GESTÃO DO FUTEBOL PROFISSIONAL NO RIO AVE F.C., FUTEBOL ... · A todo o plantel profissional,...
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GESTÃO DO FUTEBOL PROFISSIONAL NO RIO AVE
F.C., FUTEBOL SDUQ LDA. - ESTÁGIO
PROFISSIONALIZANTE
Relatório de Estágio Profissionalizante
apresentado à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto, com vista à obtenção
do grau de Mestre em Gestão Desportiva,
referente ao curso do 2º ciclo (Decreto-Lei
n.º 74/2006, de 24 de março, na versão da
sua quarta alteração pelo Decreto-Lei n.º
63/2016, de 13 de setembro, que o
republica).
Supervisor Local: Dr. Miguel Ribeiro
Orientadora: Prof.ª Doutora Maria José Carvalho
João Pedro Santos Silva
Porto, setembro de 2017
II
Ficha de Catalogação
Silva, J.P.S. (2017). Gestão do Futebol Profissional no Rio Ave F.C., Futebol
SDUQ Lda. Porto: Silva, J.P.S. Relatório de Estágio Profissionalizante para a
obtenção do grau de Mestre em Gestão Desportiva, apresentado à Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL PROFISSIONAL; SOCIEDADES
DESPORTIVAS; GESTÃO DO DESPORTO; COMPETIÇÕES
PROFISSIONAIS; AGENTES DESPORTIVOS.
III
IV
V
AGRADECIMENTOS
Primordialmente gostaria de referir que a ordem dos agradecimentos
que será colocada não é em nada relevante e não tem qualquer tipo de
significado. Todas as pessoas mencionadas tiveram um papel extremamente
importante na realização do trabalho.
À Professora Maria José Carvalho, pelos seus conselhos e orientação
pois sempre me disse aquilo que eu precisava de ouvir, sem rodeios. Pela sua
exigência que me obriga sempre a dar o melhor de mim.
A todos os outros professores que durante este longo percurso me
transmitiram os conhecimentos e me ajudaram a evoluir para a pessoa que
hoje sou.
À Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, que me
proporcionou todas as condições necessárias para a conclusão dos meus
estudos.
Ao Rio Ave Futebol Clube - Futebol SDUQ, Lda. na pessoa do Dr.
Miguel Ribeiro que me deu a oportunidade única de realizar o estágio
profissionalizante na sua estrutura.
Ao Gualter Pires, que me recebeu de uma forma extraordinária e me
transmitiu conhecimento, pela confiança e amizade demonstrada.
A todo o plantel profissional, equipa técnica e staff do Rio Ave da época
2016/17 que desde cedo me receberam como um deles.
Ao Professor Rui Pacheco por todas as experiências transmitidas e por
todas as conversas que tivemos. Também pela paciência e compreensão nos
momentos mais difíceis ao longo do estágio.
Aos meus colegas de faculdade que me acompanharam desde o inicio e
com os quais partilhei muitas experiências.
VI
Aos meus amigos que estão sempre presentes e desde o inicio do
percurso me demonstraram o apoio e sempre acreditaram no meu valor.
Também por todos os momentos de partilha, descontração e amizade que
passei com eles.
À minha Mãe que apesar de não ser de muitas palavras sei que sempre
confiou em mim e sempre me ajudou quando mais precisei.
Ao meu Pai pelo acompanhamento constante e pela procura incessante
em saber todos os dias qual o ponto de situação do trabalho. Este fator
obrigava-me a acelerar o processo para não dizer o mesmo todos os dias.
À minha irmã e ao meu cunhado pela tranquilidade transmitida em
momentos de maior stress ao longo do último ano.
À minha restante família que sempre me apoiou e sei que estou sempre
presente nos seus pensamentos.
À família da minha namorada que sempre se preocupou e me ajudou
naquilo que necessitei.
À minha namorada pois sem ela nada era igual. Sem todo o seu amor,
confiança, amizade, paciência, compreensão e partilha nada disto seria
possível.
A todos que de uma maneira ou de outra contribuíram para a
concretização deste sonho e que não foram mencionados.
VII
Índice Índice de Imagens ............................................................................................. XI
Índice de Quadros ........................................................................................... XIII
Índice de Gráficos…………………………………………………………………...XIII
Índice de Anexos ............................................................................................. XV
Resumo ......................................................................................................... XVII
Abstract .......................................................................................................... XIX
Abreviaturas ................................................................................................... XXI
Introdução ......................................................................................................... 1
1. Enquadramento Biográfico ....................................................................... 5
1.1. Pequeno Resumo Biográfico .................................................................... 5
1.2. Expectativas Iniciais ................................................................................. 8
1.3. Plano de Estágio .................................................................................... 11
Capítulo 1 - Caracterização da Entidade ...................................................... 15
1.1. O Clube de Vila do Conde ...................................................................... 15
1.1.1. História do Clube ................................................................................. 15
1.1.2. Palmarés ............................................................................................. 19
1.1.3. Instalações .......................................................................................... 21
1.2. O Rio Ave Enquanto Sociedade Desportiva ........................................... 25
1.2.1. Departamento Comunicação ............................................................... 27
1.2.2. Departamento de Marketing ................................................................ 28
1.2.3. Departamento de Contabilidade .......................................................... 29
1.2.4. Departamento de Bilhética e Organização de Jogos .......................... 29
1.2.5. Departamento de Instalações ............................................................. 30
1.2.6. Departamento Médico ......................................................................... 31
1.2.7. Rouparia .............................................................................................. 31
VIII
1.2.8. RAR - Rio Ave Rendimento ................................................................. 32
1.2.9. RAS - Rio Ave Social .......................................................................... 32
1.2.10. Patrocinadores .................................................................................... 33
1.3. Futebol de Formação .......................................................................... 35
1.4. Propriedades da SDUQ ....................................................................... 35
Capítulo 2 - Enquadramento Teórico ............................................................ 37
2.1. Desporto Profissional ............................................................................. 37
2.1.1. Quando? Onde? Como? Porquê? ....................................................... 37
2.1.2 As Primeiras Organizações Desportivas ............................................. 41
2.1.3 A FIFA ................................................................................................. 42
2.2. Futebol em Portugal ............................................................................... 43
2.3. Organização do Futebol Profissional ...................................................... 45
2.3.1. A Liga Portuguesa de Futebol Profissional ......................................... 45
2.3.2. Competições Profissionais de Futebol ................................................ 48
2.3.3. Agentes Desportivos - Jogadores, dirigentes, empresários ................ 54
2.3.4. Clubes Desportivos e Sociedades Desportivas ................................... 62
2.3.5. SAD´s e SDUQ’s ................................................................................. 66
Capítulo 3 - Realização da prática profissional ........................................... 69
3.1. Descrição das Atividades ....................................................................... 69
3.1.1. Familiarização com a SDUQ ............................................................... 69
3.1.2. Gestão das Competições Profissionais ............................................... 76
3.1.2.1. O Pré-Evento ..................................................................................... 76
3.1.2.2. O Evento ........................................................................................... 85
3.1.2.3. O Pós-Evento .................................................................................... 87
3.1.3. Assessoria e gestão técnica aos jogadores ........................................ 91
3.1.3.1. Acompanhamento de Jogadores e Deslocações…………………….92
IX
3.1.3.2. SEF - Serviços de Estrangeiros e Fronteiras………………………….93
3.1.3.3. Planeamento de Viagens………………………………………………...96
3.1.3.4. IRS atletas ......................................................................................... 98
3.1.4. Gestão do Departamento de Futebol Profissional ............................... 99
3.1.4.1. Contabilidade - Requisições e Stock ................................................. 99
3.1.4.2. Atualização de Bases de Dados ...................................................... 103
3.1.4.3. Estágios de Treinadores de Futebol ................................................ 104
3.1.4.4. Aniversário do Clube ....................................................................... 105
3.1.4.5. Rio Ave Social - RAS ...................................................................... 106
3.1.5. Experiência como Team Manager .................................................... 108
Capítulo 4 - Reflexão crítica e competências adquiridas.......................... 115
Conclusão ..................................................................................................... 125
Síntese Publicável ........................................................................................ 129
Referências Bibliográficas .......................................................................... 135
Anexos ......................................................................................................... XXV
X
XI
Índice de Imagens
Figura 1 - Média de Espectadores por Jogo da Liga. Fonte: O Jogo ............... 18
Figura 2 - Equipa Inicial do RAF.C. na Final da Taça Portugal 2014. Fonte:
zerozero.pt ....................................................................................................... 19
Figura 3 - Estádio da Avenida. Fonte: rioaveF.C..pt ......................................... 21
Figura 4 - Inauguração do Estádio dos Arcos. Fonte: rioaveF.C..pt ................. 21
Figura 5 - Localização Estádio. Fonte: Google Maps ....................................... 22
Figura 6 - Bancada Principal, Estádio dos Arcos. Fonte: geodruid.com ........... 22
Figura 7 - Campos de Treino. Fonte: Google Maps ......................................... 23
Figura 8 - Projeto para Novas Instalações. Fonte: O Jogo ............................... 24
Figura 9 - Bilhetes e Credencial para Jogos Oficiais ........................................ 30
Figura 10 - Patrocinadores do RAFC. Fonte: rioavefc.pt .................................. 33
Figura 11- Anúncio da contratação de Bruno Teles no site do clube ............... 74
Figura 12 - Checklist de Necessidades para o Jogo ........................................ 77
Figura 13 - Exemplo de horário para um estágio ............................................ 78
Figura 14 - Croqui de Equipamentos para Jogo ............................................... 79
Figura 15 - Nomeações de Arbitragem para Jogo ............................................ 79
Figura 16 - Folha de Rosto do Dossier ............................................................. 80
Figura 17 - Mapa de Castigos do Plantel ......................................................... 80
Figura 18 - Convocatória Base para Jogos ...................................................... 81
Figura 19 - Exemplo de Plano Semanal de Treinos ......................................... 82
Figura 20 - Exemplos de Modelos Enviados para e Liga e Clube Adversário .. 84
Figura 21 - Exemplos de Vídeos Filmados por mim e enviados para o banco . 87
Figura 22 - Base de Dados de Golos Marcados e Sofridos ............................. 88
Figura 23 - Resumo Estatístico da Base de Dados .......................................... 89
Figura 24 - Documento Comprovativo de Agendamento no SEF ..................... 94
Figura 25 - Formulário disponibilizado pelo SEF .............................................. 95
Figura 26 - Quadro informativo relativamente ao estágio dos atletas nas
seleções ........................................................................................................... 98
Figura 27 - Software utilizado para preenchimento do IRS .............................. 99
Figura 28 - Exemplo de Requisição ............................................................... 100
XII
Figura 29 - Tabela com as despesas do Departamento de Futebol Profissional
e Gráfico Estatístico ....................................................................................... 101
Figura 30 - Quadro Resumo do Stock Existente ............................................ 101
Figura 31 - Quadro para dar Entrada de Produtos ......................................... 102
Figura 32 - Quadro para Registo de Saída dos Produtos .............................. 102
Figura 33 - Cartaz do 78º Aniversário do Clube ............................................. 105
Figura 34 - Menino com paralisia junto do plantel. Fonte: rioaveF.C..pt ........ 107
Figura 35 - Apresentação do staff, equipa técnica e plantel. Fonte: rioave.pt 111
Figura 36 - Calendário Anual de Atividades ................................................... 113
Figura 37 - Dr. Miguel Ribeiro ........................................................................ 129
XIII
Índice de Quadros
Quadro 1 - Plano de Estágio ……...…………………………………………….….12
Quadro 2 - Plano de Elaboração do Relatório ………...…………………….…...13
Índice de Gráficos
Gráfico 1 - Sequência de Resultados e Golos por
Jornada……………………………....…………………………………………….….90
Gráfico 2 - Total de Golos Marcados e Sofridos ………………...………….…...91
Gráfico 3 - Percentagem de Vitórias, Empates e Derrotas……………………...91
XIV
XV
Índice de Anexos
Anexo 1 - Dossier de Jogo………………………………………………..…….XXVII
Anexo 2 - Programa de Jogo…………………………………………………….XXXI
Anexo 3 - Croqui de Equipamentos……………………………………………XXXV
Anexo 4 - Nomeações Arbitragem…………………………………………….XXXIX
Anexo 5 - Mapa de Castigos………………………………………………...…...XLIII
Anexo 6 - Convocatória Base…………………………………………………...XLVII
Anexo 7 - Programa Semanal de Treinos………………………………………….LI
Anexo 8- Mapa Trimestral ADOP…………………………………………………..LV
Anexo 9 - Modelo P da LPFP……………………………………………………...LIX
Anexo 10 - Modelo L da LPFP……………………………………………….......LXIII
Anexo 11 - Modelo O da LPFP……………………………………………..……LXIX
Anexo 12 - Questionário PSP……………………………………………….….LXXIII
Anexo 13 - Golos Marcados……………………………………………….…..LXXVII
Anexo 14 - Disciplina…………………………………………………………....LXXXI
Anexo 15 - Tempos de Jogo…………………………………………………..LXXXV
Anexo 16 - Estatística de Jogo…………………………………….…………LXXXIX
Anexo 17 - Gráficos…………………………………………………………….…XCIII
Anexo 18 - Requisições…………………………………………………………XCVII
Anexo 19 - Despesas………………………………………………………………..CI
Anexo 20 - Controlo de Stock……………………………………………………...CV
Anexo 21 - SEF - Agendamento…………………………………………………..CXI
Anexo 22 - SEF - Formulário……………………………………………………..CXV
XVI
Anexo 23 - Planeamento de Viagens…………………………………………..CXIX
Anexo 24 - Cartaz de Aniversário do Clube………………………………….CXXIII
Anexo 25 - Planeamento de Exames………………………………………...CXXVII
Anexo 26 - Calendário Anual de Atividades………………………………….CXXXI
Anexo 27 - Entrevista Completa ao Dr. Miguel Ribeiro……………………CXXXV
XVII
Resumo
O presente Relatório de Estágio é o resultado do estágio
profissionalizante realizado no âmbito do 2º ano, do 2º ciclo de estudos em
Gestão Desportiva da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e que
decorreu na entidade Rio Ave Futebol Clube - Futebol SDUQ, Lda. entre
janeiro e julho de 2017.
Durante o período referido o estágio em causa permitiu-nos vivenciar a
gestão de tudo relacionado com a participação em duas competições
reconhecidas como profissionais, sendo a principal o campeonato nacional da
1ª divisão - Liga NOS - e ainda a taça da liga - denominada de Taça CTT.
A oportunidade foi fruto dos contactos institucionais entre a Direção do
2º ciclo em Gestão Desportiva da FADEUP e a SDUQ em causa,
designadamente entre a Prof.ª Doutora Maria José Carvalho e o Dr. Miguel
Ribeiro - diretor geral do Rio Ave. A partir do momento em que se tornou
possível a efetividade do estágio dependeu de mim agarrar a oportunidade,
trabalhar muito e mostrar o meu valor.
Ao longo do percurso que fui enfrentando no estágio, consegui adquirir
vários conhecimentos e competências, que me possibilitam estar mais
preparado a enfrentar o mercado de trabalho. Desde logo permitiu-me perceber
a organização e funcionamento da estrutura de uma sociedade desportiva com
a dimensão do Rio Ave e diferenciados aspetos relacionados com a Gestão do
Desporto, fundamental para o sucesso no futebol profissional.
Após o término do estágio e da elaboração deste relatório, fiquei ainda
mais convicto da importância que cada vez mais é atribuída à Gestão do
Desporto para o bom funcionamento de estruturas desportivas profissionais.
PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL PROFISSIONAL; SOCIEDADES
DESPORTIVAS; GESTÃO DO DESPORTO; COMPETIÇÕES
PROFISSIONAIS; AGENTES DESPORTIVOS.
XVIII
XIX
Abstract
This Internship Report is the result of the internship held during the 2nd
year of the 2nd cycle of studies in Sports Management of the University of
Porto's Sports Faculty, which took place at the Rio Ave Futebol Clube - Futebol
SDUQ, Lda. and July 2017.
During the mentioned period, it was in accordance with the participation
in two competitions recognized as professionals, being the main the national
champion of the 1st division - League NOS - and the league cup - denominated
Cup CTT.
The opportunity was the result of institutional contacts between the
Management of the 2nd cycle in Sports Management of FADEUP and the
SDUQ in question, namely between Prof. Maria José Carvalho and Dr. Miguel
Ribeiro - general director of Rio Ave. From the when it became possible the
effectiveness of the internship depended on me seizing the opportunity, working
hard and showing my worth.
Over the time that I went through the internship I was able to acquire
several knowledge and skills that allow me to be more prepared to face the
labor market. From the outset it allowed me to perceive the organization and
functioning of a structure of a sports society with the size of Rio Ave.
After the end of the internship and the preparation of this same report, it
was possible to see the importance that is increasingly attributed to Sports
Management for the proper functioning of professional structures in the world of
football.
KEYWORDS: PROFESSIONAL FOOTBALL; SPORTS SOCIETY; SPORTS
MANAGEMENT; PROFESSIOANL COMPETITIONS; SPORT’S AGENTS
XX
XXI
Abreviaturas
€ Euros
a.C. Antes de Cristo
ADOP Autoridade Antidopagem de Portugal
AFP Associação de Futebol do Porto
AJEFHG Associação Juvenil Escola de Futebol Hernâni Gonçalves
APEF Associação Portuguesa de Escolas de Futebol
AR Autorização de Residência
CMVC Câmara Municipal de Vila do Conde
COI Comité Olímpico Internacional
CTT Correios de Portugal, SA
d.C. Depois de Cristo
F.C. Futebol Clube
FA Football Association
FADEUP Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
FIFA Fédération Internationale de Football Association
FPF Federação Portuguesa de Futebol
IEFP Instituto de Emprego e Formação Profissional
IRS Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares
JO Jogos Olímpicos
LBAFD Lei de Bases da Atividade Física e Desporto
LBSD Lei de Bases do Sistema Desportivo
Lda. Limitada
XXII
LPFP Liga Portuguesa de Futebol Profissional
OLA Oficial de Ligação aos Adeptos
RAFC Rio Ave Futebol Clube
SAD Sociedade Anónima Desportiva
SDUQ Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas
SEF Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
TAD Tribunal Arbitral do Desporto
TJUE Tribunal de Justiça da União Europeia
UEFA Union of European Football Associations
UPF União Portuguesa de Futebol
UPF União Portuguesa de Futebol
1
Introdução
O Desporto, em termos gerais, tem vindo a registar uma evolução
constante e inúmeras adaptações acompanhando o desenvolvimento social da
generalidade dos países a nível mundial.
Fruto desta constante evolução surge cada vez mais a necessidade de o
Desporto, como qualquer outra atividade humana, ser gerido de acordo com
determinados critérios que na prática poderão ditar o sucesso da atividade
(Pires, 2007, p. 113).
Já dizia Drucker (cit. por Maciariello, 2010, p.25), que a gestão terá mais
a ver com uma prática do que com uma ciência ou profissão, e por isso que o
seu teste decisivo é o desempenho.
Revendo-me muito nas palavras de Drucker, começo desde logo por
justificar a partir deste pensamtento, a minha opção pela realização de um
estágio profissionalizante e não por dissertação ou projeto.
Para mim o conhecimento de nada vale se não se souber colocá-lo em
prática para a concretização de objetivos. Nesse sentido decidi que o melhor
para a minha formação, e para um concluir do 2º ano, do 2º ciclo de forma
completamente integral, seria que o fizesse através da realização do estágio
profissionalizante e da elaboração do respetivo relatório.
Desta forma consegui juntar a busca pelo conhecimento - através da
própria elaboração do relatório e com a revisão de literatura - com a
experiência - podendo colocar em prática todo o conhecimento que fui
adquirindo ao longo dos anos, mais particularmente na licenciatura e no
primeiro ano do mestrado.
O Desporto Profissional tem vindo a assumir, em Portugal, cada vez
mais um papel extremamente preponderante e dominador no panorama
desportivo do nosso país. Deste modo, é também necessário que haja pessoas
competentes que consigam gerir da melhor forma o Desporto Profissional.
Consequentemente, vai-se verificando um aumento de profissionais da Gestão
2
do Desporto a dedicar-se à investigação e aplicação de estudos nas várias
vertentes.
A elaboração deste relatório foi feita com base no estágio
profissionalizante, realizado no âmbito do 2º ciclo, do 2º ano dos estudos em
Gestão Desportiva da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, e que
contou com a orientação da Profª Doutora Maria José Carvalho.
O relatório tem como objetivo a descrição profunda e detalhada das
atividades realizadas na instituição que me recebeu, sendo complementada
com alguma base teórica, indo assim de encontro ao que foi referido
anteriormente relativamente ao conhecimento/ experiência. Contudo, foi
igualmente fundamental, finalizada a caracterização detalhada das atividades,
preceder a uma reflexão crítica acerca de todo o processo de estágio, assim
como a conclusão do mesmo.
O estágio profissionalizante teve lugar na estrutura de futebol
profissional de uma sociedade desportiva, mais propriamente o Rio Ave
Futebol Clube - Futebol SDUQ, Lda., que na altura competia na principal
competição do futebol profissional em Portugal - a Liga NOS, correspondente à
1ª Divisão nacional. O estágio teve a supervisão local do Dr. Miguel Ribeiro
(Diretor Geral da sociedade).
O meu principal foco ao longo do estágio seria perceber o
funcionamento de uma estrutura de futebol profissional de uma forma absoluta.
Para isso, foi necessário primeiro de tudo perceber de que forma está
organizada uma estrutura desta dimensão (principalmente a nível dos recursos
humanos e departamentos existentes). Depois de estar enquadrado nessa
situação, estaria na altura de perceber o funcionamento de cada um dos seus
componentes, tentando averiguar desta forma em qual é que as minhas
capacidades poderiam ser mais úteis para a sociedade.
Foi necessário perceber também, quais as necessidades de um clube
para se ir mantendo ao longo dos anos ao nível do Rio Ave, compreendendo
também a sua história e o seu passado mais recente.
3
Com essa finalidade, é feita uma pequena apresentação da entidade
que me recebeu para estagiar.
Estando o Rio Ave envolvido no futebol profissional há longos anos, foi
atravessando várias mudanças na legislação portuguesa relativamente às
competições profissionais. Este fator levou-me também a tentar perceber de
que forma a legislação portuguesa se foi alterando e adaptando à realidade do
Desporto, estudando assim os vários Decretos-Lei que foram sendo publicados
ao longo dos anos e tentando compreender de que forma é que os agentes
desportivos - sejam eles jogadores, treinadores ou dirigentes - e as
organizações desportivas foram sendo afetados com as alterações legislativas
a que foram sujeitos.
Posto isto, o relatório trata primeiro de fazer uma pequena introdução ao
e uma posterior caracterização da entidade onde é feita a separação entre o
clube e a SDUQ. Após a caracterização da entidade, trata de fazer um
enquadramento teórico que vai do geral para o particular, começando por se
referir à história do desporto em geral, passando para o futebol e finalmente
para o futebol profissional. Relativamente a este último, serão também
analisados todos os componentes que fazem parte da sua estrutura.
Será feita uma descrição exaustiva das atividades que por lá realizei,
naquela que se poderá considerar o elemento de maior relevância deste
Relatório de Estágio. Seguindo-se de uma reflexão crítica relacionada com
atividades e finalmente a sua conclusão.
Finalizamos com síntese publicável, como exigido para estes relatórios.
4
5
1. Enquadramento Biográfico
1.1. Pequeno Resumo Biográfico
O desporto desde sempre esteve presente na minha vida. Inicialmente
de uma forma apenas lúdica, mas sempre evoluindo ocupando agora 90% do
meu dia-a-dia. Quando digo que o desporto está desde sempre presente na
minha vida não o faço em exagero, pois para comprovar tal facto, posso afirmar
que o meu primeiro presente logo à nascença foram umas pequenas chuteiras
(mais pequenas do que o tamanho da palma minha mão atualmente)
oferecidas por um tio meu, que dizia que ia ser “jogador da bola”.
Desde pequeno, quando passeava com os meus pais na rua, a minha
distração era uma rolha de garrafa que ia pontapeando ao longo do passeio.
Apesar disso, o meu primeiro desporto foi a natação, algo que hoje em dia
acho essencial e acredito que deveria fazer parte da educação base das
crianças. Mas isso são outras “batalhas”…
Apesar de andar na natação a minha grande paixão - motivado pelo meu
pai e também pelo que era transmitido na televisão - era o futebol, e sempre
que tinha oportunidade era isso que fazia, jogar futebol! No jardim, na garagem,
nos recreios da escola, apenas precisava de uma bola e estava entretido
durante horas. Mais tarde, tinha eu cerca de 7 anos, o meu pai inscreveu-me
num clube de futebol - Vilanovense Futebol Clube - onde iniciei a minha curta
carreira no futebol.
Na altura, não havia a quantidade de Escolas de Futebol que existem
atualmente e os próprios clubes também não apostavam muito nisso. Assim
sendo, o meu primeiro contacto com o futebol foi um bocado grosseiro pois fui
logo inserido numa equipa de competição, com meninos que já se conheciam
há algum tempo e, portanto, fui um pouco colocado de parte pelo grupo.
Por um lado, todos eles jogavam melhor do que eu pois já estariam
habituados a um método de treino que eu não estava, e por outro não me
conheciam de lado nenhum. Posto isto, com o passar do tempo desanimei um
pouco, e a minha vontade de ir aos treinos diminuiu gradualmente até que
acabei por desistir.
6
Visto que, na visão dos meus pais, era essencial que eu tivesse alguma
ocupação para os tempos livres, acabei pouco tempo depois por ingressar num
outro desporto - o hipismo. Os animais sempre foram uma paixão minha e
acabei por juntar o útil ao agradável. Era um desporto onde me sentia
extremamente realizado e sem querer ser presunçoso, até era bastante bom.
Cheguei, inclusive, a ganhar alguns torneios de saltos e fui também convidado
para fazer parte de uma equipa de horse-ball (espécie de basquetebol a
cavalo).
No entanto, no 4º ano de escolaridade, devido à mudança de professora
acabei por mudar de escola onde conheci novos amigos. Um deles, que era
dos mais próximos de mim, tinha o pai que era treinador de hóquei em patins
num pavilhão perto da escola. Motivado pela amizade decidi ir experimentar e
acabei por ficar.
Durante esse ano fui conciliando estes dois desportos - o hóquei/
patinagem ao sábado de manhã e o hipismo durante a semana. No final desse
ano, o hóquei em patins começou a ficar mais sério e iria passar para uma
equipa de competição, onde a carga de treinos semanal iria aumentar, sendo
por isso obrigado a optar por um dos desportos.
Acabei por optar pelo hóquei em patins, novamente motivado pelas
amizades que fui fazendo na modalidade. A paixão foi crescendo
sucessivamente e o que começou por ser um hobbie, hoje em dia devo grande
parte daquilo que sou e que já alcancei a essa opção que tive de tomar.
Atualmente, para além de jogador federado, sou também treinador de crianças
dos 3 aos 11 anos de idade e sinto que eu também sou fonte de inspiração
para muitos deles, o que me deixa muito feliz.
Também a minha opção, aquando da seleção de um curso superior, por
Ciências do Desporto se deve à minha paixão pelo hóquei em patins e pelo
desporto em geral.
Na licenciatura, feita na prestigiada Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto (FADEUP), acabei por optar pelo ramo da gestão
desportiva pois também foi algo que desde sempre me cativou. Pode dever-se
ao facto de na minha modalidade de eleição, o hóquei em patins, a
7
organização ficar um pouco a dever a outras e talvez me sinta motivado em
tentar alterar essa situação.
O estágio curricular, relativo ao terceiro ano da licenciatura, efetuado na
Associação Juvenil “Escola de Futebol Hernâni Gonçalves” (AJEFHG), que é
uma Escola de Futebol, e acabou por despertar a minha paixão antiga pelo
futebol. O estágio demonstrou-se bastante proveitoso pois no final do mesmo
fui convidado pelo seu presidente a fazer um estágio profissional (remunerado
com a ajuda do IEFP) e que foi a minha ocupação durante esse ano, após o
término da licenciatura. Esta oportunidade de emprego afetou um pouco o meu
percurso académico visto que pretendia integrar o mestrado, mas as duas
atividades não seriam compatíveis, ficando a minha atividade curricular
pendente.
Acabado o período de estágio acabei por ficar a trabalhar na Associação
Portuguesa de Escolas de Futebol (APEF), onde presentemente exerço as
funções de Diretor Executivo. Esta função era já compatível com o Mestrado
em Gestão Desportiva, lecionado na FADEUP, e acabei por continuar o meu
percurso académico.
Assim sendo, podemos ver que todo o meu percurso quer académico
quer desportivo foi sendo sempre marcado por várias opções que, posso hoje
dizer, acredito que foram as mais acertadas pois me trouxeram a este
momento da minha vida.
8
1.2. Expectativas Iniciais
Como podemos ver pelo título do relatório e pelo seu resumo o meu
estágio curricular foi feito no departamento de futebol profissional do Rio Ave
Futebol Clube.
De referir, que optei pelo estágio ao invés da dissertação ou projeto, pois
penso que seja o que melhor se enquadra com a minha personalidade. Por
outro o meu passado demonstra que os estágios curriculares são também uma
ferramenta para estabelecer contactos, conhecer novas pessoas, passar por
experiências novas e demonstrar o meu valor sendo uma possível e posterior
oportunidade de emprego.
No entanto tive um caminho bastante longo e atribulado até chegar ao
Rio Ave F.C.. Próximo do final do ano letivo de 2015/16, decidi que no 2º ano
do Mestrado iria fazer o relatório de estágio como forma para finalizar o curso.
Nesse sentido comecei a estabelecer contactos de forma a encontrar local para
realizar o estágio. Aproveitando o meu cargo profissional e os contactos que fui
estabelecendo com inúmeras pessoas de variados clubes de futebol, entrei em
contacto com um deles que na altura se tinha mudado para o F.C. Paços de
Ferreira com as funções de coordenador do futebol de formação do clube.
Após algumas reuniões onde por um lado quis passar as minhas expectativas e
perspetivas em relação ao que pretendia do estágio, e por outro, foi-me
apresentado o projeto para o clube e quais as funções que poderia
desempenhar ao longo do processo.
Posso dizer que foi algo que me agradou e que me entusiasmou a
começar imediatamente o estágio. No entanto, seria necessária a aprovação
prévia da Professora Maria José Carvalho, que acabou por ser positiva.
Comecei então o estágio no F.C. Paços de Ferreira onde no primeiro dia
fui convocado para uma reunião que tinha como propósito a minha
apresentação aos elementos do departamento de formação do clube. O
primeiro impacto foi um pouco negativo pois a reunião começou com quase
duas horas de atraso e posteriormente nem cinco minutos durou. Fiquei um
pouco desiludido pois pensei que um clube que está há já alguns anos na 1ª
9
Divisão e até recentemente se apurou para a Liga Europa, a organização fosse
um pouco mais “cuidada”.
No entanto, não desanimei pois acreditei tratar-se de uma situação
pontual. Apesar disso ao longo das primeiras semanas foram acontecendo
alguns episódios onde comecei a perceber que não iria tirar grande partido do
estágio e que se calhar não valia a pena estar a avançar com algo que não
fosse benéfico para mim.
Falei então com a Professora que me deu total apoio na minha decisão
em abandonar o estágio, e mostrou-se prontamente disponível para me ajudar
a encontrar nova solução. Como nota de curiosidade, apenas referir que o meu
supervisor local de estágio no F.C. Paços de Ferreira (o coordenador da
formação) também abandonou o clube umas semanas após o término do meu
estágio.
Posto isto, começou então uma nova “batalha” contra o tempo na busca
de um novo local para estagiar. A Professora tinha alguns contactos na Liga
Portuguesa de Futebol Profissional e sugeriu que fosse lá efetuado o estágio.
Entrou então em contacto com alguém responsável e fiquei de enviar o meu
currículo de forma a que o pudessem avaliar e tomar uma decisão
relativamente à aceitação do estágio. O tempo foi passando e após mais de um
mês, apesar da minha insistência e da Professora, não obtivemos resposta.
Nesta altura, já começava a sentir-me um bocado desesperado pois
estávamos já em Dezembro e eu sem local para estagiar. Tinha até inclusive
em cima da mesa a hipótese de congelar a matrícula e fazer algo com mais
calma no próximo ano.
Foi então que vi a “luz ao fundo do túnel” com uma chamada da
Professora que me pediu que me deslocasse à faculdade pois teria uma
proposta para mim. Sem hesitar pus os pés ao caminho esperando que o
mistério fosse desvendado, e ficasse então a saber qual a proposta da que me
falara.
Estando já um pouco ansioso a Professora Maria José Carvalho falou-
me que tinha, por mero acaso, encontrado um colega de curso que era o
10
Diretor Geral do Rio Ave F.C. e que poderia ser uma oportunidade para mim.
Fiquei extasiante com a conversa com a Professora e entrei logo em contacto
com o Dr. Miguel Ribeiro - Diretor Geral do Futebol Profissional do Rio Ave
Futebol Clube.
Agendamos então uma reunião no estádio do clube para a qual,
confesso, estava extremamente nervoso. A reunião estava agendada para as
10:00 e às 9:20 já tinha o carro estacionado à porta do estádio pois receava
chegar atrasado. O tempo passou e dirigi-me então à porta do estádio para
reunir com o Doutor. A reunião, que foi mais uma conversa, foi extremamente
agradável e percebi logo que tinha vindo parar ao clube certo. Apesar do cargo
que o Dr. Miguel Ribeiro desempenha, mostrou-se ser uma pessoa bastante
agradável e aberta dando oportunidades a um jovem como eu de perceber
como é que um clube da dimensão do Rio Ave F.C. funciona no seu dia-a-dia.
Nessa conversa ficou então desde logo definido o dia em que daria início
ao meu estágio ficando depois de conversar mais aprofundadamente sobre as
atividades que iria desenvolver.
Assim como podemos ver, o meu percurso até chegar ao Rio Ave F.C.
foi um pouco agitado. No entanto posso referir com toda a convicção que
acabou tudo por correr pelo melhor e que dentro de algum “azar” acabei por ter
muita sorte em todos os passos que fui dando. Como se costuma dizer “Deus
escreve direito por linhas tortas”…
11
1.3. Plano de Estágio
Conforme foi referido anteriormente, o meu estágio profissionalizante no
Rio Ave F.C. apenas teve início no mês de janeiro, mais propriamente no dia 9
de janeiro de 2017 pelas 9 horas e 30 minutos. Os primeiros tempos serviram
sobretudo para me adaptar e ambientar, ficando a compreender o
funcionamento de toda a estrutura definindo deste modo, a par do Dr. Miguel
Ribeiro, aquilo que iriam ser as minhas atividades ao longo do estágio.
Em conversa com o Dr. Miguel, o meu supervisor local, ficou
determinado que ao longo do estágio iria passar pelos diversos departamentos
de forma a que pudesse conhecer a fundo o funcionamento do departamento
de futebol profissional do Rio Ave F.C..
Assim, apesar de não ter nenhum plano de estágio propriamente dito,
onde teria referido um planeamento descritivo das minhas atividades, iria
passar pelos diversos departamentos conforme as necessidades de cada um e
também as minhas.
O Dr. colocou-me, desde logo, à vontade para que se pretendesse
circular pelos vários departamentos para, por um lado observar o que estava a
ser feito no momento, e por outro oferecer a minha ajuda no que fosse
necessário, para que também me pudesse dar a conhecer e sentir-me útil para
a entidade.
Neste sentido, após a definição do meu horário (condicionado pela
minha atividade profissional), o Dr. Miguel Ribeiro acompanhou-me numa visita
ao estádio circulando pelos departamentos para que eu fosse apresentado a
todos os colaboradores, para que ninguém estranhasse a minha presença.
O primeiro departamento no qual tive a oportunidade de trabalhar, foi o
de comunicação, seguido do departamento de marketing, contabilidade,
bilhética e organização de jogos e finalmente pela secretaria onde passei a
maior parte do estágio com o team manager da equipa principal, conforme se
pode observar no cronograma abaixo.
12
Relativamente ao planeamento de estágio propriamente dito, após a
primeira conversa com o Dr. Miguel Ribeiro, ficou definido que numa fase inicial
iria passar pelos vários departamentos do sector profissional, e numa fase
posterior iria estar a trabalhar diretamente com o Dr.. Segue abaixo um
pequeno esquema desse planeamento no quadro 1:
Quadro 1 - Plano de Estágio Profissionalizante no RAFC
Âmbito das
Atividades
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio
1-15 16-31 1-15 16-28 1-15 16-31 1-15 16-30 1-15
Dep. Comunicação /
Marketing
Dep. Org. Jogos
Dep. Contabilidade
Team Manager
Diretor Geral
Como é possível observar através do Quadro apresentado, as atividades
que fui desenvolvendo ao longo do estágio foram bastante diversificadas.
Desta forma foi-me possível ficar a conhecer todos os Departamentos do clube
entendendo assim o seu funcionamento como um todo.
Apesar da diversificação o plano não foi cumprido integralmente
conforme está descrito uma vez que foi sendo adaptado conforme as
necessidades da entidade.
Para além disso o tempo passado com o Diretor Geral foi menos do que
seria de esperar inicialmente uma vez que este tem uma atividade diária
bastante atarefada sendo quase impossível acompanhá-lo a 100%. No entanto
o pouco tempo que consegui, acredito tê-lo aproveitado da melhor forma.
Relativamente ao horário que foi cumprido, uma vez que teria de atingir
as 500 horas estabelecidas no regulamento dos estágios profissionalizantes,
tive de me apresentar todos os dias da semana, e pontualmente ao fim-de-
semana, entre as 9:00 e as 13:30.
13
Posteriormente, para a elaboração deste relatório de estágio, de forma a
ter algum rigor nas tarefas e estabelecer prazos para a elaboração do mesmo,
elaborei também um pequeno diagrama de Gantt para ir tentando cumprir com
alguma exatidão. Apresento abaixo o Quadro 2 com o diagrama referido:
Quadro 2 - Plano de Realização do Relatório
Capítulo a elaborar Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago.
Introdução
Resumo
Biografia
Clube
Enquadramento
Teórico
Descrição
Atividades
Conclusão
Finalização
Relatório
Apenas referir que devido a todos os acontecimentos explicados
anteriormente, apenas iniciei a elaboração do relatório em Janeiro
estabelecendo a meta para a sua entrega na 2ª fase em Setembro.
14
15
Capítulo 1 - Caracterização da Entidade
1.1. O Clube de Vila do Conde
O Rio Ave Futebol Clube sedia-se no município de Vila do Conde. As
origens da fundação da cidade remontam ao ano de 953, altura em que
Flamula Deo-Vota se referiu a Villa de Comite numa carta de venda de bens ao
Mosteiro de Guimarães.
Vila do Conde desde sempre se evidenciou devido à sua proximidade
geográfica com o mar e por isso se desenvolveu através da construção naval, e
seu porto e alfândega.
Vila do Conde pertence ao distrito do Porto e alberga nas suas
freguesias cerca de 79 500 habitantes. Tem perto de 18 km de praias o que no
Verão cativa sempre muitos turistas para a zona1.
É uma cidade muito característica e com as suas tradições bem
assentes, principalmente por meio da pesca.
1.1.1. História do Clube
Decorria o ano de 1939 em que um grupo de cinco vila condenses -
João Pereira dos Santos, Albino Moreira, João Dias, Ernesto Braga e
José Amaro - que habitualmente frequentavam a mesma barbearia da cidade,
de seu nome “Zé Tapioca”, tiveram a ideia da criação de um clube, de forma a
elevar para além fronteiras o nome da cidade de Vila do Conde.
De uma conversa de barbearia passou a um sonho e de um sonho
nasceu o Rio Ave Futebol Clube, nome que foi o eleito por maioria de votos,
em vez de "Vilacondense Futebol Clube" e "Vila do Conde Sport Club".
Os cinco vila condenses referidos anteriormente foram para a frente com
o projeto e este começou a ganhar forma. Assim sendo todos eles fizeram
parte da primeira direção do clube, com o seguinte formato:
Presidente: João Pereira dos Santos;
1 Disponível em: http://www.cm-viladoconde.pt/pages/409. Consultado a 20 de Maio de 2017
16
Vice-Presidente: Albino Moreira;
1º Secretário: João Dias;
2º Secretário: Ernesto Braga;
Tesoureiro: José Amaro;
O dia 18 de janeiro de 1941 ficou marcado na história do clube como o
dia em que se realizou a primeira Assembleia Geral, que contou com um
grande número de Associados. Ainda nesse ano, e após a sua aprovação, os
estatutos do clube foram publicados em Diário da República no dia 23 de
setembro.
Atualmente o clube apresenta os seguintes órgãos sociais2:
ASSEMBLEIA GERAL:
Presidente - Eng.º Mário Hermenegildo Moreira de Almeida
Vice-Presidente- Dr. Abel Manuel Barbosa Maia
1º Secretário - João Carvalho da Silva
2º Secretário - Dr.ª Renata Maria Ribeiro Martins
DIREÇÃO
Presidente - António da Silva Campos
Assessor - António Augusto de Castro Fernandes Guimarães
Presidente Adjunto - Eng.º António Benjamim Lopes Santos Ferreira
Secretário-Geral - Manuel Amorim Oliveira
Tesoureiro - Dr. Augusto Manuel Fonseca da Silva
DEPARTAMENTO ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO
Vice-Presidente - Dr.ª Alexandrina da Silva Costa Cruz
DEPARTAMENTO DE FUTEBOL
Vice-Presidente - Eng.º José Edmundo Alves Moreira Alexandre
2 Fonte: Revista do Rio Ave Futebol Clube, nº20
17
Vogal - José Maria Teixeira Gomes
DEPARTAMENTO DE MODALIDADES
Vice-Presidente - Ilídio dos Santos Gomes
Vogais - Armindo José Alves Arezes Costa, João Manuel Barbosa Alvão,
Carlos Alberto Alves Ferreira, António José Almeida Anacleto,
Isabel Maria Barbosa Alves Barros Bompastor, Fernando Manuel
Macedo Azevedo Ferreira
DEPARTAMENTO DE INSTALAÇÕES E PATRIMÓNIO
Vice-Presidente - Eng.º Renato José da Costa Lapa
Vogais - António José Barreto da Silva, José Maria dos Santos
Laranjeira
DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES EXTERNAS E INSTITUCIONAIS
Vice-Presidente - Prof. Fernando Pedro Ramos Soares
Vogais - Alexandre de Sousa Lopes, Manuel Afonso de Oliveira
Carvalho, Carla Maria da Silva Quintans
DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO
Vice-Presidente - José António Araújo Pereira
Vogais - José Augusto de Jesus Ouvidor, Américo da Campos Leite,
José Manuel da Costa Sousa, Fernando António Ribeiro da
Costa, Manuel José Vilas Boas, António Manuel dos Santos
Vasques, Eduardo Ferreira da Silva, Manuel de Oliveira, Manuel
António Pires Pacheco, César Augusto da Costa Laranjeira,
António Rodrigues Pereira, António Miguel Caseiro de Sousa,
Guilherme Manuel Aguiar da Silva
DEPARTAMENTO JURÍDICO
Dr. Ernesto Manuel da Costa Ramalho
18
CONSELHO FISCAL
Presidente - Dr. Carlos José Maia da Costa
1.º Secretário - Dr. Ilídio dos Santos Lacerda
2.º Secretário - Carlos Sousa Lopes
Como podemos ver, até pela evolução e quantidade de pessoas que
agora fazem parte dos órgãos diretivos do clube, nos últimos anos houve um
grande desenvolvimento também a nível organizativo no Rio Ave F.C..
Com esta crescente evolução e os resultados desportivos obtidos, o
número de sócios tem vindo a aumentar de dia para dia, muito se devendo ao
sucesso desportivo que o clube tem vindo a conquistar dentro de campo.
Apesar do crescente aumento do número de sócios os espectadores presentes
em cada jogo não são muitos, sendo o Rio Ave F.C. apenas o 12º clube da
Liga NOS relativamente à média de assistências no decorrer da época - dados
relativos à época de 2015/16 conforme podemos observar na figura 1.
Este número médio de espectadores, atendendo ao número de
habitantes da cidade (79 500) é muito pouco, podendo, no entanto, ser
explicado com a atividade laboral de grande parte da população - a pesca - o
que a maior parte das vezes impede as pessoas de assistirem aos jogos por
estarem em alto mar.
Figura 1 - Média de Espectadores por Jogo da Liga. Fonte: O Jogo
19
1.1.2. Palmarés
Apesar dos longos anos de existência do clube, o Rio Ave não apresenta
um palmarés invejável como alguns outros clubes do futebol português. Nos
primeiros anos da sua existência se percebeu a grandiosidade do clube de Vila
do Conde. Em 1941/42 conquistou o título de Campeão Promocional da A.F.
Porto, Campeão Regional da III Divisão da A.F. Porto em 1942/43 e a
ascensão à I Divisão na época de 1979/80.
Na época de 1983/84 a equipa qualificou-se para a final da Taça de
Portugal que acabou por perder para o F.C. Porto por 4-13.
A época de 2013/14 foi uma época gloriosa para o clube de Vila do
Conde, com a participação na final da Taça da Liga, a 7 de maio no Estádio
Municipal de Leiria, e também a 18 de maio no Estádio Nacional, com a
presença na final da Taça de Portugal (fig. 2). Ambas as finais foram perdidas
para o S.L. Benfica por 2-04 e 1-05 respetivamente.
Apesar das duas finais
perdidas, conquistou com a
presença na final da Taça de
Portugal, a ida ao Play-Off de
acesso à Liga Europa, onde o
R.A.F.C. garantiu a presença na
fase de grupos após eliminar o
Elfsorg da Suécia a duas mãos6.
3 Disponível em: http://www.zerozero.pt/jogo.php?id=310517. Consultado a 21 de Maio de 2017 4 Disponível em: http://www.zerozero.pt/edition.php?id_edicao=58583. Consultado a 21 de Maio
de 2017 5 Disponível em: http://www.zerozero.pt/jogo.php?id=3520148. Consultado a 21 de Maio de
2017 6 Disponível em: http://www.zerozero.pt/jogo.php?id=3661570. Consultado a 21 de Maio de
2017
Figura 2 - Equipa Inicial do RAF.C. na Final da Taça Portugal 2014. Fonte: zerozero.pt
20
Já na época passada após ficar no sexto lugar da classificação da Liga
NOS, conquistou novamente o direito de disputar o Play-Off de acesso à Liga
Europa. Desta feita não obteve o mesmo sucesso do último, pois foi derrotado
pelo Slavia de Praga7.
Tanto a participação nas competições nacionais como europeias têm
sido assumidas com muito profissionalismo e sempre com o sentido de
engrandecimento como bem se constata pelas afirmações existentes no seu
site8
“A presença no principal escalão do futebol nacional, e
a conquista das provas europeias colocam o nome do Rio Ave
Futebol Clube, bem como o da sua cidade berço,
definitivamente na História do futebol.
Os momentos menos bons, e também os houve, foram
sempre ultrapassados pela vontade de vencer que caracteriza
o clube e pelo respeito que nutrimos por todos os nossos
sócios e simpatizantes.”
7 Disponível em: http://desporto.sapo.pt/futebol/liga_europa/artigo/2016/08/04/rio-ave-cai-de-pe-
na-liga-europa. Consultado a 21 de Maio de 2017 8 Disponível em: http://rioavefc.pt. Consultado a 5 de maio de 2017
21
1.1.3. Instalações
Ao longo da sua história, o clube apenas conheceu dois estádios. O
primeiro, inaugurado a 29 de janeiro de 1940, designado de “Estádio da
Avenida” (fig. 3) que seria uma referência à sua localização - Avenida Baltazar
Couto.
O dia 13 de outubro de 1984 é um dia marcante na história do clube,
pois se trata do dia da inauguração do novo estádio (fig. 4). O “Estádio dos
Arcos”, referindo-se também à sua localização, visto que se encontra próximo
de um marco importante de Vila do Conde - o aqueduto de Santa Clara.
O Estádio dos Arcos localiza-se na Rua D. Sancho I, bem à entrada de
Vila do Conde, e apresenta bons acessos - como o metro que se encontra
relativamente próximo, e a auto estrada (A28) que fica a cerca de 3 minutos de
distância (fig. 5). Uma vez que se encontra também próximo do aeroporto do
Porto - cerca de 10 minutos - é também uma mais-valia para todos os clubes
Figura 3 - Estádio da Avenida. Fonte: rioaveF.C..pt
Figura 4 - Inauguração do Estádio dos Arcos. Fonte: rioaveF.C..pt
22
que venham jogar ao terreno do Rio Ave F.C. e para os próprios adeptos dos
clubes que se desloquem ao estádio para ver o jogo.
O Estádio dos Arcos, tem vindo a sofrer algumas mudanças devido às
exigências que o desenvolvimento do próprio futebol, como as transmissões
televisivas, implicam. Hoje em dia o Estádio tem apenas duas bancadas
laterais estando estas divididas por departamentos.
Na bancada principal - a única com cobertura - onde se localizam as
tribunas e os camarotes, bem como a zona de imprensa, serve exclusivamente
o departamento do futebol profissional (fig. 6).
Figura 5 - Localização Estádio. Fonte: Google Maps
Figura 6 - Bancada Principal, Estádio dos Arcos. Fonte: geodruid.com
23
Apesar de apresentar algumas limitações e de precisar de manutenção
constantemente, este espaço disponibiliza todas as comodidades (dentro dos
possíveis) para os seus jogadores do plantel principal. Esta bancada possui
então:
um balneário próprio com cacifos individuais por jogador,
departamento médico onde os jogadores podem recuperar de lesões,
sala de reuniões para os treinadores poderem preparar jogos e treinos,
rouparia,
balneários para árbitros, equipa adversária e controlo anti-doping,
sala de delegados para o jogo,
secretaria,
ginásio,
sala de imprensa,
gabinete contabilidade,
sala de pequenos almoços,
armazém,
A outra bancada, apesar de não ter tantas condições, possui todos os
equipamentos necessários, como balneários, arrumos, secretaria, para
poderem servir da melhor maneira o Departamento de Formação do clube.
Nas traseiras desta bancada, o clube possui dois campos de futebol de 11
de relva sintética, onde decorrem os jogos e treinos dos escalões de formação,
e também um campo de futebol de 11 de relva natural que serve de apoio ao
plantel profissional, no qual treina duas a três vezes por semana (fig. 7).
Figura 7 - Campos de Treino. Fonte: Google Maps
24
Neste momento o clube tem o projeto de renovação das infraestruturas
que apresento abaixo na figura 8.
Este projeto tem como objetivo fazer uma cobertura nova do lado poente
e uma bancada nascente nova, passando toda a logística do futebol
profissional para esse lado e libertando os balneários da formação, criando uns
novos. O objetivo passa por continuar a ser um clube de I Liga com condições
dignas e modernas para desenvolver o seu trabalho e dar melhores condições
aos sócios. No espaço sul do estádio pretende-se ter um hotel pequeno para a
formação, no qual os miúdos terão o seu espaço e os seus quartos, como já se
faz atualmente na colónia. Será uma mini academia que terá um hotel, um
restaurante de apoio e uma clínica. Na parte norte, futuramente, a ideia é
construir um pavilhão e aproveitar o parque de estacionamento.
Figura 8 - Projeto para Novas Instalações. Fonte: O Jogo
25
1.2. O Rio Ave Enquanto Sociedade Desportiva
O Departamento do Futebol Profissional do Rio Ave F.C. é um
departamento que tem vindo a evoluir nos últimos anos, principalmente após a
criação da Sociedade Desportiva do clube. Após a alteração de estatutos o
clube viu-se obrigado a profissionalizar-se para acompanhar a evolução da
sociedade.
Apesar de inicialmente ser uma mudança um pouco abrupta, a evolução
foi feita aos poucos, e hoje em dia todas as pessoas envolvidas neste
departamento são funcionários da sociedade e são pagos para exercer as suas
funções.
Muitas das mudanças e da própria evolução do clube devem-se em
grande parte ao Dr. Miguel Ribeiro que tem vindo a fazer parte do projeto
desde o seu “nascimento”.
O Dr. Miguel Ribeiro é o “Homem Forte” do futebol profissional do Rio
Ave F.C., ele é o Diretor Geral do Departamento e por ele passam todas as
decisões importantes que terão algum peso no futuro do clube. Apesar disso,
há determinadas situações onde apenas o Presidente Dr. António da Silva
Campos poderá ter a última palavra visto que segundo os estatutos necessitará
a sua assinatura.
O Rio Ave Futebol Clube apenas se viu obrigado a alterar os seus
estatutos no ano de 2013 aquando da publicação do Decreto-Lei n.º 10/2013,
pois até à data, não via nenhuma vantagem na criação de uma sociedade
desportiva, mantendo-se então como clube desportivo com regime especial de
gestão.
Com a obrigação legislativa da criação de uma sociedade desportiva
para a participação em competições desportivas profissionais, o Rio Ave
Futebol Clube constituiu então uma sociedade comercial desportiva unipessoal
por quotas, no dia 27 de maio de 2013, designada como Rio Ave Futebol
Clube - Futebol SDUQ, Lda.
Esta sociedade resulta então nos termos da alínea c) do art.º 3-.º do
Decreto-Lei n.º 10/2013, de 25 de Janeiro, da personalização jurídica da equipa
26
do RIO AVE FUTEBOL CLUBE, que participa nas competições profissionais de
futebol, sendo o Clube fundador, para os efeitos no disposto na lei, o RIO AVE
FUTEBOL CLUBE.
De acordo com o contrato celebrado os direitos de participação no
quadro competitivo em que estava inserido o Clube fundador RIO AVE
FUTEBOL CLUBE, são obrigatoriamente transferidos para o RIO AVE
FUTEBOL CLUBE – FUTEBOL SDUQ, LDA.
Relativamente aos contratos de trabalho desportivos e os de formação
desportiva relativos à prática do futebol, também transitam do clube para a
sociedade desportiva.
São nomeados gerentes os seguintes elementos:
ANTÓNIO DA SILVA CAMPOS, que exercerá as funções de
gerente executivo;
AUGUSTO MANUEL FONSECA DA SILVA;
MARIA ALEXANDRINA DA SILVA COSTA CRUZ;
MANUEL AMORIM DE OLIVEIRA;
JOSÉ EDMUNDO ALVES MOREIRA ALEXANDRE;
JOSÉ ANTÓNIO ARAÚJO PEREIRA.
Segundo o que me foi possível averiguar em entrevista ao Diretor Geral
da sociedade, o Dr. Miguel Ribeiro, a opção por SDUQ e não por SAD prendia-
se única e simplesmente com o facto de uma SDUQ ser em quase tudo
semelhante a um clube com regime especial de gestão. Pegando nas palavras
do Dr. Miguel, uma SDUQ não é mais do que uma máscara em forma
societária de um clube em regime especial de gestão.
Assim sendo podemos verificar que a SDUQ apenas veio responder às
necessidades dos clubes, como o caso do Rio Ave F.C., que não vislumbrariam
nenhuma vantagem em alterar os estatutos para SAD.
Uma SDUQ apenas poderá ser constituída através da personalização
jurídica da equipa, sendo que o único investidor da sociedade será o clube
fundador (Ribeiro, 2015, p. 49).
A sociedade apresenta um capital social de 250.000 euros (mínimo
obrigatório por lei para as SDUQ), e ao longo dos últimos anos tem
27
apresentado sempre um saldo positivo no que diz respeito às contas, o que
reflete o bom trabalho que tem sido desenvolvido na sociedade desportiva e a
sua crescente evolução que também se tem traduzido em bons resultados
dentro de campo.
A sociedade desportiva apresenta como natureza as atividades dos
clubes desportivos (CAE 93120), tendo por objeto social a participação na
modalidade de futebol, em competições de carácter profissional, a promoção e
organização de espetáculos desportivos e o fomento ou desenvolvimento de
atividades relacionadas com a prática desportiva profissionalizada da referida
modalidade.
Ao longo dos últimos anos, o Departamento de Futebol Profissional foi-
se moldando às necessidades que a própria sociedade foi promovendo.
Exemplo do Oficial de Ligação aos Adeptos (OLA), que foi uma necessidade do
clube de ter alguém que fosse um membro de ligação entre o clube e os seus
sócios para tratar de questões de bilhetes e acompanhamento dos mesmos
nos jogos fora. Outro exemplo será a separação do Departamento de
Comunicação e Marketing em dois Departamentos distintos, pois a
necessidade de ambos serem independentes prevaleceu.
De seguida irei apresentar os vários departamentos do futebol
profissional bem como uma breve descrição de cada um.
1.2.1. Departamento Comunicação
O Departamento de Comunicação é liderado pelo seu responsável
máximo, o Diretor de Comunicação Marco Aurélio Carvalho. Neste
Departamento, liderado pelo Marco, trabalham ainda os seus assessores de
imprensa - o Pedro Colaço e o Tiago Costa.
Aqui trabalha-se essencialmente a imagem do clube, a promoção de
jogos e a interação com os adeptos para além de ser o Departamento que
recolhe toda a informação diária que sai nos jornais sobre o clube e aquele que
define uma estratégia de comunicação do clube onde é selecionada
criteriosamente a informação que é disponibilizada pelo clube para os media.
28
Outro dos trabalhos mais importantes na Comunicação do clube são os
momentos relativos às conferências de imprensa de antevisão do jogo e de
análise do jogo alguns momentos após o seu término, e também a flash-
interview quer dos jogadores quer do treinador. Também, para todos estes
momentos é definida uma estratégia de comunicação preparada previamente e
transmitida ao jogador ou treinador em questão. Nesta preparação, os
assessores de imprensa selecionam uma série de questões que provavelmente
serão abordadas pelos jornalistas, de acordo com o momento ou
notícias/rumores que terão saído, e aborda uma resposta tipo para cada com a
qual a pessoa entrevistada deverá construir a sua resposta com base nas
indicações dadas pelo Departamento de Comunicação.
Resumindo, o Departamento de Comunicação, como o próprio nome
indica, trabalha a comunicação com o exterior, mas principal e
fundamentalmente trabalha a imagem do clube ou pelo menos a imagem que
será transmitida para o exterior do mesmo.
1.2.2. Departamento de Marketing
O Departamento de Marketing, apesar de em muitas empresas funcionar
em conjunto com o Departamento de Comunicação, hoje em dia, no Rio Ave
F.C. funcionam ambos de forma independente. Digo “hoje em dia” porque até
há bem pouco tempo existia apenas o Departamento de Comunicação e
Marketing. No entanto, o clube achou por bem dividir os dois Departamentos
para que ambos se possam concentrar apenas nas suas tarefas, o que acaba
por ser melhor para a instituição.
No Departamento de Marketing, neste momento apenas trabalham duas
pessoas - o Nuno Santos e o André Crud. Ambos são responsáveis pelas
ações de publicidade efetuadas pelo clube, exemplo das ações de
merchandising realizadas nos intervalos dos jogos. Este departamento é
também responsável pelas parcerias efetuadas pelo clube com outras marcas.
Anteriormente foram referidos os patrocinadores do clube, com os quais
a relação é mediada por este Departamento. Ou seja, aquando da assinatura
de um protocolo é o Departamento de Marketing que define as condições do
29
mesmo. Por outras palavras, é neste Departamento que se discute o que o
clube “dá” à marca e o que “recebe” dela.
Assim sendo, este Departamento ao funcionar a 100% poderá revelar-se
bastante importante para o clube que depende muito das parcerias/ patrocínios
que efetua.
1.2.3. Departamento de Contabilidade
O Departamento de Contabilidade é talvez o mais importante de todos
os departamentos do clube. Este está em constante comunicação com todos
os outros departamentos no que diz respeito a receitas e despesas dos
mesmos.
A responsável máxima deste Departamento é a Drª. Alexandrina, e por
ela passam todas as decisões mais ou menos importantes relativamente às
receitas e despesas do Departamento de Futebol Profissional. Posso até referir
que a assinatura da referida responsável. é quase tão importante como a do
Senhor Presidente.
Trabalham também no Departamento a Carmen, a Susana, Marta e
Selma, todas elas licenciadas em contabilidade.
Como referi, todas as decisões dos outros Departamentos que envolvam
transações financeiras terão de obter a aprovação prévia do Departamento.
Qualquer aquisição de material ou serviço (a partir de um certo valor) necessita
da assinatura da Drª. Alexandrina para que a operação seja realizada com
sucesso.
1.2.4. Departamento de Bilhética e Organização de Jogos
Este Departamento é responsável pela realização de todos os protocolos
e elaboração de documentos necessários para cada jogo, que são previamente
estipulados pela Liga. A pessoa responsável por este departamento é o Diogo
Bravo que também acumula as funções de Oficial de Ligação aos Adeptos
(OLA).
30
Em relação aos procedimentos anteriores aos jogos será de destacar a
impressão, distribuição e controlo dos bilhetes para os jogos em casa,
organização da equipa de catering, distribuição de tarefas e também a
verificação prévia das instalações e torniquetes para que na hora do jogo tudo
esteja em pleno funcionamento.
Relativamente aos modelos da Liga a preencher é de
destacar o Modelo P, que refere todos os agentes
desportivos que poderão permanecer na área técnica antes,
durante e após o jogo (este modelo é feito para os jogos em
casa e fora) e consoante o Modelo P efetuar a distribuição
das credenciais (fig. 9). Também o Modelo O, que refere os
tipos de bilhetes disponíveis para o jogo em questão (em
casa) e qual o preço definido para cada é importante.
Durante o jogo, o Diogo é responsável por ser o intermediário dos clubes
visitados (no caso dos jogos fora) para com o grupo de adeptos que
acompanha a equipa, e também o ponto de ligação entre os mesmos adeptos e
a polícia onde, através dele é transmitida toda a informação para que tudo
corra pelo melhor.
No final dos jogos é também da sua responsabilidade fazer relatórios,
reportando alguma situação que ache conveniente informar as entidades
competentes, e nos jogos em casa fazer a contagem de bilhetes que sobraram
devido à sua não utilização verificando no sistema se o número de adeptos
presentes no estádio corresponde aos bilhetes vendidos e convites oferecidos.
Esta tarefa é feita em conjunto com a contabilidade para que estes saibam os
valores monetários que os jogos em casa geram para as receitas do clube.
1.2.5. Departamento de Instalações
O Departamento das Instalações é gerido pelo André Crud, um dos
responsáveis pelo Marketing, acumulando assim as funções.
Figura 9 - Bilhetes e Credencial para Jogos Oficiais
31
O André Crud é então responsável pela manutenção ou melhoria das
estruturas do clube. Qualquer intervenção que necessite ser feita no estádio
terá de ser através do senhor André.
Também durante os jogos estará de prevenção para o caso de alguma
avaria poder intervir.
1.2.6. Departamento Médico
O Departamento Médico é liderado pelo Doutor Basil Ribeiro, e conta na
sua equipa com mais um médico, o Doutor André Dias, e um outro estagiário.
Para além dos médicos conta também com uma equipa de fisioterapeutas - o
José Teixeira e o Rui Sousa.
Apesar de este Departamento ser muito independente no que diz
respeito à realização de análises, exames ou tratamentos necessários a algum
jogador, é um Departamento que está em constante contacto com a equipa
técnica de modo a que estes saibam as limitações que possam existir de algum
atleta o que pode condicionar o plano de treino ou de jogo.
Como é de esperar, este é o Departamento mais importante no que
refere aos tratamentos das lesões dos jogadores que serão o ativo mais valioso
do clube.
Para além disso, o Departamento disponibiliza também um nutricionista
responsável pelo plano alimentar dos atletas (pré e pós treino e pré e pós jogo),
1.2.7. Rouparia
A Rouparia será provavelmente um dos departamentos mais ativos do
clube. Todos os dias entra em ação de manhã cedo antes do treino, continua o
seu trabalho durante a realização do treino e só acaba após o plantel
profissional sair das imediações do estádio.
Este departamento é composto pelo Pedro Festas e Adelino Ferreira que
são os responsáveis por manter todo o material desportivo e roupas para
atletas e equipa técnica em condições para todos os treinos.
32
1.2.8. RAR - Rio Ave Rendimento
Este gabinete é algo recente no clube e foi criado com base em 6
objetivos principais:
Avaliação e prescrição de exercício;
Otimização da performance atlética;
Nutrição Desportiva;
Prevenção e reabilitação de lesões;
Investigação no âmbito do alto rendimento;
Formação;
Desta forma podemos concluir que todos estes objetivos têm o propósito
de potenciar as capacidades físicas dos atletas, maximizando assim o seu
rendimento dentro de campo.
O responsável pelo gabinete é o “Toni” e é ele o grande dinamizador do
mesmo, quer através do seu trabalho diretamente com os atletas, quer através
de alguns estudos científicos que procuram ajudar no desenvolvimento do
gabinete.
1.2.9. RAS - Rio Ave Social
O Rio Ave Social é “um compromisso que o Rio Ave F.C. assume
perante a sociedade, enquanto membro agregador de vontades”. Este gabinete
concentra todas as suas atenções na ajuda aos mais necessitados.
Sendo o Rio Ave F.C. um clube de alguma dimensão em Portugal, tenta
usar o seu nome em benefício de terceiros tendo assim consciência da sua
responsabilidade para com a sociedade.
Com este gabinete, o clube demonstra que o desporto eleva consigo
grandes valores e que estão presentes na visão do clube, que assim leva a
cabo inúmeras ações que visam a doação de bens a instituições ou a casos
isolados que muitas vezes aparecem a pedir ajuda ao clube.
33
1.2.10. Patrocinadores
Hoje em dia, todo e qualquer clube para se manter financeiramente
saudável depende muito dos patrocinadores. No entanto, segundo Lagae
(2005), os patrocínios trazem vantagens para ambas as partes envolvidas. De
certa forma Gwinner & Eaton (1999) acreditam que as principais razões para
que as marcas patrocinem os clubes são aumentar a sua notoriedade,
estabelecer, fortalecer ou alterar a imagem da marca (dependendo do clube ou
desporto ao qual se associam). Uma marca ao estar associada a um clube que
obtenha um grande sucesso desportivo, estará a construir uma imagem forte e
de sucesso perante o público alcançando, através desse sucesso, milhões de
pessoas.
De certa forma, os clubes desportivos procuram os patrocínios de
acordo com dois principais padrões, segundo Meenaghan (2001) por um lado
estabelecer uma parceria com uma marca forte e que lhes dê alguma
visibilidade e credibilidade. Por outro, procuram marcas que lhes deem
recursos quer materiais quer financeiros.
O Rio Ave F.C. não é diferente dos outros clubes e assim sendo
depende muito dos seus patrocinadores (fig. 10) para a manutenção da “saúde
financeira” do clube.
Figura 10 - Patrocinadores do RAFC. Fonte: rioavefc.pt
34
Portanto, o Rio Ave F.C. tem um conjunto de patrocinadores em que a
sua relação de reciprocidade de benefícios tem sido saudável quer para o
clube quer para as marcas.
Atrás podemos ver os principais patrocinadores do Rio Ave F.C. -
Futebol SDUQ Lda. Na época transata o departamento profissional de futebol
assinou contrato com a marca desportiva ADIDAS, que pelo menos até à
próxima época irá equipar o clube.
Outro dos principais patrocinadores é a MEO, operadora televisiva que
nos últimos tempos, como é do conhecimento público, tem vindo a assinar
contratos milionários com vários clubes da primeira e segunda liga de futebol.
Também o Grupo Campos, empresa que se dedica à construção e que
fica situada em Vila do Conde é outro patrocinador.
A Konica Minolta que fornece as impressoras e material ao clube.
A TacticalBoards Soccer que produz os quadros táticos aos clubes e da
qual o Rio Ave F.C. é cliente.
A Brand It, que é a empresa responsável pela construção do site do
clube.
A Smart Move que é responsável pelo software de bilhética e controlo de
acessos que está a operar no estádio do clube.
A Prozis que é o fornecedor de suplementação desportiva do
Departamento de Futebol.
A Sabseg Seguros que é a responsável por todos os seguros em vigor
no clube.
E a In Stat, que é uma empresa que obtém o software desportivo que faz
a estatística e a sua análise dos jogos de futebol e que é bastante importante
no trabalho diário da equipa técnica do clube.
35
1.3. Futebol de Formação
O Rio Ave Futebol Clube - Futebol SDUQ, Lda. para além da equipa
sénior tem na sua estrutura várias equipas de futebol de formação. São elas:
Juniores A;
Juniores B;
Juniores C;
Todas estas equipas que representam a sociedade desportiva nos
escalões de formação, competem nos campeonatos nacionais
correspondentes.
Desta forma, podemos observar a abrangência da sociedade que não se
limitou a incluir dentro de si o futebol profissional, mas também alguns escalões
de formação anteriormente pertencentes ao clube.
1.4. Propriedades da SDUQ
O Rio Ave enquanto SDUQ, apresenta algumas propriedades ou ativos
fixos tangíveis que se encontram contabilizados ao custo de aquisição,
acrescidos de despesas que lhes sejam diretamente imputáveis, deduzido das
correspondentes depreciações e das eventuais perdas por imparidade.
A sociedade tem escriturado como sua propriedade9:
Edifícios;
Equipamento Básico;
Equipamento de Transporte;
Equipamento Administrativo;
Outros;
Todos estes ativos estão avaliados no valor de 440.973,18 euros, já com
as respetivas depreciações acumuladas e perdas por imparidade calculadas.
9 Retirado de Relatório e Contas do Rio Ave Futebol SDUQ 2017/2015. Disponível em: http://www.rioavefc.pt/wp-content/uploads/2016/01/Relat%C3%B3rio-e-Contas-Rio-Ave-Futebol-Clube-Futebol-SDUQ-2014-2015-2.pdf. Consultado a 20 de setembro de 2017
36
Resumindo todas as propriedades em nome da sociedade desportiva
transitaram do Rio Ave enquanto clube, onde no entanto está sempre
salvaguardado como único sócio da sociedade e assim sendo caso esta seja
dissociada o clube volta a ser o proprietário das mesmas.
Como referido anteriormente, o clube apresenta um projeto de
desenvolvimento sustentável onde pretende efetuar um crescimento
continuado sempre com a noção das implicações e do risco corrido nos
projetos idealizados.
O facto de a sociedade ter estado presente nas competições europeias
pela primeira vez na história, na época de 2014/2015, trouxe um maior poder
económico ao clube e com isso vieram maiores e melhores perspetivas para o
seu futuro conforme é descrito no Relatório e Contas relativo a essa época
desportiva.
O Relatório e Contas é um documento que será produzido anualmente,
tendo como principais objetivos a demonstração da sua atividade desenvolvida
e do balanço financeiro obtido ao longo de um certo período de tempo.
Com o sucesso desportivo do Rio Ave veio também uma maior
responsabilidade - desportiva e social - à qual a sociedade tem demonstrado
estar à altura do desafio, apresentando elevadas expectativas de um futuro
cada vez mais risonho.
37
Capítulo 2 - Enquadramento Teórico
2.1. Desporto Profissional
2.1.1. Quando? Onde? Como? Porquê?
O Desporto, cada vez mais está presente, direta ou indiretamente, na
vida das pessoas que começam muitas vezes por definir o seu quotidiano em
torno do Desporto. Assim sendo, tem emergido aquilo a que se chama de
"Desporto Profissional". Mas o que é isto do Desporto Profissional? Quando
surgiu? Onde surgiu? Como surgiu? E porque é que surgiu?
Se formos ao dicionário procurar pela definição de Desporto podemos
observar as seguintes definições10:
1. “Exercício físico praticado de forma metódica, individualmente ou em
grupo, e com diversos objetivos (competição, recreação, terapia, etc.);
2. "divertimento, recreio";
3. (entre outras);
Podemos ainda recorrer à Carta Europeia do Desporto11 onde no artigo
2.º, nº1, al. a), refere-se a Desporto nos seguintes termos:
"Entende-se por “desporto” todas as formas de atividades físicas que,
através de uma participação organizada ou não, têm por objetivo a
expressão ou o melhoramento da condição física e psíquica, o
desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados na
competição a todos os níveis."
Como podemos verificar, em nenhuma alínea o Desporto é definido
como uma prática profissional, mas sempre como algo amador, recreativo ou
de lazer. Assim sendo devemos então definir o que é "profissional".
10 Desporto in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2017. [consult. 2017-05-22]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/desporto 11 O Comité de Ministros do Conselho da Europa adotou em1992 em Rhodes este documento, que sofreu uma alteração em 2001
38
Recorrendo novamente ao dicionário em busca do significado de
Profissional podemos verificar o seguinte12:
1. "Pertencente ou respeitante a profissão”;
2. "Que prepara para certas profissões”;
3. (entre outras);
Ora, assim sendo podemos concluir que o sentido que a palavra
"profissional" coloca ao Desporto, é o sentido de praticar algum tipo de
Desporto e ser pago para esse efeito.
No entanto, se colocarmos ambas as definições lado a lado, não será
um contrassenso chamar de profissional a algo que por definição apenas se
pratica por lazer? Ou será que ao acrescentar o sentido de profissional ao
Desporto estaremos a acrescentar uma nova dimensão ao mundo imersivo do
mesmo?
Na mesma Carta, já referida acima, mas no artigo 8.º "Apoio ao
Desporto de Alta Competição e Desporto Profissional" no nº2:
"Convém promover a organização e a gestão do desporto organizado
numa base profissional através de estruturas adequadas. Os
desportistas profissionais deverão beneficiar de proteção e de estatuto
social apropriados e de garantias éticas, colocando-os ao abrigo de
qualquer forma de exploração."
Podemos então verificar, que em 1992 (altura da redação da Carta) já
havia a necessidade de legislar o Desporto Profissional, o que nos leva à
questão do Quando surgiu? Será que foi em 1992? Ou já haveria indícios da
existência de Desporto Profissional anteriormente?
Segundo Bento & Constantino (2007) à medida que a sociedade evoluiu
o desporto transformou-se numa pluralidade de motivos e finalidades, de
sujeitos e praticantes, de modelos e cenários, podendo então afirmar que
houve a carência por parte do Desporto em evoluir numa perspetiva mais
profissional, respondendo assim à demanda incessante dos seus praticantes e
apaixonados em geral.
12 Profissional in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2017. [consult. 2017-05-22. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/profissional
39
Poderá explicar-se esta necessidade no sentido em que, segundo Jorge
Olímpio Bento (2003), é na versão profissional que o Desporto atinge a mais
alta expressão ética e estética e maior valia social e profissional.
Podemos afirmar que o Desporto evoluiu a par da sociedade, e que o
Desporto Moderno nasceu na Europa na 2ª metade do séc. XIX (Thomas,
Haumont, & Levet, 1987) juntamente com a sociedade capitalista e industrial,
aproximando-se assim do Desporto Profissional que hoje conhecemos.
Com todas estas mudanças e transformações no mundo do Desporto,
houve então a necessidade de começar a existir organismos que pudessem
dar resposta a toda a evolução presenciada. Começaram assim a surgir as
Federações e as Ligas Profissionais, como é exemplo da Federação Inglesa de
Futebol, a Football Association que surgiu em 1863 (Carvalho, 2009), com o
objetivo de regular as competições profissionais e não-profissionais em
Inglaterra.
No entanto, comecemos pelos primórdios da Humanidade onde desde
sempre existiu a prática desportiva. Desde a caça ou a pesca, que seriam
praticados como forma de subsistência Humana, ainda que de forma
anárquica, ou mesmo os Jogos Olímpicos que será a primeira forma de
desporto minimamente organizado de que há registos.
Ora vejamos, os Jogos Olímpicos apesar de não haver certezas quanto
à sua real origem, terão sido idealizados na segunda metade do séc. VIII a.C.
como forma de divertimento a Zeus, que segundo a mitologia grega seria o pai
de Hércules, que foi considerado o fundador dos J.O. segundo uma das várias
teorias (Bento & Monteiro, 2016, p. 14).
Apesar de os J.O. estarem minimamente organizados e regulamentados
(principalmente através de rituais), não havia nenhum organismo concreto que
tivesse sido criado especificamente para esse efeito. Também todos os atletas
gregos, praticavam dia e noite para atingir os seus objetivos de ganhar os
Jogos e serem os heróis de toda a Grécia, contrariando assim o mito do
amadorismo dos atletas na Grécia Antiga, onde fica a ideia da importância
significativa dada à "excelência física e a obtenção das vitórias nos Jogos"
(Oliveira, 2000, p. 89) apenas pela elevação do vencedor ao nível dos deuses e
o facto de ser considerado um herói sendo o primeiro passo para a sua
ascensão meteórica. Esta desmitificação, apenas começou a ser encarada a
40
partir de 1984 com a obra de David Young "The Olympic Myth of Greek
Amateur Athletics".
Também no canto XXIII da Ilíada, "É primeiro, formosa hábil cativa. (...)
Eis os prémios dos rápidos aurigas.", temos mais uma vez referência aos
prémios atribuídos aos vencedores das provas.
Assim sendo, isto fazia com que os atletas gregos se "dedicassem a
tempo inteiro à prática do desporto e daí recebessem dinheiro ou outros bens
materiais." (Oliveira, 2000, p. 86), apesar de o conceito de "atleta profissional"
ser mais recente, e na Antiguidade os próprios atletas não se consideravam
profissionais precisamente devido a essa razão.
Com a invasão da Grécia pelos romanos e consecutiva dominação, no
séc. II, muitos dos velhos costumes e hábitos do povo grego foram esquecidos.
Entre eles os J.O. que foram definitivamente extintos quando no ano de 392
d.C. o imperador romano Teodósio I assumiu o poder e converteu a Grécia ao
cristianismo, abolindo assim todas as manifestações de adoração ou culto aos
deuses gregos (Silva, 2000, p. 71).
Após séculos de esquecimento, apenas na década de 1890 os J.O.
começaram lentamente a ser restabelecidos pelas mãos de Pierre de Coubertin
que tinha como objetivos a estimulação da prática desportiva bem como a
promoção da “paz entre as nações” através da convivência saudável trazida
pelo espírito dos J.O..
Esta “reinvenção” dos J.O. trouxe também a necessidade da criação de
uma organização, mais uma vez por incentivo de Pierre de Coubertin, de forma
a poder regular a competição e fazê-la evoluir da melhor forma. Nasceu assim
o Comité Olímpico Internacional, que tinha então como objetivo organizar e
promover a realização dos Jogos Olímpicos. Começamos aqui a dar os
primeiros passos em direção aos dias de hoje com o desporto profissional.
"Aquilo que era uma competição desportiva passou também a ser uma
competição fora dos estádios, onde os resultados que importam não são só os
desportivos, mas, sim, os do negócio." (Bento & Monteiro, 2016, p. 37).
Atualmente os tempos mudaram, principalmente com as transmissões
televisivas ou mesmo os patrocínios e a publicidade, o COI é mais uma
entidade que, para além de organizar, promover, legislar e controlar os J.O.,
detém direitos de imagem e de transmissão.
41
2.1.2 As Primeiras Organizações Desportivas
O Comité Olímpico Internacional é das organizações desportivas que
quando foi criada teve mais visibilidade e também impacto no mundo
desportivo internacional. No entanto, alguns anos antes da criação do COI,
nasce em Inglaterra no ano de 1863 a Football Association, a federação inglesa
de futebol.
Esta federação nasce, pois o futebol era já um desporto bastante
praticado no Reino Unido, e há então a necessidade de regular o desporto de
modo a que este tenha regras universais, para poder ser jogado entre todos e
em qualquer parte de Inglaterra. A ideia surgiu a partir de Ebenezer Morley,
que teria formado o Barnes F.C. em 1862 e verificou que dos poucos clubes
que havia em Londres, cada um jogava segundo as suas regras, havendo
então a necessidade de uniformizar a modalidade. Aos poucos a modalidade
foi sendo regulamentada e a 21 de Julho de 1871 há o anúncio da criação de
uma Taça denominada "The Football Association Challenge Cup" onde todos
os clubes associados seriam convidados a participar13.
Entre 1875 e 1885 há uma grande ascensão do número de clubes a
praticar futebol e no ano de 1885 há então a necessidade de legalizar
formalmente o profissionalismo da competição. Esta contribuição do
profissionalismo continuou a crescer e afetou a intransigência dos atletas
amadores. Assim alguns destes clubes amadores criaram uma Associação
paralela à FA, apenas com a designação de amador, com também uma
competição, mas que proibia os seus clubes a competir com outros que
estivessem debaixo da jurisdição da Football Association.
Estes problemas da não uniformização das regras do futebol, atingiu
outros países, e em 1902 a Federação Holandesa de Futebol sugeriu a criação
de um campeonato entre as equipas dos vários países e na sequência desta
proposta a Federação Francesa propôs a formação uma Federação
Internacional que pudesse regular a modalidade a nível internacional e do
mesmo modo para todos.
13 Disponível em: http://www.thefa.com/news/2016/nov/02/history-of-the-fa-cup. Consultado em 12 de maio de 2017
42
2.1.3 A FIFA
No dia 21 de Maio de 1904, em Paris, foi então criada a Fédération
Internationale de Football Association - FIFA, em que os países fundadores
foram:
França;
Holanda;
Bélgica;
Dinamarca;
Espanha;
Suécia;
Suiça.
Então, nesta primeira reunião entre os primeiros fundadores, foram
redigidos os primeiros estatutos da FIFA com base nos seguintes princípios:
1. Reconhecimento recíproco e exclusivo entre as associações
nacionais representadas e participantes;
2. Clubes e jogadores estariam proibidos de jogar simultaneamente
por mais do que uma associação;
3. Reconhecimento por parte de outras associações de suspensões
anunciadas por uma associação;
4. Os jogos seriam regulados segundo as 'Laws of the Game of the
Football Association Ltd.'.
Já nestes primeiros moldes da FIFA, cada associação teria de pagar
uma cota anual, estando já presente o profissionalismo nos vários países, não
só em Inglaterra, que acabou por se juntar à FIFA dois anos após a sua
criação14.
14 Disponível em: http://www.fifa.com/about-fifa/videos/y=2014/m=11/video=the-story-of-fifa-2477121.html. Consultado a 12 de maio de 2017
43
2.2. Futebol em Portugal
Em Portugal, começaram-se a dar os primeiros passos na prática do
futebol entre 1884 e 1888 quando três irmãos que estudavam em Inglaterra,
regressaram a Portugal e trouxeram consigo uma bola de futebol. Tendo em
Inglaterra aprendido algumas regras para a prática da modalidade, começaram
a juntar-se com alguns amigos ao domingo para jogar futebol.
Este grupo liderado pelos irmãos de apelido Pinto Basto, realizou no ano
de 1889 uma exibição contra uma equipa formada por ingleses, jogo este que
teve lugar no Campo Pequeno - local onde atualmente é a praça de touros, em
Lisboa.
A nível de espectadores a assistir à partida foi um êxito e por isso mais
exibições se seguiram a esta. Com esta propagação, os irmãos Pinto Basto,
decidiram formar um clube com a designação de ‘Lisbonense’. Este ato serviu
de mote para a criação de muitos outros clubes não só em Lisboa como
noutros pontos do país - como o Porto, por exemplo. Podemos então afirmar
que, o futebol terá sido a base da organização desportiva e clubística presente
no panorama desportivo nacional. Com este aumento exponencial do interesse
do povo pela modalidade, aquando da Comemoração do Centenário
Henriquino (morte de D. Afonso Henrique) realizou-se a primeira partida entre
Porto e Lisboa.
À semelhança de outros países, o número de praticantes, de clubes e de
espectadores, tinha vindo a aumentar e com tendência para aumentar ainda
mais. Assim sendo, houve a necessidade da criação de uma entidade que
pudesse regular e organizar os clubes e as competições entre eles. Surgiu
assim a Liga Portuguesa de Football, dirigida pelo Dr. Januário Barreto. Apesar
do entusiasmo inicial, após o surgimento de alguns problemas no decorrer do
campeonato, a Liga não resistiu e acabou por ser destituída.
Já em 1910, ano de transição da monarquia para o regime republicano
após uma revolução em outubro iniciada a dia 2 e concluída dia 5 com a
implantação da república, foi também fundada a Associação de Futebol mais
antiga em atividade - a Associação de Futebol de Lisboa.
No ano seguinte, em 1911 foi fundada a Associação de Futebol de
Portalegre e logo após, em 1912, é também fundada a Associação de Futebol
44
do Porto que hoje em dia é a maior associação de futebol do país, englobando
cerca de 350 clubes.
Não decorreu muito tempo para a fundação da Federação Portuguesa
de Futebol (FPF) que ocorreu no ano de 1914, (apenas foi dez anos após o
início da FIFA). A FPF, inicialmente designada de União Portuguesa de Futebol
(UPF), foi fundada a 31 de março de 1914 pelas três associações existentes na
altura - Porto, Lisboa e Portalegre.
A U.P.F tinha o objetivo de criar uma seleção nacional, e tenho esse
objetivo em pano de fundo decidiu candidatar-se à FIFA de forma a dar corpo a
esse sonho. Esta candidatura surgiu apenas alguns meses depois da fundação
da União Portuguesa de Futebol. No ano de 1926 a U.P.F. alterou a sua
designação para a que conhecemos atualmente - Federação Portuguesa de
Futebol.
Na época de 1938-39 realizou-se a primeira edição da Taça de Portugal
com moldes semelhantes aos atuais e teve como vencedor a Académica de
Coimbra (Vários, 2010).
45
2.3. Organização do Futebol Profissional
2.3.1. A Liga Portuguesa de Futebol Profissional
Com o crescente número de clubes e de equipas seniores profissionais
a participar nas competições organizadas pela Federação Portuguesa de
Futebol, houve a necessidade de, após o 25 de abril de 1974, solucionar
alguns problemas que os clubes começaram a sentir. Estes reuniram-se então
com o mesmo objetivo em comum - a organização de todos e a solução de
problemas comuns dos clubes. Na época de 1970-71 tinha havido um pequeno
esboço do que viria a ser o “produto final” da LPFP, no entanto os problemas e
conflitos existentes entre alguns dos clubes foi atrasando o processo ao longo
dos anos (Serrado & Serra, 2015).
Em 1974 são reunidos novos esforços de onde surge uma comissão de
oito membros de clubes pertencentes à I, II e III Divisão e ainda dos escalões
regionais. As principais preocupações da comissão estariam relacionadas com
as exigências do Sindicato do Jogadores, entre elas a extinção do direito de
opção. No entanto, passado nem um mês, a mesma comissão desmembrou-se
devido ao que diziam ser o desinteresse dos clubes, falta de representatividade
e de competências para tentar solucionar as exigências pretendidas pelo
Sindicato (Serrado & Serra, 2015).
Sem nunca desistir, João Rocha e Américo de Sá, reuniram novamente
os clubes onde propuseram a criação de uma Liga aberta a todos os clubes
praticantes de Futebol. Foi então criada nova comissão com representantes do
F.C. Porto, SL Benfica, SC Portugal, CUF, Farense e Belenenses, que teriam
pela frente a elaboração dos estatutos da Liga. O representante do SL Benfica,
Osvaldo Branco, define o objetivo da Liga como encontrar uma posição que
sirva os interesses dos jogadores e clubes.
Feitos e aprovados os estatutos, a Liga não avançou de imediato devido
à obrigação legal, de para a criação de uma associação, ser necessário um
mínimo de vinte membros associados. Estando a criação da Liga num impasse,
Valentim Loureiro e José António Pinto de Sousa (dirigentes do Boavista F.C.),
reuniram com os clubes da zona norte de Portugal continental, inicialmente da I
Divisão e numa fase posterior da II Divisão, sendo que passado pouco tempo já
46
21 clubes teriam aderido à iniciativa podendo então dar seguimento ao
processo.
Com estes novos estatutos, a Liga seria agora apenas aberta a clubes
que possuam nos seus quadros jogadores profissionais, e tinha como
principais objetivos a redução de impostos cobrados sobre o futebol e um
acordo entre os emblemas que modere as elevadas verbas gastas nas
transferências de jogadores, além da negociação com a FPF de questões
relativas ao futebol profissional.
Já na fase final do processo de iniciação da Liga, Pinto de Sousa revela
a lentidão do mesmo, devido à demora por parte dos clubes em enviar a
documentação necessária para a escritura da Liga. Assim sendo, o processo
foi-se adiando até 3 de fevereiro de 1978, dia da assinatura da escritura, que
teve lugar no Porto. Surge então, após alguns anos de sucessivos adiamentos,
a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, que seria uma “associação de
âmbito exclusivamente patronal numa clara atitude de resposta à entidade
representativa dos jogadores” (Carvalho, 2009, p. 255).
Sendo agora oficial a formação da Liga, estava na hora de eleger os
seus corpos sociais, sendo que Calisto Gomes, representante do Belenenses,
foi eleito para Presidente da Assembleia Geral. Faltava eleger, no Executivo,
entre sete representantes dos clubes um Presidente. Os clubes que se faziam
representar no Executivo da Liga eram:
Sporting CP;
F.C. Porto;
SL Benfica;
Boavista F.C.;
Riopele;
Beira-Mar;
Sp. de Braga;
Após votação, o representante do F.C. Porto e Boavista, Pôncio
Monteiro e Olímpio Magalhães respetivamente, foram eleitos diretores
delegados, sendo que o primeiro Presidente da Liga Portuguesa de Futebol
Profissional, inicialmente apenas denominada de “Liga de Clubes” foi João
47
Aranha, representante do Sporting CP. Os restantes seriam vogais do
Executivo.
Apesar de todos estes avanços e do facto de uma ideia se ter tornado
em algo mais “palpável”, havia ainda alguns (três) clubes reticentes em relação
à Liga, entre eles o Rio Ave F.C..
A Liga começa então a trabalhar no sentido da realização dos objetivos
a que se propôs e fez-se representar no Ministério do Trabalho de forma a
conseguir a regulamentação da atividade dos jogadores de futebol. No entanto,
mesmo após algumas tentativas na esperança de unificar a competição
profissional, o trabalho da Liga nunca teve a total confiança por parte dos
clubes, devendo-se em grande parte às rivalidades entre eles - algo natural no
futebol e também no desporto em geral - intensificadas pelos conflitos Norte-
Sul ou até do jogo de interesses nas transferências de jogadores entre os
vários clubes. Segundo os relatos de Américo de Sá “quer os clubes, quer os
dirigentes, quiseram demais da Liga”, que segundo o mesmo se deveria limitar
à resolução de “dois a três problemas” essenciais.
Após alguns anos de variadas indefinições no que diz respeito aos
propósitos da Liga, foram ultrapassando algumas adversidades como a
constituição de mais duas associações - Associação Nacional de Clubes e a
Confederação Portuguesa de Clubes (Carvalho, 2009). Esta dificuldade
“adicional” que apenas servia para, no fundo, descredibilizar a Liga de Clubes
apenas teve fim em 1988 numa reunião no Buçaco onde se revitalizou a Liga
com a extinção das outras duas associações.
Apenas um ano depois da realização da reunião, ocorreu uma
Assembleia Geral da Liga onde se procedeu à alteração dos seus estatutos
sendo que, passou a ter como fins “a promoção e defesa dos interesses dos
clubes, bem como a organização das competições” passando também a
denominar-se “Liga Portuguesa de Futebol Profissional”, designação que ainda
hoje perdura.
Já em 1990 a publicação da Lei de Bases do Sistema Desportivo (e
alterada pela Lei n.º 19/96, de 25 de junho) veio dar ainda mais força à Liga
Portuguesa de Futebol Profissional, com o Artigo 24.º que refere “No seio de
cada federação unidesportiva cujas modalidades incluam praticantes
48
profissionais deve existir um organismo encarregado de dirigir especificamente
as atividades desportivas de carácter profissional, o qual tem de titular
autonomia administrativa, técnica e financeira.” No Artigo 23.º relativo a Liga
Profissional de Clubes no ponto 2. a) referindo-se às competências das Ligas -
“Organizar e regulamentar as competições de natureza profissional que se
disputem no âmbito da respetiva federação, respeitando as regras técnicas
definidas pelos órgãos federativos competentes, nacionais e internacionais;”
Apesar deste “reconhecimento a nível legal”, a Liga Portuguesa de
Futebol Profissional apenas começou a organizar competições profissionais em
Portugal na época de 1995/96, com a organização da I e II Divisão, que são
denominadas atualmente Liga NOS e Ledman LigaPRO.
2.3.2. Competições Profissionais de Futebol
Atualmente a Liga Portuguesa de Futebol Profissional tem sobre a sua
alçada três competições:
I Divisão - Liga NOS;
Liga de Honra - Ledman LigaPRO;
Taça da Liga - Taça CTT;
No entanto, nem todas as equipas/ clubes podem competir nestas Ligas.
O regime de acesso a estas competições é acordado entre a LPFP e a FPF
através de um contrato assinado entre ambas as partes. Esta relação entre as
entidades é regulada através da Lei de Bases da Atividade Física e Desporto
(LBADF), na Subsecção III - Organização das competições desportivas
profissionais, onde no ponto n.º 1 do Artigo 23.º que refere “O relacionamento
entre a federação desportiva e a respetiva liga profissional é regulado por
contrato a celebrar entre essas entidades, nos termos da lei.”. No entanto, uma
vez que as competições são profissionais, o primeiro critério que fará mais
sentido referir, é o facto de os clubes participantes terem de ser profissionais.
49
Isto é, a LBAFD atribui grande autonomia à LPFP, quer em termos de
organização de competições, quer na gestão dos clubes e respetiva
regulamentação.
Mas o que distingue uma competição profissional de uma competição
que não seja profissional? No antigo Estado Novo a lógica do regime
desportivo em Portugal, baseava-se na organização das várias modalidades
através das respetivas federações desportivas que, por sua vez, se dividiam
geograficamente em associações distritais/ regionais, conforme podemos
observar no Decreto nº 32.946, de 3 de Agosto de 1943. Aliás, conforme
podemos ler no preâmbulo do Decreto “(…)deseja-se acabar com negócios que
arruínam os clubes e diminuem o desporto e os desportistas. A beleza do
desporto perde-se quando se converte num modo de vida. Às organizações
cabe assegurar aos seus desportistas o condicionamento indispensável ao
pleno rendimento das suas faculdades físicas; mas deve-lhes ser vedado
comprá-los e a estes vender-se.”, podendo-se aqui reparar que na época em
que foi redigido o Decreto, o Estado se oponha a qualquer tipo de
profissionalismo no Desporto, argumentando que esse tipo de “negócio” iria
arruinar as modalidades.
Apenas no ano de 1960 com a publicação da Lei nº 2.104, de 30 de
Maio, o Estado veio a reconhecer legalmente a existência de alguns tipos de
prática profissional no Desporto. A lei distingue os praticantes como sendo
“amadores”, “não amadores” e “profissionais”, sendo que os praticantes
amadores são aqueles que “(…) não recebam remuneração (…) ou qualquer
proveito material (..)” pela prática desportiva. Os atletas “não amadores” seriam
aqueles que, não sendo profissionais, poderão receber “(…) apenas pequenas
compensações materiais (…)” pelo exercício da sua prática desportiva. Por sua
vez os praticantes “profissionais” seriam todos aqueles que são “(…)
remunerados pela sua actividade desportiva.”.
Apesar deste “avanço” na legislação portuguesa, este artigo apenas se
destina a reconhecer “(…)a prática desportiva a profissionais e não amadores
nas modalidades de futebol, ciclismo e pugilismo(…)”, restringindo assim a
prática desportiva profissional a estas três modalidades. Durante todo este
período em que o regime ditatorial vigorou em Portugal, não mais se escreveu,
50
nem tão pouco foi debatida a hipótese de alargar a prática desportiva
profissional para as outras modalidades, sendo que vivemos então largos anos
com apenas três modalidades reconhecidas como “profissionais” e todas as
outras como “amadoras”.
Após o 25 de Abril de 1974, começou a haver uma maior abertura por
parte dos legisladores em relação à questão do profissionalismo no Desporto.
No entanto, não sendo um assunto considerado como prioritário, apenas em
1990, com a redação da Lei de Bases do Sistema Desportivo, o Sistema
Desportivo Português levou uma grande reviravolta com o facto de ser
reconhecido o carácter profissional a todas as federações unidesportivas pois
no Artigo 24.º relativo ao Desporto profissional no seio das federações, ao
referir que “No seio de cada federação unidesportiva cujas modalidades
incluam praticantes profissionais deve existir um organismo encarregado de
dirigir (…)”, não se limita a referir às modalidades de futebol, ciclismo e
pugilismo, referindo-se a “cada” federação que possua praticantes
considerados profissionais.
Três anos depois, houve a necessidade de os organismos criados para
os fins relatados anteriormente, fossem reconhecidos legalmente de forma a
que a sua existência fosse mais especifica e não houvesse conflito de funções
entre as Federações Desportivas e os tais organismos encarregados da secção
profissional das modalidades. Assim, podemos ver no Decreto-Lei n.º 144/93
de 26 de Abril que refere que as federações em que a modalidade se dispute
sob a forma de competição profissional “(…)deve ser constituído um organismo
dotado de autonomia administrativa, técnica e financeira, integrado, obrigatória
e exclusivamente, pelos clubes ou sociedades com fins desportivos federados
que participem em tais competições.” e ainda que cabe a este mesmo
organismo exercer as competências da sua federação a nível de “(…)
organização, direção e disciplina (…)” dando assim ao organismo constituído
para regular as competições profissionais, quase o controlo total sobre as
mesmas.
Também neste Decreto-Lei se definiram os critérios para os pedidos de
reconhecimento das competições profissionais em que a aprovação ou não das
mesmas caberia “(…) ao Conselho Superior de Desporto reconhecer, (…), o
carácter profissional de cada modalidade (…)”. Este pedido de reconhecimento
51
poderia ser feito por “(…) qualquer clube ou agrupamento de clubes (…)” que
estejam inscritos na Federação da sua modalidade apresentando os elementos
seguintes:
“Massa salarial média dos praticantes e treinadores (…);
Limites mínimos dos orçamentos (…);
Volume médio de negócios correspondente à competição (…);
Número médio significativo de espectadores (…);
Percentagem média de autofinanciamento dos clubes ou
sociedades desportivas;”
Em 1996, com a Lei n.º 19/96, que serviu como revisão da Lei de Bases
do Sistema Desportivo, foram alterados os estatutos da Liga, que apesar de ser
um organismo autónomo da Federação e com autonomia administrativa,
técnica e financeira, passou também a ter personalidade jurídica, ao contrário
da antiga Lei em vigor onde a mesma não era mencionada.
Foram também revistas as competências da Liga sendo que terá a
responsabilidade de “organizar e regulamentar as competições de natureza
profissional”, controlar e supervisionar os “clubes seus associados” e também
“gerir o específico sector da arbitragem”. De modo a salvaguardar as restantes
competências do anterior organismo autónomo e agora definido como Liga
Profissional de Clubes, o mesmo artigo refere que cabe à Liga “Exercer as
demais competências que lhes sejam atribuídas por lei ou pelos estatutos
federativos.”.
Apenas um ano depois da publicação da Lei n.º 19/96, houve a
necessidade de se definir o que seriam consideradas competições desportivas
profissionais e quais seriam reconhecidas ou não como tal. Assim sendo o
Decreto-Lei n.º 111/97 de 9 de Maio, considerou “(…) indispensável adequar o
regime jurídico das federações titulares do estatuto de utilidade pública
desportiva aos novos princípios constantes desta lei, através da qual— como é
sabido — se institucionalizou definitivamente a liga profissional de clubes como
órgão autónomo daquelas federações para o desporto profissional.” Uma vez
que, no caso do Futebol, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional já teria
iniciado a organização de competições profissionais na época de 1995/96, o
52
mesmo documento definiu que “Enquanto não estiverem reconhecidas, nos
termos legais, as competições profissionais de futebol, são consideradas como
tal (…) as relativas à I Divisão e II Divisão de Honra do Campeonato Nacional
de Futebol.”
Já no ano de 1999, o Conselho de Ministros em funções, reconheceu
que as normas para a qualificação de determinadas competições de natureza
profissional, não estariam a produzir os efeitos pretendidos suscitando “(…)
dúvidas de interpretação que ora se procuram eliminar.”
Foi então elaborado o Decreto-Lei n.º 303/99 de 6 de Agosto, onde se
referem os parâmetros definidos para o pedido de reconhecimento da
competição desportiva profissional, sendo eles:
“a) Número mínimo e máximo de clubes ou sociedades desportivas
participantes na competição desportiva profissional por divisão ou escalão;
b) Limite mínimo da massa salarial anual dos praticantes e treinadores de cada
clube ou sociedade desportiva no total do respectivo orçamento;
c) Limite mínimo do orçamento autónomo de cada clube para a respectiva
competição desportiva profissional ou do orçamento de cada sociedade
desportiva;
d) Média do número de espectadores por cada jogo realizado no âmbito da
competição;
e) Requisitos mínimos das instalações desportivas a utilizar por cada clube ou
sociedade desportiva, designadamente quanto ao número de lugares sentados
individuais e normas de segurança nos termos da Lei n.º 38/98, de 4 de
Agosto.”
Para clarificar ainda mais a situação, foram também definidos os critérios
sob os quais os parâmetros enunciados se deveriam fundamentar:
“a) Importância económica da competição;
b) Dimensão social da competição;
c) Importância da mesma no contexto desportivo nacional;
d) Efeitos da participação em competições internacionais;
e) Nível técnico da competição;
f) Existência de vínculos contratuais entre os clubes ou sociedades desportivas
e os praticantes, nos termos da Lei n.º 28/98, de 26 de Junho.”
53
Ao longo do documento vão sendo clarificados os restantes aspetos
relacionados com o reconhecimento como “Remuneração dos praticantes e
treinadores”, “Emissão de parecer”, “Reconhecimento oficioso” e está presente
um capítulo referente à organização em si das competições profissionais.
À semelhança do documento anterior, visto que haveria competições
profissionais que já se estariam a desenvolver, o presente decreto afirma que
“Enquanto não estiverem fixados os parâmetros para as competições
desportivas profissionais, nos termos do presente diploma, são considerados
como tal os campeonatos de futebol da I Divisão e II Divisão de Honra e o
Campeonato da Liga Profissional de Basquetebol.” onde para além do Futebol,
também está abrangida a modalidade de Basquetebol.
Após a redação deste documento, a Assembleia da República apenas
se voltou a debruçar mais a sério na questão no ano de 2007, ano da
publicação da renovada Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto. Neste
documento, a Subsecção III refere-se exclusivamente à Organização das
competições desportivas profissionais. Onde, inicialmente são revistas as
competências relativas às Ligas Profissionais, que agora passam por:
“a) Organizar e regulamentar as competições de natureza profissional,
respeitando as regras técnicas definidas pelos competentes órgãos federativos
nacionais e internacionais;
b) Exercer, relativamente aos seus associados, as funções de controlo e
supervisão que sejam estabelecidas na lei ou nos respectivos estatutos e
regulamentos;
c) Definir os pressupostos desportivos, financeiros e de organização de acesso
às competições profissionais, bem como fiscalizar a sua execução pelas
entidades nelas participantes.”
Neste documento há ainda referências à relação entre a federação
desportiva e a liga profissional da modalidade respetiva (tal como já foi
mencionado no início do capítulo), a regulamentação das competições
profissionais (que serão da competência da liga profissional) e também da
disciplina e arbitragem das competições.
Em 2013 esta lei foi alterada pela Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro,
onde uma das grandes alterações foi a criação do Tribunal Arbitral do Desporto
(TAD), que se trata de uma “entidade jurisdicional independente” e que “tem
54
competência específica para administrar a justiça relativamente a litígios que
relevam do ordenamento jurídico desportivo ou relacionados com a prática do
desporto”.
Deste modo, podemos observar que ao longo dos anos, a legislação
portuguesa teve de se ir adaptando e moldando às necessidades que foi
encontrando com a atribuição de nova legislação. Sempre que se observa
alguma lacuna no sistema desportivo, este tem a capacidade de ser alterado
de forma a ir o máximo possível de encontro à perfeição que melhor se adequa
a todos os interessados no momento.
2.3.3. Agentes Desportivos - Jogadores, dirigentes, empresários
Cada vez mais existem agentes desportivos que vão surgindo com a
evolução do conceito de “Desporto Profissional”. O caso dos empresários dos
jogadores, por exemplo, que começaram a surgir devido aos contratos e
transferências de jogadores.
Assim sendo, também a legislação foi ao longo dos anos, sujeita a
alterações de modo a dar resposta a todas as situações que foram surgindo no
panorama desportivo nacional.
Neste ponto, vamos ver que essas alterações foram surgindo de acordo
com o aparecimento de novos agentes desportivos com influência direta ou
indireta no futebol profissional.
Como já foi referido anteriormente, o Estado Português apenas
reconheceu o profissionalismo no Desporto em 1960, e por isso faz sentido
começar a analisar a legislação disponível apenas a partir desse ano.
Deste modo, e começando pelo agente desportivo que será considerado
o mais importante, ou seja, os jogadores/ praticantes, que na Lei n.º 2.104 de
30 de Maio de 1960 foram distinguidos em três categorias: “amadores, não
amadores e profissionais”, apesar de só admitir a existência de atletas não
amadores ou profissionais nas modalidades de futebol, ciclismo ou boxe.
Todos e quaisquer contratos que possam existir relativamente a praticantes
55
profissionais deverão ser “obrigatoriamente reduzidos a escrito e registado nas
respetivas federações” sendo que, deve constar nos mesmos os “direitos e
obrigações dos interessados (…) e quaisquer outras condições que não
contrariem as disposições legais em vigor”.
No ano de 1990, com a publicação da Lei de Bases do Sistema
Desportivo o Estado afirma no artigo 14.º que estimula a “prática desportiva e
presta apoio aos praticantes desportivos”.
No mesmo artigo, mas no ponto 3, é referido novamente o estatuto de
praticante desportivo uma vez que este será definido “de acordo com o fim
dominante da sua atividade, entendendo-se como profissionais aqueles que
exercem a atividade desportiva como profissão exclusiva ou principal”. Apesar
disso, o regime jurídico destes praticantes profissionais será definido em
diploma próprio, tendo em conta as entidades representativas e as federações
desportivas em causa, já não havendo aqui qualquer distinção a nível da
modalidade.
Apenas no ano de 2007 com a publicação da Lei de Bases da Atividade
Física e Desporto, se voltou a falar nos praticantes desportivos. Nesta Lei de
Bases, é definido novamente o estatuto de praticante desportivo (que não sofre
alterações) e também o regime jurídico dos mesmos onde a única alteração
efetuada é a inclusão das “entidades sindicais representativas dos
interessados”.
Em relação a este regime jurídico que é referido, foi publicado a 18 de
Novembro o Decreto-Lei n.º 305/95, onde se define que um contrato de
trabalho desportivo é aquele “pelo qual o praticante desportivo se obriga,
mediante retribuição, a prestar actividade desportiva a um sujeito que promova
ou participe em actividades desportivas, sob a autoridade e a direcção desta”.
Para além disso, é referido que apenas podem celebrar contratos de
trabalho desportivo a partir dos 16 anos de idade, sendo que enquanto for
menor, o contrato terá de ser subscrito pelo seu representante legal.
No sentido de proteger o jogador, o mesmo decreto-lei prevê ainda a
utilização dos direitos de imagem do mesmo referindo que “Todo o praticante
56
desportivo profissional tem direito a utilizar a sua imagem pública ligada à
prática desportiva e a opor-se a que outrem use ilicitamente para exploração
comercial ou para outros fins económicos.”.
A Lei n.° 28/98 de 26 de Junho (Alterada pela Lei n.º 114/99, de 3 de
Agosto) vem estabelecer um maior rigor ao regime jurídico do contrato de
trabalho do praticante desportivo que estaria em vigor. Este documento
começa logo por estabelecer uma definição mais completa de um contrato de
trabalho desportivo onde, em relação à definição anterior esclarece o “sujeito”
que “promove ou participa em actividades desportivas” como uma “pessoa
singular ou coletiva”.
É estabelecida também a definição de um praticante desportivo
profissional, sendo então “aquele que, através de contrato de trabalho
desportivo e após a necessária formação técnico-profissional, pratica uma
modalidade desportiva como profissão exclusiva ou principal, auferindo por via
dela uma retribuição”.
No mesmo documento, são referidos também os direitos e deveres quer
da entidade empregadora quer do praticante, que estarão na sua génese
direcionadas para a prática desportiva destacando na parte da entidade o
dever de “Proporcionar aos praticantes desportivos as condições necessárias à
participação desportiva, bem como a participação efetiva nos treinos e outras
atividades preparatórias ou instrumentais da competição desportiva” e do atleta
a necessidade de “Prestar a atividade desportiva para que foi contratado,
participando nos treinos, estágios e outras sessões preparatórias das
competições com a aplicação e a diligência correspondentes às suas
condições psicofísicas e técnicas e, bem assim, de acordo com as regras da
respetiva modalidade desportiva e com as instruções da entidade empregadora
desportiva”.
Para além do que foi aqui referido, o documento contempla todos os
parâmetros necessários para a elaboração de um contrato de trabalho
desportivo.
No entanto, ao falarmos de agentes desportivos não nos podemos cingir
apenas aos praticantes, que apesar de serem fundamentais, não são únicos.
57
Há muitos outros que trabalham na “sombra” dos atletas de forma a que todo o
sistema existente em redor destes possa funcionar para que não falhe nada.
Iremos falar agora no exemplo dos dirigentes desportivos e dos empresários
desportivos.
O caso dos empresários de jogadores, que será uma atividade que cada
vez mais está em expansão e na senda dessa expansão foi-se tornando mais
evidente a necessidade de regulamentar a mesma.
Este setor foi aparecendo e desenvolvendo a par da profissionalização
do Futebol, e foi crescendo cada vez mais quando se começou a perceber que
se poderiam obter bastantes rendimentos a partir da negociação de jogadores.
Na década de 80 e início dos anos 90 e anos a legislação existente não
era ainda muito clara no que diz respeito aos contratos dos jogadores com os
clubes e também relativamente às transferências dos jogadores. Assim, a
legislação existente protegia os clubes e no fundo impedia a livre circulação
dos jogadores pela Europa, quase como se o clube fosse o “dono” destes,
tendo quase a totalidade do poder no que concerne aos contratos dos
jogadores.
Por outro lado, em Portugal, não havia tantos condicionalismos e nada
impedia que um jogador com ou sem contrato assinasse por outro clube sem
que esta transição envolvesse qualquer pagamento ao clube “lesado”. Nos
anos oitenta, Futre abandonara o Sporting rumo ao Porto, em sentido inverso
ao de Jaime Pacheco e Sousa que chegavam entretanto a Alvalade. Rui Águas
passara para as Antas com Dito, sem o Benfica ver a cor de um
tostão. Figo mudara-se para Barcelona, e o clube catalão só pagara algo
ao Sporting, para poder manter as boas relações que sempre tinham existido
entre os dois clubes15.
Todo este cenário começou a mudar no final da época 1989-1990
aquando da cessação do contrato entre o R.F.C. Lìege (clube que na altura
competia na Primeira Divisão Belga) e Jean-Marc Bosman (futebolista bela)
devido a este jogador se recusar a reduzir o seu salário em 75%. Na sequência
15 Disponível em: https://www.zerozero.pt/text.php?tp=12&nchapter=5&redirm=1. Consultado a 20 de Maio de 2017
58
desta cessação o jogador é colocado na lista de jogadores transferíveis,
havendo um clube interessado na contratação de Bosman - os franceses do
Dunkerque. No entanto, o clube belga fixa um preço demasiado elevado para a
libertação do jogador o que levou Bosman a mover uma ação judicial contra o
seu clube atual. Enquanto decorria o processo, o jogador ficou sem jogar e foi
posto a treinar de parte. Entretanto, ainda no ano de 1990, o tribunal dá razão a
Bosman e este assina por um outro clube e volta a jogar. Apesar da primeira
vitória, o R.F.C. Lìege recorreu da decisão, o que levou Bosman a ficar
temporariamente suspenso das suas atividades.
A situação foi-se arrastando e com ela foram entrando outras
“personagens” como é o caso da FIFA e da Federação Belga. Apenas em
junho de 1995 o caso chega ao Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE)
onde Bosman reclamava uma indeminização referente ao tempo em que
esteve sem jogar e sem receber ordenado. Em dezembro do mesmo ano o
TJUE considerou ilegais as "indemnizações de transferência", pagamento
exigido no caso de uma transferência por parte do clube de origem ao clube de
destino do jogador, não obstante já ter terminado o contrato que vinculava o
jogador com o clube de origem, dando assim razão a Bosman.
A partir deste momento o mundo do “negócio” do Futebol mudou
completamente e foi aqui que começaram a surgir as “cláusulas de rescisão”
nos contratos dos jogadores, que começariam a auferir salários maiores devido
à possibilidade de mudarem de clube a qualquer momento, o que fez com que
os contratos passassem a ser de maior duração. Aqui, os empresários
começaram a ter um papel mais ativo no processo de gestão de carreira e de
contratos dos jogadores.
Em Portugal, surge em 1998 a primeira definição de empresário
desportivo com a publicação da Lei n.°28/98 de 26 de Junho onde refere que
entende-se por empresário desportivo “a pessoa singular ou coletiva que,
estando devidamente credenciada, exerça a atividade de representação ou
intermediação, ocasional ou permanente, mediante remuneração, na
celebração de contratos desportivos”. Ainda na mesma lei no capítulo IV
referente aos empresários desportivos, no artigo 23.º que os empresários “(…)
devem registar-se como tal junto da federação desportiva da respetiva
59
modalidade(..)”, sendo que se na federação em causa “(…) existam
competições de carácter profissional o registo (…) será igualmente efetuado
junto da respectiva liga.”. Para além disso, o documento refere-se ainda às
remunerações dos empresários que deverão ser pagas apenas pela “(…) parte
que representam.”, ou caso esteja previsto no contrato o montante máximo
recebido é fixado nos 5% do montante global do contrato e ainda às limitações
da atividade proibindo-a a entidades como as sociedades desportivas, clubes,
dirigentes, etc…
A 10 de dezembro de 2000 o Comité Executivo da FIFA reúne-se para
no ano seguinte publicar o “Players’ Agent Regulations” que servirá para
“regulamentar a atividade dos agentes dos jogadores que negoceiam as
transferências dos jogadores dentro da mesma federação nacional ou de uma
federação para outra”. No mesmo documento, é referido que cada Associação
é obrigada a elaborar um regulamento próprio seguindo as indicações do
documento e que posteriormente deverá ser aprovado pela FIFA.
Neste documento podemos observar o avanço da profissão pois, logo no
primeiro artigo referente às regras gerais, é relatado que os empresários
desportivos deverão ser possuidores de uma licença emitida pela sua
Federação de forma a legitimar os seus serviços. É referido ainda que, para a
obtenção dessa licença os candidatos deverão enviar para a sua Federação
uma candidatura escrita e que se esta for válida deverão ser chamados pela
Federação de forma a serem sujeitos a um teste escrito.
O presente documento refere não só os direitos e deveres dos
empresários mas também dos próprios jogadores e clubes envolvidos.
Voltando a Portugal e no ano de 2004 com a publicação da Lei de Bases
do Desporto, voltam os empresários desportivos a ser referidos no Artigo 37.º
onde a sua definição se manteve inalterada acrescentando-se apenas que os
empresários não poderão “(…) agir em nome e por conta de um praticante
menor de idade.”, referindo-se ainda que o regime jurídico da atividade se
encontra em diploma próprio.
Apenas 4 anos depois, a FIFA elabora uma atualização do documento
emitido em 2008 - o “Players’ Agent Regulations”. Uma das grandes alterações
60
foi a obrigatoriedade de se renovar a licença de 5 em 5 anos, o que forçaria os
agentes a efetuar novo exame quando o período da licença termine.
Esta medida provocou uma grande indignação no setor pois segundo o
Presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol "Todos fizemos
esses exames, e na altura foi-nos dito que a licença atribuída era vitalícia", e
prometeram avançar para uma eventual impugnação do documento.
Apesar da revolta o documento entrou em vigor no dia 1 de janeiro de
2008, sabendo-se de antemão que iria ter uma “vida curta”. E assim foi, em
2014 a FIFA aprovou o Regulations on Working with Intermediaries chegando
assim o fim, já há muito anunciado, dos chamados “agentes FIFA”.
Uma das grandes mudanças é o nome com o qual é definida a atividade,
passando agora a chamar-se de “intermediários” e segundo o documento FIFA
um intermediário é aquele que “(…) por cobrança ou de forma gratuita,
representa jogadores e/ou clubes tendo em vista a conclusão de um contrato
de trabalho desportivo, ou representa clubes tendo em vista a conclusão de um
acordo de transferência”16.
Segundo a FIFA, esta tem “a responsabilidade de melhorar
constantemente o jogo de futebol e salvaguardar a sua integridade a nível
mundial. Assim um dos principais objetivos da FIFA é promover e salvaguardar
os padrões éticos nas relações entre os jogadores, clubes e terceira parte.
Mais especificamente a FIFA pretende proteger os jogadores e clubes de
estarem envolvidos em práticas antiéticas ou ilegais no contexto da celebração
de contratos de trabalho ou de transferência.” Posto isto, a FIFA enumera no
documento um guia para as Federações, esquecendo no fundo o licenciamento
da profissão, apostando assim no controlo da mesma e passando para as
Federações o poder de controlar e legislar os intermediários do seu país.
No documento são elaborados alguns requisitos mininos a adotar pelas
Federações, como o registo dos intermediários nas mesmas ou a percentagem
de pagamento aos agentes, mas cabe a cada Federação controlar e
estabelecer um documento próprio para a atividade.
16 Traduzido do Inglês
61
Em 2015 a FPF publicou o “Regulamento de Intermediários”, onde ainda
em relação ao último parágrafo, podemos ler que “Em caso de conflito entre o
presente Regulamento e o Regulations on Working with Intermediaries da
FIFA, prevalece o presente Regulamento”, podendo então concluir o poder das
Federações no que diz respeito à regulamentação da atividade dos
intermediários.
O objeto do documento é claro: pretende estabelecer normas para
regular a contratação dos serviços de um Intermediário por parte de um jogador
ou clube na celebração ou renovação de um contrato ou na transferência
definitiva ou temporária de um jogador.
É então definido o intermediário, sendo este a “(…) pessoa singular ou
coletiva que, com capacidade jurídica, contra remuneração ou gratuitamente,
representa o jogador ou o clube em negociações, tendo em vista a assinatura
de um contrato de trabalho desportivo ou de um contrato de transferência.”.
São também elaborados os requisitos para o registo dos intermediários
sendo que este poderá ser requerido com a duração de uma época desportiva,
no máximo. Para efetuar o registo ou a sua renovação a pessoa individual ou
coletiva terá de pagar a taxa de 1.000€.
A FPF também passa a responsabilidade aos jogadores e clubes de
aquando da contratação dos serviços de um intermediário são estes que se
deverão certificar que o mesmo se encontra registado na FPF. Com esta
medida a FPF pretende que os clubes e os jogadores tenham um papel mais
ativo na prevenção e controlo da atividade dos intermediários, pois ficarão
obrigados a registá-los na respetiva associação relativamente a cada contrato
celebrado, nos quais os intermediários farão parte obrigatoriamente.
Os clubes e agentes passarão, pois, a colaborar de forma ativa na
fiscalização da atividade dos intermediários que contratem, passando a ter
poderes para solicitar toda a informação contratual relevante e a ser
sancionados pelas faltas daqueles.
Desde 2015 que o Regulamento se mantém e parece que a atividade
dos intermediários está controlada, não havendo por isso perspetiva de
alterações num futuro próximo.
62
Para acabar o capítulo dos agentes desportivos, irei agora referir-me aos
dirigentes desportivos/ gestores do desporto. No entanto a informação
disponível relativamente a esta atividade é escassa conforme iremos observar.
Se consultarmos a LBAFD, no seu artigo 36.º referente a “Titulares de
cargos dirigentes desportivos” onde apenas consta a seguinte frase: “A lei
define os direitos e deveres dos titulares de cargos dirigentes desportivos.” No
entanto, relativamente aos gestores do desporto, a legislação portuguesa não
reconhece como profissão não prevendo por isso um regime jurídico da
mesma.
Será por um lado compreensível, uma vez que é uma atividade que tem
vindo a surgir nos últimos anos com mais frequência, no entanto, devido ao
aumento progressivo dos gestores do desporto - havendo inclusive inúmeros
cursos superiores dedicados à atividade - acredito que já se justificava a
reflexão sobre o setor, havendo uma legislação própria para a proteção da
atividade.
2.3.4. Clubes Desportivos e Sociedades Desportivas
Como podemos observar anteriormente em relação às competições
desportivas profissionais, nem qualquer entidade que se dedique à prática
desportiva tem acesso a participar nestas competições. Neste capítulo iremos
aprofundar um pouco as diferenças entre os clubes desportivos e as
sociedades desportivas e também qual destes poderá ter lugar na participação
em competições desportivas profissionais.
Apenas em 1990, já com um avanço significativo no panorama
desportivo profissional em Portugal, se começou a falar na distinção entre
clubes desportivos e sociedades desportivas que há data eram definidos como
“sociedades com fins desportivos”, sendo que estes últimos só nesse ano
surgiram na legislação. Assim na Lei n.º 1/90 de 13 de Janeiro, que dá pelo
nome de Lei de Bases do Sistema Desportivo, que teria como objetivo
estabelecer “(…) o quadro geral do sistema desportivo (…)”, podemos então
observar no Artigo 20.º “Clubes desportivos e sociedades com fins desportivos”
63
no ponto 1 define um clube desportivo como “(…) pessoas colectivas de direito
privado cujo objecto seja o fomento e a prática directa de actividades
desportivas e que se constituam sob forma associativa sem fins lucrativos, nos
termos gerais de direito.”. Passando para o ponto 3 do mesmo artigo que refere
que “A participação de clubes desportivos em actividades de natureza
predominantemente comercial sem incidência directamente desportiva é
condicionada (…)”, ou seja, à data um clube desportivo poderia participar em
competições profissionais, ainda que de forma condicionada.
Por outro lado, no ponto 2 do Artigo 20.º, fala numa “legislação especial”
para aqueles clubes que optarem por promover e constituir uma sociedade com
fins desportivos “(…) para o efeito de proverem a necessidades específicas da
organização e do funcionamento de sectores da respectiva actividade
desportiva.” sendo que estas “necessidades específicas” estarão relacionadas
com a profissionalização do sistema desportivo. Apesar destas definições e da
preocupação em tentar separar os clubes das sociedades, e as competições
desportivas profissionais e não profissionais, a lei não era muito clara
relativamente a esses pontos e acabou por gerar alguma confusão junto da
comunidade.
No ano de 1995 é então publicado o regime jurídico das sociedades com
fins desportivos, onde se começa por alterar o nome para sociedades
desportivas por ser mais simples que o termo anterior.
Começando então por definir sociedade desportiva como “(…) uma
pessoa colectiva de direito privado, criada por um clube desportivo, que tem
por objecto a participação em actividades e competições desportivas de
carácter profissional de uma determinada modalidade (…)”. Um dos pontos que
gerou alguma indignação, foi referente à distribuição dos lucros que deveriam
“(…) reverter para beneficio da actividade desportiva geral do clube.” Retirando
assim um dos principais atrativos para a constituição de uma sociedade, que
seria a distribuição dos lucros pelos seus sócios.
Em 1996 há uma revisão da LBSD, onde será melhor detalhada a
questão dos clubes desportivos que participem em competições profissionais
64
sob a forma associativa ou societária, mas sem nunca tocar no assunto da
distribuição de lucros.
A primeira alteração dá-se logo na definição de clube desportivo, onde
há a divisão de clubes desportivos que participem ou não em competições
desportivas profissionais. Inicialmente, há uma definição geral de clube
desportivo onde é referido apenas que são “(…) pessoas colectivas (…) que
tenham como escopo o fomento e a prática de actividades desportivas.”. No
ponto imediatamente seguinte, é definido um clube desportivo que não
participe em competições desportivas profissionais tendo estes de se constituir
“(…) sob forma associativa sem fins lucrativos.”.
De seguida, é então definido o regime dos clubes que participem em
competições desportivas profissionais. No entanto, nesta fase são dadas
opções aos clubes podendo estes optar por “(…) adoptar a forma de sociedade
desportiva com fins lucrativos, ou o regime de gestão(…)”, este último
mantendo a forma de clube desportivo mas com algumas regras visando a
transparência e rigor na sua gestão.
Contudo, este modelo desportivo não agradou novamente, pois logo no
ano seguinte - 1997 - houve uma vez mais uma revisão visando substituir o
diploma de 1995 com o Decreto-Lei N.º 67/97, de 3 de Abril.
Na sequência deste diploma, os clubes poderiam optar igualmente entre
constituir uma sociedade anónima desportiva, com a obtenção de lucro como
fim, ou a manutenção do estatuto de clube mas com o regime especial de
gestão.
Uma das alterações propostas foi a classificação da sociedade
desportiva como sendo uma sociedade anónima, mantendo-se como objeto a
participação em competições desportivas profissionais. É referido que uma
sociedade anónima desportiva pode resultar a partir “da transformação de um
clube desportivo”, “da personalização jurídica das equipas” ou mesmo “da
criação de raiz” da mesma tendo, em qualquer um dos casos, o objetivo de
participação em competições de natureza profissional.
65
Um “clube desportivo que tiver optado por constituir uma sociedade
desportiva (…) não pode voltar a participar nas competições desportivas de
carácter profissional a não ser sob este novo estatuto jurídico” o que fazia com
que todos os clubes que pretendessem mudar, tivessem de avaliar
criteriosamente essa possibilidade, dado o facto de a transformação ser
irreversível.
A sociedade anónima desportiva seria regida por regras semelhantes às
sociedades anónimas, mas com especificidades decorrentes das exigências da
atividade desportiva (Ribeiro, 2015).
No mesmo documento são estabelecidos também os capitais sociais
mínimos paras as sociedades desportivas que participem na 1ª e na 2ª divisão.
Por outro lado, os clubes que não optassem por assumir o formato de
sociedade desportiva, ficariam sujeitos a um regime especial de gestão que
visava sobretudo a responsabilização dos seus dirigentes permitindo deste
modo uma transparência contabilística, devido também à obrigatoriedade da
adoção de um revisor oficial de contas ou de uma sociedade revisora de
contas, segundo é possível ler no Artigo n.º 41 do Decreto-Lei referido.
Houve, no entanto, uma fraca adesão dos clubes relativamente à
formação de sociedades desportivas, pois as alterações efetuadas não foram
consideradas satisfatórias, uma vez que existiriam desigualdades evidentes
entre as entidades que teriam optado pela transição para a forma societária e
aqueles que decidiram pela manutenção o regime especial de gestão.
Para pôr termo às desigualdades apontadas pelos clubes, em 2013 foi
redigido o Decreto-Lei n.º 10/2013, pondo fim a uma “(…) desigualdade
relativamente a entidades desportivas que haviam assumido uma forma jurídica
societária (…)” quando comparadas com os clubes sujeitos ao regime especial
de gestão. Desta forma, o documento vem impor que “(…) a participação em
competições desportivas profissionais se concretize sob a forma societária -
extinguindo-se assim o regime especial de gestão (…)”.
66
No entanto, há uma grande novidade… Os clubes ao assumir a forma de
sociedade desportiva, poderão agora, eleger a forma de Sociedade Anónima
Desportiva (SAD) ou Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ,
Lda.).
2.3.5. SAD´s e SDUQ’s
Foi então no ano de 2013 que se deu uma grande mudança no que diz
respeito à organização do sistema desportivo profissional em Portugal.
Primeiro, relativamente à obrigatoriedade por parte dos clubes em formar
sociedades desportivas caso pretendam participar em competições desportivas
profissionais. Segundo, relativamente ao aparecimento de um novo tipo de
sociedade desportiva que seria a Sociedade Desportiva Unipessoal por
Quotas.
Há inúmeras diferenças entre uma Sociedade Anónima e uma
Sociedade Unilateral por Quotas, desde logo a sua natureza e os sócios
constituintes das mesmas. Também relativamente ao capital social mínimo
para a sua formação há disparidade quer seja da 1ª ou 2ª Liga, e ainda para o
aumento do mesmo.
Neste ponto vamos detalhar um pouco as diferenças entres as
sociedades, e posteriormente analisar o Decreto-Lei n.º 10/2013, de 25 de
janeiro, tentando assim perceber o que levou um clube como o Rio Ave F.C. a
optar pela SDUQ e não pela SAD,.
Começando pela forma como se dividem ambas as sociedades, ou seja,
as suas ações, podemos desde logo notar uma grande diferença existente
entre a SAD e SDUQ. Enquanto que numa Sociedade Unipessoal por Quotas o
seu capital deve ser “(…) representado por uma quota indivisível que pertence
integralmente ao clube fundador.”, numa Sociedade Anónima as ações estão
divididas em duas categorias: A e B. As de categoria A são “(…) as que se
destinam a ser subscritas pelo clube fundador (…)” e as de categoria B “(…) as
restantes,”, estando estas disponíveis para ser adquiridas por qualquer
67
acionista, não estando os mesmos obrigados a revelar a sua identidade (e daí
o nome de Sociedade ANÓNIMA Desportiva), de acordo com o n.º2 do artigo
5.º que refere que “As ofertas públicas de ações das sociedades desportivas
são reguladas pelo Código dos Valores Mobiliários, com as devidas
adaptações ao respetivo objeto e especificidade.”.
De acordo com o capital social de cada uma das sociedades, podemos
observar as diferenças no Artigo 7.º, não podendo ser inferior a € 1 000 000 ou
€ 250 000, para as sociedades desportivas que participem na 1.ª Liga,
consoante adotem o tipo de sociedade anónima ou de sociedade unipessoal
por quotas ou no caso de participarem na 2ª Liga está fixado € 200 000 ou € 50
000, consoante adotem o tipo de sociedade anónima ou de sociedade
unipessoal por quotas.
Passando agora para a diferença que para mim, terá um peso mais
significativo aquando das decisões de se formar SAD ou SDUQ - cada vez
mais nos tempos que correm - que será relativamente ao aumento de capital
para cada uma das sociedades. Enquanto que, numa SAD o aumento de
capital pode ser realizado com a aquisição de ações por parte de um investidor
seja ele anónimo ou não, estando sujeitos a diversos parâmetros auferindo à
sociedade desportiva um poder maior sobre o seu investimento externo ou
interno, numa SDUQ o mesmo já não acontece.
Uma SDUQ, como já foi referido, apenas apresenta um único sócio que
é o clube fundador. Assim o seu capital social é “(…) representado por uma
quota indivisível que pertence integralmente ao clube fundador.”, sendo que
será “(…) ilícito à sociedade desportiva unilateral por quotas realizar operações
de aumento de capital com a participação de terceiros.”. Deste modo há uma
grande limitação por parte das SDUQ’s que não lhes permite o investimento
externo, ou seja, havendo um aumento de capital terá de participar “(…)
exclusivamente o sócio único (…)”, o que hoje em dia pode significar uma
perda de competitividade por parte dos mesmos em relação às SAD’s.
Em relação ao aumento de capital das SAD há também uma série de
normas que regulam o aumento de capital nas mesmas, como é referido no
Artigo 17.º que passo a transcrever:
68
“1 - Nos aumentos de capital das sociedades anónimas desportivas têm
direito de preferência os que já forem acionistas da sociedade e os associados
do clube fundador, se for caso disso, nos termos determinados pelos estatutos
da sociedade.
2 - Caso a sociedade anónima desportiva seja constituída, nos termos
das alíneas b) e c) do artigo 3.º, com apelo a oferta pública, têm direito de
preferência, na subscrição ou aquisição de participações sociais, os associados
do clube em transformação ou fundador que, em assembleia geral, devem
graduar esse direito de preferência em função da titularidade dos seus direitos
de voto.
3 - A subscrição pelo público em geral pode ser feita em condições mais
onerosas do que as estabelecidas para a subscrição por associados do clube
em transformação ou fundador.”
Deste modo conseguimos perceber as restrições ou não quer das SAD’s
quer das SDUQ’s, dando a conhecer os principais fatores que possam ter
influenciado os clubes aquando da tomada de decisão entre um ou outro
modelo.
69
Capítulo 3 - Realização da prática profissional
3.1. Descrição das Atividades
Passando agora para parte onde irei relatar mais pormenorizadamente
aquilo que foi o estágio propriamente dito, descrevendo as atividades
desenvolvidas ao longo do mesmo.
Queria antes de começar, deixar a ideia que este estágio no
Departamento de Futebol Profissional do Rio Ave F.C. foi das experiências
mais enriquecedoras que tive a nível profissional / curricular. Excedeu todas as
minhas expectativas desde logo pela abertura que o Departamento teve
comigo, que por se tratar de um Departamento com alguma importância no
panorama futebolístico não esperava que me abrissem as portas tão
rapidamente como o sucedido.
Por isso mesmo queria deixar o meu agradecimento sentido ao Rio Ave
F.C. na pessoa que do Dr. Miguel Ribeiro, diretor-geral do Futebol Profissional
do clube, que me recebeu de uma forma extraordinária e me deu esta
oportunidade, e também ao Gualter Pires, secretário-técnico da equipa sénior,
que foi a pessoa que mais me acompanhou ao longo do estágio.
Como já referi anteriormente, o meu estágio no Rio Ave F.C. apenas
começou em janeiro de 2017, devido aos problemas ocorridos nos meses
anteriores. Para ser mais exato o estágio teve início no dia 10 de janeiro, e a
partir desse dia trabalhei sem interrupções e intensamente (até feriados) de
forma a aproveitar ao máximo a oportunidade de adquirir conhecimento e
experiência, e por outro lado para cumprir as 500 horas estabelecidas no
regulamento.
3.1.1. Familiarização com a SDUQ
Inicialmente, não sabia bem o que esperar, pois tratava-se de uma
equipa profissional e que compete ao mais alto nível, tendo inclusive nas
últimas épocas discutido o acesso às competições europeias. Assim a minha
dúvida seria qual seria o limite das minhas atividades e até onde me iriam
deixar ir.
70
No entanto logo percebi que se tratava de um clube bastante liberal pois
no primeiro dia de estágio fui logo convidado a assistir a uma reunião relativa
ao licenciamento da UEFA. Neste momento, senti logo que estava no sítio
certo e que só iria depender de mim aproveitar todos os momentos desta
experiência de modo a enriquecer o meu conhecimento.
O estágio teve início no mês de janeiro, que no mundo do futebol é um
espaço temporal bastante atribulado e confuso, visto tratar-se do mês do
“mercado de inverno” onde os clubes aproveitam para fazer pequenos ajustes
nos planteis e onde há bastantes “jogadas de bastidores”. Devido a este fator,
ficou definido pelo meu supervisor local de estágio, o Dr. Miguel Ribeiro, que
nos primeiros tempos iria passar pelos vários departamentos de forma a que
pudesse ter uma ideia de como funciona um departamento profissional de uma
equipa de futebol.
Nesse sentido, nos primeiros tempos estive presente no departamento
de comunicação e no de marketing, onde tive a oportunidade de perceber qual
a importância de ambos os departamentos para o clube.
Inicialmente, no departamento da comunicação, estive à conversa com o
assessor de imprensa, Pedro Colaço, que me explicou por alto aquilo que fazia
no departamento e quais os encargos mais diários e rotineiros presentes no
departamento.
Apesar de não ter a oportunidade estar presente durante nenhuma flash-
interview (devido às restrições impostas pela Liga, em relação à permanência
de pessoas estranhas nas áreas de acesso aos balneários e túnel de acesso
ao relvado), fiquei a perceber o seu funcionamento.
Pegando na explicação que me foi dada, passo a citar os passos para a
elaboração de uma flash. Nos últimos 15 a 20 minutos de cada jogo, a
operadora televisiva responsável pela transmissão dos jogos - normalmente a
Sport TV ou a Benfica TV no caso dos jogos em casa do seu clube - transmite
ao assessor de imprensa três nomes de jogadores que estiveram presentes no
jogo e que de algum modo a operadora acha que tiveram algum papel decisivo
para o jogo. Destes três nomes o assessor de imprensa irá eleger um deles
que de acordo com a estratégia de comunicação da equipa cumpre os
71
parâmetros para ser o escolhido a falar à imprensa que podem depender do
resultado do jogo, da maneira como cada jogador lida com a derrota ou a
vitória, o que se passou durante o jogo ou mesmo na semana que antecedeu o
mesmo, se o jogador marcou ou não golos, se o guarda-redes fez uma boa ou
má exibição, se o árbitro teve ou não influência direta no resultado, etc... Após
essa decisão, o assessor de imprensa comunica ao jornalista representante da
operadora qual foi o jogador selecionado para este se preparar relativamente
às perguntas que irá fazer.
Também o assessor de imprensa deve preparar um pequeno apanhado
de perguntas possíveis de serem postas pelo jornalista e por outro lado qual
será a melhor estratégia para responder a essas possíveis perguntas. Após o
término do jogo o assessor de imprensa transmite ao jogador escolhido que
terá de falar ao jornalista e expõe-lhe as 4 ou 5 questões mais prováveis e a
melhor maneira de responder. O mesmo se passa com o treinador da equipa
que é sempre entrevistado - exceção se for expulso no decorrer da partida.
No entanto, foi-me também explicado que a flash-interview é das
entrevistas mais “perigosas” que existe no mundo do futebol e que apesar de
ser de curta duração pode estragar toda uma estratégia de comunicação
elaborada durante semanas. Isto porque de acordo com o resultado do jogo, ou
até da exibição da equipa onde o resultado não foi o esperado, os jogadores de
cabeça quente não reagem da melhor maneira às perguntas.
Assim sendo apesar de haver uma estratégia definida e transmitida
previamente ao jogador, este não estando tranquilo pode dizer algo irrefletido
ao jornalista e “deitar tudo a perder”. Isto porque se trata de uma entrevista que
ocorre nos momentos imediatamente seguintes ao término do jogo onde as
emoções ainda estão à flor da pele.
Para contar um episódio que retrata bem esta situação, um jogo em que
o Rio Ave F.C. perdeu por 4-0 no Estádio da Luz, o assessor de imprensa
escolheu o capitão de equipa para falar ao jornalista, por se tratar de um
jogador mais experiente e mostrar que a equipa não se iria afetar pelo
resultado pesado.
72
No entanto, ao transmitir ao jogador que teria sido ele o escolhido ele
mostrou-se visivelmente irritado e disse “Fod*-**, quando perdemos sou
sempre eu…”. Aqui podemos ver que o jogador ainda não tinha sido sujeito a
nenhuma questão e já estava de cabeça perdida após um jogo que não tinha
corrido bem à equipa e estaria ainda de cabeça quente.
Outro episódio que me transmitiram foi relativamente à escolha dos três
jogadores por parte da operadora televisiva para posterior seleção do clube. No
caso da Benfica TV, quando o SL Benfica joga em casa, é a sua televisão que
tem os direitos de transmissão e por isso são eles que conduzem a flash-
interview dando também a escolher os clubes entre três jogadores
selecionados por eles.
Neste caso o que a BTV faz é restringir sempre a escolha para três
jogadores defensivos, normalmente o guarda-redes e dois defesas. Ora, como
um dos princípios da flash é entrevistar o jogador que mais se destacou
durante o jogo, ao selecionar apenas jogadores defensivos, passa a ideia que o
clube da casa teve um domínio total do jogo e que a equipa adversária apenas
se preocupou em defender devido à superioridade do adversário. Aqui fica bem
evidente uma estratégia de comunicação onde se pode indiretamente
condicionar a análise do jogo que ocorreu.
Relativamente ao Departamento de Marketing, a minha passagem foi
mais breve. Tive apenas conhecimento de algumas ações que iriam realizar no
próximo jogo, onde ao intervalo iria atuar um grupo de artes marciais que tem a
sua escola na cidade de Vila do Conde.
Estes dois departamentos estão em constante comunicação e a sua
ligação é muito forte. Aliás, até há bem pouco tempo eram um só -
Departamento de Comunicação e Marketing.
Como já referi anteriormente, nos primeiros dias de estágio, fui
convidado a participar em uma reunião interna relativa ao licenciamento da
UEFA. Este licenciamento é um regulamento que rege os direitos, tarefas e
responsabilidades das sociedades desportivas que participam na I Liga. Aqui
são definidos os critérios desportivos, relativos a infraestruturas, administrativos
e relativos ao pessoal, jurídicos e financeiros mínimos a serem cumpridas por
73
uma sociedade desportiva para obter uma licença de modo a participar nas
competições de clubes da UEFA.
A reunião à qual tive a oportunidade de assistir, serviu para que se
definissem os métodos a utilizar de modo a que todos os critérios impostos
pelo regulamento fossem cumpridos e também ficaram definidas metas
temporais para que os mesmos fossem estabelecidos. Um dos objetivos deste
regulamento é garantir que os clubes têm um nível de gestão e de organização
apropriado. A reunião não se prolongou por muito tempo, pois todas as
pessoas envolvidas já estariam familiarizadas com o assunto sendo que os
processos que teriam sido utilizados em anos anteriores foram mantidos, pois a
sua “fórmula” era de sucesso, uma vez que todos os critérios terão sido sempre
cumpridos.
De referir que senti-me bastante lisonjeado em estar presente nesta
reunião, pois o convite feito pelo Dr. Miguel Ribeiro demonstrou a abertura que
toda a estrutura iria ter comigo ao longo do estágio o que me deixou ainda mais
entusiasmado e confiante para enfrentar este desafio.
Permanecendo ainda na fase de adaptação ao clube, tive também a
oportunidade de participar e estar envolvido na organização de um jogo com o
Diogo Bravo, que acumula as funções de OLA com o Departamento de
organização de jogos.
O jogo em causa, seria em casa entre o Rio Ave F.C. contra o Sporting
da Covilhã a contar para a Taça da Liga e por isso seria um jogo onde era
expectada pouca adesão do público para assistir ao jogo. Deste modo, acabou
por facilitar o meu envolvimento na organização uma vez que a pressão do
mesmo era de baixo risco.
Tendo tido um primeiro contacto com a maioria dos departamentos
estávamos ainda no mês das transferências do mercado de inverno, o Rio Ave
F.C. acabou também ele por se reforçar com a contratação de alguns
jogadores. Um deles, o Bruno Teles, que vinha do Brasil chegou em um dos
dias em que estava ao serviço.
74
Assim sendo, fiquei encarregue de receber o jogador e o seu empresário
e encaminhá-los para uma conversa com o Mister Luís Castro. Depois de
algum tempo o Bruno teve uma conversa a sós com o Mister no seu gabinete e
eu fiquei com o seu empresário, levando-o a visitar o estádio por dentro e a
tomar café na tribuna Prestige.
Apesar de o jogador ter chegado de viagem nesse mesmo dia, veio com
vontade de treinar e de se juntar rapidamente aos seus novos colegas e
mesmo não estando planeado o Bruno acabou por fazer o treino dessa manhã.
Enquanto isso acompanhei o seu empresário para que ele pudesse ver um
pouco do treino e quando o Dr. Miguel Ribeiro chegou tive a oportunidade de
assistir a uma pequena conversa entre os dois onde se finalizou o processo de
contratação do jogador.
Após acertados os últimos detalhes faltavam ainda alguns processos no
decorrer da contratação de um jogador e que também tive a oportunidade de
assistir e participar. Primeiro, entra em “cena” o Departamento de
Comunicação que tem como função a divulgação da contratação aos seus
sócios através das redes sociais e do seu site (Fig. 11).
Depois juntamente com o seu empresário o clube disponibilizou vários
apartamentos que pertencem a uma empresa parceira do Rio Ave F.C., para
que o jogador na parte da tarde fosse visitar e escolher o seu novo lar.
Figura 11- Anúncio da contratação de Bruno Teles no site do clube
75
Finalizado o processo de contratação e das assinaturas, estava na altura
de submeter a sua inscrição no portal da Liga para que o jogador pudesse
jogar já na próxima jornada. Hoje em dia para se efetuar a inscrição de um
jogador na Liga e comunicar a sua transferência - seja compra ou venda - é
tudo feito em plataformas online específicas, o que facilita todo o processo.
Também importante, quando se trata de jogadores estrangeiros e de
origem não europeia, é tratar de toda a documentação para o SEF, fazendo
primeiro que tudo o seu agendamento para tratar do seu visto de trabalho e de
residência.
Relativamente à venda e compra de jogadores, estive presente numa
reunião com o Diretor Geral do R.A.F.C. e o Team Manager da equipa principal
com alguns representantes da OnSoccer Iternational - empresa que se destina
ao agenciamento de jogadores de futebol - e que tinha como finalidade o
estudo da possibilidade ou não de o R.A.F.C. contratar um jogador com a idade
de júnior proveniente do Gana e que a empresa tinha a convicção que poderia
ser um negócio proveitoso para as três partes - jogador, clube e empresa.
Esta reunião foi ainda algo demorada, uma vez que ao longo da
conversa foram aparecendo alguns entraves legais para a vinda do jogador
para Portugal como é o caso de o mesmo ter contrato profissional no seu país
o que obrigaria a obter o mesmo estatuto em Portugal.
Para finalizar este primeiro mês, tive também a oportunidade de estar
envolvido em um dos dois dias mais movimentados e agitados do mundo do
futebol - o 31 de janeiro aquando do encerramento do mercado de
transferências. Neste dia todo o staff trabalha intensamente pois tudo tem de
ser feito com a maior urgência possível de modo a que se cumpram os prazos
e as transferências sejam encerradas com sucesso.
Neste caso, participei - ainda que indiretamente, com o transporte de
alguns documentos de um local para outro e a assistindo aos processos de
contratação - na venda do Filipe Augusto ao SL Benfica e na contratação, por
empréstimo, do Adama Traoré ao AS Mónaco e do Radosav Petrovic ao
Sporting CP.
76
Este primeiro mês foi bastante importante para mim, primeiro por ser um
período de adaptação quer às funções que iria desempenhar quer às pessoas.
Segundo creio que foi algo muito marcante para mim visto que inicialmente não
expectava a oportunidade de participar em algo tão relevante como o facto de
estar envolvido nas negociações de compra e venda de jogadores - algo que
será das atividades com um peso mais significativo nas atividades de uma
sociedade desportiva.
3.1.2. Gestão das Competições Profissionais
A vida de uma sociedade desportiva é gerida muito com base nas
competições desportivas nas quais participam.
Assim como não podia deixar de ser muitas das atividades que
desempenhei na SDUQ foram relacionadas com o campeonato nacional,
competição na qual o Rio Ave F.C. participava todas as semanas.
Nos próximos pontos irei descrever as atividades desempenhadas em
redor do Evento.
3.1.2.1. O Pré-Evento
Passada a fase de adaptação, comecei a ter algumas funções mais fixas
na estrutura do clube. Assim sendo iniciei atividades junto do Team Manager
da equipa - o Gualter Pires - e fui acompanhando-o ao longo da época.
Basicamente era o seu braço direito, ajudando-o no decorrer das suas funções
conforme as necessidades.
A maior parte dessas funções passavam-se em redor do jogo, quer a
preparação, quer no decorrer do mesmo e mesmo após a sua realização.
Passarei então a enunciar as atividades realizadas ao longo da época, e
que se repetiam todas as semanas, na preparação para os jogos: o pré-jogo.
77
Qualquer jogo, seja ele em casa ou fora,
é necessário uma preparação bastante
minuciosa, uma vez que a este nível nada
pode falhar. Assim sendo, no início de cada
semana e antes de cada jogo dá-se início à
preparação dos mesmos e que envolve assaz
rigor.
É então feito um dossier na capa está a
informação do jogo (competição, adversário,
data, hora e local) e na contracapa está
presente uma checklist (Fig. 12) com todas as
tarefas e material necessário para o jogo em
questão.
Ao longo do decorrer do estágio fui começando a ter mais autonomia na
preparação dos jogos sendo que muitas das vezes era eu que percorria a
checklist para que não falhasse nada.
A preparação de um jogo envolve inúmeras obrigações, desde logo a
reserva dos hotéis para estágio próximo do local onde se irá realizar o jogo. No
R.A.F.C., aquando dos jogos em casa a concentração dos jogadores
convocados é feita no dia de jogo e antes do almoço sempre no estádio do
clube. Após a concentração os jogadores e equipa técnica deslocam-se para o
Hotel Santana, em Vila do Conde, para o almoço e após o mesmo descanso
nos quartos até próximo da hora de jogo, para finalmente se deslocarem para o
estádio.
Quando o jogo é fora e o local da realização do mesmo é mais para a
zona centro ou sul do país, a concentração é feita no dia anterior e os
jogadores pernoitam num hotel na mesma localidade onde se encontra o
estádio da equipa adversária. No caso de o jogo ser fora mas em local próximo
de Vila do Conde, o procedimento é o mesmo dos jogos em casa. Para que
não haja dúvidas é distribuído a todos os atletas uma folha com todas as
informações relativas ao estágio, inclusive os horários (Fig. 13).
Figura 12 - Checklist de Necessidades para o Jogo
78
Usualmente as situações de reservas de hotéis não gera muita
complicação pois nos jogos casa ou nas localidades próximas de Vila do
Conde, o hotel no qual a equipa fica alojada é sempre o mesmo. Também nos
jogos onde implica que os atletas pernoitem no hotel, o clube tem também
algumas parcerias, de modo a facilitar a comunicação entre ambas as
entidades.
No entanto, casos como a deslocação à Madeira, envolve muito mais
preparação e logística relacionada com os voos uma vez que só teremos a
informação dos passageiros no dia da viagem aquando da saída da
convocatória.
Isto implica um acordo entre a companhia aérea, a agência de viagens e
o clube para que mal saia a convocatória os nomes e lugares sejam enviados
de modo a que os bilhetes possam ser emitidos imediatamente. É também
necessário reunir toda a documentação dos jogadores que irão fazer a viagem.
Em qualquer um dos casos, é necessário com alguma antecedência
reservar os hotéis sendo a ementa das refeições é elaborada pelo nutricionista
do clube e deste modo enviadas todas as indicações relevantes para o local da
refeição.
Figura 13 - Exemplo de horário para um estágio
79
Feitas as reservas, e tendo as confirmações dos locais quer de estágio
quer de jogo, é necessário preencher um questionário relativamente às horas e
percursos que a equipa irá efetuar e posteriormente enviar à polícia para que,
se necessário, elaborar um plano de segurança de acompanhamento ao
autocarro, caso seja considerado um jogo de risco.
A Liga envia para os clubes alguma documentação relativa ao jogo.
Inicialmente os clubes recebem um croqui referente
aos equipamentos de jogo das duas equipas (Fig.14)
e também da equipa de arbitragem, para que os
clubes possam preparar os equipamentos com
alguma antecedência. O Team Manager é quem
recebe as informações da Liga, e mal recebe a
informação relativa aos equipamentos ele transmite
imediatamente a informação para o roupeiro pois, é
este que trata das camisolas e calções para jogos e
estampagens, caso seja necessário.
As nomeações dos árbitros e delegados da Liga são também enviadas
para os clubes e disponibilizadas no site oficial da Liga (Fig. 15). Esta
informação é colocada num documento excel com a informação de todas as
nomeações durante a época.
Figura 14 - Croqui de Equipamentos para Jogo
Figura 15 - Nomeações de Arbitragem para Jogo
80
Para além desta informação, a Liga trata de
enviar para ambos os clubes que se irão defrontar,
os vários modelos criados pela instituição e que
deverão ser preenchidos pelos mesmos. Assim os
responsáveis pelas equipas terão acesso aos dados
relativamente aos agentes desportivos do
adversário que poderão circular na área técnica do
estádio - balneários e corredores de acesso aos
mesmos e ao terreno de jogo - antes, durante e
após a realização da partida.
Todos os documentos oficiais inerentes ao processo do jogo a realizar
são colocados no dossier relativo ao jogo em questão (Fig. 16).
Ademais dos documentos oficiais, o Gualter Pires trata de reunir alguma
informação para a equipa técnica, que ao longo do tempo fui eu que passei a
ser o responsável por tratar dos documentos, como é exemplo a documentação
relativa ao número de cartões dos jogadores. É disponibilizada à equipa
técnica, a informação dos jogadores em risco de exclusão, no caso da
mostragem de algum cartão amarelo ou mesmo se algum se encontra excluído
do jogo, e por isso indisponível para ser convocado (Fig. 17).
Figura 17 - Mapa de Castigos do Plantel
Figura 16 - Folha de Rosto do Dossier
81
É também reunida a informação do Departamento Médico, no sentido de
perceber se há algum jogador com limitações físicas que também não possa
ser convocado.
No último treino antes do jogo o Team
Manager prepara um convocatória com todos os
jogadores disponíveis e coloca a folha no seu
gabinete. Após o término do treino o mister,
juntamente com a equipa técnica, dá a indicação
dos convocados, não convocados e hora de
concentração fazendo chegar a informação ao
Gualter que a passa numa folha própria (Fig.
18). A convocatória final é impressa em
triplicado, uma das folhas é colocada no
balneário para que os atletas a possam
consultar, outra é colocada na secretaria à saída do estádio para que os
convocados a possam assinar. Por último, a terceira é colocada no dossier,
para posteriormente ser arquivada.
Juntamente com a convocatória, é colocado no gabinete da equipa
técnica o plano semanal de treinos (Fig. 19) da semana seguinte, onde apenas
constam os dias da semana e o jogo oficial com a data e horas marcadas.
Deste modo, o mister preenche o planeamento dos treinos colocando os dias,
hora e local do treino (campo principal ou campo de treino) que depois de
impresso e assinado pelo mesmo, é afixado no balneário dos jogadores para
que estes tenham conhecimento dos dias em que terão de se apresentar nos
treinos.
Figura 18 - Convocatória Base para Jogos
82
Figura 19 - Exemplo de Plano Semanal de Treinos
O plano semanal é também digitalizado e enviado para o Presidente,
Vice-Presidente e Diretor Geral para que estes tenham conhecimento dos
mesmos, para a rouparia de forma a que tenham a roupa de treino preparada
para dar resposta a todos os dias de treinos, para a funcionária que trata dos
pequenos-almoços para que os jogadores tenham o pequeno-almoço antes do
treino, para o Departamento de Comunicação de forma a que o comunicação
social seja informada dos dias de treinos que serão à porta aberta. Finalmente,
é também enviado para a empresa que trata da relva de modo a que seja feito
um planeamento de tratamento da relva de ambos os campos.
Após a confirmação das datas e horas dos treinos e dos jogos oficiais, é
necessário conferir os mesmos com o planeamento trimestral (anexo 8)
espectado que é enviado para o ADOP - controlo anti-doping - se houver
alguma incongruência é necessário dar a informação da alteração, pois caso os
agentes se desloquem ao estádio em dia que não haja treino, o clube corre o
risco de como sanção, todos os jogadores do plantel acusem positivo no
controlo e desta forma não poderão competir.
No final de todos os documentos preenchidos e toda a informação
relativamente ao jogo disponível, está na altura de percorrer a check list de
forma a verificar se está tudo presente - caso de credenciais, licenças de
atletas, equipa técnica e staff, impressora portátil, braçadeiras, dinheiro,
documentos oficiais de jogo, etc…
Todos os jogadores, nos jogos em casa, terão direito a bilhetes para os
próprios (caso não sejam convocados) ou para familiares. O levantamento é
83
feito após o último treino e é também o Team Manager que faz o controlo da
distribuição de bilhetes, para posteriormente fazer chegar essa informação ao
Departamento de Organização de Jogos.
Ainda relativamente ao pré-evento, tive também a oportunidade de
contactar com o Departamento de Organização de Jogos, que tem também
grande importância na preparação de cada jogo. Como referi anteriormente,
tive a oportunidade de participar nos preparativos do jogo a contar para a Taça
da Liga entre o R.A.F.C. e o Sporting da Covilhã.
Este Departamento tem um gabinete onde é aberta a preparação de
cada jogo. Inicialmente, é sempre feita uma check-list com todas as
necessidades para o jogo em questão. Esta lista, serve de suporte para que
não haja esquecimentos e aquando da realização do jogo, já tudo tenha sido
preparado dentro dos prazos estipulados.
Seguidamente, tive o primeiro contacto com os modelos da Liga que
deveriam ser preenchidos na preparação para o jogo. O modelo P (Fig. 20)
onde são descritos todos os agentes do clube que poderão ter acesso e direito
de permanência nas áreas restritas do estádio antes, durante e após o jogo. Os
modelos L e O (Fig. 20) que terão de ser enviados para a Liga e que dizem
respeito à bilheteira - número de bilhetes, áreas respetivas e o preço
disponibilizado.
Estando os modelos L e O preenchidos, são então impressos os bilhetes
de acordo com os mesmos. Todos os bilhetes impressos são contabilizados e
estão discriminados no sistema. Sistema este, que está ligado aos torniquetes,
fazendo a contagem das pessoas presentes a assistir ao jogo. Este software
serve para verificar a compatibilidade entre os bilhetes vendidos e as pessoas
presentes no estádio que compraram bilhete ou entraram por convite, dando no
final a relação do lucro obtido com a venda dos bilhetes. No final, esta relação
é verificada e enviada para o Departamento de Contabilidade que irá tratar os
dados recebidos.
84
Figura 20 - Exemplos de Modelos Enviados para e Liga e Clube Adversário
Após a fase inicial mais “burocrática”, é tempo de reunir com o staff do
estádio, para se perceber se está tudo funcional ou se será necessário alguma
intervenção ou cuidado especial de última hora. Aqui é também organizado o
catering, que irá servir de apoio às tribunas VIP e Prestige, bem como aos
camarotes dos patrocinadores.
É também feito o contacto com a Polícia local e a empresa de segurança
privada, que serão informados da data e hora do jogo, para que possam
elaborar um plano de policiamento adequado. O esquema de planeamento da
segurança privada é elaborado pelo Diogo, que informa de quantos membros
irá precisar no total, sendo depois efetuada a distribuição dos mesmos para os
vários locais do estádio: a bilheteira, loja, as várias portas e torniquetes, parque
de estacionamento, zona restrita aos atletas e staff e tribunas. Para além disso,
é necessário também convocar os stewards que irão estar presentes na
bancada e, caso seja necessário, elaborar um plano de acompanhamento entre
as entidades de segurança e o clube visitante para as claques adversárias.
O jogo é também comunicado à Câmara Municipal de Vila do Conde,
uma vez que existe um protocolo entre a CMVC relativo à utilização do parque
de estacionamento, em que o clube autoriza que se realize no mesmo espaço
a feira todas as sextas-feiras e em contra partida, a CMVC disponibiliza o
gradeamento para separar as zonas no parque destinadas à equipa da casa,
visitante, sócios e adeptos.
85
No dia de jogo é necessário testar todos os equipamentos de forma a
verificar se tudo se encontra em conformidade. Todos os torniquetes são
testados, para que não haja atrasos nem confusões na hora de jogo. Ao
mesmo tempo do teste dos torniquetes as aberturas das portas são também
testadas. A relva é medida para se verificar que se encontra de acordo com o
regulamento da Liga. O sistema de comunicação usado por todo o staff é
também testado para que não haja problemas de comunicação durante o
evento.
Tudo é testado até ao limite para que não falhe nada. Para mim, um
mero adepto, não fazia a mínima ideia de toda a envolvência necessária para a
realização de um simples jogo. Foi também, por isso, uma experiência bastante
interessante e enriquecedora.
Como podemos observar, a preparação de um jogo envolve muita
organização e muitos técnicos, e por isso, é iniciada com algum tempo de
antecedência. A minha experiência ao longo do estágio, fez-me perceber
muitas situações que até à data não fazia ideia serem necessárias e creio que
me preparou, para assumir algum cargo numa equipa profissional pois,
felizmente estive envolvido ativamente na participação das funções.
3.1.2.2. O Evento
Chegamos ao jogo, o evento tão esperado e para o qual todos trabalham
tão intensamente ao longo da semana. Tudo se resume aos 90 minutos e ao
curto espaço de tempo antes e depois do mesmo. Todo o trabalho de uma
semana será posto à prova, sendo que, para o público em geral apenas conta
se a equipa ganha, perde ou empata.
Nos instantes que antecedem o jogo todo o staff anda que nem “baratas
tontas” de um lado para o outro, na verificação para que tudo esteja a correr
conforme planeado. Todo o staff presente no estádio está em constante
comunicação, através de walkie talkies, para caso haja alguma situação que
86
seja necessário resolver, esta seja imediatamente comunicada à pessoa
responsável.
Apesar de tanta azáfama, por tudo aquilo que tive a oportunidade de
assistir ao longo dos jogos em que participei, deu para perceber que a
“máquina estava bem oleada”, onde cada um dos responsáveis e staff em
geral, estariam bem cientes das suas funções para que tudo funcione da
melhor maneira. No entanto, percebe-se a inquietação dos responsáveis uma
vez que, a preocupação de que alguma coisa falhe está sempre presente,
porque como diz o ditado: “Mais vale prevenir do que remediar”.
No entanto, por vezes a prevenção não é suficiente e há coisas que
falham, como por exemplo, um WC que acabou por ter uma avaria em um dos
jogos, mas que foi imediatamente resolvida devido à comunicação constante
que já foi referida.
Durante os jogos, as minhas tarefas não seriam tão preponderantes
como na sua preparação, uma vez que a Liga tem inúmeras restrições
relativamente ao staff presente nas áreas técnicas. No entanto, na medida do
possível e na posse da credencial mais básica ajudava naquilo que podia.
Relativamente à missão que tive nos jogos, não seria tanto na ordem da
gestão propriamente dita (devido às limitações já referidas), mas mais no
âmbito da ajuda no transporte de material de um lado para o outro, ou a mais
evidente seria a minha presença na bancada televisiva, no topo da cobertura
do estádio, onde teria uma visão mais abrangente do relvado e uma televisão
onde estaria a dar o jogo em direto. A minha ocupação seria, ao longo do jogo,
no caso de algum lance polémico ou de dúvida, filmar a repetição do lance na
TV disponível (Fig. 21) e enviar para um elemento da equipa técnica presente
no banco, para que estes tivessem a informação correta de avaliação do
mesmo, para não contestar a decisão do juiz da partida em vão.
87
Figura 21 - Exemplos de Vídeos Filmados por mim e enviados para o banco
No final do jogo, estava na altura de arrumar o material usado no
decorrer do mesmo e esperar que os árbitros e delegados da Liga
abandonassem as instalações, bem como os jogadores de ambas as equipas.
Esta pequena experiência trouxe-me grande proveito pois, pude
perceber e participar em todo o envolvimento dos jogos, constatando assim
que um simples jogo não se resume apenas ao que se passa dentro de campo
mas, envolve muita gente para que tudo corra na perfeição.
Creio que o maior sinal deste trabalho de todo o staff, é o simples facto
de os adeptos - como eu - não nos apercebermos minimamente de toda a
preparação que envolve cada jogo.
3.1.2.3. Pós-Evento
Outra das atividades pela qual fiquei responsável, e talvez a que me
ocupou mais tempo, foi o pós-jogo e todas as incumbências inerentes a ele.
Nos dias seguintes a cada jogo, era necessário conferir todos os documentos
relacionados com fichas de jogo e faturas inerentes ao estágio da equipa, de
forma verificar se tudo está conforme os acontecimentos.
88
Após a receção do recibo por parte do hotel, era necessário verificar se
os itens descritos no mesmo estariam de acordo com o que foi consumido -
número de quartos e de refeições - e também de acordo com os valores
acordados previamente. Feita a verificação, era dado o aval ao Departamento
de Contabilidade para efetuar o seu pagamento. Nos arquivos da secretaria,
ficava sempre uma cópia de cada fatura ou recibo e do comprovativo de
pagamento.
Para além da
verificação de contas, era
necessário atualizar as
estatísticas de jogo numa
base de dados feita em
excel referentes aos
tempos de jogo e
jogadores convocados ou
não, golos marcados ou
sofridos (Fig. 22) e
disciplina.
Esta base de dados servia para termos sempre a informação detalhada
de cada jogador e para comparar com os registos da Liga, para que não
houvesse enganos por exemplo nos castigos dos jogadores.
Uma das atividades em que estive envolvido e que mais dificuldades
trouxe foi pedida pelo Gualter Pires e estava relacionada com a base de dados
já referida. Foi-me então solicitado que a partir dessa criasse uma outra, com
um resumo das estatísticas presentes e que através da atualização da
primeira, as estatísticas se atualizem automaticamente (Fig. 23).
Figura 22 - Base de Dados de Golos Marcados e Sofridos
89
Figura 23 - Resumo Estatístico da Base de Dados
Por exemplo, nas estatísticas um dos itens era o jogador com mais
tempo de jogo e ao atualizar este na base de dados inicial, o quadro estatístico
era atualizado indo buscar o nome do jogador que totalizava um maior período
de jogo.
As estatísticas estavam divididas em duas partes. Na primeira, em forma
de quadro-resumo referia:
A média de idades dos jogadores;
O jogador mais velho;
O jogador mais novo;
Jogador com mais tempo de jogo;
Jogador com mais cartões amarelos;
Jogador com mais cartões vermelhos;
Média de cartões amarelos por jogo;
Jogador com mais golos;
Total de golos marcados;
Total de golos sofridos;
Média de golos marcados por jogo;
Média de golos sofridos por jogo;
Mais golos marcados em um só jogo;
90
Mais golos sofridos em um só jogo;
Nº de vitórias;
Nº de empates;
Nº de derrotas;
Todos estes elementos eram atualizados automaticamente, aquando da
introdução dos valores na base de dados.
A segunda parte da estatística era feita à base de gráficos. O primeiro
era um gráfico de linhas, onde tinha a sequência das jornadas e apresentava o
número de golos marcados e sofridos por jornada (Gráfico 1), mostrando por
consequência o resultado final. Mais acima, mostrava a linha de sequência de
vitória, empate ou derrota ao longo das jornadas, bem como o adversário em
cada uma delas.
Gráfico 1 - Sequência de Resultados e Golos Marcados e Sofridos por Jornada
O segundo, mais simples, era um gráfico de colunas onde apenas era
demonstrada a relação entre golos marcados e sofridos ao longo da época
(Gráfico 2).
91
Gráfico - Total de Golos Marcados e Sofridos
O último, também ele simples, era um gráfico circular que apresentava a
percentagem de vitórias, derrotas e empates da equipa (Gráfico 3).
Gráfico 3 - Ppercentagem de Vitórias, Empates e Derrotas
Todos estes gráficos e estatísticas, após a sua atualização semanal
posterior ao jogo realizado, eram impressos e afixados para que, quer a equipa
técnica quer os jogadores, tivessem acesso a essa informação.
3.1.3. Assessoria e gestão técnica aos jogadores
Podemos referir que os maiores ativos de uma sociedade desportiva são
os seus jogadores. É em torno deles que as sociedades gerem a sua atividade.
Neste sentido, o Rio Ave faz todos os esforços para que os seus atletas
tenham as menores preocupações possíveis, de modo a obter um maior
rendimento dentro de campo.
92
Nos próximos pontos irei descrever atividades que fui realizando tendo
como objetivo o bem-estar dos jogadores.
3.1.3.1. Acompanhamento de Jogadores e Deslocações
Uma das atividades em que estive envolvido era o acompanhamento de
jogadores a vários locais. Um desses onde me deslocava frequentemente era
ao SEF com jogadores extracomunitários de forma a que estes pudessem
tratar da sua documentação e permanecer legalmente no nosso país.
Outras vezes, foi-me solicitado que acompanhasse vários jogadores na
deslocação a Centros Clínicos onde estes iriam realizar, entre outras coisas,
exames médicos. Nestas situações, era minha função tratar do check-in dos
atletas para a realização de exames, bem como do pagamento dos mesmos
caso essa situação se verificasse.
Estas experiências foram muito satisfatórias para mim, uma vez que ao
longo das várias viagens através de conversas, fui conhecendo o outro lado
dos jogadores - o lado mais humano. Por outro lado, foi também muito
gratificante quando, no caso de um jogador que estava parado devido a lesão,
teria de realizar um exame de modo a perceber se já estaria apto a competir
novamente e a resposta era positiva, observar a alegria do mesmo ao perceber
que poderia voltar a fazer aquilo que mais gosta e que melhor sabe - jogar
futebol.
Outro dos ofícios que implicou a minha ausência do estádio foi as várias
deslocações a outras instituições, como à Liga de Clubes, para intermediar
alguns processos pendentes.
Inicialmente, após o mercado de inverno, tive de me deslocar à Liga
para levantar os cartões dos jogadores inscritos para que estes pudessem ser
opção para o Mister Luís Castro.
Noutras situações foi necessário efetuar deslocações mais simples,
como o acompanhamento de funcionários do departamento financeiro ao
banco ou segurança social, ou mesmo do departamento médico para ir coletar
gelo para o tratamento dos atletas.
93
Numa fase mais avançada da época, as bolas que eram fornecidas pela
Liga, começaram a dar problemas pois, esvaziavam com muita facilidade.
Coube-me a mim intermediar o processo de devolução das mesmas e posterior
levantamento de novas bolas.
3.1.3.2. SEF - Serviços de Estrangeiros e Fronteiras
Outra das atividades que me ocupou algum tempo esteve relacionada
com jogadores estrangeiros que o clube recebeu ou mesmo os que já se
encontravam no clube.
Esta atividade era bastante importante pois, esses mesmos jogadores
não poderiam competir em Portugal se não obtivessem autorização do Serviço
de Estrangeiros e Fronteiras para permanecer em território nacional. Aliás, não
poderiam mesmo ser inscritos na Liga se o clube não apresentasse um
comprovativo de agendamento de audiência no SEF.
O SEF é um serviço de segurança, organizado hierarquicamente na
dependência do Ministro da Administração Interna, com autonomia
administrativa e que, no quadro da política de segurança interna tem como
objetivos fundamentais controlar a circulação de pessoas nas fronteiras, a
permanência e atividades de estrangeiros em território nacional, bem como
estudar, promover, coordenar e executar as medidas e ações relacionadas com
aquelas atividades e com os movimentos migratórios17.
Assim sendo, os jogadores estrangeiros que estariam a jogar no clube e
por isso a residir em Portugal, abrindo atividade laboral e fazendo descontos no
nosso país, necessitam de uma autorização para a sua permanência por parte
do SEF.
Para os jogadores que sejam cidadãos da União Europeia a autorização
é feita na Câmara Municipal e por um período de 5 anos, sendo que são as CM
em questão a informar o SEF da permanência do cidadão em Portugal.
17 Disponível em www.sef.pt. Consultado a 12 de Julho de 2017
94
Quando se tratava de um jogador proveniente de algum país fora da UE
e que estivesse a residir fora de Portugal, a primeira diligência a efetuar
aquando da sua receção no clube seria fazer um agendamento no SEF (Fig.
24) de modo a obter um comprovativo do mesmo para efeitos de inscrição na
Liga.
Figura 24 - Documento Comprovativo de Agendamento no SEF
Este agendamento é feito para que o SEF possa avaliar os documentos
do jogador e aprovar ou não a sua permanência e a possibilidade de trabalhar
em Portugal.
Ao efetuar o agendamento, para uma data marcada pelo SEF, é emitido
um comprovativo com o agendamento onde consta o nome do cidadão e a data
e hora do agendamento, sendo que o documento resolve a situação
provisoriamente até à data do agendamento e serve como comprovativo para
inscrição na Liga de Clubes.
O meu trabalho resumia-se a reunir toda a documentação exigida pelo
SEF para apresentação no agendamento para que o jogador não necessite de
se preocupar com essa situação. Os documentos necessários são:
95
Formulário disponibilizado pelo SEF, preenchido com os dados do
jogador e assinado pelo mesmo (Fig. 25);
Fotocópia do passaporte (sendo que no dia teria de se apresentar
com o original);
Registo criminal do seu país de origem;
Comprovativo de residência;
Contrato de trabalho celebrado com o R.A.F.C.;
Figura 25 - Formulário disponibilizado pelo SEF
Era necessário reunir todos estes documentos com alguma
antecedência pois, caso houvesse alguma situação imprevista e que a solução
fosse demorada, isso não impedisse de ser resolvida a tempo do
agendamento.
Chegado o dia do agendamento competia-me acompanhar o jogador na
sua deslocação ao SEF, que se localiza na cidade do Porto, para que o
processo fosse mais simples para o jogador, uma vez que estes não estariam
preparados para resolver as situações sozinhos. A minha ajuda seria ainda
mais necessária quando acompanhava jogadores que não falavam português e
então o meu papel seria de interlocutor entre o funcionário do SEF e o próprio
jogador.
Ao longo do estágio, tratei dos processos e acompanhei jogadores de
nacionalidades brasileira, maliana, cabo-verdiana e nigeriana.
96
As autorizações de residência (AR) são emitidas por um período de
tempo que nunca é inferior a 1 ano, e por isso, aquando da aproximação da
data de expiração da AR é necessário efetuar novo agendamento de forma a
renovar a respetiva autorização.
Nestes casos, o processo encontra-se facilitado pois, relativamente aos
documentos apresentados todos eles poderão ser obtidos em Portugal e até
mesmo na entidade empregadora, como é o caso do contrato assinado com a
instituição.
3.1.3.3. Planeamento de Viagens
Ao longo da época é necessário fazer o planeamento de variadas
viagens mais longas para além das normais deslocações para os jogos.
Já referi anteriormente a viagem à Madeira que envolve um pouco mais
de logística e uma preparação antecipada, no entanto, há outras viagens que
terão necessariamente de ser planeadas e que não estão diretamente
relacionadas com os jogos do clube.
Como é do conhecimento público o R.A.F.C. tem no seu plantel muitos
jogadores brasileiros, que no final da época viajam para o seu país natal para,
por um lado descansar um pouco do stress da época e por outro, estar com os
seus entes queridos. Muitas destas viagens são pagas pelo clube (dependendo
do contrato de cada um) e por isso, sendo viagens longas e de elevado valor
monetário, quanto maior a antecedência da marcação mais baixo é o valor a
pagar pela mesma.
Assim sendo, a partir do mês de fevereiro, é iniciada uma busca nos
vários sites de viagens - momondo, edreams, skyscanner, etc - e também na
agência de viagens que usualmente trabalha com o clube. Esta informação é
toda compilada num só ficheiro, para que desta forma seja possível à direção
do clube comparar todos os preços e decidir pela melhor solução.
97
Eu estive responsável por muitas destas pesquisas e inicialmente foi-me
solicitado que tivesse em atenção alguns critérios aquando da busca dos voos
para cada atleta. Primeiro o tempo de viagens - de acordo com as várias
escalas - para que a viagem não fosse demasiado massacrante para o atleta;
depois as datas de partida e de regresso, pois muitas vezes a diferença de um
dia antes ou depois tem alguma discrepância de valores; por último o aeroporto
de partida e de chegada para que as viagens partissem todas do Porto e
aterrassem no aeroporto mais próximo da cidade para onde o atleta se iria
deslocar.
Assim sendo, no planeamento de viagens é necessário ter em atenção
inúmeros fatores para que não falhe nada e para que o atleta viaje sem
quaisquer problemas e no maior conforto, de modo a que quando voltar venha
com a maior energia para atacar a época seguinte,
Por outro lado, ao longo do estágio houve um período que foi dedicado
ao trabalho das seleções nacionais e que por esse motivo houve pausa do
campeonato nacional.
Nestes trabalhos o R.A.F.C. teve dois atletas que foram chamados a
representar as seleções nacionais, o Gonçalo Paciência a seleção de sub-21
de Portugal e o Heldon Ramos a seleção A de Cabo-Verde.
Deste modo, apesar de não ser o clube a assumir as despesas das
viagens nem o planeamento das mesmas, foi necessário compilar toda a
informação relativa aos estágios dos jogadores de acordo com as datas, horas
e locais das viagens e jogos a realizar bem como, a data da viagem de
regresso (Fig. 26). Tendo a informação recolhida num ficheiro é necessário
colocá-la no gabinete da equipa técnica para que estes tenham a informação
dos jogadores que estarão ausentes dos treinos, os jogos que irão realizar e a
data a partir da qual poderão voltar a contar com os mesmos.
98
Figura 26 - Quadro informativo relativamente ao estágio dos atletas nas seleções
Num clube profissional a comunicação e a ligação entre os vários
departamentos é fundamental pois, todos trabalham para um bem comum e
nenhum departamento é completamente independente dos outros e toda a
informação tem de chegar com a maior brevidade possível a todos.
3.1.3.4. IRS atletas
Apesar de ter acesso aos contratos dos jogadores e ordenados dos
mesmos, nunca foi minha intenção invadir a privacidade dos mesmos pois creio
que era o mínimo que me competia.
No entanto alguns atletas, maioritariamente estrangeiros, que não
tinham conhecimento do funcionamento do sistema tributário em Portugal,
solicitavam ao Team Manager que este se encarregasse do preenchimento do
IRS dos mesmos.
Coube-me então colaborar nesta tarefa, tentando sempre abster-me dos
valores envolvidos no preenchimento dos parâmetros do IRS.
Inicialmente, o processo necessitou de uma breve aprendizagem pois
era também a primeira vez que me via envolvido em algo do género. O
processo era efetuado através do preenchimento dos quadros presentes na
figura 27.
99
Figura 27 - Software utilizado para preenchimento do IRS
3.1.4. Gestão do Departamento de Futebol Profissional
O Departamento de Futebol Profissional, local onde realizei muitas das
funções dentro da sociedade, terá de ser gerido de uma forma bastante
criteriosa pois envolve muita responsabilidade.
Este departamento está maioritariamente ao encargo do Gualter Pires, o
Team Manager, e com ele adquiri muita experiência no que diz respeito à
Gestão do mesmo.
3.1.4.1. Contabilidade - Requisições e Stock
Todo e qualquer pagamento efetuado pelo Departamento de Futebol
Profissional, necessita de autorização por parte de três superiores - o Diretor
Geral, Dr. Miguel Ribeiro; do Vice-Presidente do Futebol Profissional, Engº
Edmundo; e responsável pelo departamento financeiro, a Drª Alexandrina - que
seria feita através das suas assinaturas das requisições.
100
Estas requisições (Fig. 28) eram feitas na secretaria, que passou a ser
uma das atividades que fazia com mais frequência. As mesmas tinham sempre
a informação da data da compra, o fornecedor, a descrição do produto ou
serviço a adquirir e o local das assinaturas dos responsáveis.
Figura 28 - Exemplo de Requisição
As requisições eram feitas de acordo com a fatura ou recibo e estes
eram anexados à requisição para serem também assinadas como
comprovativo de verificação dos responsáveis. Após as assinaturas, as
requisições eram enviadas para o Departamento de Contabilidade para que
este tivesse conhecimento das contas e gastos do clube para que no caso de
serem gastos elevados ser o Departamento a assumir o pagamento.
Antes do envio das requisições para a Contabilidade, era sempre tirada
uma fotocópia da mesma juntamente com a fatura ou recibo, para ser
arquivada numa pasta de forma a que não houvesse discrepâncias nas contas
de ambos.
Todas as semanas havia inúmeras despesas relacionadas com os
pequenos-almoços, jornais, estágios, bebidas energéticas, exames médicos e
por isso havia sempre muitas requisições para fazer.
101
Após a emissão das requisições era passada a informação de todas as
despesas para um quadro resumo (Fig.29) já existente e que me foi pedido, à
semelhança dos quadros estatísticos efetuados por mim, para tratar a
informação relativa às despesas. Aqui era colocada a categoria em cada
despesa - jogos, exames médicos, rouparia, etc - e a informação fosse
resumida num quadro de despesas por categoria e posteriormente ter um
gráfico de colunas onde seria possível verificar a proporção de gastos de cada
categoria.
Figura 29 - Tabela com as despesas do Departamento de Futebol Profissional e Gráfico Estatístico
A maior parte das vezes, associada à emissão das requisições relativas
à aquisição de produtos era necessário atualizar o stock (Fig. 30). Sempre que
se recebia material de suplementação, águas, produtos alimentares para serem
consumidos nos pequenos-almoços, era necessário dar entrada dos mesmos
no documento do stock.
Figura 30 - Quadro Resumo do Stock Existente
102
Na atualização de stock é sempre colocada a informação do produto
recebido, da data em que foi recebido, do fornecedor e da quantidade (Fig. 31).
Figura 31 - Quadro para dar Entrada de Produtos
Aquando da chegada de um carregamento de algum fornecedor é
necessário, antes de descarregar a mesma, conferir o material que dispomos
em armazém e reorganizar o mesmo de forma a que o material mais antigo
seja consumido primeiro. É também necessário conferir o material que chega
comparando com a fatura, verificando assim se tudo bate certo.
Uma vez que os produtos consumidos aos pequenos almoços são
constantemente reduzidos, é necessário atualizar o stock quase diariamente
dando baixa dos mesmos.
Quando se dá baixa dos produtos é necessário indicar o fim para o qual
os produtos foram retirados do stock (Fig. 32), exemplo da baixa de uma palete
de água para o Departamento de Contabilidade. A retirada dos produtos do
stock é impressa e assinada pelo responsável da mesma de forma a haver
responsabilização por parte de todos os funcionários.
Figura 32 - Quadro para Registo de Saída dos Produtos
103
No final da época, já com os jogadores de férias, é necessário fazer a
atualização dos stocks conferindo todos os produtos um a um, desde os
alimentares a roupa de treino ou jogo.
3.1.4.2. Atualização de Bases de Dados
Um dos documentos mais importantes no clube é a base de dados, onde
está presente toda a informação relevante de cada jogador e dos funcionários.
Esta base de dados serve de apoio a todos os outros documentos da secretaria
relativa à equipa principal, onde apenas é necessário colocar o número da
camisola do jogador e o documento assume automaticamente os dados
pedidos relativos ao jogador em questão.
Fechado então o mercado de inverno, foi minha tarefa atualizar essa
mesma base de dados com a retirada dos jogadores que saíram e o
acrescento dos jogadores novos, desde a escolha do número e nome para a
camisola de jogo a tamanhos de roupa e calçado, bem como o arquivamento
dos contratos dos jogadores.
Uma vez que estava encarregue de atualizar a base de dados, foi-me
solicitado que atualizasse também os dados dos restantes atletas e
funcionários. Por um lado, confirmar todos os dados, número de telemóvel ou
email e mesmo números do cartão de identificação ou passaporte, conferindo
também as datas de validade dos mesmos. Casos em que aconteceu de os
cartões se encontrarem caducados foi necessário avisar o seu titular ou caso
este já tenha renovado atualizar esse dado.
Por outro lado, foi também necessário preencher alguns modelos
disponibilizados pela Liga, relativamente ao plantel, de modo a dar a
informação atualizada.
Na minha opinião, esta informação toda compilada é fundamental para o
bom funcionamento da estrutura. Na eventualidade de algum imprevisto, por
exemplo, contactar algum atleta ou funcionário não demorará mais do que o
tempo de abrir um ficheiro. Por outro lado, a informação das datas de validade
104
dos documentos e os seus alertas são também muito relevantes. Um clube
prevenido vale por dois…
3.1.4.3. Estágios de Treinadores de Futebol
Como já deu para perceber, desde logo pela minha integração imediata
no clube, o R.A.F.C. é uma instituição bastante próxima dos seus sócios e
muito aberta ao público em geral, uma vez que se mostra sempre disponível
para colaborar dentro das suas possibilidades.
Deste modo, ao longo da época recebemos muitos treinadores de
futebol que solicitavam a observação dos treinos aumentando assim os seus
conhecimentos futebolísticos.
Estes “mini estágios” dos treinadores de futebol, usualmente tinham a
duração de um ciclo semanal ou até menos. Muitas das vezes, a minha
ocupação foi o acompanhamento dos treinadores indicando os locais de treino
e onde poderiam assistir aos mesmos, respondendo a alguma questão que
tivessem para colocar.
Esta atividade começou com um grupo de 3 treinadores provenientes da
Polónia que vieram assistir aos treinos e ao jogo dessa semana. Como não
dominava a língua portuguesa, falando apenas inglês, idioma que eu domino
relativamente bem, coube-me acompanhar os jovens treinadores. Uma vez que
esta tarefa correu da melhor forma passei também a acompanhar treinadores
portugueses sendo muitas vezes o intermediário entre os mesmos e a equipa
técnica do R.A.F.C..
105
3.1.4.4. Aniversário do Clube
O dia 10 de Maio de 2017 ficou marcado pelo 78º aniversário do clube
(Fig. 33), data que é habitualmente celebrada através de um jantar tendo
convidados especiais do mundo do futebol - Presidente da Liga, representante
da FPF e também de outros clubes e associações, bem como da Câmara
Municipal de Vila do Conde - todos os atletas e funcionários do clube, desde a
equipa principal até aos sub-9, e mesmo da secção feminina e futsal. Os sócios
podem inclusive participar através da compra de um ingresso.
Figura 33 - Cartaz do 78º Aniversário do Clube
106
Esta iniciativa demonstra mais uma vez a proximidade que o clube tem
para com os seus sócios.
A minha tarefa começou mesmo antes do jantar passando informações
detalhadas para os jogadores e fazendo a distribuição dos lugares nas mesas
destinadas ao Departamento de Futebol Profissional.
Já no local do jantar, estava à entrada do restaurante recebendo os
nossos jogadores e equipa técnica, de modo a entregar a pulseira identificativa
do jantar encaminhando-os para a sala onde seriam servidas as entradas.
Estando já os jogadores todos presentes estava na hora de me deslocar
à sala de refeições para efetuar um reconhecimento das mesas, de modo a
que na altura de sentar e distribuir os jogadores saber antecipadamente os
lugares respetivos de cada um, facilitando assim o meu trabalho.
Já com toda a gente sentada estava então na altura de descontrair e
aproveitar o jantar que se prolongou durante algumas horas. Esta demora
levou a que o Mister Luís Castro adiasse o treino para uma hora mais tarde do
habitual e assim não prejudicar o mesmo. Deste modo coube-me avisar todos
os jogadores através da aplicação WhatsApp e pessoalmente para garantir que
todos estariam cientes da situação.
No dia seguinte ao jantar realizou-se a gala de comemoração do
aniversário que fica sempre marcada por atuações de vários grupos musicais
ou de outro tipo de arte e pela entrega de prémios aos jogadores, equipa
técnica e funcionários do clube relativamente à época transata.
3.1.4.5. Rio Ave Social - RAS
A experiência que vou relatar a seguir foi algo que me marcou bastante
e que apesar de não estar diretamente envolvido sinto que a devo colocar
neste relatório para que possam perceber a grandeza deste clube.
107
Como já referi na caracterização da entidade, o R.A.F.C. tem um
departamento que se dedica à ajuda dos mais necessitados, como foi o caso
de uma situação à qual tive a oportunidade de assistir.
Recebemos no estádio um menino de 11 anos que sofre de uma doença
rara e que lhe retirou a visão, não lhe permitindo igualmente falar nem andar.
Apesar disso, sabe-se que há tratamentos que poderão atenuar a falta de fala
e andamento, sendo que a falta de visão é irreversível. No entanto, os
tratamentos são caros e os pais não têm possibilidades de pagar tudo. Assim
sendo o plantel disponibilizou-se para receber o menino (Fig. 34) e doar algum
material para que fosse leiloado e todo o valor seria revertido a favor da família.
Figura 34 - Menino com paralisia junto do plantel. Fonte: rioaveF.C..pt
Estes tipos de ações marcam-me de uma forma especial, pois
pessoalmente custa-me imenso ver situações deste tipo porque me sinto
extremamente impotente para fazer o que quer que seja de forma a atenuar o
sofrimento das pessoas em questão e mesmo das famílias que acompanham
diretamente os envolvidos.
Assim sendo, é de louvar a atitude do clube e espero que a mesma seja
reproduzida e se torne um hábito no seio dos outros clubes e entidades com
peso no panorama desportivo nacional.
108
3.1.5. Experiência como Team Manager
Finalizada a época, é logo iniciada a preparação da seguinte. No
entanto, o R.A.F.C. viveu neste final de época uma situação um pouco anómala
devido à saída do Mister Luís Castro e a indefinição relativamente ao treinador
que o iria suceder. Dada esta indefinição, tornou-se um pouco difícil
estabelecer um plano pois usualmente é o Treinador que define todas as
situações relativas à pré-época.
Apesar de tudo, eu e o Team Manager Gualter, iniciamos a elaboração
de um plano provisório baseado naquilo que tinham sido as pré-épocas
anteriores. Feito o planeamento passamos para o estabelecimento de
contactos com outros clubes de forma a efetuar o agendamento de jogos-
treino.
Ao longo dessa primeira semana de preparação e ficando o treinador
definido - o Mister Miguel Cardoso - sendo já numa fase um pouco adiantada
da preparação de pré-época, fui informado que o Mister pretendia iniciar os
treinos uma semana antes do que estaria inicialmente previsto e por isso, uma
vez que o Gualter Pires estaria de férias, iria ficar ao longo dessa semana
sozinho tendo então a responsabilidade de ser o Team Manager da equipa
durante a sua ausência.
Inicialmente esta situação causou-me relativa estranheza, mas desde
logo foi-me transmitida a maior confiança do clube nas minhas capacidades
fazendo-me acreditar que estaria pronto para assumir tal responsabilidade.
No primeiro dia de trabalho do Mister Miguel Cardoso, após a sua
apresentação oficial, convidaram-me a estar presente para sermos
apresentados e iniciar a preparação da época.
Após reunião da equipa técnica, estando o planeamento da pré-época
finalizado foi-me passada toda a informação para que pudesse iniciar a sua
elaboração. Devido a algumas alterações foi necessário entrar em contacto
com clubes com os quais já teríamos jogos treino agendados, de forma a
comunicar a sua impossibilidade de realização na data pretendida e se possível
109
reagendar o mesmo. Caso não fosse possível o seu reagendamento era então
cancelado e passava para o contacto com um outro clube para que houvesse
adversários nas datas solicitadas pelo Mister.
No dia seguinte, reuni novamente com o Mister Miguel Cardoso no seu
gabinete, de forma a transmitir a informação dos jogos treino já agendados
esperando a sua validação assim como as datas que faltariam preencher com
jogos, informando das possibilidades de adversários para esses dias.
Na mesma reunião, o Mister informou-me quais os jogadores com
contrato com o R.A.F.C. que iriam iniciar a época, de forma a que pudesse
transmitir as datas agendadas de regresso, principalmente dos estrangeiros,
para que o Mister soubesse com quem poderia contar de modo a poder iniciar
o planeamento dos treinos.
Por outro lado, na reunião esteve também presente o médico do clube -
Dr. Basil Ribeiro - para que fossem intercalados com os treinos os exames
médicos necessários para o apuramento da condição física dos jogadores e
para a inscrição dos mesmos na Liga.
Ausentando-se o Médico, foram então acertados mais alguns
pormenores para o início da época como a necessidade da aquisição de
material novo e também a mudança de algumas rotinas relativamente à época
transata, como por exemplo dos pequenos-almoços.
Após a reunião foi então necessário transmitir a informação aos
funcionários respetivos para que tudo estivesse em sintonia. Era também
prioritário encomendar o material pedido e pressionar a empresa responsável
para o que mesmo fosse entregue no mínimo dois dias antes do início dos
treinos, sendo assim possível verificar a sua condição com alguma
antecedência.
Estando tudo definido em termos de datas, estava na hora de pegar nos
contactos deixados pelo Gualter Pires e comunicar aos jogadores indicados
pelo Mister o dia em que se deveriam apresentar no clube.
Ao longo da semana o Mister Miguel Cardoso manteve-se em contacto
comigo de forma a perceber o estado de todas as atividades que me
110
competiam. Neste sentido, diariamente ligava para a empresa na qual teríamos
feito a encomenda com o intuito de pressionar a entrega dentro do tempo limite
estabelecido.
Por outro lado, também estive em constante comunicação com os vários
departamentos do sector do futebol profissional, tentando perceber se estava
tudo controlado e preparado para o início dos treinos.
Estando a aproximar-se do dia para o qual estava tudo a ser preparado,
o nervosismo aumentava pois, o receio de falhar algo era grande. Para além
disso, ainda não tínhamos recebido a encomenda conforme planeado. Dada
esta situação, entrei novamente em contacto com a empresa e foi-me
transmitido que a mesma já teria sido entregue no estádio.
Fui então averiguar a situação e percebi que a encomenda tinha sido
recebida pela funcionária que estava na loja e que a mesma não teria feito
chegar a informação a alguém responsável, causando então este pequeno
alvoroço.
Já na presença do material, era hora de conferir se tudo se encontrava
conforme a encomenda feita e colocar a mesma nos locais destinados para a
sua arrumação. Aquando do acondicionamento do material aproveitei para
pedir ao roupeiro que verificasse o resto dos equipamentos que já faziam parte
do inventário do clube, de forma a garantir que tudo se encontrava em
conformidade e preparado para ser usado.
No dia anterior ao início dos treinos estava na altura de verificar então se
tudo se encontrava em sintonia para receber os atletas. Primeiro, verificar com
a pessoa que tinha ficado responsável pelo transporte dos atletas do aeroporto
para casa, percebendo se as horas de chegada de cada um estavam de
acordo com as datas que me tinham feito chegar.
Segundo, perceber se o Departamento Médico tinha tudo organizado
para a realização dos exames médicos dos atletas. Verificar também se a
rouparia tinha o equipamento pronto e organizado para o treino dos jogadores.
Por último fazer chegar a informação do campo onde se iriam realizar os
111
treinos ao jardineiro, para que este tivesse o relvado nas melhores condições
para a prática de futebol.
Chegado o dia tão esperado coube-me estar presente no estádio com
alguma antecedência para mais uma vez efetuar a verificação dos pormenores
para a receção dos atletas. Apesar de todos já terem sido avisados que teriam
de se deslocar inicialmente ao balneário para se equiparem e tomarem o
pequeno-almoço todos com o equipamento de treino, o Mister pediu-me para
colocar um aviso à entrada com essa mesma informação. Sempre que me
encontrava disponível apresentava-me eu mesmo à entrada, para a informação
não escapar a ninguém.
Tendo já todos o pequeno-almoço tomado o Mister pediu que os atletas
e staff ligados à equipa principal - eu incluído - para se reunirem na sala de
imprensa, conforme se pode observar na figura 35, de modo a todos serem
apresentados (principalmente aos atletas novos) e para no fundo comprometer
todos os funcionários nos seus encargos, fazendo passar a mensagem de que
todos são necessários para o atingir dos objetivos estabelecidos.
Figura 35 - Apresentação do staff, equipa técnica e plantel. Fonte: rioave.pt
112
Após a reunião, estava na hora de dar início ao treino que seria aberto à
comunicação social e por isso tive de ficar pela entrada do estádio para
encaminhar os jornalistas para o local correto. Correu tudo sem sobressaltos e
no fim do primeiro dia estavam todos satisfeitos. Pareceu-me ser um bom
presságio.
Nos dias seguintes em que estive sozinho todas as tarefas que foram
atribuídas para cumprir estavam já mecanizadas e por isso não houve
problemas.
Apesar disso, a toda a hora pediam-me para resolver alguns problemas.
Um deles e que me ocupou ainda algum tempo foi a procura de casa para os
atletas novos e para outros que queriam mudar de residência. A busca foi
bastante intensa uma vez que para cada um tive de obedecer a parâmetros
diferentes relacionados com o preço do arrendamento, tipologia do
apartamento e localização do mesmo. Para além disso, sendo que Vila do
Conde e Póvoa de Varzim são localidades à beira-mar muitos dos
apartamentos encontrados só estariam disponíveis a partir de setembro, uma
vez que até essa altura estavam alugados para férias.
Também o Departamento Médico necessitava de gelo para a realização
dos banhos de recuperação dos jogadores, foi necessário deslocar-me a uma
loja de gelados com frigoríficos industriais afim de obter gelo em grandes
quantidades.
Ao longo da semana, fui também continuando a estabelecer contactos
com outros clubes com o intuito de encontrar adversários para a realização de
jogos treino nas datas pretendidas pelo Mister.
A meio da semana sucedeu na sede da LPFP, no Porto, o sorteio
relativo ao campeonato nacional da primeira divisão, onde compete o R.A.F.C..
Assim sendo coube-me pegar nos calendários existentes - Campeonato
Nacional, Taça de Portugal, Taça da Liga, Competições Europeias e de
Seleções - compilando-os num calendário só (Fig. 36).
113
Figura 36 - Calendário Anual de Atividades
No final da semana o Gualter Pires chegou de férias e coube-me dar-lhe
conta de todas as ocorrências, passando assim a pasta e dando por terminado
o meu estágio no Rio Ave Futebol Clube, Futebol SDUQ Lda.
114
115
Capítulo 4 - Reflexão crítica e competências adquiridas
De um modo geral e de forma um pouco resumida posso garantir que o
estágio excedeu completamente as minhas expectativas iniciais, pois tive
experiências extraordinárias que me permitiram adquirir inúmeras
competências, preparando-me de uma forma bastante completa para enfrentar
o mercado de trabalho.
Apesar de o balanço final ser bastante positivo nem sempre tudo foi fácil.
Tive de trabalhar imenso ao longo de todo o estágio pois, muitas das atividades
que me propuseram foram de um grau de dificuldade relativamente elevado, o
que também contribuiu para o grande aproveitamento que obtive.
Na fase inicial do estágio, apesar do meu nervosismo ser
indescritivelmente elevado, receberam-me todos da melhor forma, desde o
diretor geral passando pelo Team Manager ou mesmo o roupeiro, pelo que
prontamente todos se disponibilizaram para me apoiar naquilo que necessitava.
Como o primeiro mês do meu estágio se tratou do mês de janeiro - mês
do mercado de transferências de inverno - foi um início um pouco atribulado,
uma vez que a azáfama era tanta que por vezes se esqueciam que eu estava
lá ou no momento a seguir, que era um simples estagiário passando-me tarefas
de elevada dificuldade.
Deste modo, uma vez que estive bastante envolvido em alguns
processos de transferências obtive desde logo uma noção (ainda que um
pouco superficial) de todas as atividades envolvidas no processo bastante
complexo que é uma transferência.
Por outro lado, começando o estágio por algo tão complexo e
confidencial, superou as minhas expectativas imediatamente na fase inicial pois
não contava ser envolvido nestes processos.
Estando já ambientado no seio do departamento de futebol profissional e
o facto de ter sido logo envolvido nestas tarefas acabou por facilitar o resto do
estágio.
116
As obrigações seguintes, apesar de não serem consideradas pela
maioria das pessoas como tão prioritárias, seriam também de importância
extrema pois ao contrário das transferências de jogadores, que apesar de
complexas são pontuais - acontecendo apenas em dois períodos de tempo ao
longo da época - são encargos rotineiros e sem os quais uma equipa de futebol
profissional não sobrevive.
Primeiro de tudo, toda a envolvência da preparação de um jogo que
envolve inúmeras atividades. Inicialmente foi um pouco difícil a minha
adaptação a todas as funções uma vez que se tratava de ocupações
pequenas, mas incontáveis devido à quantidade elevada.
Assim sendo, demorou algum tempo e requereu bastante prática até ter
tudo já mecanizado. Apesar desse fator, sempre que estava envolvido na
preparação de um jogo nunca estava completamente relaxado ou tranquilo,
uma vez que o receio de que algo falhasse estaria sempre presente e por isso
realizei as atividades sob uma grande pressão que sempre existe neste tipo de
funções.
Isto acontecia porque todos os processos envolvidos na preparação de
um jogo eram de extrema importância e nada poderia falhar sob pena de ser a
equipa a “pagar a fatura” de alguma falha que pudesse existir, colocando
bastante pressão na pessoa ou pessoas envolvidas nas atividades pré-evento.
No entanto, acredito que esta pressão existente apenas faz com que o
melhor de nós seja revelado na realização da mais pequena função, permitindo
assim que o erro seja colocado de parte.
Uma boa preparação de um jogo sem falhas é um fator facilitador
durante a realização do mesmo. Sempre que estive envolvido, ainda que
indiretamente, na realização dos jogos em casa fiquei sempre com a sensação
que tudo corria sempre pelo melhor pois, cada pormenor era planeado e cada
falha era antecipadamente prevenida de forma a que a atuação na sua
resolução fosse feita o mais rápido possível.
No que me diz respeito a atividade que me trouxe mais dificuldade e
ansiedade foi quando me solicitavam a filmagem dos lances polémicos
117
enviando os mesmos para o banco de suplentes. Apesar de à primeira vista ser
um encargo bastante simples, a tal ansiedade era provocada pelo facto de a
minha análise dos lances poder não ser a mais correta, induzindo a equipa
técnica em erro o que poderia trazer sanções disciplinares aos mesmos. No
entanto, no final de cada jogo a mensagem que me foi passada foi que a
missão teria sido bem sucedida o que me trazia bastante confiança para
enfrentar qualquer ofício.
O pós-jogo foi também uma situação que me trouxe bastante dificuldade,
pois como referi anteriormente foi-me solicitada a criação de uma folha de
estatística automática a partir de uma base de dados já existente.
Este processo reclamou, devido a ser algo bastante trabalhoso. A
primeira tarefa a realizar foi a cópia do documento original, trabalhando sempre
na cópia de modo a conseguir efetuar todas as experiências que achasse
necessárias.
Seguidamente e após conceber um esboço daquilo que iria fazer,
passando para o papel as ideias que fui tendo, comecei então uma intensa
pesquisa em torno das fórmulas para o excel que poderia usar para obter o
produto final.
Fui encontrando algumas fórmulas, mas nenhuma correspondia ao que
pretendia. Este processo foi muito baseado em tentativa e erro pelo que fui
aperfeiçoando e estabelecendo novos critérios de pesquisa à medida que a
situação se ia desenvolvendo.
Passado algum tempo o desânimo começava a tomar conta de mim, até
que encontrei uma fórmula que acreditava conseguir adaptar às minhas
pretensões. Passei a mesma para o ficheiro e com algumas adaptações
ocultas na base de dados consegui alcançar o objetivo proposto. Faltava
apenas montar todo o ficheiro e dar um aspeto visual mais agradável à vista.
A fórmula usada foi a seguinte e utilizava alguns parâmetros que foi
necessário acrescentar na base de dados para que a mesma fosse selecionar
a informação correspondente:
118
=ÍNDICE(Tempos!$C$11:$AO$44;MENOR(SE(Tempos!$AO$11:$AO$44=Es
tatistica!$F$36;LIN(Tempos!$AO$11:$AO$44)-10);LIN(Tempos!A1));1)
Ao mostrar o resultado final ao Team Manager, este aprovou o mesmo,
pedindo apenas que acrescentasse mais uma célula de informação em cada
um dos parâmetros. Este pedido implicou que efetuasse novas adaptações à
fórmula que demoraram relativamente pouco tempo a finalizar.
Esta atividade, apesar de prolongada, trouxe-me bastantes
conhecimentos familiarizando-me assim com o excel, provando ser uma
ferramenta bastante útil para trabalhar de forma organizada.
Ao nível da contabilidade e stock’s a dificuldade estaria mais uma vez na
pressão do erro. Sendo que quer nas requisições quer nos stock’s era
necessário estar bastante atento a todos os pormenores: datas, valores,
quantidades e datas de validade nos produtos alimentares. O mínimo erro
poderia despoletar uma bola de neve de erros sucessivos sendo
posteriormente complicado de detetar a origem do mesmo trazendo assim
grandes implicações no processo.
Apesar de ser uma ocupação relativamente simples e rotineira, pois
quase todos os dias havia material novo a chegar ou a ser consumido, mas que
requeria uma atenção especial cada vez que a função era realizada.
Por outro lado, aquando da atualização das bases de dados dos atletas
e funcionários do clube, era um encargo que não envolvia grandes
responsabilidades e por isso não era à partida tão motivante como qualquer
uma das outras já referidas. Nesse sentido foi uma atividade um pouco
massacrante por ser demasiado repetitiva, mas que sabia que tinha de ser feita
pois uma base de dados bem construída traz grandes benefícios para a
entidade.
Muitas das ocupações que me eram propostas eram feitas à base de
muita pesquisa. O planeamento das viagens dos jogadores não era diferente e
requeria uma procura intensiva em variados sites da internet de forma a que a
oferta encontrada abrangesse o maior leque possível de opções.
119
Inicialmente tive de estudar todas as variáveis possíveis relacionadas
com a viagem de forma a tentar conseguir o preço mais acessível possível, o
que trazia uma grande complexidade ao processo. As variáveis iam desde a
data de partida e chegada, o local de partida e chegada, a duração da viagem,
o número de escalas e se os jogadores levavam a família ou não.
Esta atividade teve de ser feita com a maior antecedência possível e
teria de efetuar a pesquisa através de sites diferentes - edreams, momondo,
skyscanner - de modo a apresentar vários orçamentos detalhados com todas
as variáveis referidas anteriormente, comparando todos eles com a proposta
apresentada pela agência de viagens.
Posteriormente todos os orçamentos foram apresentados à direção da
SDUQ que selecionava o que entendesse mais conveniente para o clube e
para o jogador.
A maior dificuldade nesta missão é a constante oscilação de preços nos
vários voos o que podia comprometer a veracidade dos orçamentos
apresentados. Apesar deste fator, não houve nenhum caso onde algo do
género tivesse acontecido o que facilitou o meu trabalho.
Um gestor desportivo poderá estar sujeito a contactar com pessoas de
outras nacionalidades, especialmente no mundo do futebol onde cada vez
menos existem fronteiras. Neste sentido é necessário dominar outras línguas,
especialmente o inglês.
Como não podia deixar de ser, estive também sujeito a estabelecer
contactos com treinadores, que estavam a efetuar pequenos estágios com o
Mister Luís Castro, provenientes da Polónia e que não tinham nenhum
conhecimento da língua portuguesa. Tendo eu alguma facilidade em falar
inglês foi-me então pedido que os acompanhasse e que fosse traduzindo
conteúdos respondendo também às dúvidas que iam surgindo.
A maior dificuldade com a qual me deparei neste ofício foi o facto de,
apesar de dominar relativamente bem o inglês, não o praticar há já algum
tempo. No entanto, apenas foram necessários alguns minutos de conversa
para tirar a “ferrugem” e a partir desse momento a conversa foi fluindo
120
naturalmente, o que para mim também foi agradável pois pude praticar o meu
inglês.
Para além destas obrigações onde era colocada à prova a minha
capacidade de ultrapassar as dificuldades relativas às relações interpessoais,
tinha também outras mais no âmbito secretarial ou burocrático, exemplo dos
IRS’s dos jogadores.
Neste caso, a dificuldade com a qual me deparei prendia-se única e
simplesmente com o facto de nunca ter contactado com o software de
preenchimento do IRS e por outro lado a minha falta de conhecimento nesta
matéria.
No entanto apesar desta situação, as contrariedades foram rapidamente
ultrapassadas com a observação do seu preenchimento por parte do Gualter e
posteriormente da sua ajuda em relação ao meu preenchimento dos quadros
respetivos.
Estas tarefas, apesar de parecer serem algo simplistas, na minha
opinião são elas que diferenciam os clubes profissionais que realmente sabem
trabalhar apresentando resultados desportivos. Desta forma os jogadores
apenas terão de se preocupar em jogar futebol, que é o que melhor sabem
fazer.
Por outro lado, havia atividades em que a ação era efetuada em
simultâneo com o suceder do acontecimento, caso da gala e jantar de
aniversário do clube.
As ocupações realizadas no âmbito deste acontecimento não foram de
todo complicadas de se realizar se não fosse a pressão do evento e de toda a
sua envolvência - convidados VIP, organização, media, jogadores.
A dificuldade dos encargos prendeu-se então com o facto de nada poder
falhar visto que as mesmas foram realizadas em tempo real, em simultâneo
com o Evento, e se algo falhasse não havia tempo de reparar a situação sem
que isso tivesse alguma implicação.
Por outro lado, o facto de não ter havido um “ensaio” com todo o staff
onde cada um iria saber ao certo o que fazer tornou também a função mais
121
complexa pois apenas soube quais as minhas funções na hora delas
acontecerem. Assim, mesmo o reconhecimento do local, teve de ser feito no
momento.
No entanto, tudo correu pelo melhor e não houve grandes falhas, tirando
os sempre presentes e inevitáveis atrasos.
Finalizando, esta análise das dificuldades e obstáculos que fui
enfrentando ao longo do estágio passarei então a referir-me àquela que posso
dizer ter sido a experiência mais difícil que tive mas também a mais gratificante.
Refiro-me à experiência como Team Manager da equipa principal do Rio
Ave F.C., Futebol SDUQ, Lda., substituindo o Gualter Pires que estava de
férias. Esta experiência, apesar de ter sido bastante desgastante e desafiante,
foi também bastante gratificante e proveitosa para mim.
A maior dificuldade encontrada foi relativamente ao grau de
responsabilidade que o cargo implicava. Isto porque dependia muita coisa de
mim e uma vez que nunca tinha tido esta experiência sozinho não sabia bem o
que esperar.
Quando me foi solicitada a atividade fiquei um pouco inquieto devido à
complexidade da mesma. No entanto, a inquietação rapidamente passou pois
foi-me transmitida confiança necessária para enfrentar todos os desafios que
me pudessem aparecer. Por outro lado, só o facto de confiarem em mim para
estar responsável pelos principais ativos da sociedade já representa uma
grande demonstração da confiança que teriam em mim e que terá sido ganha
com o meu desempenho ao longo do estágio.
Ao longo desta experiência estava em constante contacto com o Mister
Miguel Cardoso - que seria novo na estrutura do Rio Ave - por um lado para
que ele me transmitisse informações relativas aos treinos e seus horários e
locais e por outro para que fizesse passar toda a informação aos funcionários
respetivos para que tudo estivesse em conformidade com o planeamento
semanal de treinos.
Também relativamente a material que o Mister teria pedido ao clube,
para que pudesse acrescentar alguma qualidade ao treino, fui eu que estive
122
responsável pelo seu acompanhamento. Deste modo o Mister Miguel Cardoso
todos os dias me ligava de forma a ser informado do estado da encomenda do
material e se este seria entregue dentro do prazo previsto.
Este constante contacto com o Mister trouxe ainda mais
responsabilidade às minhas funções pois, não lhe podia dar a mesma
informação em dois dias seguidos. Assim “obrigou-me” a trabalhar com o maior
rigor possível e a pressionar a empresa responsável pela entrega do material.
Felizmente a encomenda chegou até antes do previsto.
Por outro lado, todo o restante staff quando necessitava de algo era
também comigo que vinha falar. Apesar de muitas das vezes não estar por
dentro do assunto tinha, de uma maneira ou de outra, resolver o mesmo com a
maior brevidade possível. Acredito que, com mais ou menos rapidez, todas as
atividades solicitadas foram resolvidas com bastante competência, até pelo
feedback que todos me foram dando.
Resumindo toda a minha “estadia” inserido na estrutura do Rio Ave
Futebol Clube, Futebol SDUQ, Lda. posso referir que terminei o estágio com
muito mais ferramentas do que aquelas com as quais iniciei o mesmo. Ao longo
da época consegui, de uma forma progressiva, estar cada vez mais incluído
dentro da estrutura e com mais responsabilidades na mesma. Acredito mesmo
que, ao longo do tempo todos os funcionários me tratavam como “mais um
deles” e não como um simples estagiário - pelo menos foi isso que senti.
Por outro lado, e como estive de tal forma envolvido nas rotinas diárias
da sociedade, consegui adquirir bastantes competências necessárias para
trabalhar numa estrutura profissional como é a do R.A.F.C.: competências
relativas à organização e gestão de uma sociedade desportiva, gestão de uma
equipa de futebol profissional com todas as atividades inerentes a um Team
Manager, organização de jogos, comunicação dentro da estrutura e com
entidades externas e muitas mais.
Assim sendo, acredito que não poderia pedir mais do estágio e foi
precisamente com este objetivo que decidi pelo estágio profissionalizante e não
por qualquer uma das outras formas de concluir este mestrado. Como não me
canso de repetir, excedeu todas as minhas expectativas, ainda para mais
123
depois de um início um pouco atribulado onde não encontrava solução à vista.
No entanto, tudo acabou por correr pelo melhor e não posso estar mais
agradado com o desfecho que acabou por ter.
Acredito que estou hoje muito mais preparado para enfrentar o mercado
de trabalho do que estaria há cerca de um ano. No entanto, e apesar de todas
as competências adquiridas e de todas as experiências vividas, tenho a
consciência que ainda tenho um longo caminho a percorrer, conhecimento a
adquirir e mais experiências para viver.
No que diz respeito à elaboração propriamente dita do relatório de
estágio profissionalizante, posso referir que a experiência, apesar de bastante
dura e morosa, teve um impacto em mim bastante positivo.
Primeiro porque foi extremamente desafiante, uma vez que nunca tinha
tido nenhuma experiência do género e não sabia bem o que expectar com a
elaboração do relatório.
Inicialmente o processo mostrou-se um pouco penoso mas após a
escrita das primeiras linhas e de começar a compilar os textos em um só, tudo
pareceu estar a erguer-se e desde então a elaboração do relatório tornou-se
bastante mais fluída.
Para além disso, foi também gratificante devido à quantidade de
conhecimento que fui adquirindo com as variadas pesquisas que efetuei.
124
125
Conclusão
O presente relatório elaborado ao longo do estágio profissionalizante no
Rio Ave Futebol Clube, Futebol SDUQ Lda., revelou-se uma ferramenta
bastante útil no desempenhar das minhas funções. Quer através das pesquisas
efetuadas quer através da comparação de outros trabalhos.
Consegui ter uma perspetiva, ainda que muito geral, da evolução da
legislação em Portugal relativamente ao sistema desportivo nacional. Com este
estudo, relativamente ao progresso da legislação portuguesa, consigo concluir
que esta se foi adaptando ao longo dos anos de forma a acompanhar a
evolução, primeiro da sociedade e segundo do desporto em geral.
Deste modo, podemos perceber que o governo vai estando atento às
necessidades de todos os agentes desportivos, pelo que assim tenho a certeza
que mais cedo ou mais tarde a legislação vai olhar para a minha atividade de
gestão desportiva e que teremos a mesma regulamentada. Mais que não seja
pelo constante crescimento que atividade tem vindo a apresentar.
Por outro lado, mais a nível individual, posso concluir que este estágio e
a realização do respetivo relatório, terão sido o expoente máximo da minha
curta carreira ao nível da gestão desportiva.
Todas as minhas expectativas foram realizadas e até ultrapassadas.
Apesar de tudo, tenho a consciência que estes seis meses não serviram para
que eu dominasse todas as vertentes da gestão de uma sociedade desportiva.
No entanto, tenho a convicção que me foi possível conhecer de uma forma
geral todos os engenhos e processos relativos ao funcionamento de uma
estrutura profissional de futebol.
No que diz respeito ao ponto máximo de uma equipa de futebol e para a
qual todos trabalham arduamente ao longo de todas as semanas - o jogo, os
90 minutos aos quais se resume tudo, onde em um segundo tudo pode mudar
e passar do sucesso ao fracasso sem que nada pudéssemos fazer - há
inúmeras situações a reter e que quem pretender trabalhar nesta área terá de
dominar na perfeição todas estas vertentes.
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Relativamente aos objetivos estabelecidos por mim no início do relatório
foram, sem sombra de dúvidas, atingidos com sucesso. Primeiro, referindo-me
ao estabelecimento de contactos foi bastante positivo, quer dentro da estrutura
do Rio Ave F.C. onde contactei com quase todos os funcionários, quer mesmo
fora onde tive a oportunidade de estabelecer contactos com, por exemplo,
pessoas ligadas à Liga de Clubes, o que foi para mim gratificante, conhecendo
por isso muitas pessoas de grande notoriedade e reconhecimento no futebol
profissional.
Outro dos objetivos no início do estágio seria a oportunidade de passar
por experiências novas. Experiências novas não faltaram ao longo do estágio e
foram também extremamente cativantes e por isso apesar de muitas serem de
elevada dificuldade, foram todas realizadas com sucesso devido à motivação
com que eram executadas.
Gostaria de registar que apesar de ter tido uma revisão exaustiva da
legislação desportiva portuguesa relativamente ao desporto profissional e esta
me ter agradado, fiquei com a convicção que existe pouca regulamentação
relativa à atividade do gestor do desporto em Portugal. Esta lacuna deverá ser
colmatada para uma maior qualidade da gestão e do funcionamento das
organizações desportivas e para que as pessoas que exercem a gestão do
desporto sejam efetivamente qualificadas.
Finalmente, referindo-me agora ao que seria talvez o objetivo primordial:
demonstrar o meu valor sendo uma possível oportunidade de emprego. Na
minha humilde opinião creio que o meu valor foi posto totalmente à prova,
revelando ser capaz de superar qualquer desafio. Sustento esta opinião nos
feedbaks que me foram transmitindo e na vontade que demonstraram na
eventual contratação da minha pessoa após a conclusão do Mestrado.
Analisando e perspetivando o futuro relativamente à área da gestão
desportiva e mais propriamente à gestão do futebol profissional, acredito
sinceramente na evolução da profissão e que cada vez mais irão existir
pessoas competentes a gerir o desporto em Portugal.
Olhando para a realidade com que todos os dias me confronto,
principalmente na faculdade, onde jovens de várias nacionalidades se dedicam
127
ao estudo da gestão do desporto, presumo que irá a médio prazo aumentar
qualidade e competitividade no mundo da gestão do desporto.
Como já fui referindo, a realização deste trabalho foi, a nível pessoal de
uma desmedida valorização. Isto porque juntou em um só dois dos mundos
que me fascinam: a Gestão Desportiva e o Futebol.
As experiências vividas ao longo do estágio contribuíram de forma
extremamente positiva para a minha formação e também de certa forma para a
concretização do relatório.
128
129
Síntese Publicável
Entrevista ao Diretor Geral da Rio Ave F.C., Futebol SDUQ Lda.18
O Dr. Miguel Ribeiro (Fig. 37), atualmente com funções de Diretor Geral
no Rio Ave F.C., Futebol SDUQ Lda., é licenciado em Direito tendo concluído
também o curso da Ordem dos Advogados. Iniciou o seu percurso no mundo
do Futebol como assessor jurídico no Varzim SC quando na altura exercia
advocacia em Vila Nova de Famalicão. Com o ingresso no mundo do desporto
decidiu complementar a sua formação com uma pós-graduação em Direito do
Desporto Profissional.
Nessa época, o Diretor Desportivo do Varzim terminou as suas funções
no clube. Devido a este facto o Dr. Miguel Ribeiro acumulou as funções que
exercia com responsabilidades no Departamento de Futebol Profissional. O
processo foi evoluindo até que se tornou efetivamente Diretor Desportivo do
Varzim SC, sem deixar de, concomitantemente, exercer a atividade no
Departamento Jurídico.
Decorridos 6 anos, passou a exercer a sua atividade profissional na ilha
da Madeira, como Assessor da Administração para o Futebol no CS Marítimo,
designação adotada pelo clube para a função de Diretor Geral.
Na Madeira o Dr. Miguel Ribeiro esteve mais 6 anos. Em 2012 ingressou
no Rio Ave F.C., para exercer funções de Diretor Geral, tendo visto o seu
trabalho reconhecido, tanto com bons frutos a nível desportivo, como
financeiro.
18 Aceite ser publicada na Revista Rio Ave Futebol
Figura 37 - Dr. Miguel Ribeiro
130
1. Qual a função do Diretor Geral do Rio Ave F.C. SDUQ?
R: Em termos genéricos, é uma função que assenta na gestão, e a partir da
gestão enquadrar as várias atividades que tem uma sociedade. A chave ou o
coração da "coisa" está neste campo de 75 metros por 68 que é a equipa de
futebol profissional. Mas à volta desta equipa há todo um negócio e toda uma
operação que é preciso cuidar. Desde logo e de uma forma simples a receita
versus despesa, mas depois pormenores como o planeamento, logística,
comunicação, toda a dinâmica de uma estrutura de futebol que é preciso dirigir,
acompanhar, executar e decidir.
2. Dentro da função pode referir-se às principais atividades que
desempenha?
R: É um mito reduzir qualquer atividade de gestão a contratar jogadores e a
despedir jogadores, de todo... Até porque o processo de contratação ou de
saída, estamos a falar de um processo global de sociedade, mas estamos a
falar de um processo quase de resultado, porque a essência do processo é
toda uma gestão que leva a estes resultados: às vezes ter de ir buscar um
jogador, às vezes ter de vender um jogador, às vezes ter de fazer uma
operação bancária, porque tudo resulta como uma operação só. Ainda agora,
neste momento, estava a receber uma mensagem da Arábia Saudita a dizer
que o problema com a FPF está resolvido. Ou seja, estamos a falar de um
jogador que foi vendido e que teve alguns problemas inerentes a esta venda.
Mas foi um jogador que em tempos foi comprado por isso já foi um jogador que
foi seguido, ou seja, há um conjunto de operações em torno de um mesmo
jogador que é preciso dirigir.
3. Na sua perspetiva qual o perfil que um Diretor Geral, na qualidade de
gestor do desporto, que uma sociedade desportiva deverá ter?
131
R: Tecnicamente tem de estar preparado do ponto de vista financeiro,
económico e jurídico, ou seja, não estou a dizer que tem de ser um
economista, um gestor ou um advogado, três ciências que devem estar
presentes, não só pela responsabilidade mas também pela exequibilidade de
toda a tarefa é necessário ter algum domínio sobre estas. Depois ter um
conhecimento do jogo versus do mercado. Enquadrando, o jogo de futebol e o
mercado de jogadores. Porque a essência da atividade é como um gestor da
indústria têxtil ter um conhecimento sobre o fio, sobre o tecido, sobre as
malhas, é igual como um gestor de construção civil ter um conhecimento sobre
a obra. Por isso o registo será paralelo a isto que aqui disse.
4. Qual o histórico do Rio Ave F.C. em competições profissionais? O que
levou o clube a formar uma sociedade desportiva?
R: O Rio Ave até há 6 épocas tinha um percurso interessante, mas um
percurso que assentava no objetivo da manutenção. Entretanto tentamos dar
um passo em que com o mesmo fazermos melhor e que foi não lutar pela
manutenção mas lutar por mais qualquer coisa. Claro que nem sempre com o
mesmo conseguimos fazer melhor e por isso também tivemos de fazer um
upagrade no investimento. E hoje, cinco ou seis anos depois, fomos já à final
da taça de Portugal, à final da taça da liga, à super taça, duas vezes à Liga
Europa, uma vez à fase de grupos da mesma, temos estado sempre nos
lugares cimeiros da tabela, a manutenção já não é um fantasma que assuste,
mas temos de estar sempre preparados e estar sempre a acautelar esse
desafio, que é o desafio principal do Rio Ave, o resto serão sempre upgrades.
Assim o Rio Ave é um clube sustentado pois tem para hoje e felizmente tem
para amanhã. O Rio Ave adotou a figura de sociedade desportiva porque a lei o
obrigou e em 2013 com a alteração legislativa todos os clubes tiveram de optar
pela forma societária. O Rio Ave optou por um registo SDUQ pois era uma
transição muito suave em relação ao que tinha. Basta ver que o único sócio da
sociedade é o clube, ou seja, apesar de o Rio Ave ter encarado a figura de
sociedade desportiva na parte teórica, na prática o único sócio é o clube, que
diretamente não é o Rio Ave, mas indiretamente é.
132
5. Em termos de recursos humanos como está organizada a SDUQ para o
seu funcionamento? (Departamentos)
R: Societariamente o Rio Ave tem uma SDUQ, cujo órgão máximo é a gerência
e daí para baixo o Rio Ave está profissionalizado. Eu estarei no topo da
hierarquia como Diretor Geral e depois abrimos em Departamentos e Sub-
Departamentos. Temos o Departamento Financeiro, onde dentro deste temos a
área financeira, tesouraria e contabilidade. Depois temos o Departamento de
Comunicação em que temos o Diretor de Comunicação e assessor, o
Departamento de Marketing e depois temos o coração da sociedade que é o
Departamento de Futebol. Este divide-se dentro das necessidades da equipa
numa área administrativa dirigida por um Team Manager, em que temos a
parte do secretariado, operação, logística e planeamento. Abaixo do Team
Manager, sendo que reportam a este, temos a rouparia, a questão das relvas,
etc... Tudo o que aproveita a equipa de Futebol. Depois temos um
Departamento Médico que é da sociedade, que abrange todas as equipas da
mesma. Temos um Departamento de Instalações que faz a gestão dos
campos, do estádio e gere todas as obras necessárias. Temos também o
Departamento de Organização de Jogos, dirigido por um OLA (oficial de
ligação aos adeptos) e dentro deste está a responsabilidade dos jogos em
casa, de toda a logística inerente ao jogo: segurança, polícia, bilhética,
torniquetes, preços, entradas, zonas destinadas, quem é quem, tudo o que
envolve a organização de um jogo. Nos jogos fora é o elemento de ligação
entre os adeptos e a equipa visitada. Este num esboço geral é a SDUQ do Rio
Ave.
6. O que levou a sociedade onde se encontra atualmente a optar pelo
regime que apresenta?
R: O Rio Ave só optou pelo regime de sociedade desportiva porque a lei assim
o obrigou, porque se assim não o obrigasse o Rio Ave manteria a forma de
133
clube, porque no momento era a forma que melhor satisfazia os desígnios e
ambições do Rio Ave. Optamos por SDUQ porque a intenção do clube no perfil
societário era manter o registo clube e esse registo clube para ser mantido,
pois não vislumbrávamos a necessidade de optar por uma forma societária
diferente, era avançar para um registo SDUQ que era o que transportava para
o registo societário o cariz de clube que o Rio Ave tinha.
7. Haveria a possibilidade de mudar esse estatuto? Que fatores poderiam
levar a essa mudança?
R: A todo o tempo o Rio Ave pode transformar a SDUQ numa SAD, o inverso
nunca acontece, a SAD é um processo que se torna irreversível a partir do
momento em que se forma a sociedade anónima. A todo o tempo o Rio Ave
poderá fazer essa transformação de SDUQ em SAD, e eventualmente terá de o
fazer quando necessidades, nomeadamente financeiras, assim o obriguem. A
saber o futebol é hoje cada vez mais uma industria de investimento, cada vez
menos jogadores livres, cada vez os agentes se envolvem mais nas transições
de jogadores que é o produto desta atividade, e por isso nessa medida parece-
me que o Rio Ave poderá um dia optar por avançar para uma sociedade
anónima desportiva quando sentir que a componente investimento está
demasiadamente limitada para nos tornar competitivos. Quando for necessário
para investimento para nos tornarmos mais competitivos, provavelmente o
desenho SAD terá de ir para cima da mesa.
8. Quais os desafios futuros que o Rio Ave enquanto sociedade
desportiva irá enfrentar no decorrer da sua atividade?
R: Acho que o grande desafio que o Rio Ave tem, e vivendo como vive com
este nível de receita e despesa, manter-se competitivo. Porque a questão
chave disto é o Rio Ave ser competitivo, ser capaz, haver esta capacidade e
competência de lutar pelas melhores performances. Por isso este é o grande
desafio do Rio Ave, é com este nível de receita e manter-se competitivo.
134
135
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140
XXV
Anexos
XXVI
XXVII
Anexo 1
- Dossier de Jogo -
XXVIII
XXIX
XXX
XXXI
Anexo 2
- Programa de Jogo -
XXXII
XXXIII
XXXIV
XXXV
Anexo 3
- Croqui Equipamentos -
XXXVI
XXXVII
XXXVIII
XXXIX
Anexo 4
- Nomeações Arbitragem -
XL
XLI
XLII
XLIII
Anexo 5
- Mapa de Castigos -
XLIV
XLV
XLVI
XLVII
Anexo 6
- Convocatória Base -
XLVIII
XLIX
L
LI
Anexo 7
- Programa Semanal de Treinos -
LII
53
LIV
LV
Anexo 8
- Mapa Trimestral ADOP -
LVI
LVII
LVIII
LIX
Anexo 9
- Modelo P da LPFP -
LX
LXI
LXII
LXIII
Anexo 10
- Modelo L da LPFP -
LXIV
LXV
LXVI
LXVII
LXVIII
LXIX
Anexo 11
- Modelo O da LPFP -
LXX
LXXI
LXXII
LXXIII
Anexo 12
- Questionário PSP -
LXXIV
LXXV
LXXVI
LXXVII
Anexo 13
- Golos Marcados -
LXXVIII
79
LXXX
LXXXI
Anexo 14
- Disciplina -
LXXXII
83
LXXXIV
LXXXV
Anexo 15
- Tempo de Jogo -
LXXXVI
87
LXXXVIII
LXXXIX
Anexo 16
- Estatística de Jogo -
XC
XCI
XCII
XCIII
Anexo 17
- Gráficos -
XCIV
XCV
XCVI
XCVII
Anexo 18
- Requisições -
XCVIII
XCIX
C
CI
Anexo 19
- Despesas -
CII
CIII
CIV
CV
Anexo 20
- Controlo de Stock -
CVI
CVII
CVIII
CIX
CX
CXI
Anexo 21
- SEF - Agendamento -
CXII
CXIII
CXIV
CXV
Anexo 22
- SEF - Formulário -
CXVI
CXVII
CXVIII
CXIX
Anexo 23
- Planeamento de Viagens -
CXX
CXXI
CXXII
CXXIII
Anexo 24
- Cartaz de Aniversário do Clube -
CXXIV
CXXV
CXXVI
CXXVII
Anexo 25
- Planeamento Exames Médicos -
CXXVIII
CXXIX
CXXX
CXXXI
Anexo 26
- Calendário Anual de Atividades -
CXXXII
133
CXXXIV
CXXXV
Anexo 27
- Entrevista Completa ao Dr. Miguel Ribeiro -
CXXXVI
CXXXVII
Tema
Elementos para a compreensão do perfil de um gestor do desporto como o
responsável máximo de uma sociedade desportiva.
Objetivos
1. Identificar as principais competências de um gestor do desporto com as
funções de Diretor Geral numa sociedade desportiva;
2. Perceber o peso da formação académica específica no desempenho das
várias funções numa sociedade desportiva;
3. Perceber os métodos de controlo e avaliação do funcionamento de uma
sociedade desportiva;
4. Caracterizar as vantagens e desvantagens entre uma SAD e SDUQ;
A) Legitimação da Entrevista
1. A entrevista será gravada para fins de análise. Opõe-se a esse facto?
R: Não.
2. Existe algum aspeto que não tenha sido clarificado?
R: Tudo claro.
B) Identificação
Sexo, idade, formação académica (tem alguma especialização na área de
gestão desportiva?), que cargos já desempenhou em clubes ou sociedades
desportivas, como chegou ao cargo atual.
R: O meu nome é Miguel Ribeiro, tenho 39 anos, sou licenciado em Direito
tendo concluído o curso da Ordem dos Advogados. Exerci advocacia em Vila
Nova de Famalicão e entretanto iniciei a minha atividade desportiva no Varzim
SC como advogado e na pendência dessa atividade tirei uma pós-graduação
em Direito do Desporto Profissional. Quando o diretor desportivo do Varzim, à
data, saiu, eu acumulei as funções do Departamento Jurídico com a operação
desportiva da equipa de futebol. O processo foi evoluindo até assumir o cargo
CXXXVIII
de Diretor Desportivo e dentro desse cargo abarcar a questão jurídica. Seis
anos depois transitei para o Marítimo para as funções de Assessor da
Administração para o Futebol, no fundo o Diretor Desportivo que o Marítimo
caracterizava deste modo. Estive lá uma época e posteriormente vim para o
Rio Ave onde estou há 6 anos sempre com a mesma função, a de Diretor
Geral.
C) Recursos Humanos
Em termos de recursos humanos como está organizada a SDUQ para o seu
funcionamento? (Departamentos)
R: Societariamente o Rio Ave tem uma SDUQ, cujo órgão máximo é a gerência
e daí para baixo o Rio Ave está profissionalizado. Eu estarei no topo da
hierarquia como Diretor Geral e depois abrimos em Departamentos e Sub-
Departamentos. Temos o Departamento Financeiro, onde dentro deste temos a
área financeira, tesouraria e contabilidade. Depois temos o Departamento de
Comunicação em que temos o Diretor de Comunicação e assessor, o
Departamento de Marketing e depois temos o coração da sociedade que é o
Departamento de Futebol. Este divide-se dentro das necessidades da equipa
numa área administrativa dirigida por um Team Manager, em que temos a
parte do secretariado, operação, logística e planeamento. Abaixo do Team
Manager, sendo que reportam a este, temos a rouparia, a questão das relvas,
etc... Tudo o que aproveita a equipa de Futebol. Depois temos um
Departamento Médico que é da sociedade, que abrange todas as equipas da
mesma. Temos um Departamento de Instalações que faz a gestão dos
campos, do estádio e gere todas as obras necessárias. Temos também o
Departamento de Organização de Jogos, dirigido por um OLA (oficial de
ligação aos adeptos) e dentro deste está a responsabilidade dos jogos em
casa, de toda a logística inerente ao jogo: segurança, polícia, bilhética,
torniquetes, preços, entradas, zonas destinadas, quem é quem, tudo o que
envolve a organização de um jogo. Nos jogos fora é o elemento de ligação
entre os adeptos e a equipa visitada. Este num esboço geral é a SDUQ do Rio
Ave.
CXXXIX
Em cada departamento a formação académica dos funcionários adequa-se ao
desempenho das suas funções?
R: Sim, e tentamos que assim o seja. Obviamente no Departamento de
Contabilidade temos contabilistas, no Departamento de Comunicação é um
jornalista (ex-Sporttv), naturalmente no Departamento Médico é dirigido por um
médico e temos também fisioterapeutas. Tentamos sempre que os
profissionais que estão em cada Departamento tenham uma formação
adequada e específica para a função.
D) Experiência vs Conhecimento
1. Como Diretor Geral, qual a importância que dá à sua formação académica
e experiência profissional no desempenho das suas funções?
R: Naturalmente para mim é fundamental, e muito fácil falar sobre isso, porque
felizmente tenho... É fundamental a questão da formação, a experiência
naturalmente é uma coisa que vem a seguir, mas sem formação e sem
preparação técnica para exercer cargos que exijam responsabilidade eu
confesso que não me revejo e não acredito que assim seja. Se para exercer
advocacia é preciso ter um curso de Direito, se para exercer Medicina é preciso
ter um curso de Medicina, para exercer jornalismo é preciso um curso de
jornalismo, eu também acho que para trabalhar na área de futebol/ desportiva a
formação é também decisiva. E nem penso que faz sentido, que ao nível que
as sociedades de topo em Portugal estão, que não se recrute com formação. A
questão da experiência é também ela muito importante pois estamos a falar de
uma questão de know how, de uma acumular de conhecimento que depois
poderá ser posto em prática. Agora sem as pessoas trabalharem nunca
poderão ter experiência e sem formação nunca deverão entrar neste mercado.
2. Sente necessidade de uma formação contínua a nível da Gestão
Desportiva no cargo que desempenha? Pode dar exemplos?
R: Sim. É como em qualquer outra área, ser gestor desportivo, ser gestor
bancário ou de uma petrolífera é exatamente igual: estamos a gerir ativos e
passivos, estamos a gerir o quotidiano, a gerir orçamentos, estamos a gerir
CXL
despesas e receitas, ou seja, se estamos a gerir, no caso do Rio Ave, uma
máquina que movimenta 7,5 milhões de euros, então naturalmente que a
formação é necessária mas também a atualização dos conhecimentos é
necessária como em qualquer outra área.
3. Entende que a Liga ou a FPF, deveriam disponibilizar formações para os
dirigentes/ gestores das sociedades desportivas a nível da Gestão
Desportiva? E diferenciadas de acordo com o cargo desempenhado?
R: A verdade é que quer a FPF quer a Liga terão essa sensibilidade, e a prova
disso é que neste último ano abriram mais cursos que nos últimos dez. Ou
seja, a Liga já está com a Universidade Católica a patrocinar um curso,
permanentemente com a Almedina, com alguns escritórios de advogados,
patrocina algumas ações de formação e de reciclagem. A FPF igual, hoje
dirigida pelo Professor André Seabra, um Professor catedrático muy nobre e
distinto das faculdades portuguesas, tem uma Escola de Gestão Desportiva.
Acredito que irá evoluir nesse sentido, com a formação muito especifica para o
dirigismo de Futebol, pois estamos a falar da Federação Portuguesa de
FUTEBOL, ou seja, é claramente uma área em que estão a investir, é uma
área que está sobre crescimento e melhoria porque é uma área absolutamente
necessária.
4. Fazendo o paralelismo com os técnicos/ treinadores que são sujeitos a
formação contínua e terão a sua atividade regulamentada, parece-lhe que
deveria acontecer o mesmo com os gestores?
R: Sim, eu acho que, para além de cada vez mais isto acontecer, porque há
cada vez mais gestores, tenho a informação que projetam regulamentar a
atividade criando uma verdadeira figura laboral do Diretor Desportivo, que é
uma área técnica inerente ao Futebol. Acho que é por aí e é para aí que
vamos, agora, também tenho de reconhecer que isto ainda é uma atividade
que ainda está a dar os primeiros passos, porque se repararmos decorre em
2013 a obrigatoriedade de os clubes transitarem para sociedades - SAD ou
SDUQ - ou seja, temos de perceber que ainda não é uma atividade que esteja
assim tão cimentada e assim tão estruturada que hoje já possamos ter isso
tudo. Dentro de essa linha de raciocínio este é um início que acho que vai
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caminhar para aí: regulamentar, formar, qualificar e depois no futuro também
me parece que vai haver algum paralelismo entre essas questões de técnicos e
de quadros dentro das estruturas das sociedades desportivas. (11:19)
E) Caracterização de Competências e Funções
4. Qual a função do Diretor Geral do Rio Ave FC SDUQ?
R: Em termos genéricos, é uma função que assenta na gestão, e a partir da
gestão enquadrar as várias atividades que tem uma sociedade. A chave ou o
coração da "coisa" está neste campo de 75 metros por 68 que é a equipa de
futebol profissional. Mas à volta desta equipa há todo um negócio e toda uma
operação que é preciso cuidar. Desde logo e de uma forma simples a receita
versus despesa, mas depois pormenores como o planeamento, logística,
comunicação, toda a dinâmica de uma estrutura de futebol que é preciso dirigir,
acompanhar, executar e decidir.
5. Dentro da função pode referir-se às principais atividades que
desempenha?
R: É um mito reduzir qualquer atividade de gestão a contratar jogadores e a
despedir jogadores, de todo... Até porque o processo de contratação ou de
saída, estamos a falar de um processo global de sociedade, mas estamos a
falar de um processo quase de resultado, porque a essência do processo é
toda uma gestão que leva a estes resultados: às vezes ter de ir buscar uma
jogador, às vezes ter de vender um jogador, às vezes ter de fazer uma
operação bancária, porque tudo resulta como uma operação só. Ainda agora,
neste momento, estava a receber uma mensagem da Arábia Saudita a dizer
que o problema com a FPF está resolvido. Ou seja, estamos a falar de um
jogador que foi vendido e que teve alguns problemas inerentes a esta venda.
Mas foi um jogador que em tempos foi comprado por isso já foi um jogador que
foi seguido, ou seja, há um conjunto de operações em torno de um mesmo
jogador que é preciso dirigir.
6. Como é avaliado o impacto das suas atividades para a SDUQ?
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R: Espero que seja um impacto positivo, porque estamos a falar em termos
profissionais tenho um presidente que dirige a SDUQ mas a parte executiva
num registo CEO é a minha atividade que enquadra nesse registo.
7. Na sua perspetiva qual o perfil que um Diretor Geral, na qualidade de
gestor do desporto, que uma sociedade desportiva deverá ter?
R: Tecnicamente tem de estar preparado do ponto de vista financeiro,
económico e jurídico, ou seja, não estou a dizer que tem de ser um
economista, um gestor ou um advogado, três ciências que devem estar
presentes, não só pela responsabilidade mas também pela exequibilidade de
toda a tarefa é necessário ter algum domínio sobre estas. Depois ter um
conhecimento do jogo versus do mercado. Enquadrando, o jogo de futebol e o
mercado de jogadores. Porque a essência da atividade é como um gestor da
industria têxtil ter um conhecimento sobre o fio, sobre o tecido, sobre as
malhas, é igual como um gestor de construção civil ter um conhecimento sobre
a obra. Por isso o registo será paralelo a isto que aqui disse.
8. Atendendo ao perfil do Doutor, o que acha mais desafiante para as funções
que desempenha?
R: A parte mais desafiante é acertar no jogador certo para o vender! Esse é o
Santo Graal desta atividade.
F) SAD vs SDUQ
1. Qual o histórico do Rio Ave FC em competições profissionais? O que levou
o clube a formar uma sociedade desportiva?
R: O Rio Ave até à 6 épocas atrás tinha um percurso interessante, mas um
percurso que assentava no objetivo da manutenção. Entretanto tentamos dar
um passo em que com o mesmo fazer-mos melhor e que foi não lutar pela
manutenção mas lutar por mais qualquer coisa. Claro que nem sempre com o
mesmo conseguimos fazer melhor e por isso também tivemos de fazer um
upagrade no investimento. E hoje, cinco ou seis anos depois, fomos já à final
da taça de Portugal, à final da taça da liga, à super taça, duas vezes à Liga
Europa, uma vez à fase de grupos da mesma, temos estado sempre nos
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lugares cimeiros da tabela, a manutenção já não é um fantasma que assuste,
mas temos de estar sempre preparados e estar sempre a acautelar esse
desafio, que é o desafio principal do Rio Ave, o resto serão sempre upgrades.
Assim o Rio Ave é um clube sustentado pois tem para hoje e felizmente tem
para amanhã. O Rio Ave adotou a figura de sociedade desportiva porque a lei o
obrigou e em 2013 com a alteração legislativa todos os clubes tiveram de optar
pela forma societária. O Rio Ave optou por um registo SDUQ pois era uma
transição muito suave em relação ao que tinha. Basta ver que o único sócio da
sociedade é o clube, ou seja, apesar de o Rio Ave ter encarado a figura de
sociedade desportiva na parte teórica, na prática o único sócio é o clube, que
diretamente não é o Rio Ave, mas indiretamente é.
2. O que levou a sociedade onde se encontra atualmente a optar pelo regime
que apresenta?
R: O Rio Ave só optou pelo regime de sociedade desportiva porque a lei assim
o obrigou, porque se assim não o obrigasse o Rio Ave manteria a forma de
clube, porque no momento era a forma que melhor satisfazia os desígnios e
ambições do Rio Ave. Optamos por SDUQ porque a intenção do clube no perfil
societário era manter o registo clube e esse registo clube para ser mantido,
pois não vislumbrávamos a necessidade de optar por uma forma societária
diferente, era avançar para um registo SDUQ que era o que transportava para
o registo societário o cariz de clube que o Rio Ave tinha.
3. Haveria a possibilidade de mudar esse estatuto? Que fatores poderiam
levar a essa mudança?
R: A todo o tempo o Rio Ave pode transformar a SDUQ numa SAD, o inverso
nunca acontece, a SAD é um processo que se torna irreversível a partir do
momento em que se forma a sociedade anónima. A todo o tempo o Rio Ave
poderá fazer essa transformação de SDUQ em SAD, e eventualmente terá de o
fazer quando necessidades, nomeadamente financeiras, assim o obriguem. A
saber o futebol é hoje cada vez mais uma industria de investimento, cada vez
menos jogadores livres, cada vez os agentes se envolvem mais nas transições
de jogadores que é o produto desta atividade, e por isso nessa medida parece-
me que o Rio Ave poderá um dia optar por avançar para uma sociedade
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anónima desportiva quando sentir que a componente investimento está
demasiadamente limitada para nos tornar competitivos. Quando for necessário
para nos tornarmos competitivos investimento se calhar o desenho SAD terá de
ir para cima da mesa.
4. Quais as vantagens e desvantagens de uma SDUQ? E de uma SAD?
R: Na essencia a vantagem de uma SAD tem a ver com a questão do
investimento, como qualquer sociedade ou empresa comercial que necessite
investimento e que possa gerar lucro, é necessária esta figura societária pois a
outra forma, a SDUQ, estamos a falar de uma figura não igual a um clube mas
podemos dizer uma máscara do regime especial de gestão em que o sócio
único em que o investimento/ lucro/ receita estará sempre no universo clube.
5. Quais os desafios futuros que o Rio Ave enquanto sociedade desportiva irá
enfrentar no decorrer da sua atividade?
R: Acho que o grande desafio que o Rio Ave tem, e vivendo como vive com
este nível de receita e despesa, manter-se competitivo. Porque a questão
chave disto é o Rio Ave ser competitivo, ser capaz, haver esta capacidade e
competência de lutar pelas melhores performances. Por isso este é o grande
desafio do Rio Ave, é com este nível de receita e manter-se competitivo.
G) Validação da entrevista
1. Considera que a entrevista foi bem conduzida?
R: Sim, muito bem conduzida.
2. Considera que o conteúdo da entrevista vai de encontro aos objetivos
enunciados inicialmente?
R: Absolutamente.
3. Quer acrescentar mais algum aspeto que considere relevante para o
esclarecimento das temáticas abordadas?
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R: Acho que conseguimos abordar, talvez de uma forma sumária mas era o
que se pedia, o que é uma Sociedade Unipessoal por Quotas do nível do Rio
Ave.
4. Tem alguma questão ou dúvida para colocar?
R: Não.
Obrigado pela sua valiosa colaboração