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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Gestão Escolar na Educação Infantil
Por: Marcus Vinicius Fernandes de Carvalho
Orientador
Prof. MARIA ESTHER DE ARAÚJO OLIVEIRA
Rio de Janeiro 2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Gestão Escolar na Educação Infantil
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mandes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em administração
e supervisão escolar.
Por: Marcus Vinicius Fernandes de Carvalho
3
Resumo
No contexto da temática da educação Infantil, a pré-escola tem
importante papel no desenvolvimento da criança, ficando, deste modo, explicita
a importância da sua administração escolar.
Com o presente trabalho, pretende-se evidenciar os principais
aspectos da evolução da gestão das pré-escolas, explicitando os antecedentes
históricos, os aspectos pedagógicos que afetam a gestão e do
desenvolvimento da administração.
Assim, inicia-se mostrando os aspectos sócio-históricos que
conduziram a criação das pré-escolas.
As definições legais relacionadas ao tema encontram suas bases na
própria Constituição, sendo detalhadas tanto pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, quanto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/96). À
estes dispositivos somam-se o Referencial Curricular nacional para a Educação
Infantil e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Tais
documentos norteiam em detalhes os princípios fundamentais para o
funcionamento de pré-escolas, com ênfase na importância de um projeto
político-pedagógico voltado para o desenvolvimento da criança.
Por fim, verifica-se que a ênfase na gestão democrática da unidade
escolar é influenciada pela dinâmica dos movimentos que a antecederam –
analisados aqui sob as categorias democratização e qualidade escolar. A
valorização da organização escolar implicará o reconhecimento das unidades
de ensino como locais dotados de uma margem de autonomia pedagógica e
administrativa. Sob a orientação dessa valorização, a gestão escolar passará a
ser objeto de atenção dos sujeitos envolvidos, direta ou indiretamente, com a
educação.
4SUMÁRIO
Introdução 5
Capitulo I – Um breve histórico. 7
Capitulo II – Os Aspectos Legais e Regulamentares. 16
Capitulo III – Gestão Democrática: Princípios e Processos. 25
Capitulo IV – A gestão Democrática e o Diretor Escolar. 28
Conclusão 33
Bibliografia 35
5INTRODUÇÃO
A presente monografia esta contextualizada na temática Educação
Infantil, em particular enfocando a administração das pré-escolas em seus
aspectos histórico, pedagógico e de gestão, com ênfase em seu processo
evolutivo.
A pesquisa possibilitou estudos e reflexões sobre as relações de
convivência do diretor de organização educacional com educadores e pais, e
possibilidades para a construção de um processo de gestão democrática,
participativa e comunicativa como ambiente de aprendizagem.
Neste contexto, pode-se perceber que os educadores, bem como o
diretor, tem um papel fundamental na formação da criança e devem contribuir
para estabelecer uma atuação que assegure o cuidar e o educar de modo
indissociável na Unidade de Educação Infantil. Assim, pouco a pouco, a
reflexão sobre a ação executada pelos profissionais da educação nos meios
educacionais tem conquistado espaço nos pensamentos, na dialogicidade e na
construção de saberes dos que atuam em tão bela faixa etária, a Infância.
Sabe-se que são muitos os fatores que podem interferir nos
processos da Política de Gestão na Educação Infantil e, em plena era da
globalização a educação encontra-se em um momento histórico de importante
transformação. De sorte que, para construção, coletiva numa unidade
educacional, de um projeto político-pedagógico visando a educação de
qualidade, que atenda as políticas para a educação propositiva de uma ação
transformadora, libertadora, é preciso que de fato a Unidade Educacional se
organize num espaço onde todos os segmentos estejam engajados e
comprometidos com a elaboração de todo o processo pedagógico. É
necessário, assim, repensar as práticas que ali ocorrem envolvendo todos os
agentes do processo educacional.
Numa Unidade Educacional Democrática, o papel do Diretor é
fundamental, pois é na práxis que se dinamiza a reflexão teórica, na qual existe
6a síntese entre a teoria e a prática. As ações docentes e técnico-
administrativas devem estar articuladas em um mesmo sentido.
Essas reflexões, questionamentos e destaques advêm da
constatação de que as Unidades de Educação Infantil tornaram-se integrantes
dos Sistemas de Ensino e constituem-se, hoje, em espaços de cuidado e
educação, organizados e planejados para atender crianças de dois a seis anos.
Decerto uma unidade de educação pode ser vista de variadas formas, mas
“seria na escola que as crianças aprenderiam, de modo sistemático, a se
submeter a uma autoridade impessoal?” (ENGUITA, 2004, P.29)
7
Capítulo 1 – UM BREVE HISTÓRICO
O surgimento da pré-escola remonta ao século XVIII em paralelo
com a Revolução Industrial, época de grandes transformações na sociedade
européia em decorrência da introdução do sistema capitalista.
Assim, o fenômeno da industrialização, na segunda metade do
século XVIII, nos países europeus principalmente, provocou a necessidade de
incorporação de grande número de mulheres, incluindo as casadas no trabalho
nas fábricas, resultando no problema, a ser enfrentado pelas mães de como
cuidar dos filhos durante a jornada de trabalho. (FAZOLO, 1997)
Conseguentemente, surge na França, em 1770, em função da
necessidade de liberar as mães para o trabalho, as primeiras pré-escolas com
caráter assistencialista. Nela as crianças eram assistidas por uma “guardiã”,
simples donas de casa que ficavam com os filhos de vizinhas operárias nos
chamados “refúgios” ou “asilos”: “Nesse sentido a pré-escola tinha como
função precípua a guarda das crianças”. (KRAMER, 1988, p.23)
Os “refúgios” apresentavam o início do atendimento pré-escolar que,
com a sua origem em movimentos filantrópicos, é de cunho assistencial e
expressam o cuidado com a infância. Este é o reflexo das relações sociais
construídas na Idade moderna e que foram influenciados pela industrialização
e pelo capitalismo.
A Idade Moderna, segundo Anés (1981), inaugura novos sentimentos
em relação a infância . A criança que antes não era distinta do adulto, pois era
considerada um adulto de pequeno tamanho, e que executava as mesmas
atividades dos velhos, agora, no século XV, começa a ser percebida em sua
particularidade,. Desta forma, aparece no meio familiar o sentimento de
“paparicação”.
8“Um novo sentimento da infância havia surgido, em que a
criança, por sua ingenuidade, gentileza e graça, se
tornava uma fonte de distração e de relaxamento para o
adulto, um sentimento que poderíamos chamar de
paparicação”. ( ARIÉS, 1981, P.158)
Entre os moralistas e educadores do século XVIII, na França, surge
um outro sentimento de infância no qual a preocupação maior é a disciplina e
racionalidade.
“Esses moralistas haviam-se tornado sensíveis ao
fenômeno outrora negligenciado na infância, mas
recusavam-se a considerar as crianças como brinquedos
encantadores, pois viam nelas frágeis criaturas de Deus
que era preciso ao mesmo tempo preservar e disciplinar”.
(ARIES, 1981. p.164)
No século XVIII, na França, esses dois sentimentos, a “paparicação”
e racionalidade, respectivamente caracterizados pela doçura e pela razão,
associados à preocupação com a saúde física e a higiene, vão inspirar o
cuidado com as crianças.
O sentimento de infância, advindo dos moralistas e dos educadores,
inspirou toda a educação formal até o século XX e se exprimiu através do
interesse psicológico e da preocupação moral.
Nota-se, então, que, embora até o século XVIII não tenham acorrido
mudanças quanto ao padrão filantrópico e assistencial das políticas sociais, no
contexto da Revolução Industrial, a criança tornou-se alguém que precisava ser
cuidada e preparada para uma atuação posterior na sociedade.
Assim como resultado das necessidades criadas por estas mudanças
sócio-culturais, em uma sociedade que caminhava para uma acelerada
9urbanização, surge a figura de organizações destinadas a cuidar das crianças
enquanto suas mães iam para o trabalho. (FARIA, 1997)
Conforme Fazolo (1997), a criança é vista pela sociedade emergente
como individuo que o adulto tem que alimentar e proteger. Para escamotear as
contradições da sociedade capitalista, a ideologia burguesa reproduz um
conceito de infância único e abstrato que toma como um ser que deve ser
cuidado, escolarizado e preparado para uma situação futura, como se todos
tivessem acesso às mesmas condições de vida e de ensino: “A sociedade
capitalista, através da ideologia dominante, concebe a criança como sujeito a -
histórico, apolítico, acrítico, fraco e incompleto, um ser economicamente não
produtivo”. (FAZOLO, 1997, p.17)
Algumas iniciativas como a de Robert Owen na Inglaterra, que abriu
junto a sua fábrica têxtil uma “Infant’s School” para os filhos de seus operários,
e de Aporti, que criou o primeiro “asilo” infantil na Itália, representam o inicio da
passagem de um atendimento assistencial para uma ação de educação e de
instrução. Apesar das experiências inglesa e italiana, que expressam o início
de um caráter educacional para a Educação Infantil, é a proposta de Froebel,
na Alemanha, que vem marcar a Educação Infantil como projeto de cunho
educacional/pedagógico. (OLIVEIRA, 1992)
Em 1837, Froebel, um educador alemão preocupado com as
crianças na faixa de três a seis anos, cria o Jardim da Infância –
“KINDERGARDEM” –comparando as crianças à sementes que, se bem
adubadas e tratadas pela professora – a jardineira, se transformarão e darão
bons frutos. Estas tinham um ambiente especialmente organizado para
promover o desenvolvimento das potencialidades da criança e o cultivo da
liberdade de expressão do pensamento e criatividade. Sendo este um grande
passo na educação na primeira infância suas idéias alcançaram outros países
como França, Inglaterra, Estados Unidos e Itália. (FAZOLO, 1997)
A repercussão do trabalho de Froebel foi profunda, provocando
mudanças radicais nas teorias de educação pré-escolar da época, com o
10estabelecimento de novos objetivos educacionais que passaram a ter no
homem e em seu desenvolvimento pleno o fim da educação. (RIZZO, 1985)
Desta maneira, esta autora observa:
“Não se pode compreender, na sua essência, o
significado e evolução da história da Educação Pré-
Escolar se desligada de Froebel e dos movimentos
político-liberais do antigo e novo continente durante os
séculos XVIII e XIX”. (RIZZO, 1985, p.18)
A história da creche liga-se, portanto, na visão de Oliveira (1992), às
modificações do papel da mulher na sociedade e suas repercussões no âmbito
da família, em especial àquilo que se refere à educação dos filhos.
Tradicionalmente, o contexto mais aceito para o desenvolvimento infantil tem
sido o ambiente doméstico onde a criança é atendida pela mãe ou por outras
figuras familiares. (OLIVEIRA, 1997)
Atualmente aceita-se com objetivos maiores da creche os cuidados
básicos a saúde física e mental e a educação das crianças a partir dos três
anos, incluído a sua segurança, higiene, alimentação, afeto e
educação.(OLIVEIRA, 1992)
Constata-se assim, que o panorama histórico da Educação Infantil
apresenta uma trajetória de mais de cem anos na Europa e Estados Unidos da
América, mas só nas últimas duas décadas seu crescimento alcançou
significado maior em termos de sua contribuição para a Educação Infantil.
Verificar-se-á, ainda, que essas evoluções políticas, sociais e
econômicas que influenciaram a Educação Infantil não passarão despercebidas
no Brasil sendo aqui também balizadoras das tendências de nossa Educação
Infantil.
11Conforme indicado por Kramer (1987), Moncorvo Filho, em seu livro
“Histórico da Proteção à Infância no Brasil, 1500-1922”, dividiu e caracterizou a
história das preocupações com a infância em três períodos conforme citados a
seguir:
“Durante o 1º período, do descobrimento até 1874, pouco
se fazia no Brasil pela “infância desditosa”, tanto do
ponto de vista da proteção jurídica quanto das
alternativas de atendimento existentes.
O 2º período, de 1874 até 1899, se caracterizaria,
sobretudo, pela existência de projetos elaborados por
grupos particular, em especial médicos, que tratavam do
atendimento à criança. Tais projetos, entretanto, não
eram concretizados.
No 3º período, se identificaram os progressos no campo
da higiene infantil, médica e escolar. Durante as duas
primeiras décadas deste século várias instituições foram
fundadas e diversas leis, promulgadas, visando atender à
criança”. (KRAMER, 1987, p.51)
De acordo com o quadro acima narrado, Kramer (1987) afirma que
para o atendimento as necessidades da infância no Brasil foi provida até 1874,
institucionalmente, pela “Casa dos Expostos” ou “Roda”5.
“O sistema de rodas de expostos foi inventado na Europa
medieval. Seria ele um meio encontrado para garantir o
anonimato do expositor e assim estimulá-lo a levar o
bebê que não desejava para a roda, em lugar de
abandonar [...] a maioria das criancinhas morriam [...]
antes mesmo de serem encontradas e recolhidas por
almas caridosas”. (MARCÍLIO, 1997, p.51)
12
Na verdade a “Roda” era uma instituição para os órfãos
abandonados que funcionava com todo o apoio e aplausos dos políticos e da
alta sociedade, tendo na verdade a motivação de “esconder a vergonha da
mãe solteira” um problema social que o Estado não sabia como lidar. O
declínio do uso da Roda veio no bojo de preocupações médico-sanitárias, cujo
contexto levou a projetos higienistas visando o atendimento dos filhos das
trabalhadoras domésticas A Roda dos Expostos existiu no Brasil até 1950,
quando a última foi fechada. (AQUINO, 2001)
A primeira creche no Brasil data de 1899, sendo vinculada à
Companhia de Fiação e Tecidos Corcovado, no Rio de Janeiro, atendendo a
cerca de quarenta crianças, filhos de seus funcionários. Em outros pontos do
país, principalmente em São Paulo, ocorriam também as aberturas de creches
junto às fábricas da região. Neste período é quando se instalam as primeiras
fábricas no Brasil, sendo também o início da atividade de trabalhadoras
domésticas em substituição aos trabalhadores escravos, com o fim da
escravatura. (idem, ibidem)
Por sua vez, a primeira pré-escola foi criada por iniciativa particular
paulista, em 1875, sendo fundado o primeiro Jardim de Infância Público,
também em São Paulo, em 1896. A motivação destas instituições evidencia
preocupação mais explícita em de educar as crianças burguesas. Disto, ainda
segundo Aquino (2001), depreende-se que a creche e a pré-escola têm origem
distinta, a qual está relacionada com as questões de classe, sendo a primeira
criada pra atender aos trabalhadores e à pobreza e, a segunda, destinada à
classe média e a elite.
No Brasil, as creches aparecem formalmente em 1943, com a
Consolidação das Leis Trabalhistas, onde as normas previam, em seu artigo
389, parágrafo primeiro, que as empresas com mais de trinta mulheres
deveriam possuir berçários para acolher os filhos de suas funcionárias. Tal fato
trazia a creche mais como uma instituição de apoio à mulher trabalhadora que
propriamente de apoio ao desenvolvimento da criança. (FAZOLO, 1997)
13No período do regime militar no Brasil, a partir de 1964, as políticas
sociais continuaram a acentuar a idéia da creche como apoio às crianças em
situação de miséria e precariedade de apoio familiar que caracterizaria uma
“defasagem cultural” em relação às demais crianças, a qual seria resultado da
não existência de ambiente sócio-familiar adequado ao desenvolvimento da
criança. Assim as creches seriam responsáveis por propiciar uma “educação
compensatória”, a qual deveria superar as dificuldades anteriormente citadas.
(OLIVEIRA, 1992)
A pré-escola com função preparatória para o prosseguimento da
Educação Infantil, inspirada na concepção alemã de Froebel (1782-1852)
tornou-se a chave para resolver a questão do fracasso escolar da população
menos favorecida. Tal concepção foi incorporada, na década de 1970, ao
discurso oficial brasileiro que defendeu programas de educação na pré-escola
com função compensatória. (AQUINO, 2001)
Essa proposta de cunho pedagógico, associada à idéia de educação
enquanto assistência, consubstanciada nos refúgios, asilos e creches cujas
primeiras iniciativas remontam a 1774, na França, influenciou o atendimento
das crianças de zero a seis anos no Brasil. (FAZOLO, 1997)
Com o propósito de contribuir com a chamada Integração Nacional, é
criado, em 1974, pela extinta Legião Brasileira de Assistência – LBA, o projeto
“Casulo” sendo o primeiro projeto de Educação Infantil em massa. Este projeto
visava prestar assistência ao menor de zero a seis anos, basicamente, de
modo a prevenir sua marginalidade.
Ao prover atendimento à criança o Projeto Casulo pretende, também,
proporcionar tempo livre às mães de modo a possibilitar que estas trabalhem
para aumentar a renda da família. O Projeto centrava suas atenções no
atendimento das necessidades nutricionais e a realização de atividades
recreativas. As maiores dificuldades do Projeto Casulo ocorreram por falta de
recursos humanos para a supervisão das atividades de cada célula. (KRAMER,
1987)
É importante lembrar, dentro desse quadro que:
14
“Os princípios que orientaram a concepção dos primeiros
programas nacionais brasileiros de Educação Infantil de
massa foram influenciados por propostas elaboradas por
agências internacionais ligadas à ONU, em especial o
UNICEF”. (ROSENBERG, 1997, p.137)
A partir dos anos 1980, com a crescente participação da mulher
moderna no mercado de trabalho como profissionais liberais e executivas, a
creches particulares tomam impulso como organização de apoio à classe
média, passando simultaneamente a ser também considerada como um
espaço educativo, privilegiando o desenvolvimento e a criatividade infantil e
valorizando a individualidade da criança. (KRAMER, 1987)
Marcando a construção de uma política nacional de Educação Infantil
e a Constituição Federal, promulgada em 1988, efetiva a conquista do direito à
educação para as crianças de zero a seis anos, como estatuído em seu artigo
nº 208 – “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante garantia
de: (...) IV – atendimento em creche e pré-escola ...” (BRASIL, 1988)
Posteriormente, o direito da criança à creche e pré-escola é
novamente reafirmado no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069
de 1990. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação
Nacional (Lei nº 9394 de 1996) fica definido que a creche e a pré-escola fazem
parte do segmento da Educação Infantil com função de educar e cuidar. Esta
Lei esclarece que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica,
estando vinculada ao sistema de ensino e passando a exigir formação docente
do seu pessoal. (artigo 29)
Em 1998, o Conselho Nacional de Educação divulga as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, apresentando princípios
norteadores para a elaboração de currículos a serem empregados nos
estabelecimentos de Educação Infantil.
Assim, segundo Aquino (2001), ficam evidenciadas na história
evolutiva das creches duas tendências bem definidas. A primeira, com fins
15basicamente assistencialistas, voltadas ao ato de cuidar, onde atuam as
creches públicas. A segunda, com uma motivação educacional, preocupada
com a aprendizagem infantil fundamentalmente empregada pelas creches
particulares.
Por fim, segundo esta autora, apesar dos avanços legais alcançados
no tocante a Educação Infantil, ainda existem muitos óbices a sua efetiva
execução, tanto se considerando a distribuição de verbas que tende a
privilegiar a Educação Fundamental em detrimento dos outros níveis de
educação, como por forças de dispositivos legais em tramitação no Congresso
Nacional que apresentam retrocessos ao voltar o foco da Educação Infantil
para o aspecto assistencialista.
16
Capitulo II – OS ASPECTOS LEGAIS E
REGULAMENTARES
O atual estado das leis que regem o sistema de Educação Infantil no
Brasil parte de documentos oficiais que determinam medidas legais a serem
implementadas e cumpridas pelos estabelecimentos educacionais. Podem ser
citados como importantes documentos dentro desta perspectiva: a Constituição
Federal; o Estatuto da Criança e do Adolescente; a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
(RCNEI).
A própria Constituição de 1988 reflete o movimento recente de
repensar as funções sociais da creche ao reconhecê-la como uma instituição
educativa, um direito da criança, uma opção da família e um dever do Estado:
“São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visam a melhoria de sua condição social: (...)
a assistência gratuita dos filhos e dependentes desde o
nascimento até os seis anos de idade, em creches e
préescolas.(Constituição Federal, 1988, artigo 7º)(...) O
dever do estado com a Educação será efetuadomediante
garantia de (...) atendimento em creches e préescolas às
crianças de zero a seis anos de idade”. (idem, ibidem,
artigo 208)
Assim, opondo-se à visão tradicional da creche com função
meramente assistencialista em substituição à família, a Constituição ampliou
significativamente o que pretendia a Consolidação das Leis Trabalhistas. A
Constituição de 1988 também estatuiu a municipalização do ensino, baseando-
se no argumento de que a “comunidade” teria a escola como prioridade.
(FAZOLO, 1997)
17O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei nº 8069 de
1990, enfatiza, dentre outros, o direto a educação, conforme a seguir
apresentado:
“A criança e o adolescente têm direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
preparo para a cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando-se-lhe:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores;
III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo
recorrer às instancias escolares superiores;
IV – direito de organização e participação em entidades
estudantis;
V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência”. (ECA, 1990, artigo 53)
Além disto, o Estatuto da Criança e do Adolescente determina a
criação de instrumentos que poderão influir decisivamente no atendimento dos
direitos da criança, entre os quais, o da Educação Infantil, sendo eles os
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Fundo de
Recursos Financeiros, conforme apresentados a seguir:
“O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo,
não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar
pelo cumprimento dos direitos da criança e
doadolescente, definidos em Lei. (ECA, 1990, artigo 131)
18Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho
Tutelar composto por cinco membros, escolhidos pela
comunidade local para mandato de três anos, permitida a
recondução. (idem, ibidem, artigo 132)
Os contribuintes poderão deduzir do imposto devido, na
declaração do Imposto de Renda, o total das
doaçõesfeitas aos Fundos dos Direitos da Criança e do
Adolescente (...)”. (idem, ibidem, artigo 260)
Segundo Liberati (1991), embora os Conselhos Tutelares não
tenham poder para fazer cumprir as determinações legais do ECA ou punir
quem as infrinja, poderá encaminhar notícia ao Ministério Público e fiscalizar as
entidades envolvidas com o atendimento à criança e ao adolescente. Além
disto verifica-se que a possibilidade de dedução do imposto devido de
contribuições efetuadas à instituições dedicadas à criança e ao adolescente
representa potencial fonte de recursos financeiros.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)– Lei nº
9.394 de 20 de dezembro de 1.996, informa, além de reproduzir, em seu artigo
4º, o que diz o artigo 208 da Constituição Federal anteriormente apresentado,
os aspectos apresentados a seguir:
“A educação escolar compõe-se de:
I – educação básica, formada pela educação
infantil,ensino fundamental e ensino médio; e
II – educação superior. (LDB, 1996, artigo 21) A
educação infantil, primeira etapa da educação básica,tem
como finalidade o desenvolvimento integral da criança
até seis anos de idade, em seus aspectos
físico,psicológico, intelectual e social, complementando a
19ação da família e da comunidade. (idem, ibidem, artigo
29)
A educação infantil será oferecida em:
I – creches ou entidades equivalentes, para crianças de
até três anos de idade; e
II – pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de
idade”. (idem, ibidem, artigo 30)
Estes artigos, segundo Carneiro (1998) representam uma importante
evolução da responsabilidade do Estado dobre a educação, particularmente,
explicitando que deve haver uma toda uma ambientação psicopedagógica
própria como etapa fundamental para o sucesso escolar nos níveis posteriores
da educação.
Alem disso a LDB trata de temas de particular interesse para a
Educação Infantil ao mencionar que a avaliação far-se-á mediante
acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem objetivo de
promoção (artigo 31), ao tornar obrigatório o nível superior dos docentes,
admitindo o nível médio na modalidade Normal para o magistério nos quatro
primeiras séries do ensino fundamental (artigo 62).
Assim, podemos perceber a ampliação do conceito de Educação
Básica, que passa a abranger a Educação Infantil, e a vinculação do processo
formativo ao mundo do trabalho e à prática social exercida nas relações
familiares e de convivência social, assim aumentando as responsabilidades das
unidades escolares, aí se incluindo as creches e pré-escolas, garantindo
autonomia pedagógica e flexibilidade ao funcionamento da creche e da
préescola, conforme o trabalho de Oliveira (2002).
O Ministério da Educação fornece orientações complementares em
documentos oficiais que, mesmo não sendo leis, orientam as práticas escolares
na Educação Infantil. Dentre estes, cita-se o Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil (RCNEI), um documento organizado pela Secretaria
20de Educação Fundamental do Ministério da Educação (1998), e as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), elaboradas pelo
Conselho Nacional de Educação (Resolução nº 01 de 07 de abril de 1999).
Tais documentos (RCNEI e DCNEI), no enfoque de Aquino (2001),
apresentam modelos educacionais distintos para a Educação Infantil sendo o
primeiro orientado para o desenvolvimento da capacidade de aprender, com
foco na aprendizagem cognitiva, e o segundo com ênfase no desenvolvimento
integral inserido num contexto cultural.
O RCNEI foi desenvolvido com o objetivo de servir como um guia de
reflexão sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os
profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos,
procurando respeitar seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural
brasileira. Este é fruto de um amplo debate nacional, do qual participaram
professores e diversos especialistas que contribuíram com conhecimentos
diversos provenientes tanto da vasta e longa experiência prática de alguns,
quanto da reflexão acadêmica, científica ou administrativa de outros.
O documento em pauta (RCNEI) pretende socializar a discussão
sobre as práticas pedagógicas, sugerindo formas de ação adequada às
necessidades educativas e de cuidados específicos, próprios da faixa etária de
zero a seis anos. Nessa perspectiva, tem como objetivo chamar a atenção para
a melhora da qualidade e da equalização do atendimento à criança na
Educação Infantil. Assim, na busca da qualidade no atendimento, envolve
questões amplas ligadas a políticas publicas, as decisões orçamentárias, a
formação do profissional e o esclarecimento de padrões de atendimento que
garantam o espaço físico adequado, materiais e adoção de propostas
educacionais compatíveis com a faixa etária, sabendo que as crianças muito
cedo elaboram conhecimento e constroem suas personalidades, nos múltiplos
espaços de sua vida. (AQUINO, 2001)
O RCNEI (1998) foi publicado em três volumes. O primeiro –
Introdução, apresenta informações sobre a creche e a pré-escola e concepções
básicas empregadas na definição dos objetivos da Educação Infantil que
21norteiam os outros dois volumes. Os segundo e terceiro volumes apresentam
os eixos de trabalho que compõem cada um dos “âmbitos de experiência”, a
saber: a Formação Pessoal e Social; e o Conhecimento do Mundo:
“O âmbito de Formação e Social refere-se às
experiências que favorecem, prioritariamente, a
construção do sujeito. Está organizado de forma a
explicitar as complexas questões que envolvem
desenvolvimento de capacidades de natureza global e
afetiva das crianças, seus esquemas simbólicos de
interação com os outros e com o meio, assim como a
relação consigo mesmas. (....) este âmbito abarca um
eixo de trabalho denominado Identidade e autonomia”.
(RCNEI, volume I, 1998, p.46)
“O âmbito de Conhecimento do Mundo refere-se á
construção das diferentes linguagens pelas crianças e às
relações que estabelecem com os objetivos de
conhecimento. Este âmbito traz uma ênfase na relação
das crianças com alguns aspectos da cultura. (...)
Destacam-se os seguintes eixos de trabalho: Movimento;
Artes visuais; Música; Linguagem oral e escrita; Natureza
e sociedade; e Matemática”. (idem, ibidem, p.46)
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil,
apresenta os objetivos gerais da Educação Infantil que propõem que a prática
desta deva ser organizada de modo que obter as capacidades de:
• desenvolver uma imagem positiva da criança, atuando de forma
cada vez mais independente, com confiança em suas potencialidades e
percepção de suas limitações;
22• descobrir e reconhecer progressivamente seu próprio corpo, seus
limites e potencialidades, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidados
com saúde e bem-estar;
• estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais,
aprendendo aos poucos a articulação de seus interesses e pontos de vista com
os demais, respeitando as diversidades e desenvolvendo atitudes de ajuda e
colaboração;
• observar e explorar o ambiente com curiosidade percebendo-se
cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio
ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua preservação;
• utilizar diferentes linguagens; e
• conhecer algumas manifestações culturais com atitude de
respeito, interesse e participação junto a elas e valorizando a diversidade.
(RCNEI, 1998, volume I, p. 63)
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil sugere os
educadores a levarem as crianças a criar uma imagem positiva de si e a
fortalecer sua a auto-estima, desenvolvimento da capacidade de comunicação
e interação social, tudo sem descuidar das brincadeiras. (RCNEI, Volume I,
1998)
Há também no RCNEI a orientação para que o lúdico seja uma
constante no desenvolvimento do trabalho com as crianças:
“A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um
vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. Se a
brincadeira é uma ação que ocorre no plano da
imaginação isto implica que aquele que brinca tenha
domínio da linguagem simbólica”. (RCNEI, volume I,
p.27)
23Quando o documento em questão propõe experiência da formação
pessoal e social, refere-se a que os profissionais voltados para a Educação
Infantil tenham ou venham a ter uma “formação inicial sólida e consistente,
acompanhada de adequada e permanente atualização em serviço”. (RCNEI,
volume I, p.41).
É também enfatizado no RCNEI (1998) que o trabalho com crianças
demanda um professor que tenha competência polivalente, de modo estar
capacitado a trabalhar com conteúdos de naturezas diversas, abrangendo
desde os cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos de
diferentes áreas de conhecimento.
Deste modo, pode-se perceber que o RCNEI apresenta orientações
curriculares gerais, baseadas em princípios específicos do desenvolvimento e
da aprendizagem e visando uma intencionalidade educativa em continuidade
com os vários níveis do ensino fundamental.
Por sua vez, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (DCNEI, 1999) consolidam oito diretrizes específicas. A primeira delas
traz os fundamentos norteadores das propostas pedagógicas das instituições
de Educação Infantil, quais são firmados em três princípios: éticos (autonomia,
responsabilidade, solidariedade e respeito ao bem comum); políticos (direitos e
deveres de cidadania, exercício da criticidade e respeito à ordem democrática);
e estéticos (sensibilidade, criatividade, ludicidade e diversidade de
manifestações artísticas e culturais).
O Conselho Nacional de Ensino do MEC afirma que esses três
princípios têm por finalidade:
“(...) definir, previamente, para que sociedade está se
educando e cuidando de crianças de zero a seis anos, e
como se desenvolverão as práticas pedagógicas para as
crianças e suas famílias sejam incluídas em uma vida de
cidadania plena”. (PARECER nº 22 MEC/CNE, 1998)
24
As DCNEI (1999) afirmam que o eixo do trabalho pedagógico junto
às crianças deve ser de múltiplas formas de diálogo e interação, tendo por
objetivo promover a autonomia, a responsabilidade e a solidariedade, sendo
importante ressaltar o destaque dado pelo documento à felicidade da criança.
Quando tratando da formação da identidade da criança, as Diretrizes
em tela baseiam-se no fato de que é nos primeiros anos de vida que se define
a identidade, sendo esta um “fator crucial para a inserção numa vida de
cidadania plena” (DCNEI, 1999, p.10)
As DCNEI (1999) alertam para que se veja a criança como um ser
completo, total e indivisível (3ª Diretriz), assim, as práticas de educação e
cuidado devem focar “aspectos físicos, emocionais, afetivos,
cognitivoslingúisticos e sociais da criança de forma integrada”. (DCNEI, 1999,
P. 11)
O citado documento preocupa-se em lembrar sempre que:
“(...) ser, sentir, expressar-se, relacionar-se, mover-se,
organizar-se, cuidar-se, agir e responsabilizar-se são
partes do todo de cada indivíduo, menino ou menina, que
desde bebê vão, gradual e articuladamente,
aperfeiçoando estes processos nos contatos consigo
próprios, com pessoas, coisas e o ambiente em geral”.
(MEC/CNE, 1999, p.11).
Desta forma, conforme notado por Aquino (2001), fica explicitada a
ênfase atribuída pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil ao contexto cultural no trabalho a ser desenvolvido com as crianças em
creches e pré-escolas.
25
Capitulo III – GESTÃO DEMOCRÁTICA: PRINCÍPIOS E
PROCESSOS
Na trajetória para a elaboração do trabalho, refletindo sobre as
referências teóricas de Enguita(2004), Luck (2005), Glater (1992), Silva Jr.
(2002) e Alves e Garcia (2006), são tratadas as questões da gestão
democrática e em virtude da gestão democrática e em virtude da experiência
de vida, pude perceber o quão importante é a identidade de uma instituição de
Educação Infantil, em seu processo de gestão.
A administração educacional, atividade social inserida num contexto,
adquire características que refletem em seu cotidiano. Sua prática realiza-se
em condições historicamente delineadas de modo que haja o atendimento das
necessidades e interesses diversos. A busca identitária de uma
administração/gestão educacional que atenda às exigências dos tempos atuais
deve sugerir uma aproximação dos fatos administrativos com as questões
pedagógicas. Não é possível que a administração escolar paute-se em
aspectos burocráticos ou administrativos, visto que sua ênfase deva promover
condições propícias ao desenvolvimento de um ambiente de aprendizagem à
criança. A concepção de gestão proposta nos últimos tempos tem sido
marcada pelo envolvimento da comunidade na organização das questões
educacionais, visando à melhoria dos processos, bem como promovendo
condições propícias ao desenvolvimento de um ambiente de aprendizagem aos
atores sociais envolvidos.
Assim, vista a especificidade do trabalho pedagógico realizado na
organização escolar ser irredutível aos preceitos da administração empresarial,
Silva Jr.(1990) adverte “quando a busca da identidade própria da administração
escolar tende a aproximá-la muito mais da ‘administração’ do que do ‘escolar’,
ou seja, o fato administrativo apresenta-se como substantivo e o fato
pedagógico apenas como contigente” (SILVA JR., 1990, p.69) o vínculo
26ensino/administração é deixado de lado e o aspecto essencial da escola não é
privilegiado, qual seja, sua finalidade pedagógica.
A gestão democrática preconiza mudança de paradigma, de
mentalidade de todos os membros da comunidade escolar, o que sugere deixar
de lado conceitos preconcebidos e arraigados. A concepção de paradigma é
resultante da “compreensão do modo como nosso pensamento é orientado
para perceber o mundo, o que, por isso, determina o que vemos e o que
deixamos de ver, e, em conseqüência, como reagimos diante da realidade”
(LÜCK, 2005, pp.34-35).
Reconhecer a gestão democrática como processo em construção
traz, também, limitações e desafios, visto que os próprios sujeitos componentes
do processo gestor escolar pensam atribuir ao Diretor e sua equipe a
capacidade de governo da instituição.
A mudança do mundo implica a dialetização entre a
denúncia da situação desumanizante e o anúncio de sua
superação, no fundo, o nosso sonho. É a partir deste
saber fundamental: mudar é difícil, mas é possível, que
vamos programar nossa ação político-pedagógica, não
importa se o projeto com o que nos comprometemos é de
alfabetização de adultos ou de crianças (FREIRE, 1996,
p.79).
No processo de construção da gestão democrática, são necessários
indicadores tais como: autonomia, representatividade social e formação da
cidadania.
A gestão democrática em educação não tem um fim em si mesmo,
mas, sobretudo, constitui-se num conjunto estratégico no processo de
superação do autoritarismo e do individualismo influenciado pelo meio social.
27Tomando as considerações de Alves e Garcia (2006) somente será
possível tornar democráticas as relações sociais e os processos de gestão
havendo construção de um modelo administrativo que entenda a escola como
direito de todos, permitindo que o coletivo da comunidade escolar exerça seus
direitos de cidadania, refletindo e fazendo suas próprias escolhas.
A gestão democrática do ensino contemplada na legislação da
educação brasileira tem como princípios instituídos que suas normas atendam
às peculiaridades locais e à participação dos atores sociais e à elaboração da
política educacional escolar por meio de projeto pedagógico, bem como à
ampliação da autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira nas
unidades educacionais. De sorte que são princípios constitutivos da gestão
democrática:
• Autonomia: composta de autonomias individuais, resultantes da
confluência equilibrada e dialógica de vários interesses;
• Participação: caminho para o ator social exprimir e realizar suas
tendências nos processos de decisão coletiva;
• Projeto Pedagógico: tem como função, organizar o trabalho da
Unidadede Educação, a fim de expressar as ações intencionalmente
definidas pelo coletivo e alcançar os objetivos educacionais propostos.
Desse ponto de vista, entende-se que o processo de gestão
democrática da unidade educacional depende do resgate do espaço social,
caracterizado pelas relações justas, pressupondo que esse tipo de organização
social deva incentivar a autonomia e a participação na tomada coletiva de
decisões.
28
Capitulo IV – A GESTÃO DEMOCRÁTICA E O DIRETOR
ESCOLAR
O diretor escolar, além de suas funções nas questões administrativo
organizacionais, deve exercer com desprendimento e autoridade a função de
mobilizar atores sociais para a transformação do projeto pedagógico ‘visão’ em
projeto pedagógico ‘ação’. Para haver gestão democrática, o diretor de escola
e os atores envolvidos no trabalho escolar criam vínculos inovadores e
passíveis de ser partilhados.
Inovações na gestão, e na atuação do diretor escolar, não são
intrínsecas ao processo escolar de ensino-aprendizagem; há mudanças
propostas pelas instâncias superiores à escola e mudanças propostas pelo
próprio diretor escolar. Glatter (1992) definiu mudança como “um conjunto de
alterações deliberadas e planificadas que poderão afetar significativamente os
padrões e as relações de trabalho estabelecidos, bem como os autoconceitos
dos indivíduos e dos grupos” (GLATTER, 1992, p. 146).
O diretor inovador conhece os contextos internos e externos do
ambiente escolar e atua sobre eles, pois o envolvimento em todos os projetos
da escola gera características próprias na comunidade escolar.
Assim, só ocorrem mudanças de fato quando novos significados
incorporados substituem os antigos. De acordo com essa linha de raciocínio, a
gestão democrática será viabilizada pelo diretor, caso ele desempenhe seu
papel de modo a propiciar os processos participativos, ou torná-los
participativos. A partir daí, as funções administrativo-pedagógicas entram em
ação a fim de se tomar decisões coletivamente, buscando o consenso e o
diálogo.
De um ponto de vista menos inovador, o diretor representa a escola
num patamar hierárquico privilegiado, porém, vinculado a ordens superiores.
Percebe-se, portanto, seu envolvimento com os assuntos de ordem
29burocrática, sem que haja uma disponibilidade maior para as questões
pedagógicas.
A função do diretor escolar é permeada de ambigüidades. Por um
lado, o diretor é cobrado burocraticamente e vê-se numa situação de possível
impotência diante das questões com as quais se defronta à organização
educacional, o que corrobora para que não se cumpra sua função social
transformadora, podendo servir para reiterar os interesses da conservação
social, por outro, vê-se diante dos modos democráticos de ação.
O papel do diretor é recheado de descompassos entre o discurso e
sua ação, traz arraigados os ideais conservadores, mas é desafiado à prática
de ideais progressistas, nos quais a participação dos atores escolares nos
processos de tomada de decisão é fundamental. Não basta a divisão do poder
decisório, muitas vezes exercido aparentemente de modo aberto, mas imbuído
da hierarquia exercida pelo diretor.
O diretor exerce a liderança e, para exercê-la democraticamente,
precisa reconhecer a si mesmo como parte integrante da comunidade escolar.
Numa direção comunicativa, participativa e democrática, ao diretor cabe o
envolvimento com os aspectos pedagógicos, pois sua atuação poderá propiciar
a criação de espaços coletivos de aprendizagem destinados a todos os atores
sociais pertencentes ao processo de gestão da organização social escolar.
Gradativamente, o diretor vem assumindo importante papel no
processo de gestão da Unidade Educacional. Portanto, destaca-se o papel do
diretor no processo de gestão democrática como mobilizador, articulador das
questões facilitadoras ao processo educacional, e elo de ligação entre as
questões pedagógicas e administrativas; assim sendo, as ações de
planejamento, o fluxo de informações, comunicações e dos saberes
profissionais articulados às práticas certamente, possibilitariam ao diretor um
cotidiano escolar voltado às transformações, tão necessárias ao processo de
gestão e ao ensino-aprendizagem.
Cabe ao diretor escolar a condução dos trabalhos da Unidade
Educacional como um todo, desse modo, é possível dizer que o diretor deve
30participar de todo o processo pedagógico-administrativo, com o objetivo de
criar um ambiente dialógico, comunicativo e de qualidade.
À luz do pensamento de Libâneo (2004), na gestão escolar o
importante é a transparência nas informações, a comunicação direta, a
descentralização das decisões, a valorização humanística em todas as suas
dimensões, a motivação, a participação de todos na tomada de decisão e nos
resultados obtidos, o envolvimento de cada um nos objetivos a serem atingidos
e no trabalho em equipe.
Para Sander (2002, p. 64):
O administrador escolar não é mais o profissional
preocupado com a ordem, a disciplina, os horários, os
formulários e as exigências burocráticas. Ele é o líder
intelectual responsável pela coordenação do projeto
pedagógico da Escola, facilitando o processo coletivo de
aprendizagem, o processo solidário de construção do
conhecimento humano. A função do professor e do
administrador educacional é a de facilitar o processo de
desenvolvimento humano.
Com base no princípio legal, de acordo com a LDB 9.394/96, em seu artigo 64:
A formação de profissionais de educação para
administração, planejamento, inspeção, supervisão e
orientação educacional para educação básica, será feita
em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de
pós-graduação, a critério da instituição de ensino,
garantida, nessa formação, a base comum nacional.
31E também com a recente Resolução CNE/CP nº1/2006 que institui
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia,
assegura em seu artigo 14 §1º o indicado no artigo 64 da LDB 9.394/96, bem
como prevê que a formação profissional poderá ser realizada em cursos de
pós-graduação.
Assim, a formação do gestor não pode ser vista como um processo
terminado na graduação, mas como um processo continuado, que envolve
cursos de pós-graduação, extensão, atualizações, seminários, trocas de
experiências entre pequenos grupos, para que o profissional tenha condições
de estar exercendo sua função.
São muitos os desafios dos diretores. Redimensionar a forma de
administrar a Unidade Educacional partindo de ações democráticas, e
descentralizar o poder das decisões é algo necessário para o desenvolvimento
do processo gestor.
De acordo com Sander (2002, p. 67), “o diretor é menos
administrador e mais governante. Todas as práticas implicam repensar o papel
do dirigente como protagonista pedagógico, organizacional e político da
instituição educacional”. Sua função principal é apoiar e orientar o processo de
aprendizagem. Ainda segundo o mesmo autor, “o administrador escolar não é
mais o profissional preocupado com a ordem, a disciplina, os horários, os
formulários e as exigências burocráticas. Ele é o líder intelectual responsável
pela coordenação do projeto pedagógico da escola (...) em que o ator principal
é o estudante” (SANDER, 2002, p.64).
A ousadia e a coragem, assim como o enfrentamento de desafios,
devem ser constantes no diretor que se propõe a gerir a organização social
escolar de modo democrático, apropriando-se da concepção de totalidade de
seu fazer, de sua ação na prática educativa, propiciando um ambiente de
aprendizagem no todo da organizaçãoescolar e garantindo espaços coletivos
de discussão e resolução de problemas. Certo é que um diretor de organização
escolar que se baseia em princípios participativos e democráticos não se faz
por outorga, mas depende de novas bases paradigmáticas por ele apropriadas.
32Dessa forma, a organização escolar passa a ser gestada de modo a atender as
necessidades dessa sociedade em transformação.
Ademais, à luz das palavras de Alves e Garcia (2006) somente será
possível a democratização das relações sociais, dos processos de ensino e
dos processos de gestão se houver no interior das escolas públicas debates de
temas políticos e sociais que afligem a sociedade, “contribuindo para politizar
as discussões e oferecendo elementos para que a comunidade escolar
estabeleça metas reais e concretas para seu projeto de escola e de sociedade”
(ALVES e GARCIA, 2006, p.170).
De sorte que cabe ao diretor embrenhar-se de ideais
transformadores desvelando horizontes dentro de seu espaço escolar. Para
tanto, a compreensão da dimensão política que configura o seu papel de
condutor de processos de múltiplas relações é fundamental.
33
Conclusão
Diante da pesquisa realizada, pode-se perceber que a gestão educacional
deve ser pautada em idéias dinâmicas e integralizadoras por dimensões sociais e
políticas, não sendo admitido pensar numa administração burocrática e centralizadora.
Concepções como participação, papel do diretor enquanto educador,
descentralização, distribuição de poder precisam estar integradas às relações e fazeres
cotidianos do diretor de unidade educacional. De sorte que se deve compreender gestão
democrática como uma administração que tem por finalidade a distribuição justa de
poder, possibilitar autonomia, participação dos atores sociais.
O estudo indica que o processo de gestão apresenta características
democráticas, participativas e comunicativas, sendo a elaboração do projeto pedagógico
o eixo norteador das ações desenvolvidas na Unidade.
Um aspecto interessante a ser apontado em relação ao diretor da unidade de
Educação Infantil investigada era seu envolvimento com as questões pedagógicas
conjuntamente com as questões administrativas, fazendo com que houvesse um
processo de gestão integrador da idéia de democratização do aspecto pedagógico com a
participação de todos nas tomadas de decisão, o que corroborou para a formação de um
ambiente de aprendizagem coletiva no processo de gestão.
Formas inovadoras na relação com as famílias são necessárias para legitimar
a organização educacional que atende à faixa etária de 2 a 5 anos como instituições de
educação. Articular ações viabilizando a participação das famílias na construção do
projeto político pedagógico da Unidade é fundamental para mudança paradigmática em
relação ao processo de gestão escolar.
Pelos resultados verificados neste estudo, um diretor de unidade de
educação deve ter como características essenciais: liderança, organização, autonomia,
ética, conhecimento, estimular o trabalho cooperativo e ser comunicativo.
Fundamentalmente deve abrir espaços para a participação comunitária, respeitando o
poder decisório da coletividade organizada. Para além de um papel de mero
34administrador burocrático impõe-se que ele efetivamente participe da ação dialética
educativa qual seja, educar e ser educado.
Enfim, pode-se perceber que o papel do diretor no cotidiano escolar é
contraditório e ambíguo nesse processo de gestão democrática, participativa e
comunicativa. Ele medeia a tensão existente entre os interesses de uma Educação
imposta pela gestão capitalista e os interesses da gestão democrática.
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