GESTÃO DE RESÍDUOS NO CANTEIRO DE OBRAS ......3 A preocupação da reciclagem dos resíduos de...
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João Pedro Morandi da Cruz Faustino1
Fabiana Florian2
Resumo: Este artigo aborda a temática sobre Resíduos de Construção Civil e de Demolição
(RCCD). São aqueles gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de
construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras
civis, classificados pela Resolução CONAMA 307 de 2002 e definidos pela Politica Nacional
de Resíduos Sólidos Lei 12.305 de 2010. A urbanização crescente e desenfreada gerou como
consequências acúmulos desses resíduos que impactaram o meio ambiente e a sociedade
como um todo. Uma das possíveis soluções para diminuir o acúmulo desses resíduos é
melhorar a qualidade nos processos de gestão da construção civil e promover a redução,
reutilização, reciclagem e destinação final. O artigo tem como objetivo avaliar amostras de
RCCD classe “A” coletadas em “Rei das Caçambas” no Município de Araraquara-SP e
verificar a viabilidade de sua utilização de acordo com a Norma Brasileira NBR 15116 de
2004 – “Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – utilização em
pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural”. Foi realizada pesquisa
bibliográfica e experimental na empresa “Usicon Construções Pré-Fabricados” localizada no
Município de Américo Brasiliense-SP pelo método de ensaio à compressão simples de corpos
de prova cilindricos. Os resultados comprovaram que não são favoráveis para traços de
concreto para contrapisos e calçadas, mas sim para revestimentos de paredes. Conclui-se que
as utilizações de RCCD em concreto sem função estrutural são uma forma de redução dos
impactos ambientais e econômicos porem, os resultados apresentados comprovam que é
necessário realizar mais testes e pesquisas relacionadas à proporção e quantidade dos
materiais reciclados nos ensaios para possíveis crescimentos de resistência.
Palavras-chave: Construção civil, custos, experimento, impactos ambientais, revestimentos.
Abstract: This article deals with the theme of Civil Construction and Demolition Waste
(RCCD). These are those generated in the construction, renovation, repair and demolition of
civil construction works, including those resulting from the preparation and excavation of
1 Discente do curso de Engenharia Civil da Universidade de Araraquara (UNIARA) – Araraquara, SP. E-mail:
2 Docente da Universidade de Araraquara (UNIARA) – Araraquara, SP. Doutora em alimentos e nutrição pela
Universidade Júlio Mesquita Filho - UNESP – FCLAR-Araraquara/SP. E-mail: [email protected]
GESTÃO DE RESÍDUOS NO CANTEIRO DE OBRAS: UTILIZAÇÃO
DE AGREGADOS RECICLADOS EM CONCRETOS SEM FUNÇÃO
ESTRUTURAL
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land for civil works, classified by CONAMA Resolution No. 307 of 2002 and defined by the
National Solid Waste Policy n. 12305 of 2010. The growing and unrestrained urbanization
has resulted in the accumulation of waste that has impacted the environment and society as a
whole. One of the possible solutions to decrease the accumulation of these residues is to
improve the quality in the construction management processes and to promote the reduction,
reuse, recycling and final destination. The article aims to evaluate RSCD class “A” samples
collected in “Rei das Caçambas” in the city of Araraquara, state of São Paulo and to verify the
feasibility of its use according to the Brazilian Standard 15116 of 2004 - “Recycled
aggregates of solid wastes from civil construction - use in paving and preparation of concrete
without structural function ”. Bibliographic and experimental research was carried out. The
results of the simple compression experiment presented are not favorable for concrete traces
for subfloor and sidewalks, but for wall coverings. It is concluded that the uses of RCCD in
concrete without structural function are a way of reducing environmental and economic
impacts, however, the results presented prove that it is necessary to carry out more tests and
research related to the proportion and quantity of recycled materials in the tests for possible
growth of resistance.
Keywords: Civil construction, costs, experiment, environmental impacts, coatings.
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da humanidade até o século XIX, os recursos naturais eram
explorados com o pensamento de que eram inesgotáveis e ilimitados. Ao longo dos anos, os
impactos ambientais, os desastres decorrentes de ações humanas, entre outros problemas,
indicam que há uma necessidade de ter um controle e uma gestão adequada para reduzir a
exploração da matéria-prima e os resíduos sólidos que são gerados. (SILVA; MACIEL,
2009).
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) Norma Brasileira
(NBR) 10004 de 2004, resíduo sólido é o resultado das atividades da comunidade que podem
ser de origem comercial, industrial, agrícola, etc. Consideram-se também resíduos sólidos
todos os materiais derivados de obras e demolições na construção civil.
Uma das possíveis soluções para minimizar o acúmulo de resíduos, é melhorar a
qualidade nos processos de gestão da construção civil. A separação desses resíduos pode ser
vista como vantagens ao: diminuir as perdas dos materiais de construção reduzindo os custos
de beneficiamento, facilitar a remoção e o encaminhamento à destinação diferenciada,
identificar os pontos de desperdício e organizar o canteiro de obras.
A reciclagem desses resíduos pode reduzir e preservar os custos e os volumes da
extração da matéria-prima e de seus recursos naturais, consequentemente diminuindo também
os problemas com gerenciamentos. (SILVA; MACIEL, 2009).
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A preocupação da reciclagem dos resíduos de construção não é uma atividade recente
a âmbito mundial. Segundo LEITE, 2001: LEVY 2002, a Alemanha foi a pioneira nessa
atividade no final do século XIX e a partir daí, inúmeros países da Europa começaram a se
aprofundar mais sobre o assunto com o objetivo de criar procedimentos para obter agregados
reciclados com um nível adequado de qualidade.
Apesar de haver legislação sobre o tema, no Brasil, grande parte das empresas de
construção civil ainda não fazem a gestão de resíduos na construção civil de forma adequada.
Além dos impactos ambientais, isso gera desperdício e perdas para o setor. A reciclagem dos
resíduos de construção ainda está em processo de evolução, com exceção das indústrias de
cimento e aço que executam este procedimento com intensidade. (ÂNGULO; ZORDAN;
JHON; 2001 apud. SILVA; MACIEL, 2009).
Em vigor desde 2002, a Resolução CONAMA nº307 estabelece diretrizes para a
gestão dos resíduos gerados pela construção civil, com o objetivo de disciplinar as ações
necessárias de forma a minimizar os impactos ambientais. Também determina a elaboração de
plano integrado de gerenciamento de resíduos (PIGRCC), de responsabilidade dos municípios
(BRASIL, 2003). Porém, menos de 2% dos municípios brasileiros atribuíram os mesmos.
Segundo Marques Neto (2009), cerca de 1% dos 5.564 municípios brasileiros estabeleceram
seus planos de gerenciamento de RCC. Vale informar que estas responsabilidades indicam
áreas aptas para o recebimento e armazenamento por tempo limitado de resíduos de
construção e demolição civil.
Este trabalho tem por foco o estudo da Norma Brasileira 15116 de 2004 - Agregados
reciclados de resíduos sólidos da construção civil - Utilização em pavimentação e preparo de
concreto sem função estrutural – Requisitos. Esta Norma trata especificamente da utilização
dos agregados reciclados em camadas de pavimentação e em preparo de concretos sem função
estrutural. A utilização no preparo de concretos com função estrutural depende ainda de
estudos que viabilizem esta tecnologia e que serão tratados em normalização específica.
Neste sentido, este artigo tem como objetivo avaliar amostras de RCCD classe “A”
coletadas por “Rei das Caçambas”, uma empresa terceirizada que faz a separação e trituração
dos resíduos de construção civil no Município de Araraquara- SP e verificar a viabilidade de
sua utilização de acordo com a Norma Brasileira 15116 de 2004.
Foi realizada pesquisa bibliográfica com base em livros, artigos, normas técnicas e
aspectos legais e pesquisa experimental. Foi realizado testes de compressão simples em
corpos de provas cilíndricos no laboratório da empresa “Usicon Construções Pré-Fabricados”
por vinte e oito dias após a moldagem dos corpos de prova.
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1. BREVE CARACTERIZAÇÃO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO
CIVIL E DE DEMOLIÇÃO (RCCD)
A indústria da construção civil tem sido motivo de discussões quanto à necessidade de
se buscar o desenvolvimento sustentável por apresentar-se como grande consumidora de
recursos naturais e geradora de uma elevada quantidade de resíduos (SOUZA et al, 2004).
A fim de facilitar o processo de triagem, reaproveitamento, reciclagem e disposição
final adequada, a Resolução Conama n.307/2002, classifica os RCD em quatro classes
distintas:
• Resíduos de Classe A (Figura 1): São resíduos reutilizáveis ou recicláveis como
agregados em:
- Resíduos de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras
de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
- Resíduos de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes
cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento e outros), argamassa e concreto;
- Resíduos de processo de preparo e/ou demolição de peças pré-moldadas em concretos
(blocos, tubos, meios-fios e outros) produzidos nos canteiros de obras.
Deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a
áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua
utilização ou reciclagem futura;
Figura 1 – Resíduos de classe A.
Fonte: Próprio autor, 2020.
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• Resíduos de Classe B: São também resíduos recicláveis porem, tem outro destino,
tais como o plástico, papel, metais e madeiras.
Deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento
temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura.
• Resíduos de Classe C: São resíduos que ainda não foram desenvolvidos tecnologias
economicamente viáveis para reciclar, o gesso é um bom exemplo.
Deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as
normas técnicas específicas.
• Resíduos de Classe D: São resíduos perigosos, como tinta, solventes e óleos, e
oriundos de obras clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.
Deverão ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade
com as normas técnicas específicas. São resíduos nocivos à saúde, como aqueles que contêm
amianto, foram incluídos nesta Classe pela Resolução nº 348/2004.
Segundo Fagury e Grande (2007) a reciclagem de resíduos de “classe A” é utilizada
para testes de corpos de prova pois pode transformar despesas em faturamentos, ou pelo
menos, reduzir despesas com deposição e volume de extração de matérias-primas, isso faz
com que os recursos naturais sejam preservados.
Pinto (1999) afirma que os processos de gestão de resíduos em canteiro de obra, por
meio da sofisticação dos procedimentos de demolição e de especialização no tratamento e
reutilização de resíduos de construção, podem conformar um novo ramo da engenharia civil.
Uma boa gestão de resíduos da construção e demolição, em caráter publico, podem
trazer reduções de custos da limpeza urbana; preservações de sistemas de aterro; preservação
de paisagens urbanas; geração de emprego e renda; entre outros fatores. (FAGURY.;
GRANDE, 2007).
Se os agregados reciclados de resíduos de construção ou demolição forem
adequadamente reciclados, o resíduo apresentará propriedades físicas e químicas apropriadas
para ser utilizada como material de construção. A forma e a textura do agregado reciclado é
uma mistura de agregados miúdos e graúdos através da britagem, já a porcentagem das
frações depende da granulometria e da composição do resíduo. De modo geral, apresentam
uma textura mais áspera e porosa. (FAGURY; GRANDE, 2007).
Os resíduos de construção e demolição são heterogêneos e compostos de:
- Concreto, argamassas e rochas, tendo um ótimo potencial para a reciclagem;
- Madeiras, são parcialmente recicláveis, merecem atenção quando estiverem protegidas com
materiais químicos, como impermeabilizantes e vernizes;
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- Material cerâmico como blocos, tijolos e lajotas cerâmicas, que apresentam também alto
potencial reciclável sem necessitar de técnicas sofisticadas de beneficiamento;
- Metais ferrosos, utilizados pelo setor da metalurgia;
- Areia, argila e solos que são materiais que são facilmente separados dos outros por meio do
peneiramento;
-asfalto material com alto potencial de reciclagem em obras viárias;
-outros materiais como papéis, papelão, plástico, borracha, dentre outros passíveis de
reciclagem.
De acordo com a legislação, o princípio da reutilização e reciclagem deve nortear toda
a obra de construção. Dessa forma, os materiais que seriam descartados, gerando perdas
financeiras e ambientais, podem ser reinseridos na construção.
Os materiais que não podem ser reutilizados de forma direta na obra, mas são
recicláveis, podem ser reciclados dentro da própria obra ou fora do canteiro.
Segundo a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e
Demolição (Abrecon) segue algumas informações como cada matéria-prima pode ser
reciclada.
• Areia: produção de argamassa de assentamentos, blocos e tijolos de vedação;
• Pedrisco: fabricação de artefatos de concreto, como mesas e bancos de praça, pisos
intertravados, manilhas de esgoto;
• Brita: obras de drenagem e produção de concretos não-estruturais;
• Bica corrida: base e sub-base de pavimentação, reforço e subleito de pavimentos e
regularização de vias não-pavimentadas;
• Rachão: obras de pavimentação, drenagem e terraplanagem.
A norma ANBT NBR 15116 de 2004 tem como objetivo, estabelecer os requisitos
para o emprego de material reciclado de RCCD em concreto sem função estrutural, classifica
os resíduos sólidos de construção civil oriundos de áreas de reciclagem de duas formas:
A) Agregado de Resíduo de Concreto (ARC): é o agregado reciclado obtido do
beneficiamento de resíduo pertencente à classe A, composto na sua fração graúda, de no
mínimo 90% em massa de fragmentos à base de cimento Portland e rochas.
B) Agregado de Resíduo Misto (ARM): É o agregado reciclado obtido do beneficiamento de
resíduo de classe A, composto na sua fração graúda com menos de 90% em massa de
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fragmentos à base de cimento Portland e rochas. Sua composição deve atender aos requisitos
das aplicações específicas.
2. REQUISITOS PARA AGREGADO RECICLADO DESTINADO AO PREPARO DE
CONCRETO SEM FUNÇÃO ESTRUTURAL DE ACORDO COM A ABNT NBR
15116, 2004
De modo geral, o agregado reciclado pode ser utilizado em concreto sem função
estrutural, desde que proveniente de material classe A (NBR 15116, 2004).
O uso de agregado reciclado em concreto apenas pode ser realizado se não contrariar
exigências contidas nas normas pertinentes à aplicação específica em cada caso. (NBR 15116,
2004).
Um requisito específico em concretos sem funções estruturais é admitir o emprego de
agregado reciclado classe A, substituindo parcial ou totalmente os agregados convencionais.
(NBR 15116, 2004).
O resíduo de classe A a ser beneficiado para a obtenção de agregados tipo ARC e/ou
tipo ARM deve obedecer aos requisitos conforme figura 2.
Figura 2 - Requisitos para agregado reciclado destinado ao preparo de concreto sem função estrutural.
Fonte: NBR 15116, 2004.
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A composição granulométrica do agregado final a ser utilizado no concreto sem
função estrutural deve estar de acordo com a norma ABNT NBR 7211. A composição
granulométrica do agregado reciclado pode ser corrigida pela adição de agregados
convencionais. (NBR 15116, 2004).
Para o preparo de concreto sem função estrutural com agregado reciclado que atenda à
figura 2, é necessária a pré-molhagem dos agregados miúdo e graúdo. (NBR 15116, 2004).
3. PROCEDIMENTOS DE MOLDAGEM DOS CORPOS DE PROVA CILÍNDRICOS
E INÍCIO DO PROCESSO DE CURA E SECAGEM PARA REALIZAÇÃO DO
TESTE A COMPRESSÃO AXIAL (SIMPLES)
Foi realizada uma pesquisa experimental em laboratório com o propósito de analisar a
possibilidade de reduzir os impactos ambientais e a exploração em massa dos recursos
naturais com a utilização de agregados reciclados em concreto sem função estrutural.
Antes de iniciar os testes a compressão simples no laboratório da empresa Usicon
Construções Pré-fabricadas, localizado no município de Américo Brasiliense-SP, foram
realizados alguns procedimentos fundamentais e necessários sobre quais materiais foram
utilizados para a moldagem dos corpos de prova cilíndricos e lista-los, dentre eles:
1. Cimento Portland CP II - F composto com filer de 25 MPa;
2. Agregado miúdo: foram utilizados resíduos de classe A (Resíduos de
construção e demolição) que passam pela peneira ABNT 4,8mm e ficam
retidos na peneira ABNT 0,075mm e areia fina;
3. Agregado graúdo (Brita 0);
4. Formas de aço que não reagem com o cimento e resistentes para manter sua
forma durante a operação de moldagem, tendo 10 centímetros de diâmetro e 20
centímetros de altura, com um volume total de 0,0016m³ cada;
5. Óleo Mineral; Tem a função de revestir a parte interna da forma com uma fina
camada.
Em seguida, o traço do concreto escolhido cimento/areia/pedra na proporção 1:3:6
está apresentado na figura 3.
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Figura 3 – Traço do concreto.
(Fonte: Próprio autor, 2020).
Após a escolha do traço do concreto, foram feitos os cálculos da quantidade de
cimento/areia/pedra a ser utilizada nas formas de aço para obter um novo traço para a
realização do teste a compressão simples, conforme a figura 4 a seguir.
Figura 4 - Novo traço feito através de cálculos para obtenção da quantidade de materiais.
(Fonte: Próprio autor, 2020).
Durante a realização do teste, segundo a norma NBR 5738 de 2015 para moldagem e
cura dos corpos de prova, a última camada foi moldada com quantidade em excesso de
concreto assim como a figura 5, de forma que ao ser adensado completou todo o volume das
formas e foi possível proceder ao seu “rasamento”, eliminando o material em excesso.
Figura 5 – Última camada de concreto moldada em corpos de prova cilíndricos antes de seu rasamento.
(Fonte: Próprio autor, 2020).
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Depois do preenchimento, deve-se eliminar os vazios ocasionados pela haste na massa
do concreto batendo levemente na face externa do molde.
Esta é a ultima etapa no processo de moldagem dos corpos de prova cilíndricos antes
da realização dos testes a compressão, chamada de “cura inicial”. Nesta fase, é de extrema
importância evitar qualquer tipo de inclinação e trepidação que possa perturbar o concreto
durante as primeiras 24 horas, a fim de obter o resultado de acordo com a figura 6.
Figura 6 – Processo de “cura inicial” dos corpos de prova cilíndricos.
(Fonte: Próprio autor, 2020).
3.1. PROCEDIMENTOS PARA ENSAIO DE COMPRESSÃO AXIAL DOS CORPOS DE
PROVA.
O experimento foi executado cumprindo fielmente as exigências da ABNT NBR 5739
de 2007, referente à resistência a compressão de corpos de prova de concreto. Foram
moldados seis corpos de prova cilíndricos com adição de 20% de agregados RCD para
rompimento no vigésimo oitavo dia do processo de “cura”.
Como exigência da ABNT NBR 5738 de 2015 os corpos de prova foram mantidos em
processo de cura úmida, isso significa que a superfície foi permanentemente umidificada até
alguns minutos antes da execução do experimento de rompimento.
Os seis corpos de prova foram submetidos a uma prensa hidráulica que aplicou uma
carga constante até o seu rompimento. A média dos seis valores foi o resultado final.
4. RESULTADOS
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A figura 7 mostra os resultados dos rompimentos à compressão simples dos corpos de
prova.
Figura 7 – Resultados do teste a compressão simples e média dos valores.
Fonte: Próprio autor, 2020.
Examinando os valores de resistência a compressão simples, aos vinte e oito dias de
cura, foi possível analisar o tipo de ruptura em que os corpos de prova apresentaram com o
resultado dos experimentos de acordo com a ABNT NBR 5739 de 2007 apresentado na figura
8.
Figura 8 - Ruptura do corpo de prova número 1.
Fonte: Próprio autor, 2020.
Segundo consta na ABNT NBR 5739 de 2007, o corpo de prova na figura 8 sofreu um
tipo de ruptura “cônica e bipartida”.
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Com relação aos resultados do experimento de resistência, pode-se concluir que o
concreto com agregado reciclado não atingiu uma resistência recomendada pelas normas
técnicas, sendo assim inviável a utilização dos mesmos em traços de concreto para contrapiso
e calçadas, necessitando estudos variados sobre a característica dos materiais reciclados e
outros tipos de experimentos envolvendo a mesma porcentagem de RCD. Por outro lado,
tendo em vista que a norma sugere uma resistência superior a 2 Mpa para revestimentos de
paredes externas, as médias dos resultados apresentados na figura 7 indicam que é possível
utilizar esta mesma porcentagem de agregados para estas funções não estruturais, viabilizando
a economia e os impactos ambientais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que os resíduos de construção e demolição podem ser reciclados e
reutilizados, pois possuem características apropriadas para fins econômicos, além de melhorar
o gerenciamento e “descarte” dos mesmos. Apesar de haver legislação sobre o tema, no
Brasil, grande parte das empresas de construção civil ainda não fazem a gestão desses
resíduos de forma adequada. A Resolução CONAMA nº307 de 2002 estabelece diretrizes
para o gerenciamento dos RCCD gerados pelas construções, com o objetivo de disciplinar as
ações necessárias de forma a minimizar os impactos ambientais.
De acordo com os resultados obtidos em laboratório de uma empresa do setor privado,
localizada no município de Américo Brasiliense -SP, no vigésimo oitavo dia, referente ao
teste de compressão dos corpos de prova cilíndricos, notou-se que, ao retirar 20% de agregado
miúdo e substituir essa porcentagem por agregados reciclados de classe A como exige a
ABNT NBR 15116 de 2004, tem-se uma queda de resistência elevada do corpo de prova ao
que as normas técnicas recomendam para utilização em contrapiso e calçadas. Essa queda de
resistência é influenciada por três fatores, sendo eles, condições de cura, características e
proporções dos materiais e parâmetros do ensaio.
Seria necessário, realizar outros estudos para entender qual dos fatores foi responsável
pelo baixo rendimento do corpo de prova no experimento de compressão simples, porém, o
mais provável é que a proporção ou característica dos agregados reciclados não são ideais
para o traço de concreto escolhido.
Dessa forma, a media das resistências obtidas no teste de compressão simples não são
recomendadas para utilização em traços de contrapisos e calçadas, pelo fato de não atingir os
valores mínimos exigidos pelas normas técnicas. Sendo assim, são as mais recomendadas para
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traços de revestimentos de paredes externas, por não terem função estrutural e resistência
superior a 2 Mpa, tornando viável o uso de agregados reciclados de forma mais econômica,
resultando em menores impactos ao meio ambiente.
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