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Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável – Uma revisão de literatura sobre conceitos e aplicações LETICIA FLORES PAULINO (Universidade Federal de Viçosa – UFV) [email protected] RAIANE RIBEIRO MACHADO (Universidade Federal de Viçosa – UFV) [email protected] Resumo: Questões ambientais vêm sendo cada vez mais introduzidas com maior frequência nos negócios empresariais. Este estudo tem como objetivo demonstrar sobre como as premissas da sustentabilidade vêm sendo introduzidas nas cadeias de suprimento, em âmbito social, ambiental e econômico, bem como diversos autores têm trabalho esse termo em suas publicações. As referências selecionadas mostraram que existem diferentes pontos de vista sobre a aplicação da gestão da cadeia de suprimentos sustentável e que atualmente os fatores que levam as empresas à introduzirem tais práticas são cada vez mais relevantes. Alguns autores porém mostram que ainda existem lacunas a serem preenchidas sobre o conceito. Mesmo ainda sendo um conceito recente, o tema sustentabilidade em cadeias de suprimento tem ganhado cada vez mais espaço e relevância em publicações. Palavras chave: Cadeia de Suprimentos; Gestão da Cadeia de Suprimentos; Sustentabilidade; Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável. 1. Introdução No ambiente organizacional, o termo sustentabilidade se depara com certa complexidade, representando conjunto de atributos sociais, econômicos e ambientais a ser internalizados para uma organização se qualificar como sustentável, envolvendo desde a proteção ao meio ambiente até maior consciência social (CUNHA; SPERS; ZYLBERSZTAJN, 2011). Segundo Dalé, Roldan, e Hansen (2011), o modelo capitalista de produção vem desencadeando comportamentos sociais e hábitos de consumo caracterizados pelo desperdício de recursos naturais. Com o crescente número de pessoas demandando bens e serviços, surgiu a necessidade do uso eficiente dos recursos para evitar seu esgotamento e desperdício, para reduzir os impactos socioambientais e tornar os meios de produção e consumo mais sustentáveis. Santos (2012) diz que cada empresa contida no sistema industrial é um elo de toda uma cadeia de suprimentos, composta por uma rede de elos interligados desde os fornecedores de insumo até o cliente final. Essa interação gera uma grande quantidade de fluxo de bens, serviços, finanças e informações, exigindo um gerenciamento eficiente e adequado a cada elo de cada tipo de cadeia. 1

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Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável – Uma revisão deliteratura sobre conceitos e aplicações

LETICIA FLORES PAULINO (Universidade Federal de Viçosa – UFV)

[email protected]

RAIANE RIBEIRO MACHADO (Universidade Federal de Viçosa – UFV)

[email protected]

Resumo: Questões ambientais vêm sendo cada vez mais introduzidas com maior frequêncianos negócios empresariais. Este estudo tem como objetivo demonstrar sobre como aspremissas da sustentabilidade vêm sendo introduzidas nas cadeias de suprimento, em âmbitosocial, ambiental e econômico, bem como diversos autores têm trabalho esse termo em suaspublicações. As referências selecionadas mostraram que existem diferentes pontos de vistasobre a aplicação da gestão da cadeia de suprimentos sustentável e que atualmente osfatores que levam as empresas à introduzirem tais práticas são cada vez mais relevantes.Alguns autores porém mostram que ainda existem lacunas a serem preenchidas sobre oconceito. Mesmo ainda sendo um conceito recente, o tema sustentabilidade em cadeias desuprimento tem ganhado cada vez mais espaço e relevância em publicações.

Palavras chave: Cadeia de Suprimentos; Gestão da Cadeia de Suprimentos;Sustentabilidade; Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável.

1. Introdução

No ambiente organizacional, o termo sustentabilidade se depara com certacomplexidade, representando conjunto de atributos sociais, econômicos e ambientais a serinternalizados para uma organização se qualificar como sustentável, envolvendo desde aproteção ao meio ambiente até maior consciência social (CUNHA; SPERS;ZYLBERSZTAJN, 2011). Segundo Dalé, Roldan, e Hansen (2011), o modelo capitalista deprodução vem desencadeando comportamentos sociais e hábitos de consumo caracterizadospelo desperdício de recursos naturais. Com o crescente número de pessoas demandando bense serviços, surgiu a necessidade do uso eficiente dos recursos para evitar seu esgotamento edesperdício, para reduzir os impactos socioambientais e tornar os meios de produção econsumo mais sustentáveis.

Santos (2012) diz que cada empresa contida no sistema industrial é um elo de todauma cadeia de suprimentos, composta por uma rede de elos interligados desde osfornecedores de insumo até o cliente final. Essa interação gera uma grande quantidade defluxo de bens, serviços, finanças e informações, exigindo um gerenciamento eficiente eadequado a cada elo de cada tipo de cadeia.

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Segundo Silva (2013), ainda que a estrutura da cadeia seja mantida em sua formatradicional, com o passar do tempo as razões pelas quais as organizações buscaram aintegração ao longo das cadeias de suprimentos se modificaram. Com a introdução de novosconceitos e a demanda por um desempenho econômico satisfatório, as organizações passarama ser responsabilizadas, também, por um desempenho social e ambiental positivo em relaçãoàs suas operações e, indiretamente, às atividades de seus parceiros e fornecedores. Bowersox,Closs e Copper (2013) dizem que o foco da gestão da cadeia de suprimentos vem seexpandindo de maneira rápida a fim de incluir novas dimensões, aumentando a importância eo papel da cadeia na competitividade da empresa.

Carvalho (2011) ressalta também que há ainda um comportamento dissimulado dasorganizações que gera, questionamentos sobre a real representatividade das contribuiçõesempresariais à busca humana por desenvolvimento sustentável. Segundo Barbieri e Cajazeira(2009) apontam que no âmbito das organizações em geral, o núcleo duro da sua contribuiçãopara com o desenvolvimento sustentável passou a consistir em três dimensões: a econômica, asocial e ambiental. Entende-se assim que a empresa contribui sustentavelmente quando osresultados gerados são positivos e eficazes nesses três aspectos citados, sendo o modelogerencial que melhor traduz esse ideal é conhecido como Triple Bottom Line, ou tripé dasustentabilidade (TBL), que de acordo com John Elkington (2004), busca abordar o resultadodas organizações “[...] não apenas pelo valor econômico que elas adicionam, mas tambémpelo valor social e ambiental que elas criam – ou destroem”.

Este trabalho se trata revisão de literatura e finda compreensão da evolução doconceito de gestão da cadeia de suprimentos sustentável a partir de diferentes autores, eentender como este conceito vem sendo introduzido no meio organizacional.

2. Metodologia

A pesquisa é do tipo teórica-conceitual e finda uma revisão bibliográfica sobre osestudos existentes a respeito da gestão da cadeia de suprimentos sustentável. É de naturezabásica, dado que será desenvolvido um instrumento teórico sem que a realização de umaaplicação prática. Para Caldas (1986) a pesquisa bibliográfica representa a coleta earmazenagem de dados de entrada para a revisão, processando-se mediante levantamento daspublicações existentes sobre o assunto ou problema em estudo, seleção, leitura e fichamentodas informações relevantes.

Assim, foram selecionadas literaturas de diferentes fontes, nacionais e internacionais,com embasamento teórico e que problematizavam a introdução da gestão da cadeia desuprimentos sustentável nas organizações em diversos setores. Buscou-se demonstrar comodiferentes autores interpretam o conceito e suas aplicações, bem como sua eficiência diantedos resultados obtidos.

3. Referencial teórico

3.1 A gestão da cadeia de suprimentos

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Para Chopra e Meindl (2013,) uma cadeia de suprimentos consiste em todas as partesenvolvidas, direta ou indiretamente, na realização do pedido de um cliente. Ela inclui nãosomente o fabricante e os fornecedores, mas também transportadoras, armazéns, varejistas eaté mesmo os próprios clientes. De acordo com Swaminathan, Smith e Sadeh (1996), a cadeiade suprimentos pode ser definida como sendo uma rede de entidades de negócios autônomosou semi-autônomos responsáveis coletivamente pelas atividades de compras, produção edistribuição associadas com uma ou mais famílias de produtos e subprodutos. Ballou (2006)diz que a cadeia de suprimentos é o conjunto de atividades funcionais como transporte,produção, controle de estoque, dentre outras e que se repetem inúmeras vezes ao longo docanal pelo qual matérias-primas vão sendo convertidas em produtos acabados.

Segundo Novaes (2007) a gestão da cadeia de suprimentos é a integração dosprocessos industriais e comerciais, partindo do consumidor final e indo até os fornecedoresiniciais, gerando produtos, serviços e informações que agreguem valor para o cliente. ParaChristopher (2007), a cadeia de suprimentos é uma rede de organizações conectadas einterdependentes, trabalhando conjuntamente, em regime de cooperação mútua, paracontrolar, gerenciar e aperfeiçoar o fluxo de matérias primas e informação dos fornecedorespara os clientes finais. O contexto de uma cadeia de suprimentos integrada é a colaboraçãoentre muitas empresas dentro de uma estrutura dos principais fluxos e restrições de recursos, ea estratégia da cadeia de suprimentos resultam de esforços para alinhar operacionalmente umaempresa aos clientes, bem como às redes de apoio de distribuição e fornecimento para obtervantagem competitiva (BOWERSOX, CLOSS, COOPER. 2003).

Christopher(1999) também discorre sobre o conceito, considerando que a logísticaempresarial abrange as áreas que tratam diretamente com o fluxo de beneficiamento dasmatérias-primas e produtos acabados, tanto no aspecto interno quanto no aspecto externo daorganização.

3.2 Sustentabilidade

Nos últimos anos, o desenvolvimento sustentável vem sendo abordado constantementeem diversos conceitos. A complexidade do conceito sustentabilidade limita o controle de suasvariáveis. Para muitas organizações sustentabilidade é sinônimo de questões ambientais. Deuma maneira geral tem-se que o desenvolvimento sustentável é o ato de atender asnecessidades no presente da melhor maneira e com maior eficiência, de modo que as geraçõesfuturas consigam atender suas necessidades da mesma forma (WCED, 1991).

A integração dos aspectos ambientais e sociais com as considerações econômicas,conhecidas como tripé da sustentabilidade organizacional, ou Triple-Bottom Line (TBL)(Elkington, 1998, 1999, 2004), tem continuamente ganhado relevância para a tomada dedecisão gerencial em geral e para a gestão da cadeia de suprimentos (SCM) (Carter & Rogers,2008) e gestão de operações (Drake & Spinler, 2013; Kleindorfer, Singhal, e VanWassenhove, 2005).

Para Almeida (2008) a dimensão econômica inclui não só a economia formal, mastambém as atividades informais que provêm serviços para os indivíduos e grupos aumentando

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a renda monetária e o padrão de vida dos indivíduos. A dimensão ambiental ou ecológicaestimula empresas a considerarem o impacto de suas atividades sobre o meio ambiente, naforma de utilização dos recursos naturais, e contribui para a integração da administraçãoambiental na rotina de trabalho. A dimensão social consiste no aspecto social relacionado àsqualidades dos seres humanos, como suas habilidades, dedicação e experiências, abrangendotanto o ambiente interno da empresa quanto o externo (ALMEIDA, 2002).

3.3 Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável

Conforme pode ser constatado em diversos trabalhos como Carvalho (2011), Macedo(2009), Santos (2011), Silva (2013), Eulalia et. al (2011), Chien e Shih (2007), Rha (2010),Andrade et. al (2012), Liu e Srai (2011) dentre outros, o tema sustentabilidade em cadeias desuprimento tem ganhado relevância de forma bastante representativa, pois as mudanças naexigências do mercado vem fazendo com que as empresas inserir cada vez mais medidassocioambientais no seu meio organizacional, de modo que não somente o conceito sejacompreendido, mas de que maneira ele vem sendo introduzido. Para Silva (2013) estaperspectiva vem sendo trabalhada em busca de resultados que vão além dos econômicos.

Eulalia et. al (2011) explicam que termo gestão de cadeias de suprimentos sustentávelrefere-se às ações específicas de gestão que são tomadas com o objetivo de tornar a cadeia desuprimentos mais sustentável, conforme proposto pelo TBL. Porém, o fluxo de materiais,financeiros e de informações não deve ser questionado segundo a visão apenas de valoreconômico, mas sim levando em conta valores ambientais e sociais.

Christopher (2007) diz que “a globalização tende a tornar mais longas as cadeias desuprimento, à medida que as empresas alocam cada vez mais a produção em outros países oua terceirizam em locais mais distantes”.

Segundo Abdala (2013, apud Min e Mentzer 2004) a gestão da cadeia de suprimentosamplia o conceito de integração funcional tradicional, ou seja, estende a concepção de umasimples integração entre negócios funcionais, como a integração entre departamentos eprocessos, já que cada elo da cadeia pode proporcionar ajuda mútua e contribuir para acompetitividade de todos os envolvidos.

Georges (2011 apud Carter e Rogers, 2008) define a cadeia de suprimentos sustentávelcomo uma integração estratégica e transparente para a realização de uma organização comobjetivos econômicos, ambientais e sociais com coordenação sistêmica através de processosde negócio interorganizacionais chaves para o incremento de longo prazo do desempenhoeconômico individual das empresas e da cadeia de suprimentos.

4. A revisão da literatura

A visão tradicional do conceito da cadeia de suprimentos associada ao conceito desustentabilidade baseado no TBL vem evoluindo e propiciando um maior entendimento epreocupação com a mudança em âmbito macro, de maneira a se adequar melhor às mudançasde mercado (SILVA, 2013). Ainda o autor afirma que as publicações internacionais relevantes

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têm apresentado um entendimento mais uniforme do termo sustentabilidade sob a perspectivado TBL nos estudos sobre as cadeias de suprimentos, justificada pela maturação do termo e aconvergência das perspectivas. No Brasil, pesquisas em torno do conceito da gestão decadeias de suprimentos são ainda mais recentes, podendo citar Carvalho (2011), Macedo(2009), Santos (2011), Silva (2013), Simon (2013), Maçada, Feldens e Santos (2007), Brito eBerardi (2010), Pedroso e Zwicker (2007), Franco e Jabbour (2013), Zucatto (2008). Porém,considerando o atual estágio de desenvolvimento das diversas cadeias de suprimentos quecompõem o panorama industrial brasileiro e a notória preocupação com questões comosustentabilidade, no contexto organizacional, esta área se mostra próspera a se estabilizarcomo tema de pesquisa nacional. Silva (2013) afirma que cada vez mais estão sendorealizados estudos que utilizam a sustentabilidade como base para suas discussões. Noentanto, pouco se tem percebido ou considerado sobre a efetiva contribuição e as verdadeirasbases que foram consideradas para a incorporação deste tema em pesquisas.

Conforme a responsabilidade dos profissionais envolvidos na cadeia de suprimentos seexpande, o escopo aumenta e passa a exercer um papel importante na garantia dasustentabilidade de uma empresa, uma vez que esta pode ser afetada por um leque de fatoresem diferentes dimensões que influenciam as operações na cadeia de suprimentos. É de sumaimportância que os profissionais da área avaliem e solucionem os trade-offs entre as funçõesda cadeia, outras funções da empresa e organizações externas e também compreendam aintegração multifuncional. (BOWERSOX, CLOSS, COOPER. 2014)

Segundo estudos de Seuring & Müller (2008) podemos definir a GCSS como sendo agestão dos fluxos de informação, material e capital, bem como a cooperação entre empresasao longo da cadeia, objetivando ganhos relacionados às dimensões econômica, ambiental esocial do desenvolvimento sustentável. Evidenciando que a gestão sustentável mostra-se maiseficiente quando comparada a gestão tradicional das cadeias.

Lopes (2013) concluiu que a colaboração entre membros da cadeia de suprimentosaparece como a prática de GCSS que mais influencia o desempenho ambiental de empresasdo setor automotivo brasileiro. Os autores concluíram que três categorias são apontadas parado desenvolvimento da GCSS no Brasil: (a) Política Nacional dos Resíduos Sólidos; (b)pressão do mercado internacional; e (c) busca por certificação ambiental. Segundo os autoresa inclusão de práticas ambientalmente corretas é motivada pelas pressões institucionais,pressões por padrões mínimos de competitividade e pressões da cadeia, já que tais variáveisfazem parte da realidade empresarial. Segundo os entrevistados, as práticas atuais da GSCMainda se concentram na redução de custos e prevenção da poluição.

Estudos de Cesar (2011) evidenciaram que a sustentabilidade na maioria das empresasvem sendo entendida, ou pelo menos mais intensamente praticadas nas ações sociais. Ficandoclaro que quanto a análise das declarações de suas praticas, invariavelmente as empresascitaram as ações com a comunidade e poucas delas citavam suas práticas internas como sendoações sustentáveis. Todas as empresas analisadas consideraram o pilar econômico dasustentabilidade o mais significante, por ser o pilar diretamente ligado à remuneraçãofinanceira.

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Em um estudo de caso sobre inovações socioambientais em cadeias de suprimentoCarvalho et al. (2013) chegaram a conclusão que apesar das limitações encontradas durante apesquisa quando se considera que a empresa estudada atua no segmento de cosméticos, cujoprincipal impacto ambiental do produto quando chega ao mercado se dá pelo descarte dasembalagens, a empresa consegue uma aplicação do termos de sustentabilidade segundoentidades independentes reconhecidas pela sociedade brasileira. Apesar de seu foco principalseja trabalho nos termos ambientais, a empresa consegue inserir os conceitos do TBL emgrande parte da sua cadeia.

Santos (2012) em sua análise das praticas de sustentabilidade na cadeia de suprimentosdo setor automotivo notou que as praticas sustentáveis encontradas em empresas desse setorforam a avaliação do ciclo de vida do produto; certificação ISO 14001 e OHSAS 18001;produção mais limpa; Eco design; Compra verde; reuso de água; e desenvolvimento dematérias-primas alternativas. Tais práticas foram tomadas com foco ambiental, devido àescassez dos recursos e questões ambientais locais de cada organização. Concluiu ainda quesão poucas as práticas de sustentabilidade que estão sendo valorizadas pelas empresasintegrantes da cadeia de suprimentos do setor automotivo.

Franco e Jabbour (2013) identificaram no setor de baterias automotivas motivações ebarreiras para a implantação da GCSS. Perceberam que nas empresas, os gestores não temconhecimento sobre como as práticas socioambientais estão sendo executadas, de maneira quemuitas delas passam despercebidas dentro da cadeia.

Já para uma empresa do setor sucroalcooleiro, Andrade e Paiva (2012) afirmam queexiste pouca integração entre os elos da cadeia a que a empresa pertence. Assim, poucosprocessos de cooperação foram percebidos, o que seria importante para a sustentabilidade dasoperações à longo prazo.

Com embasamento em um estudo de medição do desempenho de práticas da GCSSincluindo fatores internos e externos, percebe-se que boas práticas na GCSS melhoram odesempenho de saída da cadeia de abastecimento. A implementação da GCSS permite que asorganizações reforcem suas vendas, aumentem lucro, otimizem o tempo e melhorem nível deserviço ao cliente. Por último, todas as práticas GSCM afetam positivamente cadeia deabastecimento. A flexibilidade da cadeia de suprimentos significa capacidade de responder àincerteza, logo, a implementação de práticas sustentáveis melhora a capacidade dasorganizações de lidar com uma possível interrupção na cadeia. (RHA,2010).

Em estudo empírico da execução da cadeia de abastecimento verde práticas de gestãodo setor elétrico e eletrônico em Taiwan Chien e Shih (2007) disseram que a GCSS é umaquestão relativamente nova para a maioria das empresas, suas praticas abrangem cada vezmais espaço dentro das organizações. A partir de testes de hipóteses os autores concluíramque as empresas têm diferentes concepções da GCSS, e isso se deve às diferentes fatoresinternos e externos. Enquanto algumas empresas julgam que as partes externas da cadeia têmmaior efeito sobre a adoção dessas práticas, outras se preocupam apenas com seu própriolucro, ignorando as ligações mais importantes em sua cadeia produtiva. Ainda segundo osautores a pressão sobre as empresas a adotar tais práticas de gestão da cadeia vem da políticaambiental e regulamentação.

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A lógica da GCSS permite através da abrangência de seus conceitos, promover umaintegração ainda maior entre a perspectiva da gestão tradicional com os conceitos dasustentabilidade. Assim, esta nova abordagem pode servir como ferramenta estratégica aodesenvolvimento de processos ao longo de toda a cadeia, que a ajudem a tornar-se, não sóambientalmente correta, mas também economicamente sustentável. Acredita-se que somenteserá possível desencadear processos que levem à sustentabilidade quando a matriz produtivaoptar por transformar os modelos atuais em resoluções que promovam qualidade de vida paraas atuais gerações sem comprometer as próximas. (ZUCATTO, 2008).

5. Conclusão

O objetivo deste trabalho foi mostrar como a sustentabilidade vem sendo introduzidanas cadeias de suprimento, e como as organizações veem esse conceito. A evolução donúmero de publicações evidencia que a Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável é umaárea que ainda se encontra em fase de desenvolvimento. Os autores dos trabalhos estudados,de maneira geral assumem que a gestão da cadeia de suprimentos sustentável é um tema aindaem pesquisa, com diversas lacunas a serem preenchidas, porém sua introdução vem sendobem aceita nas organizações. Constatou-se que o conceito vem sendo melhorado e maisdifundido ao longo do tempo. No entanto, recomendam-se pesquisas que abordem o seu usona cadeia como um todo, suas práticas, fatores críticos, fatores positivos, resultados eavaliação das empresas quanto ao seu desempenho, bem como estudos que demonstremaprofundamento no significado e conceito da gestão da cadeia de suprimentos sustentável esua interação com outras áreas.

6. Referências bibliográficas

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