de Setembro de 2012

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Sumário

1. Introdução

2. Contexto

3. Neocolonialismo

3.1 Darwinismo Social

3.2 Eurocentrismo

3.3 Missão Civilizatória

3.4 Colonias de Enquadramento

3.5 Colonias de Enraizamento

3.6 Protetorados

3.7 Áreas de Influência

4. Características naturais do continente africano

5. Histórico Geral da Partilha Africana

6. Posição e interesses dos países na conferência

6.1 Portugal

6.2 Reino Unido

6.3 Belgica

6.4 França

6.5 Espanha

6.6 Alemanha

6.7 Italia

6.8 Estados Unidos da América

6.9 Demais Países

7. Bibliografia

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1. Introdução

O período compreendido entre 1880 e 1914 pode ser entendido como o século

imperialista, marcado por uma política impulsionada pelo sistema econômico

capitalista, o qual começava a se solidificar desde a Revolução Industrial, onde a

superprodução, o excedente de capital e o subconsumo dos países industrializados os

estimularam a colocar uma parte de seus recursos econômicos fora de sua esfera

política, fazendo com que passassem a visar a dominação novos territórios. O desejo

pelo desenvolvimento econômico fez com que os países desenvolvidos dessa época

começassem a disputa por colônias e, como consequência, pelo controle de matérias

primas, mão de obra ou quaisquer outras riquezas que pudessem ser extraídas delas.

Sendo assim, o mundo foi dividido entre as principais potências da época: Estados

Unidos da América, Inglaterra, Bélgica, França, Rússia, Japão, Holanda e Alemanha.

É dentro deste contexto que se encaixa um dos mais marcantes acontecimentos na

história da humanidade: a Conferência de Berlim. Esta, foi uma reunião entre os líderes

das potências mundiais para regulamentar as áreas de colonização europeia, no

perímetro da região africana, visando assim, cessar as disputas diplomáticas que

acompanhavam os eminentes conflitos territoriais e ideológicos, que cercavam as

grandes potências industriais.

Embora a Conferência de Berlim represente um grande passo na diplomacia mundial,

isso é, os países optam por discutir e negociar seus interesses no lugar de guerrear pelos

mesmos, é extremamente importante ressaltar que a divisão já existente, devido às

etnias e tribos, no continente africano não foi levada em consideração ao longo das

negociações e, a conferência ficou marcada como mais uma prova da ideologia

eurocêntrica praticada pelas potencias da época, dispostas a impor seus interesses sobre

outros povos, desconsiderando suas respectivas culturas e economias.

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2. Contexto

A Conferência de Berlim ocorreu entre 15 de novembro de 1884 e 26 de

novembro de 1885, sendo uma conseqüência de vários acontecimentos, não se pode

tratá-la como algo que aconteceu isoladamente, para isso, deve-se entender um pouco

daquilo que, à época, ocasionou todo o processo.

Atrelada à Primeira Revolução Industrial, veio a necessidade dos grandes

industriais de aprimorar e criar tecnologias que reduzissem o custo e o tempo de

produção, em virtude de aumentar o seu lucro. A partir desse desenvolvimento de novas

tecnologias, surge outra etapa a qual é conhecida como a Segunda Revolução Industrial,

sendo, em suma, o momento em que novas tecnologias são criadas para a produção nas

indústrias, diferente daquelas as quais eram usadas na Primeira Revolução. Nesta

segunda etapa, os ramos que se destacam são o metalúrgico e o químico. O aço passou a

ser considerado um material básico no âmbito industrial, fazendo com que a siderurgia

se sobressaísse. O ramo automobilístico ganhou grande expressividade nesse período,

assim como o uso da energia elétrica.

Mas a Segunda Revolução Industrial não foi apenas um processo técnico-

cientifico, foi também o desencadeador de grandes mudanças econômicas e sociais em

toda a Europa Ocidental, bem como nos Estados Unidos da América. O êxodo rural,

consequente do crescimento de oportunidades de empregos nas indústrias, faz com que,

pela primeira vez, a população urbana supere a rural na Europa. O comercio mundial

amplia-se, passando a operar em grandes escalas e, o capital proveniente dessa atividade

acumula-se nas mãos de empresários provenientes dessas nações.

Ao estudar esse período é importante também ressaltar o surgimento das novas

potências. A Primeira Revolução Industrial foi um processo que ficou restrito apenas à

Inglaterra e em menor escala à França. Mas, a Segunda Revolução Industrial significou

a possibilidade de implementar a produção industrial em vários países como Bélgica,

Holanda, Japão e, principalmente, Alemanha e Estados Unidos, os quais se tornaram

duas das maiores potências industriais do mundo.

Em consequência do desenvolvimento desses novos meios de produção houve a

necessidade de mais mão de obra, matérias primas e mercado consumidor. Essas

tecnologias possibilitaram um grande aumento na capacidade produtiva desses países,

acarretando, consequentemente, a saturação de seus mercados consumidores, fazendo

com que a indústria tivesse que buscar novos mercados (de fornecedores e de

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consumidores) para suprir a demanda das recentes tecnologias criadas. Garantiu-se

assim que os donos dos meios de produção continuassem a ter seus ganhos. É nesse

contexto que se surge o imperialismo e o neocolonialismo, pois foram as soluções

encontradas para suprir a escassez tanto de matéria prima, quanto de novos mercados

que ameaçavam as crescentes economias das potências industriais.

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3. Neocolonialismo

Neocolonialismo é um termo criado para distinguir o colonialismo do século XIX do

colonialismo do século XVI. O primeiro foi criado dentro de um capitalismo comercial

e mercantil, já o segundo está diretamente relacionado à Segunda Revolução Industrial e

ao capitalismo financeiro e monopolista. Enquanto o objetivo do colonialismo do século

XVI eram os produtos tropicais chamados de especiarias, bem como a busca por mão de

obra escrava, tais itens eram extremamente valiosos na Europa, a fim de realizar a

manutenção da balança comercial favorável, e os metais preciosos para a manutenção

do metalismo; nessa nova modalidade de exploração, a pretensão era não só fazer com

que as áreas de dominação fossem grandes fornecedores de matéria prima por um baixo

custo, mas também fossem um mercado consumidor quantitativo para seus produtos

industrializados e mão de obra barata para suas indústrias.

A compreensão acerca da diferença entre os termos Neocolonialismo e

Imperialismo é fundamental para a análise histórica sobre esse tema. O Imperialismo

trata-se de uma dominação de natureza econômica (que indiretamente torna-se politica)

dos países industrializados sobre os países denominados por “atrasados

economicamente”, nesse caso, no entanto as nações dominadas ainda permanecem

formalmente independentes. Como exemplo desse tipo de dominação, pode-se

mencionar a presença dos Estados Unidos na América Latina (com a política do Big

Stick por exemplo). Já o termo Neocolonialismo abrange uma forma muito mais visível

de dominação, o qual é caracterizado por um controle politico-militar efetivo das nações

dominadoras sobre as nações exploradas. Como já foi mencionada, essa segunda tática

de dominação foi escolhida pelas potências mundiais como forma de atuação sobre o

continente africano, foi também utilizada como forma de domínio da Ásia e da Oceania.

O conceito de neocolonialismo está diretamente ligado à política de dominação

usada nesta época e, para justificar a imposição de certas nações sobre as outras, durante

o final do século XIX e começo do século XX, foram usadas algumas ideologias tais

como: Darwinismo Social, Eurocentrismo, Missão Civilizatória e Altruísmo Europeu.

3.1 Darwinismo Social

As ideias defendidas por Charles Darwin em sua famosa obra “A origem das

espécies”, publicada em 1859, não ficou limitada apenas à área da biologia, diversos

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filósofos e sociólogos não demoraram a utilizá-las também para classificar a sociedade,

dividindo-a em moderna e primitiva, criando assim, uma ideia da existência de uma

“evolução” dentro da humanidade. Essa ideologia foi de extrema importância para

justificar a grande diferença social presente naquela época na Europa, afinal, a

justificativa utilizada seria a de que os mais aptos e mais civilizados teriam maior

tecnologia e, sendo assim, mais progresso para sociedade, que à época era impulsionada

pelo acúmulo de capital nas mãos daqueles que detinham os meios e produção,

formando um paradoxo entre progresso eas ideias revolucionárias socialistas, as quais

ganhavam cada vez mais destaque em todo cenário internacional.

Tal ideologia foi, principalmente, utilizada para defender a ocupação dos

continentes africano e asiático, alegando que a dominação do “mais forte” sobre o “mais

fraco” ou do “mais civilizado” sobre o “menos civilizado” faz parte de um processo de

seleção natural, visando à adequação daquelas nações ao natural percurso de

determinada sociedade. Mas é de extrema importância ressaltar que Darwin nunca

defendeu a tese de uma raça humana superior, e que tal ideologia é resultado de uma

série de pesquisas científicas feitas por pesquisadores que, por falta de pesquisas de

campo baseavam seus estudos em relatos feitos por outras pessoas e estes já viriam

carregados de preconceitos e julgamentos e que, portanto, realmente acreditavam,

mesmo que erroneamente, numa sociedade primitiva. Como estas pesquisas eram

custeadas pelos Estados, eram usadas como justificativa para suas ações dominadoras.

3.2 Eurocentrismo

O próprio termo eurocentrismo já é autoexplicativo. Trata-se, basicamente, da

ideia de que a cultura, política e os interesses europeus devem ser vistos como

referência no contexto de composição de toda a sociedade moderna. Esta cultura, ainda

hoje, é muito presente em nossa sociedade; músicos, filósofos e autores europeus são os

mais consagrados e exaltados, enquanto nomes de culturas periféricas caem no

esquecimento, independentes de seus talentos. Outro aspecto que ilustra o modo como

essa ideologia é imposta sobre a sociedade seria o fato do continente europeu, no mapa

mundial, estar situado exatamente no centro, como o resto do mundo representado ao

seu redor.

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3.3. Missão Civilizatória

A Missão Civilizatória enquadra-se no contexto de eurocentrismo, pois os

ideólogos desta missão acreditavam que os costumes e valores europeus eram

superiores aos das outras civilizações e, portanto, eles, como seres “superiores”,

deveriam levar esses moldes para sociedades consideradas atrasadas e selvagens, no

caso, África e Ásia. É nessa missão que se encaixa o sentimento de altruísmo europeu,

cujo qual eles afirmavam que levar os costumes avançados dos europeus para substituir

os arcaicos de outras civilizações era uma ação filantrópica sem interesses próprios.

Dentro do neocolonialismo existem diferente maneiras de dominação, bem

como de consolidação deste domínio dentre as colônias, elas estão dividas em: colônias

de enquadramento, colônias de enraizamento, protetorados e áreas de influência.

3.4. Colônias de Enquadramento:

Tratavam-se da forma mais clássica de dominação, nas quais o aparato político

local era substituído por uma minoria europeia que ficava responsável por cargos

importantes nos setores da justiça, forças armadas e burocráticas. Essa política de

colonização também ficou conhecida por se aproveitar de rivalidades tribais já

existentes, para facilitar sua dominação assegurando que diferentes clãs não se unissem

contra a metrópole.

A economia de subsistência foi substituída pela “plantation” (monoculturas

voltadas para exportação de bens agrícolas que não são produzidos pela metrópole) e os

impostos eram cobrados em dinheiro, garantindo assim que a população ficasse

obrigada a trabalhar nas grandes plantações.

Essa forma de dominação embora custosa era largamente compensada pelos

lucros obtidos com a obtenção de minérios e a exportação de bens agrícolas, ambas

advindas de uma exploração exaustiva imposta sobre a população local. A colonização

de enquadramento foi utilizada na Ásia e, principalmente, na África, mas seu exemplo

mais perfeito foi a Índia Inglesa, onde 5 mil funcionários ingleses eram responsáveis

por administrar 300 milhões de indianos.

3.5. Colônias de Enraizamento:

Utilizada para dominar áreas que não possuíam grandes atrativos econômicos

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para a metrópole, [as colônias de enraizamento] tinham como principal propósito

receber os excedentes populacionais dos países industrializados, que tinham a

responsabilidade de estabelecer neste tipo de colônia uma nova atividade econômica

com o intuito de torná-la lucrativa. A população nativa era retirada de qualquer cargo

administrativo, ou de prestigio, sendo substituída pela população imigrante que

recebiam uma vida de privilégios.

Essa dominação foi responsável pelo extermínio de diversas populações nativas

que, aos olhos dos dominadores, não teriam serventia para seu enriquecimento. Nos

casos em que a população foi simplesmente “ignorada”, os problemas sociais causados

por esse modelo de colonização podem ainda hoje serem notados. A colonização de

enraizamento foi utilizada principalmente na Austrália, Nova Zelândia, Canadá e África

do Sul.

3.6. Protetorados:

Utilizada normalmente em regiões que já disponham de um Estado mais

organizado, esta é considerada a forma mais eficiente de dominação. Nesse caso o

aparato político local é mantido e a nação colonizadora mantém um domínio indireto

sobre a nação colonizada.

As populações locais continuam a exercer suas funções na área supervisão

fiscais e segurança pública sendo apenas supervisionados pelos oficiais europeus. As

elites locais tendem a adotar a língua e cultura da nação civilizadora tornando-se

dependentes dessas para manterem seus privilégios. Essa forma de domínio passa a

ideia de uma falsa liberdade diminuindo assim as chances das populações se revoltarem.

Essa forma de dominação acorreu principalmente no Egito sob o domínio da Inglaterra

e no Marrocos sob o controle francês.

3.7. Áreas de Influência:

Essa última forma de dominação foi utilizada para dominar grandes impérios

que já se encontravam em uma fase decadente. As potências imperialistas dividiam

esses impérios, que eram extremamente grandes em território e população, em áreas de

influência.

Com esse modelo o governo do império passa a exercer um controle mínimo

sobre seu território e suas províncias são administradas por diferentes nações que

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possuem deferentes interesses desmembrando ainda mais o império. Esse modelo de

dominação foi utilizado principalmente com o Império Chinês e com o Império Persa.

4. Características naturais do continente africano

A África é o terceiro maior continente do mundo, com aproximadamente 30

milhões de quilômetros quadrados e um litoral de mais de 27 mil quilômetros. Cortado

pelos três principais paralelos do mundo, o Equador, o trópico de Câncer e o trópico de

Capricórnio, e por isso apresenta uma grande diversidade de climas e vegetação.

Devido à base geológica do continente africano ser extremamente antiga suas

altitudes são predominantemente baixas, e sua topografia composta em grande parte por

planaltos. Apesar disso, o continente também apresenta dobramentos mais modernos

estando entre eles: a Cadeia do Atlas ,situada no extremo Norte; a Cadeia do Cabo,

localizada no litoral Meridional; o Maciço da África Centro-Ocidental, que acompanha

o litoral Atlântico e o Maciço da África Centro-Oriental, onde estão o Monte

Kilimanjaro e o monte Quênia.

Devido às extensas áreas com climas áridos o continente africano apresenta uma

hidrografia pobre com poucos rios em destaques. O Rio Nilo é o principal rio do

continente africano e o maior do mundo. Seu comprimento é de 7.088 km e, sua bacia

hidrográfica abrange uma área de 3.349.000 km². O Rio Níger é o principal da África

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Ocidental com um comprimento de 4.180 km e uma bacia hidrográfica de 2,2 milhões

de km². Ambas essas bacias hidrográficas são extremamente importantes para o

continente africano, o controle sobre elas sempre foi motivo de interesse e disputa entre

as grandes potencias mundiais.

A vegetação africana é um reflexo de seu clima. Na região equatorial está

situada uma floresta equatorial muito semelhante à Floresta Amazônica. Esta região,

assim como a Floresta Amazônica contém uma vegetação muito densa e uma rica

diversidade de espécies. A floresta equatorial africana apresenta uma vegetação que é

chamada de espelhada, ou seja, as paisagens organizam-se e distribuem-se de forma

muito parecida nos Hemisférios Norte e Sul.

A Floresta Equatorial fica situada entre duas regiões de vegetação de savana, que

é composta predominantemente por arbustos e arvores de pequeno porte. Entre as

savanas e os desertos se encontra uma vegetação que é denominada vegetação de

transição, são compostas essencialmente por gramíneas e arbustos ressecados. Nas

regiões extremas do continente predomina-se o clima mediterrâneo e é composto

principalmente por plantas xerófilas, gramíneas e arbustos.

Porém, o que realmente importa nas condições físicas do continente Africano

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são suas riquezas minerais, hoje sabe-se que há no continente Africano 75% do cobalto,

dois terços dos diamantes, mais da metade do ouro e um terço do urânio de todo o

planeta. Além de possuir cerca de 10% de toda a reserva de petróleo do mundo. Apesar

de estes dados serem atuais e não corresponderem de fato ao que se sabia a respeito do

continente è época, são importantes para ilustrar o fato de que o continente Africano era

muito atrativo para as grandes potências, que mesmo sem conhecer realmente todo o

potencial mineral da África, sabiam que havia grandes riquezas e se interessavam em

explorá-las.

5. Histórico Geral da Partilha Africana

A partilha da África foi formalizada com a Conferência de Berlim, entretanto,

ela começou em 1881 quando a França estabeleceu um protetorado na Tunísia e houve a

ocupação britânica do Egito um ano depois. Essas ações anglo-francesas estabeleceram,

em grande parte, os padrões das ações europeias na Partilha da África posteriormente.

Entretanto, a África Ocidental não era de fato de grande interesse europeu, portanto, o

que ocorria nesta região não fazia muito alarde na política europeia, porém, quando se

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tratava da África do Norte, a história já tomava outro rumo.

Em 1870 quando a França foi derrotada na guerra franco-prussiana e a

Alemanha tornou-se o principal país europeu, o plano da nova potência era fortalecer

seu papel dentro das políticas europeias. Para tal, o chanceler alemão da época, Otto

Von Bismark, precisava de uma política diplomática ativa e criativa, com novas

alianças, tratados e relações especiais. O objetivo de Bismark com isso era aniquilar

qualquer tipo de ameaça externa. O seu lado sul já estava protegido por uma forte

aliança com a Áustria, sua nação irmã e, portanto as ameaça só poderiam vir oeste e do

leste, mais especificamente da França e da Rússia. Porém, com a derrota da França na

guerra franco-prussiana, a qual a nação vitoriosa ficou com as disputadas províncias de

Alsácia-Lorena, o chanceler sabia que não haveriam muitas chances de se formar uma

amizade com a França e portanto focou suas atenções diplomáticas na Rússia. Toda essa

tentativa de estabelecer relações diplomáticas com nações “vizinhas” deu base para que

ocorresse o Congresso de Berlim em 1878 que estabeleceu algumas possessões.

O Congresso de Berlim tratava-se de apenas uma questão: dissolver o Império

Turco Otomano e partilhar suas antigas posses. Visando evitar uma guerra mundial, o

chanceler alemão convocou cinco potências europeias mais a Turquia e os países dos

Bálcãs para uma reunião que resultou em um tratado que

determinava o desaparecimento da influência turca na região dos Balcãs. E foi nesta

mesma reunião que a Alemanha e a Grã Bretanha entregaram a Tunísia nas mãos da

França e a Inglaterra ocupou o Chipre. E assim formam-se os primeiros vestígios de um

interesse na colonização da África.

Como já foi dito anteriormente é importante lembrar que a divisão Africana

desconsiderou completamente todas as divisões étnicas do continente e muito menos as

divisões de tribos. Com as fronteiras, completamente artificiais, estabelecidas foram

colocadas diferentes tribos num mesmo país, muitas delas inimigas. E isso tem

conseqüências que são vistas principalmente hoje em dia, é por causa das minorias

colocadas dentro do mesmo país que hoje o continente Africano sofre com governos

fracos ou ditaduras que não respeitam as minorias muito menos os direitos humanos e é

por isso que a África está nas condições atuais, sendo o continente com o maior índice

de miséria do mundo.

Esse descaso com a cultura africana foi um dos resultados de uma corrente de

pensamento baseado no etnocentrismo, que é a tendência dos indivíduos de

menosprezarem a cultura alheia e colocar a sua como superior, o pensamento

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etnocêntrico é fundamentado em estudar ou observar a cultura alheia com o pensamento

voltado para a própria cultura e portanto passar a considerar aquilo que não se encaixa

nos seus costumes como diferente, exótico e inferior. A partir daí surgiu na década de

60 uma série de trabalhos baseados numa orientação chamada evolucionismo linear. A

idéia deste “evolucionismo linear” era de que a cultura se desenvolve de maneira

uniforme e que, portanto, cada sociedade deveria percorrer todo o caminho já alcançado

pelas sociedades mais avançadas. É por isso que toda a cultura africana foi

desconsiderada, porque acreditava-se que um dia eles fossem chegar no que a sociedade

europeia entendia como civilizado e melhor.

6. Posição e interesse dos países na Conferência

6.1. Portugal:

Portugal foi a primeira nação no inicio das grandes navegações a explorar a

costa africana. Seu direito de exploração ganhou reconhecimento papal (poder

hegemônico da época) com o Tratado de Tordesilhas em 1494 firmado entre Portugal e

Espanha. Com a revolução industrial, o surgimento de novas potências e, sobretudo com

a afirmação do poder soberano dos monarcas das grandes potências, o poder papal

perdeu sua hegemonia e com ele a validade do Tratado de Tordesilhas e a soberania de

Portugal na África foram contestadas.

O principal interesse de Portugal com relação a África era a efetivação do

projeto que ficou conhecido como o “Mapa Cor-de-Rosa” que tratava da ligação de

Angola a Moçambique criando assim uma rota do Oceano Atlântico ao Oceano Índico.

Essa nova província ficaria conhecida como Angolomoçambicana e iria abranger quase

toda a Zâmbia e o Zimbábue.

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É importante ressaltar também que foi Portugal no inicio de 1880 foi primeiro a

propor a realização de uma conferencia internacional com o intuito de tratar das

disputas territoriais da África.

6.2. Reino Unido:

O Reino Unido era uma das nações mais interessadas na África, com sua

industrialização precoce o país já sofria com a falta de recursos, espaço e mão de obra.

A África poderia na visão dos ingleses não só sanar esses problemas como também

aumentar ainda mais sua hegemonia perante o mundo.

A Inglaterra vinha há anos tentando obter controle de uma rota de ligasse o Cabo

da Boa Esperança (extremo sul africano) a cidade do Cairo (extremo norte do continente

africano) garantindo assim uma dominação vertical de toda a África. Esse projeto vinha

sendo frustrado devido a interesses de demais países europeus sobre a região central do

continente e também devido as revoltas dos bôeres na região que hoje é conhecida como

África do Sul.

Dentre os países que já demonstravam interesses na região central da África é

importante ressaltar que Portugal era o principal, pois seu projeto de concretizar o

“Mapa Cor-de-Rosa” entrava em choque direto com o projeto dos ingleses de realizar a

dominação vertical. Esse fato foi motivo de diversas desavenças entre as duas nações e

um dos principais motivos que tornou a Conferencia de Berlim tão necessária para

evitar posteriormente um conflito armado.

Outro ponto levantado pela Inglaterra foi a negociação da livre navegação e

sobretudo do livre comércio das bacias do Níger e do Zaire. Ambas essas bacias são de

extrema importância para o continente africano sendo não só essenciais para o

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abastecimento de água dos países centrais mas também a única forma de transporte que

liga o interior ao continente. Sem esse acordo de livre navegação a colonização não

seria possível para aqueles que não tivessem o controle desses rios.

6.3. Bélgica:

Era de conhecimento publico o interesse que o rei Leopoldo II tinha em fundar

um império ultramarino. Em 1875 enviou expedições ao continente africano alegando

que o objetivo era o combate ao tráfico de escravos e a proteção das missões cristãs.

Com a mesmo estratégia de mascarar seus verdadeiros interesses através de eventos

filantrópicos realizou em 1876 uma conferência de geografia que ficou conhecida como

a Conferência Geográfica de Bruxelas. Apesar das tentativas de esconder suas

verdadeiras intenções quanto ao continente africano elas tornam-se evidentes quando o

Rei Leopoldo II proclama seu discurso na cerimônia de abertura:

“Pareceu-me que a Bélgica, um país central e neutro, seria um lugar

adequado para um tal encontro [...]. A localização de rotas a serem abertas com

sucesso pelo interior do continente e a instalação de postos hospitalares,

científicos e pacificadores, como forma de abolir o tráfico de escravos,

estabelecer a paz entre os chefes tribais e fornecer-lhes arbitragem justa e

imparcial.”

Com o termino da conferência foi fundado a Associação Internacional Africano

sendo o Rei Leopoldo II o primeiro presidente do comitê e também fundado o Comitê

de Estudos do Alto Congo que posteriormente difundiu a ideia da criação de uma

”Confederação de Repúblicas Livres” no Congo (o projeto inicial do que posteriormente

se tornou o Estado Livre do Congo) onde o rei belga governaria as tribos da região

central da África com a condição de manter o livre comercia na Bacia do Congo.

6.4. França:

A França demostrava interesse em diferentes regiões do continente africano.

Juntamente com a Grã-Bretanha passou a partir de 1879 a controlar o Egito após efetuar

uma invasão militarizada na região. Enviou uma expedição liderada pelo marquês de

Compiègne com o intuito de explorar a região do Congo e do Gabão. Estabeleceu

também uma iniciativa de colonização na Tunísia e em Madagáscar.

Essa diversas abordagem da França no continente africano evidenciam o

interesse que o país tinha sobre o continente como um todo investindo seus recursos em

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diferentes pontos estratégicos sem se limitar a uma determinada região como alguns

outros países vinham fazendo. O que também explica a França ter grande poder de voz

dentro da conferência.

6.5. Espanha:

A Espanha após sua unificação passou a investir muito nas grandes navegações

chegando a dominar a maior parte da America. Mas no século XIX o colonialismo

espanhol já havia atingindo seu ponto de decadência. O inicio do século foi marcado por

diversos movimentos de indecência na América desmembrando o que havia sido uma

vez o Império Espanhol e enfraquecendo o país tanto na esfera política quanto na

econômica.

Apesar das dificuldades que o país enfrentava sua importância no colonialismo

mundial era inegável e por isso ele ainda detinha influencia sobre o neocolonialismo.

Ao longo da Conferência de Berlim embora não tenha sido o país com maior poder de

voz teve força suficiente para disputar terras com as demais potências.

6.6. Alemanha:

A Alemanha, juntamente com os Estados Unidos, após a Segunda Revolução

Industrial se tornou uma das mais importantes potências mundiais. sua influência

cresceu com o final da guerra franco-prussiana, da qual a Alemanha saiu unificada e

vitoriosa, tirando da França o título de maior potência europeia.

Com intensificação de sua industrialização a Alemanha passou a se deparar com

os mesmos problemas de falta de matéria prima e mercado consumidor que os demais

países industrializados enfrentavam. E assim como seus concorrentes econômicos

acreditava que a solução para esse problemas encontrava-se na dominação de colônias

na África e na Ásia.

A Conferência de Berlim foi a solução que o Chanceler Otto Von Bismark

encontrou para garantir não só que a partilha a África ocorresse da forma mais pacifica

possível como também que Alemanha como anfitriã da conferência ganhasse um maior

espaço nas negociações.

6.7. Itália:

A Itália entrou na corrida colonial tardiamente devido ao processo de unificação

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pela qual ela vinha passando durante esse período. Mas isso não impediu o país de

buscar defender seus interesses e lutar também pelo controle de terras.

6.8. Estados Unidos da América

Os Estados Unidos embora não tivessem o interesse de um domínio direto sobre

as colônias africanas sua participação ainda foi muito ativa durante a conferência.

Tratou-se de uma importante oportunidade para o país se estabelecer como uma nova

potencia industrial, expandir seus mercados e buscar novas alianças comerciais.

6.9. Demais países:

As demais potências presentes na reunião tratavam-se de potências industriais ou

comerciais que direta ou indiretamente já possuíam negócios com o continente africano.

Estavam presentes na reunião com o principal propósito de travar novos acordos

comerciais entre as potências coloniais e garantirem que seus parceiros econômicos

fossem os dominadores de suas regiões de interesse.

Outro papel de extrema importância desempenhado pelas demais potências

presentes na conferência foi na questão da livre navegação nas bacia do Níger e do

Congo. O interesses delas de estabelecer atividades econômicas com as novas colônias

só seria viável com o estabelecimento de um acordo que permitisse a entrada e saída de

mercadorias do continente por outros países além daqueles que eram considerado

donos das terras cortadas pelos rios em questão.

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7. Bibliografia

http://www.casadehistoria.com.br/sites/default/files/conf_berlim.pdf

Dividir para dominar: A partilha da Africa de H. L. Wesseling

Historia Geral da Africa Volume VII

História geral da África, I: Metodologia e pré -história da África / editado por Joseph.

Ki -Zerbo. – 2.ed. rev. – Brasília : UNESCO, 2010. 992 p.